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O registro do conhecimento religioso 1

Julio César de Lima2

O conhecimento religioso, bem como todo tipo de conhecimento humano, constrói-se a partir de
perguntas fundamentais. Ao perguntar-se quem é, de onde veio, para onde vai, o que faz aqui, o ser humano
formula e sistematiza respostas que lhe serão favoráveis na experiência do seu cotidiano existencial. 3 Das
pinturas rupestres nas cavernas onde habitou há milhares de anos ao coração talhado numa árvore do parque, o
registro de suas criações, descobertas e experiências vai originando a cultura. Registrar sua passagem por onde
quer que seja revela um desejo humano escondido de eternizar-se.
Em sala de aula, a desconstrução e construção do conhecimento religioso com os adolescentes é, sem
dúvida, atualmente um trabalho desafiador. E nesse contexto, uma metodologia eficiente e eficaz deve levar em
conta o respeito à realidade de cada educando, o estudo aprofundado do fenômeno religioso, em conexão com
os outros componentes curriculares e a garantia de uma avaliação processual.
Considerando a metodologia do Ensino Religioso 4, segundo a nova LDB e inspirando-se na
metodologia histórico-evangelizadora5 desenvolvida no Instituto de Teologia e Pastoral de Passo Fundo,
elaboramos um consistente instrumento de sistematização das respostas e descobertas que os educandos fazem
sobre si, sobre os outros, sobre o Transcendente, sobre o mundo, a partir das aulas de Ensino Religioso.
A proposta consiste no registro elaborado pelo próprio educando – o ato de escrever, neste caso – e na
socialização diária ou semanal do contexto das discussões em sala de aula, do seu complexo emocional, do
conjunto de informações disponíveis, da reconstrução do próprio posicionamento diante de novas experiências
e da pergunta que dará continuidade a sua busca por respostas.

1. O contexto

O contexto é como uma teia que liga ou relaciona as coisas da vida, as quais estão sempre mudando,
diz Maria Cristina Villanova Biazus. 6 Em outras palavras, é a situação de um determinado fato, seu conjunto, o
que está ao seu redor. São as condições, as circunstâncias em que as coisas acontecem. Ele define rumos.
Contextualizar é localizar e caracterizar a realidade em questão no espaço e no tempo.
Na história das religiões não existe um genérico certo ou errado. Se perguntarmos sobre um povo ser
monoteísta e outro politeísta, não podemos simplesmente dizer que este está certo e aquele errado. Qual é
mesmo o contexto em que vive tal povo? Onde se localiza geograficamente? Qual é sua história? Daí a
importância da contextualização.
No Ensino Religioso, a descrição do contexto da aula auxilia o educando a fazer conexões com as aulas
anteriores, com o ambiente preparado e os demais recursos utilizados, com a disposição de cada colega que
forma o grupo. Um exemplo disso é o registro de Guilherme Puglia 7 sobre uma das aulas em que se estudou a
vida além-morte:

Namastê, o Deus que está em mim saúda o Deus que está em ti. Assim começamos a
aula. Depois relembramos as religiões dos povos africanos Serere e Iorubá, que crêem na
Ancestralidade. A partir daí começamos a falar de ressurreição. O professor nos
entregou uma folha que não falava sobre o assunto, acho que era da aula passada.
Então ele começou a falar sobre a palavra ressurreição, de sua origem e significado.
Lembrou das outras religiões, cristãs e não cristãs, como a judaica, que acredita na

1
Síntese da metodologia desenvolvida nas aulas de Ensino Religioso com os educandos das 8ºs séries do Ensino Fundamental no Colégio Santa Inês, Porto
Alegre.
2
Estudante do Bacharelado em Teologia pela EST; professor de Ensino Religioso e coordenador do Núcleo Pastoral do Colégio Santa Inês; membro da
Rede Celebra e da ONG Educadores Para a Paz.
3
FORUM NACIONAL PERMANENTE DO ENSINO RELIGIOSO. Ensino Religioso e o conhecimento religioso.[S.I.]: FONAPER, 2000. p. 23. (Ensino
Religioso: capacitação para um novo milênio, 3)
4
FORUM NACIONAL PERMANENTE DO ENSINO RELIGIOSO. Referencial curricular para a proposta pedagógica na escola. [S.I.]: FONAPER,
2000. p. 34-35. (Ensino religioso, 1)
5
MAFRA, Ludgero. A metodologia Tradicional e a Metodologia Histórico-Evangelizadora. Caminhando com o ITEPA, Passo Fundo, ano 28, n. 63, p. 49,
2001.
6
BIAZUS, Maria Cristina Villanova. Contextualidades e o Ciberespaço. Disponível em: http://www6.ufrgs.br/arteduc/portal/index.php?
option=com_content&task=view&id=22&Itemid=26. Acesso em 2 mar. 2008
7
É um adolescente de 14 anos de idade, cursa o primeiro ano do Ensino Médio, no Colégio Santa Inês, Porto Alegre.
2

ressurreição e tirou dúvidas, dúvidas essas que eu trazia desde quando começamos a
falar de morte, há mais de um mês.8

2. O emocional

Etimologicamente, a palavra emoção provém das palavras latinas: ex = fora, para fora e motio =
movimento, ação; comoção; gesto. As emoções são impulsos, explosões, sensações e alterações fisiológicas e
corporais imediatas, causadas por estímulos internos e externos, sem que possamos controlá-los. 9 O médico e
pesquisador português Antônio Damázio diz que são as emoções que dão origem aos sentimentos. 10 Bock e
Teixeira complementam dizendo que os sentimentos são mais duradouros que as emoções. 11 Contudo, é nosso
cérebro que monitora, reconhece, analisa e filtra nossas emoções, transformando-as em sentimentos.
Para Rubem Alves, “os sonhos são o rosto visível das emoções. Deus sonhou primeiro e agiu depois.” 12
Significa, então, que a experiência religiosa tem base emocional. Podemos perceber isso no relato dos sonhos de
tantos personagens da história das religiões, inclusive dando origem às Palavras Sagradas dessas mesmas
Tradições. Além disso, os ritos também expressam de muitas formas essa dimensão emocional humana.
Num período de intensas transformações, quantas emoções passam pelo corpo dos adolescentes
diariamente? Ensiná-los a dar-se conta disso e nomear os próprios sentimentos pode ajudá-los a transformar
uma sensação assustadora e incômoda em algo definível e que faz parte da vida. Assim, raiva, tristeza, medo e
confusão, por exemplo, tornam-se experiências que todo mundo tem e com as quais todo mundo é capaz de
lidar:13

No decorrer dessa aula estive motivado e entusiasmado. Consegui participar, perguntar,


falar. Estava esperando que falássemos neste assunto para tirar minhas dúvidas sobre a
ressurreição, crença pós-morte. Afinal, que eu saiba, só Cristo ressuscitou. Então como
podem os Católicos, entre outros, crerem que ressuscitamos quando morremos? O
professor me explicou o seguinte: as religiões que crêem em ressurreição dizem que
quando morremos ressuscitamos em outro plano, somente em essência, em espírito. Eu
não estava entendendo isso. Notei que após a explicação o professor não fez sua
pergunta típica: “te expliquei ou te enrolei?”. Comecei a prestar atenção e vi que ele não
perguntou mais “te expliquei ou te enrolei?” ao fim das explicações. (...) Além de me
sentir motivado e entusiasmado me senti confuso também. Eu pensei: fui batizado, fiz a
catequese de primeira eucaristia, estou me crismando e não sei nem no que os católicos
crêem acontecer após a morte e, conseqüentemente, não sei se acredito no que a igreja
prega. Eu sabia que os católicos acreditavam que após a morte ia-se para a vida eterna,
o paraíso católico, mas não tem ressurreição no meio disso. Já nessa aula só ouvi falar
que os católicos acreditam na ressurreição e não ouvi falar em vida eterna. Eu já não sei
no que eu acredito.”

3. A informação

A informação é o resultado da manipulação e organização de dados, de tal forma que represente um


acréscimo ao conhecimento da pessoa que a recebe. Genericamente, o conceito de informação está
intimamente ligado às noções de comunicação, dados, instrução, significado, conhecimento, estímulo,
percepção,14 além de esclarecimento, explicação, aviso, notas, argumentos. 15.

8
As citações longas que exemplificam cada aspecto do registro do conhecimento religioso fazem parte de um mesmo texto, cujo título é: confuso, motivado
e empolgado, elaborado por Guilherme, dia 18.06.07.
9
WIKIPEDIA. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Emo%C3%A7%C3%A3o>. Acesso em: 26 fev. 2008.
10
DAMAZIO, A. Apud SCHMIDT, Maria do Carmo. Emoções no grupo de trabalho: um estudo de história oral. Disponível em:
http://www6.univali.br/tede/tde_arquivos/7/TDE-2006-07-17T132117Z-81/Publico/Maria%20do%20Carmo%20Schmidt.pdf. Acesso em: 26 fev. 2008.
11
BOCK. A.; Furtado, O.; TEIXEIRA M.. Psicologias: uma introdução ao estudo de psicologia. São Paulo: Saraiva, 1996. p. 194.
12
ALVES, Rubem. Prefácio do livro uma nova educação para uma nova era, de Eduardo Chaves. Disponível em:
<http://br.groups.yahoo.com/group/4pilares/message/1430> Acesso em: 26 fev. 2008
13
GOTTMAN. J. Apud SERPA, Fabíola Alvarez Garcia. Disponível em: < http://scielo.bvs-psi.org.br/scielo.php?
pid=S151755452003000100004&script=sci_arttext>. Acesso em 3 mar. 2008.
14
WIKIPEDIA. Disponível em : <http://pt.wikipedia.org/wiki/Informa%C3%A7%C3%A3o.php?pid=S151755452003000100004&script=sci_arttext>.
Acesso em: 28 fev. 2008.
15
BUENO, Silveira. Minidicionário da língua portuguesa. São Paulo: FTD, 2000. p. 436.
3

Quanto mais informações estiverem disponíveis, maior será a superação de uma visão ingênua, fechada,
dogmatizada e, muitas vezes, incoerente, inclusive do Transcendente. Há grupos religiosos que se abalam diante
da divulgação de possíveis descobertas a seu respeito. De qualquer forma, concordando ou discordando, a
informação transparente e contextualizada possibilita reflexão e escolha conscientes.
Hoje, a informação chega às nossas casas simultaneamente ao acontecimento dos fatos. Esse acesso
aos meios de comunicação substitui a mera transmissão de informações por parte do educador em sala de aula
pela necessidade da troca. Não é mais possível partir, necessariamente, do zero. Há de se investir no
contraponto entre as informações, conhecimentos e saberes do educando, de seus colegas, do educador e de
outros estudiosos:

Todas as centenas de igrejas cristãs, incluindo a Católica, junto com parte dos Judeus
crêem na Ressurreição pós-morte. A outra parte dos judeus que não crê na Ressurreição
crê na Reencarnação; A palavra ‘ressuscitar’ vem do grego anastasis que significa
levantar-se. O professor falou que a bíblia escrita em grego fala que Jesus foi
ressuscitado. A bíblia escrita em português diz que Jesus ressuscitou. A diferença é que
ser ressuscitado dá a entender que alguém ou alguma força o ressuscitou. Ressuscitar
dá a entender que o indivíduo ressuscitou sozinho, com as próprias forças. Aprendi nessa
aula dois enfoques para a ressurreição: o primeiro é a crença pós-morte e o segundo, na
qual o professor comentou que nosso colega João discordaria caso estivesse presente
(pois discorda da comparação da mudança das fases da vida com a morte) acontece no
dia-a-dia. Isso soou confuso. Como pode haver ressurreição no dia-a-dia? A ressurreição
em nossa vida cotidiana seria como reerguer-se após uma situação difícil. Por exemplo:
uma pessoa passa fome injustamente. No momento em que esta pessoa tiver comida na
mesa novamente estará passando por uma experiência de ressurreição. O professor
lembrou que para ressuscitarmos devemos morrer primeiro. Fiquei sabendo, e achei
muito interessante, que as Testemunhas de Jeová acreditam em ressurreição de um
modo diferente: acreditam que no juízo final seus espíritos retornam aos seus corpos, já
enterrados, para irem ao paraíso, bem como fez Jesus ao ressuscitar da carne. Nesse
momento que estávamos falando sobre o juízo final o professor falou que a bíblia o traz
como o fim do mundo. São julgados vivos e mortos e ambos vão para o céu ou para o
inferno. Aí eu pensei: desse momento em diante não haverá mais mundo? Só céu e
inferno? Para que serviam todas as vidas vividas até este momento? Isso realmente é
muito confuso.

4. O posicionamento

Posição é o lugar onde uma pessoa ou uma coisa estão colocadas. Posicionar-se significa organizar o
máximo de idéias, opiniões, conceitos e informações, pensar sobre elas e expressá-las com autoridade, firmeza e
clareza, na intenção de convencer o outro de sua importância e fundamento. É estudar e refletir, fazendo
conexões, apontando afinidades e incoerências.
O posicionamento diante das muitas realidades garante a autoridade de qualquer que seja a
experiência religiosa. Contudo, é fundamental que se aprenda o respeito para que seja garantido o direito ao
posicionamento do outro. Isso implicará em novas posturas, como diálogo e reverência diante das diversidades
de nosso tempo, eliminando qualquer tipo de fundamentalismo e derramamento de sangue em nome do
Transcendente.
Madalena Freire escreveu que não existe reflexão “que não leve sempre a constatações, descobertas,
reparos, aprofundamentos. E, portanto, que não nos leve a transformar algo em nós, nos outros, na realidade.” 16
Posicionar-se é, portanto, fazer um exercício de intensa reflexão para que as coisas possam ser diferentes. Isso
ajudará o educando a fazer o mesmo diante da vida:

Em meio a tanta confusão não sei mais no que creio. Analisando profundamente minhas
idéias chego a uma conclusão. Comecei a pensar. Niilismo: que sem graça, me dá agonia
de pensar na vida acabando e o ser também, imaginei o espírito da pessoa morrendo e
esperando embaixo da terra os anos passarem, apodrecendo junto a seu corpo.
16
FREIRE, Madalena. Observação, registro, reflexão: Instrumentos Metodológicos I. São Paulo. EP, 1996. p 39. (Série Seminários, 1)
4

Reencarnação: Que tédio, essa é para pessoas apegadas à vida na terra. Imaginei o
espírito da pessoa, após morrer, recebendo a notícia “você vai voltar, você não acredita na
reencarnação?” Ancestralidade: imagine que após morrer para uma vida sofrida o ser vai
“trabalhar” cuidando de seus descendentes. Não é nenhum tédio nem me dá agonia, mas
acho que o ser algum dia se cansará de ficar flutuando sobre feixes de luz brilhantes em
tons de laranja, como numa ‘aurora boreal’ (é como eu imagino um ancestral).
Ressurreição (catolicismo): após morrer você vai para o paraíso. Imagino que um paraíso
se compare ao final ‘viveu feliz para sempre’, imagino o ser tendo que viver eternamente
feliz em um paraíso. É isso que eu quero para todo o sempre? Após essa reflexão vi que
não quero nada disso para mim. Tudo é bom e ruim, nada é maravilhoso nem péssimo.
Com isso começo a imaginar qual seria a verdade, o que de fato acontece quando
morremos. Todas as alternativas são plausíveis, nenhuma é impossível de acontecer. Então
imagino os povos Serere e Iorubá da África, que praticam rituais longos, cansativos e
curiosos para tornar seus mortos ancestrais. Aqueles povos vêm a gerações praticando
aqueles rituais, pois essa é a verdade para eles. Imagine agora um ser de uma dessas
tribos, falecido, recebendo a notícia “parabéns, você concluiu sua vida, arrependa-se de
seus pecados e ingresse na vida eterna”, ou “você não completou sua missão na terra,
volte e reencarne”. Esse ser terá vontade de voltar à terra e avisar a seu povo de que tudo
o que fazem é inútil, que na realidade o que acontece após a morte é a “ressurreição”, ou
a “reencarnação”. Isso não faria sentido, para quê um Serere reencarnaria? Para ele não
teria motivo nenhum. Do mesmo modo não haveria sentido nenhum eu, velhinho, após
morrer, receber a notícia: “seus descendentes não cumpriram o ritual, você não virará
ancestral”. Eu teria vontade de voltar à terra e dizer “Para tudo! De nada adiantam seus
ritos e crenças, comecem a realizar os rituais necessários para tornarem seus
antepassados ancestrais, pois é isso que acontece depois da morte.” Então, após essa
análise de consciência começo a pensar que acontece após a morte aquilo que a pessoa
acreditou a vida inteira que aconteceria. (...) Já que é o que creio que acontecerá, eu devo
crer em algo que eu queira para mim. Até hoje, o que mais me balançou, o que mais me
agradou, o que eu gostaria que acontecesse comigo quando morrer é uma crença que
comentei em aula, de alguns Árabes, se não me engano. Essa crença diz o seguinte: a vida
é feita de vários ciclos. Nossa atual vida é o segundo ciclo, de mais três, totalizando cinco
ciclos. O primeiro é o ventre da nossa mãe, praticamente uma outra dimensão para nós.
As passagens de um ciclo para o outro podem ser chamadas de mortes ou de nascimentos,
já que em cada passagem precisamos morrer para nascer em outras dimensões. (...) Mas
independente disso, por essa visão, sempre a próxima vida será um avanço. Porém, ainda
penso: “será que essa vida não é a última e eu não consigo me lembrar de minha vida
antes de ser embrião, como espermatozóide e óvulo, quem sabe?”. Ao mesmo tempo
penso que ainda pode existir diversas vidas, em outros planetas, outras dimensões, de um
modo muito melhor. E o melhor de tudo: eu me lembrarei de minhas vidas passadas. Essa
minha alegria em saber das vidas passadas vem do meu medo desta vida ser minha
milésima reencarnação e de que após cada uma eu me esqueça da vida anterior e comece
tudo de novo. Ao final de tudo isso, continuo achando que ao fim da vida acontece com a
pessoa aquilo que ela acreditou durante sua vida que aconteceria quando morresse e
continuo balançado com as idéias da vida em ciclos. Já que é para acontecer o que eu
acredito, que eu acredite no que eu gosto.

5. A pergunta

A pergunta é o rompimento do equilíbrio intelectual. 17 Sua origem encontra-se na dúvida, na confusão,


na crise, no equívoco, na imprecisão, na desconfiança, no ambíguo, na suspeita. Ela provoca um estranhamento
do já conhecido e declara-se como uma ignorância ativa, isto é, a intenção de encontrar o ainda desconhecido
como resposta.

17
FORUM NACIONAL PERMANENTE DO ENSINO RELIGIOSO. Ensino Religioso e o conhecimento religioso.[S.I.]: FONAPER, 2000. p. 23.
(Ensino Religioso: capacitação para um novo milênio, 3)
5

O senso comum diz que o ato de perguntar não combina com religião. Há quem ache que perdeu a fé,
se considerando ateu. Não sabe que a pergunta trás a crise e a crise, por sua vez, a criatividade e a maturidade.
A pergunta retira o entulho ao redor da fé e conduz à essência, à Verdade Última. Ela provoca o frente a frente
com a incompletude, com o mistério. É nesse sentido a afirmação de Elli Benincá de que a pergunta é fonte de
transcendência.18
Uma pergunta pode ser mais profunda, intensa e eficaz do que mil respostas. Mas não é isso que se
ensinava, até então, na escola, na religião. Remi Klein, lembra que há uma fase na vida da criança conhecida
como a ‘idade dos porquês’. Nesta fase qualquer resposta não é o bastante para acabar com sua curiosidade.
Estranhamente, isso acontecia pelos seis ou sete anos, idade em que se entrava na escola. 19 Hoje, outra prática
desafia o educador a também buscar respostas:

As Testemunhas de Jeová podem ter seus corpos cremados ao morrer, já que eles
acreditam que irão passar pela ressurreição da carne tal qual Jesus? Todos acham um
rumo para sua vida ou há gente que morre sem descobrir? Será que se alguma outra
raça, além da humana, tivesse alguma religiosidade, ela evoluiria e “dominaria o
mundo”? A pressa é realmente inimiga da perfeição ou o problema é comigo? Evoluir é
não precisar da ajuda de ninguém para entender as coisas? Após tão longa e complexa
reflexão, uma pergunta só não basta: Por que Deus haveria de pensar se sabe de tudo?
Qual o conceito exato de pensamento? É necessário haver razão para que haja emoções,
sentimentos? Ter uma visão científica das coisas impede, “bloqueia” a fé da pessoa?

Referências bibliográficas

1. ALVES, Rubem. Prefácio do livro uma nova educação para uma nova era, de Eduardo Chaves. Disponível
em: <http://br.groups.yahoo.com/group/4pilares/message/1430>
2. BENINCÁ, Elli. O conhecimento religioso. Passo Fundo: Mimeo, 1996.
3. BIAZUS, Maria Cristina Villanova. Contextualidades e o Ciberespaço. Disponível em:
http://www6.ufrgs.br/arteduc/portal/index.php?option=com_content&task=view&id=22&Itemid=26.
4. BOCK. A.; Furtado, O.; TEIXEIRA M.. Psicologias: uma introdução ao estudo de psicologia. São Paulo: Saraiva,
1996.
5. BUENO, Silveira. Minidicionário da língua portuguesa. São Paulo: FTD, 2000. p. 436.
6. DAMAZIO, A. Apud SCHMIDT, Maria do Carmo. Emoções no grupo de trabalho: um estudo de história oral.
Disponível em: http://www6.univali.br/tede/tde_arquivos/7/TDE-2006-07-17T132117Z-81/Publico/Maria
%20do%20Carmo%20Schmidt.pdf.
7. FORUM NACIONAL PERMANENTE DO ENSINO RELIGIOSO. Ensino Religioso e o conhecimento religioso.[S.I.]:
FONAPER, 2000. (Ensino Religioso: capacitação para um novo milênio, 3)
8. ______. Referencial curricular para a proposta pedagógica na escola. [S.I.]: FONAPER, 2000. (Ensino
religioso, 1)
9. FREIRE, Madalena. Observação, registro, reflexão: Instrumentos Metodológicos I. São Paulo. EP, 1996. (Série
Seminários, 1)
10. GOTTMAN. J. Apud SERPA, Fabíola Alvarez Garcia. Disponível em: < http://scielo.bvs-psi.org.br/scielo.php?
pid=S151755452003000100004&script=sci_arttext>.
11. KLEIN, Remi. A pergunta sob um novo olhar no Ensino religioso. In: Práxis do Ensino Religioso na escola. São
Leopoldo: EST/Sinodal, 2007.
12. MAFRA, Ludgero. A metodologia tradicional e a metodologia histórico-evangelizadora. Caminhando com o
ITEPA, Passo Fundo, ano 28, n. 63, 2001.
13. WIKIPEDIA. http://www.wikipedia.org

18
BENINCÁ, Elli. O conhecimento religioso. Passo Fundo: Mimeo, 1996.
19
KLEIN, Remi. A pergunta sob um novo olhar no Ensino religioso. In: Práxis do Ensino Religioso na escola. São Leopoldo: EST/Sinodal, 2007. p. 127.

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