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III CGPOP – Congresso de Gestão e Política Pública, na Universidade

Federal de São Paulo, Escola Paulista de Política Economia e Negócios,


Campus Osasco (08 e 09 de dezembro de 2017).

Tema do encontro: "INOVAÇÃO E EFICIÊNCIA NO SETOR PÚBLICO"

Simpósio Temático III - Políticas Urbanas

POLÍTICA E PLANEJAMENTO URBANO EM SANTOS: DE


SATURNINO DE BRITO À DITADURA MILITAR (1910-1985)

André Rocha Santos – Instituto Federal de São Paulo, campus Registro


andrerochasantos@ifsp.edu.br

Resumo
O artigo busca reconstituir as diferentes fases do planejamento urbano na cidade de Santos. Em
primeiro lugar é destacado o legado deixado pelo urbanista Saturnino de Brito após a fase dos Planos
de Melhoramentos e a formação das primeiras equipes técnicas municipais. Na sequência, salientamos
a consolidação do planejamento urbano enquanto técnica social no período 1930-1945 e a influência
dos urbanistas Luiz Ignácio de Anhaia Mello e Francisco Prestes Maia no período 1945-1964. Em
seguida, buscamos indicar a ascensão do planejamento urbano tecnocrático no contexto da Ditadura
Militar (1964-1985). Por fim, é feito um balanço crítico dessa trajetória.
Palavras-chave: Planejamento Urbano; Políticas Públicas; Santos/SP

Introdução

Transformações entre o fim da década de 1940 e o golpe militar de 1964 (KOWARICK; BONDUKI,
1994):
• a consolidação do padrão periférico de crescimento urbano;
• a intervenção do Estado em obras de remodelação do sistema viário;
• a substituição do sistema de transporte coletivo baseado no bonde pelo ônibus;
• o acréscimo do número de veículos decorrente da implantação da indústria automobilística e a
configuração de ruas e avenidas em função desse meio de transporte;
• a rápida renovação das edificações e a intensificação da verticalização;
• o surgimento dos movimentos populares nascidos das contradições geradas por estes processos.

Nosso intuito foi contribuir com a compreensão desses períodos a partir do consenso em torno do
planejamento enquanto conhecimento técnico especializado e prática profissional e a organização dos
primeiros órgãos como parte da estrutura administrativa das prefeituras tendo a tarefa de elaborar
planos que dessem conta do conjunto da área urbana com propostas que articulassem os bairros, o
centro e toda sua extensão através de um sistema de vias e de transportes.

Os profissionais do serviço público municipal passaram a formar o setor de urbanismo percorrendo


todo um caminho de aprendizado composto de leis, códigos, decretos e leis de uso e ocupação do solo,
além da sua afirmação no âmbito da universidade.

Destacamos a consolidação de uma nova burocracia formada por profissionais que passaram a atuar na
área do urbanismo. Este grupo, formado principalmente por arquitetos e engenheiros civis, mas
também por geógrafos, economistas e sociólogos, foi fundamental para formação e constituição do
planejamento urbano enquanto saber específico.
O objetivo foi identificar o advento do planejamento urbano enquanto técnica de base científica de
ação do Estado sobre o espaço urbano por meio do urbanismo e o plano diretor se tornou
indispensável para a solução dos problemas urbanos que se agravavam (VILLAÇA, 2004).

Metodologia

A metodologia utilizada parte da contribuição da agenda institucional e do ponto de vista do efeito das
instituições sobre o comportamento dos atores ou sobre o conteúdo das decisões (ARRETCHE, 2007).
Pretendemos reconstruir por meio do institucionalismo histórico (HOCHMAN, 2007) o porquê da
referida política governamental procurando identificar o que foi feito e quais foram os principais
agentes políticos que influenciaram de forma decisiva a atuação do poder público. Nosso intuito é
analisar, a partir do caso santista, como a política pública sofreu importantes modificações ao longo do
tempo no seu processo de institucionalização anterior à volta da democracia política em 1985.

Resultados e discussão

O legado de Saturnino de Brito e as primeiras equipes técnicas (1910-1930)


As intervenções urbanas realizadas por Saturnino de Brito no começo do século XX fizeram parte do
primeiro período do urbanismo moderno em nosso país marcado pelos planos de melhoramentos. Esta
herança consolidou – entre as décadas de 1910 e 1930 – a formação da primeira equipe técnica
municipal integrada por profissionais remanescentes da Comissão de Saneamento somado a novos
engenheiros e urbanistas ligados à iniciativa privada e à municipalidade.

Centralização e consolidação do urbanismo (1930-1945)


As décadas de 1930-40 se constituíram como o período de afirmação do urbanismo como área de
conhecimento e atuação profissional com a criação de secretarias de governo, sociedades, revistas e
fóruns de divulgação e discussão; No estado de São Paulo os debates foram polarizados por Luiz
Ignácio de Anhaia Mello e Prestes Maia. Além da influência destes na universidade e na administração
pública, ambos ocuparam importantes espaços na política paulista.

A influência de Anhaia Mello e Prestes Maia (1945-1964)


Uma das principais medidas em relação ao planejamento urbano santista foi a formação da Comissão
do Plano da Cidade sob a influência de Anhaia Mello nas diretrizes da legislação santista de 1942; A
região também contou com a marca de Prestes Maia em “O Plano Regional de Santos” fruto de seus
estudos entre os anos de 1947-48 sendo publicado em 1950;

Autoritarismo e Planejamento urbano tecnocrático (1964-1985)


Com o seu Plano Diretor Físico do Município através da lei 3.529/68 a lei santista seguiu a tendência
do auge do planejamento tecnocrático do final da década de 1960; Na sucessão municipal de 1968 foi
eleito, em oposição ao regime militar, o deputado estadual Esmeraldo Tarquínio pelo MDB que não
chegou a assumir o cargo e teve suspensos seus direitos políticos; Planos como “letra morta” ou para
“inglês ver”;

Considerações Finais

Os canais de drenagem e as largas avenidas abertas no projeto de saneamento indicaram os caminhos


dos fluxos e lugares de expansão se afastando do cais e do Centro e se aproximando das praias;
Consolidou a sucessão de arenas de articulação entre o poder público e entidades ligadas aos setores
produtores urbanos com a Comissão do Plano da Cidade (1948), a Comissão Consultiva do Plano da
Cidade (1952) e o Conselho Consultivo do Plano Diretor Físico (1968); Contou – em épocas distintas
– com a influência e as contribuições de Anhaia Melo e Prestes Maia, os principais nomes do
urbanismo paulista entre as décadas de 1930 e 1960;
O período foi igualmente delimitado pelo aspecto cumulativo da formação do planejamento municipal
enquanto forma de conhecimento e atividade profissional e pela participação da cidade no debate
urbanístico mais amplo

Referências

ANDRADE, C. R. M. de. O Plano de Saturnino de Brito para Santos e a construção da cidade


moderna no Brasil. In: Espaço & Debates nº 34. São Paulo: Núcleo de Estudos Rurais e Urbanos,
1991.

ARRETCHE, M. T. S. A agenda institucional. In: Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 22, nº


64, 2007.

KOWARICK, L.; BONDUKI, N. Espaço urbano e espaço político: do populismo à redemocratização.


In: KOWARICK, L. (Org.). As lutas sociais e a cidade: São Paulo, passado e presente. Rio de
Janeiro: Paz e Terra, 1994.

NUNES, L. A. P. Saber técnico e legislação: a formação do urbanismo em Santos – 1894 a 1951.


Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo,
Universidade de São Paulo, São Paulo, 2001.

VILLAÇA, F. Espaço intra-urbano no Brasil. São Paulo: Studio Nobel: FAPESP, 1998.

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