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TEORIA DA

EDUCAÇÃO

Pablo Rodrigo Bes


Planejamento escolar
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Conceituar o planejamento escolar na perspectiva das políticas


públicas.
 Identificar os tipos de planejamento e sua utilização na educação
escolar.
 Descrever as etapas de um planejamento escolar.

Introdução
O planejamento é um elemento importante do sistema educacional
brasileiro e da rotina das instituições de ensino. Ele envolve a análise, a
reflexão e a previsão de ações que deverão ser realizadas para que se
atinjam os objetivos educacionais propostos na Constituição Federal e
nas legislações da área educacional. O planejamento escolar abrange as
políticas públicas educacionais, com seus programas, planos e norma-
tizações, bem como os planos existentes no interior da escola, como o
Projeto Político-Pedagógico (PPP) e os planos de curso, de ensino e de
aula, cada um deles com sua finalidade e sua estrutura própria.
Planejando, a instituição de ensino e os professores têm mais pos-
sibilidades de atingir os seus objetivos, elevando o seu nível de profis-
sionalismo e o seu comprometimento com este direito social de todos
os brasileiros: a educação. Nesse contexto, busca-se uma educação de
qualidade, que realmente seja significativa e que prepare os estudantes
para a vida em sociedade.
Neste capítulo, você vai estudar o planejamento escolar com base
nas políticas públicas educacionais e nas ações realizadas no interior das
escolas. Você vai conhecer os tipos de planejamento e verificar como
eles podem ser realizados.
2 Planejamento escolar

1 Planejamento escolar na perspectiva das


políticas públicas
As atividades de planejamento fazem parte da vida cotidiana. Elas são efetuadas
para que as ações possam atingir os resultados esperados. Por exemplo, se
você decide que precisa estudar por mais tempo pela manhã, planeja acordar
mais cedo e organiza as atividades para que elas se estendam pelo tempo
almejado. Ou ainda: se você quer sair cedo pela manhã, evitando atrasos, na
noite anterior, prepara a sua roupa, a sua bolsa e os materiais que levará, não
é mesmo?
Ao longo da história da educação escolar, o planejamento foi encarado
de diferentes formas, principalmente devido ao próprio desenvolvimento
da didática. Assim, nas concepções liberais tradicionais, há uma ênfase no
ensino e nas técnicas passivas utilizadas pelos professores, o que propõe um
planejamento mais voltado ao aspecto conteudista. Nos movimentos da Escola
Nova, os planejamentos abrangem novas metodologias e recursos audiovisuais
diversos, propondo o protagonismo dos estudantes e a ênfase no ensino e na
aprendizagem. Já para os pensadores progressistas, os esforços de planejamento
deveriam incluir um posicionamento diferente em relação aos conteúdos
científicos e demais aprendizagens para a vida social em comunidade.
Na contemporaneidade, o planejamento se estruturou como uma das funções
essenciais da gestão do sistema educacional, abrangendo os aspectos macro e
microestruturais, o funcionamento interno da escola e até mesmo a garantia da
gestão democrática nas escolas públicas, como você vai ver. O planejamento
na educação escolar deve ocorrer com muita seriedade, pois a escola é uma
instituição com finalidade social que visa a atender a um direito constitucional
de todo cidadão brasileiro. Veja o que afirma Schmitz (1980, p. 94):

Qualquer atividade sistemática, para ter sucesso, necessita ser planejada.


O planejamento é uma espécie de garantia dos resultados. E sendo a educação,
especialmente a educação escolar, uma atividade sistemática, uma organização
de situação de aprendizagem, ela necessita, evidentemente, de planejamento
muito sério. Não se pode improvisar a educação, seja qual for seu nível.

A partir dessa citação, é possível depreender alguns pontos importantes


do planejamento escolar: é uma ferramenta para atingir resultados e evita as
situações de improviso nessa área tão importante da formação das crianças
e adolescentes, ou seja, eleva o nível de profissionalismo docente. Existem
diferentes tipos de planejamento escolar:
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 planejamento educacional;
 planejamento curricular;
 planejamento institucional;
 planejamento de ensino.

O planejamento educacional é mais abrangente. Ele é realizado para


o sistema educacional como um todo pelos entes federativos responsáveis
pela gestão educacional brasileira nas esferas federal, estadual e municipal.
Assim, o planejamento educacional se materializa a partir do estabelecimento
de legislações e políticas públicas educacionais que servem de base para que
o sistema funcione, buscando a padronização de procedimentos em prol da
qualidade da aprendizagem dos estudantes.
Por sua vez, o planejamento curricular enfatiza o currículo que será
posto em prática na escola, sendo atualmente representado pela Base Nacional
Comum Curricular (BNCC), de 2018, com o apoio das Diretrizes Curricu-
lares Nacionais. Esse tipo de planejamento, aliado ao educacional, serve
como referência para que o planejamento de ensino, também conhecido
como “planejamento escolar”, seja produzido no âmbito da escola. Há ainda
o planejamento institucional, que se volta para a escola em si e para a orga-
nização de seu funcionamento, de modo que possa atender às cobranças legais
e normativas federais, estaduais e municipais. O planejamento institucional
tem como produtos básicos o PPP e o regimento escolar.

O planejamento escolar envolve as ações de análise, reflexão e previsão dos meios


que serão postos em prática para o alcance dos objetivos da escola. O planejamento
é uma ação conjunta da gestão e da equipe de profissionais, tendo no professor o
seu principal responsável.

A importância do planejamento é evidenciada a partir das leis e políticas


públicas que visam a conduzir a gestão educacional brasileira. Aqui, você
vai estudar esse conceito a partir da Constituição Federal de 1988 e da Lei
de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN — Lei nº. 9.394, de 20
de dezembro de 1996), que norteiam a formulação dos demais programas e
projetos públicos voltados para a área educacional.
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O primeiro ponto a reforçar é o fato de que a educação é um direito so-


cial no Brasil, elencado na Constituição Federal de 1988, em seu art. 6º, que
afirma: “São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho,
a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção
à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta
Constituição” (BRASIL, 1988, documento on-line, grifo nosso). Porém, essa
educação escolar não pode ser uma educação qualquer, pois deve atender a
finalidades específicas, como consta no art. 205 da Constituição Federal: a
educação visa ao “[...] pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o
exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho” (BRASIL, 1988,
documento on-line).
Para que esses objetivos se concretizem, ou seja, para que se oferte
esse direito social de forma homogênea a todos os cidadãos brasileiros,
são necessários princípios. Tais princípios são apresentados no texto cons-
titucional, no art. 206, sendo que um deles merece destaque aqui: a “[...]
garantia de padrão de qualidade” (BRASIL, 1988, documento on-line).
Ora, para que exista um padrão de qualidade a ser atingido, são necessárias
ações de planejamento específicas, que possam fazer com que os estudantes
desenvolvam suas capacidades nos processos de ensino e aprendizagem
das escolas. Para isso, atendendo à sua competência privativa definida na
Constituição, art. 21, a União precisou produzir, a partir do Ministério da
Educação, as diretrizes e bases da educação nacional. Assim, a LDBEN de
1996, em vigência na atualidade, cumpre com os requisitos de planejamento,
organização e estrutura do sistema educacional brasileiro, como determina
o art. 214 da Constituição:

Art. 214. A lei estabelecerá o plano nacional de educação, de duração decenal,


com o objetivo de articular o sistema nacional de educação em regime de cola-
boração e definir diretrizes, objetivos, metas e estratégias de implementação
para assegurar a manutenção e desenvolvimento do ensino em seus diversos
níveis, etapas e modalidades por meio de ações integradas dos poderes públicos
das diferentes esferas federativas que conduzam a:
I — erradicação do analfabetismo;
II — universalização do atendimento escolar;
III — melhoria da qualidade do ensino;
IV — formação para o trabalho;
V — promoção humanística, científica e tecnológica do País;
VI — estabelecimento de meta de aplicação de recursos públicos em educação
como proporção do produto interno bruto (BRASIL, 1988, documento on-line).
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Como você pode verificar, a Constituição Federal alinha várias questões


importantes relativas às ações de planejamento do sistema educacional. Tais
ações repercutem diretamente no planejamento das escolas e dos professores,
uma vez que esses são os espaços e agentes que colocam em prática as políticas
públicas educacionais previstas na LDBEN de 1996, no Plano Nacional de
Educação PNE 2014–2024 e em todas as demais políticas educacionais de
financiamento, curriculares, avaliativas, inclusivas, etc.

O Plano Nacional de Educação PNE 2014-2024 (BRASIL, 2015) possui oito objetivos, que
dizem respeito a: qualidade do ensino, acesso, diversidade, redução das desigualdades,
valorização docente, educação superior, recursos e democracia. Esses objetivos são
contemplados pelas 20 metas que o plano estabelece, e para cada uma delas existem
estratégias a serem postas em prática pelos entes federativos.

A LDBEN de 1996 (BRASIL, 1996) também remete ao planejamento ao


propor alguns itens importantes a serem considerados pelas instituições de
ensino. Veja a seguir.

 Art. 3º: gestão democrática e garantia de padrão de qualidade.


 Art. 12: proposta pedagógica.
 Art. 13: plano de trabalho docente e períodos de planejamento docente.
 Art. 14: projeto pedagógico da escola e participação docente.
 Art. 67: planos de carreira do magistério público.

Além de reforçar o que você já viu a respeito do padrão de qualidade neces-


sário nas atividades de ensino e aprendizagem (determinação da Constituição
Federal), a LDBEN (BRASIL, 1996) destaca outras atividades de planejamento
que devem ocorrer para promover a gestão democrática das escolas públicas.
Esse documento destaca, por exemplo, a importância da construção de um
PPP da escola, com a participação dos professores e da comunidade escolar.
Ele também menciona que os professores devem dedicar-se ao planejamento
de aulas, construindo estratégias pedagógicas em seus planos de trabalho, ou
seja, em seus planos de aula, tópico que você vai estudar na próxima seção.
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Ao se referir à importância do engajamento dos professores na elaboração


da proposta pedagógica da escola, ação de planejamento essencial para que
a escola pública atenda aos seus preceitos de gestão democrática, aliando-se
aos desejos e aspirações da comunidade escolar e local, Vasconcelos (2007,
p. 25) ressalta o seguinte:

[...] ao educador falta clareza com relação à realidade em que ele vive, não
dominando, por exemplo, como os fatos e fenômenos chegaram ao ponto em
que estão hoje (dimensão sociológica, histórico-processual); falta clareza
quanto à finalidade daquilo que ele faz: educação para quê, a favor de quem,
contra quem, que tipo de homem e de sociedade formar etc. (dimensão po-
lítica, filosófica); e, finalmente, falta clareza, como apontamos antes, à sua
ação mais específica em sala de aula (dimensão pedagógica). Efetivamente,
faltando uma visão de realidade e de finalidade, fica difícil para o educador
operacionalizar alguma prática transformadora, já que não sabe bem onde
está, nem para onde quer ir.

Como você pode perceber, na contemporaneidade, a educação escolar é


pensada de forma sistêmica, envolvendo todos os entes federativos na concre-
tização de seus objetivos. Isso faz com que existam muitas políticas públicas
educacionais que procuram estabelecer as diretrizes, os objetivos e as estra-
tégias a serem seguidas e implementadas pelas escolas. A seguir, você vai
verificar como essas políticas de planejamento educacional se desdobram no
interior da escola, orientando e estruturando as práticas pedagógicas.

2 Tipos de planejamento e sua utilização


As ações de planejamento escolar se realizam a partir dos planos que compõem
a política educacional brasileira. Ou seja, é a partir de tal política que os ges-
tores organizam o funcionamento das escolas e que os professores projetam
suas aulas de modo a fazer com que suas intencionalidades pedagógicas sejam
atingidas. Os atos de planejamento escolar costumam envolver três variáveis
específicas: análise, reflexão e previsão.
Assim, para produzir planos coerentes, é necessário realizar uma análise
do fato em questão e dos objetivos a atingir, refletindo sobre eles, prevendo os
melhores caminhos a serem seguidos e considerando os recursos envolvidos,
o tempo e as pessoas.
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A coordenadora pedagógica de uma escola pública de ensino fundamental precisa


planejar uma capacitação dos seus professores a fim de prepará-los para lidar com o
bullying no ambiente escolar. Focada nesse objetivo, ela passa a refletir sobre a melhor
maneira de concretizá-lo, decidindo que uma formação pedagógica seria interessante.
Passa então a pensar no espaço a utilizar, na data mais conveniente, em quem fará
alguma apresentação, na possibilidade de realizar alguma atividade vivencial, em quais
recursos audiovisuais serão necessários, no material que será entregue, entre tantos
outros detalhes. Além disso, a coordenadora pode ainda propor maneiras de avaliar
a capacitação e monitorar seus resultados práticos.

Haydt (2006, p. 95), ao referir-se às ações de planejamento escolar, es-


clarece que “[...] o plano é o resultado, é a culminância do processo mental
de planejamento. O plano, sendo um esboço das conclusões resultantes do
processo mental de planejar, pode ou não assumir uma forma escrita”. Assim,
geralmente há muitos planos na escola, desde documentos formais, como o
próprio PPP, até planos de ensino e planos de aula utilizados pelos docentes
no seu dia a dia.
Outro aspecto importante é o caráter flexível que deve ser dado aos pla-
nos: mesmo que eles tenham sido produto de análise e reflexão prévia, nem
sempre podem ser concretizados de forma plena, pois outros fatores não
previstos podem interferir em sua execução. Assim, cabe ao docente realizar
ressalvas, apontar observações e corrigir os planos, buscando sempre alcançar
os objetivos que propôs.
O planejamento escolar pode ser dividido em três tipos de planos mais
recorrentes e que se estabelecem de forma hierárquica e interdependente:

 plano de curso
■ plano de ensino
– plano de aula

Existem várias definições do plano de curso. De cada uma delas, é possível


retirar alguma característica específica. Baffi (2002, p. 3) comenta que o “Plano
de Curso é a organização de um conjunto de matérias que vão ser ensinadas e
desenvolvidas em uma instituição educacional, durante o período de duração
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de um curso”. Já Vasconcelos (2007, p. 117) apresenta um conceito interessante;


ele encara o plano de curso como a “[...] sistematização da proposta geral
de trabalho do professor naquela determinada disciplina ou área de estudo,
numa dada realidade”. Essa sistematização geral do trabalho não se resume
somente a listar as disciplinas que serão ensinadas: ela envolve a descrição
de outros elementos, como a previsão de “[...] um determinado conjunto de
conhecimentos, atitudes e habilidades a ser alcançado por uma turma, num
certo período de tempo” (PILETTI, 2010, p. 67).
Assim, o plano de curso envolve o detalhamento das disciplinas e dos
objetivos instrucionais (o que o docente deseja que os alunos aprendam), os
recursos necessários, os procedimentos que serão adotados pelo professor, o
cronograma de atividades e sua duração e a previsão do formato das avalia-
ções. É muito comum que os cursos de formação, por exemplo, apresentem
aos possíveis alunos o seu plano de curso, que fornece informações e ajuda
na tomada de decisão. Da mesma forma, o docente que vai conduzir as aulas
pode utilizar as informações que constam do plano de curso para organizar
e sistematizar seu ensino.
O planejamento de ensino, de acordo com Sant’anna et al. (1993,
p. 19), refere-se ao “[...] processo de tomada de decisões bem informadas que
visem à racionalização das atividades do professor e do aluno, na situação
de ensino e aprendizagem”. Ou seja, deve-se definir como o professor vai
atuar, o que vai propor para que cada um dos objetivos definidos no plano
de curso seja de fato alcançado pelos alunos, etc. Essas informações que
racionalizam as atividades de interação entre o docente e os seus alunos
compõem o plano de ensino.
Dessa forma, o plano de ensino “[...] é o plano de disciplinas, de unidades
e experiências propostas pela escola, professores, alunos ou pela comunidade”
(SANT’ANNA et al., 1993, p. 49). É por meio do plano de ensino que o pro-
fessor pode traduzir de forma operacional o que está planejado no currículo
da escola, por meio da proposição das experiências, atividades ou situações
de aprendizagem que serão utilizadas para que os conteúdos curriculares
sejam postos em prática no processo de ensino e aprendizagem. O plano de
ensino serve de base para que cada aula do professor seja construída, isto é,
ele auxilia na formulação dos planos de aula.
Procurando reforçar a importância do plano de ensino, Libâneo (1994,
p. 222) acrescenta que ele “[...] é a previsão dos objetivos e tarefas do trabalho
docente para um ano ou um semestre; é um documento mais elaborado, no
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qual aparecem objetivos específicos, conteúdos e desenvolvimento metodo-


lógico”. Como você pode verificar, o plano de ensino abrange um semestre
ou um ano, apontando os objetivos, conteúdos e metodologias que deverão
ser desenvolvidos na disciplina.
O plano de aula, por sua vez, é definido por Piletti (2010, p. 73) como:

[...] a sequência de tudo o que vai ser desenvolvido em um dia letivo. [...] a
sistematização de todas as atividades que se desenvolvem no período de
tempo em que o professor e o aluno interagem, numa dinâmica de ensino e
aprendizagem.

Como você pode perceber, o plano de aula é bastante detalhado, trazendo


para a realidade cotidiana da sala de aula o que havia sido anteriormente
previsto no plano de ensino e apontando os caminhos metodológicos que
serão postos em prática pelo professor ao interagir com os estudantes.
Você deve considerar que a construção de um plano de aula na contempo-
raneidade é completamente diferente de como as atividades dos professores
eram pensadas em outras épocas. Isso ocorre porque as metodologias utilizadas
hoje costumam mesclar traços das tendências pedagógicas que foram sendo
construídas ao longo do tempo. Assim, os planos de aula atuais envolvem
tanto metodologias mais tradicionais, como a exposição oral do professor,
o uso do quadro-negro e as atividades individuais, quanto proposições mais
progressistas de exercícios vivenciais e coletivos. O ponto de destaque, porém,
é o protagonismo dado ao estudante no processo de ensino e aprendizagem,
bem como o uso de atividades ativas que envolvam desafios, problematizações,
análise dos contextos da realidade e aplicação prática dos conhecimentos
científicos aprendidos. Tais atividades também são realizadas prevendo o uso
das tecnologias digitais de informação e comunicação.
Outro aspecto importante é que todos os professores precisam planejar;
essa não é uma ação relativa somente àqueles que estão se iniciando na carreira
docente. Moretto (2007, p. 100) comenta que “[...] há, ainda, quem pense que
sua experiência como professor seja suficiente para ministrar suas aulas com
competência”. Porém, a competência também se eleva a partir do momento
em que as ações de planejamento são realizadas, aumentando ainda mais as
probabilidades de sucesso na aprendizagem dos estudantes.
Na próxima seção, você vai verificar como o planejamento escolar pode
contribuir para a prática pedagógica docente e conhecer as etapas que devem
compor o planejamento escolar.
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Na história da educação no Brasil, até meados da década de 1990, predominaram os


aspectos da administração escolar. Isso significa que se enfatizava o uso de técnicas mais
positivistas, originadas na teoria da administração: planejar, organizar, dirigir e controlar.
Na década de 1990, contudo, o termo “gestão” passou a ser utilizado, designando
o novo modelo a ser implementado, considerando as questões de flexibilidade e
adaptação necessárias às organizações a partir da globalização. Assim, a gestão escolar
acompanha essa reconfiguração, entendendo o planejamento como imprescindível
no sentido estratégico (alcance dos resultados). Nesse contexto, também se considera
a flexibilidade necessária para acomodar as mudanças e contingências que possam
ocorrer ao longo do processo de ensino e aprendizagem.

3 Etapas do planejamento escolar


Assim como a própria escola e o processo de ensino e aprendizagem, o
planejamento escolar também foi reconfigurado com o passar do tempo.
Se ele se restringia a questões meramente técnicas nos períodos de ênfase
nas tendências liberais e era evidenciado como peça-chave nas ações da
administração escolar, passou a abranger um caráter mais social a partir
dos pensadores progressistas. Esse processo culminou na fusão de ambas
as tendências a partir do entendimento de que a gestão escolar deve pro-
duzir ferramentas mais flexíveis e estratégicas para alcançar os resultados
esperados pelas instituições de ensino. Assim, na contemporaneidade,
além das especificidades técnicas dos modelos que ajudam os professores
a planejar suas aulas, destaca-se a participação dos docentes nas ações
de macroplanejamento da escola, normalmente concretizadas a partir da
construção do PPP.
Considere o que pontua Libâneo (1994, p. 221):

O planejamento escolar é uma tarefa docente que inclui tanto a previsão das
atividades didáticas em termos da sua organização e coordenação em face
dos objetivos propostos, quanto a sua revisão e adequação no decorrer do
processo de ensino. O planejamento é um meio para se programar as ações
docentes, mas é também um momento de pesquisa e reflexão intimamente
ligado à avaliação.
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Assim, o planejamento é uma ferramenta processual, ou seja, não serve


somente para prever as ações rumo aos objetivos pedagógicos, mas também
deve permitir ajustes ao longo do processo de ensino e aprendizagem; logo,
deve ser flexível e ajustável pelo docente.
Para que os professores possam executar suas ações de planejamento
abrangendo as fases de análise, reflexão e previsão e conduzindo com efici-
ência o processo de ensino e aprendizagem a seu encargo, segundo Moretto
(2007), eles devem:

 conhecer-se;
 conhecer os alunos;
 conhecer as metodologias;
 conhecer o contexto social dos alunos.

O conhecer-se refere-se às características da personalidade do professor, à


maneira como lida com as situações cotidianas em sala de aula, ao modo como
age e reage durante o processo de interação com a sua turma; enfim, está em
jogo o nível de autoconhecimento e controle emocional que o docente possui.
Nos primórdios da escola, a ênfase da didática era no ensino, e o investimento
maior era na preparação do professor para atuar. Assim, o docente era tido
como o elemento central do processo de ensino, deixando as questões da
aprendizagem e dos alunos em segundo plano.
Conhecer os alunos implica familiarizar-se com o seu comportamento em
sala de aula, com os seus interesses, etc. O professor deve saber quais atividades
mais estimulam os estudantes e como eles se relacionam socialmente com
os colegas e com o próprio docente. Esse é o ponto central da passagem da
ênfase da didática do ensino/professor para a didática do aluno/aprendizagem.
Tal passagem veio se configurando com o advento da Escola Nova e com a
evolução das tendências pedagógicas liberais e progressistas ao longo do
século XX, atingindo o seu ápice no século XXI.
O conhecimento sobre as metodologias existentes é o que possibilita ao
professor diversificar a sua práxis de acordo com os conteúdos a abordar e
com as características das disciplinas que vem desenvolvendo. Nesse contexto,
também se pode verificar se o professor assume uma postura mais tradicional
ou mais contemporânea em relação à própria didática.
Já a preocupação com o contexto social dos alunos provém de uma visão
mais progressista. Tal perspectiva entende que conhecer os estudantes envolve,
obrigatoriamente, familiarizar-se com o seu contexto socioeconômico, a sua
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classe social, as suas condições de moradia, alimentação e segurança e os seus


grupos culturais, pois essas questões também podem intervir na aprendizagem.
Como você deve ter percebido, as questões do planejamento escolar, prin-
cipalmente quando o foco de análise são os planos de aula dos professores,
remetem muito à didática em si. Afinal, a didática é, desde os seus primórdios,
“[...] identificada como a ‘arte de ensinar’, que irá propor técnicas diversas que
facilitarão ao docente a condução e o desenvolvimento de suas aulas” (BES,
2017, p. 72). De acordo com Damis (2010), as várias transformações ocorridas
na didática seguiram os passos listados a seguir.

1. Ênfase no ensino
2. Ênfase na aprendizagem
3. Transmissão de conhecimentos
4. Atividades para pensar e refletir
5. Reforço para atingir comportamentos
6. Desenvolvimento de competências

Assim, um professor alinhado às tendências pedagógicas liberais tradicio-


nais, por exemplo, é encarado como o único detentor do conhecimento. Por
essa razão, e também por considerar que os alunos não possuem conhecimento
algum sobre os conteúdos a serem ensinados, o docente vai apenas transmiti-los.
Os alunos, nesse caso, recebem o ensino de forma passiva, e não interativa,
memorizando informações e não interagindo entre si ou com o docente. Nessa
visão pedagógica tradicional, ensinar é transmitir conhecimentos.
Já se o docente se alinha a uma tendência pedagógica progressista, ele
entende que deve envolver outros elementos no processo de ensino, como as
vivências e experiências que o aluno possui relativas aos conteúdos aborda-
dos, a problematização da realidade social do estudante, etc. Essa maneira
de posicionar-se pedagogicamente propõe que o ensino seja visto como uma
relação horizontal entre o professor e os alunos, na qual ambos detêm conhe-
cimento e podem aprender juntos.
O planejamento do professor, que resulta na construção de seus planos
de aula, deve considerar alguns elementos didáticos básicos específicos.
A seguir, veja quais são esses elementos (MARTINS, 2012).

 Definição dos objetivos: é uma tarefa fundamental na ação de plane-


jamento, uma vez que aponta o que se deseja que o aluno aprenda ao
longo do processo de ensino e aprendizagem, o que se refletirá direta-
mente nas metodologias, nos recursos necessários e na estruturação da
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avaliação. Os objetivos muitas vezes chegam ao professor previamente


estabelecidos, pois fazem parte do plano de ensino da escola, atendendo
ao plano de curso existente. Além disso, na atualidade, com a BNCC
vigente, esses objetivos deverão se alinhar às habilidades propostas no
contexto da educação por competências.
 Seleção e organização dos conteúdos: os conteúdos representam as
frações do conhecimento científico que devem ser aprendidas pelos
estudantes. Hoje, os conteúdos obrigatórios são aqueles que a BNCC
estabelece. Porém, as ações de organização feitas pelo professor en-
volvem pensar na sequência cronológica, nas etapas graduais em que
os conteúdos serão abordados, na integração com as diversas áreas do
conhecimento e na continuidade ao longo do período letivo.
 Métodos e técnicas pedagógicas: são as formas como o processo de
ensino e aprendizagem é posto em prática, o que traduz a tendência
pedagógica assumida pelo professor. Logo, os métodos e técnicas podem
incluir as posturas mais tradicionais, focadas na assimilação de conte-
údos, ou ainda o aprender a fazer, o aprender a aprender, ou mesmo a
sistematização coletiva do conhecimento e as práticas sociais. Merece
destaque nessa fase a devida preocupação com os recursos que serão
necessários, sejam eles materiais, financeiros, audiovisuais, etc. Tam-
bém é preciso considerar o tempo necessário e as pessoas envolvidas.
 Procedimentos avaliativos: a avaliação é parte fundamental do pro-
cesso de planejamento docente, pois define como poderão ser obser-
vados os avanços dos estudantes em relação aos objetivos pedagógicos
propostos. Ela se relaciona diretamente com a tendência pedagógica
seguida pelo professor. Assim, vai desde simples atos pontuais de ve-
rificação por meio de provas individuais até avaliações mais coletivas,
processuais e contínuas.

Os métodos e técnicas pedagógicas que foram contestados e acrescidos de


novos elementos ao longo do tempo ficam à disposição dos professores para
que possam construir o seu próprio processo de ensino e aprendizagem. Isso
evidencia a importância de estudar as teorias educacionais. Desse modo, cada
docente pode tirar suas próprias conclusões sobre o que é mais adequado em
sala de aula e sobre que tipo de professor deseja ser.
O mesmo ocorre quando o docente decide sobre pontos do processo ava-
liativo. Caso opte por uma avaliação individual, de caráter classificatório, o
que era feito como regra na concepção liberal tradicional da educação, estará
se aliando a uma corrente de pensamento que entende a avaliação como mero
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instrumento de medição e de controle dos alunos em sala de aula. Já se optar


por uma avaliação com caráter mais coletivo e processual, estará aderindo a
ideias mais progressistas da educação, que entendem que o processo em si é
mais importante do que os conteúdos ou o próprio conhecimento científico
como um todo, pois prepara para a vida social.
As questões relativas ao planejamento docente hoje são fortemente emba-
sadas pelas políticas públicas curriculares oficiais e avaliativas. Tais políticas
estabelecem para a escola parâmetros e diretrizes a seguir e, por vezes, agem
diretamente na performance dessa instituição, que se organiza para atender
aos resultados que lhe são cobrados.
Como você viu ao longo deste capítulo, o processo de planejamento é uma
realidade constante nas escolas contemporâneas; ele é aplicado para que se atin-
jam os resultados esperados em relação à aprendizagem dos estudantes. Dessa
forma, cabe a você, como professor, entender como funciona essa importante
ferramenta, que é utilizada tanto em sala de aula quanto em outras esferas da
gestão da escola e mesmo da gestão do sistema educacional como um todo.

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Planejamento escolar 15

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