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PERVERSÃO

"Metamorfose de Narciso, por Salvador Dali" (1937)


Contexto Histórico
Segundo Roland Chemama (1995) o
termo perversão é bastante antigo,
significa inversão e por isso logo remete
a noção de norma moral ou da natureza
da qual o perverso estaria se afastando,
ressaltando ainda que deve-se lembrar
que há muito tempo a Igreja e a religião
judaico cristã – sobre a qual se
sustentou a sociedade ocidental - havia
relegado a sexualidade estritamente à
finalidade reprodutiva.
• O autor destaca que
evidentemente este tipo de
apreciação não considera a
verdadeira dimensão do desejo
sexual submetido á leis de
Contexto linguagem escapa a qualquer
finalidade apreensível
Histórico diretamente. E as leis de
linguagem e as construções
simbólicas efetivadas em cada
cultura e tempo histórico a qual
pertencem que vão significar o que
é a norma e o que é exceção a ela.
• Esta referência moral deu origem
no século XIX ao movimento de
integração das perversões no
campo da competência médica.
E é neste campo que se
Contexto estabelece a classificação e
descrição realizadas por Richard
Histórico von Krafft-Ebing e Henry
Havelock Ellis. Esta classificação
visava precisar a incidência
médico legal de atos delituosos e
apreciar sua relação com a
nosografia psiquiátrica.
• Richard von Krafft-Ebing (1840-1902) foi um
psiquiatra alemão que introduziu em sua obra os
conceitos de sadismo, masoquismo e fetichismo
no estudo do comportamento sexual. Dedicou-se
a estudos pioneiros sobre desvios sexuais, hoje
chamada de parafilia, nos círculos acadêmicos e
perversão no linguajar coloquial.
• Trabalhou em vários asilos onde tratou com
Contexto grande interesse homossexuais de ambos os
sexos, na época considerado crime, publicando
Histórico vários artigos em psiquiatria e ganhando
notoriedade com a publicação de uma coleção
de histórias e casos, Psychopathia Sexualis
(1886), um estudo revolucionário na ciência de
patologia sexual que influenciou escritores e
filósofos, como também psiquiatras com sua
visão, e ainda causou um forte e longo impacto
no desenvolvimento de percepção sexual
moderna.
• Estes estudos, apesar de rodeados de
muita controvérsia, tiveram a sua
importância no desenvolvimento da
psicologia e da medicina. Neste livro ele
dividiu as “anomalias do instinto sexual”
em quatro classes adoradas pela maioria
dos alienistas:
• Anestesia do instinto sexual por
enfraquecimento sexual (infância,
Contexto velhice);
• Hiperestesia – do instinto sexual, ligada a
Histórico fenômenos cerebrais funcionais
causados por doenças degenerativas do
cérebro (ninfomania, satiríase);
• Paradoxia do instinto sexual – quando
este se manifesta fora dos períodos
fisiológicos normais da idade adulta;
• Parestesia do instinto sexual – quando
este se manifesta fora do objetivo
natural da reprodução da espécie.
• No plano etiológico Krafft-Ebbing
enfatizou a natureza congênita e
degenerativa das perversões e opôs,
assim, às perversões adquiridas
(homossexualidade ligada a condições
de restrição, como a vida em cativeiro)
as perversões verdadeiras
(relacionadas aos estados
Contexto degenerativos hereditários – neurose,
Histórico paranóia, distúrbios de caráter).
• Krafft-Ebbing também ficou conhecido
pela cunhagem do termo sadismo,
além ser um dos primeiros
profissionais a considerar que os
homossexuais eram pessoas normais
com uma sexualidade diferente.
• Segundo Zimmerman (2001), Krafft e Ellis
estudaram quadros clínicos ligado a
perversão entre as quais incluíam o
narcisismo, porém o fizeram enfocando
somente a descrição das manifestações
clínicas sempre sob o prisma de uma
concepção moralista e denegridora.
• Estamos ressaltando como até então a
Contexto patologia sexual reconhecida se resumia
aos distúrbios de comportamento
Histórico importantes o suficiente para necessitar
da intervenção do alienista com um fim
essencialmente médico legal. É nesse
campo que se situavam as perversões. À
noção antiga de hipersensibilidade
(ninfomania, satiríase) o campo pericial
acrescentou o estudo de sujeitos que
cometiam atos considerados
“monstruosos” (necrofilia, pedofilia,
assassinatos sádicos).
• Segundo Laplanche e Pontalis (1986), a
perversão corresponde ao “desvio do ato
sexual normal, definido este como coito que
visa a obtenção do orgasmo por penetração
Definição e genital, com uma pessoa do sexo oposto.”
• Os autores complementam que “diz-se que
circunscrição existe perversão quando o orgasmo é obtido
com outros objetos sexuais
do campo da (homossexualidade, pedofilia, bestialidade,
etc) ou por outras zonas corporais (coito anal,
perversão por exemplo) e quando o orgasmo é
subordinado de forma imperiosa a certas
segundo a condições extrínsecas (fetichismo, travestismo,
escopofilia e exibicionismo, masoquismo):
psicanálise estas podem proporcionar, por si sós, o prazer
sexual.” E finalizam explicando que “de forma
mais englobante, designa-se por perversão o
conjunto de comportamento psicossexual que
acompanha tais atipias na obtenção de prazer
sexual”.
• Roudisnesco e Plon (1998) quanto à
etiologia, apontam que, “Termo derivado
do latim pervertere (perverter),
empregado em psiquiatria e pelos
fundadores da sexologia para designar,
ora de maneira pejorativa, ora Etiologia
valorizando-as, as práticas sexuais
consideradas como desvios em relação a
uma norma social e sexual”.
• Em 1987, a palavra perversão foi
substituída, na terminologia
psiquiátrica mundial, por parafilia,
que abrange práticas sexuais nas
quais o parceiro ora é um sujeito
reduzido a um fetiche (pedofilia,
sadomasoquismo), ora o próprio Etiologia
corpo de quem se entrega à
parafilia (travestismo,
exibicionismo), ora um animal ou
um objeto (zoofilia, fetichismo).
• Etimologicamente o temo pedofilia
origina-se do grego pados (criança)
Pedofilia: o e filia (amizade, atração, afeição),
abuso sexual sendo uma prática antiga, e
infantil contendo relatos desde a
associado a antiguidade. Cabe salientar que
perversão Tibério, imperador Romano é
descrito pela história como tendo
interesses sexuais por crianças.
Há três famílias principais da perversão:

A primeira refere-se ao exagero ou à


diminuição de algo, que, sob justa medida,
seria tolerável e até mesmo desejável. O
perverso, assim, estereotipa um
Tipologia da comportamento, fixa-se em um modo de estar
com o outro e de orientar sua satisfação.
perversão Tome-se o exemplo de um sujeito que, para
encontrar satisfação sexual, deve empregar
adereços como calcinhas, vestir-se com roupas
do sexo oposto, admirar partes específicas do
corpo do parceiro ou manipulá-las de modo
bizarro. Tudo isso, sem “exagero”, seria parte
admissível de um encontro sexual, mas,
quando sua presença torna-se coercitiva,
necessária e condicional, percebemos que há.
A segunda família de perversões decorre da ideia
de desvio. Trata-se aqui da metáfora de
deslocamento, inversão e dissociação, uma
espécie de excesso. A parte toma conta do todo.

Tipologia da
perversão
A terceira classe de perversão é formada pelos que
marcam seu compromisso com a transgressão,
com a violação da lei, da moral ou dos costumes.
Essa transgressão não é efeito secundário, mas
decorre da identificação do sujeito com a lei.
Alude-se aqui à lei materna (em oposição à lei
paterna) para designar essa relação de passividade
radical e de disposição soberana sobre o corpo do
outro.
Referências
• Carvalho CBCO que é pedofilia e quem é o pedófilo? Dissertação de
mestrado, Recife, 2011. Disponível em: <
http://www.unicap.br/tede/tde_arquivos/1/TDE-2011-
0607T152745Z-394/Publico/dissertacao_vanessa_carneiro. pdf>
Acesso em: 24 mai. 2014.
• Roudinesco E, Plon M. Dicionário de Psicanálise. Rio de Janeiro: Zahar,
1998.

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