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Salomão Rovedo-Um Dia Direi Que Te Amo e Outros Contos
Salomão Rovedo-Um Dia Direi Que Te Amo e Outros Contos
Rio de Janeiro
2017
Índice 2
O cidadão Gudrun
– Rei-Pai Gudrun!
A Friolândia
Incidente na alcova
Não.
Os herdeiros do Rei-Pai
Intrigas palacianas
Todos os santos
Magia negra
A Rainha-Mãe menstruada
O espírito errante
Os tomates reais
O reino desconhecido
O Desterro
O novo castelo
O retorno
– Sim, sim, leve o seu neto ao circo, ele vai adorar. Toda
criança gosta do circo. Os velhos também. Levei a partida
para uma troca das peças maiores e o que restou era
suficiente para arrematar uma brilhante vitória.
*****
Partidas
– Bastião morreu!
– Peraí...
Ainda hoje não sei por que dona Anelise aceitou vir
trabalhar aqui. Ao saber que o horrendo Gregor Samsa sem
convite algum tinha se hospedado em meu quarto todas as
faxineiras da redondeza se recusaram a cuidar da limpeza da
minha adorável morada. Menos dona Anelise. Isso me deixou
desconfiado, vocês sabem, as faxineiras tem a má fama das
ciganas: são ladras, agourentas, feiticeiras, praticam artes
adivinhatórias. Por isso não me furtei a pesquisar logo na
internet o significado de Anelise para conhecer melhor com
quem estava lidando.
– Qualé? – perguntei.
Cem mil vezes direi que te amo para ver de novo pétalas
rosadas que surgem em teu rosto rubro quando nós
terminávamos de fazer amor.
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Direi que te amo, droga, porque desconhecia quão
preciosa é essa palavra que impulsiona a vida e faz com que
os pulmões se encham de ar quando se precisa de força e
coragem.
A thousand times I will say that I love you with this get to
make your face shine new light.
Para Calian
Até que o arranjo lhe saiu bem, pois era ali mesmo que
Alberto encontrava a discrição e o isolamento necessários ao
equilíbrio entre as agitações sociais e políticas de que fazia
parte: vidas estanques, separadas como água e azeite. Zé
Carlos, a quem Alberto e Mariana tinham amizade, servia de
contraponto: diligente como sempre, cobria as necessidades
do casal, com apoio, supervisão e execução daquelas
pequenas coisas que os amigos precisam. Isso aconteceu de
maneira natural, sem o mínimo indicador que significasse um
relacionamento entre empregado e patrão: era pura e
desinteressada relação entre eles.
“Ah, Severino. Não tem não quero ir, não senhor – é pra
trazer queira ou não queira. E repare que tem lá um couro de
bode esticado ao sol. Veja com certeza que o homem traga
esse couro consigo”.
“Tem sim sinhô, doutor Jota, mas eu não sou daqui, tou
de passagem, nada conheço, agora mesmo, se não venho
atender o convite do Coronel, já estava bem pra acolá, no
rumo daquela serra que, com a graça de Deus, há de me
acolher!”
“Vender?”