Flávio Alves Pereira de Andrade Filho N° USP: 10329242 Fichamento: “Povo internamente divido: plebe, seitas e partidos em História de Florença” 1. Introdução (§1- 4) O autor inicia o texto sugerindo que haverá uma mudança no pensamento de Maquiavel nas Histórias Florentinas em relação aos seus textos anteriores: O Príncipe e os Discursos. O que te fato autor do artigo vai buscar e analisar se essa mudança se trata de uma virada conservadora como defende McCormick ou se realmente se trata de mudança efetiva em relação a perspectiva do papel do povo na vida politica a ponto de ocorrer uma inviabilização de uma leitura que seria populista e igualitária. O autor vai tentar mostrar até que ponto é possível sustentar a interpretação na qual as Historia Florentinas de Maquiavel teria mostrado: a) o modo de agir do povo seria inconciliável com um comportamento de submissão à autoridade da lei; b) a atuação do povo exibiria o mesmo desejo de comandar e oprimir, que em O Príncipe e Discursos, era apresentado como humor típico dos grandes; c) estas transformações na atuação popular teriam comprometido o papel de “guardião da liberdade”, em Discursos atribuído por Maquiavel ao povo. 2. A Instituição das Ordenações de Justiça: quer o povo vivere secondo le leggi? (5-10) Logo no inicio do livro II das História de Florença Maquiavel diz que no ano de 1282 foi instituída a magistratura da Signoria e com isso foi possível haver tranquilidade na cidade de Florença durante um tempo, pois foi possível controlar os humores dos nobres e dos partidos guelfo e gibelino, portanto, só ficou os humores comuns em uma cidade, ou seja, a briga entre o povo e os grandes, no qual o primeiro quer viver de acordo com eles enquanto o segundo querem dominar, tornando impossível que haja uma conciliação entre os dois. Essa visão de Maquiavel parece ser colocada em xeque quanto esse vai discutir acerca da instituição das Ordenações da justiça. Maquiavel atribui a criação dessa instituição devido a disputa entre os nobres. No meio dessa disputa surge a figura de Giano dela Bella que tomou para si a tarefa de reformar a cidade, é nesse momento que surge as “Ordenamento da Justiça” que seria um conjunto de leis “que tinha por objetivo impedir os nobres de infligir, por meios legais e extralegais danos ao popolo”, após esse acontecimento houve uma situação, em que, alguém do povo foi morto por um nobre que levou os primeiros a se rebelarem devido a uma sequência de acontecimento que por fim levou Giano a se exilar de forma voluntária. Na interpretação de Suchowlanski, esse acontecimento evidenciaria a incapacidade do povo de buscar por meios legítimos a ação politica, esse acontecimento mostraria que os grandes são os que buscam por meios legais alcançar seus interesses. Ames passa a questionar essa interpretação já que o povo como mostra Maquiavel buscou meios legais antes de pegar em armas, o autor das Historias Florentinas não parece dizer que povo empunha sua questão pela força, mas utilizou dela para que houvesse um julgamento isento. O povo parece ter entendido que as leis ao contrário de proteger são na verdade usadas de forma a favorecer os nobres. 3. A instituição da tirania do duque de Atenas: consentimento popular e amor à liberdade (§11-17) Maquiavel no final do Livro II vai descrever os eventos que levaram a cidade de Atenas a tirania do duque, o colocaria em questão se o povo realmente é um amante da liberdade, pois foi o seu apoio que tal duque chegou ao poder. Ao entrar no poder o duque tomou todas as atitudes de um príncipe absoluto: destituiu os Signori da sua autoridade, aboliu as Ordenações de Justiça, aumentou os impostos, criou um conselho com comparsas estrangeiros. O duque não cumpriu sua promessa de unificar a cidade, como mostra pelas medidas adotadas por esse, o povo devido a esses acontecimentos entra em guerra com o duque, o que leva a uma luta sangrenta que por fim devolve a liberdade para a cidade. Com isso, essa passa por uma reorganização que poderia ter dado certo se os nobres conseguissem controlar seu apetite, o que leva o povo a falar com bispo para que essa mudança controlar os humores dos grandes, no entanto, acaba ocorrendo uma batalha entre os dois grupos levando a perda total do poder pelos nobres. Tais acontecimentos são novamente interpretados por Suchowlanski como evidência a incapacidade do povo de defender a liberdade. Contudo, essa interpretação pode ser vista como uma leitura apressada do texto, pois não foi apenas o povo que levou o duque ao poder, afinal tal medida já havia sido votada pelos nobres que induziram o povo a tomada dessa decisão. Além disso, a própria reorganização feita após a saída do duque, mostra como o povo estava disposto a dividir os cargos mais altos com os nobres e esses ao quererem o poder só para si levou a uma nova disputa. 4. A Revolta Ciompi e a emergência da plebe como ator político (§18) No livro III Maquiavel vai descrever e analisar os tumultos populares que ficaram conhecidos como “Revolta de Ciompi”. Tal revolta pode ser divida em três atos que vão ser brevemente expostos: 1) Ocorreu em junho de 1378 devido a uma lutar de poder entre as elites que envolveram o povo em uma onda de protestos manipulados pelos comerciantes patrícios; 2) Ocorreu algumas semanas depois do primeiro que levou a queda do governo florentino e instalação de um governo popular sob a liderança de Michele di Lando; 3) Acontece nos últimos dias de agosto, o desfecho das revoltas populares é marcado por uma grande repressão que culmina com o fim do governo popular e o retorno do governo oligárquico. 4.1 Motivação econômica e objetivos políticos da primeira fase da Revolta de Ciompi: o discurso do cimpo anônimo (§19-27) Os acontecimentos que levaram a Revolta de Ciompi em 1378 poder ser resumida da seguinte forma: “a) o temor da plebe em ser punida pelos saques e incêndios praticados e b) a falta de reconhecimento político da plebe decorrente da proibição a ela imposta para inscrever-se em alguma corporação existente ou para constituir uma sua própria. É nesse contexto que alguém da plebe com uma maior experiência e capacidade de oferecer apoio aos outros pronunciou o discurso que se tornou paradigmático. Tal discurso do “ciompo anônimo” defende três pontos: a) a natureza igual de todos os homens; b) devido ao cenário de desordem, utilizar tal momento como forma de tomar o poder da cidade; c) a necessidade de se redimir das ações feitas anteriormente. Nota-se que o povo surge como ator político dotado de iniciativa própria. Depois desses acontecimentos, houve uma reunião entre o povo e os Senhores, em que, esses aceitaram as exigências dos primeiros para evitar uma nova batalha. Com isso termina a primeira fase da “Revolta de Ciompi” e da inicio a segunda liderada por Michelle di Lando. Winter ao comentar tais acontecimentos nota como a plebe é reunida para desprender-se da ideia de que as hierarquias sociais têm uma base natural. Evidencia-se também que a plebe poderia governar muito bem sozinha, no entanto, Maquiavel m ostra como essa não tem desejo de realizar tal empreitada sozinha e por isso volta a dividir com os grandes essa função. 4.2 Michelle di Lando: nascimento e morte da república popular em Florença (§28-45) Michelle di Lando foi o responsável por estabelecer a primeira república popular de Florença, no entanto, cometeu o equívoco de tentar governar tanto para o povo como para plebe ao invés de utilizar desses conflitos entre os grupos como forma de estabelecer uma ordem nessa república. A plebe devido a essa situação se retira do espaço publico do poder e funda uma nova instituição. Contudo, esses acontecimentos levam a uma briga entre Michelle e o povo, levando a vitória do primeiro, assim termina a segunda fase da revolta. A terceira fase se inicia com a derrota da plebe e a reordenação política da cidade com a eleição de uma nova Senhoria, o que leva a um total retrocesso, em que, a plebe perde todo o poder antes conquistado. Ames após relatar os acontecimentos dessa terceira fase, passar a fazer uma analise de todo o panorama das três fases que constituem essa revolta e conclui que o povo não tem a mesma tendência que os grandes, ou seja, de dominar quando estão com o poder em mãos. Deve se notar que em todos os momentos que o povo esteve no poder, esse sempre esteve disposto a compartilha-lo diferente dos grandes que sempre tomam para si.