A Industrialização no Período da República Velha, 1889 - 1930
A Industrialização no Período da República Velha, 1889 -
1930
Quando se evidencia o longo processo de modernização e industrialização da
sociedade brasileira, deve-se primeiramente levar em consideração a participação do Estado e consequentemente o panorama internacional das relações que foram favoráveis aos pesados investimentos industriais no país. Primeiro coloca-se em evidência a teoria de que o Estado não foi um facilitador de empréstimos ou recursos para a indústria, porém, também não dificultou o processo de industrialização, apesar da Indústria de base ter apenas surgido no contexto da Era Vargas. Num segundo aspecto, deve-se considerar que a interrupção de produtos industrializados em consequência da I Grande Guerra tenha sido um fator considerável para produzir aqui no Brasil o que antes necessitava se importar da Europa ou dos EUA. Por esses motivos, a industrialização foi incipiente nos primeiros anos da República no país e atrelados aos investimentos oriundos do café e que permitiram pensarmos num contexto favorável ao surgimento de ideais pautados na ideologia do Movimento Operário, que não fora perceptível até algumas gerações antes pela presença maciça da mão-de-obra escrava. Nesse sentido, se faz necessário observarmos que o polo de desenvolvimento se manteve restrito as cidades de São Paulo e Rio de Janeiro, fomentando uma tímida indústria de bens de produtos não duráveis, como roupas, bebidas e alimentos. Grande parte das ideologias fomentadas através do Movimento Operário se mesclou através da mentalidade do imigrante, que estava mais propenso ao tráfico de influências, ideias e pela importação de costumes e comportamentos trazidos pelos grandes centros urbanos europeus. Por esse motivo, os movimentos sociais urbanos ocorreram sempre em maior número e influenciados por ideologias trazidas pelas já consolidadas organizações operárias e pelos sindicatos. Muitas organizações desse tipo basearam-se em ideais Socialistas e Anarquistas para definir o movimento brasileiro. Isso nos permite concluir que possamos analisar a ideologia brasileira em duas fases ou períodos distintos: antes de 1917 e depois de 1917. Sem sombra de dúvidas, as greves que ocorreram na cidade de São Paulo foram decisivas para marcar esse processo, e a de 1917 concentrou aproximadamente 50 mil pessoas de diferentes indústrias e paralisaram 3 bairros conjuntamente. Nesse contexto, vale destacar que o movimento se desenvolveu até 1917 inspirados em movimentos Anarco-sindicalistas. Muito forte em São Paulo, esses movimentos tiveram seu apogeu na Europa e nos EUA entre os períodos do séc. XIX e XX. No entanto, fortemente marcados pela ideologia anarquista, esse movimento propunha alterações bastante profundas na sociedade brasileira através da implantação de um regime socialista de maneira imediata. Devido a grande
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concentração de descendentes de europeus em São Paulo, esse movimento foi
bastante marcado pela associação as indústrias oriundas de investimentos do café. Acima de tudo, no entanto, esses movimentos radicais e grevistas foram tratados como casos de polícia pelo governo brasileiro. Durante alguns dias na cidade de São Paulo, o movimento grevista de 1917 tomou importantes bairros operários e como consequência mobilizou tropas do governo e da Marinha que deslocaram dois navios de guerra para Santos. Apesar de mediada a situação entre industriais e grevistas poucas reivindicações foram atendidas e a maior parte dos envolvidos foi deportada do país. Por esse motivo, em 1921 o Congresso sancionava leis que enrijeciam instrumentos repressivos para aqueles envolvidos em manifestações e paralizações. Uma das leis considerava crime toda relação de delitos contra a organização social. Ao longo da década de 20, alguns poucos direitos foram concedidos como a questão de 15 dias de férias anuais aos trabalhadores e a regulamentação do trabalho a menores, o que nos permite perceber que a presença de mulheres e crianças eram importantes na indústria. O inicio dos anos 20 foram mais turbulentos para os operários. Isso se deve a dois principais motivos: a falta de resultados práticos do movimento Anarquista; e a ruptura no cenário internacional entre Comunistas e Anarquistas. Com essa determinação dos partidos soviéticos, nascia no Brasil o Partido Comunista do Brasil, o PCB, em março de 1922. Essa ruptura com o anarquismo foi primordial também para a pequena existência do movimento enquanto Partido, conhecendo a legalidade apenas em 1922 e um breve período em 1927, quando arrefecia o movimento militar do Tenentismo. Subordinado a Moscou, sede da Organização Internacional dos Trabalhadores, o PCB pregava a importância de uma revolução democrática que poderia conduzir ao caminho do Socialismo. Por esses mesmo motivos, outra lei promulgada em 1927, a Lei Aníbal de Toledo, cedeu poderes ao governo de intervir em questões e organizações que fossem ameaça ao bem público. Isso nos demonstra uma dificuldade, primeiro em termos ideológicos da organização operária e, em segundo lugar, uma falta de estrutura necessária à formação de partidos da causa operária, em detrimento de medidas tomadas por industriais que não permitiam o livre desenvolvimento de ideais que pudessem ameaçar a hegemonia da classe burguesa no país, como demonstra a citação de Foot-Hardman que considera que “com as primeiras fábricas surgiram, na Europa, os primeiros proletários modernos. Isso, no Brasil, verifi-cou-se apenas em parte. Nas primeiras fábricas brasilei-ras trabalhava, muitas vezes, ao lado dos operários, um bom número de escravos. O fato de o proletariado sur-gir no interior de uma sociedade escravista dificultou e entravou, durante muitos anos, o processo de sua for-mação como classe”. Adaptado de: FOOT-HARDMAN, Francisco & LEONARDI, Victor. História da Indústria e do Trabalho no Brasil. São Paulo: Ática, 1991, p. 90.