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23602015 327
artigo article
segundo a Pesquisa Nacional de Saúde, 2013
Abstract Objective: to present Family Health Resumo O objetivo deste artigo é apresentar a
Strategy (ESF) coverage according to the National cobertura da Estratégia Saúde da Família (ESF)
Health Survey (PNS), comparing to administra- estimada pela Pesquisa Nacional de Saúde (PNS),
tive data and previous coverage of the National comparando com dados administrativos e cober-
Household Sample Survey (PNAD 2008), and turas anteriores da Pesquisa Nacional de Amos-
describe the frequencies of home visiting teams. tras de Domicílios (PNAD), além de descrever
Methods: it was compared data from 2013 accord- frequências de visitas domiciliares das equipes.
ing to PNS and data from the Ministry of Health Foram comparados dados de inquéritos popula-
and the National Household Sample Survey cionais em 2008 (PNAD), em 2013 (PNS) e dados
(PNAD 2008). Home visiting indicators of PNS administrativos do Departamento de Atenção Bá-
1
Escola de Enfermagem,
were stratified by education and Major Regions. sica, sobre a proporção de pessoas moradoras em
Universidade Federal de
Minas Gerais. Av. Alfredo Results: the proportion of households registered domicílios cadastrados em unidade de saúde da
Balena 190/4º, Centro. in Family Health Teams in Brazil was 53.4% família, para Brasil, Grandes Regiões e Unidades
30130-100 Belo Horizonte
(95%CI: 52.1-54.6), being higher in rural areas da Federação, além de indicadores com visitas do-
MG Brasil.
dcmalta@uol.com.br and in the Northeast. The proportion of residents miciliares por escolaridade. Observou-se aumento
2
Departamento de in registered households was 56.2%, similar to the na cobertura da população pelo Saúde da Família
Vigilância de Doenças e
Ministry of Health (56.4%) and showed growth no Brasil, passando de 50,9%, segundo a PNAD
Agravos Não Transmissíveis,
Secretaria de Vigilância em compared to PNAD 2008 (50.9%). There was 2008, para 53,4% em 2013, segundo a PNS. O
Saúde, Ministério da Saúde variation between regions, UF and capitals. Peo- crescimento ocorreu no Brasil, Grandes Regiões,
(MS). Brasília DF Brasil.
ple with lower education level have received more urbano e rural. Os dados da PNS em 2013 fo-
3
Departamento de
Epidemiologia. Faculdade home visiting monthly. Discussion: the ESF is an ram semelhantes aos administrativos do DAB em
de Saúde Pública da important promoter of health equity and its cover- 2013, cerca de 56% de domicílios cadastrados. Po-
Universidade de São Paulo.
age and scope increase is successful in the country. pulações com menor escolaridade receberam mais
São Paulo SP Brasil.
4
Departamento de Atenção Key words Health surveys, Family Health Strate- visitas domicíliares mensalmente. A ESF é um
Básica, Secretaria de gy, Primary Health Care, Health services coverage, importante promotor de equidade em saúde e o
Atenção à Saúde, MS.
Unified Health System aumento de sua cobertura e abrangência é exitoso
Brasília DF Brasil.
5
Universidade Federal no país.
Fluminense. Niterói RJ Palavras-chave Inquéritos epidemiológicos, Es-
Brasil.
tratégia Saúde da Família, Atenção Primária à
6
Universidade Federal de
São Paulo. São Paulo SP Saúde, Cobertura de serviços de saúde, Sistema
Brasil. Único de Saúde
328
Malta DC et al.
em domicílios cadastrados em unidade de saúde foram mais elevados segundo a PNS, com 51,3%
da família, para Brasil, Grandes Regiões e Uni- e 74,6%, respectivamente (Tabela 2; Figura 1).
dades da Federação entre PNS, DAB e Pesquisa A Tabela 2 traz, também, a comparação dos
Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), dados da PNS 2013 com a PNAD de 2008, onde
em 2008. se observam valores semelhantes entre as duas
As visitas domiciliares de agentes comunitá- pesquisas para as regiões Norte (53,5% e 53,9%,
rios de saúde foram estratificadas segundo esco- respectivamente) e Nordeste (68,1% na PNS e
laridade e Grandes Regiões. Os dados foram ana- 67,7% na PNAD). Para as demais regiões e Brasil,
lisados pelo software Stata 11.0, por meio do mó- os valores foram maiores na PNS, sendo de 50,9%
dulo survey, que considera efeitos da amostragem na PNAD e 56,2% na PNS para Brasil (+10,3%);
complexa. O projeto foi aprovado pela Comissão 38,5% na PNAD e 48,3% na PNS para a região
Nacional de Ética em Pesquisas (CONEP), em Sudeste (+25,4%); 53,0% na PNAD e 58,4% na
junho de 2013. No momento da entrevista, todos PNS para a região Sul (+10,3%); e 50,1% na
os indivíduos foram consultados, esclarecidos e PNAD e 54,5% na PNS para o Centro-Oeste
aceitaram participar da pesquisa. (+8,8%). Em relação às UF, o Amapá e o Rio de
janeiro apresentaram as diferenças mais elevadas
entre o período, 19,4% na PNAD e 33,8% na PNS
Resultados para o primeiro (+74,6%), e 19,2% na PNAD e
35,1% na PNS para o segundo (+82,7%).
A proporção de domicílios cadastrados em uni- Avaliando por escolaridade, verificou-se que
dade de saúde da família no Brasil foi de 53,4% a proporção de pessoas moradoras em domicílios
(IC95%: 52,1-54,6), sendo maior na área rural cadastrados em unidade de saúde da família foi
(70,9%) que na urbana (50,6%). A região Nor- maior entre aqueles com menor nível de instru-
deste apresentou o maior percentual, com 64,7%, ção, quando comparado com o maior nível de es-
seguida da região Sul (56,2%); o Sudeste teve o colaridade. Esse perfil foi observado para Brasil e
menor valor com 46,0% (Tabela 1). todas as regiões, sendo que a Sudeste apresentou
Quanto à proporção de pessoas moradoras maior oscilação entre os níveis (Figura 2).
em domicílios cadastrados em unidade de saú- Ainda por escolaridade, a Figura 3 apresenta
de da família, o valor para o Brasil foi de 56,2% a proporção de domicílios cadastrados em uni-
(IC95%: 54,9-57,4), sendo também maior na dade de saúde da família há um ano ou mais e
área rural (72,3%) que na urbana (53,3%). A que recebem visita de agente comunitário em
região Nordeste também apresentou o maior saúde ou membro da equipe de saúde da família
percentual (68,1%) e a região Sudeste, o menor mensalmente. O maior valor foi observado na re-
(48,3%) (Tabela 1). gião Centro-Oeste (58,3%) e o menor na Sudeste
Quando observado por Unidades da Federa- (41,6%). A proporção observada para o menor
ção, as maiores proporções de pessoas moradoras nível de instrução foi maior que aquela do nível
em domicílios cadastrados em unidade de saúde mais elevado, no Brasil e em todas as regiões.
da família foram em Tocantins (93,6%), Paraíba As regiões Norte e Centro-Oeste foram as que
(81,0%) e Piauí (80,3%), e a menor no Distrito apresentaram a menor proporção de domicílios
Federal, com 14,3% de cobertura (Tabela 1). Ob- cadastrados há um ano ou mais e que nunca re-
servando as capitais, Brasília e Salvador apresen- ceberam a visita de um ACS ou membro da equi-
taram os menores percentuais, 14,3% e 15,2%, pe de saúde da família (10,8%). Por outro lado, a
respectivamente, e Palmas tem a maior propor- maior proporção foi vista na região Sudeste, com
ção (88,9%) (Figura 1.1). 23,8% (Figura 3).
Comparando-se esses dados da PNS com os
do DAB, também de 2013, observam-se valores
semelhantes em ambas as fontes para o Brasil: Discussão
56,2% pela PNS e 56,4% pelo DAB, com -0,3%
de variação; e para o total de capitais: 40,0% O estudo apontou que mais da metade da popu-
pela PNS e 39,1% pelo DAB (Tabela 2; Figura 1). lação brasileira refere estar cadastrada nas uni-
Porém, ao se avaliar cada UF e capital, maiores dades de saúde da família, sendo maior na área
diferenças são observadas. No Amapá e em Goiâ rural (quase dois terços da população) compara-
nia, os valores foram superiores nos dados do da com a urbana. A região Nordeste apresentou o
DAB, 58,6% e 47,1%, respectivamente; por outro maior percentual, seguida da Sul, o Sudeste teve
lado, em Boa Vista e Campo Grande os valores a menor proporção. As Unidades da Federação
331
com maiores proporções de pessoas morado- ram semelhantes aos registros administrativos do
ras em domicílios cadastrados em unidade de DAB, apontando a consistência dos dados admi-
saúde da família foram em Tocantins, acima de nistrativos, quando comparados aos reportados
90%, Paraíba e Piauí, acima de 80%, e a menor pelos usuários. Destacamos ainda o crescimento
no Distrito Federal. Dentre as capitais, Brasília e na cobertura da ESF em mais de 10% no país.
Salvador apresentaram os menores percentuais, A proposta da organização da Atenção Pri-
cerca de 15%, e Palmas tem a maior proporção, mária em saúde remonta ao Reino Unido na
cerca de 90%. Os valores de cobertura da PNS fo- década de 20, quando ocorreu o lançamento do
332
Malta DC et al.
Relatório Dawson, que resultou na configuração época. Assim, o estudo atual apontou ampliação
do Sistema de Saúde Inglês, em especial na di- em 10,3% da cobertura nacional, o que coincide
fusão dos centros de saúde, com a presença de com os dados administrativos do Ministério da
médicos generalistas e equipe multiprofissio- Saúde.
nal7,16. Nas últimas décadas, tem aumentado o Estudos apontam que países orientados pelo
número de países com investimento na Atenção modelo da Atenção Primária têm melhores indi-
primária4. No Brasil, a implantação da Estratégia cadores de saúde, incluindo: saúde infantil (me-
Saúde da Família experimentou grande expansão nores taxas de baixo peso ao nascer, menor mor-
de cobertura a partir dos anos 2000, com ritmos talidade infantil); detecção precoce de cânceres
diferentes entre as regiões e porte populacional tais como o cólon-retal, mama, uterino/cervical e
dos municípios17. Dados do Suplemento Saúde melanoma; menor mortalidade precoce devido a
da PNAD 2008 apontaram cerca de 27,5 milhões causas preveníveis; e maior expectativa de vida9,10.
de domicílios cadastrados, ou 47,7%, que corres- Também no Brasil, estudos apontam maior redu-
pondiam a 50,9% da população brasileira, eram ção da mortalidade infantil em municípios onde
cobertos pelo Programa Saúde da Família na o PSF estava implantado11, tornando-se impor-
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15,2
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0
Brasília
Salvador
Goiânia
Maceió
Macapá
Belém
Natal
Rio Branco
Manaus
Rio de Janeiro
São Paulo
Total das Capitais
São Luís
Fortaleza
Porto Velho
Cuiabá
Recife
Boa Vista
Porto legre
Vitória
Belo Horizonte
Curitiba
Teresina
João Pessoa
Aracaju
Florianópolis
Campo Grande
Palmas
1.2 UF e Brasil
PNS 2013 DAB 2013
96,6
93,6
93,5
88,2
85,6
100
81,0
80,1
80,3
81,0
76,6
76,5
74,6
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72,8
72,2
72,1
72,2
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66,8
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66,0
64,0
64,7
61,2
64,1
63,0
60,3
58,6
57,5
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56,7
56,6
56,4
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56,2
55,1
54,5
54,3
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44,3
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0
Distrito Federal
Amapá
Rio de Janeiro
São Paulo
Pará
Rio Grande do Sul
Acre
Amazonas
Roraima
Brasil
Paraná
Rondônia
Espírito Santo
Goiás
Bahia
Rio Grande do Norte
Mato Grosso
Maranhão
Pernambuco
Ceará
Alagoas
Minas Gerais
Sergipe
Santa Catarina
Mato Grosso do Sul
Piauí
Paraíba
Tocantins
*
Departamento de Atenção Básica/Secretaria de Assistência à Saúde/Ministério da Saúde. Dezembro de 2013.
tante ampliar a cobertura e o acesso da atenção bilização com a população adscrita, tanto em re-
primária no país e nos diversos Estados. lação aos serviços que lhe são ofertados, como na
Autores têm ampliado a abrangência do con- atuação no território4. Mais recentemente, Krin-
ceito de acesso para além da entrada nos servi- gos et al.19 acrescentaram outras duas dimensões
ços, buscando incorporar também aos resultados do acesso: a utilização dos serviços de atenção
dos cuidados recebidos o da equidade18. O tema primária, ou o real consumo desses serviços, e a
do acesso liga-se à aspectos como acolhimento, equidade no acesso, referente à adequação entre
seguimento do tratamento no sistema, responsa- a provisão de serviços e as necessidades de saúde.
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Malta DC et al.
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0
Brasil Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste
Figura 2. Proporção de pessoas moradoras em domicílios cadastrados em unidade de saúde da família, por
escolaridade, segundo Brasil e Grandes Regiões – 2013.
Ainda, a PNAD 2008 apontou que a cober- onde em alguns estados ultrapassam 90% como
tura era maior na região Nordeste e menor na Piauí e Paraíba, e outros acima de 80% como Rio
Sudeste, diferença regional também observada Grande do Norte, Sergipe e Maranhão. Entretan-
na PNS. A maioria das UF apresentou aumento to, chama a atenção o fato de não ter tido cresci-
na cobertura populacional quando comparando mento entre 2008 e 2013 no Nordeste (-0,5%);
com os dados de 200814. Foram observados des- pelo contrário, ocorreu um declínio em Estados
de aumentos discretos de 1,5%, como em Mato como Pernambuco, Sergipe e Paraíba; bem como
Grosso do Sul, até expressivos de 74,6% e 82,7%, no Norte (-0,8%), puxado pelo declínio de Ro-
no Amapá e Rio de Janeiro, respectivamente. A raima. Destaca-se que, nestas regiões, a cobertura
cobertura nesses estados era de aproximadamen- já é bastante elevada e torna-se desafiador am-
te 19% em 2008, e dessa forma, apesar do aumen- pliar e mantê-la elevada. Estudos de avaliação do
to no período, a cobertura ainda é inferior a 40%, Programa Nacional de Melhoria do Acesso e da
tanto no Amapá (33,8%) quanto no Rio de Janei- Qualidade da Atenção Básica (PMAQ) levanta-
ro (35,1%). O DF manteve coberturas baixas no ram que as principais dificuldades relatadas pelos
período, sendo de 14,3% em 201314. usuários na atenção básica situam-se na falta de
Os dados da PNS para o Brasil são muito pró- médicos, falta de vagas e fichas1. Outros estudos
ximos aos informados pelo DAB em dezembro também destacam a alternância de profissionais
de 2013, cuja cobertura estimada era de cerca de médicos, a dificuldade de fixação destes, grande
109 milhões de pessoas ou 56% da população, em rotatividade, em especial em cidades do interior,
5346 municípios e 34.715 equipes. Considerando no Norte e Nordeste do país, nas periferias das
os Agentes Comunitários de Saúde, a cobertura grandes cidades e em áreas de risco20-23. Assim, a
sobe para 125,5 milhões, praticamente o mesmo redução em Estados que já apresentavam cober-
identificado pela PNS12. Tal comparação mostra turas elevadas, pode ser justificada pela dificul-
a compatibilidade das informações, a magnitude dade na fixação de profissionais. A recente cria-
e a capilaridade do programa no território na- ção do Programa Mais Médicos, que fixou estes
cional. Na análise por região, verifica-se a impor- profissionais nas regiões distantes, em pequenos
tância da elevada cobertura do Nordeste do país, municípios e nas regiões de risco, foi posterior
335
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70
58,3
60
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47,3
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Brasil Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste
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15
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10
0
Brasil Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste
Figura 3. Proporção de domicílios cadastrados na unidade de saúde da família há um ano ou mais que recebem
visita de agente comunitário em saúde (ACS) ou membro da equipe de saúde da família mensalmente; ou que
nunca receberam visita; por escolaridade, segundo Brasil e Grandes Regiões –2013.
à PNS e, portanto, ainda não foi possível avaliar municípios e os estados brasileiros. Mesmo com
impacto na cobertura. forte indução do Governo Federal, os processos
As grandes disparidades regionais nas cober- organizacionais são muito variados e isto resulta
turas por Unidades da Federação e entre as ca- em grandes diferenças na implantação local, in-
pitais têm sido atribuídas em estudos recentes à clusive afetando as coberturas locais, acesso aos
diversidade dos processos de gestão local entre os serviços e respostas. Estas diferenças em parte
336
Malta DC et al.
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