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Panorama da AQÜICULTURA, novembro, dezembro 2012 1

Alevinos Saudáveis:
o ponto de partida para uma produção estável
Por:
Santiago Benites de Pádua1
expansão da criação de peixes em todo o território Roney Nogueira de Menezes Filho2
nacional tem sido evidenciada nos últimos anos, no Claudinei da Cruz3
entanto, muitos empreendimentos esbarram em problemas 1
Médico Veterinário. E-mail: santiagopadua@live.com
sanitários que se tornam gargalos, causando instabilidades 2
Médico Veterinário. E-mail: roney.nogueira@hotmail.com
na produção. As perdas de produção e na produtividade 3
NEPEAM, Unesp de Jaboticabal. E-mail: cruzcl@yahoo.com
podem causar queda dos negócios com a falta de periodici-
dade na oferta de peixes ou animais fora do padrão exigido a ponto de não possuírem real conhecimento dos agentes que
pelo mercado. afligem sua produção. Desta forma, os alevinos constituem-se
Neste momento de crescimento torna-se essencial a como uma das principais fontes de infecção para as fases de
adoção de medidas rigorosas de biosseguridade no sistema crescimento e engorda. Aliados a essa situação, os protoco-
de criação. Caso contrário, as doenças infectocontagiosas los terapêuticos oficialmente disponíveis no Brasil não são
continuarão a emergir e se disseminar entre criatórios de apropriados para o controle de vários agentes parasitários,
todo o país. As atuais medidas corretivas não são suficientes além da limitação de sua aplicação em produção de grande
para conter o avanço de alguns patógenos, especialmente, escala. Portanto, a estocagem de alevinos saudáveis e livres
os virais e algumas bacterioses, tampouco minimizar seus de patógenos torna-se um requesito essencial para uma
impactos na indústria emergente, portanto os cuidados com produção mais segura.
segurança, vigilância de patógenos e profilaxia são essenciais Assim, discutimos neste artigo a importância da adoção
para o crescimento ordenado do setor aquícola. de um manejo sanitário direcionado para as fazendas-berçário
A propagação de doenças por meio do transporte de produtoras de alevinos com a abordagem de algumas medidas
alevinos é uma realidade no Brasil. Poucas pisciculturas- de biosseguridade, vigilância e controle aplicáveis às etapas
-berçário adotam em sua rotina um manejo sanitário eficiente, de larvicultura e masculinização para a tilapicultura.

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Espécies
Fonte de infecção

Sanidade
Na avaliação de uma doença em peixes de criação
com objetivo de elaborar medidas de controle e erradicação "Não se controla

marinhas
é imprescindível identificar a fonte de infecção para serem
direcionados os esforços de contenção do agente em questão para
doença de peixes sem

aquícola
que o problema seja solucionado na sua origem. Caso contrário,
as medidas paliativas poderão proporcionar a diminuição da

na Galícia
incidência da doença em certos períodos ou fases do ciclo de deter conhecimento
produção, com o risco da emergência de surtos em épocas de
maior desafio. Além disso, a utilização de farmoquímicos pode
induzir a resistência dos patógenos com o passar do tempo, prévio sobre a biologia
tornando o problema maior do que era em seu início.
Ao realizar o diagnóstico de enfermidades em peixes na do patógeno, sua relação
fase de engorda provenientes de várias regiões, observamos que
em sua maioria, os parasitos que causam problemas nesta fase já
estão presentes desde os juvenis estocados, no entanto, a doença com o hospedeiro e o
ainda encontra-se em fase subclínica. Na avaliação de alevinos,
verificamos que são portadores desses patógenos, especialmente ambiente."
de parasitoses como a tricodiníase e monogeníase. Na análise
de matrizes e reprodutores observamos que estes se constituem
na principal fonte de infecção para toda a cadeia de produção.
Portanto, os esforços para controle e erradicação de doenças
efetivamente devem ser concentrados em pisciculturas-berçário uma segunda etapa efetivar a profilaxia de riscos contra entrada
para que estas não atuem como veiculadoras de patógenos. de novos agentes etiológicos, com ações que visam quebrar
os ciclos de vida de alguns patógenos e prover barreiras de
É possível erradicar doenças na piscicultura? disseminação de outros.
Algumas dificuldades surgem nas situações em que
Esta pergunta é comum nos diversos setores da cadeia a relação patógeno: hospedeiro: ambiente não é totalmente
aquícola, mas erradicação de doenças depende do agente em elucidada, como o caso da mixosporidíase que acomete
questão. Os agentes bacterianos que habitam normalmente a flora especialmente peixes nativos, na qual o ciclo de vida ainda
residente dos animais e da água (aquelas bactérias que vivem não é conhecido por completo. Neste caso, nos baseamos
sobre os animais sadios e água de criação) não são passíveis em informações disponíveis para agentes filogeneticamente
de erradicação. Nesta situação, a imunoprofilaxia por meio de próximos. Como exemplo, temos a infecção por Henneguya
vacinação é a forma mais apropriada para controle da doença. Os pseudoplatystoma em surubins (Figura 1).
agentes parasitários espécie-específica são passíveis de erradicação,
no entanto, não são fáceis tampouco rápidos os processos de
erradicação, o que varia conforme o agente. Em relação aos
parasitos não específicos também é possível proceder à erradicação
conforme a condição, porém isso envolve muitas outras espécies
de peixes, o que se torna impraticável em sistemas de tanques-rede
instalados em reservatórios de rios.
Em relação aos vírus, a situação pode ser mais complicada.
Isso ocorre, pois vários agentes virais utilizam organismos aquáticos
variados (vertebrados ou invertebrados) como reservatório, além
de subtratos inertes presentes no ambiente aquático. Sendo difíceis
de serem eliminadas do ambiente essas formas de manutenção
por meio das técnicas usuais de desinfecção. Portanto, as medidas
de biosseguridade devem ser aplicadas de forma que impeçam a
introdução de vírus no ciclo de produção, visto que as medidas
de contenção do avanço da doença podem ser pouco eficientes.
Assim, não se controla doença de peixes sem deter
Figuras 1. Mixosporidíase em surubim híbrido. Peixes exibindo cistos
conhecimento prévio sobre a biologia do patógeno, sua relação com macroscópicos (a-b), plasmódios observados em corte histológico (c).
o hospedeiro e o ambiente. Esses são os requisitos fundamentais Esporos de Henneguya pseudoplatystoma observados em exame a fresco (d)
para iniciar a implantação de um programa sanitário, pois este deve e corados com Giemsa (e). As figuras 1 a e b foram gentilmente cedidas pela
Dr.ª Juliana Rosa Carrijo Mauad
ser adequado às doenças e ao manejo utilizado no sistema e, em

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Sanidade aquícola

Figura 2. Ilustração da
interação entre patógenos
em sistemas com altas
densidades de estocagem.
Nestas condições, a
infestação por parasitos
variados abrem rotas de
entradas para bactérias
que, em conjunto com
as parasitoses, levam à
mortalidade

Este patógeno pode causar o comprometimento da Interação entre patógenos


capacidade respiratória de juvenis, o que torna os animais
pouco resistentes ao manejo. No entanto, seu ciclo evolutivo A abordagem holística em um manejo sanitário para
não foi desvendado; porém nos baseamos nos conhecimentos pisciculturas-berçário deve-se principalmente pela grande
disponíveis em relação ao ciclo de outro gênero pertencente interação entre diferentes agentes etiológicos. Em recentes
à mesma família, o Myxobolus spp., que por sua vez, existem artigos publicados na Panorama da AQÜICULTURA, nos
algumas espécies com ciclo conhecido e que se assemelham quais foram discutidos sobre protozoários parasitos de peixes,
muito entre si. pode-se notar que em todos os casos foram registrados o
envolvimento de agentes bacterianos que potencializam os
Manejo integrado de doenças efeitos nocivos das parasitoses. De fato, a grande maioria
das doenças parasitárias causam espoliação ou abrasão, com
Ao manejar doenças que acometem os peixes não podemos formação de lesões nos peixes, sendo rota de entrada de
fazer uma abordagem direcionada somente a um patógeno em agentes oportunistas (Figura 2), como as bacterioses usuais
específico, pois na maioria das situações os surtos diagnosticados que acometem os peixes.
são causados por dois ou mais agentes patogênicos que interagem Aliado a essa condição, temos ainda os efeitos
e resultam em perda de produção. Como citamos anteriormente, estressantes que o parasitismo proporciona aos animais,
algumas doenças não são passíveis de erradicação e o seu controle bem como, o desequilíbrio osmorregulatório ocasionado
também pode não ser aplicável em alguns casos. Portanto, as doenças pelo comprometimento da função branquial em situações de
devem ser manejadas em um programa integrado contra patógenos, infestação maciça deste órgão. Animais submetidos a esta
com o controle e erradicação de agentes que são passíveis dessa ação condição possuem seu sistema imune comprometido, ao passo
aliado ao manejo sanitário integrado que mantenha os demais agentes que não conseguem desenvolver uma resposta imunológica
em níveis de incidência seguros, na qual o controle pontual por eficiente contra esses patógenos.
farmoquímicos não seja economicamente e ambientalmente viável.
Para efetivar esta forma de trabalho no campo, o Controle baseado no uso de farmoquímicos
diagnóstico continuado das doenças que acometem os peixes
torna-se a base de todos os esforços. Embora algumas medidas Atualmente temos poucas opções autorizadas oficialmente
de controle possam atuar sobre mais de um tipo de doença, disponíveis para conduzir uma intervenção terapêutica em
a garantia de seu correto funcionamento e efetividade serão situações de surtos em pisciculturas. Em busca realizada no
confirmados somente com a diminuição da incidência da doença, Compêndio de Produtos Veterinários – SINDAN, pode-se
monitorado por meio de análises diagnósticas conduzidas por verificar o registro de três moléculas de antibióticos (Florfenicol,
profissionais habilitados. Vale ressaltar que a mortalidade é Oxitetraciclina e Neomicina; embora este último seja destinado
apenas a última etapa da manifestação de uma doença e sua a peixes ornamentais) e duas moléculas de antiparasitários
diminuição não reflete necessariamente no controle alcançado. (Triclorfon e Diflubenzuron), além de outros produtos a base de

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Espécies
"Embora algumas

Sanidade
medidas de controle

marinhas
possam atuar sobre

aquícola
mais de uma doença,

na Galícia
a garantia de seu
correto funcionamento
Figuras 3. Respostas branquiais em alevinos de surubim submetidos ao tratamento usual e efetividade serão
com formol. Filamento normal, exibindo amplo espaço entre as lamelas secundárias
(a – seta); filamento com moderada hiperplasia epitelial ocupando os espaços entre
as lamelas secundárias (b – cabeça das setas), que evolui para fusão das lamelas
confirmados somente
secundárias (c – seta) até levar à fusão total de todas as lamelas secundárias (d). Este
processo ocorreu dentro de uma semana de tratamento em dias alternados com sal com a diminuição da
incidência da doença."
vitaminas, minerais e agentes biocidas para desinfecção. No entanto, na
prática são empregadas muitas outras moléculas de forma indiscriminada
e sem conhecimento dos potenciais riscos à saúde humana, dos peixes
e de toda a biota aquática. consecutivas proporcionam maior intensidade do
As formas como são conduzidos os tratamentos também são comprometimento branquial, ao passo que pode levar
pontos importantes a serem discutidos. Muitas vezes as condições à corrosão das lamelas (Figura 4).
ambientais são ignoradas. Por exemplo, a água com altos níveis de matéria Assim, o mais apropriado ao proceder a
orgânica em suspensão interfere na eficácia de muitos produtos químicos intervenções terapêuticas é a utilização de tanques
(permanganato de potássio e alguns antibióticos). Algumas moléculas menores, revestidos com geomembrana, concreto ou
podem se transformar em mais tóxicas em alguns casos e outras podem similar, abastecido com água limpa e com suprimento
se acumular no sedimento por meio de adsorção (organofosforados). de oxigenação. Em adição, torna-se essencial o
Outro produto químico muito utilizado é o Diflubenzuron que monitoramento das condições físico-químicas da
atua na inibição de síntese de quitina, que possui baixa toxidade aos água (temperatura, oxigênio, pH, alcalinidade, dureza
peixes. No entanto, sua biotransformação gera, entre outros, um e condutividade), além da presença de técnicos
metabólito denominado 4-chloroaniline, que por sua vez apresenta habilitados e treinados. Esta prática pode não ser
alta toxidade aos peixes e provável efeito carcinogênico para aplicável em grandes produções de engorda, porém
humanos. Ao aplicar este tipo de fármaco em viveiros escavados, o em fazendas-berçário é operacionalmente adequado.
sedimento efetua a adsorção de boa parte, que somado
a aplicações sucessivas pode representar em maiores
riscos ao ecossistema aquático. Nesta situação, caso haja
movimentação do sedimento o produto retorna para a
coluna d’água, embora com biodisponibilidade reduzida
em relação à dosagem inicial de aplicação, com risco de
causar intoxicação aos animais, além de proporcionar o
desequilíbrio de toda fauna zooplanctônica, o que leva a
posterior floração de algas por dois principais motivos:
1 – devido à incorporação de nutrientes na coluna d’água
pela movimentação do sedimento; 2 – devido à morte da
comunidade zooplanctônica pela ação do fármaco, que
na verdade ocorre desde as primeiras aplicações.
Outro produto químico amplamente utilizado para
múltiplas finalidades em pisciculturas é o formaldeído.
Este produto possui efeito lesivo às brânquias dos peixes,
que por sua vez desencadeia respostas de defesa; como a Figura 4. Respostas branquiais em alevinos de surubim submetidos ao tratamento
usual com formol. Filamento normal, proveniente de peixe não tratado (a) e filamentos
hiperplasia epitelial nas lamelas e filamentos (Figura 3). Da severamente lesionados, havendo corrosão com fusão das lamelas secundárias devido
mesma forma como ocorre em outros produtos, aplicações ao uso de formaldeído (b)

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Figura 5. Sistema de incubação de
Sanidade aquícola

ovos e tilápia (a) e estágio inicial da


larvicultura em bandejas (b-c). Foto:
AguaVale Piscicultura, Igrapiúna,
Bahia

em novo ambiente. Essa combinação causa


mais danos do que benefícios aos peixes.
Portanto, é uma prática equivocada, além
de tornar os animais mais susceptíveis a
adquirir infecções nos dias subsequentes
à estocagem, devido às lesões, estresse e
diminuição da imunidade.
Intervenções terapêuticas são
necessárias em várias situações a campo,
porém é necessário que seja conduzida
de forma responsável e em momentos
estratégicos, para que proporcione menor
efeito adverso aos animais e ao ambiente,
Uma prática bastante comum ao transportar com alta eficiência na solução do problema em questão.
alevinos, especialmente de tilápia, é a aplicação de
formaldeído antes dos procedimentos de embarque, Biosseguridade na produção de alevinos
com o objetivo de tratar as possíveis parasitoses que
não foram diagnosticadas, como ocorre na maioria das O impedimento da livre circulação de patógenos entre
situações. Com essa prática, os produtores induzem diferentes unidades de produção e entre setores distintos dentro
a lesões no órgão respiratório desses animais em um de uma propriedade são os maiores desafios para um programa
momento pré-desafio, que será o transporte. sanitário. A adoção de medidas de biosseguridade torna as
Após o transporte, alguns ainda optam por reforçar pisciculturas mais preparadas para solucionar os entraves
o tratamento, lançando mão de agentes oxidantes, como o sanitários. Para ajustar uma propriedade a este perfil, além de
permanganato de potássio, que, da mesma maneira como o demandar adequações na estrutura é necessário capacitação
formaldeído, possui efeito agressivo às brânquias. Assim, dos colaboradores, organização e disciplina de toda a equipe.
os efeitos deletérios se somam, sendo eles: tratamento As medidas básicas devem ser implantadas, gradualmente, até
com formol + manejo para embarque + transporte + que se obtenha completo domínio das práticas de manutenção
tratamento com permanganato de potássio + aclimatação envolvidas no processo.

Figura 6. Coleta de larva de tilápia


(nuvens) em viveiro escavado (a),
classificação (b) com posterior
larvicultura e masculinização realizada
em estufas contendo viveiros de concreto
(c). Foto: Pirajuba Aquicultura, Porto
Ferreira, São Paulo

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Fonte de água manejo é o mais interessante no ponto de vista

Espécies
Inicialmente, deve-se ater na fonte e qualidade da sanitário, uma vez que os ovos permanecem poucos
água para laboratórios e estufas de larvicultura, bem como dias em contato com as matrizes e, dependendo

Sanidade
sua disponibilidade durante o ano e eventuais fontes de do protocolo de desinfecção, consegue-se obter o
contaminação; seja ela por resíduos de produtos, descarte controle de parasitos adquiridos nessa fase.

marinhas
de água de transporte ou pela estocagem de peixes. A Outra forma amplamente utilizada é a
utilização de sistemas para decantação e filtragem da água coleta de nuvens de larvas que foram incubadas

aquícola
de abastecimento proporciona maior segurança, pois contém naturalmente na boca das matrizes. Neste sistema,
a introdução de patógenos no sistema de criação. Após este os peixes são mantidos em viveiros escavados e,

na Galícia
processo de limpeza, recomenda-se ainda a utilização de periodicamente, é realizada a coleta de larvas com
tratamento com lâmpadas UV. auxílio de rede de baixa micragem. Com essa prática,
De pouco adianta filtrar a água de abastecimento as larvas adquirem os mesmos parasitos das matrizes
caso não haja controle algum nos ovos ou larvas estocadas, e reprodutores, sendo necessária a intervenção
bem como controle da circulação de pessoas e animais, terapêutica durante o processo de masculinização,
ou ainda a setorização de equipamentos. Por outro lado, que deve ser realizado de preferência em estufas
em pisciculturas-berçário que possuírem abastecimento (Figura 6), para obter o controle dos parasitos
de água direto de uma nascente de boa qualidade, livre de obtidos nessa fase.
contaminação, bem como sem acesso de outros animais Independente do sistema de produção de
inclusive de peixes, talvez não seja necessário utilizar larvas, caso a masculinização inevitavelmente
sistemas complexos para limpeza e filtragem da água. for realizada em hapas, dificilmente o piscicultor
conseguirá obter um satisfatório controle sanitário.
Manejo de larvas Isso ocorre, pois a micragem das telas devem ser de
Duas principais formas de manejo são praticadas para pequenas dimensões o que facilmente colmata toda
criação do alevino de tilápia. Uma delas é a manutenção a hapa devido à rápida formação de perifíton. Dessa
de reprodutores em hapas e coleta periódica de ovos na forma, diminui a renovação de água e aumenta o
boca da fêmea, sendo os ovos submetidos à desinfecção e acúmulo de matéria orgânica dentro da hapa, que
incubados no laboratório de larvicultura (Figura 5). Este é a base para proliferação de patógenos.

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Controle de acesso a outros animais

Espécies
O controle da circulação de animais dentro da "Muitos animais
piscicultura também é de importância fundamental. Muitos

Sanidade
animais domésticos ou silvestres que vivem nos arredores
domésticos ou silvestres

marinhas
dos viveiros são hospedeiros de parasitos, bactérias e
vírus que podem causar problemas sanitários aos peixes
ou simplesmente contaminá-los, na qual a ingestão pelo que vivem nos arredores

aquícola
consumidor final resulta em doenças transmitidas pelos
dos viveiros são

na Galícia
alimentos (DTAs). Roedores, aves piscívoras silvestres,
morcegos piscívoros, patos, gansos, cães, gatos, equinos,
bovinos, muares, caprinos e ovinos estão entre os principais hospedeiros de parasitos,
animais encontrados em meio a viveiros de criação de peixe.
Sanitariamente, estes animais representam riscos à produção bactérias e vírus que
e devem ser criados em locais apropriados.
podem causar problemas
Veiculação de doença por meio de fômites
Uma das principais formas de veiculação de doenças
entre diferentes setores de uma piscicultura é realizada por
sanitários aos peixes
meio de fômites; que por sua vez pode ser qualquer objeto
inanimado ou substância capaz de absorver, reter e transportar
ou simplesmente
organismos infecciosos de um local ao outro. Puçás, rede-
de-arrasto, classificadores, baldes e hapas que não foram contaminá-los."
submetidos ao bom processo de limpeza e desinfecção,
atuam como os principais fômites na piscicultura. Por
outro lado, com o transporte de peixes entre propriedades seguidos por protocolos estabelecidos estrategicamente de
distintas, temos como fonte de agentes infecciosos a água de acordo com a necessidade de cada local. Antes da utilização
transporte, os utensílios utilizados, os peixes e o veículo. Em de agentes biocidas, como os desinfetantes, é essencial que
adição, a veiculação de doenças pode ocorrer pelos próprios seja realizada a prévia limpeza para remoção de partículas
funcionários que não respeitarem as medidas de limpeza e grandes e restos de rações, entre outros. Caso contrário, os
desinfecção ao adentrar um novo setor ou viveiro. produtos não terão boa eficácia quando houver presença
Entre as medidas profiláticas utilizadas para conter a de matéria orgânica.
veiculação de doenças pelos fômites, está a setorização de A seleção de microrganismos resistentes às
equipamentos, não sendo permitida a utilização múltipla do moléculas dos agentes biocidas também pode comprometer
mesmo utensílio em vários locais da piscicultura. Em adição, a biosseguridade de um sistema, e por isso, torna-se
a adoção de limpeza periódica e desinfecção por meio de necessário realizar o rodízio do princípio ativo destes
agentes biocidas, tais como compostos clorados, a exemplo produtos. Ainda, com a remoção de atrativos como as
da cloramina T, ou até mesmo solução hipersaturada de sobras de ração, acaba por refletir positivamente no controle
cloreto de sódio (sal comum) proporcionam maior controle de moscas e roedores por diminuir o acesso ao alimento.
higiênico-sanitário.
Conclusão
Quarentenário
A adoção de um viveiro isolado como quarentenário A estocagem de alevinos saudáveis livres de
também proporciona maior segurança contra a entrada de doenças é a melhor estratégia para obter produção mais
novos agentes na propriedade. No entanto, este setor deve estável e diminuir os riscos de perdas devido a surtos de
possuir entrada e saída de água independente, com fundo e doenças. O conhecimento dos principais patógenos que
lateral revestido com geomembrana, concreto ou similar, além ocorrem nesta fase, bem como a tomada de decisão sobre o
de tela para impedir a circulação de animais, principalmente manejo preventivo e aplicação de estratégias terapêuticas
aves. Manter um viveiro destinado para recepção de novos direcionadas conforme o patógeno, representa a evolução
animais e não adotar essas medidas básicas será pouco efetivo, no processo de qualidade da alevinagem. A adequação
bem como não lançar mão do diagnóstico antes de estocar de programas de biosseguridade é a melhor forma para
esses animais no plantel, uma vez que as doenças subclínicas controle de patógenos, proporcionando qualidade do
não serão notadas pelos funcionários. peixe produzido, com a diminuição de utilização de
produtos químicos de forma indiscriminada e melhor
Limpeza e desinfecção adequação dos procedimentos de produção e pontos
Os cuidados com a higiene pessoal, bem como dos críticos durante o processo de produção de alevinos em
galpões, armazéns, estufas e demais estruturas deverão ser fazendas-berçário.

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