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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS

Entre Estado de Direito e o Estado Autoritário:


Um debate sociológico

Porto Alegre, Outubro, 2015


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INTRODUÇÃO

No Ensino Médio, a sociologia deve causar o estranhamento e a desnaturalização


dos fenômenos sociais, analisando e buscando entender estes historicamente, destacando a
origem das instituições sociais, políticas, econômicas, jurídicas e culturais. Assim, a
sociologia busca treinar o olhar sobre vários fatos sociais, estabelecendo o estranhamento e a
desnaturalização necessária a construção de uma reflexão crítica sobre a sociedade. Logo, a
disciplina de sociologia deve estimular a análise crítica sobre a sociedade, através da
problematização das estruturas e dos problemas sociais.
Desta forma, os debates acerca do Estado de Direito e Autoritário reconstroem
parte de um momento histórico e social, que já foi vencido pelo nosso país. Mas ainda, não
esquecido. O período da Ditadura Militar faz parte da história recente do Estado Brasileiro e o
debate sobre esse apresenta-se como fundamental dentro do ensino de Sociologia. Do ponto
de vista social podemos refletir que, ainda, não estamos totalmente adaptados e formados para
o exercício da cidadania dentro de Estado de direito e baseado em princípios democráticos.
Dentro dos PCN´s de Sociologia a abordagem desta temática se estabelece através do conceito
de Estado compreendendo este como:
A soberania, sua estrutura de funcionamento, os sistemas de poder, as
formas de governo no mundo atual, as características dos diferentes regimes
políticos. E, por fim, algumas questões relevantes no contexto social
brasileiro, tais como as relações entre o público e o privado e a dinâmica
entre centralização e descentralização do poder. Em termos históricos, cabe
também realizar uma reflexão sobre a relação entre Estado e sociedade,
identificando as diversas formas de exercício da democracia, a questão da
legalidade e da legitimidade do poder, os direitos dos cidadãos se suas
diferentes formas de participação política. (2001, p.41-42)

Os referenciais que poderão ser usados têm como base a teoria política e estes
conceitos serão apresentados nesta proposta a partir dos seguintes referencias teóricos:
Spindel - sobre os conceitos de Estado Autoritário e Bobbio - sobre as definições e estrutura
do Estado de Direito. Na perspectiva histórica utilizaremos Chiavenato (1995) e Fausto
(2000) para debater os aspectos históricos e sociais da Ditadura Brasileira. Também será
usado de forma secundária, neste trabalho o conceito de Violência que aparece como uma
temática da área de Sociologia dentro das Orientações Curriculares Nacionais para Ensino
Médio (2004, p. 33), assim:
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a “questão da violência” não está apenas ligada à criminalidade, e fazer uma


análise enfocando somente essa dimensão significaria permanecer nas
aparências da questão, no que é mais visível, ou, no limite, dando-lhe um
enfoque ideológico ou preconceituoso. A Sociologia preocupa-se com a
análise de todas as formas de violência para poder dar uma visão ampla do
fenômeno e explicar como ele acontece na nossa sociedade.

Esta abordagem também traz para a análise as formas de ocorrência da violência


que muitas vezes se apresenta em sua forma institucional, objetivamos trazer para a reflexão o
conceito de violência, que esta presente no cotidiano dos alunos. Dentro do ensino da
sociologia buscaremos desenvolver as competências ligadas a capacidade
explicativa/compreensiva para poder desenvolver, junto aos educandos, a habilidade de
interpretação e entendimento dos conceitos de Estado, refletindo e pensando as formas que
este assumiu ao longo do processo histórico brasileiro. As dimensões de análise baseada em
competências empíricas/concretas para desenvolver a capacidade de observação,
contextualização, análise e posicionamento. As atividades aqui propostas podem ser
desenvolvidas junto aos alunos do terceiro ano do Ensino Médio – Politécnico, ressaltando
que este se demonstra como um tema essencial, pois, muitos dos alunos já participam dos
pleitos eleitorais.
Assim, realizaremos o debate sobre os limites do Estado de Direito e o Estado
Autoritário, numa análise centrada no cotidiano dos alunos, para construir uma reflexão
conjunta com os alunos sobre os exageros da ação do Estado, que são realizadas por
instituições, como a polícia e exército no contexto da Ditadura Militar Brasileira. É também
interessante levarmos os alunos a compreender que as instituições são ordenadas e dirigidas
por um Estado de Direito, que por vezes falha nas suas ações.

2. JUSTIFICATIVA

O debate sobre os Estados de Direito e Autoritário devem ser uma parte


constante e presente dentro dos conteúdos de Sociologia, tendo em vista, a história recente da
sociedade brasileira e de seus sistemas de governo. Assim, os conceitos de Estado de Direito e
de Estado Autoritário são um conteúdo importante para disciplina de sociologia.
Principalmente, no cenário político atual, no qual vários grupos políticos demonstram e
flertam com o desejo de retorno de um Estado Ditatorial Autoritário, mesmo, vivendo em um
Estado de Direito e democrático. Esta temática segue o caminho proposto pelas Orientações
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Curriculares (MEC, 2006, p. 103) que afirma a importância da disciplina de Sociologia para o
debate sobre o exercício da cidadania. Para também compreender as relações de poder, que
são possíveis dentro destes dos Estados Autoritários e de Direito, segundo os PCN´s a
disciplina de sociologia, pretende: “discutir alguns pontos do conceito de Estado: a soberania,
sua estrutura de funcionamento, os sistemas de poder, as formas de governo no mundo atual,
as características dos diferentes regimes políticos” (2000, p.41) Além, é claro de estimular o
debate sobre as instituições políticas, estabelecendo a reflexão sobre o Estado de Direito
Brasileiro.
O debate sobre estes temas vislumbra o desenvolvimento da capacidade
compreensão da realidade social e política, para construir a percepção sobre a identidade
social, política, cultural da nação. Essas construções são necessárias para o exercício da
cidadania. Devemos ter consciência de que a disciplina de sociologia objetiva desenvolver
junto aos alunos o processo de problematização sociológica e da construção do conceito de
imaginação sociológica para indagar sobre os fenômenos sociais, transpondo os
conhecimentos já detidos pelos alunos ao longo da sua trajetória escolar. Esta capacidade de
problematização dentro da sociologia estendesse para sua realidade cotidiana, rompendo
compreensão do aluno baseada no senso comum. Assim, a aprendizagem do conhecimento
sociológico e da sua historicidade leva a construção de ferramentas sociológicas de
compreensão dos fenômenos sociais.

3. OBJETIVO GERAL

Compreender o conceito de Estado Autoritário, analisando a Ditadura Brasileira,


como exemplo de Estado Autoritário. Ressaltamos a necessidade de reconhecer os
mecanismos coercitivos ‘legais” que foram utilizados pela Ditadura Brasileira. Também se
concentrará no conceito de Estado de Direito, para reconhecer as formas de governo que
podem ocorrer dentro de um regime democrático em comparação com o Estado Autoritário.
Assim, a análise dos limites da Estado de Direito, que se demonstra como fundamental para
pensar o papel das suas instituições políticas.

4. OBJETIVOS ESPECÍFICOS

— Entender o processo de implementação dos Estados Autoritários;


— Apropriar-se do conceito de Estado de Direito;
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— Entender o papel dos três poderes dentro do Estado Direito;


— Analisar as formas de exercício da cidadania;
— Verificar a necessidade de equilíbrio dos poderes numa sociedade democrática

5. DESAFIOS À SOCIOLOGIA NO ENSINO MÉDIO

A disciplina de Sociologia no Ensino Médio estabelece a reflexão sobre a


realidade cotidiana do aluno, pensando os problemas da sociedade atual, nesta circunstância o
debate sobre o Estado de Direito e o Estado Autoritário torna-se essencial. Assim, devido aos
movimentos sociais pró-retorno ditatorial que se concretizaram através manifestações e
passeatas que levaram para a sala de aula o debate sobre os limites do Estado de Direito. Com
isso, o debate conceitual sobre o Estado de Direito e o Estado Autoritário (que foi a única
forma de Ditadura conhecida pela sociedade brasileira, mesmo que este tipo de governo tenha
se constituído por três vezes na história da nossa nação) torna-se de suma importância para o
desenvolvimento dos pressupostos de exercício da cidadania.

5.1. DEFINIÇÃO DE ESTADO

Segundo o dicionário Houaiss, em sua versão digital, a palavra Estado, é definida


como o “conjunto das instituições (governo, forças armadas, funcionalismo público etc.) que
controlam e administram uma nação”. Em uma segunda definição o Estado pode ser definido
com as formas políticas dentre estas formas podemos incluir o Estado de Direito e as
Ditaduras tanto totalitárias como as autoritárias.

5.2. O ESTADO DE DIREITO

O Estado de Direito contemporâneo tem como base o respeito às individualidades


e diferenças pertencentes ao sujeito que esta inserido dentro do Estado Democrático. Segundo
Bobbio (1998, p.441) o Estado de Direito estrutura-se da seguinte maneira.
1) Estrutura formal do sistema jurídico, garantia das liberdades fundamentais
com a aplicação da lei geral-abstrata por parte de juízes independentes. 2)
Estrutura material do sistema jurídico: liberdade de concorrência no
mercado, reconhecida no comércio aos sujeitos da propriedade. 3) Estrutura
social do sistema jurídico: a questão social e as políticas reformistas de
integração da classe trabalhadora. 4) Estrutura política do sistema jurídico:
separação e distribuição do poder.
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Para esse autor, o Estado possui um poder legal-racional que se constituí através de
legitimidade, logo seu poder é racionalizado, dentro de uma perspectiva weberiana.
Devemos perceber que o Estado, como uma organização política, tem atribuições
e deveres, que nos condicionam dentro dele ou não, que objetivam promover a seguridade
social da nação. Podemos dizer que o Estado tem como função básica garantir a “felicidade”
e o “bem comum”. Para garantir essas necessidades básicas de existência foram criadas as
funções do Estado, essas são compostas por todas as atividades realizadas pelo Estado para
garantir o bem comum entre elas podemos destacar três funções: a legislativa, a judiciária e a
executiva. Essa visão tripartida do Estado foi criada por Montesquieu, sendo usadas como
base para a constituição norte-americana, após seu processo de Independência.
Assim, o Estado de Direito passou a ser divido em três poderes, cada um com as
suas respectivas funções dentro do aparato estatal democrático: o poder legislativo, tem como
funções básica editar normas gerais para renovar a ordem jurídica, fiscalização/controle das
ações do executivo; o poder executivo assume como função administração do Estado,
objetivando o controle da economia, defesa e arrecadação, assumindo como suas tarefas
básicas o fomento, intervenção e o serviço público; o poder judiciária objetiva a aplicação
das leis, com o desejo de compor os litígios e combater a propagação dos mesmos.
(GROHMANN, 2001, p.83)

5.3. O CONCEITO DE DITADURA ENTRE O ESTADO AUTORITÁRIO E


TOTALITÁRIO

Em definição, Ditadura é todo o regime que suprime os direitos democráticos de


um indivíduo, grupo, partido ou classe social. No qual o poder fica restrito nas mãos de um
único grupo ou indivíduo. Dessa forma, as ditaduras estão na contramão dos regimes
democráticos, que se caracterizam pelo direito de participação ativa do povo no governo, por
meio do voto. Assim, as ditaduras podem ser divididas de duas maneiras: as que se constituem
como Estados Totalitários ou como Estados Autoritários.
As ditaduras que se organizam através de Estados Totalitários caracterizam-se
pelo repúdio à democracia formal; sua forma de imposição se dá por meio de um discurso
ideológico divulgado pelos meios de comunicação de massa, sendo que tal discurso é
absorvido pela população; esta será a base para a construção de uma nova sociedade civil,
partindo dos novos padrões impostos pelo regime vigente. Os grupos políticos e sociais que se
mostrarem contrários a este regime devem ser punidos, reprimidos ou extintos. Nesses casos
se adota um sistema político uni partidário, não sendo reconhecido qualquer grupo político.
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Nos regimes totalitários o ditador é a personificação deste novo estado, sendo ele sua
representação máxima (SPINDEL, 1985: 36).
No caso, das ditaduras que se organizam, a partir da formação de um Estado
Autoritário, essas primam pela centralização das decisões administrativas e governamentais
na mão de uma determinando grupo social, que se torna responsável pelo governo. Mas para
adquirirem tal poder reduz a força política das instituições de caráter representativo, muitas
vezes impondo o fim dos partidos políticos ou reduzindo-os a mera ilustração. Na tentativa de
manter e concentrar o poder, as instâncias de poder paralelas que existem fora do Estado
passam a ser perseguidas ou simplesmente são extintas (como por exemplo, as associações e
os sindicatos) (BOBBIO, 1995 p.105). Assim, na busca pela manutenção do poder os
governos autoritários tentam eliminar todas as formas de oposição ou movimentos sociais que
possam ameaçar a ordem pública, considerando estas manifestações ameaças à segurança
nacional, não sendo raro o uso da força militar ou policial para contê-las. Os Estados
Autoritários são orientados pelos interesses das elites, normalmente conservadoras, que
assumem o poder para evitar mudanças ou instabilidades sociais. Para conter o desagrado
destas classes conservadoras constrói-se um forte aparato repressor usando os aparelhos do
estado (polícia, exército, judiciário e burocracia).
Nesse tipo de regime ocorre um controle quase que absoluto dos meios de
comunicação, o que deixa o povo às brumas frente às atrocidades cometidas por estes
governos, sendo a coesão uma ferramenta comum. Os grupos militares, por inúmeras vezes,
acabam adquirindo grande força por servirem como arma deste Estado contra a mobilização
popular. A repressão é feita para que as classes dominantes (empresários, comerciantes,
militares, políticos, etc.) tenham garantido os seus interesses.
Nos regimes políticos ditatoriais, os direitos individuais ficam à mercê de um
confuso sistema de segurança nacional. Em tais circunstâncias o sistema político é formado
por mais de um partido, entretanto, a maioria deles não tem amplo poder de interferência nas
decisões tomadas pelo governante ou grupo dominante. A escolha do grupo ou do indivíduo
que governará o país ocorrerá de forma indireta. Além disso, cabe destacar que estes regimes
vivem de aparências tentando demonstrar para a população uma visão deturpada da sua
verdadeira imagem opressora (SPINDEL, 1985: 37).
Assim, as formas de governo ditatoriais são as máximas da impugnação do direito
público democrático, totalmente contrárias ao Estado de direito, que designaria todo e
qualquer Estado que busca garantir o respeito das liberdades civis, respeitando os direitos
humanos e as liberdades fundamentais (direito de ir e vir, livre expressão, dentre outros).
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5.4. ANTECEDENTES HISTÓRICOS E O PROCESSO DE IMPLEMENTAÇÃO DA


DITADURA

Num cenário político conturbado devido a Revolução Cuba de 1959 e agravado


pelo contexto da Guerra Fria, em 1961 aconteceu à renúncia de Jânio Quadros a Presidência
da República, que havia sido eleito, em 1960, tendo como Vice-Presidente, o petebista João
Goulart. Jânio Quadros foi eleito pela sua coligação com a UDN (União Democrática
Nacional, partido com fortes características conservadoras) como um propagador da mudança,
segundo Braga (2004, p. 65) durante a campanha eleitoral, “Ele [...] Falava em moralizar a
função pública, varrer a corrupção, banir os maus políticos e os empresários gananciosos”.
Durante o período inicial do seu governo Jânio Quadros sofreu muitos ataques realizados pela
oposição, contrária aos seus desmandes, estas dificuldades encontradas foram devido à fraca
representação política do seu partido no Congresso. O aumento das críticas torna-se crescente
devido as atitudes incoerentes quanto a sua política internacional, como por exemplo, a
entrega da medalha Ordem Cruzeiro do Sul a Ernesto Chê Guevara, atitude que gerou uma
inquietação entre os militares e a elite conservadora. Porém, os críticos e opositores não
esperavam a sua renúncia.
Assim, a partir renúncia de Jânio Quadros quem deveria assumir a presidência era
o vice-presidente João Goulart (Jango) que se encontrava em missão diplomática na China.
Em consequência, desta ausência, toma posse como era previsto na Constituição Federal, o
Presidente da Câmara dos Deputados, Paschoal Ranieri Mazzilli. A partir deste quadro, os
ministros militares de Jânio (General Odílio Denys, o Brigadeiro Grun Moss e o Almirante
Sílvio Heck) que juntos com o governador da Guanabara Carlos Lacerda desejavam impedir a
posse de Jango. Alguns dias após a sua posse o, então, Presidente Paschoal Ranieri Mazzili,
que envia ao Congresso a mensagem 471/61, solicitando um parecer sobre a discordância dos
militares quanto à posse de Jango nas funções de Presidente da República (SILVA NETO,
2003, p. 458).
Para garantir posse Jango foi necessária uma campanha que começou no Rio
Grande do Sul através da figura política de Leonel de Moura Brizola, então governador do
Estado, essa empreitada política foi chamada de “Campanha da Legalidade”. Essa perdurou
por dias até a solução parlamentar negociada por Tancredo Neves junto a João Goulart, e com
a posição contrária de Brizola. Essa solução foi votada na madrugada do dia 31 e assim
aprovada no Congresso Nacional com forte pressão dos Ministros Militares.
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Desta forma, sobrou à população aceitar, e contentar-se com a pose de Jango. A


crise surgiu depois da renúncia de Jânio, foi uma medição de força entre as elites
conservadoras unidas aos militares golpistas contra a esquerda trabalhista e setores legalistas
militares, os primeiros acabaram dando o golpe em 1964. Segundo Felizardo, à falta de
coesão entre os grupos, por interesses incompatíveis, que foi responsável pela vitória dos
grupos legalistas, erro que não se repetiria posteriormente. “A razão estava com o General
Golbery de Couto e Silva, que [...] ensinou: Os movimentos que visam depor um presidente
precisam da opinião pública, para ajudar a convencer os próprios militares [para o golpe]
(1991, p. 24).”
Após a Campanha da Legalidade, João Goulart assumiu o poder como primeiro
ministro em 7 setembro de 1961. Para poder governar o novo primeiro ministro do Brasil
assumiu uma postura de moderação quanto as suas ações políticas, assim começou uma
tentativa de retorno ao presidencialismo, tendo em vista que ementa que criou o
parlamentarismo apenas objetivava a diminuição do poder de Jango e esta tinha caráter
provisório, já que a sua manutenção deveria ser votada por um plebiscito no ano de 1965. O
aumento do poder através do retorno do presidencialismo era desejado pelo governo naquele
momento e simbolizava a possibilidade da execução das Reformas de Base1, devido a crença
na só do governo, mas também da oposição sobre a necessidade de um executivo fortalecido,
foi antecipado o plebiscito para o ano de 1963, nesse a população de eleitores, em sua
maioria, escolheu o retorno ao presidencialismo. (FAUSTO, 2000, p.455).
Com o retorno do presidencialismo, o governo de João Goulart buscou realizar
uma série de medida que visavam recuperar a economia brasileira então em crise. Para tal fim,
estabeleceu-se no governo dois fortes dispositivos um sindical e um militar, a presença destes
dois dispositivos visava atender as demandas criadas, tanto os opositores do governo ligados a
esquerda quanto os conservadores e militares ligados a direita. Estes dois dispositivos dariam
a base de sustentação para que governo pudesse realizar ações para contornar a crise
financeira, econômica e política. No âmbito econômico, foi criado o Plano Trienal pelo então
Ministro do Planejamento Celso Furtado, este plano econômico objetivou o controle da
inflação, crescimento econômico e reformas sociais. Mas apesar dos esforços acabou por
fracassar devido à falta de colaboração de vários setores da sociedade. O Historiador Boris
Fausto elencou os seguintes motivos para o fracasso do Plano Trienal: (2000, p.456)

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As reformas de base abrangiam um amplo número de medidas que melhorariam as condições de vida da
população, entre essas medidas estava a reforma agrária,
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Os beneficiários da inflação não tinham interesse no êxito das medidas; os


inimigos de Jango desejavam a ruína do governo e o golpe; o movimento
operário se recusava a aceitar restrições aos salários; a esquerda via o dedo
do imperialismo por toda a parte. Os credores se mostravam reticentes [...]

Desta forma, a crise política e financeira começou a se agravar. A crise política se


fortaleceu através das disputas entre a esquerda e a ala militar. No fim todos os lados
passaram a não ver uma solução para a crise nas vias democráticas. Neste contexto, a partir de
1964, o presidente João Goulart conta com o então apoio dos dispositivos sindicais e militares
começou a articular uma série de reformas que seriam impostas via decreto devido a forte
oposição do congresso nacional. Estas reformas assentavam-se na urbana (através da
desapropriação dos imóveis urbanos não utilizados para a moradia), na agrária
(desapropriação das terras improdutiva); eleitoral (direito de voto ampliado aos analfabetos e
militares de baixa patente) e a fiscal (com a taxação da remessa dos lucros das empresas
multinacionais para o exterior).
O processo que levou ao golpe militar que ocorreu passa pelo comício dos cem
mil, que ocorreu em 13 de março no Rio de Janeiro, neste estiveram presentes o Presidente da
República João Goulart e Leonel Brizola, foi nesse evento que as primeiras reformas foram
decretadas. Após os decretos ocorridos no evento acima citado se estabeleceu de forma mais
clara uma série de manifestações contrárias ao governo, entre elas a mais destacável, foi a
Marcha da Família com Deus e pela Liberdade, onde 500 mil pessoas participaram em São
Paulo. Assim, o último ato de João Goulart, como presidente ocorreu quando este participou
da assembléia dos sargentos. Segundo Fausto, neste:

[...] O golpe já estava em marcha. Ele foi precipitado pelo general Olímpio
Mourão Filho [...]. Com o apoio do governador Magalhães Pinto, Mourão
mobilizou a 31 de Março as tropas sob se comando sediadas em Juiz de
Fora, deslocando-se ao Rio de Janeiro. A situação se definiu com rapidez
inesperada, pois aparentemente um confronto de tendências militares opostas
parecia inevitável. (2000, p.461)

Para Chiavenato (1995, p.45), o governo errou a tática e com este erro se viu
impedido de reagir, além disso, as organizações de cunho popular também falharam um
exemplo disso é a greve dos rodoviários, que deixou a população a pé, em pleno golpe militar.
Assim, percebemos que uma série de pequenas falhas e presunções do governo e da figura
política de João Goulart levaram a crise e por conseqüência ao poder os militares, logo,
percebemos com a articulação da oposição e falha do dispositivo militar governamental, só
restava ao presidente se retirar, o que ocorreu em 1 de abril de 1964, saindo de Brasília para
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Porto Alegre e depois para o exílio no Uruguai. Com a vacância do cargo de presidente pela
fuga de Jango, o presidente do senado declarou vago o cargo, que foi assumido pelo então
presidente da assembleia dos deputados Ranieri Mazzili, porém neste momento o poder já
estava na mão dos militares que impuseram o fim da segunda fase do Estado de Direito
brasileiro. Os motivos da tomada do poder são muitos, mas podemos destacar três principais,
segundo Fausto (2000, p.465): a manutenção da ordem social; o respeito a hierarquia e o
medo do avanço comunista, seriam estes o principal motivo para a ação dos militares.

5.5 A CONSTRUÇÃO DO ESTADO AUTORITÁRIO BRASILEIRO

Com a ascensão dos militares ao poder, o Estado de Direito Brasileiro que, ainda,
estava em processo de construção, mas que sofreu uma ruptura brusca e transformou-se em
um Estado Ditatorial Autoritário, que rompeu com os quadros de “legalidade” jurídica, já
constituídos, que primavam pelos direitos e liberdade individuais. Inicialmente, o golpe
militar objetivou romper com um ciclo de corrupção e a ameaça do comunismo visou
antecipar um possível golpe da esquerda, objetivando a “manutenção” do Estado de Direito
Brasileiro. Em prol de uma “democracia” os militares deturparam o Estado de Direito, pois
este foi pouco a pouco destruído pelos atos inconstitucionais. Esses atos foram promulgados
ao longo da Ditadura Brasileira para legitimar e construir um véu democrático sobre o Estado
Autoritário Militar Brasileiro, que iniciou a partir de 1964. Assim, iremos destacar os cinco
primeiros atos inconstitucionais promulgados pelo governo militar, pois esses iniciaram a
ruptura com o Estado de Direito Brasileiro e consolidaram o Estado Autoritário Militar
Brasileiro.
O primeiro Ato Institucional de 9 de abril de 1964, legitimou as ações que
levaram ao poder os militares, esses passavam pelo Congresso Nacional, esvaziado de
oposição, sendo aprovados de forma imediata. (FAUSTO, 2000, p. 466) O AI-1 simbolizou
fortalecia o poder presidencial; suspendeu as imunidades parlamentares, de suspender
mandatos e direito políticos por uma década; a estabilidade dos cargos públicos também foi
extinta; este também criou os mecanismos para a instalação dos Inquéritos Policial Militares,
que poderiam ser abertos contra os opositores do governo. Com todo este poder o governo
passou a perseguir, torturar e eliminar os opositores do regime. Também não podemos
esquecer que foi através deste ato que se estabeleceu a eleição indireta para presidente da
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república, o candidato eleito, foi o Marechal Castelo Branco, em 15 de abril de 1964


(CHIAVENATO, 1995, 75).
O AI-1, não alterou o cronograma eleitoral, mas vetou e persegui alguns candidatos
da oposição. Mesmo com a pressão dos militares nas eleições estaduais de 1965, os
candidatos da oposição venceram em onze Estados. Com esta derrota nas urnas imposta aos
grupos pró-governo militar, o alto escalão militar que compunha a linha-dura, pressionou o
então presidente Castelo Branco, para estabelecer um controle amplo das decisões políticas do
país, para tal fim, criou o AI-2, esse estabeleceu a eleição indireta pelo Congresso Nacional
para os cargos de presidente e vice-presidente. Além disso, o AI-2 deu ao presidente da
república o poder de governar por decreto, usado principal para os temas de segurança
nacional. O fato a ser destacado sobre o AI-2 é a extinção dos múltiplos partidos políticos e a
constituição do bipartidarismo, composto pela ARENA2 (partido governista) e MDB3(partido
de oposição). O AI-3 foi promulgado no mesmo período e estabeleceu a eleição indireta para
os governos do Estado através das Assembleias Estaduais.
O AI-4 aprovado após um período, no qual o congresso foi fechado, em outubro de
1966, só retornando para aprovar este ato. O decreto estabeleceu e ampliou o poder do
legislativo, colocando dispositivos para implementação das matérias de segurança nacional,
mantendo os poderes de cassação e extinção de mandatos políticos. (FAUSTO, 2000, p.475)
Depois de uma série de resistências contra a Ditadura e declarações no Congresso, o então
Presidente Costa e Silva estabeleceu o AI-5 que dava o poder de fechar o Congresso
Nacional, dando também a possibilidade de nomear interventores nos Estado e Munícipios,
este ato inconstitucional demonstrou a incapacidade do governo militar re-estabelecer o
Estado do Direito e aceitar a participação da sociedade civil nas ações do governo,
demonstrando a incapacidade ceder à pressão. Para Fausto (2000, p.480):

A partir do AI-5, o núcleo militar o poder concentrou-se na chamada


comunidade de informações, isto é, naquelas figuras que estavam no
comando do órgão de vigilância e repressão. Abriu-se um novo ciclo de
cassação de mandatos e perda de direitos políticos e expurgos no
funcionalismo, abrangendo muitos professores universitários. Estabeleceu-se
na prática a censura aos meios de comunicação; a tortura passou a fazer parte
integrante dos métodos de governo.

O AI-5 marcou e definiu os caminhos que seriam seguidos pelos militares e deixou
claro a ruptura entre as formas de Estado, baseadas na democracia, e a sua forma autoritária

2
Sigla do partido Aliança Renovadora Nacional.
3
Sigla do partido Movimento Democrático Brasileiro.
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anti-democrática. Pois, durante todo o período militar o governo objetivou constituir uma
áurea democrática. Entretanto, todas as instituições ligadas ao Estado de Direito foram pouco
a pouco castigadas e destruídas pelas ações do governo.

6. AULA 1

Apresentação do conceito de Estado Autoritário, destacando as suas formas


autoritárias e totalitárias. Essa tarefa ocorrerá através da entrega de um texto básico a ser lido
em conjunto pela turma e pelo professor. Nessa aula serão apresentados aspectos básicos da
Ditadura Militar Brasileira, destacando o aparato repressivo criado neste período.
Para aprofundar o debate junto à turma serão apresentadas músicas manifesto
produzidas durante o período Ditatorial Brasileiro, entre essas podemos destacar: Cálice (GIL,
2003); Apesar de Você (BUARQUE, 1978); Alegria, Alegria (BUARQUE, 1978); Veraneio
Vascaína (RUSSO, 1986), Sociedade Alternativa (SEIXAS, 1974)
Para estabelecer o debate cada aluno deverá destacar uma frase marcante.
Com esta frase cada aluno iniciará o debate mediado pelo professor visando compreender as
críticas que eram realizadas contra a ditadura militar. No fim do debate cada aluno deverá
escrever as frases escolhidas em uma folha branca para montar um cartaz para ser fixado na
sala de aula.
Duração: 50 minutos.
Avaliação: Participação nos debates, interação com o professor e a turma e produção do
material proposto.

7 AULA 2

Apresentação do conceito de Estado de Direito.

Desenvolver o conceito de Estado de Direito junto à turma para trabalhar o ideal


de democracia como forma máxima do exercício do Estado de Direito, para a turma a partir
de uma eleição simulada na turma para liderança desta nas atividades de sociologia;
estabelecer que a turma deverá escolher dois alunos para o pleito, o voto será aberto. Antes da
eleição a turma será dividida em três partes, uma parte para cada aluno candidato e a terceira
parte ficará neutra tendo que posicionar-se a partir de um debate eleitoral que será realizado.
Os dois grupos que são reservados a ajudar os candidatos, que deverão produzir junto com seu
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candidato um discurso e promessas de campanha para convencer a terceira parte da turma a


votar.
Depois do debate será realizada a eleição, cada eleitor deverá votar de forma
aberta, destacando os motivos de seu voto. Após o resultado dessa eleição os três grupos
deverão reunir-se para pensar os motivos da vitória, da derrota e do voto. Os resultados serão
debatidos em seminário.
Como tarefa a ser feita em casa cada grupo deverá pesquisar um dos três
poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário, destacando as suas funções, essa pesquisa será
usada em seminário, cada grupo deverá produzir uma apresentação em Power Point para
destacar as funções de cada um dos poderes que formam o sistema político brasileiro.

Duração: 1h e 50min

Avaliação: Participação do Seminário e articulação dos conceitos através do debate.

8 AULA 3

SEMINÁRIO DOS TRÊS PODERES

Esse seminário terá como objetivo debater sobre as funções realizadas no Brasil
pelo executivo, legislativo e judiciário através das pesquisas realizadas pelos alunos. No fim
da atividade cada aluno deverá produzir um texto para ser entregue versando sobre os três
poderes e se acreditam que cada um dos poderes cumprem as suas funções dentro do sistema
político brasileiro.
Para uma melhor abordagem do tema é interessante realizar uma visita a sede dos
três poderes Estaduais (Assembleia, Tribunal de Justiça e Sede do Governo) para tanto se faz
necessário o auxílio e disponibilidade de aulas de outros colegas.

Duração: 50 minutos

Avaliação: Produção da pesquisa e exposição argumentativa explicativa dos resultados da


mesma, além da montagem da apresentação.
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9 AULA 4

Debater os casos emblemáticos de violação dos Direitos Humanos, de liberdade


de expressão que ocorreram durante a Ditadura Militar Brasileira. Para uma visualização mais
apropriada desse cenário será apresentado uma parte do capítulo 3 da série produzida pela
TVE, “Advogados Contra Ditadura”, que trás os depoimentos dos presos da Ditadura Militar
relatando a sua luta para ter um julgamento. Debate sobre os direitos inalienáveis de defesa.

Duração: 1h e 40min

Avaliação: Participação

10 AULA 5

Mostrar aos alunos a cobertura das manifestações de julho de 2013, destacando os


conflitos entre manifestantes e policiais, além disso, trazer reportagens sobre violência
policial. Discutir os limites da democracia e da manifestação da opinião e pensar os limites da
ação da polícia

Para terminar a reflexão os alunos deverão ser divididos em quatro grupos para
realizar um pequeno Seminário Orientado:

- O grupo I será responsável pela exposição dos interesses da Ditadura Militar, pensando-os
dentro dos enquadramentos legais de um Estado de Direito, Destacando os subterfúgios
usados pelo Estado Autoritário brasileiro para construir ferramentas de legitimação com a
aparências legais.
- O grupo II deverá demarcar os aspectos defendidos pelos opositores presos pela Ditadura
Militar, destacando os abusos de poder por eles sofridos e as violações dos direitos
fundamentais exercidos pela Ditadura Brasileira.
- O grupo III terá de relatar os motivos das manifestações e os interesses dos manifestantes,
relatando e pensando as suas posições políticas, destacando as possíveis consequências das
mesmas;
- O Grupo VI deverá produzir e pensar argumentos que podem ser usados para legitimar uma
intervenção policial e militar dentro de um Estado de Direito.
16

No final desta atividade os alunos deveram produzir cartazes para serem expostos
na escola, destacando os limites das posições defendidas em cada um deles comparando os
interesses existentes em um regime Político Militar e um Democrático.

Duração: 1h e 40min

Avaliação: A avaliação levará em conta a apropriação conceitual, participação e organização


da exposição proposta.

10 PROCEDIMENTOS DIDÁTICO-METODOLÓGICOS

O trabalho que é proposto neste projeto objetiva o debate conceitual sobre os


Estados de direito e autoritário. Esta atividade pressupõe a necessidade de uma mediação para
construção da aprendizagem sociológica, assim, o professor atua como mediador, valorizando
a experiência já adquirida pelo aluno, nas suas vivências sociais.
Primeiramente, devemos compreender a posição de mediação do conhecimento, na
qual o professor transpassa a sua função docente, e assim passa a preparar os alunos para a
utilização das “indumentárias” conceituais, para que estes se “apropriem” do saber e o
interiorizem. Segundo o filosofo Gilles Deleuze (1980, p.1): “por um lado os conceitos não
são dados prontos, eles não preexistem: é preciso inventar, criar os conceitos”. Tendo como
base a afirmação que os conceitos são inventados, podemos concluir que sua construção ou
invenção, como queiram, é datada e pragmática, ou seja, foi criado em determinado momento
para atender uma demanda específica. Logo, o professor deve auxiliar o seu aluno, para que
este realize a apropriação dos conceitos, e assim, os utilize para compreender as suas
vivências no mundo. Os desafios da construção e da apropriação do saber sociológico entram
em choque com as fragilidades das experiências dos alunos, para que ocorra a interação entre
aluno-professor, sempre deve haver uma nítida compreensão da ligação, existente, entre o
passado e o presente.
O aluno deve através da mediação realizada pelo professor ser capaz “ver” os
fluxos e refluxos da sociedade para, assim, construir o seu próprio saber. Este saber será
construído por meio da leitura, da apropriação conceitual e da interação com as fontes. Os
debates que surgirão na sala de aula, durante este processo de construção do saber crítico,
17

servirão para “tensionar” o saber que foi construído pela interação professor/aluno. Como
afirma Libanêo (2002, p. 20) “a pratica educativa é, pois, ponto de partida para a construção
da reflexão.” A reflexão ou compreensão sociológica, como queiram, deve ser o objetivo das
práticas educativas nas aulas de sociologia.
Neste processo ocorre o desenvolvimento e compreensão da sociedade através da
construção da imaginação sociológica. Este conceito foi construído pelo sociólogo W. Mills
Para o autor a imaginação sociológica o sujeito que detêm esta ferramenta desenvolve a
capacidade analisar representações sócio-históricas, considerando as suas relações diretas ou
indiretas com suas práticas cotidianas, assim desenvolve um tipo refinado de consciência
social.
Através disso, a ansiedade pessoal dos indivíduos é focalizada sobre fatos
explícitos e a indiferença do público se transforma em participação nas
questões públicas. [...] A imaginação sociológica nos permite
compreender a história e a biografia e as relações entre ambas, dentro da
sociedade. Essa é sua tarefa e sua promessa. A marca do analista
social clássico é o reconhecimento delas [...] (MILLS, 1975, p. 12).

Quando este conceito é empregado na sala de aula, a imaginação sociológica


assume o objetivo de desconstruir e desnaturalizar as aulas para unir a aprendizagem escolar e
a produção cientifica dentro do processo de ensino e aprendizagem de sociologia. Assim, a
imaginação sociologia pode ser entendida como uma competência a ser desenvolvida dentro
do trabalho pedagógico da disciplina de sociologia, sendo que essa só será desenvolvida a
partir de leituras e reflexões sistematizadas que objetivem o rompimento do censo comum.
Nesse contexto, os PCNS (2000) e DCN (2000) afirmam que as competências básicas da
disciplina de sociologia são: escrever e resolver problemas. Não podemos esquecer que estas
três competências se articulam com os seguintes eixos norteadores: representação e
comunicação, investigação e compreensão e contextualização sócio-cultural.
Para a melhor assimilação da temática que propomos a pesquisa surge como
fundamento metodológico de ensino importante, que deve ser usada para a verificação ou
confirmação de hipóteses debatidas em sala de aula e o desenvolvimento da capacidade
crítica. Para Bagno (2007) pesquisar significa procurar, buscar como cuidado, informar,
perguntar e aprofundar-se nos temas. Assim, “a pesquisa é, simplesmente, o fundamento de
toda e qualquer ciência” (2007, p. 18).
Porém destacamos que o aluno não pode ser “jogado” na pesquisa, pois esta deve
ser orientada e objetivada, fugindo do senso comum sobre o saber sociológico para construir a
cientificidade. Logo, é necessário projetar e prever ideias elaborar as etapas do trabalho, criar
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um caminho e sobre o trabalho prático da pesquisa que essa se constrói (BAGNO, 2007, p.
22). Para melhorar a capacidade de pesquisa as teorias básicas da sociologia demonstram-se
ferramentas fundamentais para análise dos fenômenos sociais e são fundamentais também
para a construção de análises críticas sobre a sociedade, servindo de base para a reflexão e
para exercício pleno da cidadania.
O OCEM (2006) buscou compor as técnicas didáticas que ampliem a capacidade
de apropriação dos conceitos fundamentais da sociologia, Entre estas orientações destacamos:
o uso da aula expositiva, como forma de impelir aos alunos ao debate e a construção ativa do
saber, nestas práticas o professor não deve ser centro irradiador do saber; como outra
possibilidade que iremos utilizar será baseada em seminários. Para desenvolver análises
sociológicas estabeleceremos o uso do documentário e músicas (ferramentas didáticas que no
seu tempo de produção constituíram-se como uma crítica social ao período ditatorial
brasileiro) que servirão como material inicial para uma reflexão sobre os conceitos abordados
nessa proposta.
Assim, dentro dos procedimentos didáticos que compomos destacamos além da
pesquisa escolar, uso do seminário como ferramenta didática catalizadora da criticidade do
aluno. Segundo o dicionário Houaiss (2009) “aula dada por um grupo de alunos em que há
debate acerca da matéria exposta por cada um dos participantes”. Assim, cada aluno torna-se
autor, reafirmando os pressupostos de Paulo Freire, e evita que as aulas sejam apenas
repetições cansativas centradas no professor.
O importante é que a fala seja tomada como um desafio a ser desvendado, e
nunca como um canal de transferência de conhecimento. Os professores
perguntam: Será que tenho que parar com minhas aulas expositivas de uma
vez? O importante é que o professor evite que sua fala seja uma canção de
ninar informativa, ou uma apresentação sedativa. (1987, p. 54).

O seminário como ferramenta didática apresenta-se com uma fala realizada por um grupo de
alunos para transmitir um saber construído ou pela pesquisa de um tema ou pela leitura de
material previamente indicado. Segundo Dolz e Schneuwly (2004, p.217) o Seminário possui
sete partes, que são divididas da seguinte maneira: 1) abertura; 2) Introdução; 3) Apresentação
da organização da exposição; 4) Desenvolvimento e processo de apresentação dos subtemas;
5) Recapitulação e síntese; 6) conclusão; 7) fechamento. Apesar das partições existentes no
processo de construção de um seminário, esse tipo de atividade caracteriza-se como um
momento de mediação, partilha e troca de aprendizagens entre aluno e professor. Pois, é nesse
tipo de atividade o aluno demonstra o seu domínio conceitual e expõem a sua construção de
conhecimento tornando-se protagonista do seu processo de aprendizagem.
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11 PROCEDIMENTOS DE MONITORAMENTO E AVALIAÇÃO

A avaliação objetivará à análise do processo de aprendizagem e à aquisição e


desenvolvimento das competências e habilidades objetivadas, além de considerar o
engajamento nas atividades, tentativa de exposição do entendimento acerca do tema.

12 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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nº 9.394/96. Brasília, 1997.

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de Ensino Médio. Orientações Curriculares do Ensino Médio. Brasília, DF, 2006.

BRAGA, K (coord.). Leonel Brizola: Perfil, discursos, depoimentos (1922/2004). Porto


Alegre: Assembléia Legislativa do RS, 2004.

BAGNO, Marcos. Pesquisa na Escola o que é como se faz. 21 ed. São Paulo: Loyola, 2007

BOBBIO, Norberto (Org.). Dicionário de Política. Brasília: Editora Universidade de Brasília,


1998.

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BUARQUE, Chico. Chico Buarque. Philips/ PolyGram, 1978. 1 LP, lado A, faixa 2.

CHIAVENATO, Júlio José. O golpe de 64 e a ditadura militar. 6. ed. São Paulo: Moderna,
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procedimento. In: Gêneros Orais e escritos na escola. DOLZ, J. ; SCHNEUWLY, B. São
Paulo: Mercado de Letras, 2004, p. 95 a 128.
20

HOUAISS. Dicionário eletrônico Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva,


2009.

DELEUZE, G. Trecho da entrevista de Gilles Deleuze in Jornal "Liberácion", de 23 de


outubro de 1980, p.1. Disponível em: <http://rizomas.net/filosofia/rizoma/107-rizoma-e-um-
sistema-aberto-deleuze-e-guattari.html >

FREIRE, P; SHOR, I. Medo e ousadia: o cotidiano do professor. Rio de Janeiro: Paz e Terra,
1987.

GIL, Gilberto. Gilberto Gil: todas as letras: incluindo letras comentadas pelo compositor.
RENNÒ, C (org). 2. ed., revista e ampliada. São Paulo: Companhia das Letras, 2003

LAKATOS, E.M. e MARCONI, M.A.- Fundamentos de Metodologia Científica. 2ª


ed. São Paulo: Atlas, 1990.

LIBÂNEO, José Carlos. Didática: velhos e novos temas. Goiânia: Edição do Autor, 2002.

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Coordenação de Publicações, 2003.

SPINDEL. A. O que é ditadura. SP: Brasiliense, 1985.

GROHMANN. L. G. M. A Separação de Poderes em Países Presidencialistas: A América


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RUSSO, Renato. Veraneio Vascaína. In Capital Inicial (LP), Gravadora Polygram, 1886.

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Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, 2005. 14 p.

MILLS, Wright. A imaginação sociológica. Rio de Janeiro: Zahar, 1975.


21

13 APÊNDICES

— Músicas:

— Cálice – Autoria Chico Buarque

Pai, afasta de mim esse cálice


Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue

Como beber dessa bebida amarga


Tragar a dor, engolir a labuta
Mesmo calada a boca, resta o peito
Silêncio na cidade não se escuta
De que me vale ser filho da santa
Melhor seria ser filho da outra
Outra realidade menos morta
Tanta mentira, tanta força bruta

Como é difícil acordar calado


Se na calada da noite eu me dano
Quero lançar um grito desumano
Que é uma maneira de ser escutado
Esse silêncio todo me atordoa
Atordoado eu permaneço atento
Na arquibancada pra a qualquer momento
Ver emergir o monstro da lagoa

De muito gorda a porca já não anda


De muito usada a faca já não corta
Como é difícil, pai, abrir a porta
Essa palavra presa na garganta
Esse pileque homérico no mundo
De que adianta ter boa vontade
Mesmo calado o peito, resta a cuca
Dos bêbados do centro da cidade

Talvez o mundo não seja pequeno


Nem seja a vida um fato consumado
Quero inventar o meu próprio pecado
Quero morrer do meu próprio veneno
Quero perder de vez tua cabeça
Minha cabeça perder teu juízo
Quero cheirar fumaça de óleo diesel
Me embriagar até que alguém me esqueça.

Veraneio Vascaína – Renato Russo


22

Cuidado pessoal, aí vem vindo a veraneio


Toda pintada de preto, branco, cinza e vermelho
Com números do lado
Dentro 2 ou 3 tarados
Assassinos armados uniformizados
Veraneio vascaína vem dobrando a esquina

Porque pobre quando nasce com instinto assassino


sabe o que vai ser quando crescer desde menino
Ou ladrão prá roubar ou marginal prá matar
- Papai eu quero ser policial quando eu crescer!

Se eles vem com fogo em cima é melhor sair da frente


Tanto faz, ninguém se importa se você é inocente
Com uma arma na mão eu boto fogo no país
E não vai ter problema
Sei que estou do lado da lei

Sociedade Alternativa – Raul Seixas

Viva! Viva!

Viva a sociedade alternativa!


(viva! viva!)
Viva! Viva!
viva a sociedade alternativa!
(viva o novo eon)
Viva! Viva!
Viva a sociedade alternativa!
Viva! Viva!
Viva a sociedade alternativa!

Se eu quero e voçê quer


Tomar banho de chapeu
Ou esperar Papai Noel
Ou discutir Carlos Cardel
Então vá...
Faça o que tu queres pois é tudo da lei
da lei...

Viva! Viva!
Viva a sociedade alternativa!
Viva! Viva!
Viva a sociedade alternativa!
Viva! Viva!
Viva a sociedade alternativa!
Viva! Viva!
Viva a sociedade alternativa! ham...
23

Mais se eu quero e voçê quer


Tomar banho de chapéu
Ou discutir Carlos Cardel
Ou esperar Papai Noel
Então vá...
Faça o que tu queres pois é tudo da lei
da lei

Viva! Viva!
Viva a sociedade alternativa!
Viva! Viva!
Viva a sociedade alternativa!
Viva! Viva!
Viva a sociedade alternativa!
Viva! Viva!
Viva a sociedade alternativa!

Alegria, Alegria – Caetano Veloso

Caminhando contra o vento


Sem lenço e sem documento
Num sol de quase dezembro... eu vou...

O sol se reparte em crimes espaçonaves


Guerrilhas em Cardinales bonitas... eu vou...

Em caras de Presidentes
Em grandes beijos de amor
Em dentes pernas bandeiras
Bomba e Brigitte Bardot

O sol nas bancas de revista


Me enche de alegria e preguiça
Quem lê tanta notícia.. eu vou..
Por entre fotos e nomes
Os olhos cheios de cores
O peito cheio de amores... vãos...
Eu vou.. porque não.. porque não..

Ela pensa em casamento


E eu nunca mais fui à escola
Sem lenço e sem documento... eu vou...

Eu tomo uma coca-cola


Ela pensa em casamento
E uma canção me consola... eu vou...
24

Por entre fotos e nomes sem livros e sem fuzil


Sem fome sem telefone no coração do Brasil

Ela nem sabe até pensei


Em cantar na televisão
O sol é tão bonito.. eu vou
Sem lenço e sem documento
Nada no bolso ou nas mãos
Eu quero seguir vivendo... amor...
Eu vou.. porque não.. porque não..
Porque não.. porque não.. porque não..
Porque não...

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