Você está na página 1de 15

UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ

CENTRO DE TECNOLOGIAS
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA HIDRÁULICA E AMBIENTAL
MESTRADO EM GEOTECNIA

DISCIPLINA: PERCOLAÇÃO E ADENSAMENTO


PROF. DR. FRANCISCO CHAGAS DA SILVA FILHO

Relatório Técnico

TRABALHO DE PERCOLAÇÃO

Romário Anderson G. Maia 469785

JULHO
2019
1 INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem como objetivo apresentar a resolução de diversas


situações comuns da área de Geotecnia, através de métodos distintos (Método das
diferenças finitas, Método dos elementos finitos e resolução analítica).

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 Método das diferenças finitas


O método das diferenças finitas (MDF) é um método de resolução
de equações diferenciais que se baseia na aproximação de derivadas por diferenças finitas.
A fórmula de aproximação obtém-se da série de Taylor da função derivada.
Hoje, os MDFs são a abordagem dominante das soluções numéricas
de equações diferenciais parciais. A partir das aproximações por diferença-quociente para
derivadas de qualquer ordem, é possível transformar equações diferenciais em problemas
lineares.
Para isso, é necessário ignorar o termo de erro e tornar h um número muito
pequeno, mas grande o suficiente para que não cause instabilidades nas aproximações das
derivadas.
O primeiro passo para aplicação do MDF a problemas de fluxo é a
discretização do domínio. Substitui-se a região contínua em outra discreta, através de uma
série de nós. A rede formada é conhecida como malha ou grid. A malha deve consistir de
uma rede retangular de nós. Quanto maior a acurácia de uma malha, maior o tempo
computacional requerido para sua resolução.
Após a discretização, deve-se determinar as fórmulas de diferenças para as
equações diferenciais que governam o fluxo de água. A fórmula de diferença permite que
as derivadas temporais e espaciais sejam escritas em termos de variáveis dependentes dos
pontos nodais.
Isso resultará em um sistema linear de equações que podem ser resolvidos
para cargas, pressão ou concentração de solutos.
Substituem-se todas as derivadas da equação diferencial parcial por índices
ou diferenças. Em seguida, para se obter os valores aproximados das derivadas para a
variável dependente, substitui-se os índices ou variações em intervalos temporais ou
espaciais pequenos, mas finitos.
2.2 Método dos elementos finitos
O Método dos Elementos Finitos (MEF) é um procedimento numérico para
determinar soluções aproximadas de problemas de valores sobre o contorno de equações
diferenciais. O MEF subdivide o domínio de um problema em partes menores,
denominadas elementos finitos.
Da mesma forma do MDF, aqui também é importante a discretização, sendo
esta o primeiro passo. Define-se a região de interesse para uma série de nós. Grupos de
nós juntos por segmentos de linhas, formando linhas retas, arcos, triângulos, retângulos
ou blocos prismáticos são chamados de elementos. Coletivamente, os nós e elementos
formam a malha de elementos finitos.
Dentro de uma malha, elementos de vários tipos podem ser usados, mas,
usualmente de mesma dimensão. Os valores das propriedades são constantes dentro de
um mesmo elemento, mas podem variar de elemento para elemento.
A acurácia da solução e nível de esforço computacional requerido está
diretamente relacionada com a boa definição da malha.

3 METODOLOGIA
A resolução das aplicações práticas descritas a seguir, foi realizada através de
análises numéricas por Diferenças Finitas e Elementos Finitos. Utilizando para a
resolução de elementos finitos, o software Phase2. Em alguns casos foi utilizada, também,
a resolução analítica, com a resolução sendo feita através de fórmulas consagradas das
respectivas teorias.

4 APLICAÇÕES PRÁTICAS
4.1 Fluxo unidimensional
Foi feita a modelagem da aplicação descrita na imagem abaixo por diferenças
finitas (implementando no Excel) e comparada a solução com a solução por elementos
finitos (Phase2).
Para a resolução por diferenças finitas, tem-se que resolver o seguinte sistema
de equações, desenvolvido em sala de aula:
Figura 4.1 - Sistema

Esse conjunto de equações foi encontrado através do número de nós


escolhidos, assim como pela posição relativa de cada. A escolha da posição teve
influência, também, da escolha de pontos adequados para representar a transição entre
propriedades diferentes.
Através das condições de contorno, os valores de h1 e h9 são conhecidos.
Sabe-se que h1=12 e h9 = 0.
O sistema se resume então à resolução do seguinte sistema:
Figura 4.2 – Sistema simplificado
Esse sistema pode ser resolvido no Excel, utilizando as funções
“MATRIZ.INVERSO” e “MATRIZ.MULT”. Onde temos os seguintes resultados:
Tabela 4.1 – Matriz K’

MATRIZ K'
-3,00 1,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00
1,00 -2,33 1,33 0,00 0,00 0,00 0,00
0,00 1,33 -3,33 2,00 0,00 0,00 0,00
0,00 0,00 2,00 -3,33 1,33 0,00 0,00
0,00 0,00 0,00 1,33 -1,83 0,50 0,00
0,00 0,00 0,00 0,00 0,50 -1,00 0,50
0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,50 -1,17

Tabela 4.2 – Matriz inversa de K’


MATRIZ K’ INVERSA
-0,47222 -0,41667 -0,375 -0,34722 -0,305556 -0,19444 -0,08333
-0,41667 -1,25 -1,125 -1,04167 -0,916667 -0,58333 -0,25
-0,375 -1,125 -1,6875 -1,5625 -1,375 -0,875 -0,375
-0,34722 -1,04167 -1,5625 -1,90972 -1,680556 -1,06944 -0,45833
-0,30556 -0,91667 -1,375 -1,68056 -2,138889 -1,36111 -0,58333
-0,19444 -0,58333 -0,875 -1,06944 -1,361111 -2,13889 -0,91667
-0,08333 -0,25 -0,375 -0,45833 -0,583333 -0,91667 -1,25

Tabela 4.3 – Vetor H de pressões totais


B H

-24 11,333

0 10,000

0 9,000

0 8,333

0 7,333

0 4,667

0 2,000

Observa-se que o resultado se aproximou bastante de retas, havendo pequenas


inconsistências somente nos trechos de transição entre materiais com diferentes propriedades.
Agora, a resolução pelo MEF, utilizando o software Phase2, resulta o seguinte
resultado:
Figura 4.3 – Fluxo unidimensional pelo Phase

Para um fluxo unidimensional, a precisão do software permite obter uma


resposta onde praticamente não houve erro, se comparada a uma solução analítica. A
carga diminuiu linearmente com a profundidade, saindo de 10,0 m para 0,0 m.

4.2 Fluxo bidimensional

Foi estimado, para a situação descrita abaixo, a rede de fluxo a partir da


solução em Diferenças Finitas, fazendo a implementação no EXCEL.

Figura 4.4 – Situação para fluxo bidimensional


As implementações no Excel foram feitas considerando conhecidas as cargas
na superfície, adotado um determinado ponto de referência. As interações obedeceram as
seguintes regras, que estabelecem um cálculo para cada tipo de posição do elemento:

Também foi necessário ativar a opção de fórmulas interativas no Excel, para


que fosse possível a resolução de fórmulas cíclicas.
O resultado foi o descrito na imagem abaixo, onde destacou-se os valores por
um gradiente de cor e foram desenhadas, ainda, algumas bordas para realçar um conjunto
de valores próximos. A Figura 4.5, abaixo, mostra, portanto, possíveis linhas
equipotenciais.

Figura 4.5 – Simulação do fluxo bidimensional no Excel


Já as linhas de fluxo, que mostram os caminhos de fluxo da água que percola,
foram desenhadas manualmente, cruzando as equipotenciais a 90° e seguindo outras
recomendações para esse tipo de desenho (formas devem ser aproximadamente
quadradas, etc.).
Figura 4.6 – Linhas de fluxo feitas manualmente

Foi feita, também, uma simulação para o mesmo caso, utilizando-se o


programa Phase2, que utiliza o método dos elementos finitos. O resultado segue na figura
seguinte, onde percebe-se a semelhança entre os dois métodos de cálculo:

Figura 4.7 – Fluxo bidimensional no Phase


4.3 Fluxo confinado estacionário

Foi feita a modelagem por elementos finitos (programa Phase2) para o


problema abaixo de fluxo em condições estacionárias e confinada. Foram calculadas as
cargas totais, de elevação e piezométrica nos pontos A, B, C e D usando solução analítica
e comparado com elementos finitos.
Figura 4.8 – Fluxo confinado e estacionário

A solução analítica é simples. Tem-se uma perca de 0,75 m de uma


extremidade para outra. Como um solo tem o dobro do coeficiente do outro, tem-se que
houve uma perca de 0,5 m em um solo, e 0,25 m no outro solo, para que somadas, tenha-
se o valor de 0,75m, e para que uma seja o dobro da outra.
Analiticamente, em “A”, a pressão total é 1,2 m.
Analiticamente, em “B”, a pressão total é 1,2 + 0,5 = 1,7 m.
Analiticamente, em “C”, a pressão total é 1,7 + 0,25/2 = 1,825 m.
Analiticamente, em “D”, a pressão total é 1,95 m.

Agora, analisando pelo Phase2, tem-se o seguinte resultado:


Onde:
PA = 1,25 m.
PB = 1,70 m.
PC = 1,83 m.
PD = 1,95 m.

Observa-se a semelhança entre os métodos, onde apenas a pressão na


extremidade “A” foi divergente com o método analítico. Houve diferença de 0,05m entre
os métodos.

4.4 Barragem impermeável

Calcular a sub pressão na barragem de gravidade, a vazão de percolação


usando a técnica de redes de fluxo e por elementos finitos (Ks = 2 x 10-5m/s).

Figura 4.10 – Barragem impermeável

Analiticamente, tem-se que a vazão é dada pela fórmula Q = k.h.Nf / Nd.


Daí, tem-se que a vazão analítica é de 3,75 x 10-5 m3/s.
A queda de carga em cada potencial é de 6/16 = 0,375 m.
Logo a pressão na base da barragem, que está entre a oitava e a décima
segunda linha equipotencial irá variar de:
 18,25 + 6 – 8 x 0,375 = 21,25 m (início da barragem ou montante)
 18,25 + 6 – 12 x 0,375 = 19,75 m (final da barragem ou jusante).
Na resolução por elementos finitos, pelo software Phase2, tem-se:

Figura 4.11 – Resolução barragem pelo Phase

Onde o programa retornou uma vazão de 3,1 x 10-5 m3/s.


Já as pressões sob a barragem variaram de 22,9 a 21,8 m.
Apesar de valores próximos, percebe-se que, neste exemplo de aplicação, já
há uma certa diferença na aplicação de dois métodos, onde nos casos anteriores a
diferença era menor. A título de ilustração, mostra-se, também, abaixo as linhas de fluxo.
Figura 4.12 – Linhas de fluxo da barragem impermeável com cortina a montante
4.5 Barragem de gravidade

Calcular a pressão da água no muro de gravidade e a sub pressão na base do


muro, usando elementos finitos e rede fluxo, adotando a mesma permeabilidade do
exercício anterior.

Figura 4.13 – Barragem por gravidade

Onde chegou-se a seguinte resolução utilizando o software Phase2, por


método dos elementos finitos:
Figura 4.14 – Resolução no Phase

Onde as pressões da água no muro variam de 0 a 5,8 m de coluna de água.


Já as sub-pressões variam de 4,04 a 5,77 m.
4.6 Condições estacionárias e não-confinadas

Calculou-se uma barragem homogênea, com 15m de altura, inclinação do


talude de montante (1 : 3) e de jusante (1 : 2,5), largura da crista igual a 7m e o coeficiente
de permeabilidade Ks = 3,5 x 10-7 m/s). O nível da água a 2,5m abaixo do coroamento e
adotou-se uma seção homogênea sem sistema de drenagem.

A análise do Phase2 gerou a seguinte resposta:

Figura 4.15 – Análise da barragem permeável pelo Phase

Onde observa-se a linha de nível da água caindo de montante para jusante,


onde teve-se uma vazão total de 6,03 x 10-7 m3/s.
Outra resposta notável do software, são os gradientes de velocidade de
descarga. Observa-se, claramente na análise, o caminho de percolação, assim como a
intensidade (velocidade) em cada trecho. Observa-se os gradientes pequenos acima da
linha freática. Isso se deve ao fato de o solo ser, nesse trecho, insaturado, e as bolhas de
ar oclusas impedem o livre movimento da água pelos interstícios. Observa-se, também, o
alto gradiente de saída a jusante. Tal fato poderia ser amenizado com a presença de filtros
drenantes.
Figura 4.16 – Gradientes de velocidade

5 CONCLUSÕES

As resoluções pelos diferentes métodos retornam valores próximos de


solução. Para alguns casos, essa diferença chega a ser praticamente zero, como no caso
do fluxo unidimensional e no fluxo estacionário e confinado.
A implementação no Excel do método de diferenças finitas também se
mostrou eficiente com resoluções bem próximas ao analisado no software Phase2.
As maiores diferenças foram encontradas em relação a vazão de descarga e a
valores de pressão em barragens. O software trabalha com uma divisão de elementos
muito maior do que a divisão analítica de fluxos e linhas equipotenciais e certamente deve
ter seu resultado mais próximo da realidade de campo. No entanto não deve-se desprezar
o método analítico, que por muito tempo foi utilizado e retornou valores bem próximos
da solução retornada pelo software.
Para as soluções dadas pelo Phase2, deve-se destacar a importância desse tipo
de ferramenta que tem um poder gráfico muito satisfatório e nos permite visualizar para
diferentes situações, as respostas de um problema em relação a diversas análise: pressões
totais, pressões neutras, gradientes de velocidade, descarga de vazão por uma determinada
seção, visualização das linhas de fluxo desejadas, etc. O conhecimento geotécnico aliado
a esse poder computacional permite a aproximação cada vez mais rápida dos nossos
modelos com a realidade em campo.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Pinto, Sousa. Curso básico de mecânica dos solos em 16 aulas. Oficina de textos,
2016.
Richard L. Burden; J. Douglas Faires. Análise Numérica, Editora CENGAGE.
Learning, 8° edição.
SILVA FILHO, F.C. Notas de aula. UFC, 2019.
Sítio: https://www.rocscience.com/downloads/Phase2/Phase2_TutorialManual.
Acessado em 22/06/2019, as 18:00.

Você também pode gostar