CONFLITO DE JURISDIÇÃO Nº 0060935-50.2013.8.19.0000 RELATOR: DES. ELIZABETE ALVES DE AGUIAR SUSCITANTE: JUIZ DE DIREITO DA 37ª VARA CRIMINAL DA COMARCA DA CAPITAL SUSCITADO: JUÍZA DE DIREITO DO V JUIZADO ESPECIAL CRIMINAL DA COMARCA DA CAPITAL INTERESSADO: LUIZ FELIPE DA SILVA BORGES
CONFLITO DE COMPETÊNCIA SUSCITADO PELO JUIZ DA 37ª
VARA CRIMINAL EM FACE DA JUÍZA DO V JUIZADO ESPECIAL CRIMINAL, AMBOS DA COMARCA DA CAPITAL. SUPOSTA PRÁTICA DE CRIMES DE FALSA IDENTIDADE E USO DE DOCUMENTO DE IDENTIDADE FALSO (ARTS. 307 E 308 DO C.P). A SOMA DAS PENAS MÁXIMAS EM ABSTRATO NÃO INFLUI NA DEFINIÇÃO DO JUÍZO COMPETENTE PARA O PROCESSO E JULGAMENTO DAS INFRAÇÕES PENAIS DE MENOR POTENCIAL OFENSIVO. CONFLITO CONHECIDO E PROVIDO, DECLARANDO-SE A COMPETÊNCIA DA JUÍZA DO V JECRIM DA COMARCA DA CAPITAL. A imputação diz respeito a dois crimes de menor potencial ofensivo em concurso material. O magistrado suscitante aduziu que a competência dos Juizados Especiais Criminais é determinada pela Constituição, portanto de natureza absoluta, além de ser determinada rationae materiae. A pena máxima cominada a ambos os delitos não supera dois anos, nos termos do que dispõe o art. 61 da Lei 9.099/1995. O aumento decorrente do somatório das penas em virtude do concurso material não altera a natureza da infração, e por conseguinte, não altera a competência para o processo e julgamento do feito. Trata-se de competência absoluta em razão da matéria, nos termos do comando do art. 98, I da Constituição da República. Entendimento pacificado neste Tribunal de Justiça por meio do Enunciado nº 06 do Aviso 43 do TJERJ. Precedentes desta Corte. Doutrina neste sentido - Fernando da Costa Tourinho Filho (in Comentários à Lei dos Juizados Especiais Criminais, 4ª Edição, Ed. Saraiva, São Paulo, 2007 – páginas 31/32) e Aury Lopes Junior (in, Direito Processual Penal e sua Conformidade Constitucional – 4ª edição – volume II – p. 215). CONFLITO CONHECIDO e PROVIDO, declarando-se a competência da Juíza do V JECRIM da Comarca da Capital.
ELIZABETE ALVES DE AGUIAR:000014561 Assinado em 21/02/2014 15:47:05
Local: GAB. DES(A). ELIZABETE ALVES DE AGUIAR 131
VISTOS, relatados e discutidos estes autos do Conflito de
Jurisdição nº 0060935-50.2013.8.19.0000, em que é suscitante – 37ª Vara Criminal da Comarca da Capital, suscitado – V Juizado Especial Criminal da Comarca da Capital,
ACORDAM os Desembargadores da Oitava Câmara Criminal
do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, por UNANIMIDADE, em conhecer, e, no mérito, dar provimento ao conflito para declarar a competência do V Juizado Especial Criminal da Comarca da Capital, nos termos do voto da Des. Relatora. Presidiu a sessão, realizada em 21 de fevereiro de 2014, a Des. Suely Lopes Magalhães.
RELATÓRIO
Cuida-se de conflito de competência no qual figura como
suscitante o Juiz de Direito da 37ª Vara Criminal da Comarca da Capital, e como suscitada a Juíza de Direito do V Juizado Especial Criminal da Comarca da Capital, nos autos do processo nº 0028400-60.2012.8.19.0208, em que consta como acusado Luiz Felipe da Silva Borges, denunciado pela suposta prática dos delitos tipificados nos arts. 307 e 308 do C.P.
Aduz o magistrado suscitante, que a competência dos Juizados
Especiais Criminais para processar e julgar crimes de menor potencial ofensivo é determinada pela Constituição Federal, além de se tratar de competência rationae materiae, de natureza absoluta, importando a manutenção da competência da Vara Criminal, nulidade insanável, nos termos do art. 564, I do C.P.P. Assim, requer seja reconhecida a competência da Juíza do V Juizado Especial Criminal para processar e julgar o feito (fls. 77/83).
A Juíza suscitada prestou informações (fls. 93/98), aduzindo que
a Lei 9.099/1995 em seu art. 66 e parágrafo único, prevê única e exclusivamente a realização de citação pessoal, determinando a remessa dos autos ao Juízo Criminal, caso o acusado não seja encontrado para não ser citado. Alega que o acusado não foi localizado, não cabendo ao JECRIM expedir diligências para a sua localização, nem proceder à citação por edital.
Parecer da d. Procuradoria Geral de Justiça, às fls. 109/111,
opinando pela improcedência do conflito, declarando-se competente o Juiz suscitante, uma vez que as penas máximas cominadas aos delitos ultrapassam o limite da Lei 9.099/1995 que estabelece a competência do JECRIM.
É o relatório.
VOTO
Cuida-se de ação penal em que o acusado Luiz Felipe da Silva
Borges foi denunciado como incurso nas penas dos arts. 307 e 308 do Código Penal porque no dia 27 de setembro de 2012, nas proximidades da bilheteria do Estádio do Engenhão, ao ser abordado por policiais militares, apresentou-se como Roberto 132
Matheus Silva Belo e usou como própria a carteira de identidade do mesmo, a fim de se passar pela referida pessoa.
Inicialmente o termo circunstanciado foi encaminhado ao V
Juizado Especial Criminal - Méier, cuja magistrada, acolhendo parecer do Ministério Público, determinou a remessa dos autos à 1ª Central de Inquéritos, havendo sido posteriormente, oferecida denúncia.
Distribuída à 37ª Vara Criminal da Capital, inicialmente, em
atendimento à manifestação ministerial, foi determinada a expedição de ofícios para a localização do réu. Posteriormente, com nova abertura de vista ao Parquet, foi reiterado tal requerimento. Conclusos os autos o magistrado suscitou o presente conflito, aduzindo que a competência dos Juizados Especiais Criminais é determinada pela Constituição, portanto de natureza absoluta, além de ser competência rationae materiae.
O deslinde da controvérsia consiste em determinar se a soma
das penas máximas em abstrato é ou não desinfluente para a definição do Juízo competente para o processo e julgamento das infrações penais de menor potencial ofensivo.
Dispõe o art. 98, I, da Constituição da República, in verbis:
Art. 98. A União, no Distrito Federal e nos Territórios, e os
Estados criarão:
I - juizados especiais, providos por juízes togados, ou togados e
leigos, competentes para a conciliação, o julgamento e a execução de causas cíveis de menor complexidade e infrações penais de menor potencial ofensivo, mediante os procedimentos oral e sumariíssimo, permitidos, nas hipóteses previstas em lei, a transação e o julgamento de recursos por turmas de juízes de primeiro grau;
A propósito, no inciso I do art. 98 da Carta Magna está o ponto
central da questão aqui em debate, remetendo ao comando contido no art. 61 da Lei 9099/1995, abaixo transcrito:
“Art. 61. Consideram-se infrações penais de menor potencial
ofensivo, para os efeitos desta Lei, as contravenções penais e os crimes a que a lei comine pena máxima não superior a 2 (dois) anos, cumulada ou não com multa.” (Redação dada pela Lei nº 11.313, de 2006)
É cediço que a lei definidora das infrações de menor potencial
ofensivo é a de nº 9.099/1995, vez que nenhuma outra alterou o regime de penas das infrações que se abrigam no conceito de menor potencial ofensivo. Logo, está em vigor a competência constitucionalmente conferida ao JECRIM para processar e julgar, em regime oral e sumaríssimo, as causas de menor potencial ofensivo, e isto 133
porque a Constituição brasileira tem força operacional vinculante de todo o sistema
jurídico, desde o topo da pirâmide normativa em que se encontra, e em assim sendo, sua autoridade hierárquica não pode ser desafiada pelo legislador ordinário nem pelos intérpretes. Trata-se, por conseguinte, de competência absoluta em razão da matéria.
In casu, ambos os crimes enquadram-se neste conceito,
considerando que as penas máximas cominadas a cada um deles não ultrapassam dois anos. Vejamos:
Art. 307 - Atribuir-se ou atribuir a terceiro falsa identidade para
obter vantagem, em proveito próprio ou alheio, ou para causar dano a outrem: Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa, se o fato não constitui elemento de crime mais grave.
Art. 308 - Usar, como próprio, passaporte, título de eleitor,
caderneta de reservista ou qualquer documento de identidade alheia ou ceder a outrem, para que dele se utilize, documento dessa natureza, próprio ou de terceiro: Pena - detenção, de quatro meses a dois anos, e multa, se o fato não constitui elemento de crime mais grave. (destacamos)
Este Tribunal de Justiça pacificou a questão por meio do
Enunciado nº 06 do Aviso 43 do TJERJ, editado no Encontro dos Magistrados dos Juizados Especiais Criminais e Turmas Recursais, que dispõe:
“6 – Na hipótese de concurso material de infrações de menor
potencial ofensivo, não deve ser levado em consideração o somatório das penas máximas para efeito de aplicação da Lei 9099/95 – (I EJTR).”
No mesmo sentido, orienta-se a jurisprudência desta Corte,
conforme os julgados abaixo colacionados:
CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. CRIMES DE
LESÃO CORPORAL E RESISTÊNCIA EM CÚMULO MATERIAL. NÃO DEVE SER CONSIDERADA A SOMA DAS PENAS PARA A DETERMINAÇÃO DA COMPETÊNCIA. In casu, o autor do fato foi denunciado pelo cometimento dos injustos penais de lesão corporal leve e resistência, quem possuem o preceito secundário, respectivamente, de três meses a um ano e de dois meses a dois anos, tudo em cúmulo material. Segundo dispõe o Enunciado 6 do Aviso n.º 43/2006: Na hipótese do concurso material de infrações de menor potencial ofensivo, não deve ser levado em consideração o somatório das penas máximas para efeito de aplicação da Lei 9099/95. Assim, considerando que ambos os crimes, eventualmente, praticados pelo denunciado são de menor 134
potencial ofensivo, deve ser o conflito julgado procedente.
Precedente do TJ/RJ. CONFLITO ACOLHIDO (0060937-20.2013.8.19.0000 - CONFLITO DE JURISDICAO - DES. DENISE VACCARI MACHADO PAES - Julgamento: 28/11/2013 - QUINTA CAMARA CRIMINAL)
Habeas Corpus. Denúncia que imputou ao paciente a prática
dos crimes previstos nos artigos 330 e 331, ambos do Código Penal. Crimes de menor potencial ofensivo. Alegação de incompetência do Juizado Especial Criminal para o julgamento da matéria, tendo em vista que o somatório das penas previstas no preceito secundário dos dois crimes ultrapassa a alçada das causas de menor potencial ofensivo, o que viola o princípio do juiz natural. Pedido: declaração de nulidade absoluta do processo, determinando-se o declínio de competência para uma Vara Criminal. O paciente foi condenado, no Juizado Especial Adjunto Criminal da Comarca de Três Rios, pelos crimes de Desobediência e Desacato, nas seguintes penas: a) Artigo 330 do Código Penal: 1 mês de detenção e 20 (vinte) dias-multa; b) Artigo 331 do Código Penal: 8 meses de detenção e 13 dias-multa, totalizando a pena em 9 meses de detenção e 33 dias-multa, fixado o valor do dia-multa em 1/15 do menor salário mínimo vigente à época dos fatos. O recurso defensivo foi desprovido pelo Conselho Recursal dos Juizados Especiais nos seguintes termos: “Presentes ao julgamento os membros do Ministério Público e da Defensoria Pública. Súmula. Acordam os Juízes que integram a Turma dos JECRIM's, por unanimidade, em conhecer do recurso e negar-lhe provimento, mantendo a sentença por seus próprios fundamentos, na forma do artigo 82, § 5º da Lei nº 9.099/95, rejeitando preliminar de incompetência do Juizado Especial na forma do Enunciado 120 do FONAJE – Fórum Nacional dos Juizados Especiais – “O concurso de infrações de menor potencial ofensivo não afasta a competência do Juizado Especial Criminal, ainda que somatório das penas, em abstrato, ultrapasse dois anos (Aprovado no XXIX FONAJE - MS 25 a 27 de maio de 2011)”. O artigo 60 da Lei nº 9.099/95 dispõe que “O Juizado Especial Criminal, provido por juízes togados ou togados e leigos, tem competência para a conciliação, o julgamento e a execução das infrações penais de menor potencial ofensivo, respeitadas as regras de conexão e continência”, complementado o artigo 61 que “Consideram-se infrações penais de menor potencial ofensivo, para os efeitos desta Lei, as contravenções penais e os crimes a que a Lei comine pena máxima não superior a 2 (dois) anos, cumulada ou não com multa”. 135
Não há qualquer óbice legal para que ambos os delitos pelos
quais o paciente foi denunciado sejam processados e julgados no âmbito dos Juizados Especiais Criminais, tratando-se ambas de infrações de menor potencial ofensivo, pouco importando que o somatório das penas em abstrato – dos dois distintos crimes - ultrapasse o limite de 2 anos, estipulado para julgamento pelos Juizados Especiais Criminais. Evidentemente, tal somatório das penas em abstrato impedirá a aplicação do instituto da suspensão condicional do processo, previsto no artigo 89 da Lei nº 9.099/95, pois tal instituto se aplica ao crime ou os crimes cujo somatório da pena mínima em abstrato não ultrapasse o limite de 1 ano, conforme sumulado pelos Tribunais Superiores, sendo matéria que independe do julgamento no âmbito dos Juizados Especiais Criminais, da Vara Criminal Comum ou daquela Especializada. Frise-se que em sede recursal a matéria sequer foi aventada pela defesa, que só agora, através da ação de habeas corpus, pleiteia a nulidade de todo o processo. Ressalte-se, por fim, que a matéria discutida neste habeas foi objeto de apreciação pelo FONAJE - Fórum Nacional dos Juizados Especiais Criminais, Órgão que possui, entre suas funções precípuas, a discussão das questões processuais mais relevantes no âmbito dos Juizados Especiais. Inexistência de ilegalidade a ser sanada. Ordem denegada. (0000025-57.2013.8.19.0000 - HABEAS CORPUS - Des. Marcus Quaresma Ferraz. Julgamento: 27/03/2013 - OITAVA CÂMARA CRIMINAL)
CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. AMEAÇA,
DESACATO, RESISTÊNCIA E OUTRAS FRAUDES (ARTIGOS 147, 331, 329 E 176, TODOS DO CP). O 8º JECRIM recebeu da autoridade policial as peças referentes à apuração da realização pela interessada das condutas comportamentais acima destacadas. O Juizado Especial Criminal, considerando que o somatório das penas máximas cominadas em abstrato dos delitos em comento superam o limite de dois anos estabelecido na Lei 9.099/95, remeteu os autos ao Juízo Comum que, por sua vez, entendeu ser desimportante o somatório das penas para o fim de estabelecimento da competência ratione materiae, razão do presente conflito. Sem deslembrar ou arrostar, nem tão pouco perder de foco, a respeitabilíssima corrente contrária, por sinal, merecedora de prestígio, filio-me ao entendimento dominante neste Tribunal que considera que na hipótese de concurso material de infrações de menor potencial ofensivo, não deve ser levado em consideração o somatório das penas máximas cominadas aos delitos (Enunciado n.º 06, do Aviso n.º 43/2006, do TJERJ). A Lei 9099/95 determina que compete aos Juizados Especiais Criminais o julgamento dos crimes de menor 136
potencial ofensivo, entendendo-se como tais, segundo exegese
da referida lei especial, aqueles cuja pena máxima cominada em abstrato não é superior a 02 anos. Trata-se, portanto, de competência absoluta em razão da matéria, exsurgida do art. 98, I, da CRFB. É preciso interpretar o texto legal de olhos bem fitados na Constituição Federal, vale dizer, de forma vertical e o desejo extraído da Carta Maior é que os crimes de menor potencial ofensivo sejam julgados nos Juizados Especiais e o seu deslocamento para o juízo comum se dará em hipóteses excepcionalíssimas, v.g. no caso de conexão ou continência com delitos de maior potencial ofensivo ou mesmo dolosos contra a vida. E para dar vazão a tal determinação constitucional, cabe ao intérprete se utilizar dos meios hermenêuticos possíveis ao alcance do fim colimado na constituição. Para tanto, o critério da analogia é suficiente ao desate da controvérsia. E o comando do art. 119, do CP é suficientemente capaz de ser invocado. Dispõe o referido artigo que no caso de concurso de crimes, e extinção da punibilidade incidirá sobre a pena de cada um isoladamente. Ora, se para extinguir-se a punibilidade ou ainda para a oportunização dos institutos despenalizantes da Lei 9.099/95 em caso de conexão com crimes de maior potencial ofensivo ou aqueles sob a égide do procedimento afeto ao Tribunal do Júri (art. 60, parágrafo único, da lei especial) o concurso de crimes é desprezado, injustificável a consideração global do somatório das penas máximas de cada delito de menor potencial ofensivo para deslocar-se a competência estabelecida no próprio texto constitucional. Ademais, como sói ocorrer no âmbito das distritais, com preenchimentos equivocados de termos circunstanciados e óticas exageradas de imputações, onde não raro são lançados diversos tipos penais, sem o cuidado da verificação sequer de absorção ou dubiedade, tais erros ou excessos emanados da autoridade policial e sem o controle do Ministério Público que ainda sequer formou sua opinio delicti, não se mostram capazes de olvidar a vontade do constituinte no estabelecimento da competência em razão da matéria. A título de exemplo e sem tecer maiores considerações acerca da capitulação das condutas ditas realizadas pela ora interessada, observa-se que segundo declarações colhidas na distrital a mesma abordou um táxi e solicitou uma corrida à sua residência. Na chegada, entrou em casa para pegar o dinheiro da corrida e não mais retornou. O que até então não passava de um ilícito civil, desbordou para a seara penal. O taxista chamou a polícia que, ao chegar no local, chamou a interessada pelo nome, a mesma desceu proferindo palavras de baixo calão. Os policiais deram-lhe voz de prisão e a interessada não se conformou com a conduta policial, resistindo. Foi preenchido termo circunstanciado com o aponte da realização das condutas comportamentais descritas nos art. 147, 331, 329 e 176, todos do CP. Só por essa narrativa algum exagero se vislumbra na 137
capitulação realizada até agora. Pergunta-se então: Seria
possível, somente em razão de prévio somatório das penas referente a delitos apontados ainda de forma precária pela autoridade policial, deslocar-se uma competência estabelecida expressamente na constituição? A resposta, a meu aviso e com todas as vênias e respeito às profícuas opiniões em contrário, é desenganadamente negativa. CONFLITO CONHECIDO E JULGADO PROCEDENTE, para afirmar a competência do 8º Juizado Especial Criminal, nos termos do voto do relator. (0019390-34.2012.8.19.0000 - CONFLITO DE JURISDICAO - DES. GILMAR AUGUSTO TEIXEIRA - Julgamento: 06/06/2012 - OITAVA CAMARA CRIMINAL)
EMENTA - PENAL - PROCESSO PENAL - CALUNIA
DIFAMAÇÃO - CONCURSO DE CRIMES - INFRAÇÃO DE PEQUENO POTENCIAL OFENSIVO - CONCEITO - COMPETÊNCIA - JECRIM Ainda que não se trate de questão pacificada nos Tribunais Superiores, também havendo divergência doutrinária acerca do tema, certo que não se controverte de que se trata de infração de menor potencial ofensivo toda aquela em que a pena máxima não supera dois anos, devendo ser observado naquele limite eventual presença de causa de aumento de pena previsto na parte especial ou em lei especial, penso que não altera a natureza da infração o aumento decorrente do concurso material ou formal de crimes ou mesmo da continuidade delitiva. Doutrina neste sentido. No caso concreto, ainda que se reconheça tipificados os crimes de calúnia e difamação, a pena máxima de cada uma das infrações não supera dois anos, o que aponta o JECRIM como competente para decidir a imputação respectiva. (0016133-98.2012.8.19.0000 - RECURSO EM SENTIDO ESTRITO - DES. MARCUS BASILIO - Julgamento: 22/05/2012 - PRIMEIRA CAMARA CRIMINAL)
EMENTA Conflito de Competência. Imputação do crime de
ameaça e de desacato. 1. O acusado foi denunciado pela prática dos crimes descritos nos artigos 147 (duas vezes), na forma do artigo 71 e 331, tudo nos termos do artigo 69, todos do Código Penal. 2. O juízo suscitado acolheu a tese levantada pelo Ministério Público e declinou de sua competência para o Juízo comum, porque o somatório das penas atribuídas aos crimes supracitados ultrapassaria o patamar de 2 (dois) anos. 3. O juízo suscitante invocou o enunciado nº 06 do Aviso nº 43 do TJERJ, que pacificou o entendimento de que, na hipótese de concurso material de infrações de menor potencial ofensivo, não se leva em consideração a soma das penas máximas para estabelecimento da competência do Juizado Criminal. 4. Assiste razão ao Juízo suscitante, porquanto o acusado foi denunciado pela prática de dois crimes, mas cada um tem a pena máxima 138
prevista inferior a 2 (dois) anos, não extrapolando a incidência
da competência do Juizado Criminal, nos termos do artigo 61, da Lei 9.099/95. 5. Conflito conhecido e provido, firmando-se a competência do Juizado Especial Criminal de Barra do Piraí, para o processo e julgamento dos crimes. (0000624-80.2010.8.19.0006 - CONFLITO DE JURISDICAO - DES. CAIRO ITALO FRANCA DAVID - Julgamento: 08/09/2011 - QUINTA CAMARA CRIMINAL)
CONFLITO DE JURISDIÇÃO - ARTIGO 129, CAPUT E ARTIGO
329 DO CÓDIGO PENAL, ARTIGO 309 DA LEI 9503/97, N/F DO ARTIGO 69 DO CÓDIGO PENAL APLICAÇÃO DO ENUNCIADO 06 DO AVISO 43/2006 DO TJERJ - COMPETÊNCIA DO JUIZADO ESPECIAL CRIMINAL, SUSCITADO – UNÂNIME Declínio de competência suscitado pela 2ª Vara Criminal da Comarca de Barra do Piraí ao receber os autos do processo nº 0003871-40,2008.8.19.0006, objetivando seja declarada a competência do Juizado Especial Criminal daquela comarca para processar e julgar o feito. O referido processo trata de suposta prática dos delitos previstos nos artigos 129, caput, artigo 329, ambos do Código Penal e artigo 309 da Lei 9503/97, todos na forma do artigo 69 do Código Penal, tendo entendido o Juizado Especial Criminal, ora suscitado, ao remeter os autos a 2ª Vara Criminal, que o somatório das penas ultrapassa os dois anos denotando-se a insustentabilidade de prosseguimento naquele Juizado, bem como ser o lastro probatório inconsistente com o rito da Lei 9099/95. Aplica-se na presente hipótese o Enunciado nº 06 do Aviso 43 do TJERJ, que estabelece que "na hipótese de concurso material de infrações de menor potencial ofensivo, não deve ser levado em consideração o somatório das penas máximas para efeito de aplicação da Lei 9099/95". Os fatos nos autos do processo nº 0003871-40.2008.8.19.0006, consistem em infrações de menor potencial ofensivo: Artigo 129, caput do CP - pena máxima de 01 ano; Artigo 329 do CP - pena máxima de 01 ano; Artigo 309 da Lei 9503/97 - pena máxima de 02 anos. Logo a aplicação do referido enunciado é completamente viável, não havendo que se falar em somatório das penas. Também não vislumbra essa Relatora qualquer complexidade na apuração dos fatos para que se possa aplicar a exceção do artigo 77, § 2º da Lei 9099/95, sendo certo que os autos ainda se encontram em fase de apuração não tendo o Ministério Público sequer denunciado o interessado, requerendo tão somente remessa dos autos a autoridade policial para diligenciar. Conflito que se julga procedente. (0003871-40.2008.8.19.0006 - CONFLITO DE JURISDICAO - DES. ELIZABETH GREGORY - Julgamento: 05/10/2010 - SETIMA CAMARA CRIMINAL) 139
Quanto ao tema, preleciona Fernando da Costa Tourinho Filho
(in Comentários à Lei dos Juizados Especiais Criminais, São Paulo: Editora Saraiva, 2007 – páginas 31/32) in literallis:
“A Lei nº 9.099/95, na sua feição original, considerou de menor
potencial ofensivo as contravenções e os crimes cuja pena máxima não extrapolasse um ano nem se incluíssem entre os que se subordinavam a procedimento especial. Posteriormente, com o advento da Lei n. 10.295/2001, houve um avanço. Os crimes de menor potencial ofensivo passaram a ser aqueles cuja pena máxima não superasse dois anos, sujeitos ou não a procedimento especial. Na hipótese de concurso material, as infrações não podiam ser consideradas individualmente. Houve discussão a respeito. Para nós, como o legislador não se preocupou com esta ou aquela quantidade de pena, mas com a identificação das infrações de menor potencial ofensivo (e tanto é verdade que considerou como tais as contravenções definidas nos arts. 45, 53 e 54 do Dec.-Lei n. 6.259, de 10-2-1944, cujas penas máximas são de quatro anos para as duas primeiras e de cinco anos para as últimas e a prevista no art. 24 da Lei das Contravenções Penais, cuja pena máxima é de dois anos), é lícito concluir que o concurso formal ou material, apesar do aumento previsto nos arts. 69 e 70 do CP, não é motivo excludente da competência do Juizado. Daí o acerto da v. decisão do saudoso Tribunal de Alçada Criminal do Estado de São Paulo, no sentido de que as penas abstratamente cominadas, no concurso de crimes, não podem ser somadas para criar obstáculo à transação. Devem ser consideradas isoladamente, a exemplo, aliás do que ocorre com a extinção da punibilidade em face do disposto no art. 119 do CP (RJDTACrim, 34/219)” ...
“Hoje, em face da nova redação dada ao art. 60 da Lei do
Juizado e da inclusão de um parágrafo determinando a observância das regras sobre conexão e continência, conclui-se que a até então proibida admissão do concurso material no Juizado Especial Criminal é coisa do passado. Aliás, esse Enunciado n. 11, antes mesmo da promulgação da nova lei, foi alterado pelo de n. 80, no XIX Encontro Nacional de Coordenadores de Juizados Especiais Criminais do Brasil, realizada em fins de maio e começo de junho de 2006, em Aracaju, elucidando que as penas no concurso devem ser consideradas isoladamente para efeito de competência.”
Tal posicionamento também encontra suporte na doutrina de
Aury Lopes Junior, abaixo transcrita:
“Não se desconhece a divergência doutrinária em torno desse
critério de definição da competência do JECRIM (soma das penas e incidência das causas de aumento). Se, de um lado, existe uma forte tendência jurisprudencial em aplicar as regras acima expostas, na doutrina a situação é diversa. Estamos com GIACOMOLLI, DUCLERC, KARAM, GRINOVER, MAGALHÃES GOMES FILHO, SCARANCE FERNANDES, GOMES, entre outros, no sentido de que: a) no concurso material de crimes, analisa-se a pena de cada um deles de forma isolada; b) sendo concurso formal ou crime continuado, despreza-se a causa de aumento, trabalhando somente com a pena do tipo mais grave. Trata-se de seguir a lógica definida pelo legislador penal no artigo 119 do CP, quando define o limite do poder 140
punitivo de forma isolada, para cada crime. Assim, segundo o dispositivo em
questão, no caso de concurso de crimes, a extinção da punibilidade incidirá sobre a pena de cada um, isoladamente. (in Direito Processual Penal e sua Conformidade Constitucional – 4ª edição – volume II – p. 215)
Diante do exposto, é competente o JECRIM para julgar o feito.
Pelo exposto VOTO no sentido de CONHECER e JULGAR
PROCEDENTE o presente conflito para reconhecer a competência da Juíza do V Juizado Especial Criminal da Comarca da Capital, ora suscitado, para processar e julgar o feito.