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Vistos etc.

Contra o acórdão prolatado pelo Tribunal de origem, maneja recurso


extraordinário, com base no art. 102, III, da Lei Maior, Empresa Brasileira
de Servicos Hospitalares - Ebserh. Aparelhado o recurso na afronta ao art.
173, §§ 1º e 2º, da Constituição Federal.
É o relatório.
Decido.
Preenchidos os pressupostos extrínsecos.
Da detida análise dos fundamentos adotados pelo Tribunal de
origem, por ocasião do julgamento do apelo veiculado na instância
ordinária, em confronto com as razões veiculadas no extraordinário,
concluo que nada colhe o recurso.
Esta Suprema Corte possui entendimento firmado nos sentido de
que as prerrogativas processuais da Fazenda Pública não são extensíveis
às empresas públicas.
No que remanesce, não há falar em afronta aos preceitos
constitucionais indicados nas razões recursais, porquanto, no caso, a
suposta ofensa somente poderia ser constatada a partir da análise da
legislação infraconstitucional aplicável, o que torna oblíqua e reflexa
eventual ofensa, insuscetível, portanto, de viabilizar o conhecimento do
recurso extraordinário. Cito precedentes:

“ADMINISTRATIVO. COMPANHIA NACIONAL DE


ABASTECIMENTO – CONAB. EMPRESA PÚBLICA FEDERAL
PRESTADORA DE SERVIÇOS PÚBLICOS. EXTENSÃO DOS
BENEFÍCIOS DA FAZENDA PÚBLICA. ISENÇÃO DE
CUSTAS PROCESSUAIS E PRAZO EM DOBRO PARA
RECORRER. AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO.
ANÁLISE DE LEGISLAÇÃO PROCESSUAL ORDINÁRIA.
OFENSA REFLEXA. RECURSO ESPECIAL IMPROVIDO.
SÚMULA 283 DO STF. AGRAVO IMPROVIDO.
I – Ainda que a matéria constitucional suscitada houvesse
sido prequestionada, a orientação desta Corte é a de que a
alegada violação do art. 5º, XXXV, LIV e LV, da Constituição,
pode configurar, em regra, situação de ofensa reflexa ao texto
constitucional, por demandar a análise de legislação processual
ordinária, o que inviabilizaria o conhecimento do recurso
extraordinário.
II - Este Tribunal possui entendimento no sentido de que o
art. 173, § 2º, da Constituição não se aplica às empresas públicas
prestadoras de serviços públicos. Dessa afirmação, porém, não
se pode inferir que a Constituição tenha garantido a estas
entidades a isenção de custas processuais ou o privilégio do
prazo em dobro para a interposição de recursos.
III - Observa-se que, com a negativa de provimento ao
recurso especial pelo Superior Tribunal de Justiça, tornaram-se
definitivos os fundamentos infraconstitucionais que amparam o
acórdão recorrido (Súmula 283 do STF).
IV - Agravo regimental improvido.” (RE 596.729-AgR, Rel.
Min. Ricardo Lewandowski, 1ª Turma, DJe 10.11.2010)

“Agravo regimental no recurso extraordinário com


agravo. Direito processual civil. Empresa pública.
Prerrogativas processuais da fazenda pública. Inexistência.
Análise da legislação local. Reexame de fatos e provas.
Impossibilidade. Precedentes.
1. A jurisprudência da Corte é firme no sentido de que as
prerrogativas processuais da fazenda pública não são
extensíveis às empresas públicas ou às sociedades de economia
mista.
2. Inadmissível, em recurso extraordinário, o reexame dos
fatos e das provas dos autos e a análise da legislação
infraconstitucional. Incidência das Súmulas nºs 279, 280 e
636/STF.
3. Agravo regimental não provido.” (ARE 700.429-AgR,
Rel. Min. Dias Toffoli, 1ª Turma, DJe 14.11.2014)

“EMENTA: RECURSO – APLICABILIDADE ESTRITA DA


PRERROGATIVA PROCESSUAL DO PRAZO RECURSAL EM
DOBRO (CPC, ART. 188) - PARANAPREVIDÊNCIA –
ENTIDADE PARAESTATAL (ENTE DE COOPERAÇÃO) –
INAPLICABILIDADE DO BENEFÍCIO EXTRAORDINÁRIO DA
AMPLIAÇÃO DO PRAZO RECURSAL – INTEMPESTIVIDADE
- RECURSO NÃO CONHECIDO.
- As empresas governamentais (sociedades de economia
mista e empresas públicas) e os entes de cooperação (serviços
sociais autônomos e organizações sociais) qualificam-se como
pessoas jurídicas de direito privado e, nessa condição, não
dispõem dos benefícios processuais inerentes à Fazenda
Pública (União, Estados-membros, Distrito Federal, Municípios
e respectivas autarquias), notadamente da prerrogativa
excepcional da ampliação dos prazos recursais (CPC, art. 188).
Precedentes.” (AI 349.477-AgR, Rel. Min. Celso de Mello, 2ª
Turma, DJ 28.02.2003)

“Agravo regimental no recurso extraordinário.


Imunidade recíproca. Artigo 150, VI, a, da CF. RFFSA.
Sociedade de Economia Mista prestadora de serviço público.
Requisitos da imunidade. Matéria infraconstitucional. Fatos e
provas.
1. O Supremo Tribunal Federal já adotou o entendimento
de que as sociedades de economia mista que prestam serviços
públicos são, em princípio, alcançadas pela imunidade
tributária disciplinada no art. 150, inciso VI, alínea “a”, da Carta
Magna.
2. O acórdão recorrido acolheu o argumento da União –
sucessora da extinta rede ferroviária federal S/A - de fazer jus à
imunidade relativa aos impostos, por se tratar de pessoa
jurídica prestadora de serviço público.
3. Para dissentir do julgado recorrido e avançar na análise
dos requisitos da imunidade recíproca de que trata o art. 150,
VI, a, contextualizado com o art. 173, § 2º, da Constituição,
necessário seria a reanálise da causa à luz da legislação
infraconstitucional de regência e do contexto fático e probatório
(Súmula 279/STF), providências vedadas em sede de recurso
extraordinário.
4. Agravo regimental não provido.” (RE 911.498-AgR, Rel.
Min. Dias Toffoli, 2ª Turma, DJe 26.02.2016)

Nesse sentir, não merece seguimento o recurso extraordinário,


consoante também se denota dos fundamentos da decisão que desafiou o
recurso, aos quais me reporto e cuja detida análise conduz à conclusão
pela ausência de ofensa a preceito da Constituição da República.
Nego seguimento (art. 21, § 1º, do RISTF).
Publique-se.
Brasília, 07 de agosto de 2017.

Ministra Rosa Weber


Relatora

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