Você está na página 1de 4

A INFÂNCIA NO BRASIL

Podemos começar a relatar sobre a história do Brasil com o recrutamento de crianças que
adentravam nas embarcações portuguesas com destino a terra de Santa Cruz. As crianças eram
desvalorizadas e com isso o recrutamento era bastante incentivado pela coroa portuguesa.
As crianças eram vistas nessa época como animais pelos portugueses e sua mão de obra
devia ser explorada enquanto vivessem. Segundo Ramos (2011, s/p.) “A expectativa de vida das
crianças portuguesas, entre os séculos XIV e XVIII rondava os quatorze anos, enquanto cerca da
metade dos nascidos vivos morria antes de completar sete anos”.
Com as embarcações portuguesas em solo brasileiro surgiam choques entre as culturas, pois
os habitantes do Brasil os indígenas, não tinha sua cultura respeitada, e no quesito infância houve
grandes divergências entre estas culturas.
A infância na cultura indígena se dava de uma maneira natural, com as crianças seguindo os
passos de seus pais para aprender a suprir as necessidades do grupo, pois era parte deste e assim
eram valorizadas.
No ano de 1532 quando se deu início à colonização do Brasil, a mão de obra indígena foi
extremamente explorada e as crianças não foram poupadas. Abreu (2008) ressalta que mal
completavam seis anos e já acompanhavam seus pais nas lavouras. Em 1549 iniciou-se a educação
das crianças indígenas, com a chegada dos jesuítas. Sua missão era voltada para “a colonização, a
educação e a catequese” (SAVIANI, 2008, p. 26 apud LEITE, 2011, p. 9).
Com a colonização e seu desenvolvimento a mão de obra indígena passou a ser substituída
pela força do trabalho negra.
No período de 1550 começaram a desembargar os primeiros navios negreiros no Brasil com
o objetivo de substituir a mão de obra indígena. O interesse maior no período de escravidão era dos
homens. Com esse interesse pela mão de obra masculina, varias famílias eram separadas, e assim
crianças, pais e mães tinham rompidos os laços familiares. As mulheres negras, crianças e idosos
chegaram a menor quantidade e eram explorados de maneira cruel.
No período da escravidão era difícil um adulto escravo se manter vivo, as crianças então
tinham uma grande carga de sofrimento, pois enfrentava a falta da família, rejeitada pelos
compradores de escravos, pois não davam lucro esperado pelos compradores.
A gravidez das escravas não era interessante para seus senhores, pois além dos gastos o
lucro era pequeno, por isso a taxa de mortalidade era alta. As negras praticavam muito infanticídio,
provocando aborto nos seus filhos ou muitas vezes abandonando nas ruas a própria sorte, para não
serem escravizados e sofressem como seus pais.
Em alguns casos, algumas crianças que eram abandonadas em área rural, famílias pobres,
encontravam essas crianças e a recolhiam e o adotavam, pois precisavam de mão de obra e não
possuíam dinheiro para comprar escravos. Assim essa forma de abandono era controlado e
disfarçado.
Na área urbana a rejeição e abandono dos recém-nascidos em ruas, lixos, se davam por
muitas vezes as gestações não aconteciam no casamento. Esta era a maneira das mulheres se
protegerem, pois se uma mulher branca viesse a ficar grávida solteira poderia ser mortas pelos pais
ou irmãos. “Nessas circunstâncias, a gravidez e o parto clandestinos, seguidos do abandono da
criança, era uma alternativa à dura condenação da moral patriarcal” (VENÂNCIO, 1997, p.199
apud TORRES, 2006, p. 106).
Nos centros urbanos não havia famílias suficientes para adotar os rejeitados, gerando um
grande problema nas cidades. Crescia assim a quantidade de negros abandonados e os filhos de
pobres, onde as famílias não tinham condições financeiras de cuidar dessas crianças.
Os filhos de escravos que continuam junto aos pais, seguiam os passos desses no trabalho, a
partir dos cinco anos de idade, para aprender com o convívio diário como serem escravos.
Em 1850 por pressão da Inglaterra, o tráfico negreiro foi diminuindo progressivamente,
assim os filhos dos negros começaram a ser valorizados, pois seriam estes que dariam continuidade
à escravidão, e havia uma grande dificuldade para encontrar homens para dar continuidade ao
trabalho. Os filhos de negros começam a ser inseridos no trabalho escravo mais cedo, para dar
continuidade ao trabalho dos pais.
Os filhos da classe alta ficavam brincavam algumas vezes com os filhos de negros e depois
eram inseridos nas escolas para estudar. Mary Del Priore no artigo, “O cotidiano da criança livre no
Brasil entre a Colônia e o Império” divide a infância em 3 fases, cujas características variavam de
acordo com a condição social e jurídica dos pais. A primeira fase iniciava-se no nascimento e
terminava aos 3 ou 4 anos de idade, período que marcava o fim da amamentação. Entre os 5 e 7
anos as crianças entravam na segunda fase, quando passavam a acompanhar os pais na lide. A
terceira fase iniciava na transição dos 7 para os 8 anos até aos 14 anos, etapa de aprendizado para os
infantes, como a prática de pequenos trabalhos, ofícios ou estudo das letras nas escolas régias.
(MOTTA, 2009).
As crianças brasileiras viviam no anonimato e poucas regalias, sem leis que pudessem
ampará-las.
As condições de vida impostas à maioria da população brasileira no século XIX
mostravam-se difíceis, principalmente nas grandes cidades, onde a população assolada pelo
desemprego se aglomerava nas periferias em situações inadequadas. Segundo Passetti (2000),
‘sobreviver, continuou sendo tarefa difícil para a maioria da população tanto no Império como na
República.’ As crianças e jovens eram o reflexo dessa realidade, marcadas por abandonos e
crueldades, conforme narra o autor: “ Viviam carências culturais, psíquicas, sociais e econômicas
que se avolumavam e que as impeliam para a criminalidade tornando-se em pouco tempo,
delinqüentes.” (PASSETTI,2000,p.348).
A realidade da maioria das crianças brasileiras era difícil e as conseqüências dessa situação
impulsionaram ações de atendimentos às crianças e adolescentes por parte do poder público. Assim
sendo as medidas de atendimento às crianças vão tornando-se emergenciais e passam a ser
concretizadas no início do século XX.
Concluindo, nessa linha, observamos que a visão da infância independente da época não é
homogênea. A sua caracterização vai depender de sua etnia ou classe. Tanto no Brasil colônia,
quanto no Brasil império, a criança era vista como uma potência para o trabalho.
Nessa senda, percebe-se ainda que nos dias atuais que as crianças não têm uma concepção
de infância homogênea, e possuem uma realidade marcada por violência, misérias, falta de moradia,
saúde e um precário ensino público.
A realidade Brasileira sobre a infância ainda é carregada do peso do passado, com marcas
profundas na humanidade que refletem sobre a vida das nossas crianças. O ECA foi um grande
avanço para sociedade, mais ainda precisamos de mais, precisamos de uma política pública que
ampare nossas crianças com o direito ao mínimo de educação de qualidade, saúde, moradia e uma
vida digna. Há muito pra se fazer nos quesitos direitos humanos da criança e adolescente. Depende
de cada um, garantir um futuro melhor pras próximas gerações.
REFERÊNCIAS

LIMA, Fernanda da Silva. A História da criança negra nas primeiras décadas do século XIX.
Disponivel em: <www.ociocriativo.org/artigo_fernanda3.pdf>. Acesso em: 15 nov. 2014.

MOTTA, Katia Sausen da. Infancia negra: aspectos da vida cotidiana das crianças escravas na Vila
de Vitoria (1790-1810). In: ENCONTRO ESCRAVIDAO E LIBERDADE NO BRASIL
MERIDIONAL. 4., .Curitiba, 2009.Anais eletrônicos. Disponível em:
<http://www.cchn.ufes.br/nudes/relato rios/7.pdf>. Acesso em: 15 nov. 2014.

MOTT, Maria Lucia de Barros. Ser mãe: a escrava em face do aborto e do infanticídio. Revista
história. São Paulo, n. 120, jul. 1989. Disponível em: <http://www.revistasusp. sibi. usp.br
/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S00348309198900010006&lng=pt&nrm= iso>. Acesso em: 15
nov. 2014.

PRIORE, Mary del (Org.). História da criança, no brasil. Sao Paulo: Contexto, 1991.
Disponível em: <http://pt.scribd.com/doc/47617997/DEL-PRIORE-Mary-Historia-da-Crianca- no-
Brasil>. Acesso em 16 nov. 2014.

VENANCIO, Renato Pinto. Maternidade negada. In: PRIORE, Mary del (Org.). História das
mulheres no Brasil. 8. ed. Sao Paulo: Contexto, 2006, p. 198-199.
Disponívelem:<http://books.google.com.br/books?id=8KgRl5ZvX8wC&pg=PA206&dq=roda+dos
+expostos+brasil&hl=pt-BR&ei=pxi9TpLzGcGztweT8sWjBg&sa=X&oi=book_result&ct= book-
thumb nail&resnum=3&ved=0CD8Q6wEwAg#v=onepage&q=roda%20dos
%20expostos%20brasil&f=false >. Acesso em: 16 nov. 2014.

Você também pode gostar