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OITAVA CÂMARA CRIMINAL


CONFLITO DE JURISDIÇÃO Nº 0060935-50.2013.8.19.0000
RELATOR: DES. ELIZABETE ALVES DE AGUIAR
SUSCITANTE: JUIZ DE DIREITO DA 37ª VARA CRIMINAL DA COMARCA DA
CAPITAL
SUSCITADO: JUÍZA DE DIREITO DO V JUIZADO ESPECIAL CRIMINAL DA
COMARCA DA CAPITAL
INTERESSADO: LUIZ FELIPE DA SILVA BORGES

CONFLITO DE COMPETÊNCIA SUSCITADO PELO JUIZ DA 37ª


VARA CRIMINAL EM FACE DA JUÍZA DO V JUIZADO ESPECIAL
CRIMINAL, AMBOS DA COMARCA DA CAPITAL. SUPOSTA
PRÁTICA DE CRIMES DE FALSA IDENTIDADE E USO DE
DOCUMENTO DE IDENTIDADE FALSO (ARTS. 307 E 308 DO
C.P). A SOMA DAS PENAS MÁXIMAS EM ABSTRATO NÃO
INFLUI NA DEFINIÇÃO DO JUÍZO COMPETENTE PARA O
PROCESSO E JULGAMENTO DAS INFRAÇÕES PENAIS DE
MENOR POTENCIAL OFENSIVO. CONFLITO CONHECIDO E
PROVIDO, DECLARANDO-SE A COMPETÊNCIA DA JUÍZA DO V
JECRIM DA COMARCA DA CAPITAL.
A imputação diz respeito a dois crimes de menor potencial
ofensivo em concurso material.
O magistrado suscitante aduziu que a competência dos Juizados
Especiais Criminais é determinada pela Constituição, portanto
de natureza absoluta, além de ser determinada rationae
materiae.
A pena máxima cominada a ambos os delitos não supera dois
anos, nos termos do que dispõe o art. 61 da Lei 9.099/1995. O
aumento decorrente do somatório das penas em virtude do
concurso material não altera a natureza da infração, e por
conseguinte, não altera a competência para o processo e
julgamento do feito. Trata-se de competência absoluta em razão
da matéria, nos termos do comando do art. 98, I da Constituição
da República. Entendimento pacificado neste Tribunal de Justiça
por meio do Enunciado nº 06 do Aviso 43 do TJERJ. Precedentes
desta Corte.
Doutrina neste sentido - Fernando da Costa Tourinho Filho (in
Comentários à Lei dos Juizados Especiais Criminais, 4ª Edição,
Ed. Saraiva, São Paulo, 2007 – páginas 31/32) e Aury Lopes
Junior (in, Direito Processual Penal e sua Conformidade
Constitucional – 4ª edição – volume II – p. 215).
CONFLITO CONHECIDO e PROVIDO, declarando-se a
competência da Juíza do V JECRIM da Comarca da Capital.

ELIZABETE ALVES DE AGUIAR:000014561 Assinado em 21/02/2014 15:47:05


Local: GAB. DES(A). ELIZABETE ALVES DE AGUIAR
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VISTOS, relatados e discutidos estes autos do Conflito de


Jurisdição nº 0060935-50.2013.8.19.0000, em que é suscitante – 37ª Vara Criminal
da Comarca da Capital, suscitado – V Juizado Especial Criminal da Comarca da
Capital,

ACORDAM os Desembargadores da Oitava Câmara Criminal


do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, por UNANIMIDADE, em
conhecer, e, no mérito, dar provimento ao conflito para declarar a
competência do V Juizado Especial Criminal da Comarca da Capital, nos
termos do voto da Des. Relatora. Presidiu a sessão, realizada em 21 de
fevereiro de 2014, a Des. Suely Lopes Magalhães.

RELATÓRIO

Cuida-se de conflito de competência no qual figura como


suscitante o Juiz de Direito da 37ª Vara Criminal da Comarca da Capital, e como
suscitada a Juíza de Direito do V Juizado Especial Criminal da Comarca da Capital,
nos autos do processo nº 0028400-60.2012.8.19.0208, em que consta como
acusado Luiz Felipe da Silva Borges, denunciado pela suposta prática dos delitos
tipificados nos arts. 307 e 308 do C.P.

Aduz o magistrado suscitante, que a competência dos Juizados


Especiais Criminais para processar e julgar crimes de menor potencial ofensivo é
determinada pela Constituição Federal, além de se tratar de competência rationae
materiae, de natureza absoluta, importando a manutenção da competência da Vara
Criminal, nulidade insanável, nos termos do art. 564, I do C.P.P. Assim, requer seja
reconhecida a competência da Juíza do V Juizado Especial Criminal para processar
e julgar o feito (fls. 77/83).

A Juíza suscitada prestou informações (fls. 93/98), aduzindo que


a Lei 9.099/1995 em seu art. 66 e parágrafo único, prevê única e exclusivamente a
realização de citação pessoal, determinando a remessa dos autos ao Juízo
Criminal, caso o acusado não seja encontrado para não ser citado. Alega que o
acusado não foi localizado, não cabendo ao JECRIM expedir diligências para a sua
localização, nem proceder à citação por edital.

Parecer da d. Procuradoria Geral de Justiça, às fls. 109/111,


opinando pela improcedência do conflito, declarando-se competente o Juiz
suscitante, uma vez que as penas máximas cominadas aos delitos ultrapassam o
limite da Lei 9.099/1995 que estabelece a competência do JECRIM.

É o relatório.

VOTO

Cuida-se de ação penal em que o acusado Luiz Felipe da Silva


Borges foi denunciado como incurso nas penas dos arts. 307 e 308 do Código Penal
porque no dia 27 de setembro de 2012, nas proximidades da bilheteria do Estádio do
Engenhão, ao ser abordado por policiais militares, apresentou-se como Roberto
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Matheus Silva Belo e usou como própria a carteira de identidade do mesmo, a fim de
se passar pela referida pessoa.

Inicialmente o termo circunstanciado foi encaminhado ao V


Juizado Especial Criminal - Méier, cuja magistrada, acolhendo parecer do Ministério
Público, determinou a remessa dos autos à 1ª Central de Inquéritos, havendo sido
posteriormente, oferecida denúncia.

Distribuída à 37ª Vara Criminal da Capital, inicialmente, em


atendimento à manifestação ministerial, foi determinada a expedição de ofícios para
a localização do réu. Posteriormente, com nova abertura de vista ao Parquet, foi
reiterado tal requerimento. Conclusos os autos o magistrado suscitou o presente
conflito, aduzindo que a competência dos Juizados Especiais Criminais é
determinada pela Constituição, portanto de natureza absoluta, além de ser
competência rationae materiae.

O deslinde da controvérsia consiste em determinar se a soma


das penas máximas em abstrato é ou não desinfluente para a definição do Juízo
competente para o processo e julgamento das infrações penais de menor potencial
ofensivo.

Dispõe o art. 98, I, da Constituição da República, in verbis:

Art. 98. A União, no Distrito Federal e nos Territórios, e os


Estados criarão:

I - juizados especiais, providos por juízes togados, ou togados e


leigos, competentes para a conciliação, o julgamento e a
execução de causas cíveis de menor complexidade e infrações
penais de menor potencial ofensivo, mediante os procedimentos
oral e sumariíssimo, permitidos, nas hipóteses previstas em lei, a
transação e o julgamento de recursos por turmas de juízes de
primeiro grau;

A propósito, no inciso I do art. 98 da Carta Magna está o ponto


central da questão aqui em debate, remetendo ao comando contido no art. 61 da Lei
9099/1995, abaixo transcrito:

“Art. 61. Consideram-se infrações penais de menor potencial


ofensivo, para os efeitos desta Lei, as contravenções penais e
os crimes a que a lei comine pena máxima não superior a 2
(dois) anos, cumulada ou não com multa.” (Redação dada pela
Lei nº 11.313, de 2006)

É cediço que a lei definidora das infrações de menor potencial


ofensivo é a de nº 9.099/1995, vez que nenhuma outra alterou o regime de penas
das infrações que se abrigam no conceito de menor potencial ofensivo. Logo, está
em vigor a competência constitucionalmente conferida ao JECRIM para processar e
julgar, em regime oral e sumaríssimo, as causas de menor potencial ofensivo, e isto
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porque a Constituição brasileira tem força operacional vinculante de todo o sistema


jurídico, desde o topo da pirâmide normativa em que se encontra, e em assim
sendo, sua autoridade hierárquica não pode ser desafiada pelo legislador ordinário
nem pelos intérpretes. Trata-se, por conseguinte, de competência absoluta em razão
da matéria.

In casu, ambos os crimes enquadram-se neste conceito,


considerando que as penas máximas cominadas a cada um deles não ultrapassam
dois anos. Vejamos:

Art. 307 - Atribuir-se ou atribuir a terceiro falsa identidade para


obter vantagem, em proveito próprio ou alheio, ou para causar
dano a outrem:
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa, se o fato
não constitui elemento de crime mais grave.

Art. 308 - Usar, como próprio, passaporte, título de eleitor,


caderneta de reservista ou qualquer documento de identidade
alheia ou ceder a outrem, para que dele se utilize, documento
dessa natureza, próprio ou de terceiro:
Pena - detenção, de quatro meses a dois anos, e multa, se o
fato não constitui elemento de crime mais grave. (destacamos)

Este Tribunal de Justiça pacificou a questão por meio do


Enunciado nº 06 do Aviso 43 do TJERJ, editado no Encontro dos Magistrados dos
Juizados Especiais Criminais e Turmas Recursais, que dispõe:

“6 – Na hipótese de concurso material de infrações de menor


potencial ofensivo, não deve ser levado em consideração o
somatório das penas máximas para efeito de aplicação da
Lei 9099/95 – (I EJTR).”

No mesmo sentido, orienta-se a jurisprudência desta Corte,


conforme os julgados abaixo colacionados:

CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. CRIMES DE


LESÃO CORPORAL E RESISTÊNCIA EM CÚMULO
MATERIAL. NÃO DEVE SER CONSIDERADA A SOMA DAS
PENAS PARA A DETERMINAÇÃO DA COMPETÊNCIA. In
casu, o autor do fato foi denunciado pelo cometimento dos
injustos penais de lesão corporal leve e resistência, quem
possuem o preceito secundário, respectivamente, de três meses
a um ano e de dois meses a dois anos, tudo em cúmulo
material. Segundo dispõe o Enunciado 6 do Aviso n.º 43/2006:
Na hipótese do concurso material de infrações de menor
potencial ofensivo, não deve ser levado em consideração o
somatório das penas máximas para efeito de aplicação da Lei
9099/95. Assim, considerando que ambos os crimes,
eventualmente, praticados pelo denunciado são de menor
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potencial ofensivo, deve ser o conflito julgado procedente.


Precedente do TJ/RJ. CONFLITO ACOLHIDO
(0060937-20.2013.8.19.0000 - CONFLITO DE JURISDICAO -
DES. DENISE VACCARI MACHADO PAES - Julgamento:
28/11/2013 - QUINTA CAMARA CRIMINAL)

Habeas Corpus. Denúncia que imputou ao paciente a prática


dos crimes previstos nos artigos 330 e 331, ambos do Código
Penal. Crimes de menor potencial ofensivo. Alegação de
incompetência do Juizado Especial Criminal para o julgamento
da matéria, tendo em vista que o somatório das penas previstas
no preceito secundário dos dois crimes ultrapassa a alçada das
causas de menor potencial ofensivo, o que viola o princípio do
juiz natural.
Pedido: declaração de nulidade absoluta do processo,
determinando-se o declínio de competência para uma Vara
Criminal.
O paciente foi condenado, no Juizado Especial Adjunto Criminal
da Comarca de Três Rios, pelos crimes de Desobediência e
Desacato, nas seguintes penas: a) Artigo 330 do Código Penal:
1 mês de detenção e 20 (vinte) dias-multa; b) Artigo 331 do
Código Penal: 8 meses de detenção e 13 dias-multa, totalizando
a pena em 9 meses de detenção e 33 dias-multa, fixado o valor
do dia-multa em 1/15 do menor salário mínimo vigente à época
dos fatos.
O recurso defensivo foi desprovido pelo Conselho Recursal dos
Juizados Especiais nos seguintes termos:
“Presentes ao julgamento os membros do Ministério Público e
da Defensoria Pública. Súmula. Acordam os Juízes que
integram a Turma dos JECRIM's, por unanimidade, em
conhecer do recurso e negar-lhe provimento, mantendo a
sentença por seus próprios fundamentos, na forma do artigo 82,
§ 5º da Lei nº 9.099/95, rejeitando preliminar de incompetência
do Juizado Especial na forma do Enunciado 120 do FONAJE –
Fórum Nacional dos Juizados Especiais – “O concurso de
infrações de menor potencial ofensivo não afasta a competência
do Juizado Especial Criminal, ainda que somatório das penas,
em abstrato, ultrapasse dois anos (Aprovado no XXIX FONAJE -
MS 25 a 27 de maio de 2011)”.
O artigo 60 da Lei nº 9.099/95 dispõe que “O Juizado Especial
Criminal, provido por juízes togados ou togados e leigos, tem
competência para a conciliação, o julgamento e a execução das
infrações penais de menor potencial ofensivo, respeitadas as
regras de conexão e continência”, complementado o artigo 61
que “Consideram-se infrações penais de menor potencial
ofensivo, para os efeitos desta Lei, as contravenções penais e
os crimes a que a Lei comine pena máxima não superior a 2
(dois) anos, cumulada ou não com multa”.
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Não há qualquer óbice legal para que ambos os delitos pelos


quais o paciente foi denunciado sejam processados e julgados
no âmbito dos Juizados Especiais Criminais, tratando-se ambas
de infrações de menor potencial ofensivo, pouco importando que
o somatório das penas em abstrato – dos dois distintos crimes -
ultrapasse o limite de 2 anos, estipulado para julgamento pelos
Juizados Especiais Criminais.
Evidentemente, tal somatório das penas em abstrato impedirá a
aplicação do instituto da suspensão condicional do processo,
previsto no artigo 89 da Lei nº 9.099/95, pois tal instituto se
aplica ao crime ou os crimes cujo somatório da pena mínima em
abstrato não ultrapasse o limite de 1 ano, conforme sumulado
pelos Tribunais Superiores, sendo matéria que independe do
julgamento no âmbito dos Juizados Especiais Criminais, da Vara
Criminal Comum ou daquela Especializada.
Frise-se que em sede recursal a matéria sequer foi aventada
pela defesa, que só agora, através da ação de habeas corpus,
pleiteia a nulidade de todo o processo.
Ressalte-se, por fim, que a matéria discutida neste habeas foi
objeto de apreciação pelo FONAJE - Fórum Nacional dos
Juizados Especiais Criminais, Órgão que possui, entre suas
funções precípuas, a discussão das questões processuais mais
relevantes no âmbito dos Juizados Especiais.
Inexistência de ilegalidade a ser sanada.
Ordem denegada.
(0000025-57.2013.8.19.0000 - HABEAS CORPUS - Des.
Marcus Quaresma Ferraz. Julgamento: 27/03/2013 - OITAVA
CÂMARA CRIMINAL)

CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. AMEAÇA,


DESACATO, RESISTÊNCIA E OUTRAS FRAUDES (ARTIGOS
147, 331, 329 E 176, TODOS DO CP). O 8º JECRIM recebeu da
autoridade policial as peças referentes à apuração da realização
pela interessada das condutas comportamentais acima
destacadas. O Juizado Especial Criminal, considerando que o
somatório das penas máximas cominadas em abstrato dos
delitos em comento superam o limite de dois anos estabelecido
na Lei 9.099/95, remeteu os autos ao Juízo Comum que, por
sua vez, entendeu ser desimportante o somatório das penas
para o fim de estabelecimento da competência ratione materiae,
razão do presente conflito. Sem deslembrar ou arrostar, nem tão
pouco perder de foco, a respeitabilíssima corrente contrária, por
sinal, merecedora de prestígio, filio-me ao entendimento
dominante neste Tribunal que considera que na hipótese de
concurso material de infrações de menor potencial ofensivo, não
deve ser levado em consideração o somatório das penas
máximas cominadas aos delitos (Enunciado n.º 06, do Aviso n.º
43/2006, do TJERJ). A Lei 9099/95 determina que compete aos
Juizados Especiais Criminais o julgamento dos crimes de menor
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potencial ofensivo, entendendo-se como tais, segundo exegese


da referida lei especial, aqueles cuja pena máxima cominada em
abstrato não é superior a 02 anos. Trata-se, portanto, de
competência absoluta em razão da matéria, exsurgida do art.
98, I, da CRFB. É preciso interpretar o texto legal de olhos bem
fitados na Constituição Federal, vale dizer, de forma vertical e o
desejo extraído da Carta Maior é que os crimes de menor
potencial ofensivo sejam julgados nos Juizados Especiais e o
seu deslocamento para o juízo comum se dará em hipóteses
excepcionalíssimas, v.g. no caso de conexão ou continência
com delitos de maior potencial ofensivo ou mesmo dolosos
contra a vida. E para dar vazão a tal determinação
constitucional, cabe ao intérprete se utilizar dos meios
hermenêuticos possíveis ao alcance do fim colimado na
constituição. Para tanto, o critério da analogia é suficiente ao
desate da controvérsia. E o comando do art. 119, do CP é
suficientemente capaz de ser invocado. Dispõe o referido artigo
que no caso de concurso de crimes, e extinção da punibilidade
incidirá sobre a pena de cada um isoladamente. Ora, se para
extinguir-se a punibilidade ou ainda para a oportunização dos
institutos despenalizantes da Lei 9.099/95 em caso de conexão
com crimes de maior potencial ofensivo ou aqueles sob a égide
do procedimento afeto ao Tribunal do Júri (art. 60, parágrafo
único, da lei especial) o concurso de crimes é desprezado,
injustificável a consideração global do somatório das penas
máximas de cada delito de menor potencial ofensivo para
deslocar-se a competência estabelecida no próprio texto
constitucional. Ademais, como sói ocorrer no âmbito das
distritais, com preenchimentos equivocados de termos
circunstanciados e óticas exageradas de imputações, onde não
raro são lançados diversos tipos penais, sem o cuidado da
verificação sequer de absorção ou dubiedade, tais erros ou
excessos emanados da autoridade policial e sem o controle do
Ministério Público que ainda sequer formou sua opinio delicti,
não se mostram capazes de olvidar a vontade do constituinte no
estabelecimento da competência em razão da matéria. A título
de exemplo e sem tecer maiores considerações acerca da
capitulação das condutas ditas realizadas pela ora interessada,
observa-se que segundo declarações colhidas na distrital a
mesma abordou um táxi e solicitou uma corrida à sua
residência. Na chegada, entrou em casa para pegar o dinheiro
da corrida e não mais retornou. O que até então não passava de
um ilícito civil, desbordou para a seara penal. O taxista chamou
a polícia que, ao chegar no local, chamou a interessada pelo
nome, a mesma desceu proferindo palavras de baixo calão. Os
policiais deram-lhe voz de prisão e a interessada não se
conformou com a conduta policial, resistindo. Foi preenchido
termo circunstanciado com o aponte da realização das condutas
comportamentais descritas nos art. 147, 331, 329 e 176, todos
do CP. Só por essa narrativa algum exagero se vislumbra na
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capitulação realizada até agora. Pergunta-se então: Seria


possível, somente em razão de prévio somatório das penas
referente a delitos apontados ainda de forma precária pela
autoridade policial, deslocar-se uma competência estabelecida
expressamente na constituição? A resposta, a meu aviso e com
todas as vênias e respeito às profícuas opiniões em contrário, é
desenganadamente negativa. CONFLITO CONHECIDO E
JULGADO PROCEDENTE, para afirmar a competência do 8º
Juizado Especial Criminal, nos termos do voto do relator.
(0019390-34.2012.8.19.0000 - CONFLITO DE JURISDICAO -
DES. GILMAR AUGUSTO TEIXEIRA - Julgamento: 06/06/2012 -
OITAVA CAMARA CRIMINAL)

EMENTA - PENAL - PROCESSO PENAL - CALUNIA


DIFAMAÇÃO - CONCURSO DE CRIMES - INFRAÇÃO DE
PEQUENO POTENCIAL OFENSIVO - CONCEITO -
COMPETÊNCIA - JECRIM Ainda que não se trate de questão
pacificada nos Tribunais Superiores, também havendo
divergência doutrinária acerca do tema, certo que não se
controverte de que se trata de infração de menor potencial
ofensivo toda aquela em que a pena máxima não supera dois
anos, devendo ser observado naquele limite eventual presença
de causa de aumento de pena previsto na parte especial ou em
lei especial, penso que não altera a natureza da infração o
aumento decorrente do concurso material ou formal de crimes
ou mesmo da continuidade delitiva. Doutrina neste sentido. No
caso concreto, ainda que se reconheça tipificados os crimes de
calúnia e difamação, a pena máxima de cada uma das infrações
não supera dois anos, o que aponta o JECRIM como
competente para decidir a imputação respectiva.
(0016133-98.2012.8.19.0000 - RECURSO EM SENTIDO
ESTRITO - DES. MARCUS BASILIO - Julgamento: 22/05/2012 -
PRIMEIRA CAMARA CRIMINAL)

EMENTA Conflito de Competência. Imputação do crime de


ameaça e de desacato. 1. O acusado foi denunciado pela
prática dos crimes descritos nos artigos 147 (duas vezes), na
forma do artigo 71 e 331, tudo nos termos do artigo 69, todos do
Código Penal. 2. O juízo suscitado acolheu a tese levantada
pelo Ministério Público e declinou de sua competência para o
Juízo comum, porque o somatório das penas atribuídas aos
crimes supracitados ultrapassaria o patamar de 2 (dois) anos. 3.
O juízo suscitante invocou o enunciado nº 06 do Aviso nº 43 do
TJERJ, que pacificou o entendimento de que, na hipótese de
concurso material de infrações de menor potencial ofensivo, não
se leva em consideração a soma das penas máximas para
estabelecimento da competência do Juizado Criminal. 4. Assiste
razão ao Juízo suscitante, porquanto o acusado foi denunciado
pela prática de dois crimes, mas cada um tem a pena máxima
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prevista inferior a 2 (dois) anos, não extrapolando a incidência


da competência do Juizado Criminal, nos termos do artigo 61,
da Lei 9.099/95. 5. Conflito conhecido e provido, firmando-se a
competência do Juizado Especial Criminal de Barra do Piraí,
para o processo e julgamento dos crimes.
(0000624-80.2010.8.19.0006 - CONFLITO DE JURISDICAO -
DES. CAIRO ITALO FRANCA DAVID - Julgamento: 08/09/2011
- QUINTA CAMARA CRIMINAL)

CONFLITO DE JURISDIÇÃO - ARTIGO 129, CAPUT E ARTIGO


329 DO CÓDIGO PENAL, ARTIGO 309 DA LEI 9503/97, N/F
DO ARTIGO 69 DO CÓDIGO PENAL APLICAÇÃO DO
ENUNCIADO 06 DO AVISO 43/2006 DO TJERJ -
COMPETÊNCIA DO JUIZADO ESPECIAL CRIMINAL,
SUSCITADO – UNÂNIME Declínio de competência suscitado
pela 2ª Vara Criminal da Comarca de Barra do Piraí ao receber
os autos do processo nº 0003871-40,2008.8.19.0006,
objetivando seja declarada a competência do Juizado Especial
Criminal daquela comarca para processar e julgar o feito. O
referido processo trata de suposta prática dos delitos previstos
nos artigos 129, caput, artigo 329, ambos do Código Penal e
artigo 309 da Lei 9503/97, todos na forma do artigo 69 do
Código Penal, tendo entendido o Juizado Especial Criminal, ora
suscitado, ao remeter os autos a 2ª Vara Criminal, que o
somatório das penas ultrapassa os dois anos denotando-se a
insustentabilidade de prosseguimento naquele Juizado, bem
como ser o lastro probatório inconsistente com o rito da Lei
9099/95. Aplica-se na presente hipótese o Enunciado nº 06 do
Aviso 43 do TJERJ, que estabelece que "na hipótese de
concurso material de infrações de menor potencial ofensivo, não
deve ser levado em consideração o somatório das penas
máximas para efeito de aplicação da Lei 9099/95". Os fatos nos
autos do processo nº 0003871-40.2008.8.19.0006, consistem
em infrações de menor potencial ofensivo: Artigo 129, caput do
CP - pena máxima de 01 ano; Artigo 329 do CP - pena máxima
de 01 ano; Artigo 309 da Lei 9503/97 - pena máxima de 02
anos. Logo a aplicação do referido enunciado é completamente
viável, não havendo que se falar em somatório das penas.
Também não vislumbra essa Relatora qualquer complexidade
na apuração dos fatos para que se possa aplicar a exceção do
artigo 77, § 2º da Lei 9099/95, sendo certo que os autos ainda
se encontram em fase de apuração não tendo o Ministério
Público sequer denunciado o interessado, requerendo tão
somente remessa dos autos a autoridade policial para
diligenciar. Conflito que se julga procedente.
(0003871-40.2008.8.19.0006 - CONFLITO DE JURISDICAO -
DES. ELIZABETH GREGORY - Julgamento: 05/10/2010 -
SETIMA CAMARA CRIMINAL)
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Quanto ao tema, preleciona Fernando da Costa Tourinho Filho


(in Comentários à Lei dos Juizados Especiais Criminais, São Paulo: Editora Saraiva,
2007 – páginas 31/32) in literallis:

“A Lei nº 9.099/95, na sua feição original, considerou de menor


potencial ofensivo as contravenções e os crimes cuja pena máxima não
extrapolasse um ano nem se incluíssem entre os que se subordinavam a
procedimento especial. Posteriormente, com o advento da Lei n. 10.295/2001, houve
um avanço. Os crimes de menor potencial ofensivo passaram a ser aqueles cuja
pena máxima não superasse dois anos, sujeitos ou não a procedimento especial. Na
hipótese de concurso material, as infrações não podiam ser consideradas
individualmente. Houve discussão a respeito. Para nós, como o legislador não se
preocupou com esta ou aquela quantidade de pena, mas com a identificação das
infrações de menor potencial ofensivo (e tanto é verdade que considerou como tais
as contravenções definidas nos arts. 45, 53 e 54 do Dec.-Lei n. 6.259, de 10-2-1944,
cujas penas máximas são de quatro anos para as duas primeiras e de cinco anos
para as últimas e a prevista no art. 24 da Lei das Contravenções Penais, cuja pena
máxima é de dois anos), é lícito concluir que o concurso formal ou material, apesar
do aumento previsto nos arts. 69 e 70 do CP, não é motivo excludente da
competência do Juizado. Daí o acerto da v. decisão do saudoso Tribunal de Alçada
Criminal do Estado de São Paulo, no sentido de que as penas abstratamente
cominadas, no concurso de crimes, não podem ser somadas para criar obstáculo à
transação. Devem ser consideradas isoladamente, a exemplo, aliás do que ocorre
com a extinção da punibilidade em face do disposto no art. 119 do CP (RJDTACrim,
34/219)”
...

“Hoje, em face da nova redação dada ao art. 60 da Lei do


Juizado e da inclusão de um parágrafo determinando a observância das regras
sobre conexão e continência, conclui-se que a até então proibida admissão do
concurso material no Juizado Especial Criminal é coisa do passado. Aliás, esse
Enunciado n. 11, antes mesmo da promulgação da nova lei, foi alterado pelo de n.
80, no XIX Encontro Nacional de Coordenadores de Juizados Especiais Criminais do
Brasil, realizada em fins de maio e começo de junho de 2006, em Aracaju,
elucidando que as penas no concurso devem ser consideradas isoladamente para
efeito de competência.”

Tal posicionamento também encontra suporte na doutrina de


Aury Lopes Junior, abaixo transcrita:

“Não se desconhece a divergência doutrinária em torno desse


critério de definição da competência do JECRIM (soma das penas e incidência das
causas de aumento). Se, de um lado, existe uma forte tendência jurisprudencial em
aplicar as regras acima expostas, na doutrina a situação é diversa. Estamos com
GIACOMOLLI, DUCLERC, KARAM, GRINOVER, MAGALHÃES GOMES FILHO,
SCARANCE FERNANDES, GOMES, entre outros, no sentido de que: a) no
concurso material de crimes, analisa-se a pena de cada um deles de forma isolada;
b) sendo concurso formal ou crime continuado, despreza-se a causa de aumento,
trabalhando somente com a pena do tipo mais grave. Trata-se de seguir a lógica
definida pelo legislador penal no artigo 119 do CP, quando define o limite do poder
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punitivo de forma isolada, para cada crime. Assim, segundo o dispositivo em


questão, no caso de concurso de crimes, a extinção da punibilidade incidirá sobre a
pena de cada um, isoladamente. (in Direito Processual Penal e sua Conformidade
Constitucional – 4ª edição – volume II – p. 215)

Diante do exposto, é competente o JECRIM para julgar o feito.

Pelo exposto VOTO no sentido de CONHECER e JULGAR


PROCEDENTE o presente conflito para reconhecer a competência da Juíza do V
Juizado Especial Criminal da Comarca da Capital, ora suscitado, para processar e
julgar o feito.

Rio de Janeiro, 21 de fevereiro de 2014.

Des. ELIZABETE ALVES DE AGUIAR


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