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TORRES DE LINHA DE TRANSMISSÃO (LTEE) SOB AÇÃO DE VENTOS

ORIGINADOS DE CICLONES EXTRATROPICAIS E DE DOWNBURSTS

Rodolfo Santos da Conceição

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa


de Pós-graduação em Engenharia Civil, COPPE, da
Universidade Federal do Rio de Janeiro, como
parte dos requisitos necessários à obtenção do
título de Mestre em Engenharia Civil.

Orientador(es): Michèle Schubert Pfeil


Ronaldo Carvalho Battista

Rio de Janeiro
Maio de 2013
TORRES DE LINHA DE TRANSMISSÃO (LTEE) SOB AÇÃO DE VENTOS
ORIGINADOS DE CICLONES EXTRATROPICAIS E DE DOWNBURSTS

Rodolfo Santos da Conceição

DISSERTAÇÃO SUBMETIDA AO CORPO DOCENTE DO INSTITUTO ALBERTO


LUIZ COIMBRA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA DE ENGENHARIA
(COPPE) DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE
DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE
EM CIÊNCIAS EM ENGENHARIA CIVIL.

Examinada por:

___________________________________________________
Profª. Michèle Schubert Pfeil, D. Sc.

___________________________________________________
Profº. Ronaldo Carvalho Battista, Ph. D.

___________________________________________________
Profº. Ruy Carlos Ramos de Menezes, Dr techn.

___________________________________________________
Profº. Jorge Manuel Vieira Borges Lourenço Rodrigues, D.Sc.

RIO DE JANEIRO, RJ - BRASIL


MAIO DE 2013
Conceição, Rodolfo Santos da
Torres de Linha de Transmissão (LTEE) Sob Ação De
Ventos Originados de Ciclones Extratropicais e de
Downbursts / Rodolfo Santos da Conceição. – Rio de
Janeiro: UFRJ/COPPE, 2013.
XV, 114 p.: il.; 29,7 cm.
Orientadores: Michèle Schubert Pfeil
Ronaldo Carvalho Battista
Dissertação (mestrado) – UFRJ/ COPPE/ Programa de
Engenharia Civil, 2013.
Referências Bibliográficas: p.109-114.
1. Torres e Linhas de Transmissão de Energia Elétrica.
2. Ação do vento. 3. Downburst. I. Pfeil, Michèle Schubert
et al.. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, COPPE,
Programa de Engenharia Civil. III. Título.

iii
À minha mãe e à minha esposa.

iv
AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus que sempre me deu forças para persistir e nunca desistir,
sempre me conduzindo a várias conquistas.

Em especial a minha mãe Josefa, que vive em função de seus filhos e não fosse
por sua força e conselhos certamente não chegaria tão longe.

À minha amada Belaniza, pelo amor, incentivo e paciência em todo esse tempo
que ficamos distantes fisicamente, a quem dedico todo meu amor. Como também aos
meus sogros Gaspar e Luceni pelos quais tenho muito apreço.

A toda minha família, principalmente minhas irmãs Ana Cristina, Keytte e


Thamires, e aos meus irmãos Elisânio e Joanderson, pelo amor e incentivo em todos os
momentos. E ao meu Pai Antonio Valentim pelo incentivo para cursar o mestrado.

A toda família do Airton e da Vânia que me adotaram, ainda sem me conhecer,


quando cheguei ao Rio de Janeiro. Aos meus tios Luiz e Benigna e ao seu filho Luiz
Antonio pelo incentivo e moradia.

Aos professores da graduação pelo incentivo em seguir na carreira acadêmica


em especial ao professor e orientador Emerson Figueiredo.

A todos os companheiros de turma, que por muitas vezes me ajudaram nessa


conquista, nos trabalhos e provas “impossíveis”, em especial ao Carlos Seruti, Carlos
Rossigali, Marcela, Natasha, Iolanda, Ana Paula, Edson, Meline e Renato. E aos demais
companheiros do LabEst, pelas momentos de descontração, Dimas, Eduardo, Fabrício,
Nelson, Saulo, Santiago, e William.

Ao corpo docente do curso de Engenharia Civil da COPPE, pelos conhecimentos


transmitidos, em especial aos professores orientadores Michèle Pfeil e Ronaldo Battista
pelos ensinamentos no desenvolvimento dessa dissertação e pela enorme atenção a mim
dedicada.

À empresa Controllato, na qual participei de alguns projetos em que tive a


oportunidade de desenvolver os conhecimentos adquiridos em sala, durante o curso de
mestrado.

v
Por fim, agradeço a todos aqueles que mesmo sem saber contribuíram na
formação do meu caráter, na busca dos meus objetivos, ajudaram nos momentos
difíceis, ou simplesmente torcem pelo meu sucesso.

A TODOS VOCÊS FICA AÍ O MEU MUITO OBRIGADO!!!

vi
Resumo da Dissertação apresentada à COPPE/UFRJ como parte dos requisitos
necessários para a obtenção do grau de Mestre em Ciências (M.Sc.)

TORRES DE LINHA DE TRANSMISSÃO (LTEE) SOB AÇÃO DE VENTOS


ORIGINADOS DE CICLONES EXTRATROPICAIS E DE DOWNBURSTS

Rodolfo Santos da Conceição

Maio/2013

Orientadores: Michèle Schubert Pfeil


Ronaldo Carvalho Battista

Programa: Engenharia Civil

Em geral, as normas de projeto para torres e linhas de transmissão não são aplicáveis a
estruturas para grandes travessias (maiores do que 1000m) e consideram apenas ações
de ventos originados de ciclones extratropicais. Registros de acidentes nestes tipos
estruturais têm motivado constantes pesquisas acerca do comportamento estrutural e da
adequação dos critérios de projeto. Este trabalho apresenta análises de modelos
numéricos do sistema torre-linhas aéreas sob a ação de ventos originados de ciclones
extratropicais (EPS) e de downbursts efetuadas por meio de uma ferramenta
computacional especialmente desenvolvida. Exemplos de uma chaminé de 180m de
altura e de um feixe de cabos de 1000m de vão foram utilizados para validação de
implementações computacionais realizadas e para avaliação de certas considerações nas
análises dinâmicas. Um modelo de torre de 118,4m de altura foi idealizado para suporte
de 3 feixes de 4 cabos condutores cada um e dois cabos para-raios com vãos adjacentes
de 1000m e verificado em estados limites últimos para esforços estáticos de ação de
vento EPS. A análise dinâmica deste modelo sob ação do vento tipo EPS gerou fator de
amplificação dinâmica significativo e foi mostrado que é necessária análise não linear
para ação do downburst.

vii
Abstract of Dissertation presented to COPPE/UFRJ as a partial fulfillment of the
requirements for the degree of Master of Science (M.Sc.)

TRANSMISSION LINE TOWERS (TLT) UNDER ACTION OF WINDS ARISING


FROM EXTRATROPICAL CYCLONES AND DOWNBURSTS

Rodolfo Santos da Conceição

May/2013

Advisors: Michèle Schubert Pfeil


Ronaldo Carvalho Battista

Department: Civil Engineering

Design codes for overhead transmission lines are generally not applicable to structures
for large crossings (greater than 1000m) and with few exceptions consider only winds
generated from extratropical cyclones. Overhead line failures reported internationally
have motivated constant research on the behavior of these structures. This work presents
analyses of numerical models of the coupled system overhead lines – towers under the
action of winds generated from extratropical cyclones and downbursts performed by
means of a specially developed computational tool. Examples of a 180m high chimney
and of a 1000m span cable bundle were selected to validate performed computational
implementations and to evaluate some issues in dynamic analyses. A model of a 118,4m
high tower was conceived to support 3 bundles of 4 conductor cables with 1000m
adjacent spans then statically analyzed and verified under limit states design criteria.
Dynamic analyses of this model under wind action yield significant dynamic
amplification factor and showed that non-linear analyses are required for downburst
action.

viii
SUMÁRIO

CAPÍTULO I – INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 1

I.1 MOTIVAÇÃO..................................................................................................................................... 1
I.2 BREVE REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ..................................................................................................... 3
I.3 OBJETIVO E METODOLOGIA ............................................................................................................. 6
I.4 ESCOPO DO TRABALHO .................................................................................................................... 7

CAPÍTULO II – VENTOS ORIGINADOS DE CICLONES EXTRATROPICAIS ............................ 8

II.1 BREVE DESCRIÇÃO DOS CICLONES EXTRATROPICAIS .................................................................. 8


II.2 MODELAGEM MATEMÁTICA DAS FORÇAS DE VENTO .................................................................. 9
II.2.1 Velocidade média ................................................................................................................ 9
II.2.2 Velocidades flutuantes .......................................................................................................... 12
II.2.3 Geração de históricos de flutuação de vento de ciclones extratropicais .............................. 19
II.2.4 Forças devidas ao vento originário de tormentas EPS ........................................................ 24
II.2.5 Forças do vento em cabos condutores e para-raios ............................................................. 26
II.2.6 Forças de vento em torres treliçadas ................................................................................... 29

CAPÍTULO III – TORMENTAS ELÉTRICAS - DOWNBURSTS .................................................... 36

III.1 BREVE DESCRIÇÃO DOS VENTOS DOWNBURST ......................................................................... 36


III.2 MODELAGEM MATEMÁTICA DAS FORÇAS DE VENTO ................................................................ 40
III.2.1 Velocidade radial ............................................................................................................. 40
III.2.2 Velocidade vertical........................................................................................................... 45
III.2.3 Forças devidas ao vento originário de downbursts ......................................................... 47

CAPÍTULO IV - IMPLEMENTAÇÃO COMPUTACIONAL ............................................................ 50

IV.1 PROGRAMA COMPUTACIONAL VESFEM................................................................................... 50


IV.2 TORMENTAS EPS ....................................................................................................................... 53
IV.2.1 Espectros de energia de vento nas direções longitudinal, transversal e vertical da
velocidade de vento............................................................................................................................ 53
IV.2.2 Geração de históricos de vento correlacionados ............................................................. 55
IV.3 DOWNBURST.............................................................................................................................. 58
IV.3.1 Velocidades horizontais ................................................................................................... 58
IV.3.2 Velocidade vertical........................................................................................................... 58
IV.3.3 Resultados em termos de campos de velocidades ............................................................ 58
IV.4 EXEMPLO NUMÉRICO – CHAMINÉ NBR6123 SOB AÇÃO DE VENTO ORIGINADO DE TORMENTA
EPS 62
IV.4.1 Apresentação do exemplo................................................................................................. 62
IV.4.2 Solução no domínio da frequência ................................................................................... 65
IV.4.3 Solução no domínio do tempo – Históricos gerados com Procedimento I ....................... 67
IV.4.4 Solução no domínio do tempo – Históricos gerados com Procedimento II ..................... 69

ix
IV.4.5 Comparação dos resultados: Domínio do tempo x Domínio da frequência .................... 70
IV.5 EXEMPLO NUMÉRICO – EXEMPLO DE CABO DE LT ISOLADO ..................................................... 71
IV.5.1 Apresentação do exemplo................................................................................................. 71
IV.5.2 Análise de vibração livre.................................................................................................. 72
IV.5.3 Flutuação vertical – Tormentas EPS ............................................................................... 74
IV.5.4 Análise estática x dinâmica linear x dinâmica não linear – Tormentas EPS ................... 76
IV.5.5 Variação de velocidade média em função da configuração deformada .......................... 79
IV.5.6 Correlação espacial (Tormentas EPS) a partir da configuração deformada .................. 80
IV.5.7 Velocidade vertical do downburst .................................................................................... 82
IV.5.8 Análise Estática x dinâmica linear x dinâmica não linear - Downburst .......................... 83

CAPÍTULO V - ESTUDO DE CASO - TORRE DE LINHA DE TRANSMISSÃO DE ENERGIA


ELÉTRICA ............................................................................................................................................... 86

V.1 DESCRIÇÃO DO MODELO ESTRUTURAL ..................................................................................... 86


V.1.1 Torre ..................................................................................................................................... 87
V.1.2 Cabos .................................................................................................................................... 88
V.1.3 Isoladores ............................................................................................................................. 88
V.2 ANÁLISE NÃO LINEAR ESTÁTICA PARA VERIFICAÇÃO DO DIMENSIONAMENTO DOS ELEMENTOS
ESTRUTURAIS SEGUNDO A NORMA AISC ............................................................................................... 89
V.3 PROPRIEDADES DINÂMICAS DO MODELO ESTRUTURAL ............................................................ 93
V.4 MODELO ESTRUTURAL SOB AÇÃO DINÂMICA DE TORMENTAS EPS ......................................... 96
V.5 MODELO ESTRUTURAL SOB AÇÃO DE DOWNBURST ................................................................ 101

CAPÍTULO VI - CONCLUSÕES E SUGESTÕES PARA CONTINUIDADE DO TRABALHO . 106

VI.1 CONCLUSÕES ........................................................................................................................... 106


VI.2 SUGESTÕES PARA CONTINUIDADE DO TRABALHO ................................................................... 108

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................................................................................. 109

x
LISTA DE SÍMBOLOS

A Área da seção ransversal

área de obstrução a passagem do vento

a(t) processo gaussiano qualquer com média zero e variância σa²

b coeficiente para conversão de categorias de rugosidade e tempo de


integração
Bs operador retroativo

C matriz de correlação cruzada normalizada

Constante do modelo de Vicroy

Constante do modelo de Vicroy

coeficiente de arrasto

Ca1 coeficiente de arrasto referente a uma das faces isolada do painel da


torre
C coeficiente de arrasto para vento incidindo com ângulo  em relação
à perpendicular à face de barlavento
Cas coeficiente de arrasto superficial

cest coeficiente de amortecimento aerodinâmico

cest coeficiente de amortecimento estrutural

Cx, Cy, Cz coeficientes de decaimento

d diâmetro do circulo circunscrito da seção do fio ou cabo

E módulo de elasticidade

Função erro

f frequência

Força de arrasto

força média, ou estática

força flutuante, ou dinâmica

força de amortecimento aerodinâmico

FAD Fator de amplificação dinâmica

frequência adimensional, frequência fundamental das linhas ou feixes


de linhas livremente suspensas
Fx , Fy, Fz Componentes de forças de arrasto atuantes na estrutura

xi
fT frequência fundamental da torre isolada

Fator de pico

g(r²) perfil radial da compenente vertical de velocidade do downburst

admitância mecânica

I Matriz identidade

Intensidade de turbulência a 10 metros de altura do solo

Intensidade de turbulência das componentes de flutuação u, v e w,


respectivamente
k constante de Von Karman

 Fator de correção do coeficiente de arrasto

L maior dimensão da edificação, comprimento do vão

L(z) comprimento da escala de turbulência na altura z

L1 dimensão característica do espectro de Harris e Davenport

Escalas de turbulência nas direções transversal e vertical a velociade


média
LT Linha de Transmissão

LTEE Linha de Transmissão de Energia Elétrica

mi massa concentrada no nó i

N(t) ruído branco

p carga peso por metro, expoente para cálculo da velocidade média

q pressão dinâmica de referência

q(z) perfil vertical da compenente vertical de velocidade do downburst

Escala de comprimento radial

R Matriz de correlação espacial

Distância radial a partir do centro da tormenta

r’ raio dos fios ou cabos secundários da camada externa do cabo

Distância na qual ocorre

S1 fator topográfico

S2 fator igual a velocidade adimensional normalizada em Uo

xii
S3 fator estatístico

função da densidade espectral da resposta

espectro de força modal

Funções de densidade espectral

Tempo, tempo de integração

Duração característica da tormenta

To componente horizontal da tração de projeto

Tmax Tempo de geração do sinal

U componente da velocidade na direção média do escoamento

u, v, w componentes flutuantes do campo de velocidades da tormenta EPS

Velocidade média da tormenta EPS

velocidade cisalhante

Uk velocidade característica

U10 velocidade média a uma altura de 10m e para o tempo de 10 minutos

Ut(h) velocidade média do vento sobre t segundos no topo da edificação

velocidade média na altura de referência

Urel velocidade de vento em relação à estrutura

VH Resultante da velocidade radial e vertical do downburst e do vento de


fundo
Vento de fundo

Resultante das velocidades radial do downburst e a velocidade do


vento de fundo
Componente radial da velocidade de um dowburst

Máxima velocidade radial de um dowburst

Velocidade total de um dowburst

Componente x do campo de velocidade de um dowburst

Campo de velocidade de um dowburst

Componente y do campo de velocidade de um dowburst

Componente vertical do campo de velocidade de um dowburst

xiii
X matriz de autovetores da matriz de correlação espacial

Frequência adimensionalizada

, Frequência adimensionalizada

xi, yi, zi coordenadas do ponto i qualquer

resposta máxima esperada

, , Frequência adimensionalizada

Z matriz de autovetores normalizados da matriz de correlação espacial

Altura acima do solo (m)

z0 constante de integração

zg , zref altura de referência

zm altura média entre dois pontos

Altura correspondente a máxima velocidade radial

Constante do modelo de Vicroy , fator de efetividade

 coeficiente da função de co-espectro normalizado

γ(B) função de transformação do filtro

t Intervalo de tempo para geração

Altura onde é a metade de

est taxa de amortecimento estrutural

aer taxa de amortecimento aerodinâmico

 fator de proteção

 ângulo de incidência do vento em relação à direção do vão

Fator de escala

λ vetor de autovalores da matriz de correlação espacial

Massa específica do ar

Desvio padrão variável

desvio padrão das componentes de flutuação u, v e w,


respectivamente
variâncias das componentes de flutuação u, v e w, respectivamente

xiv
τ defasagem

i ângulo de fase com a função de distribuição uniforme de


probabilidade, componentes do autovetor
s parâmetro auto-regressivo

Função de co-espectro normalizado

xv
CAPÍTULO I – INTRODUÇÃO

I.1 MOTIVAÇÃO

No Brasil, ainda hoje a principal fonte de energia elétrica são as usinas


hidrelétricas devido a seu custo de produção e aos amplos recursos hídricos existentes.
Sua principal forma de distribuição é através das torres de linhas de transmissão que
possuem, em sua maioria, estruturas de aço e devido às propriedades deste material
possuem elementos muito esbeltos e que tornam sua estrutura bastante leve e flexível.

No Brasil há um histórico significativo de acidentes em torres e linhas de


transmissão, sendo a causa predominante a ação do vento. Estes acidentes causam
grandes prejuízos sejam pela reconstrução e/ou reparos nas linhas e torres, ou ainda pela
interrupção do fornecimento provocada pela falha em qualquer ponto da linha. As
Figuras I.1 a I.4 mostram exemplos de algumas torres danificadas, em que verifica-se
pelas datas dos eventos que trata-se de um problema atual. Em outras partes do planeta
também se verificam frequentes acidentes com torres de linhas de transmissão
(HOLMES, 2000; OLIVER et al., 2000; FU et al., 2010).

Estes acidentes têm motivado diversas pesquisas tanto em torres isoladas quanto
no sistema completo torre-linha para melhor entendimento de suas causas. Algumas
destas pesquisas incluem também a caracterização e aplicação de ventos originados de
outras tormentas, além dos ciclones extratropicais que são mais comuns.

As tormentas são os sistemas meteorológicos que originam ventos de alta


velocidade (ventos fortes), independentemente de seu mecanismo de formação. Dentre
estes ventos estão os originados por ciclones extratropicais, ciclones tropicais,
tormentas elétricas e tornados. Em ciclones extratropicais, com ventos de alta
velocidade, a rugosidade da superfície terrestre causa uma turbulência tão intensa que a
mistura entre camadas adjacentes de ar impede processos de convecção. As flutuações
são quase que exclusivamente causadas por agitação mecânica do ar, com a formação de
um grande número de turbilhões ou redemoinhos (BLESSMANN, 1995). Entretanto, há
tormentas que contêm componentes importantes de origem térmica, tais como ciclones
tropicais (furacões, no Atlântico Norte) em seus estágios iniciais e tormentas elétricas,
cujas descrições podem ser encontradas em BLESSMANN (1995) e CIGRÉ (2004).

1
Figura I.1 – Torre colapsada no município de São Miguel do Iguaçu, Paraná em
dezembro de 2010 (PORTALNOTICIASBRASIL, 2013).

Figura I.2 – Torre colapsada no município de Sumaré, São Paulo, em junho de 2012
(OMELHORDEVALINHOS, 2013).

As normas de projeto brasileiras, que tratam da ação do vento nas estruturas,


consideram apenas os ventos originários de sistemas de ciclones extratropicais, os quais
já foram bastante estudados e são caracterizados por um escoamento horizontal de
velocidade média aproximadamente constante em torno da qual se observam flutuações
devidas principalmente à rugosidade da superfície do terreno. Entretanto, mesmo com
baixa probabilidade de ocorrência, outros tipos de tormentas podem atuar no sistema
estrutural como os ciclones tropicais e as tormentas elétricas. Em estudo realizado pelo
CIGRÉ (2008) – International Council on Large Electric Systems – foram registradas
recomendações específicas para ventos do tipo downburst e tornados nas normas de
países como Austrália, Estados Unidos, Argentina, África do Sul e Canadá.

2
Figura I.3 – Torre colapsada no município de Candido Mota, São Paulo, em novembro
de 2012 (G1, 2013)

Figura I.4 – Torre colapsada no município de Cascavel, Paraná, em novembro de 2012


(FOLHA, 2013).

I.2 BREVE REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Tradicionalmente o projeto de linhas aéreas de transmissão de energia e seus


suportes (torres e fundações) é feito com base em análises estáticas de modelos
analíticos e/ou numéricos da torre desacoplada das linhas aéreas para ação de vento
originado de ciclones extratropicais (também chamados ventos de camada limite). No
Brasil a norma que rege estes projetos é a NBR5422 - Projeto de linhas aéreas de
transmissão de energia elétrica (ABNT, 1985). Entretanto, a norma internacional
IEC60826 (2003) vem sendo utilizada nos projetos de torres e linhas aéreas no Brasil
conforme levantamento sobre as práticas de projeto realizado pelo CIGRÉ (2004, 2008).

3
Os modelos indicados nas normas podem ser adequados para linhas até certo
comprimento de vãos acima do qual os efeitos dinâmicos devem ser investigados. Além
disso, ventos originados de outros fenômenos meteorológicos devem também ser
considerados.

As principais fontes de forças flutuantes em estruturas submetidas à ação do


vento podem ser resumidas como se segue (HOLMES, 2001):

a) Turbulência do escoamento incidente - refere-se às flutuações de velocidade do


vento na camada limite atmosférica (turbulência atmosférica).

b) Turbulência de esteira – refere-se às flutuações de velocidade na esteira do


corpo. A presença de um corpo em repouso (ou com movimentos de pequena
amplitude) gera na esteira do escoamento (mesmo que o fluxo incidente seja
uniforme de velocidade ) flutuações de velocidade devidas a fenômenos tais
como o descolamento e recolamento do fluxo e o desprendimento de vórtices.

c) Fenômenos aeroelásticos. Ao se movimentar com grandes amplitudes imerso em


um escoamento, o corpo promove alterações nas características deste
escoamento e em consequência afeta as forças que nele atuam.

No caso de linhas aéreas de transmissão de energia além das condições (a) e (b)
ocorrem os seguintes fenômenos aeroelásticos (condição (c)):

 Vibração eólica (induzida por desprendimento cadenciado de vórtices)


 Galope
 Vibração induzida pela esteira ou galope de esteira, somente para feixes de
condutores.

Estes últimos aspectos do comportamento das linhas aéreas foram abordados,


por exemplo, em CIGADA et al. (1997) e CAPPELLARI et al. (2007).

Tradicionalmente a análise dinâmica do sistema torres – linhas aéreas é feita


desacoplando-se as linhas das torres, com base no argumento de que a frequência
fundamental da torre isolada fT é muito maior do que a frequência fundamental fL das
linhas ou feixes de linhas livremente suspensas, ou não, pelas cadeias de isoladores.
Entretanto, análises de vibração livre e de respostas aeroelásticas de modelos acoplados
torre-linhas aéreas propostos por RODRIGUES (2004) mostraram que a torre participa
dos modos de vibração dominados pelo movimento dos condutores. Dessa forma, a
hipótese de desacoplamento dinâmico entre linhas e torres fica prejudicada. YASUI et

4
al. (1999), DIANA et al. (1998) e MENEZES et al. (2012) também efetuaram análises
dinâmicas com o modelo acoplado torre-linha.

LOREDO-SOUZA e DAVENPORT (2002) focalizaram a estrutura da torre e


concluíram pela necessidade da incorporação da análise dinâmica no projeto destas
estruturas recomendando o uso do método estatístico usando linhas de influência o qual
se baseia em análise no domínio da frequência.

Dentre os primeiros pesquisadores a chamar a atenção para o efeito destrutivo de


dowbursts em torres de LT estão HOLMES e OLIVER (1996), que realizaram estudos
para realizar a reprodução dos registros de anemômetros produzidos por downbursts e
determinar as dimensões físicas destes eventos.

OLIVER et al. (2000) estudaram um modelo prático para estimar o risco de um


ataque de downburst prejudicial sobre uma linha de comprimento e orientação
especificados, o qual foi desenvolvido e aplicado para linhas de alta tensão na Austrália.

SAVORY et al. (2001) estudaram o efeito da ação de ventos downburst e de


tornados em torres de linha de transmissão para as quais se verificou que o downburst,
não causaria o colapso da estrutura de torre treliçada com 50,5m de altura. Entretanto no
trabalho não foi considerada a ação do vento nos cabos da linha de transmissão, a qual
pode representar contribuição significativa no carregamento da torre.

LOU et al. (2009) compararam os efeitos da ação do vento downburst aos do


vento de tormentas extratropicais em torre de linha de transmissão com 178m de altura.
No trabalho foi verificado que os deslocamentos no topo da torre para o downburst são
superiores em mais de 100% que o vento EPS. No mesmo trabalho foi avaliada a
amplificação dinâmica da resposta causada pela flutuação da velocidade do downburst
em que se verificou uma amplificação em torno de 40%. Também neste trabalho não foi
considerada a ação do vento nos cabos da linha de transmissão.

FU et al. (2010) investigaram um acidente destrutivo de uma linha de


transmissão de Zhengxiang, na China, no qual seis torres colapsaram por rajadas de
vento downburst. O estudo verificou que as tensões geradas nas torres ultrapassaram os
valores de projeto sobrecarregando as torres e levando-as ao colapso.

Diversas pesquisas sobre torres e linhas de transmissão foram feitas também


pelo CIGRÉ (2004, 2008, 2010) quanto aos critérios utilizados nos projetos, tipos de

5
tormentas que atuam nestes sistemas e ainda sobre efeitos dinâmicos gerados pela ação
do vento.

Partindo do suposto que outros tipos de vento podem ser causadores de alguns
dos colapsos de torres de linhas de transmissão será abordada neste trabalho, além dos
ventos de ciclones extratropicais, a verificação dos efeitos de ventos do tipo downbursts
originários de tormentas elétricas.

I.3 OBJETIVO E METODOLOGIA

O objetivo geral deste trabalho é contribuir com mais informações sobre o


comportamento de torres e linhas de transmissão de energia elétrica (LTEE) expostas à
ação de ventos fortes (sem a consideração de fenômenos aeroelásticos). O estudo
pretende realizar análises estáticas e dinâmicas de Torres LTEE sob ação de ventos
originários de ciclones extratropicais e downbursts. Para isso foi utilizado o programa
VESFEM de análise estrutural desenvolvido em Teses de Doutorado de PFEIL (1993) e
RODRIGUES (2004), escrito em linguagem FORTRAN, o qual já contemplava a ação
de ventos oriundos de ciclones extratropicais, e no qual foi implementada uma nova
sub-rotina para geração de campo de velocidades de ventos originários de tormentas
elétricas.

A implementação deste novo campo de velocidades foi validada através de


comparações de resultados com outros disponíveis na literatura (DAMASCENO NETO,
2012, HOLMES e OLIVER, 2000). Neste mesmo programa foi implementada também,
uma nova metodologia para geração de históricos de flutuação de velocidades de vento
espacialmente correlacionados, oriundos de ciclones extratropicais, a fim de obter boa
comparação entre respostas para soluções no domínio do tempo e domínio da
frequência.

Para uma avaliação simplificada das considerações adotadas neste trabalho são
utilizados como exemplos:

 uma chaminé com 180m de altura, apresentada na NBR6123 (ABNT, 1988)


para comparação das respostas dinâmicas nos domínios do tempo e da
frequência;

 um modelo de cabo isolado com vão de 1000m para avaliação da importância


das componentes vertical da velocidade em tormentas EPS e downbursts,

6
avaliação da escala de turbulência, variação da velocidade média atuando na
configuração deformada do cabo e ainda comparação entre as respostas
geradas em análises estáticas, dinâmica linear e dinâmica não linear para ação
de ventos originados de tormentas EPS e de downbursts.

Por fim, é desenvolvido um modelo computacional de um sistema de linha de


transmissão composto por uma torre LTEE com 116,80m de altura, a qual serve de
suporte para feixes de cabos condutores e para-raios com vãos de 1000m. A estrutura da
torre reticulada em aço foi dimensionada para suportar os efeitos estáticos do vento
oriundo de tormentas EPS segundo recomendações da Norma Brasileira NBR6123/88;
para tanto foi utilizado o programa computacional de análise estrutural SAP2000® V.15
que realiza verificação automática segundo critérios de dimensionamento dados na
norma AISC - American Institute of Steel Construction.

Para este modelo foram obtidos os efeitos de originados de downbursts e de


ciclones extratropicais, com o programa VESFEM que fornece as respostas para
análises estáticas e dinâmicas no domínio do tempo.

I.4 ESCOPO DO TRABALHO

O presente trabalho será apresentado em seis capítulos. O presente capítulo


apresenta uma introdução sobre o trabalho, breve revisão bibliográfica, além de seu
objetivo e escopo.

O capítulo II apresenta uma descrição sucinta dos ciclones extratropicais, sendo


descritas as formas para obtenção das velocidades de ventos e cálculo das forças por
elas geradas.

No capítulo III são descritas as formas para obtenção das velocidades de ventos
para downbursts bem como a metodologia para aplicar as correspondentes forças
geradas na torre e nos cabos.

O capítulo IV trata das implementações computacionais realizadas no programa


VESFEM e apresenta dois modelos simplificados para avaliação dos resultados; uma
chaminé com 180m de altura e um feixe de cabo isolado com 1000m de comprimento.

O capítulo V apresenta a análise de um modelo de Torre LTEE composto por


torre e cabos submetido a ação do vento EPS e de downburst. Por fim, o capítulo VI
contém as conclusões deste estudo e algumas sugestões para continuidade do trabalho.

7
CAPÍTULO II – VENTOS ORIGINADOS DE CICLONES
EXTRATROPICAIS

II.1 BREVE DESCRIÇÃO DOS CICLONES EXTRATROPICAIS

Os ciclones extratropicais (Figura II.1) são os fenômenos mais comuns que


originam ventos fortes em regiões temperadas e apresentam comportamento de
características bem conhecidas.

Figura II.1 – Ciclone extratropical (NASA, 2013)

Os ciclones extratropicais ocorrem devido ao efeito mecânico de cadeias de


montanhas sobre correntes atmosféricas de grandes dimensões ou pela interação de
massas de ar ao longo das frentes frias, é o que ocorre no sul do Brasil. Recebem o
nome de sistemas de pressão plenamente desenvolvidos ou tormentas EPS (extended
pressure systems) quando se encontram em seu estágio “maduro”, por esta razão,
doravante serão chamados apenas de tormentas EPS (BLESSMANN, 1995; CIGRÉ,
2004).

As tormentas EPS produzem ventos em equilíbrio dinâmico com a rugosidade da


superfície terrestre, daí denominados ventos oriundos de camada limite. Estes ventos
têm como principal característica pequenas variações na intensidade e direção da
velocidade média por várias horas, ou até alguns dias, por isso são também conhecidos
como ventos bem comportados.

Para cálculo da resposta dinâmica das estruturas sujeitas a ação do vento


turbulento é necessário representar a turbulência de forma mais fiel possível aos ventos
8
reais. Algumas características influenciam bastante nos resultados e devem ser
cuidadosamente observadas para as flutuações, tais como a distribuição de
probabilidade, intensidade de turbulência, correlações espaciais e os espectros de
potência.

II.2 MODELAGEM MATEMÁTICA DAS FORÇAS DE VENTO

Para ventos oriundos de ciclones extratropicais, a componente da velocidade na


direção média do escoamento (direção longitudinal, x), pode ser decomposta em duas
parcelas: uma de valor médio , aproximadamente constante ao longo do tempo e
variável apenas com a altura, e outra flutuante em torno da média u, de modo que em
dado ponto situado em uma altura z a velocidade de vento pode ser escrita como:

(II.1)

Existem também componentes flutuantes nas duas direções ortogonais à direção


principal do escoamento, a componente lateral v(x,y,z,t) e vertical w(x,y,z,t), muitas
vezes desprezadas, entretanto neste trabalho serão também consideradas.

II.2.1 VELOCIDADE MÉDIA

a) variação de com a altura acima da superfície e com a rugosidade do terreno

A velocidade média varia ao longo da altura acima do solo em função do perfil


de rugosidade do terreno, o qual pode ser representado através da lei logarítmica ou da
lei potencial (SIMIU e SCANLAN, 1996).

A lei potencial, utilizada na NBR6123 (ABNT, 1988), relaciona duas


velocidades médias em duas alturas, dentro da camada limite atmosférica, e é
representada pela seguinte expressão:

onde z é a altura a qual se deseja conhecer a velocidade média, zg é uma altura de


referência com velocidade conhecida e p é um coeficiente que depende das
características de rugosidade do terreno.

A lei logarítmica, utilizada no Eurocódigo 1 (2005), é representada pela seguinte


expressão:
9
em que k é uma constante denominada constante de Von Karman, obtida
experimentalmente e igual a 0,4, z0 é uma constante de integração com dimensões de
comprimento e conhecida como comprimento de rugosidade.

O parâmetro , ou velocidade cisalhante, é obtido substituindo na Equação


(II.3) o valor conhecido da velocidade média na altura de referência zref.

Outro parâmetro de rugosidade muito utilizado é o coeficiente de arrasto


superficial, Cas, que também está relacionado com a velocidade cisalhante.

A Tabela II.1 mostra os valores dos parâmetros p, z0 e Cas para as categorias de


rugosidade dadas na norma brasileira NBR6123 (ABNT, 1988) e a Figura II.2 compara
os perfis de velocidade ao longo da altura dados pelas leis potencial e logarítmica para
um terreno plano com edificações baixas e esparsas. Verifica-se que as duas expressões
para perfis de velocidade correlacionam-se muito bem.

Tabela II.1 – Parâmetros de rugosidade para classes de rugosidade da NBR6123


(BLESSMANN, 1995)
z0 p
Categoria Cas . 10³
(mm) (10min)
I 5 0,095 2,8
II 70 0,15 6,5
III 200 0,185 13
IV 700 0,23 30
V 1750 0,31 83

200
180 exponencial
160 logaritmica
140
120
Z (m)

100
80
60
40
20
0
0,0 0,5 1,0 1,5 2,0
U(z)/U(10)

Figura II.2 – Perfis vertical de velocidade média para terreno de categoria III
(comprimento de rugosidade z0=0,2m e expoente p=0,185) dados pelas leis potencial e
logarítmica.

10
b) variação da velocidade média com o intervalo de tempo de integração e
outros parâmetros (z, categoria do terreno)

Como dito anteriormente, a velocidade de vento é variável ao longo do tempo,


assim a velocidade média de vento é também variável a depender do intervalo de
integração utilizado para seu cálculo. A velocidade de vento para o projeto de uma
estrutura deve ser tomada como uma média em certo intervalo de tempo, o qual é
função das dimensões do turbilhão que irá envolvê-la como um todo. O intervalo mais
curto de medidas usuais (3 segundos) corresponde a rajadas cujas dimensões envolvem
obstáculos de até 20 metros na direção do vento médio (BLESSMANN, 1995).

A NBR6123 (ABNT, 1988) classifica as edificações em 3 classes de acordo com


suas dimensões, com seus respectivos intervalos de tempo para cálculo da velocidade
média, conforme Tabela II.2.

Tabela II.2 – Classes de edificações (NBR6123, 1988)


Dimensões Tempo
Classe
(m) (s)
A L < 20 3
B 20 ≤ L ≤ 50 5
C L > 50 10

Para edificações cujas dimensões sejam superiores às dadas na Tabela II.2 serão
também maiores as dimensões dos turbilhões que as envolvem; assim, a NBR6123
(ABNT, 1988) fornece o Anexo A para cálculo dos parâmetros relacionados à
velocidade média conforme o tempo de integração correspondente à dimensão da
edificação.

A determinação do intervalo de tempo t dá-se de forma iterativa através da


expressão II.4. Ao final do processo iterativo, com o valor do tempo t, pode-se
determinar os parâmetros b, p e Fr para cálculo do perfil de velocidade de vento.

onde L é a maior dimensão entre a altura e a largura da superfície frontal da edificação e


Ut(h) é a velocidade média do vento sobre t segundos no topo da edificação, dada pela
Equação II.2 ou II.3.

11
II.2.2 VELOCIDADES FLUTUANTES

Para o estudo das componentes flutuantes da velocidade do vento são


necessários alguns conceitos básicos para melhor entendimento, como os parâmetros
estatísticos e as propriedades de turbulência. A variância representa uma medida de
dispersão em torno da média e é definida como o somatório dos quadrados dos desvios
dividida pelo número de ocorrências. Como estamos analisando apenas a componente
flutuante, a qual apresenta média nula, a variância será igual ao valor quadrado
médio, dado pela expressão:

A raiz quadrada da variância é igual ao desvio padrão . O desvio padrão da


componente longitudinal de flutuação de velocidade do vento é o mais estudado e os
desvios padrão das componentes lateral e vertical são, geralmente, expressos em
função da componente longitudinal.

As componentes de velocidade flutuante tendem a tornar-se iguais nas


proximidades da altura gradiente e tendem a zero acima da camada limite atmosférica.
Próximo ao terreno, a relação entre os desvios padrão (e entre variâncias) das três
componentes pode ser tomada como (COOK, 1985 apud BLESSMANN, 1995):

= 1,00 : 0,68 : 0,45 (II.6)

= 1,00 : 0,46 : 0,20 (II.7)

A intensidade de turbulência é definida como a relação entre o desvio padrão da


componente flutuante e a velocidade média. Para cada componente flutuante tem-se:

De acordo com dados experimentais o desvio padrão u é igual a 2,5 vezes a


velocidade cisalhante . Desta maneira, pode-se reescrever a expressão da intensidade
de turbulência em função da altura z substituindo-se a Equação (II.3) na Equação (II.8),
assim:

12
Observa-se que Iu diminui ao longo da altura z e que as intensidades de
turbulência nas direções lateral e vertical podem ser tomadas aproximadamente iguais a
0,68Iu e 0,45Iu, respectivamente, conforme relações II.6.

II.2.2.1 ESPECTROS DE POTÊNCIA DAS COMPONENTES DE VELOCIDADE FLUTUANTE

DO VENTO (BLESSMANN, 1995)

A função densidade espectral S (ou simplesmente espectro) das componentes


flutuantes de velocidade de vento descreve o conteúdo em frequência do processo. A
contribuição para a variância do processo nas faixas de frequência entre f e f +df é dada
por S(f)df. Dessa forma a área sob o espectro (também chamado de densidade espectral
da variância) é igual à variância (BLESSMANN, 1995):

Existem diversas expressões propostas para as funções Su, Sv e Sw. Em geral


estas expressões são baseadas em medições experimentais e são escritas na forma
adimensional.

Dentre os espectros de flutuação da componente longitudinal Su mais utilizados


estão o espectro de Harris, adotado na NBR6123 (ABNT, 1988), o espectro de
Davenport, o espectro de Kaimal e o espectro ESDU (Engineering Sciences Data Unit,
1974) o qual é adotado pelo Eurocódigo 1 (2005). A seguir serão apresentadas as
expressões destes espectros.

O espectro Su de Harris é dado pela seguinte expressão:

onde X1 é a frequência adimensional, dada por:

L1 é uma dimensão característica tomada igual a 1800m em função de ajustes e


dados experimentais. E a variância é dada por:

13
onde Cas é o coeficiente de arrasto superficial mostrado na Tabela II.1 e U10 é a
velocidade média a uma altura de 10m e para o tempo de 10 minutos.

O espectro Su de Davenport é dado por:

em que X1 é a frequência adimensional também dada pela expressão II.12, onde o


comprimento da escala de turbulência L1 é tomado igual a 1200m. E a variância é
dada por:

O espectro ESDU consiste numa adaptação do espectro de Kaimal e é dado por:

onde é a frequência adimensional e L(z) é o comprimento da escala de

turbulência, variável com a altura e dado pela expressão:

Na Eq. (II.16) a variância é dada por:

Outro espectro muito utilizado é o de Kaimal que é dado por:

onde Y1 é a frequência adimensional, também variável com a altura, dada por:

Na Eq. (II.19) a variância é dada pela expressão:

14
A Figura II.3 compara as funções dos espectros de Harris, Davenport, ESDU e
Kaimal dadas pelas Equações II.11, II.14, II.16 e II.19, respectivamente, por meio de
um gráfico semi-logarítmico onde a ordenada é o espectro adimensionalizado e a
abcissa igual a frequência f.

0,35
HARRIS
0,30
DAVENPORT
0,25 ESDU
KAIMAL

0,20
f Su (f) /

0,15

0,10

0,05

0,00
0,001 0,01 0,1 1 10
f (Hz)
Figura II.3 – Espectros de Harris, Davenport, ESDU e Kaimal em escala
semilogarítmica

Os espectros das componentes lateral e vertical de turbulência não são tão


estudados quanto o espectro da componente longitudinal, entretanto são apresentados
também os espectros de Kaimal e ESDU (BLESSMANN, 1995) para estas
componentes. Assim, nos exemplos em que serão consideradas as componentes lateral e
vertical da velocidade do vento para cálculo da força resultante serão utilizados apenas
o espectro de Kaimal ou o espectro ESDU.

Os espectros de Kaimal das componentes lateral e vertical da turbulência são


dados pelas Equações (II.22) e (II.23), respectivamente (FLAGA e WRANA, 1987
apud BLESSMANN, 1995):

com Y2 = 37,7 Y1 , Y3 = 10,4Y1 e Y1 dado pela Equação (II.20).

15
A Figura II.4 apresenta os espectros de Kaimal das três componentes de
flutuação do vento.

0,30
Su
0,25 Sv
Sw
0,20
f . S(f) / ²

0,15

0,10

0,05

0,00
0,001 0,01 0,1 1 10
f (Hz)
Figura II.4 – Espectros de potência de Kaimal para as três componentes de flutuação.

Os espectros ESDU das componentes lateral e vertical da turbulência são dados


pelas Equações (II.24) e (II.25), respectivamente (COOK, 1985 apud BLESSMANN,
1995).

onde:

A Figura II.5 apresenta os espectros ESDU das três componentes de flutuação do


vento.

16
0,35
Su
0,30
Sv
0,25 Sw
f . S(f) / ²
0,20

0,15

0,10

0,05

0,00
0,001 0,01 0,1 1 10
f (Hz)
Figura II.5 – Espectros de potência ESDU para as três componentes de flutuação.

Observando as expressões apresentadas para os espectros de flutuação nota-se


que todos apresentam o seguinte aspecto:

Os valores dos parâmetros da Equação (II.30), para todos espectros


apresentados, são dados na Tabela II.3.

Tabela II.3 – Parâmetros dos Espectros de Potência


Parâmetros Numéricos
AUTOR
A B C D E F G H L ²
Harris 2 0 1 0 2 5/6 1800

Davenport 1 0 2 0 2 4/3 1200 6 Cas

ESDUu 1 0 1 0 1 5/3

ESDUv 1 1 3 2 11/6 0,46

ESDUw 1 1 3 2 11/6 0,35z 0,20

Kaimalu 1 0 1 0 1 5/3 z

Kaimalv 1 0 1 0 5/3 1 z 0,46

Kaimalw 1 0 1 0 5/3 1 z 0,20

17
II.2.2.2 CORRELAÇÃO ESPACIAL

As velocidades flutuantes do vento em dois pontos distintos são também


distintas, entretanto, há uma interdependência entre os valores. Esta correlação é
chamada de correlação cruzada ou correlação espacial. Em uma série temporal a
correlação espacial entre dois pontos i e j, para uma defasagem de tempo nula, é dada
pela expressão:

onde ui e uj são as velocidades flutuantes nos pontos i e j, respectivamente. Observa-se


que para i igual a j a função correlação espacial resulta na equação da variância (Eq.
II.5).

A correlação espacial, no domínio da frequência, pode ser obtida através da


função densidade espectral cruzada de turbulência, cuja parte real é denominada
co-espectro cruzado, dada pela expressão (SIMIU e SCANLAN, 1996):

sendo a função de co-espectro normalizado, dada pela expressão:

(II.33)

onde:

(xi, yi, zi) e (xj, yj, zj) são as coordenadas dos pontos i e j, respectivamente;

zm – altura média entre os pontos i e j;

zref – altura de referência;

– velocidade média na altura de referência;

 – coeficiente igual a 0,3

Cx, Cy, Cz – Coeficientes de decaimento, obtidos experimentalmente. Na prática


são adotados valores conservadores para Cx, Cy e Cz iguais a 6, 16 e 10, respectivamente
(SIMIU e SCANLAN, 1996).

18
II.2.3 GERAÇÃO DE HISTÓRICOS DE FLUTUAÇÃO DE VENTO DE CICLONES

EXTRATROPICAIS

A resposta devida à ação do vento em estruturas de comportamento fracamente


não linear pode ser obtida superpondo-se a resposta estática não linear devido a força
média de vento à máxima resposta dinâmica para a força flutuante obtida através de
análise no domínio da frequência utilizando a função densidade espectral. Para
estruturas com não linearidade mais forte, entretanto, é necessário determinar a máxima
resposta dinâmica também no domínio do tempo.

O cálculo da resposta no domínio do tempo requer a geração de históricos de


vento correlacionados espacialmente. A duração de tais históricos precisa ser
suficientemente longa para que a variância da resposta calculada seja permanentemente
constante, para a qual a máxima resposta esperada pode ser obtida multiplicando o
desvio padrão da resposta pelo fator de pico. Em geral utiliza-se um intervalo de tempo
igual a 10 minutos.

Como histórias de velocidade de vento podem ser consideradas como processos


ergódicos, sua geração é simples, sendo apresentados a seguir métodos para simular tais
históricos.

II.2.3.1 GERAÇÃO DE HISTÓRICOS SIMPLES POR SÉRIE DE FOURIER (FS)

É possível expressar a componente de velocidade flutuante de vento u(t), em


qualquer instante t como (SHINOZUKA e JAN, 1972, apud BUCHHOLDT et al.,
1985):

onde Su(f) é o valor da função densidade espectral para a componente flutuante do vento
na frequência f, f = fi+1 – fi, e i é o ângulo de fase com a função de
distribuição uniforme de probabilidade que varia aleatoriamente entre 0 e 2.

A faixa de frequência da Equação (II.34), que foi dividida em n partes, deve


conter todas as frequências naturais significativas da estrutura e, ainda, para estruturas
com comportamento não linear o incremento de frequência f precisa ser pequeno, para
que sejam bem identificadas as amplitudes de resposta para as frequências naturais de
tais estruturas.

19
II.2.3.2 GERAÇÃO DE HISTÓRICOS PELO MÉTODO DA AUTO-REGRESSÃO (AR)

Outro método para gerar histórias simples de vento que apresentam


características semelhantes às do vento real é o método da auto-regressão (AR)
(BUCHHOLDT et al., 1985). É computacionalmente mais eficiente do que o método da
série de Fourier (FS). O método AR filtra um processo com distribuição gaussiana e o
transforma em um sinal com uma variância especificada. Matematicamente, o método
para transformação do processo pode ser expresso como:

u(t) = γ(B) . a(t) (II.35)

onde u(t) é o processo aleatório a ser gerado, a(t) é um processo gaussiano


qualquer com média zero e variância σa² e γ(B) é a função de transformação do filtro. O
processo a(t) pode ser expresso por:

a(t) = σNu . N(t) (II.36)

onde N(t) é um ruído branco com média zero e variância unitária. Substituindo a
expressão (II.36) por a(t) na Equação (II.35) tem-se:

u(t) = γ(B) . σNu . N(t) (II.37)

Assim o sinal inicial a(t) é transformado no histórico u(t) pelo filtro ou função
de transferência γ(B). Uma função adequada para modelagem do vento é chamada de
filtro auto-regressivo.

Em um processo, gerado por auto-regressão de ordem p, o valor instantâneo de


u(t) é expresso por um somatório linear finito de valores anteriores de u(t), somado a
um sinal aleatório com média zero e variância . A expressão para u(t) pode ser
escrita como:

onde s é um parâmetro auto-regressivo, N(t) é um sinal aleatório com média zero e


variância unitária, dada por:

20
Alternativamente, a Equação (II.38) pode ser escrita como:

onde Bs é um operador retroativo, o qual é definido por:

Bs u(t) = u(t + s.t) (II.41)

Resolvendo a Equação (II.40) com relação a u(t) tem-se:

Finalmente, comparando a Equação (II.42) com a Equação (II.37) tem-se a


seguinte expressão para o filtro auto-regressivo de ordem p.

II.2.3.3 GERAÇÃO DE HISTÓRICOS DE VENTO CORRELACIONADOS ESPACIALMENTE -


PROCEDIMENTO I (BUCHHOLDT, 1998)

A correlação entre duas velocidades flutuantes de vento em dois pontos é


expressa em termos da função de correlação cruzada e do espectro cruzado e devem
também ser incluídas na geração dos históricos de vento. A seguir é apresentado um
método, o qual é baseado numa análise de autovalores da matriz de correlação cruzada
R(0) (ver a Eq. II.31) e defasagem igual a zero.

Como dito anteriormente o vetor de velocidade de vento em um tempo t pode


ser considerado como consistindo de um componente estacionário (z), e a componente
flutuante u(z,t), conforme Equação (II.1).

O vetor que contém os históricos u(z,t) pode também ser expresso por D.v(z,t),
onde D é a matriz de correlação cujos elementos são obtidos da correlação cruzada dos
elementos em u(z,t) para defasagem τ = 0 e v(z,t) é o vetor de velocidade flutuante no
qual os históricos de flutuações não são correlacionados e podem ser modelados pelo
método da série de Fourier ou pelo método da auto-regressão. Assim, a Equação (II.1)
pode ser reescrita como:

21
U(z,t) = (z) + D.v(z,t) (II.44)

Os elementos da matriz D são determinados como se segue. Os elementos da


matriz de correlação cruzada R para defasagem nula podem ser obtidos através da
equação II.31, ou ainda pelas áreas sob os gráficos gerados através da expressão II.32.

A matriz de correlação é uma matriz quadrada simétrica na qual os elementos da


diagonal principal Rij = Ri² são as variâncias, e os elementos fora da diagonal são as
variâncias cruzadas do histórico em u(z,t). A seguir, os autovalores e os autovetores
normalizados de R são determinados, sendo a equação de autovalor dada por:

RX=λIX (II.45)

onde λ = { λ1, λ2, ... λn } é o vetor de autovalores e X = [X1, X2, ... Xn] é a matriz de
autovetores. Para normalizar um autovetor Xi, tem-se:

XiT I Xi = Li² (II.46)

O autovetor normalizado Zi é obtido dividindo-se todos os elementos em Xi por


Li. Assim:
Zi = Xi / Li (II.47)

ZiT I Zi = 1 (II.48)

Escrevendo a equação de autovalores em função do autovalor λi e o autovetor


normalizado Zi e pós-multiplicando ambos os termos por ZiT, tem-se:

ZiT R Zi = λi ZiT I Zi = λi (II.49)


consequentemente:
ZT R Z = λ (II.50)

R = Z-T λ Z-1 (II.51)

Como R é uma matriz positiva definida simétrica, Z-1 = ZT e Z-T = Z, daí:

R = Z λ ZT (II.52)

Assim os históricos de vento não correlacionados v(t) na Equação (II.42) são


gerados com espectros de potência tendo variâncias iguais a λ1, λ2, ... λn, então:

Das Equações (II.31) e (II.53) tem-se:

22
ou

consequentemente:

R = D λ DT (II.56)

Comparando as Equações (II.52) e (II.56) percebe-se que D = Z, assim:

U(z,t) = (z) + Z . v(z,t) (II.57)

onde os termos em v(t) são gerados com diferentes conjuntos de números aleatórios e
com variâncias λ1, λ2, ..., λn, que são os autovalores da matriz de correlação cruzada R.

II.2.3.4 GERAÇÃO DE HISTÓRICOS DE VENTO CORRELACIONADOS ESPACIALMENTE –


PROCEDIMENTO II (BUCHHOLDT ET AL., 1985)

Da mesma forma que o procedimento I, apresentado no item anterior, este


procedimento propõe a geração de históricos correlacionados espacialmente a partir de
um histórico simples previamente gerado. Os históricos correlacionados são gerados
pela expressão:

onde u(z,t) é o vetor de velocidades flutuantes a ser gerado, v(z,t) é o vetor de


velocidade flutuante no qual o histórico de flutuações não são correlacionados e podem
ser modelados pelo método da série de Fourier ou pelo método da auto-regressão e a
matriz C é a matriz de correlação cruzada normalizada.

A ideia básica do algoritmo proposto por (SOLARI e SPINELLI, 1984 apud


BUCHHOLDT et al., 1985) é impor que os termos fora da diagonal principal da matriz
de correlação cruzada normalizada gerem o histórico u(t) a partir do histórico v(t)
através da Equação (II.58).

23
Admite-se que a matriz C é uma matriz triangular inferior. Isso pode ser
mostrado, utilizando a matriz de correlação cruzada, através da relação e,
portanto, C pode ser calculado através da Fatorização de Choleski da matriz , ou
seja, através das expressões:

II.2.4 FORÇAS DEVIDAS AO VENTO ORIGINÁRIO DE TORMENTAS EPS

As forças de arrasto devidas à ação do vento são calculadas, de modo geral pela
expressão:

onde:

 é a massa específica do vento = 1,225kg/m³;


 é o coeficiente de arrasto da estrutura, ou parte da estrutura, da
direção em que está sendo considerada a ação do vento;
 é a área de referência, sobre a qual é calculada a força exercida pelo
vento, igual a área da projeção ortogonal da edificação, estrutura ou
elemento estrutural sobre um plano perpendicular à direção do vento
(área de sombra) (NBR6123, 1988);
 Urel é a velocidade de vento em relação à estrutura.

Além das forças de arrasto tem-se também outras duas componentes de força
resultante de vento sobre um corpo, forças de sustentação e lateral, definidas de modo
semelhante à força de arrasto (Eq. II.61) porém com os coeficientes de força de
sustentação e lateral.

De modo geral, a obtenção dos coeficientes de força é feita através de ensaios


onde são medidas as pressões e forças em um modelo; através da Equação (II.61)
obtêm-se o coeficiente de força a ser utilizado em corpos de características similares.

24
A NBR6123 (ABNT,1988) fornece alguns coeficientes de força, com diferentes
ângulos de incidência, para diferentes tipos de superfície como telhados, barras
prismáticas, fios e cabos, reticulados, superfícies planas, contudo para superfícies
diferenciadas se faz necessário ensaio em túnel de vento. Ainda para reticulados de
planos múltiplos a NBR6123 recomenda que as forças do vento nas partes protegidas
devam ser multiplicadas por um fator de proteção.

Para a estimativa de respostas extremas de estruturas de comportamento quase-


estático, realiza-se uma análise estática da estrutura sob ação de forças de vento
calculadas a partir da velocidade característica Uk dada pela expressão (NBR6123,
ABNT 1988):

Uk = Uo . S1 . S2 . S3 (II. 62)

A velocidade básica do vento Uo é a velocidade de uma rajada de 3s, excedida


em média uma vez a cada 50 anos, a 10m acima do terreno, em campo aberto e plano. A
NBR6123 (ABNT, 1988) apresenta o gráfico das isopletas (pontos de mesma
velocidade) da velocidade básica no Brasil, com intervalos de 5m/s. Contudo, a
NBR6123 ainda recomenda que, em caso de dúvida quanto à seleção da velocidade
básica e em obras de grande importância se faça um estudo específico para sua
determinação.

O fator S1, denominado fator topográfico, leva em consideração as características


do relevo onde está situada a edificação. O fator S2 considera o efeito combinado da
rugosidade do terreno, da variação da velocidade do vento com a altura acima do
terreno e das dimensões da edificação ou parte da edificação em consideração. O fator
S2 pode ser encarado como uma velocidade adimensional normalizada em Uo, sendo
função da altura acima do terreno, do comprimento de rugosidade zo, e do fator de
rajada.

Por fim, o fator S2, função da altura z acima do nível do terreno, é obtido pela
equação:

onde Fr é o fator de rajada, b e p são parâmetros que dependem da categoria do terreno


e da classe da edificação.

25
O fator S3, denominado fator estatístico, é baseado em conceitos estatísticos, e
considera o grau de segurança requerido e a vida útil da edificação.

Para a análise de estruturas de comportamento dinâmico sob a ação do vento, a


força de arrasto é decomposta nas duas parcelas, média e flutuante; assim a Equação
(II.61) aplicada apenas à direção longitudinal é reescrita na forma:

onde é a velocidade da estrutura na direção da força.

Assim, desprezando os termos quadráticos e cruzados em u e , tem-se:

ou ainda

onde:

é a força média, ou estática:

é a força flutuante, ou dinâmica:

é a força de amortecimento aerodinâmico:

Previamente à análise dinâmica realiza-se a análise estática na qual é aplicada a


força média, calculada com a velocidade média sobre o intervalo de 10 minutos.

II.2.5 FORÇAS DO VENTO EM CABOS CONDUTORES E PARA-RAIOS

Para projetos de torres e linhas de transmissão, existem no Brasil duas normas


para determinação das forças devidas à ação do vento: a NBR6123 – Forças devidas ao
vento em edificações (ABNT, 1988) e a NBR5422 – Projeto de linhas aéreas de
transmissão de energia elétrica (ABNT, 1985). As duas normas apresentam diferenças
quanto à definição de velocidade básica de vento e procedimentos de cálculo das forças
de vento nas componentes do sistema LTEE (torre, isoladores e cabos), algumas destas
discrepâncias foram mostradas por CARVALHO (2010) e KOELLER (2012). A seguir

26
serão descritos, de forma sucinta, os procedimentos para obtenção das forças devidas ao
vento em ambas as normas.

Segundo a NBR5422, a força horizontal gerada sobre os cabos em um vão de


comprimento L, aplicada perpendicularmente ao cabo no seu ponto de fixação a cada
suporte deste vão, é dada por:

 

onde:
q = pressão dinâmica de referência => ;
Ca = coeficiente de arrasto, igual a 1,0;
 = fator de efetividade, adimensional (Figura II.6);
d = diâmetro do circulo circunscrito da seção do fio ou cabo;
 = ângulo de incidência do vento (≤ 90°) em relação à direção do vão (Figura
II.8);
Urel = velocidade do vento em relação à estrutura calculada como a velocidade
resultante das velocidades média e flutuantes do vento e da velocidade da estrutura (ver
Figura II.7).

Figura II.6 – Fator de efetividade  (NBR 5422, ABNT 1988).

Segundo a NBR6123, a força gerada sobre os cabos em um vão de comprimento


L, aplicada perpendicularmente ao cabo, é dada por:

A Tabela II.4 apresenta os valores do coeficiente de arrasto Ca, onde r’ é o raio


dos fios ou cabos secundários da camada externa do cabo, d é o diâmetro do círculo

27
circunscrito da seção do cabo e l é o comprimento do cabo. O número de Reynolds Re é
dado pela expressão apresentada na primeira coluna da Tabela II.4, onde o diâmetro
dos cabos d é dado em metros e a velocidade característica Uk é a velocidade
característica dada em m/s.

Tabela II.4 – Coeficientes de arrasto, Ca, para fios e cabos com l/d >60
(NBR6123, 1988).

Para o caso de feixes de cabos, os afastamentos horizontal e vertical entre os


cabos interferem no comportamento dos cabos à sotavento, alterando os coeficientes de
arrasto e introduzindo força de sustentação média não nula. Valores de coeficientes para
algumas configurações podem ser encontrados em CAPELLARI (2005).

Comparando os dois procedimentos verifica-se que as forças resultantes


apresentam discrepâncias quanto ao coeficiente de arrasto do cabo, apresentando valor
constante na NBR5422 e sendo função do número de Reynolds na NBR6123. Outros
fatores divergentes são o fator de efetividade que considera a correlação espacial
dado na Figura II.6 e que na NBR6123 seria equivalente ao fator de rajada Fr dado no
Anexo A da norma, e também as velocidades de vento obtidas de forma distintas nas
duas normas.

Para os cabos serão consideradas as velocidades média , flutuante na direção


principal u, flutuante na direção vertical w e velocidades da estrutura , como
mostrado na figura II.7.

28
Figura II.7 – Forças atuantes nos cabos

Desprezando as forças de sustentação, devidas ao desprendimento de vórtices


(vibração eólica) e ao fenômeno de galope, resta apenas a força de arrasto atuante no
cabo, dada por:

II.2.6 FORÇAS DE VENTO EM TORRES TRELIÇADAS

Para determinar as forças de vento atuantes nas torres de suporte das linhas de
transmissão, a torre é decomposta em segmentos menores doravante denominados
paineis. Discretizada a estrutura calculam-se então as forças para cada painel
individualmente.

Da mesma forma que para os cabos, as normas NBR5422 (ABNT, 1985) e


NBR6123 (ABNT, 1988) apresentam procedimentos distintos para cálculo das forças
de vento. A seguir serão apresentados, de forma sucinta, os procedimentos para
determinação das forças de vento em torres treliçadas.

Segundo a NBR5422, para torres metálicas treliçadas de seção transversal


retangular, as forças devidas à ação do vento são dadas pela expressão:

  

onde:

Ae1, Ae2 = área líquida total de uma face projetada ortogonalmente sobre plano
vertical situado nas direções das faces 1 e 2, respectivamente (ver Figura II.8);

29
Ca1, Ca2 = coeficiente de arrasto próprio das faces 1 e 2, para o vento
perpendicular a cada face, dada no gráfico da Figura II.9, no qual já se consideram as
faces à sotavento e à barlavento;

Os outros parâmetros têm os mesmos significados já apresentados para a


Equação (II.67).

Figura II.8 – Ação do vento sobre um painel da torre (adaptado da NBR5422, ABNT
1985).

Figura II.9 – Coeficiente de arrasto para paineis de torres treliçadas (NBR5422, ABNT
1985).

Segundo a NBR6123 (ABNT, 1988), para reticulados planos múltiplos, como


são as faces à barlavento e a sotavento de torres, a força de arrasto é dada pela
expressão:

onde:

30
q = pressão dinâmica de referência => ;

Ae = área de obstrução da face do painel;

Ca = coeficiente de arrasto referente ao conjunto das faces de barlavento e


sotavento, dado pela seguinte expressão:

onde:
Ca1 = coeficiente de arrasto referente a uma das faces isolada do painel da torre,
função do índice de área exposta  do painel (Figura II.10), onde  é a relação entre a
área liquida (área de obstrução a passagem do vento) e a área bruta (área formada pelo
contorno do painel);

 = fator de proteção, função do índice de área exposta  do painel analisado e


do afastamento relativo entre as faces de sotavento e barlavento e/h (Figura II.11).

Figura II.10 - Coeficiente de arrasto, Ca1, para treliças planas formadas por barras
prismáticas de cantos vivos ou levemente arredondados (NBR 6123, ABNT 1988).

Para torres treliçadas de seção quadrada, segundo a NBR6123, o coeficiente de


arrasto Ca para vento incidindo com ângulo  em relação à perpendicular à face de
barlavento, é dado por:

 

onde:

 

 

31
A NBR6123 fornece ainda a Figura II.12 com os valores de coeficiente de
arrasto, para torres treliçadas constituídas por barras prismáticas de faces planas, com
cantos vivos ou levemente arredondados.

Figura II.11 - Fator de proteção, η, para duas ou mais treliças planas paralelas
igualmente afastadas (NBR 6123, ABNT 1988).

Figura II.12 – Coeficiente de arrasto, Ca, para torres treliçadas de seção quadrada e
triangular equilátera, formadas por barras prismáticas de cantos vivos ou levemente
arredondados (NBR 6123, ABNT 1988).

32
Comparando os procedimentos apresentados para as Normas NBR5422 (ABNT,
1985) e NBR6123 (ABNT, 1988) observam-se também algumas discrepâncias no
cálculo do coeficiente de arrasto. A Figura II.13 apresenta os coeficientes de arrasto
para paineis treliçados de seção quadrada calculados através da Equação (II.74) e das
Figuras II.10 e II.11 (afastamento relativo entre as faces e/h igual a 1,0), a mesma figura
apresenta ainda os coeficientes de arrasto mostrados na Figura II.12, também extraída
da NBR6123 (ABNT, 1988) e os coeficientes de arrasto apresentados na NBR5422
(ABNT, 1985).

Comparando os coeficientes de arrasto apresentados na Figura II.13, nota-se


uma boa correlação entre os valores apresentados na NBR5422 com os da NBR6123
obtidos diretamente da Figura II.12. Entretanto para os coeficientes calculados através
das Figuras II.10 e II.11, verifica-se que estes valores apresentam divergências entre os
valores apresentados na Norma NBR5422 (ABNT, 1985) e até mesmo com a própria
NBR6123 (ABNT, 1988) para os valores obtidos da Figura II.12.

RIPPEL (2005) realizou ensaios em túnel de vento para determinação dos


coeficientes de arrasto em alguns paineis típicos utilizados em torres de linhas de
transmissão, neste trabalho foi verificado que os coeficientes de arrasto apresentados
nas normas brasileiras não traduzem adequadamente os valores para a hipótese de
carregamento oblíquo, e verificou-se ainda que um único parâmetro adimensional
(razão entre área efetiva e área bruta) não é suficiente para estimar o carregamento sobre
a estrutura.

Como visto, as Normas NBR5422 e NBR6123 também apresentam diferenças


quanto ao cálculo das forças para diferentes ângulos de incidência. Na NBR6123 a
ponderação da força, para paineis de seção transversal quadrada de faces iguais, dá-se
pela multiplicação do coeficiente de arrasto do painel pelo fator k, enquanto que na
NBR5422 este fator já está implícito na expressão da força (Eq. II.72). A comparação
do efeito do ângulo de incidência da resultante da velocidade de vento foi feita pela
razão entre as expressões dadas nas duas normas, para tanto adotou-se um painel de
seção quadrada com faces iguais, considerando que os coeficientes de arrasto, as áreas
efetivas dos paineis e as velocidades de referência sejam iguais em ambas as expressões,
assim:

33

 



Coeficiente de Arrasto (NBR6123 X NBR5422)


4,0
3,8 NBR6123
3,6 (Figuras II.10 x II.11)
3,4 NBR6123
(Figura II.12)
3,2
Coeficiente de Arrasto

3,0 NBR5422
(Figura II.9)
2,8
2,6
2,4
2,2
2,0
1,8
1,6
0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0
Área liquida / Área Bruta
Figura II.13 – Coeficientes de arrasto para paineis treliçadas de seção quadrada segundo
as Normas NBR5422 e NBR6123.

A Figura II.14 mostra a variação da relação entre as forças geradas para as duas
normas em função do ângulo de incidência da velocidade resultante do vento. Nota-se
que as expressões apresentam uma boa correlação entre os valores.

° - ângulo em relação ao eixo da linha


90 75 60 45 30 15 0
1,20
1,15
1,10
F5422 / F6123

1,05
1,00
0,95
0,90
0,85
0,80
0 15 30 45 60 75 90
° - ângulo em relação à perpendicular à face de
barlavento

Figura II.14 – Variação da relação entre forças para as Normas NBR5422/85 e


NBR6123/88.

34
Para a torre serão consideradas as velocidades média , flutuante na direção
principal u e flutuante na direção transversal v, como mostrado na Figura II.15. Para a
velocidade resultante e seu ângulo de incidência  são calculadas as forças de arrasto e
sustentação. As parcelas de amortecimento aerodinâmico podem ser desprezadas.

Figura II.15 – Forças de arrasto atuantes na torre.

Assim, as forças de arrasto Fa e sustentação Fs e as componentes nas direções x e


y de força na torre Fx e Fy são dadas pelas equações:

 

 

35
CAPÍTULO III – TORMENTAS ELÉTRICAS -
DOWNBURSTS

III.1 BREVE DESCRIÇÃO DOS VENTOS DOWNBURST

As tormentas elétricas são conhecidas também com as designações de trovoadas


ou tormentas TS, e são caracterizadas por uma atmosfera verticalmente instável, ou seja,
com gradiente térmico vertical considerável. Este gradiente provoca um violento
movimento vertical de ar com formação de nuvens a grandes alturas.

As tormentas elétricas apresentam em seu desenvolvimento três estágios bem


definidos, conforme visto na Figura III.1 (BLESSMANN, 1995).

Figura III.1 – Estágios de uma tormenta elétrica (BLESSMANN, 1995).

No 1º estágio há a formação de uma nuvem cumulus, pela forte convecção de ar


quente e úmido até uma altura de cerca de 8 km, sendo a temperatura do ar circundante
menor que a do ar ascendente. Trata-se de um caso de equilíbrio instável da atmosfera:
o ar úmido continua subindo.

No 2º estágio ocorre a transformação da nuvem cumulus em uma


cumulonimbus, a uma altura de 12 km ou mais. As cumulonimbus apresentam a forma
de uma bigorna, sua base é formada por gotículas de água e nas zonas mais elevadas da
bigorna é formada principalmente por cristais de gelo. Neste estágio tem início a
precipitação das partículas de gelo, cuja intensidade de precipitação aumenta devido ao
resfriamento do ar que ocorre em função da queda desses elementos, havendo formação
de correntes descendentes pelo atrito dos elementos com o ar. Essas correntes

36
descendentes atingem o solo bruscamente e são acompanhadas de chuva torrencial. Este
estágio geralmente dura de 5 a 30 minutos.

No 3º estágio as correntes descendentes aumentam em área transversal e passam


a fazer parte de toda a nuvem. Não havendo mais ar quente e úmido a precipitação
acaba.

Os ventos downbursts se caracterizam pelo escoamento descendente de ar, como


um forte jato de ar que desce verticalmente. Quando este escoamento atinge o solo, o
jato converte-se em um escoamento radial, encabeçado por um vórtice ao redor do
downburst, formando um anel de vórtices (Figura III.2).

Figura III.2 - Escoamento característico de uma tormenta TS (adaptado de US


Department of Transportation, 1988)

As nuvens cumulonimbus podem ser transportadas pela circulação dos ventos da


região em que ela se encontra. Esse tipo de vento é chamado por muitos autores de
“vento de fundo” ou “vento ambiental”. Ele é modelado com a velocidade e a direção
constantes por toda região da tormenta elétrica.

O downburst foi definido por FUJITA (1985b, apud HOLMES e OLIVER,


1999) como “uma forte corrente de ar descendente que induz uma explosão de ventos
fortes sobre ou próximo ao solo”. O downburst apresenta duração de 2 a 10 minutos
(VICROY, 1991), e seu campo de velocidade é considerado como sendo axissimétrico,
onde o vetor velocidade é decomposto em dois: componente vertical e
componente radial , como mostrado na Figura III.3.

37
Figura III.3 – Componentes da velocidade do vento Downburst (adaptado de
CAPPELLARI, 2005).

O estudo do vento downburst é relativamente novo se comparado ao de ventos


de tormentas EPS; seu estudo teve início com os projetos NIMROD e JAWS, na década
de 1980, nos Estados Unidos com aplicação na aeronáutica (FUJITA, 1985a apud
DAMASCENO NETO, 2012).

Os primeiros modelos matemáticos desenvolvidos para o downburst


consideravam apenas a ação do jato de ar descendente e contínuo sobre uma superfície
plana. Estudos posteriores foram refinando mais os modelos com a implementação do
vento de fundo (HOLMES e OLIVER, 2000), decaimento ao longo do tempo da
intensidade do fenômeno (HOLMES e OLIVER, 2000), turbulência da velocidade
radial (CHEN e LETCHFORD, 2007). No Brasil, destacam-se os modelos propostos
por RIERA e ROCHA (1998) e PONTE JÚNIOR (2005) para descrição da velocidade
radial. DAMASCENO NETO (2012) apresenta uma descrição resumida dos principais
modelos encontrados na literatura.

A Figura III.4 (HJELMFELT, 1988) mostra um modelo típico de downburst


para a velocidade radial. Na Figura são mostrados os perfis vertical e radial de variação
da componente radial Vr da velocidade. Radialmente esta componente Vr apresenta uma
variação linear positiva (acréscimo) desde o centro da tormenta até atingir seu valor
máximo em rmax (aproximadamente 1,5km) e depois decai de forma exponencial até
2rmax (aproximadamente 3,0km). Verticalmente a velocidade radial apresenta um
acréscimo exponencial a partir do terreno (cota z=0) até zmax (aproximadamente 80m) e
depois decai suavemente até 4zmax.

38
A Figura III.5 mostra o modelo típico para a componente vertical Vz da
velocidade de vento em um downburst, apresentando os perfis radial e vertical de
variação de Vz (perfis baseados no modelo de VICROY (1992)). O perfil radial
apresenta sua intensidade máxima no centro do downburst (onde a velocidade radial é
nula) e decai até tornar-se nula quando a velocidade radial é máxima voltando a
aumentar novamente, contudo em sentido ascendente, devido à formação dos vórtices
radiais. O perfil vertical de velocidade vertical apresenta crescimento quase linear a
partir da superfície.

Figura III.4 – Perfis de velocidade radial de um downburst típico (adaptado de


HJELMFELT, 1988).

Figura III.5 – Perfis de velocidade vertical Vz de um downburst típico (adaptado de


HJELMFELT, 1988).
39
Para a engenharia estrutural, considerando a ação de um downburst em
estruturas altas como torres e edificações, somente há interesse na componente
horizontal . Já para elementos estruturais suspensos e leves, tais como cabos de linhas
de transmissão e coberturas, a componente vertical da velocidade de vento pode gerar
forças verticais importantes se o “olho” do downburst atinge estes elementos.

DAMASCENO NETO (2012) comparou os vários modelos de velocidade radial


para downbursts existentes na literatura com alguns resultados experimentais deste
fenômeno. Segundo este estudo, os modelos que apresentaram as melhores correlações
com dados experimentais foram os seguintes:

 Perfil radial de velocidade radial – Modelo de HOLMES e OLIVER (2000)


 Perfil vertical de velocidade radial – Modelo de WOOD e KWOK (1998)
 Componente flutuante da velocidade radial – Modelo de CHEN e
LETCHFORD (2007).

Neste trabalho será considerada também a componente vertical Vz do downburst,


para a qual será adotado o modelo proposto por VICROY (1992). A seguir serão
descritos, de forma sucinta, os modelos utilizados neste trabalho para simulação do
campo de velocidades do downburst.

III.2 MODELAGEM MATEMÁTICA DAS FORÇAS DE VENTO

III.2.1 VELOCIDADE RADIAL

III.2.1.1 PERFIL RADIAL DE VELOCIDADE RADIAL MÉDIA

HOLMES e OLIVER (2000) desenvolveram um modelo empírico para


representar o comportamento da componente radial da velocidade Vr na direção radial,
além do acréscimo do vento de fundo, ou vento de translação. A motivação veio das
frequentes falhas em torres de linhas de transmissão de energia elétrica de alta tensão no
leste australiano. Os citados autores também determinaram as dimensões físicas destes
eventos.

O modelo foi validado através de registros de downbursts registrados nos


programas NIMROD e JAWS (FUJITA, 1985a apud HOLMES E OLIVER, 2000) nos
Estados Unidos, os quais eram os mais completos sobre o assunto.

40
No modelo desenvolvido, dentro da região de estagnação, próximo ao centro do
downburst, a velocidade radial Vr aumenta aproximadamente de forma linear com o
incremento da distância radial ao ponto da estagnação até atingir a velocidade máxima,
Vr(z). Fora da região de estagnação, a velocidade radial decai de forma exponencial à
medida que se afasta do centro do downburst.

No modelo foi acrescentado também um decaimento da intensidade do


downburst ao longo do tempo, atribuindo um tempo característico de duração da
tormenta e uma função de decaimento exponencial. Assim o perfil radial da componente
Vr da velocidade é dado pelas expressões:

onde:

 é a velocidade radial a uma altura qualquer;


 é a velocidade radial máxima de ;
 é a distância radial a partir do centro da tormenta;
 é a distância na qual ocorre ;
 R é uma escala de comprimento radial;
 é o tempo medido a partir de quando o downburst está no pico de intensidade;
 é a duração característica da tormenta.

A Figura III.6 mostra o perfil radial de velocidade do vento dentro e fora da


região de estagnação, representado pelas equações III.1 e III.2, respectivamente.

A velocidade resultante no plano horizontal é a soma vetorial das velocidades


radial do downburst e a velocidade do vento de fundo . Holmes comparou as
previsões do modelo com os registros na Base da Força Aérea de Andrews, EUA
(Figura III.7). O registro do evento gravou um pico de velocidade de 67,0 m/s a 5,0
metros de altura. Em conclusão, verificou uma boa aproximação da simulação feita com
os registros experimentais.

41
1,2

1,0

V/Vmax 0,8

0,6

0,4

0,2

0,0
0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0
Região de r / Rmax
estagnação

Figura III.6 – Perfil radial de velocidade radial do vento downburst

Figura III.7 - Comparação da simulação. (a) Registro da velocidade e direção do vento


da BFAA. (Adaptado de (FUJITA, 1985c)); (b) Simulação de Holmes. (Adaptado de
(HOLMES e OLIVER, 2000)).

III.2.1.2 PERFIL VERTICAL DE VELOCIDADE RADIAL MÉDIA

WOOD e KWOK (1998) e WOOD et al. (2001) realizaram ensaios em túnel de


vento do Department of Civil Engineering da University of Sydney na Austrália para
simular as características dos ventos downburst e desenvolver uma expressão empírica
para o perfil vertical da velocidade radial.
A expressão empírica para o perfil vertical da velocidade radial, em superfície
plana, é dada pela expressão:

onde:
 é a altitude acima do solo (m);

42
 é a velocidade radial a uma altura ;
 é a máxima velocidade radial do downburst;
 é a altura onde a velocidade radial é igual a metade da velocidade radial

máxima

 é a função erro que é dada por:

A Figura III.8 mostra o perfil vertical de velocidade radial normalizado em


função da velocidade radial máxima de WOOD e KWOK.
5,0
4,5
4,0
3,5
Z / Z(vrmax)

3,0
2,5
2,0
1,5
1,0
0,5
0,0
0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2
Vr/Vrmax

Figura III.8 – Perfil vertical de velocidade radial de WOOD e KWOK (WOOD e


KWOK, 1998)

III.2.1.3 VELOCIDADE RADIAL FLUTUANTE

CHEN e LETCHFORD (2007) propuseram um modelo denominado NDESH


(Nonparametric deterministic-stochastic hybrid) para simular o campo de velocidades
de um downburst. O modelo foi desenvolvido a partir de dados experimentais de dois
eventos de downburst ocorridos em 4 e 15 de junho de 2002 no Texas, Estados Unidos,
denominados rear-flank downdraft (RFD) e derecho, respectivamente.

O modelo desenvolvido divide a velocidade radial em duas componentes, uma


média e outra flutuante. Para a parcela média verificou-se que os perfis de HOLMES e
OLIVER (2000) e de WOOD e KWOK (1998) se correlacionam bem para os perfis
radial e vertical da velocidade radial média, respectivamente.

43
A parcela flutuante u(z,t) é induzida pela turbulência e é função da intensidade
da velocidade radial média, por isso é tratada como um processo estocástico não
estacionário. Observou-se que a velocidade flutuante é aproximadamente proporcional à
velocidade média; desta maneira CHEN e LETCHFORD (2005) propuseram a seguinte
expressão para cálculo da velocidade flutuante.

onde é o desvio padrão variável e v(z,t) é o vetor de velocidade flutuante com


variância e desvio padrão unitários.

As velocidades flutuantes normalizadas podem ser geradas pelos métodos


apresentados anteriormente (ver os itens II.2.3.1 e II.2.3.2) para os quais CHEN e
LETCHFORD (2007) sugerem para geração o uso do espectro Su de Kaimal, dado pela
Equação (II.19). O desvio padrão variável pode ser obtido através da expressão
da intensidade de turbulência dada pela Equação (II.8):

onde VR é a velocidade resultante no plano horizontal.

CHEN e LETCHFORD (2007) verificaram que o modelo empírico para variação


ao longo da altura da intensidade de turbulência do vento tradicional de camada limite
(ventos oriundos de tormentas EPS), proposto no ASCE7-98 (ASCE, 1999) também se
aplica para downbursts.

onde é a intensidade de turbulência a 10m de altura. Para os eventos medidos


observou-se que assumiu os valores de 0,088 e 0,085 para o RFD e o derecho,
respectivamente (CHEN e LETCHFORD, 2005).

Dada a característica não-estacionária da flutuação de vento do downburst, o


espectro de potência (PSD) inicialmente utilizado para geração da flutuação passa a ser
um espectro de potência evolutivo (EPSD). Nota-se que, entre outros tipos de espectro
variáveis no tempo, o espectro de potência evolutivo (EPSD) tem a mesma interpretação
física que o espectro de potência de um processo estacionário, isto é, descreve a
distribuição de energia ao longo da frequência. No entanto, enquanto que o primeiro é

44
determinado pelo comportamento do processo durante todo o tempo, o último
representa especificamente o conteúdo espectral do processo na vizinhança de um dado
instante de tempo (CHEN e LETCHFORD, 2005).

As Figuras III.9 mostram os espectros de potência (PSD) utilizados para geração


da parcela flutuante de velocidade e os correspondentes EPSD gerados em alguns
pontos dos eventos RFD e derecho (CHEN e LETCHFORD, 2005). Três observações
são feitas pelos autores:

a) ambos eventos apresentam espectros de potência muito similares;


b) os espectros para diferentes alturas apresentam pouca variação;
c) o espectro von Karman-Harris não se correlaciona bem com nenhum dos
eventos.

Figura III.9 – PSDs de flutuação normalizadas para o RFD e o derecho juntos com o
espectro de von Karman-Harris com u =1 e Iu/U =3.5 (CHEN e LETCHFORD, 2005).

III.2.2 VELOCIDADE VERTICAL

O modelo da componente vertical de velocidade para o vento downburst a ser


utilizado é o modelo proposto por VICROY (1992). Este modelo foi desenvolvido a
partir do modelo de OSEGUERA e BOWLES (1988).

O modelo de OSEGUERA e BOWLES (1988) foi desenvolvido como um


modelo analítico simples de downburst para contribuir no estudo de ventos cisalhantes,
a fim de reduzir o risco de acidentes com aeronaves através da detecção no ar, aviso e
prevenção. Trata-se de um modelo axissimétrico e estacionário que usa funções de
forma que satisfazem a equações de continuidade de massa e simula os efeitos da
camada limite.

45
A velocidade vertical é dada pela expressão:

Vz (r,z)= g(r²) q(z) (III.8)

onde os perfis radial g(r²) e vertical q(z) da velocidade vertical de vento são dados pelas
expressões:

onde:

 são constantes do modelo;


 é o raio onde a velocidade radial máxima é atingida (m);
 é a altura em que o velocidade radial Vr máxima é atingida (m);
 é a coordenada radial (m);
 é a altitude acima do solo (m);
 é a componente vertical da velocidade numa coordenada radial a uma
altura ;
 é um fator de escala (s-1).

VICROY (1992) recomendou para as constantes do modelo os valores de


. O fator escala fica definido como:

onde é a máxima velocidade radial do downburst definida no item III.2.1.2.

As Figuras III.10 e III.11 mostram os perfis radial e vertical de variação da


velocidade vertical, respectivamente.

46
1,2
1,0
0,8
0,6
Vz / Vzmax 0,4
0,2
0,0
-0,2
-0,4
-0,6
-3,0 -2,0 -1,0 0,0 1,0 2,0 3,0
r / Rmax
Figura III.10 – Perfil radial da velocidade vertical g(r²)

4,0
3,5
3,0
2,5
z / zmax

2,0
1,5
1,0
0,5
0,0
0,0 1,0 2,0 3,0 4,0
Vz / Vz(zmax)

Figura III.11 – Perfil vertical da velocidade vertical q(z)

III.2.3 FORÇAS DEVIDAS AO VENTO ORIGINÁRIO DE DOWNBURSTS

As forças devidas à ação do vento são dadas, como dito anteriormente, pela
Equação (II.61). Inicialmente deve-se calcular a velocidade horizontal total VH
(velocidade radial média + velocidade radial flutuante + velocidade do vento de fundo),
ou simplesmente velocidade horizontal e a velocidade vertical Vz. Para tanto, se faz
necessário definir os dados característicos do fenômeno.

A velocidade radial média, em um ponto P(r,z), é obtida pelo produto dos perfis
radial Vr(r) (Eq. III.1 e III.2) e vertical Vr(z) (Eq. III.3) para os quais é necessário definir
o valor da velocidade máxima radial Vrmax, da distância em que esta ocorre rvmax, da
escala de comprimento radial R, do tempo característico de duração da tormenta T e da
47
altura onde a velocidade radial é igual a metade da velocidade radial máxima . A
velocidade radial flutuante é calculada pelo procedimento apresentado no item III.2.1.3
para o qual é necessário determinar a intensidade de turbulência a 10m de altura e
realizar a geração de um histórico de velocidades flutuantes com variância unitária. A
Tabela III.4 apresenta valores típicos para cálculo da velocidade radial.

Tabela III.4 – Valores típicos para cálculo da velocidade radial


Parâmetro Valor típico
Vrmax (1) 80 m/s
(1)
rvmax 1,5 km
R(1) 750 m
(1)
T 300 s
 (1)
400 m
Iu10(2) 0,088
(1) HJELMFELT, 1988, (2) CHEN E LETCHFORD, 2007

Para cálculo das forças devidas ao downburst em um ponto P (x,y,z) é necessário


antes decompor a velocidade radial Vr (média + flutuante) e a velocidade do vento de
fundo Vo em componentes ortogonais no plano horizontal em que o ponto está
localizado (Ver Figura III.12).

Figura III.12 – Componentes de velocidades geradas pelo downburst no plano XY. Vo é


o vento de fundo e Vr é a componente radial da velocidade de vento do downburst.

A componente vertical da velocidade de vento do downburst é obtida pelo


produto dos perfis radial g(r²) e vertical q(z) de velocidade vertical dados pelas
expressões (III.9) e (III.10). Da mesma forma que a velocidade radial, é necessário
definir alguns dados do fenômeno, entretanto, todos já definidos para velocidade radial.

48
As forças atuantes na estrutura são obtidas de forma similar ao caso de vento
EPS, como mostrado nas Figuras III.13 e III.14 que ilustram as velocidades e
correspondentes forças de arrasto geradas pelo downburst, respectivamente, nos cabos e
na torre.

Assim, as forças de arrasto atuantes no cabo Fx e Fz são dadas pelas Equações


(II.69), (II.70) e (II.71) e as forças de arrasto atuantes na torre Fx e Fy são dadas pelas
Equações (II.77) a (II.80).

Figura III.13 – Velocidades e forças atuantes nos cabos. Vo é o vento de fundo, Vr é a


componente radial da velocidade de vento do downburst e são as velocidades da
estrutura nas direções longitudinal e vertical, respectivamente.

Figura III.14 – Velocidades e forças atuantes na torre. Vo é o vento de fundo e Vr é a


componente radial da velocidade de vento do downburst.

49
CAPÍTULO IV - IMPLEMENTAÇÃO COMPUTACIONAL

Este capítulo apresenta uma breve descrição do programa computacional


utilizado e um conjunto de resultados gerados com a finalidade de testar e validar o
programa para exemplos simples tais como os modelos de uma chaminé de grande
altura (180m) e de um cabo de LTEE isolado de grande vão (1000m) sob ações de vento
EPS e downbursts. Apresentam-se também resultados de geração dos campos de
velocidade de vento e análise em termos de correlação espacial.

IV.1 PROGRAMA COMPUTACIONAL VESFEM

Para realização das análises estruturais dos modelos computacionais criados será
utilizado o programa VESFEM, desenvolvido em trabalhos anteriores da COPPE
(PFEIL, 1993 e RODRIGUES, 2004). O programa VESFEM foi desenvolvido em
linguagem FORTRAN utilizando uma linguagem de macro-instruções, cada qual
associada a um conjunto de subprogramas compactos destinados a realizar uma ou mais
tarefas no processo de solução pelo MEF (RODRIGUES, 2004).

A entrada de dados do programa é feita por meio de arquivos de texto simples. O


arquivo de entrada de dados gerais é montado pelo usuário e deve apresentar todos os
parâmetros no modelo estrutural como coordenadas dos nós, elementos com suas
conectividades, características dos materiais que compõem os elementos, condições de
contorno, forças e massas concentradas, divisão da estrutura em faixas para geração
automática dos históricos de vento, etc.

A saída de dados também é feita através de arquivos de texto nos quais são
impressos os dados de entrada para simples conferência, os resultados finais das
análises realizadas do modelo estrutural, além de resultados ao longo do tempo para
deslocamentos, acelerações e esforços em pontos previamente estabelecidos no arquivo
de entrada. O programa fornece ainda arquivos de saída com a geometria do modelo
computacional, os quais podem ser visualizados através do programa VIEW3d®, para as
condições indeformada e deformada e para os modos de vibração adotados na solução
dinâmica.

A análise estrutural no programa VESFEM pode ser feita de três maneiras;


estática, dinâmica linear e dinâmica não linear, brevemente descritas a seguir.

50
A análise estática consiste numa análise não linear geométrica da estrutura sob
ação de forças de vento que são calculadas para a velocidade média de vento com o
intervalo de integração tomado de acordo com o Anexo A da NBR6123, obtido a partir
da maior dimensão transversal da edificação e da categoria em que a mesma está situada
(ver o item II.3.1.b).

A análise dinâmica linear é precedida da análise estática não linear de que trata o
item anterior, contudo utilizando a velocidade média do vento para 10 minutos. Na
análise dinâmica, portanto, a estrutura da torre e os cabos já estão submetidos a tensões
iniciais decorrentes da aplicação da parcela constante do vento à estrutura e das cargas
permanentes. As respostas dinâmicas da estrutura são obtidas por superposição modal,
ou seja, pelo somatório das contribuições de cada modo de vibração para uma
determinada grandeza (deslocamento, aceleração, esforços).

A análise dinâmica não linear apresenta as mesmas características que a análise


dinâmica linear, exceto pela consideração da não linearidade geométrica nos elementos
também ao longo do tempo. As respostas dinâmicas são obtidas através do algoritmo de
integração direta de Newmark.

No programa VESFEM já estava implementado o campo de velocidades de


tormentas EPS, para o qual utiliza-se a lei exponencial para o perfil de velocidades
médias, o método da auto-regressão para geração dos históricos simples de velocidades
flutuantes com o espectro de Harris e o Procedimento II (BUCHHOLDT et al., 1985)
para geração dos históricos correlacionados espacialmente.

Neste trabalho foram desenvolvidos novos procedimentos no programa


VESFEM, apresentados a seguir:
a) rotina para cálculo dos parâmetros b, p e Fr segundo o Anexo A da
norma NBR6123 (ABNT, 1988), utilizados no cálculo dos perfis de
velocidade de ventos EPS (Item II.2.1b);
b) geração de campo de velocidades de vento correlacionadas pelo
Procedimento I (Item II.2.3.3);
c) rotina para geração do campo de velocidades de um downburst e cálculo
das correspondentes forças de vento, adotando o perfil de HOLMES e
OLIVER (2000) (Eqs. III.1 e III.2) e o perfil de WOOD e KWOK (1998)
(Eq. III.3) para os perfis radial e vertical de velocidade radial média,

51
respectivamente, e para a componente flutuante da velocidade radial foi
utilizado o modelo proposto por CHEN e LETCHFORD (2007) (Item
III.2.1.3). Por fim, para a componente vertical do downburst foi adotado
o modelo de VICROY (1992) (Item III.2.2);
d) procedimento para análises dinâmica linear e dinâmica não linear sob
ação de vento downburst;
e) procedimento para análise estática sob ação de vento downburst.

A análise estrutural utilizando o vento downburst é realizada atribuindo um


ponto de origem para a tormenta e fazendo-a percorrer no plano horizontal em função
da velocidade do vento de fundo e do seu ângulo de deslocamento. Em cada instante de
tempo, ou seja, para cada nova posição, são calculadas e aplicadas à estrutura as forças
radiais e verticais, gerando assim, as respectivas respostas no modelo estrutural
(deslocamentos, velocidades, acelerações e esforços).

A análise dinâmica, seja ela linear ou não linear, considera as condições


elásticas, cinemáticas e inerciais da estrutura obtidas no instante de tempo anterior,
assim para cada instante de tempo t, a resposta obtida é diretamente influenciada por
estas condições iniciais. Entretanto, DAMASCENO NETO (2012) verificou, em um
determinado exemplo numérico, que nem a componente flutuante da velocidade radial,
nem tampouco a velocidade radial média, que apresenta período de excitação muito
longo, geraram uma amplificação dinâmica significativa.

Por esta razão, para os modelos numéricos apresentados neste trabalho, serão
realizadas análises dinâmicas, conforme descrito anteriormente e ainda será feita uma
análise estática, na qual é feita uma varredura de todas as posições possíveis do
fenômeno e para cada posição são calculadas as correspondentes velocidades de vento
do downburst que geram as forças sobre a estrutura. Para este tipo de análise, as forças
aplicadas na estrutura correspondem a uma condição crítica, caracterizada pela posição
da tormenta em que a velocidade radial atinge seu valor máximo em um determinado nó
de referência do modelo (atribuído no arquivo de entrada). Da mesma forma que para a
análise com ventos originados de tormentas EPS, a análise estática é não linear
geométrica.

52
IV.2 TORMENTAS EPS

IV.2.1 ESPECTROS DE ENERGIA DE VENTO NAS DIREÇÕES LONGITUDINAL,

TRANSVERSAL E VERTICAL DA VELOCIDADE DE VENTO

Os espectros de velocidades flutuantes usados no programa VESFEM


apresentam-se na forma da Equação II.30; assim o espectro desejado é criado a partir
dos parâmetros apresentados na Tabela II.3. Foram implementados no programa
VESFEM os parâmetros dos espectros da componente longitudinal de Davenport,
ESDU e Kaimal, além dos parâmetros dos espectros das direções transversal e vertical
para os espectros ESDU e Kaimal. A Figura IV.1 mostra históricos gerados para um
ponto situado a 10m de altura em terreno de categoria II, com velocidade básica igual a
40,0 m/s, com os espectros de Harris, Davenport, ESDU e Kaimal e a Figura IV.2
mostra para o mesmo ponto as três componentes de flutuação geradas com o espectro
ESDU.

Figura IV.1 – Históricos de velocidade de vento, da componente longitudinal u, gerados


com diferentes espectros no programa VESFEM.

Calculando as variâncias dos históricos apresentados na Figura IV.1 têm-se os


valores de 33,8, 29,8, 30,3 e 28,4 para os espectros de Harris, Davenport, ESDU e
Kaimal, respectivamente. Para os históricos apresentados na Figura IV.2 as intensidades
de turbulência (Eq. II.8) apresentam os valores de 0,199, 0,134 e 0,087 correspondentes
às variâncias de 30,3, 13,6 e 5,7 para as componentes u, v, w do espectro ESDU,
53
respectivamente. As variâncias calculadas em todos os históricos correspondem, com
grande aproximação, às impostas no processo de geração (ver Tabela II.3), assim como
as relações entre as intensidades de turbulência das componentes de flutuação, conforme
equações (II.6) e (II.8).

Figura IV.2 – Históricos de velocidade de vento gerados no programa VESFEM com o


espectro ESDU das componentes u, v e w.

Por fim, aplicando a transformada de Fourier às funções de autocorrelação dos


históricos gerados deve-se obter novamente o correspondente espectro utilizado para
geração dos históricos (BLESSMANN, 1995). A Figura IV.3 apresenta as funções
densidade espectral normalizadas dos históricos de flutuação longitudinal gerados com
os espectros de Harris e ESDU, obtidos a partir da transformada de Fourier e as funções
utilizadas para geração (Eqs. II.1 e II.16). Verifica-se que as transformadas de Fourier
apresentam boa correlação com os espectros originais.

0,40
ESDU
0,35 FFT autocorrelação
0,30 Harris
0,25 FFT autocorrelação
f . S(f) / ²

0,20 ESDU
(Eq. II.16)
0,15
0,10
0,05
0,00
0,01 0,1 1 10
f (Hz)
Figura IV.3 – Função densidade espectral para os históricos gerados com os espectros
de Harris e ESDU.
54
IV.2.2 GERAÇÃO DE HISTÓRICOS DE VENTO CORRELACIONADOS

O modelo estrutural é decomposto em subespaços, longitudinal, lateral e


vertical, cujos comprimentos não devem exceder as dimensões das escalas de
turbulência de forma que haja uma transição suave entre as componentes dos históricos
de velocidade flutuante em subespaços vizinhos. Considerando a incidência do vento
transversalmente à linha de transmissão, as dimensões estruturais de um sistema torre-
linha na direção do vento são muito inferiores ao comprimento da escala de turbulência
longitudinal L11 (direção da velocidade média do vento). Assim, o modelo estrutural é
subdivido apenas lateral e verticalmente formando as “faixas” de vento.

Os históricos são gerados para o ponto central de cada faixa de vento


considerada, calculado pela média das coordenadas de todos os nós pertencentes à faixa.
A geração dos históricos é feita para a configuração deformada da estrutura sob ação
das forças de vento devidas à velocidade média e das cargas permanentes; assim a
geração é feita somente após a análise estática não-linear prévia.

Para a geração dos históricos correlacionados, conforme Procedimento I


(BUCHHOLDT, 1998), calcula-se a matriz de correlação cruzada R, e utilizando o
algoritmo de Jacobi são obtidos os autovetores e autovalores de R.

Os históricos não correlacionados, para cada faixa, são então gerados com
variâncias iguais aos autovalores obtidos da matriz de correlação cruzada e, por fim, são
gerados os históricos correlacionados espacialmente utilizando os autovetores
normalizados da matriz de correlação cruzada, conforme item II.3.3.3. A Figura IV.4
apresenta históricos da componente longitudinal, somados a velocidade média, gerados
com os espectros de Harris para pontos situados a 10, 50 e 100 metros de altura em
terreno de categoria II e velocidade básica igual a 40m/s.

Para avaliação da escala de turbulência transversal do vento L12 da componente


flutuante u, para as metodologias apresentadas, foram gerados históricos em pontos
igualmente distribuídos ao longo da direção transversal do vento (Figura IV.5), para
diferentes alturas. A escala espacial é definida como a área sob a respectiva curva de
correlação cruzada normalizada (BLESSMANN, 1995).

55
Figura IV.4 – Velocidades de vento correlacionadas geradas com Procedimento I
utilizando o espectro de Harris

Figura IV.5 – Esquema para cálculo das escalas de turbulência

A Figura IV.6 apresenta as curvas de correlação cruzada Ruiuj (Eq. II.31)


normalizada em relação à variância para os históricos gerados com os procedimentos
I e II para a altura de 60m utilizando para o coeficiente de decaimento Cy o valor de 16 e
a Figura IV.7 compara os valores de escala de turbulência L12 obtidos para os
procedimentos apresentados com a curva em linha cheia de regressão linear apresentada
por MIGUEL et al. (2009) obtida a partir de dados experimentais apresentados por
BLESSMANN (1995), a qual é válida para alturas de até 60m. Esta curva foi estendida
(com linha tracejada) para permitir uma comparação aos resultados numéricos aqui
obtidos.

56
Figura IV.6 – Curvas de correlação cruzada normalizada dos históricos gerados com os
procedimentos I e II para z = 60m

200
180
Escala de Turbulência (m)

160
140
120
100
80 Procedimento I
(Buchholdt, 1999)
60 Procedimento II
40 (Buchholdt, 1985)
Miguel et al
20
(2009)
0
0 20 40 60 80 100 120
Altura (m)
Figura IV.7 – Escalas espaciais de turbulência L12 obtidas da geração de históricos de
velocidade de vento com os procedimentos I e II

Analisando a Figura IV.6 observa-se que ambas as metodologias apresentam o


comportamento esperado para a curva de correlação cruzada, reduzindo as correlações a
medida que aumenta a distância entre os históricos. Na Figura IV.7 percebe-se que
ambas as metodologias apresentam boa correlação com a curva apresentada por
MIGUEL et al. (2009) na faixa entre 40 e 80m de altura e que para maiores alturas (z >
60m) o procedimento I apresenta valores de comprimentos de correlação L12 maiores do
que os do procedimento II.

57
IV.3 DOWNBURST

IV.3.1 VELOCIDADES HORIZONTAIS

As velocidades horizontais de vento geradas pelo downburst são compostas pela


velocidade radial média, velocidade radial flutuante e pela velocidade do vento de
fundo, conforme visto no item III.2.3.
Para cálculo da velocidade radial média calcula-se a distância entre o ponto
analisado e o centro do downburst através das coordenadas cartesianas dos pontos e
com os parâmetros do fenômeno previamente definidos utilizam-se as expressões de
perfil radial e vertical de velocidade radial (Eqs III.1, III.2 e III.3). A velocidade radial
flutuante é diretamente proporcional à intensidade de turbulência adotada e à velocidade
radial média (Eqs. III.5 e III.6) enquanto a velocidade do vento de fundo é considerada
constante ao longo do tempo e em cada altura e está diretamente relacionada ao
deslocamento do downburst.

IV.3.2 VELOCIDADE VERTICAL

A componente vertical da velocidade de vento do downburst é obtida pelas


expressões propostas por VICROY (1992) para as quais são adotados parâmetros iguais
aos estabelecidos para as velocidades radiais. A componente vertical foi considerada
para avaliação da importância sobre os elementos da linha de transmissão, haja visto a
extensão dos cabos e altura em que estão localizados.

IV.3.3 RESULTADOS EM TERMOS DE CAMPOS DE VELOCIDADES

HOLMES e OLIVER (2000) fizeram uma simulação para reproduzir a


velocidade média variável do registro de velocidades de vento do anemômetro na Base
da Força Aérea de Andrews (BFAA) mostrado na Figura III.7a (FUJITA, 1985c), e
através de tentativas e erro, encontraram alguns parâmetros para caracterização do
downburst, sejam eles: distância onde ocorre a velocidade máxima rmax igual a 1000m,
distância ao “anel de alta pressão” R igual a 700m, velocidade do vento de fundo Vo
igual a 12m/s e distância transversal do downburst em relação ao ponto de análise igual
a 150m.

Para validação, utilizou-se o campo de velocidades implementado no VESFEM


para obtenção dos resultados simulados por HOLMES e OLIVER (2000). Os demais
58
parâmetros para geração do campo utilizado são a velocidade máxima radial ,
altura onde a velocidade radial é igual a metade da máxima e duração caraterística da
tormenta T, para os quais foram adotados os valores de 80m/s, 400m e 1000s,
respectivamente (DAMASCENO NETO, 2012).

A Figura IV.8 apresenta uma comparação entre o resultado obtido por HOLMES
e OLIVER (2000) e o obtido no programa VESFEM, a qual mostra que os resultados
gerados no VESFEM são satisfatórios.

(a) (b)
Figura IV.8 – Validação com a reprodução do registro da BFAA por HOLMES e
OLIVER (2000). (a) Reprodução do registro da BFAA (adaptado de HOLMES e
OLIVER, 2000); (b) Reprodução dos resultados obtidos no VESFEM.

As Figuras IV.9 mostram as componentes de velocidades radiais médias e


verticais geradas no VESFEM para diferentes distâncias radiais a partir do centro do
downburst (r = 0) e as Figuras IV.10 mostram as componentes de velocidades radiais
médias e verticais para diferentes alturas a partir do nível do terreno (z = 0).
Para geração das velocidades mostradas nas Figuras IV.9 e IV.10 foram
adotados velocidade máxima radial , altura onde ocorre ,
distância radial onde ocorre , , fator de escala
R=750m, e duração característica da tormenta T = 300s.
Como pode ser visto nas Figuras IV.9 e IV.10, para menores alturas z acima do
terreno de interesse das estruturas civis em geral, menores que 200m, a intensidade das
velocidades radiais é preponderante em relação às velocidades verticais, exceto para
uma pequena região próxima ao centro do downburst (r < 400m). Inversamente, para
grandes altitudes as velocidades verticais tornam-se mais significativas, enquanto que as
velocidades radiais diminuem.

59
90
80 Z=40m
Z=80m

Velocidade Radial (m/s)


70 Z=200m
60 Z=400m
Z=600m
50 Z=800m
40
30
20
10
0
0 500 1000 1500 2000 2500 3000
Distância radial (m)
(a)
40

20
Velocidade Vertical (m/s)

-20
Z=40m
Z=80m
-40
Z=200m
Z=400m
-60 Z=600m
Z=1000m
-80
0 500 1000 1500 2000 2500 3000
Distância radial (m)

(b)
Figura IV.9 – Variação radial das velocidades do modelo de downburst geradas no
programa VESFEM para diferentes alturas (a) Velocidade radial média (b) Velocidade
vertical.

A intensidade de turbulência para cálculo das velocidades flutuantes do


downburst, segundo CHEN e LETCHFORD (2004), apresenta o valor entre 0,08 e 0,11
a 10 metros de altura sendo variável com a altura de acordo com a Equação (III.7),
entretanto CHAY et al. (2006) e WANG e QU (2009) sugerem o valor constante ao
longo da altura de 0,25.
A Figura IV.11 apresenta históricos da velocidade radial Vr para o mesmo
campo de velocidades do downburst descrito anteriormente, na altura onde ocorre a
velocidade radial máxima (z = 80m). O histórico de velocidades flutuantes u foi gerado
com desvio padrão unitário, utilizando o espectro de Kaimal (Eq. II.19), através do
método auto-regressivo com intervalo de tempo igual a 0,1s. Foram adotadas
intensidades de turbulência a 10m de altura iguais a 0,08, 0,15 e 0,25, variáveis com

60
a altura conforme Eq. (III.7), resultando em intensidades de turbulência iguais a 0,057,
0,106 e 0,177, respectivamente, a 80m de altura.

500 500
r=500m
r=1000m
450 450
r=1500m
r=2000m
400 r=2500m 400
r=3000m
350 350

300 300
Altura (m)

Altura (m)
250 250

200 200

150 150
r=500m
r=1000m
100 100
r=1500m
r=2000m
50 50 r=2500m
r=3000m
0 0
0 20 40 60 80 100 -60 -40 -20 0 20 40
Velocidade Radial (m/s) Velocidade Vertical (m/s)

(a) (b)
Figura IV.10 – Variação vertical das velocidades para downburst geradas no programa
VESFEM para diferentes distâncias radiais (a) Velocidade radial média
(b) Velocidade vertical.

Figura IV.11 – Velocidades flutuantes u e velocidades radiais VR geradas no VESFEM

61
IV.4 EXEMPLO NUMÉRICO – CHAMINÉ NBR6123 SOB AÇÃO DE VENTO ORIGINADO
DE TORMENTA EPS

IV.4.1 APRESENTAÇÃO DO EXEMPLO

Utiliza-se o exemplo de uma estrutura de chaminé de 180m de altura para


comparar os resultados das análises no domínio do tempo com os dois procedimentos de
geração de sinais correlacionados de velocidade de vento EPS ao resultado de uma
análise no domínio da frequência.

Para análise no domínio do tempo, a geração dos históricos de velocidades


flutuantes correlacionadas para vento EPS, bem como as análises, foram realizadas no
programa VESFEM para os dois procedimentos apresentados neste trabalho. Os
históricos foram gerados com o espectro de Kaimal (Eq. II.19).

O programa utilizado nas análises no domínio da frequência é o programa


ANEST (BATTISTA et al., 2000), desenvolvido em linguagem FORTRAN, e que a
priori realiza análises estáticas de estruturas reticuladas utilizando o método dos
elementos finitos. Este programa foi utilizado ao longo do curso de Mestrado nas
disciplinas de Análise Estrutural, Dinâmica Estrutural e Aerodinâmica e
Aeroelasticidade, durante as quais foram implementados no programa: análise estática
não-linear geométrica, análise de vibrações livres e análises dinâmicas nos domínios do
tempo e no domínio da frequência para ação de vento EPS.

A estrutura a ser utilizada trata-se da chaminé de concreto armado, apresentada


no anexo I da NBR6123 (ABNT, 1988), a qual apresenta seção transversal circular com
diâmetro e espessura variáveis ao longo da sua altura de 180m (Figura IV.12a). A
Figura IV.12b mostra o modelo em elementos finitos, a ser utilizado nas análises
posteriores.

A estrutura apresenta comportamento linear sob ação do vento, assim pode-se


realizar análise estática prévia para as forças geradas da velocidade média, e posteriores
análises dinâmicas nos domínios do tempo e/ou frequência para as forças dinâmicas
devidas à velocidade flutuante do vento. As propriedades geométricas dos elementos
estão indicadas na Tabela IV.1 e adotou-se o módulo de elasticidade do material E igual
a 28x106kN/m².

62
Figura IV.12 - (a) Elevação da chaminé; (b) Modelo da chaminé. (CARDOSO
JÚNIOR, 2011)

Analisando a estrutura em vibração livre, obteve-se para os três primeiros modos


de vibração, respectivamente, as frequências de 0,26, 0,95 e 2,21Hz; embora o segundo
e terceiro modos possam gerar alguma resposta dinâmica para ação do vento, estas são
irrisórias em comparação ao modo fundamental, por esta razão este será o único
considerado. Adotou-se uma taxa de amortecimento estrutural ξest igual a 1,0%, sendo
avaliado também o efeito do amortecimento aerodinâmico aer.

Tabela IV.1 – Propriedades geométricas dos elementos do modelo estrutural


Diâmetro Espessura Momento Área Seção Momento
z
Elemento externo da parede de inércia Transversal de Inércia
(m)
(m) (m) (m4) (m2) (m4)
1 0 - 20 9,56 0,60 170,25 16,89 170,25
2 20 - 40 8,97 0,60 138,87 15,78 138,87
3 40 - 60 8,35 0,48 92,22 11,87 92,22
4 60 - 75 7,81 0,35 57,19 8,20 57,19
5 75 - 90 7,34 0,25 35,03 5,57 35,03
6 90 - 105 6,89 0,22 25,66 4,61 25,66
7 105 - 120 6,43 0,20 19,01 3,91 19,01
8 120 - 135 5,98 0,17 13,10 3,10 13,10
9 135- 150 5,61 0,17 10,76 2,90 10,76
10 150 - 165 5,27 0,17 8,87 2,72 8,87
11 165 - 180 4,92 0,17 7,16 2,54 7,16

Os dados associados aos nós do modelo para cálculo das forças oriundas do
vento, nas análises estática e dinâmica, bem como os componentes do autovetor

63
associados aos graus de liberdade da direção do vento e massas dos elementos
aplicadas de forma concentrada, estão apresentados na Tabela IV.2. O coeficiente de
arrasto Ca foi obtido segundo o número de Reynolds e a rugosidade da superfície da
chaminé resultando igual a 0,6 para toda ela.

Para as análises foram adotados os valores de 40 m/s para a velocidade básica do


vento Uo, 1,0 para os fatores topográfico S1 e probabilístico S3 e considerou-se que a
estrutura está situada em um terreno com categoria de rugosidade III da NBR6123
(ABNT, 1988).

A análise estática é realizada com a velocidade média em 10 minutos, dada


por:
(IV.1)

onde os parâmetros Fr=0,69 e b=0,86 efetuam as correções da velocidade característica


Uk, respectivamente, em relação ao tempo da média (de 3s para 600s) e à categoria do
terreno (de II para III) dados no Anexo A da NBR 6123 (ABNT, 1988).

Tabela IV.2 – Dados associados aos nós do modelo adotado. i é o autovetor associado
ao primeiro modo de flexão; mi é a massa concentrada no nó i; Ai é a área exposta
associada ao nó i.
zi mi Ai
Nó i
(m) (t) (m²)
1 20 0,010 1254,0 282,5
2 40 0,036 750,0 173,2
3 60 0,083 463,8 141,4
4 75 0,135 292,5 114,0
5 90 0,204 232,5 107,2
6 105 0,295 195,0 99,9
7 120 0,407 174,4 93,0
8 135 0,538 163,1 86,9
9 150 0,685 153,7 81,6
10 165 0,840 146,2 76,4
11 180 1,000 70,9 36,3

Assim, utilizando a lei potencial para cálculo das velocidades características e


correspondentes velocidades médias são calculadas as forças equivalentes-estáticas
geradas para as quais se verifica um deslocamento no topo da chaminé igual a 17,6cm.

64
IV.4.2 SOLUÇÃO NO DOMÍNIO DA FREQUÊNCIA

A jésima equação modal da estrutura discretizada (Figura IV.13) no domínio da


frequência é dada por (CLOUGH e PENZIEN, 1995):

onde, é o espectro de força modal, é a função da densidade espectral de

a(t), sendo esta calculada a partir da função de admitância mecânica , dada por:

Para forças aplicadas em vários nós, de uma estrutura discretizada em n nós, o


espectro de forças modais é dado pela expressão:

onde Uk e Ul, Cak e Cal , Ak e Al, Suk e Sul e são as velocidades médias,
coeficientes de arrasto, áreas frontais dos painéis, espectros de turbulência e a
componente na direção x do autovetor associado ao modo j dos nós k e l,
respectivamente. A função de co-espectro normalizado é dada pela Eq. II.33.

Nesta solução numérica o cálculo da variância da amplitude aj é feita por


integração numérica de Sa,j em relação à frequência f.

A variância de um deslocamento x qualquer para m modos é dada por


(CLOUGH e PENZIEN, 1995):



65
Figura IV.13 – (a) estrutura discretizada em n nós; (b) forma modal j (CARDOSO
JÚNIOR, 2011).

Para a chaminé descrita anteriormente, a solução no domínio da frequência, com


e sem amortecimento aerodinâmico, utilizando o espectro de Kaimal, coeficiente de
decaimento Cz igual a 10, forneceu os espectros de deslocamento no topo mostrados na
Figura IV.14. Calculando a área sob cada curva de espectro chega-se à variância da
resposta cuja raiz quadrada fornece o desvio padrão, iguais a 9,89cm e 11,56cm, para as
soluções com e sem amortecimento aerodinâmico, respectivamente.

1,6
s/ amort.
1,4
Aerodinâmico
1,2
Deslocamento (m)

c/ amort.
Aerodinâmico
1,0

0,8

0,6

0,4

0,2

0,0
0,001 0,01 0,1 1
Frequência (Hz)

Figura IV.14 - Espectros de deslocamento no topo da chaminé de acordo com a solução


no domínio da frequência com e sem amortecimento aerodinâmico.

A resposta máxima esperada é obtida pelas expressões (DAVENPORT, 1961):

66
onde é o deslocamento devido a força média, g é um fator de pico, fj é a frequência do
modo de vibração da resposta e T é o intervalo de tempo da estimativa.

Assim, considerando o intervalo de tempo da estimativa igual a 600s, tem-se


para o modo fundamental, o fator de pico g igual a 3,36. De acordo com as Eqs. (IV.7) e
(IV.8), as respostas máximas esperadas, obtidos para o exemplo da chaminé, são iguais
a 50,73cm e 56,44cm, respectivamente, para as análises com e sem o amortecimento
aerodinâmico.

IV.4.3 SOLUÇÃO NO DOMÍNIO DO TEMPO – HISTÓRICOS GERADOS COM

PROCEDIMENTO I

A análise no domínio do tempo é feita no programa VESFEM utilizando o


método da superposição modal em que a estrutura é discretizada em elementos finitos
sendo então determinados seus modos e frequências naturais.

O sistema de equações de movimento fica desacoplado e as soluções podem ser


desenvolvidas para cada grau de liberdade generalizado a, a partir da equação:

onde   é o coeficiente de proporcionalidade entre o amortecimento

estrutural e a massa modal , sendo  e a taxa de amortecimento estrutural e a

frequência natural referentes ao modo j e a força modal.

A força modal é obtida multiplicando o vetor de formas modais  pelo vetor

de forças nodais , assim:

onde n é o número de nós do modelo estrutural, , são,


respectivamente, o coeficiente de arrasto, a área de obstrução, a velocidade média, a
velocidade flutuante e a velocidade da estrutura na área de influência do nó k. Como,
pelo método da superposição modal,  , a Equação (IV.9) pode então

ser reescrita da seguinte maneira:

67
 

Com      onde o termo  , de

amortecimento aerodinâmico é originado da força de amortecimento aerodinâmico e é


dado por:


Assim, para cada instante de tempo t a Equação (IV.11) é resolvida para cada
modo e os deslocamentos de cada nó obtidos fazendo-se a superposição modal através
da expressão:

onde X(t) é o vetor de deslocamentos nodais da estrutura, j é o número de modos de


vibração considerados,  é o vetor de formas modais e aj(t) é o deslocamento modal

correspondente ao modo j.

Para o exemplo da chaminé, o cálculo da taxa de amortecimento aerodinâmico


pela Equação (IV.12) forneceu 0.46% que somado ao amortecimento estrutural conduz
à taxa total de 1,46%.

A solução no domínio do tempo para ação da parcela flutuante da força, com e


sem o amortecimento aerodinâmico, forneceu as histórias de deslocamento no topo da
chaminé mostradas na Figura IV.15. Esta resposta foi obtida para histórias de
velocidade flutuantes geradas a partir do espectro de Kaimal com correlação espacial de
acordo com a Eq.II.33 e Cz igual a 10. Calculando-se os desvios padrão das respostas
das análises, com e sem amortecimento aerodinâmico, obteve-se, respectivamente,
10,82cm e 11,81cm. Com o fator de pico g igual a 3,36 (Eq.V.9) têm-se as respostas
máximas estimadas iguais a 53,96cm e 57,28cm.

68
0,6

0,4
Deslocamento (m)

0,2

0,0

-0,2

-0,4 s/ amort. c/ amort.


Aerodinâmico Aerodinâmico
-0,6
0 100 200 300 400 500 600
Tempo (s)

Figura IV.15 – História de deslocamento no topo da chaminé de acordo com a solução


no domínio do tempo, com históricos gerados com o procedimento I, com e sem
amortecimento aerodinâmico.

IV.4.4 SOLUÇÃO NO DOMÍNIO DO TEMPO – HISTÓRICOS GERADOS COM

PROCEDIMENTO II

Para as mesmas condições das soluções anteriores, a solução no domínio do


tempo com os históricos gerados com o procedimento II, fornece para o topo da
chaminé os deslocamentos apresentados na Figura IV.16. Calculando-se os desvios
padrão das respostas das análises, com e sem amortecimento aerodinâmico, obteve-se,
respectivamente, 12,83cm e 15,02cm. Com o fator de pico g igual a 3,36 (Eq.IV.9) têm-
se as respostas máximas estimadas iguais a 60,71cm e 68,07cm.

0,6

0,4
Deslocamento (m)

0,2

0,0

-0,2

-0,4 s/ amort. c/ amort.


Aerodinâmico Aerodinâmico
-0,6
0 100 200 300 400 500 600
Tempo (s)
Figura IV.16 – História de deslocamento no topo da chaminé de acordo com a solução
no domínio do tempo e com os históricos gerados com o procedimento II, com e sem
amortecimento aerodinâmico.

69
IV.4.5 COMPARAÇÃO DOS RESULTADOS: DOMÍNIO DO TEMPO X DOMÍNIO DA

FREQUÊNCIA

A Tabela IV.3 apresenta os resultados comparativos em termos de desvio padrão


do deslocamento no topo x para as soluções no domínio do tempo e no domínio da
frequência e destacando as considerações de cada caso, como a taxa de amortecimento
utilizada e o procedimento de geração dos históricos. Nas análises foi utilizado o
mesmo modelo de velocidade flutuante com a função de correlação dada pela Equação
(II.33), espectro de Kaimal e coeficiente de decaimento Cz igual a 10.

Tabela IV.3 - Resultados comparativos entre respostas no domínio da frequência e do


tempo para a Chaminé.
Domínio Procedimento xmax =
Modelo da de Geração dos  (%) x
g 17,6 + g
(cm)
Solução históricos x(cm)
1 Frequência ------ 1,46 9,89 3,36 50,73
2 Frequência ------ 1,00 11,56 3,36 56,44
3 Tempo Procedimento I 1,46 10,82 3,36 53,96
4 Tempo Procedimento I 1,00 11,81 3,36 57,28
5 Tempo Procedimento II 1,46 12,83 3,36 60,71
6 Tempo Procedimento II 1,00 15,02 3,36 68,07

Comparando as respostas geradas em termos do desvio padrão x observa-se


uma diferença de 9,4% e 2,2% entre as respostas no domínio da frequência e no
domínio do tempo com históricos gerados com o procedimento I para as análises com e
sem amortecimento aerodinâmico, respectivamente. E comparando as respostas no
domínio da frequência e no domínio do tempo com históricos gerados com o
procedimento II observa-se uma diferença de 29,7% e 29,9% entre as respostas para as
análises com e sem amortecimento aerodinâmico, respectivamente. Observa-se,
portanto, uma melhor correlação entre respostas nos domínios do tempo e frequência
para históricos gerados com o procedimento I.

70
IV.5 EXEMPLO NUMÉRICO – EXEMPLO DE CABO DE LT ISOLADO

IV.5.1 APRESENTAÇÃO DO EXEMPLO

O modelo simplificado de um feixe de cabos (Figura IV.17) será utilizado para


avaliação da importância das seguintes considerações na resposta do cabo:
 componente vertical de flutuação em tormentas EPS;
 componente vertical da velocidade de vento do downburst;
 variação da velocidade média calculada a partir das configurações inicial
e deformada estática;
 avaliação do comprimento das faixas de mesma velocidade de vento
flutuante adotado para o modelo;
 necessidade de análise dinâmica linear ou não linear.

O modelo foi criado com elementos de treliça com 5m de comprimento em um


vão total de 1000m para o feixe de cabos e outros 2 elementos com 2,90 metros para os
isoladores, além de 2 elementos de conexão localizados na extremidades dos feixes de
cabos para representar as condições de contorno elásticas da continuidade da linha,
totalizando 204 elementos.

Figura IV.17 – Modelo do cabo isolado

O modelo estrutural adotado neste item representa um feixe de quatro cabos tipo
AACSR 535/240 (AACSR – Aluminum Alloy Conductor Steel Reinforced) e que será
adotado também no modelo completo torre-linha para os condutores do capítulo
seguinte. Cada um dos 4 cabos condutores apresenta área da seção transversal A igual a
775,06 mm², módulo de elasticidade E igual a 94,5 GPa, resistência a ruptura de 499,5
kN e massa específica de 4,56 t/m³, correspondente ao peso por metro de 34,64 N/m. O
tipo de cabo assim como suas propriedades foram extraídos do estudo apresentado por
MENEZES et al. (2012) em que foi realizada análise em um sistema de TLTEE com
vão superior ao apresentado neste trabalho (Lvão = 1598m).
71
A deformada do cabo para ação do peso próprio assume a forma de uma
catenária. O cabo é projetado de forma que após a aplicação da carga peso, a tração
equivalente resulte em 20% da tração última de ruptura (condição de tração EDS_Every
Day Stress) (NBR5422, ABNT 1985). No caso das extremidades do cabo estarem em
uma mesma altura zo, a flecha teórica é dada por (IRVINE, 1981):

onde To é a componente horizontal da tração de projeto, p é a carga peso por metro e L é


o comprimento do vão. Assim as coordenadas para cada nó i do modelo do feixe de
cabos podem ser obtidas pela expressão:

onde yi e zi são as coordenadas do nó qualquer i. Assim, o cabo apresenta uma flecha


máxima de 44,1m, e esta suspenso nos isoladores na cota de altura igual a 113,6m.

IV.5.2 ANÁLISE DE VIBRAÇÃO LIVRE

Analisando o modelo do cabo em regime de vibração livre não amortecida sob


tensões iniciais (peso próprio e tração de projeto no cabo) tem-se para as frequências
naturais associadas aos primeiros modos diversos valores abaixo de 1,0 Hz. A Tabela
IV.4 apresenta as frequências naturais de vibração dos 30 primeiros modos do cabo e as
Figuras IV.18 a IV.22 mostram as formas modais (linha cheia) associadas aos modos 1
a 5, em que as linhas tracejadas representam a configuração indeformada do cabo.

Tabela IV.4 – Frequências naturais de vibração


Frequência Frequência Frequência
Modo Modo Modo
(Hz) (Hz) (Hz)
1 0.084 11 0.435 21 0.786
2 0.135 12 0.447 22 0.868
3 0.167 13 0.488 23 0.872
4 0.172 14 0.525 24 0.954
5 0.242 15 0.530 25 0.958
6 0.264 16 0.608 26 1.041
7 0.294 17 0.614 27 1.044
8 0.325 18 0.695 28 1.127
9 0.346 19 0.700 29 1.130
10 0.373 20 0.781 30 1.214

72
Vista em planta Vista Longitudinal
Figura IV.18 – Modo 1 – Oscilação lateral (f1 = 0,084Hz)

Vista em planta Vista Longitudinal


Figura IV.19 – Modo 2 – Oscilação vertical (f2 = 0,135Hz)

Vista em planta Vista Longitudinal


Figura IV.20 – Modo 3 – Oscilação lateral e vertical (f3 = 0,167Hz)

Vista em planta Vista Longitudinal


Figura IV.21 – Modo 4 – Oscilação lateral e vertical (f4 = 0,172 Hz)

Vista em planta Vista Longitudinal


Figura IV.22 – Modo 5 – Oscilação lateral e vertical (f5 = 0,242 Hz)

As frequências naturais abaixo de 1,0 Hz indicam que o sistema, quando


submetido à ação do vento turbulento, pode apresentar resposta flutuante significativa
na direção da velocidade média, apresentando um fator de amplificação dinâmica
significativo. Analisando as Figuras IV.18 a IV.22 verifica-se pelas formas modais que
os deslocamentos modais se dão principalmente no plano horizontal, entretanto nota-se
também deslocamentos significativos no plano vertical sobretudo no segundo modo de
vibração (f2 = 0,136 Hz).

Para cabos, o movimento é dominado pelo amortecimento aerodinâmico, sendo


o amortecimento estrutural menos importante, especialmente em ventos fortes
(BACHMANN, 1995 apud CAPPELLARI, 2005). Nas análises dinâmicas para
obtenção das respostas devidas à ação do vento adotou-se o modelo de amortecimento
proporcional à massa, sendo a taxa associada ao primeiro modo igual a 2,0%.

73
Para as posteriores análises dinâmicas lineares que utilizam o método da
superposição modal serão considerados os 30 primeiros modos de vibração mostrados
na Tabela IV.4.

IV.5.3 FLUTUAÇÃO VERTICAL – TORMENTAS EPS

Para verificação da influência da componente vertical de velocidade de vento


flutuante w na resposta do cabo foram aplicadas ao modelo as forças geradas pelo
campo de velocidades de uma tormenta EPS considerando-se ou não a componente
vertical das flutuações.

As forças resultantes foram obtidas de acordo com o item II.2.5, considerando


que o cabo esteja situado em um terreno de categoria II (NBR6123, 1988), com
velocidade básica igual a 30m/s, comprimento das faixas de vento para geração dos
históricos igual a 50m e vento incidindo perpendicularmente à linha. Os históricos
foram gerados com o procedimento I e utilizando os espectros ESDU para componentes
longitudinal e vertical (Eqs. II.16 e II.25).

Aplicou-se ao modelo do feixe de cabos a análise dinâmica linear. A Tabela IV.5


apresenta os desvios padrão dos deslocamentos no ponto médio do cabo na direção
principal do vento (perpendicular ao eixo da linha, eixo x), apresentados na Figura
IV.23, e na direção vertical (variação da altura, eixo z), apresentados na Figura IV.24.
Percebe-se que, para o modelo adotado, a componente vertical de flutuação tem
influência nas respostas apenas na direção vertical, aumentando em torno de 9% o
desvio padrão dos deslocamentos.

A Figura IV.25 apresenta a variação dos esforços axiais em um dos elementos


do modelo de cabo da extremidade para ação da tormenta EPS considerando ou não a
ação da flutuação vertical. Os desvio padrão dos esforços são também apresentados na
Tabela IV.5.

Tabela IV.5 – Desvio padrão dos deslocamentos para o ponto médio do cabo e para os
esforços axiais no elemento da extremidade.
σx σz N
Uz
(m) (m) (kN)
com w 3,33 1,70 18,24
sem w 3,44 1,56 14,67

74
0,0
-5,0 Com w
Deslocamentos (m) -10,0 Sem w

-15,0
-20,0
-25,0
-30,0
-35,0
0 100 200 300 400 500 600
Tempo (s)
Figura IV.23 – Deslocamentos longitudinais do ponto médio do cabo

12,5
10,0
Deslocamentos (m)

7,5
5,0
2,5
0,0
-2,5 Com w
-5,0 Sem w
-7,5
0 100 200 300 400 500 600
Tempo (s)
Figura IV.24 – Deslocamentos verticais do ponto médio do cabo

550,0
525,0
Esforços axiais (kN)

500,0
475,0
450,0
425,0
400,0
375,0 Com w Sem w
350,0
0 100 200 300 400 500 600
Tempo (s)

Figura IV.25 – Esforços axiais ao longo do tempo no elemento do cabo da extremidade

75
IV.5.4 ANÁLISE ESTÁTICA X DINÂMICA LINEAR X DINÂMICA NÃO LINEAR –
TORMENTAS EPS

Para comparação entre as respostas obtidas com as análises dinâmicas realizou-


se uma análise estática não linear do feixe de cabo isolado com as forças de vento
calculadas de forma estática-equivalente à ação do vento extremo (comportamento
quase-estático da estrutura). Como o cálculo da velocidade de vento da NBR5422 é
aplicável a vãos de até 800m optou-se por calcular esta velocidade pelos critérios da
NBR6123, considerando a maior dimensão da estrutura igual a 1000m (ver o item
II.2.1).

De acordo com o anexo A da NBR6123 (ABNT, 1988) o tempo de integração


para cálculo da velocidade média resulta em 240 segundos, o qual corresponde aos
valores de 0,737, 1,00 e 0,142, respectivamente, para o fator de rajada e parâmetros b e
p utilizados no perfil de velocidades.

Para a análise estática não linear o deslocamento máximo no ponto médio do


cabo foi igual a 26,30m na direção longitudinal ao vento e 4,78m na direção vertical e o
esforço axial no elemento de cabo da extremidade foi igual a 436,8kN.

Os resultados para análise dinâmica linear foram já apresentados no item


anterior. Para a análise dinâmica não linear do modelo do cabo desprezou-se a
velocidade flutuante na direção vertical w. As Figuras IV.26 e IV.27 apresentam os
deslocamentos no ponto médio do cabo, respectivamente, na direção principal do vento
(perpendicular ao eixo do feixe, eixo x) e na direção vertical (variação da altura) para as
análises linear e não linear. Os deslocamentos longitudinais e verticais para análise não
linear apresentam desvios padrão, respectivamente, iguais a 3,33m e 1,63m.

A Figura IV.28 apresenta, para análises linear e não linear, a variação dos
esforços axiais para um elemento do modelo de cabo para ação da tormenta EPS não
considerando a ação da flutuação vertical. A variação dos esforços axiais obtidos na
análise não linear apresenta desvio padrão igual 13,95kN.

76
0,0
-5,0 Linear
Deslocamentos (m) -10,0 Não Linear
-15,0
-20,0
-25,0
-30,0
-35,0
0 100 200 300 400 500 600
Tempo (s)

Figura IV.26 – Deslocamentos longitudinais do ponto médio do cabo

12,5
10,0
Deslocamentos (m)

7,5
5,0
2,5
0,0
-2,5 Não Linear
-5,0 Linear
-7,5
0 100 200 300 400 500 600
Tempo (s)

Figura IV.27 – Deslocamentos verticais do ponto médio do cabo

550,0
525,0
Esforços axiais (kN)

500,0
475,0
450,0
425,0
400,0
375,0 Linear Não Linear
350,0
0 100 200 300 400 500 600
Tempo (s)

Figura IV.28 – Esforços axiais ao longo do tempo no elemento do cabo da extremidade

Na análise dinâmica a resposta máxima esperada é obtida pelas expressões


(IV.7) e (IV.8). Assim, adotando para cálculo do fator de pico g, as frequências
dominantes das respostas mostradas nas Figuras IV.29 e IV.30, tem-se para

77
deslocamentos e esforços os valores apresentados na Tabela IV.6 para a análise
dinâmica linear e apresentados na Tabela IV.7 para a análise dinâmica não linear.

0.05Hz
desl.
0,084Hz longitudinais
0,135Hz desl.
Verticais

0,01 0,1 1 10
frequência (Hz)
Figura IV.29 – Transformada de Fourier da resposta para deslocamentos longitudinais e
verticais do ponto médio do modelo do feixe de cabos apresentados nas Figuras IV.26 e
IV. 27.

0,135Hz

0,01 0,1 1 10
frequência (Hz)
Figura IV.30 – Transformada de Fourier da resposta para esforços axiais nos elementos
de cabo apresentados na Figura IV.28
Tabela IV.6 – cálculo das respostas máximas esperadas para deslocamentos e esforços
da análise dinâmica linear
Freq. Modo Fator de Valor
Valor Desvio
Parâmetro Dominante (Hz) pico máximo
Médio Padrão
(Figs. IV.29 e IV.30) (Eq. IV.8) (Eq IV.7)
Deslocamentos
0,084 3,01 23,6m 3,44m 33,9m
longitudinais
Deslocamentos
0,135 3,14 3,9m 1,56m 8,8m
verticais
Esforços
0,135 3,14 428,2kN 14,67kN 474,3kN
Axiais

78
Tabela IV.7 – cálculo das respostas máximas esperadas para deslocamentos e esforços
da análise dinâmica não linear
Freq. Modo Fator de Valor
Valor Desvio
Parâmetro Dominante (Hz) pico máximo
Médio Padrão
(Figs. IV.29 e IV.30) (Eq. IV.8) (Eq IV.7)
Deslocamentos
0,084 3,01 23,6m 3,33m 33,6m
longitudinais
Deslocamentos
0,135 3,16 3,9m 1,63m 9,1m
verticais
Esforços
0,135 3,16 428,2kN 13,95kN 472,3kN
Axiais

As estruturas para linhas de transmissão com vãos até 800m são projetadas
considerando a ação quase-estática do vento (NBR5422). Isto porque, apesar dos
sistemas estruturais apresentarem frequências naturais inferiores a 1,0 Hz, a resposta
ressonante é amortecida pelo amortecimento aerodinâmico dos cabos condutores e para-
raios (LOREDO-SOUZA, 1996). De fato, usando a massa por unidade de comprimento
do feixe para calcular o coeficiente de amortecimento estrutural cest com a taxa de
amortecimento de 2,0% tem-se para o primeiro modo cest = 2,92 Ns/m, e utilizando a
Equação (IV.12) para cálculo do coeficiente de amortecimento aerodinâmico caer tem-se
para o primeiro modo caer = 31,87 Ns/m, ou seja, o amortecimento aerodinâmico é cerca
de dez vezes maior que o amortecimento estrutural.

Em comparação à análise estática não linear do modelo sob ação de


carregamento estático equivalente as análises dinâmicas forneceram respostas máximas
superiores, indicando valores significativos de coeficientes de amplificação dinâmica,
iguais a 1,28, 1,90 e 1,08, respectivamente, para os deslocamentos longitudinal e
vertical e para os esforços axiais no elemento de cabo da extremidade. Observa-se que
as respostas da análise não linear são praticamente iguais às da análise não linear e que
o valor de pico estimado para esforços no feixe de cabo equivale a 30% da força de
ruptura do mesmo.

IV.5.5 VARIAÇÃO DE VELOCIDADE MÉDIA EM FUNÇÃO DA CONFIGURAÇÃO

DEFORMADA

As velocidades médias para cálculo da parcela média das forças de vento são,
geralmente, obtidas para a configuração indeformada da estrutura. Entretanto, para
estruturas muito flexíveis, como o modelo do cabo adotado neste item, a ação da força
média resulta em deslocamentos significativos e consequente alteração na altura z dos
nós do cabo.

79
Como a velocidade média varia com a altura, o efeito resultante sobre os cabos
é obtido de forma iterativa com a variação das velocidades e correspondentes
deslocamentos. Assim, para avaliação da importância da atualização da velocidade
média foi utilizado o modelo do cabo descrito anteriormente e situado em terreno de
categoria II considerando duas situações de altura mínima do cabo: 30m e 70m. A
Figura IV.31 mostra a variação da razão entre a pressão média calculada para a
configuração deformada sob ação de vento (qdef) e para a configuração deformada
apenas pelo peso próprio (qini), geradas para diferentes velocidades básicas de vento.

Como pode ser visto na Figura IV.31 a atualização da configuração do cabo


pode gerar aumento nas pressões médias aplicadas ao cabo, entretanto, apenas torna-se
significativo para velocidades básicas mais altas. Observa-se uma maior variação da
pressão média para o cabo mais baixo (zmin = 30m), devido ao comportamento do perfil
de velocidade média (Figura II.2) que apresenta maior alteração de velocidades próximo
ao solo.

1,060
Zmin=70m
1,050
Zmin=30m
1,040
qdef / qini

1,030

1,020

1,010

1,000
10 15 20 25 30 35 40 45 50
Velocidade básica Uo (m/s)
Figura IV.31 – Razão entre as pressões médias no ponto médio do cabo para as
configurações deformada sob ação da força média e deformada sob peso próprio.

IV.5.6 CORRELAÇÃO ESPACIAL (TORMENTAS EPS) A PARTIR DA CONFIGURAÇÃO

DEFORMADA

Para o modelo do cabo isolado foi calculada a curva de correlação cruzada


normalizada para os históricos de flutuação u, na direção principal, gerados de duas
formas:
a) a partir da configuração inicial (sem vento) do cabo no plano vertical;

80
b) a partir da configuração deformada devida à ação da força média de vento
EPS.
A Figura IV.32 mostra as curvas de correlação espacial normalizada em relação
a variância, na qual se verifica que os históricos gerados apresentam comportamento
quase idêntico quanto à correlação, isto se deve ao fato do deslocamento se dar
principalmente na direção principal do vento, na qual a escala de turbulência L11
apresenta valor muito superior aos deslocamentos gerados, conforme citado por
MIGUEL et al.(2009).

Os deslocamentos no ponto médio do cabo para os históricos gerados a partir da


configuração (a) apresentam desvios padrão iguais a 3,23 e 1,57 metros nas direções
longitudinal e vertical, respectivamente, e para os históricos gerados a partir da
configuração (b) apresentam divergências menores que 1,0% em relação a configuração
(a).

1,0
0,9 Lfaixa=50m s/atual.
0,8 (L = 186m)
0,7 Lfaixa=50m c/atual.
0,6 (L = 186m)
0,5
1

0,4
0,3
0,2
0,1
0,0
0 100 200 300 400 500
Distância na direção transversal ao vento (m)

Figura IV.32 – Curvas de correlação cruzada normalizada dos históricos gerados para o
modelo do cabo.

Outro dado importante obtido desta análise é que o comprimento das faixas de
vento inicialmente adotado (Lf = 50m) é, aproximadamente, 3,5 vezes menor que a
escala de turbulência L12 apresentada pelos históricos gerados; com isso, é garantido que
o comportamento das flutuações de velocidade em faixas vizinhas tenha uma transição
suave.

81
IV.5.7 VELOCIDADE VERTICAL DO DOWNBURST

Para avaliação do efeito da componente vertical de vento do downburst sobre os


cabos de uma linha de transmissão foi feita uma análise numérica do campo
tridimensional de velocidade de vento de um downburst sendo transladado por um
vento de fundo em direção ao cabo isolado adotado como exemplo, como pode ser visto
na Figura IV.33.

Para o campo de velocidades foram adotados: velocidade máxima radial


, altura onde ocorre , distância radial onde ocorre
, , fator de escala R=750m, duração característica da tormenta T =
300s e intensidade de turbulência Iu igual a 8,8%.

A Figura IV.34 mostra as velocidades de vento geradas pelo downburst no ponto


médio do cabo (que está a uma altura z = 70m) e a Figura IV.35 mostra as
correspondentes forças geradas no mesmo ponto considerando um comprimento de
influência igual a 10 metros.

Figura IV.33 – Modelo esquemático do downburst e seu caminho em direção a linha de


transmissão. (Adaptado de SAVORY et al., 2001)

Como esperado, para o modelo apresentado, assim como a componente de


flutuação vertical do vento EPS a componente vertical de força do downburst torna-se
irrisória em presença da componente horizontal radial que para altura z = 80m tem o seu
valor máximo. A altura de instalação do cabo apresentado neste exemplo caracteriza
uma situação crítica para ação do vento downburst, por estar situado na região onde as

82
velocidades radiais de vento apresenta os maiores valores (ver Figura IV.10a), para
outras alturas entretanto os efeitos seriam menos problemáticos.

Observa-se na Figura IV.35 que a força horizontal Fr gerada pelo downburst é


muito maior do que a força vertical Fz indicando que a componente vertical da
velocidade de vento pode ser desprezada nas análises dos cabos.

80
Vr
60 Vz
velocidade (m/s)

40

20

-20
0 100 200 300 400 500 600
Tempo (s)
Figura IV.34 – Componentes de velocidade de vento geradas pelo downburst

4,0
Fr
3,0 Fz
Força (kN)

2,0

1,0

0,0

-1,0
0 100 200 300 400 500 600
Tempo (s)
Figura IV.35 – Forças geradas pelo downburst em um nó do modelo numérico

IV.5.8 ANÁLISE ESTÁTICA X DINÂMICA LINEAR X DINÂMICA NÃO LINEAR -


DOWNBURST

Dados os grandes deslocamentos gerados nos cabos pela ação do downburst


torna-se necessária realizar uma análise dinâmica não linear geométrica para considerar
o acréscimo de rigidez no cabo devido ao aumento dos esforços axiais. Para cálculo do
fator de amplificação dinâmica FAD realizou-se também uma análise estática, na qual é
feita uma varredura de todas as possíveis localizações do downburst, sendo aplicadas
apenas as forças geradas no tempo em que foi medida a maior velocidade radial.

83
O campo de velocidades do downburst foi o mesmo utilizando no item anterior.
As Figuras IV.36 e IV.37 mostram, respectivamente, os deslocamentos nos sentidos
longitudinal e vertical para o nó central do cabo e a Figura IV.38 mostra os esforços
axiais em um dos elementos do modelo do cabo, gerados com a análise não linear para a
intensidade de turbulência de 8,8%.

20,00
0,00
Deslocamentos (m)

-20,00
-40,00
-60,00
-80,00
X não linear
-100,00 X linear
-120,00
0 100 200 300 400 500 600
Tempo (s)
Figura IV.36 – Deslocamentos longitudinais do ponto médio do cabo

25,00
Z não linear
20,00
Z linear
Deslocamentos (m)

15,00
10,00
5,00
0,00
-5,00
0 100 200 300 400 500 600
Tempo (s)

Figura IV.37 – Deslocamentos verticais do ponto médio do cabo

750
675
Esforço axial (kN)

600
525
450
375
300
0 100 200 300 400 500 600
Tempo (s)
Figura IV.38 – Esforços no elemento de cabo para ação do vento downburst

Comparando as respostas das análises dinâmica linear e não linear verifica-se


que os deslocamentos longitudinais (Fig. IV.36), como esperado, apresentam redução
significativa na análise não linear em relação à linear. Já a resposta máxima em termos

84
de deslocamento vertical foi menor na análise linear. Outra observação a ser apontada é
que nas análises as respostas apresentam aspecto quase-estático devido ao baixo valor
da intensidade de turbulência.

Para avaliação da amplificação dinâmica no modelo para o vento downburst,


realizaram-se análises estáticas e dinâmicas não lineares com intensidades de
turbulência a 10m de altura iguais a 8,8% e 18%. Na Tabela IV.8 são apresentados os
valores de pico para deslocamentos longitudinais e verticais no ponto médio do cabo e
os esforços axiais para um elemento do modelo gerados com a análise dinâmica não
linear e a análise estática. A mesma tabela mostra os correspondentes fatores de
amplificação dinâmica gerados (FADs).

Tabela IV.8 – Resposta para o modelo simplificado do cabo sob ação do downburst
Análise Análise
Intensidade
Parâmetro Estática Dinâmica FAD
de turbulência
Não Linear Não Linear
Desloc. Longit. (m) -58,56 -58,89 1,01

8,8% Desloc. Vert. (m) 20,88 22,97 1,10

Esforços Axiais (kN) 678,61 688,22 1,01

Desloc. Longit. (m) -58,73 -58,81 1,00

18,0% Desloc. Vert. (m) 21,01 24,09 1,15

Esforços Axiais (kN) 683,50 700,75 1,03

Observa-se na Tabela IV.8 que os deslocamentos longitudinais máximos no


ponto médio do cabo e os esforços axiais nos elementos praticamente não apresentam
amplificação dinâmica. Já os deslocamentos verticais para o ponto médio do cabo
apresentam amplificação de 10% e 15%, respectivamente, para os modelos com
intensidade de turbulência iguais a 8,8% e 18,0%.

Comparando a força de ruptura dos cabos igual a 1998,0kN (feixe de 4 cabos),


com o valor de pico do esforço solicitante, verifica-se que é de aproximadamente 35%
do esforço resistente do feixe de cabos.

Como os resultados para os esforços apresentaram boa correlação entre as


análises estática e dinâmica não linear, com um fator de amplificação dinâmica de
apenas 3%, justifica-se apenas uma análise estática simplificada para estruturas sob ação
do downburst.

85
CAPÍTULO V - ESTUDO DE CASO - TORRE DE LINHA
DE TRANSMISSÃO DE ENERGIA ELÉTRICA

V.1 DESCRIÇÃO DO MODELO ESTRUTURAL

O trecho da linha de transmissão em estudo encontra-se em alinhamento reto e


as torres são compostas por perfis cantoneiras com padrões em polegadas, aço carbono
ASTM-A572 Grau60 (fy = 415MPa) e ligações parafusadas entre os perfis metálicos. A
escolha do perfil tipo cantoneira para diagonais e montantes é justificada porque as abas
desses perfis facilitam os detalhes das ligações parafusadas e a aplicação de proteção
superficial.

A torre serve como suporte para três feixes de condutores elétricos com quatro
cabos cada do tipo AACSR 535/240 e dois cabos para-raios do tipo OPGW. Os vãos
adjacentes à torre analisada são de 1000m e as cadeias de isoladores compostas por
discos com corpo isolante de vidro temperado com 2,90m de comprimento.

O modelo estrutural para análise estática representa dois vãos adjacentes de


condutores e para-raios em nível, suspensos por torres de mesma altura e silhueta,
conforme Figura V.1. No modelo computacional não foi avaliada a rigidez das
fundações sendo a base da torre considerada como engastada, e quanto às extremidades
dos cabos foram impostas as condições de contorno para simular a continuidade da
linha, sendo acopladas às extremidades as características elásticas e inerciais.

Assim sendo foram modelados apenas a torre central e os trechos de condutores


e para-raios a ela ligados.

Figura V.1 – Esquema estrutural adotado para análise

86
V.1.1 TORRE

A torre a ser utilizada neste capítulo trata-se de um modelo simplificado, cujo


desenvolvimento foi realizado a partir do modelo apresentado por RODRIGUES (1999,
2004) para a região do delta e do modelo apresentado por MENEZES et al. (2012) para
o tronco da torre. A torre é classificada como sendo do tipo delta, de suspensão, em
alinhamento reto e apresenta 118,4 metros de altura (Figura V.2).

Figura V.2 – Isométrico da torre treliçada de suporte

O modelo foi dimensionado para suportar as cargas de peso próprio e ação do


vento agindo de forma estática. Para verificação dos elementos do modelo estrutural foi
utilizado o programa computacional de análise estrutural SAP2000® v.15, o qual
realiza verificação automática dos elementos segundo as recomendações do AISC
(American Institute of Steel Construction).

As cargas de peso próprio referentes aos elementos da torre foram geradas


automaticamente pelo SAP2000®, sendo ainda majorado em 5% para representar o

87
peso próprio dos detalhes de ligação. Por fim, foram ainda aplicadas nodalmente as
cargas referentes as demais barras secundárias não representadas no modelo.

A torre foi projetada utilizando apenas seções do tipo cantoneira variando de


L2x2x1/2 a L8x8x1. O modelo final representa uma torre com capacidade estrutural
para ser utilizada em um sistema TLTEE, entretanto, outros aspectos relacionados à
engenharia elétrica devem ser melhor analisados, tais como o comprimentos dos
isoladores e as distâncias de segurança associados aos cabos.

V.1.2 CABOS

Os elementos dos condutores elétricos utilizados são feixes com 4 cabos do tipo
AACSR 535/240 (AACSR – Aluminum Alloy Conductor Steel Reinforced), cujas
propriedades já descritas no item IV.5, são apresentadas na Tabela V.1.

Tabela V.1 – Propriedades dos condutores


Diâmetro externo d (mm) 36,21
Área da seção transversal A (mm²) 775,06
Tensão de ruptura Tr (kN) 499,50
Peso por metro (N/m) 34,64
Massa específica (t/m³) 4,56
Módulo de elasticidade E (GPa) 94,50

Os para-raios são do tipo OPGW (Optical Fiber Composite Overhead Ground


Wire), cujas propriedades são dadas na Tabela V.2.

Tabela V.2 – Propriedades dos para-raios


Diâmetro externo d (mm) 24,30
Área da seção transversal A (mm²) 349,14
Tensão de ruptura Tr (kN) 397,69
Peso por metro (N/m) 22,563
Massa específica (t/m³) 6,59
Módulo de elasticidade E (GPa) 129,845

V.1.3 ISOLADORES

Os elementos representativos dos isoladores foram modelados com as


propriedades dadas na Tabela V.3.

Tabela V.3 – Propriedades dos isoladores


Área da seção transversal A (mm²) 1000,0
Peso por metro (N/m) 93,3
Massa específica (t/m³) 9,33
Módulo de elasticidade E (GPa) 200,0
88
V.2 ANÁLISE NÃO LINEAR ESTÁTICA PARA VERIFICAÇÃO DO DIMENSIONAMENTO
DOS ELEMENTOS ESTRUTURAIS SEGUNDO A NORMA AISC

Este item descreve o cálculo das forças de vento aplicadas ao modelo para
verificação do dimensionamento dos elementos estruturais de acordo com a norma
AISC. No cálculo das forças devidas ao vento foi adotada como referência a norma
NBR6123 (ABNT, 1988), conforme apresentado nos capítulos anteriores, exceto para
os casos inexistentes nesta norma, como o coeficiente de arrasto para feixes de cabos,
em que utilizaram-se de dados experimentais apresentados por CAPPELLARI (2005).

O modelo completo TLTEE foi dividido em 88 faixas de vento (Figuras V.3 e


V.4), sendo as faixas 01 a 40 para os cabos condutores, 41 a 80 para os cabos para-raios
e 81 a 88 para a torre. Para o dimensionamento da torre foram adotados os seguintes
parâmetros:
 velocidade básica do vento igual a 35m/s, correspondente a velocidade
básica na região amazônica, mostrada no mapa de isopletas apresentado
na Figura 1 da NBR6123;
 fator topográfico S1 igual a 1,0 considerando que a torre esteja situada em
terreno plano ou fracamente acidentado;
 fator probabilístico S3 igual a 1,1 já que a ruína total ou parcial do
sistema TLTEE pode afetar a segurança ou possibilidade de socorro a
pessoas;
 estrutura situada em um terreno de categoria III

De forma conservadora, calculando de forma isolada os cabos e a torre, e


utilizando o Anexo A da NBR 6123 (ABNT, 1988) para cálculo dos correspondentes
intervalos de integração chegou-se aos tempos de integração para cálculo das
velocidades médias de vento iguais a 195,6 e 20,9 segundos para os cabos e para a torre,
respectivamente. Assim, os parâmetros Fr, b e p a serem utilizados no perfil de
velocidades são 0,749, 0,882, 0,166 e 0,898, 0,92, 0,119 para os cabos e para a torre,
respectivamente. Resultando em valores de iguais a 25,4m/s e 31,8 m/s.

Para o perfil de variação de velocidades médias foi utilizada a lei potencial (Eq.
II.1) sendo os parâmetros adotados já descritos anteriormente.

Os coeficientes de arrasto para todos os trechos da torre foram obtidos pelo


procedimento apresentado no item II.3.7, sendo função da relação entre a área efetiva e

89
a área de projeção total da face exposta ao vento, e utilizando a combinação das Figuras
II.10 e II.11, as quais apresentam, como visto, valores mais conservadores em relação às
apresentadas na Figura II.12. O coeficiente de arrasto para os cabos para-raios foi obtido
da Tabela II.4 igual a 1,1 e para os feixes de condutores considerou-se o valor constante
de 1,0 para qualquer ângulo de incidência do vento.

Para cálculo das forças devidas ao vento considerou-se o vento incidindo


perpendicularmente a linha. A Tabela V.4 apresenta um resumo do cálculo das forças
estáticas de vento que agem sobre o sistema TLTEE.

Tabela V.4 – Forças devidas ao vento aplicadas ao modelo estrutural


Vk Aef F
Faixa Elementos S2 Ca
(m/s) (m²) (kN)
1-20-21-40 Condutores 0,99 37,97 1,00 7,242 6,40
2-19-22-39 Condutores 0,97 37,49 1,00 7,242 6,24
3-18-23-38 Condutores 0,96 37,03 1,00 7,242 6,09
4-17-24-37 Condutores 0,95 36,61 1,00 7,242 5,95
5-16-25-36 Condutores 0,94 36,22 1,00 7,242 5,82
6-15-26-35 Condutores 0,93 35,88 1,00 7,242 5,71
7-14-27-34 Condutores 0,92 35,59 1,00 7,242 5,62
8-13-28-33 Condutores 0,92 35,35 1,00 7,242 5,55
9-12-29-32 Condutores 0,91 35,19 1,00 7,242 5,50
10-11-30-31 Condutores 0,91 35,09 1,00 7,242 5,47
41-60-61-80 Para-raios 0,99 38,25 1,10 1,215 1,20
42-59-62-79 Para-raios 0,98 37,88 1,10 1,215 1,18
43-58-63-78 Para-raios 0,97 37,53 1,10 1,215 1,15
44-57-64-77 Para-raios 0,97 37,21 1,10 1,215 1,13
45-56-65-76 Para-raios 0,96 36,92 1,10 1,215 1,12
46-55-66-75 Para-raios 0,95 36,67 1,10 1,215 1,10
47-54-67-74 Para-raios 0,95 36,46 1,10 1,215 1,09
48-53-68-73 Para-raios 0,94 36,29 1,10 1,215 1,08
49-52-69-72 Para-raios 0,94 36,17 1,10 1,215 1,07
50-51-70-71 Para-raios 0,94 36,10 1,10 1,215 1,07
81 Torre 0,92 35,56 3,95 39,302 120,16
82 Torre 0,99 38,04 3,92 25,466 88,61
83 Torre 1,02 39,37 3,91 16,151 59,94
84 Torre 1,04 40,23 3,88 11,107 42,73
85 Torre 1,06 40,83 3,83 7,857 30,74
86 Torre 1,08 41,53 3,75 8,827 35,00
87 Torre 1,09 42,15 3,53 6,888 26,48
88 Torre 1,11 42,68 1,80 6,404 12,87

90
Por tratar-se apenas de uma análise estática para o modelo completo foi
realizada uma análise não linear geométrica, devido aos grandes deslocamentos
proporcionados pela excursão lateral dos cabos.
As cargas permanentes devidas ao peso próprio dos cabos foram aplicadas
nodalmente ao longo dos elementos e o peso próprio da torre calculado
automaticamente pelo SAP2000®. As forças de protensão aplicadas aos cabos
condutores e para-raios correspondem a 20% da carga de ruptura dos mesmos.

As forças estáticas de vento calculadas para cada faixa foram aplicadas como
forças nodais concentradas nos nós pertencentes a cada faixa. Esses valores foram
obtidos dividindo-se o valor total da resultante da carga de vento, apresentados na
Tabela V.4, pelo número de nós associados à faixa. Para estas ações o dimensionamento
dos elementos estruturais foi verificado automaticamente pelo programa SAP2000®.
Todos os elementos atenderam aos critérios de segurança.

Figura V.3 – Faixas de vento - Torre

91
Figura V.4 – Faixas de vento - cabos

92
V.3 PROPRIEDADES DINÂMICAS DO MODELO ESTRUTURAL

Analisando a estrutura completa em regime de vibração livre não amortecida sob


tensões iniciais (peso próprio e tração de projeto nos cabos) tem-se para as frequências
naturais associadas aos primeiros modos diversas frequências abaixo de 1,0 Hz. A
Tabela V.5 apresenta os 100 primeiros modos de vibração do modelo completo. A
oscilação lateral dos cabos elétricos e condutores sob ação do vento desperta os
principais modos de vibração da torre, como pode ser visto na Figura V.5 e V.6 que
mostram os modos 1 e 3 de vibração do modelo completo.

A Figura V.7 apresenta o 21º modo de vibração em que começa a aparecer


deslocamentos modais na torre, entretanto a forma modal é predominantemente do
cabo. Na Figura V.7 foi utilizado fator de amplificação da deformada cinco vezes maior
para a torre em relação à deformada dos cabos.

Tabela V.5 – Frequências naturais dos modos de vibração do modelo completo


frequência frequência frequência frequência
Modo Modo Modo Modo
(Hz) (Hz) (Hz) (Hz)
1 0,081 26 0,459 51 0,992 76 1,494
2 0,092 27 0,498 52 1,006 77 1,541
3 0,097 28 0,500 53 1,053 78 1,546
4 0,100 29 0,505 54 1,074 79 1,558
5 0,151 30 0,551 55 1,098 80 1,567
6 0,161 31 0,573 56 1,131 81 1,619
7 0,168 32 0,581 57 1,142 82 1,627
8 0,183 33 0,586 58 1,155 83 1,636
9 0,184 34 0,642 59 1,188 84 1,643
10 0,187 35 0,653 60 1,210 85 1,660
11 0,240 36 0,663 61 1,237 86 1,698
12 0,246 37 0,731 62 1,245 87 1,706
13 0,250 38 0,738 63 1,271 88 1,716
14 0,254 39 0,747 64 1,278 89 1,723
15 0,276 40 0,812 65 1,289 90 1,736
16 0,284 41 0,819 66 1,302 91 1,776
17 0,316 42 0,825 67 1,318 92 1,795
18 0,322 43 0,831 68 1,351 93 1,815
19 0,331 44 0,900 69 1,368 94 1,854
20 0,368 45 0,910 70 1,382 95 1,873
21 0,376 46 0,913 71 1,398 96 1,898
22 0,416 47 0,917 72 1,424 97 1,931
23 0,423 48 0,946 73 1,457 98 1,951
24 0,429 49 0,960 74 1,461 99 1,984
25 0,443 50 0,975 75 1,476 100 2,004

93
Figura V.5 – 1º modo de vibração do modelo completo - Plano horizontal – Vibração
dos condutores (f1 = 0,081Hz)

Figura V.6 – 2º modo de vibração do modelo completo - Plano horizontal – Vibração


dos para-raios (f2 = 0,092Hz)

Figura V.7 – 21º modo de vibração do modelo completo - PLANO XZ (f21 = 0,376Hz).

Analisando apenas a torre em regime de vibração livre não amortecida, com as


massas associadas aos cabos aplicadas nos pontos de suspensão da torre, obtêm-se para
os três primeiros modos de vibração as frequências apresentadas na Tabela V.6. As
Figuras V.8 a V.10 apresentam as formas modais relacionadas a estes modos.

94
A frequência fundamental inferior a 1,0 Hz significa que o sistema formado por
torre e cabos elétricos, quando exposto aos efeitos dinâmicos da turbulência
atmosférica, pode apresentar resposta flutuante significativa na direção da velocidade
média, assim como na direção ortogonal à incidência do vento (NBR6123, ABNT,
1988).

Tabela V.6 – Frequências naturais e formas modais de vibração para a torre isolada
Frequência
Modo Oscilação
(Hz)
1 0,401 Lateral
2 0,429 Longitudinal
3 0,733 Torção

Plano XZ Plano YZ Perspectiva


Figura V.8 – Modo 1 – Oscilação lateral (f1 = 0,401Hz)

Plano XZ Plano YZ Perspectiva


Figura V.9 – Modo 2 – Oscilação longitudinal (f2 = 0,429Hz)

95
Plano XZ Plano YZ Perspectiva
Figura V.10 – Modo 3 – Torção (f3 = 0,733Hz)

V.4 MODELO ESTRUTURAL SOB AÇÃO DINÂMICA DE TORMENTAS EPS

Baseados nas recomendações da norma brasileira NBR 6123 (ABNT, 1988),


foram obtidos os parâmetros estatísticos e aerodinâmicos necessários para a definição
das forças de vento sobre o modelo estrutural. Esta escolha se justifica face à ausência
de critérios para análise dinâmica de torres e cabos na norma NBR5422 (ABNT, 1985).

Considerou-se que a torre analisada pertence a um sistema de linha de


transmissão localizada na região amazônica, onde o mapa de isopletas da NBR 6123
recomenda a velocidade básica do vento igual a 35 m/s (média sobre 3s, altura de
referência igual a 10m e período de retorno igual a 50 anos), a velocidade média de
projeto, na elevação 10m, é determinada pela Equação V.1:

onde, o fator 0,69 representa uma adequação do tempo de exposição à 10 minutos,


S1=1,0 é o fator topográfico e S3=1,1 é o fator probabilístico já descritos anteriormente.
Para cálculo do perfil de velocidades médias foi utilizada a lei potencial (Eq.II.2) em
que os parâmetros b e p assumem os valores de 0,86 e 0,185 correspondentes à
categoria III da NBR6123 (ABNT, 1988).

Na simulação numérica das velocidades flutuantes foi adotado o método da


autoregressão para geração dos históricos não correlacionados e o procedimento I
(BUCHHOLDT, 1998) para geração da correlação entre os históricos das 88 faixas de

96
vento consideradas (ver Figuras V.3 e V.4). Para geração dos históricos foram
considerados:

 Tempo de geração do sinal: Tmax = 600 segundos;


 Intervalo de tempo para geração: t = 0,10 segundos;
 Velocidade média do vento na altura de referência: ;
 Comprimento de rugosidade: zo = 0,200m

Os históricos gerados apresentam, portanto, a flutuação da velocidade de vento


com correlação espacial ao longo de todas as faixas e com as características
representativas do fenômeno (Ver capítulo IV).

No programa VESFEM o amortecimento estrutural é inserido através do valor


de est (Eq. IV.9) atribui-se para o primeiro modo de vibração com participação da torre
a taxa de amortecimento estrutural Torre = 1,0%, assim obteve-se est igual a 0,0472,
resultando para o primeiro modo de vibração a taxa de amortecimento cabos igual a
4,6% que é pequena em relação ao amortecimento aerodinâmico.

A resposta dinâmica da torre foi obtida usando integração numérica utilizando o


algoritmo de Runge-Kutta com o método da superposição modal. Para comparação dos
resultados foram obtidos os deslocamentos no topo da torre, nos nós 305 e 312 (ver
Figura V.13) e os esforços axiais nos elementos 790, 1026, 1235 e 1502 da base da torre
(ver Figura V.14).

Figura V.13 – Nós selecionados para verificação dos deslocamentos

97
Figura V.14 – Elementos selecionados para verificação dos esforços

A Figura V.15 apresenta os deslocamentos obtidos nos nós 305 e 312 (Figura
V.13) e a Figura V.16 apresenta os esforços axiais nos elementos 790, 1026, 1235 e
1502 (Figura V.14) para ação da tormenta EPS.

0,40 0,40
0,20 0,20
0,00 0,00
Deslocamentos (m)

Deslocamentos (m)

-0,20 -0,20
-0,40 -0,40

-0,60 -0,60

-0,80 -0,80

-1,00 -1,00
X Y Z X Y Z
-1,20 -1,20
0 100 200 300 400 500 600 0 100 200 300 400 500 600
Tempo (s) Tempo (s)
Nó 305 Nó 312
Figura V.15 – Deslocamentos no topo da torre gerados nos Nós 305 e 312 para ação da
tormenta EPS
98
1200 -1200

1000 -1000
Esforço Axial (kN)

Esforço Axial (kN)


800 -800

600 -600

400 -400

200 -200

0 0
0 100 200 300 400 500 600 0 100 200 300 400 500 600
Tempo (s) Tempo (s)

Elem. 790 e 1026 Elem. 1235 e 1502


Figura V.16 – Esforços axiais nos elementos da base (Elementos 790, 1026, 1235 e
1502) para ação da tormenta EPS

Na análise dinâmica a resposta máxima esperada é obtida pelas expressões


(IV.7) e (IV.8). Aplicando a transformada de Fourier nas respostas do modelo estrutural
verifica-se que não há predominancia de apenas um modo de vibração como pode ser
visto na Figura V.17, a transformada de Fourier apresenta maiores valores na faixa de
frequência entre 0,01Hz e 0,1Hz, semelhante ao espectro de Harris utilizado para
geração das flutuações de velocidade de vento (ver Figura II.3). Assim, adotou-se para
cálculo do fator de pico g, a frequência correspondente ao primeiro modo de vibração
f1=0,081Hz. Os deslocamentos e esforços apresentam os valores mostrados na Tabela
V.7.

0,01 0,1 1 10
frequência (Hz)
Figura V.17 – Transformada de Fourier dos esforços axiais dos elementos da
face de barlavento (elementos 790 e 1026)

99
Tabela V.7 – cálculo das respostas máximas esperadas para deslocamentos e
esforços da análise dinâmica sob ação de tormenta EPS
Freq. Modo Fator de Valor
Valor Desvio
Local Parâmetro Dominante pico máximo
Médio Padrão
(Hz) (Eq. IV.8) (Eq IV.7)
Desloc.
0,081 3,00 -0,665m 0,129m -1,052m
Nó longitudinais
305 Desloc.
0,081 3,00 -0,223m 0,048m -0,367m
verticais
Desloc.
0,081 3,00 -0,666m 0,129m -1,053m
Nó longitudinais
312 Desloc.
0,081 3,00 0,163m 0,048m 0,307m
verticais
Elem. Esforços
0,081 3,00 494,5kN 104,8kN 808,9kN
790 e 1026 axiais
Elem. Esforços
0,081 3,00 -734,6kN 115,7kN -1081,7kN
1235 e 1502 axiais

Na análise estática, apresentada no item V.2, os deslocamentos na direção


longitudinal e vertical do nó 305 foram iguais a -0,739m e -0,240m, respectivamente, e
para o nó 312 os deslocamentos na direção longitudinal e vertical foram iguais a
-0,740m e 0,181m, respectivamente. Os esforços axiais nos elementos da face de
barlavento (Elementos 790 e 1026) e da face de sotavento (Elementos 1235 e 1502)
foram iguais a 575,7kN e -816,9kN, respectivamente.

Na Tabela V.8 os resultados em termos de valores extremos obtidos da análise


dinâmica são comparados aos resultados obtidos a partir de análise estática não-linear
da estrutura sob a ação do carregamento de vento equivalente estático (aplicável à
estrutura de comportamento quase-estático). Este carregamento foi determinado
considerando a velocidade média a 10m de altura calculada para um tempo de
integração de 200s, correspondente à maior dimensão da estrutura, tomada como
1000m, de acordo com a NBR 6123 (ABNT, 1988).

Tabela V.8 – Comparação de resultados das análises estática equivalente e dinâmica


Valor
Estático Dinâmico
Extremo da
Local Parâmetro Equivalente /
análise
( (10)=25.4 m/s²) Estático
Dinâmica
Desloc.
-0,739m -1,052 m 1,42
Nó longitudinais
305 Desloc.
-0,240m -0,367 m 1,53
verticais
Elem. Esforços
575,7kN 808,9 kN 1,41
790 e 1026 axiais
Elem. Esforços
-816,9 kN -1081,7 kN 1,32
1235 e 1502 axiais

100
Observa-se na Tabela V.8 a importância de consideração da análise dinâmica
para a estrutura deste exemplo, que fornecem valores bem superiores aos da análise
estática equivalente. Entretanto os valores de FAD apresentados nesta tabela referem-se
especificamente ao exemplo analisado; novas análises dinâmicas são requeridas para
cada projeto.

V.5 MODELO ESTRUTURAL SOB AÇÃO DE DOWNBURST

Para avaliar a influência do downburst agindo sobre torres e linhas e


transmissão, foram feitas simulações com este tipo de vento, sendo transladado por um
vento de fundo a 90º e 45º com o eixo da linha, e com o centro da tormenta passando
sobre a torre e sobre o ponto médio de um dos vãos. Desta forma serão verificados três
casos, com a posição inicial do downburst indicadas na Figura V.17:

 Caso 1 – Vento transladado a 90º com o eixo da linha e cruzando com a torre;
 Caso 2 – Vento transladado a 90º com o eixo da linha e cruzando com o
ponto médio de um dos vãos da linha;
 Caso 3 – Vento transladado a 45º com o eixo da linha e cruzando com a torre;

Em todos os casos foram adotadas as seguintes hipóteses:

 Altura onde a velocidade é igual a metade de Vr,max: 400m


 Distância radial do centro do downburst ao ponto onde ocorre Vr,max: 1000m
 Escala de comprimento radial: 700m
 Duração característica da tormenta 350s
 Tempo inicial do downburst: 100s
 Velocidade do vento de fundo: 20m/s

Com base nos resultados obtidos da análise do feixe do cabo isolado em que a
ação do downburst produziu resposta com pequena amplificação dinâmica apresenta-se
a seguir resultados do modelo completo obtidos da análise não linear estática
correspondente ao valor máximo das forças devidas ao vento.

Para comparação entre os resultados obtidos quanto aos deslocamentos adotou-


se para a velocidade radial máxima, Vrmax ,o valor de 60m/s. A Tabela V.9 apresenta os
deslocamentos, nas direções x (transversal ao eixo da LT), y (longitudinal ao eixo da
LT) e z (vertical), obtidos nos nós 305 e 312, para os três casos considerados.

101
Figura V.17 – Posição inicial e direção de deslocamento do downburst

Tabela V.9 – Deslocamentos no topo da torre para ação do vento Downburst


Vrmax Deslocamentos (m)
Caso Nó
(m/s) X Y Z
305 -1,227 0,083 -0,154
1
312 -1,228 0,081 0,103
305 -1,178 0,285 -0,167
2 60
312 -1,179 0,285 0,114
305 -1,049 -0,334 -0,311
3
312 -1,051 -0,340 0,252
Direção x – transversal ao eixo da LT; Direção y – longitudinal ao eixo da LT; Direção z - vertical

No caso 1 a componente horizontal da velocidade do vento na direção x


(transversal ao eixo da LT) é predominante para o colapso da estrutura e no caso 2,
embora o downburst seja transladado com a mesma inclinação do caso 1 a componente
em y (longitudinal ao eixo da LT) também se torna importante quando o downburst se
aproxima da linha. Entretanto, como pode ser visto na Tabela V.9, os deslocamentos no
topo da torre na direção y (longitudinal ao eixo da LT) ainda são muito inferiores se
comparados aos deslocamentos na direção x (transversal ao eixo da LT), isto ocorre
devido aos cabos, que atuam como um apoio elástico para flexão no plano YZ, o que
não ocorre no plano XZ, em que a torre se comporta como engastada na base e livre no
topo.

Comparando-se ainda os casos 1 e 2, verifica-se que embora o downburst não


incida diretamente na torre no caso 2, agindo neste caso diretamente sobre os cabos, o
deslocamento longitudinal máximo (transversal ao eixo da LT) no topo da torre ainda

102
representa cerca de 95% do deslocamento máximo obtido no caso 1, indicando a
importância das componentes de forças agindo sobre os cabos em relação às
componentes agindo sobre a torre.

Observando-se os deslocamentos na direção longitudinal ao eixo da LT constata-


se que o caso 1 impõe flexão reta na torre enquanto que os casos 2 e 3 impõem flexões
nos planos principais.

A diferença entre os resultados dos 3 casos adotados para a posição inicial e


ângulo de deslocamento do fenômeno e velocidade máxima radial mostram a
importância destes parâmetros. Por esta razão, além de estudos referentes à
caracterização do fenômeno é importante também que sejam realizadas pesquisas
relacionadas ao grau de incerteza dessas variáveis.

Dadas às incertezas presentes no campo de velocidades do downburst foram


obtidas as respostas quanto aos esforços para os três casos apresentados, considerando
diferentes valores para velocidade radial máxima Vr,max, variando entre 20 e 80m/s. As
Figuras V.18 a V.20 apresentam, respectivamente, para os casos 1, 2 e 3 (ver Figura
V.17) a variação de esforços nos elementos 790, 1026, 1235 e 1502 (ver Figura V.14).

Figura V.18 – Variação dos esforços nos elementos da base da torre para o downburst
do caso 1

103
Figura V.19 – Variação dos esforços nos elementos da base da torre para o downburst
do caso 2

Comparando-se os esforços obtios para os casos 1 e 2, verifica-se que os


elementos 790 e 1235 apresentam valores superiores para o caso 2 devido a flexão
oblíqua imposta sobre eles, e por outro lado, os elementos 1026 e 1502 apresentam
esforços menores em relação ao caso 1. O mesmo pode ser observado comparando-se o
caso 3 ao caso 1 em que os elementos 1026 e 1502 apresentam esforços superiores para
o caso 3 em relação ao caso 1 e nos elementos 790 e 1235 esforços inferiores para o
caso 3 em relação ao caso 1.

Figura V.20 – Variação dos esforços nos elementos da base da torre para o downburst
do caso 3

Para o caso 3, verifica-se também que devido ao ângulo de incidência do vento,


as solicitações ocorrem principalmente nos elementos 1026 e 1502 e que os esforços

104
para os elementos 790 e 1235 se devem principalmente ao carregamento do peso
próprio.

Por fim, comparando os resultados obtidos entre a ação da tormenta EPS com o
caso 1 do downburst, cujo ângulo de incidência da tormenta (transversal ao eixo da LT)
corresponde ao ângulo de incidência da velocidade média da tormenta EPS considerado
no item anterior, verifica-se que para velocidades semelhantes no topo da torre (cota
z=118,4m) as respostas geradas são próximas para o downburst e a tormenta EPS. A
velocidade no topo da torre para tormenta EPS foi de 32,8m/s.

A velocidade radial máxima para o downburst, como visto nas Figuras V.18 a
V.20 representa um parâmetro de grande importância para determinação das respostas
na estrutura, assim é muito importante que sejam realizados estudos para medição desta
grandeza. Outro parâmetro importante é a distância do centro da tormenta à estrutura
analisada, assim como as dimensões da tormentas (raio de ação).

105
CAPÍTULO VI - CONCLUSÕES E SUGESTÕES PARA
CONTINUIDADE DO TRABALHO

VI.1 CONCLUSÕES

Apresentou-se neste trabalho uma avaliação das respostas de modelos numéricos


de estruturas de torres e linhas de transmissão sob a ação de ventos originados de
tormentas EPS (ciclones extratropicais) e de downbursts. As análises foram efetuadas
por meio de um programa computacional de análise estrutural (estática, dinâmica no
domínio do tempo, linear ou não linear) pelo método dos elementos finitos. Neste
programa, que foi especialmente desenvolvido para tratar estruturas sob ação de vento,
foram implementadas no âmbito deste trabalho novas rotinas para cálculo de forças de
vento.

Para validação das implementações efetuadas, foram analisadas as respostas de


modelos de uma chaminé de 180m de altura e de um modelo de feixe de cabos de linha
de transmissão. Compararam-se as respostas da chaminé para ação de vento originado
de tormentas EPS obtidas no domínio da frequência com as respostas dinâmicas no
domínio do tempo considerando dois procedimentos de geração de campo de
velocidades correlacionadas espacialmente. Verificou-se que o procedimento descrito
em Buchholdt (1998) forneceu a melhor comparação com a resposta no domínio da
frequência.

Com o modelo de um feixe de cabos com vão de 1000m objetivou-se verificar a


importância das seguintes considerações nas respostas dinâmicas: (i) componentes
verticais da velocidade flutuante do vento EPS e da velocidade do vento downburst; (ii)
configuração deformada do cabo para cálculo da velocidade média de vento EPS ao
longo da altura e geração de históricos de velocidades flutuantes; (iii) análises
dinâmicas lineares ou não lineares.

As considerações (i) acima resultaram em pequenas alterações na resposta


dinâmica do cabo, podendo ser desprezadas. O cálculo da velocidade média de vento
EPS feito iterativamente em função da deformada estática do cabo resultou em
acréscimos da ordem de 5% e 3% respectivamente para cabos com cotas mínimas iguais
a 30m e 70m. A geração dos históricos correlacionados de velocidade flutuante
longitudinal a partir da configuração deformada do cabo para ação da força média de

106
vento não produziu alterações em relação à geração considerando a configuração inicial
(no plano vertical). Em relação à consideração (iii) acima, verificou-se para a ação de
vento EPS que as análises dinâmicas lineares e não lineares produziram os mesmos
resultados. Já para a ação do vento originado de downburst é necessário incluir a não
linearidade na análise dinâmica em função dos grandes deslocamentos.

A análise dinâmica do modelo de feixe de cabos sob ação de vento EPS em


terreno de categoria II forneceu valores de pico de deslocamento horizontal iguais a
1,40 vezes o valor obtido com o carregamento estático equivalente de vento (com
velocidade média associada a um intervalo de tempo de 240s, de acordo com a
NBR6123 (ABNT, 1988)). Para o esforço axial no cabo o coeficiente de amplificação
dinâmica foi de 1,12.

Para ação do vento downburst verificou-se que as amplificações dinâmicas para


deslocamentos horizontais e esforços axiais no cabo são muito pequenas para as
intensidades de turbulência verificadas (8,8 e 18,0%). Desta maneira para ação do vento
downburst pode-se realizar análises estáticas utilizando apenas a configuração “crítica”
para ação do downburst.

Um modelo de torre de 118,4m de altura foi idealizado para suporte de 3 feixes


de 4 cabos condutores cada um e dois cabos para-raios com vãos adjacentes de 1000m e
verificado em estados limites últimos para esforços estáticos de ação de vento EPS com
V0 igual a 35m/s em terreno de categoria III. A análise dinâmica no domínio do tempo
deste modelo para as mesmas condições de vento descritas forneceu coeficientes de
amplificação dinâmica iguais a 1,42 para deslocamento horizontal no topo da torre e
1,41 para esforço axial nos montantes do painel de base da torre. Verificou-se, portanto,
que para estas dimensões da estrutura o projeto deve ser feito com análises dinâmicas do
sistema torre – linhas aéreas. Entretanto, vale ressaltar que os valores de FAD
encontrados referem-se especificamente ao exemplo analisado; novas análises
dinâmicas são requeridas para cada projeto.

Para o mesmo modelo de TLTEE verificou-se os efeitos da ação do vento


downburst para três configurações distintas, utilizando velocidade radial máxima de
60m/s para avaliação dos deslocamentos e variando entre 20 m/s e 80m/s para avaliação
dos esforços gerados. Para o primeiro caso considerou-se o downburst deslocando-se
em direção a torre, perpendicularmente à linha, para o segundo deslocando-se em

107
direção ao meio de um dos vãos e o terceiro deslocando-se em direção a torre com um
ângulo de 45° em relação à linha. Para todos os casos foi verificado que os esforços
gerados na base da torre são superiores aos obtidos para análise com o vento EPS
quando a avelocidade radial máxima se aproxima do valor típico de 80m/s.

VI.2 SUGESTÕES PARA CONTINUIDADE DO TRABALHO

Como sugestões para a continuação da pesquisa apresentam-se as seguintes


sugestões:

 Realizar análises estáticas e dinâmicas de um projeto real de um sistema de


torres e linhas de transmissão sob ação de ventos originados por tormentas
EPS e por downbursts;

 Realizar melhorias no programa computacional VESFEM quanto à:

 comportamento da estrutura considerando a ruptura dos cabos;

 otimização no processo de integração das equações diferenciais de


movimento de modo a obter maior eficiência do algoritmo sem perda de
precisão. A análise não linear do modelo completo, com o nível de
discretização adotado, exige processamento ininterrupto do modelo em
aproximadamente dois dias;

 análise no domínio da frequência para estruturas de comportamento


linear.

 Análise da influência solo-estrutura (inclusão de bases elásticas nas


fundações);

 Parte experimental – ensaios dinâmicos em torres para calibração dos


modelos utilizados nestas análises:

 Ensaios em torres ainda sem os cabos;

 Ensaios em torres já com os cabos colocados.

 Mapeamento de ocorrências de downburst no território brasileiro

108
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