Você está na página 1de 2

A cultura é como um bosque selvagem, com especimens que nascem,

crescem e morrem.

Muito interessante essa correlação entre a cultura e um bosque


selvagem. Do ponto de vista “energético” podemos comparar o ciclo da cultura
( Criação, produção, distribuição, exibição/recepção/transmissão,
consumo/participação ) com o ciclo energético do bosque ( Fotossíntese,
produção de biomassa, consumo, decomposição, reabsorção e síntese ).
Muitos são os atores da cultura e muitas são as espécies num bosque. As
relações entre eles podem ser simbióticas, predatórias, parasíticas, entre
outras. Tanto o bosque quanto a cultura são sistemas complexos de interações
com incontáveis interfaces, com situações de incomparável beleza e outras não
tão belas assim. Tanto o bosque quanto a cultura podem ter suas sementes
espalhadas pelo vento ou por outros vetores mecânicos como os pássaros ou
os agentes culturais. Existem espécies de animais que vivem nas copas das
árvores, outras à meia altura e outras vivem no solo ( ou até no subsolo ) tais
quais as pessoas que vivem da cultura. Num bosque, devido à descontinuidade
das copas das árvores, o solo pode ser atingido pela luz solar, tal qual a grande
idéia ou “insight” pode mudar a situação daqueles que habitam o “solo” cultural.
Um bosque pode ser manejado ? Sim ! Pode ser bem ou mal manejado. Tal
qual a cultura! Podemos ter uma boa ou má política cultural ou uma boa ou má
gestão cultural.

O fato de o bosque e a cultura serem vivos, ou seja, trazerem consigo a


mudança e a dinâmica como características, fazem com que os especimens e
os atores e expressões culturais sigam um ciclo vital. Eles nascem, crescem,
morrem, são decompostos e absorvidos por outrem, o que lhes garante a
perenidade. Poético não?

As políticas e a gestão culturais podem influenciar e serem influenciadas


por estas características, pois quando se tem essa clareza de que expressões,
projetos, formatos e tendências seguem um padrão de início, meio, fim e
absorção/mudança/dispersão, pode-se pensar de forma mais realista e objetiva
sobre as possibilidades de forma de gestão.
Um bosque pode ser medido, pode ter um levantamento das espécies que o
compõe, pode ter levantado o número de metros cúbicos de madeira que tem,
pode ter a quantidade de gás carbônico que absorve, enfim pode ser avaliado
em números, pode ser descrito quantitativamente através de vários dados
coletados por engenheiros florestais, biólogos e gestores ambientais, pode ser
defendido por ambientalistas ou querer ser cortado por madeireiros, mas o seu
valor real, nunca poderá ser entendido pelo ser humano, pois, um bosque
selvagem, entendido como nunca mexido pelo ser humano, transcende o
tempo de vida do Homem. A cultura também tem essa característica, pois, por
exemplo, um concerto de Mozart causou emoções certamente muito diferentes
em uma pessoa na época em que foi composto, das emoções que causa num
ouvinte no século XXI. Como podemos entender plenamente a sua
importância?

Portanto tanto a natureza quanto a cultura são avaliadas deficitariamente pelo


ser humano. As políticas culturais sim, podem e devem ser avaliadas, mas
sempre por uma lente, um filtro, dependendo do que foi diagnosticado antes de
sua elaboração e de quais foram os objetivos determinados para serem
alcançados após a sua implantação.

BIBLIOGRAFIA

1. CANCLINI, Néstor Garcia. "Imaginários culturais da cidade". In: A cultura pela cidade.

São Paulo: Iluminuras - Itaú Cultural, 2008, págs. 15-31.

2. CARÁMBULA, Gonzalo. Apresentações SP abril 2011-1 e SP abril 2011-2

3. MARTINELL, Alfons. Gestion Evaluacion. 2011

4. MARTINELL, Alfons. Presentacion evaluacion. 2011

5. TEIXEIRA COELHO, José. Dicionário crítico de política cultural

Você também pode gostar