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Pr.

JOHN HARPER – O ÚLTIMO HERÓI DO TITANIC

Enquanto as águas escuras e geladas do Atlântico enchiam lentamente o convés do Titanic,


John Harper gritava: "Deixem as mulheres, crianças e descrentes subirem nos barcos salva-
vidas." Harper tirou seu salva-vidas - a última esperança de sobrevivência - e o entregou a
outro homem. Depois que o navio desapareceu sob a água escura, deixando Harper se
debatendo nas águas geladas, ouviram-no incentivando os que estavam à sua volta a confiar
em Jesus Cristo.

Era a noite de 14 de abril de 1912. uma noite de heróis, e John Harper foi um deles. Apesar
das águas que o tragavam serem extremamente frias e do mar à sua volta estar escuro, John
Harper deixou este mundo numa resplandecente glória.

Os atos de coragem de Harper foram espontâneos. Ele não tinha motivo para imaginar que
o Titanic afundaria, nem tempo para escrever um roteiro. Uma revista comercial, The
Shipbuilder, descreveu o Titanic como "praticamente insubmergível". No dia 31 de maio de
1911, um empregado da Companhia de Construção Naval White Star disse: "Nem mesmo o
próprio Deus pode afundar esse navio". O Titanic representava toda a segurança, elegância
e confiança da era vitoriana-edwardiana. A Associated Press era entusiasta do navio,
declarando: "Tudo que a riqueza e a habilidade modernas podiam produzir estava
incorporado no Titanic, o navio mais longo já construído, com mais de 4 quadras de
comprimento.., com acomodações para uma tripulação de 860 pessoas e capacidade para
3.500 passageiros, ele foi construído com o mesmo cuidado dedicado aos melhores
cronômetros". A ostentação e o tamanho recorde do Titanic impressionaram a era dourada
da construção naval. Seus motores de 50.000 HP que produziam a velocidade de 24 nós por
hora eram protegidos por dezesseis compartimentos estanques. Cada um era protegido por
estruturas de aço. Na época do seu lançamento, o Titanic era o maior objeto móvel
manufaturado do mundo. Depois de fazer as duas primeiras paradas para passageiros e
correio em Cherbourg e Queenstown, Irlanda, os passageiros se sentiram ainda mais
seguros. Harper escreveu numa carta para seu amigo Charles Livingstone antes de atracar
em Queenstown, dizendo:
"Até agora a viagem é tudo que se pode desejar."
Às 11:40 da noite de 14 de abril de 1912, um iceberg rasgou o lado estibordo do navio,
jogando gelo por todo o convés e arrebentando seis compartimentos estanques. O mar se
infiltrou. A maioria dos passageiros não acreditava que o Titanic afundaria até que a
tripulação começou a lançar foguetes de sinalização para o alto. Charles Pellegrino disse:
"A água brilhou por todos os lados. Barcos salva-vidas podiam ser vistos nela... Naquele
enorme facho de luz artificial, as mentes também foram iluminadas. Todos entenderam a
mensagem dos foguetes por si próprios". Depois dos foguetes, ninguém precisava ser
convencido a entrar nos barcos salva-vidas. De repente, quando a água alcançou a metade
da ponte de comando, um estrondo que parecia um milhão de pratos quebrando, cortou a
noite. Enquanto a popa do Titanic subia alto no céu para se preparar para seu mergulho ao
fundo do mar, um barulho terrível como uma explosão abalou o ar da noite. Passageiros
davam-se as mãos e se jogavam na água. Às 2:20 da manhã o Titanic começou sua descida
lenta para o fundo do mar, deixando uma nuvem emergente de fumaça e vapor acima do
seu túmulo. Nas águas geladas do Atlântico Norte, na calada da noite, o navio mais famoso
do mundo terminou sua primeira e última viagem, mas alcançou uma mística náutica que
só perde para a da arca de Noé. Tudo aconteceu tão rápido, que Harper só pôde reagir. Sua
reação deixou um exemplo histórico de coragem e de fé. "Os heróis da humanidade", disse
A. P Stanley, "são como as montanhas, como os planaltos do mundo moral". John Harper
foi um desses heróis.

A Parte Mais Difícil do Seu Heroismo

Nunca é fácil assumir tais ações heróicas, e para John Harper foi excepcionalmente difícil.
Sua filha pequena, Nana, estava viajando com ele. Quatro anos antes, a mãe dela adoeceu e
morreu. Agora, Harper sabia, Nana ficaria órfã aos seis anos de idade.

Quando o alarme indicou o fim do Titanic, Harper imediatamente entregou Nana a um


capitão do convés com ordens para colocá-la num barco salva-vidas. Então ele saiu para
socorrer os outros. Nana foi resgatada e mandada de volta à Escócia, onde cresceu, casou-
se com um pastor, e dedicou toda a sua vida ao Senhor a quem seu pai tinha servido.

Certa vez, depois de Harper escapar por pouco de se afogar aos 26 anos, ele disse: "O medo
da morte não me preocupou em momento algum. Eu acreditava que a morte súbita seria
glória súbita, mas havia uma menininha sem mãe em Glasgow". Agora, essa menininha
ficaria sem mãe e sem pai. Com certeza essa foi a parte mais difícil para Harper.

O Herói em Contraste

O heroismo altruísta desse escocês é acentuado pela conduta contrastante de muitos colegas
passageiros nessa viagem mortal. Enquanto Harper entregava seu colete salva-vidas, um
banqueiro americano conseguiu colocar um cachorro de estimação num barco salva-vidas,
deixando 1.522 pessoas sem ajuda. Não havia um espírito de "afundar com o navio". Dos
712 salvos, 189 eram, inclusive, homens da tripulação. O coronel John Jacob Astor tentou
escapar com sua mulher num barco salva-vidas e foi detido pelo segundo-oficial Charles
Lightoller. Astor era o homem mais rico do mundo, mas isso foi insuficiente para forçar a
sua entrada num simples barquinho salva-vidas. Daniel Buckley se disfarçou de mulher na
tentativa de conseguir um lugar no barco. Os passageiros da primeira classe, no primeiro
barco salva-vidas a ser baixado, se recusaram a voltar e recolher pessoas que estavam se
afogando, apesar de haver espaço para muitos outros serem salvos. A Sra. Rosa Abbott, a
única mulher a afundar com o navio e sobreviver, disse que um homem tentou subir nas
suas costas forçando-a para baixo da água e quase afogando-a.

O Sr. Bruce Ismay, um dos donos do Titanic, diretor administrativo da Companhia White
Star e o responsável por não haver barcos salva-vidas [suficientes] a bordo, tornou-se o
marinheiro mais infame desde o Capitão Bligh. Ele subiu num barco salva-vidas enquanto
centenas de mulheres permaneceram no navio condenado. O Capitão Smith ordenou a seus
homens: "Façam o melhor que puderem para as mulheres e crianças, e cada um cuide de
si". Ao mesmo tempo, John Harper mandava os homens fazerem o que podiam para as
mulheres e crianças e cuidarem dos outros.

Uma Ambição Inabalável

Quando o monstruoso iceberg partiu as ambições dos outros em pedaços, Harper


demonstrou sua ambição inabalável que nem a morte podia afetar. Ele declarou Jesus Cristo
como a esperança do homem até o fim, ao contrário de outros que foram forçados a encarar
a insensatez de suas ambições. Um certo Sr. Hoffman raptou seus filhos, Lolo e Momon,
que ficaram conhecidos como as ‘‘crianças abandonadas do Titanic". Seu único desejo fora
tirar suas crianças de perto da mãe. Mas, diante da morte, ele as colocou num barco salva-
vidas, certificando-se de que elas voltariam para a mãe delas em Nice, França. John
Phillips, um tripulante presunçoso, mandou o navio The Ca/ifornian "calar a boca" depois
que este enviou pelo rádio o sexto aviso de icebergs no trajeto do Titanic. Ao encarar a
morte, sua presunção desapareceu e ele clamou: "Deus me perdoe... Deus me perdoe". O
pai de Michel e Edrnond Navratil levou seus dois meninos a bordo do Titanic numa viagem
sem volta para a América a fim de escapar para sempre da esposa, que ele tinha pego tendo
um caso com um oficial de cavalaria italiano. Abandonando sua ambição, Navratil colocou
seus meninos num barco salva-vidas. Suas últimas palavras foram: "Digam à sua mãe que
serei sempre dela".

O projetista do Titanic passou os momentos finais da sua vida no salão de fumar,


observando um painel na parede que dizia: "O Novo Mundo Por Vir". Seu colete salva-
vidas foi deixado de lado, demonstrando o fim do que fora um belo sonho por parte dele,
dos donos do navio e do público.

A Sra. Isador Straus, cujo marido era dono da Loja de Departamentos Macy’s, não entrou
num barco salva-vidas. Ela disse ao seu marido: "Onde você for, eu vou"; ajudou sua criada
a entrar no barco número oito e colocou seu casaco de pele nos seus ombros, dizendo-lhe:
"Mantenha-se aquecida. Eu não vou precisar dele".

Benjamin Guggenheim e seu criado Victo Giglio apareceram no convés em trajes de gala
como dois comediantes orgulhosos, dizendo: "Nos vestimos com o melhor e estamos
preparados para afundar como cavalheiros".

Jogadores de cartas trapaceiros, que viajavam com identidades falsas e tinham roubado
$30.000 dos passageiros, pararam com suas trapaças. O instrutor T. W McCawley, que
estava ensinando pessoas a montar em cavalos e camelos mecânicos, interrompeu suas
aulas. O fascínio das camas luxuosas, lareiras, banhos turcos com câmaras refrigeradas
douradas e da primeira piscina construída num transatlântico terminou. Passageiros no
salão da primeira classe cessaram as suas festas e desfilaram no convés com coletes salva-
vidas sobre os trajes de gala. As reuniões de negócios pararam. O falatório das socialites
cessou. Mas, com o seu último suspiro, John Harper, sem desanimar, continuou o trabalho
da sua vida: convencer homens a "crer no Senhor Jesus Cristo".

Harper Conhecia Bem os Terrores do Afogamento

A coragem de Harper não vinha da ignorância. Provavelmente ninguém no Titanic conhecia


tão bem os terrores do afogamento como John Harper. Aos dois anos de idade ele caiu num
poço e foi ressuscitado a tempo por sua mãe. Aos vinte e seis anos, Harper foi levado a alto
mar por um correnteza e sobreviveu por pouco. Aos trinta e dois anos ele encarou a morte
num navio com vazamento no Mediterrâneo. Talvez essa fosse a maneira de Deus testar
esse servo para a sua missão de último aviso no Titanic.

Harper já sabia o que centenas de pessoas descobriram naquela noite trágica - afogamento é
uma morte terrível. Will Murdoch, o primeiro-oficial do Titanic, foi incapaz de enfrentar
uma morte lenta na água e se matou com um tiro quando a ponte de comando afundou.
Muitos dos 1.522 homens, mulheres e crianças abandonados a bordo gritaram até ficar num
silêncio terrível. Em contraste, um John Harper confiante encarou a morte com segurança
absoluta de que Jesus derrotou a morte e deu-lhe a dádiva da vida eterna. Essa segurança
ultrapassou os terrores do afogamento.

A Paixão de Toda a Sua Vida

O heroismo de Harper não foi apenas um momento glorioso de uma vida sem atos
heróicos. Ele amou, chorou, orou e trabalhou pelos outros durante toda a sua vida. Harper
recuperou alcoólatras, jogadores, e brigões. Como pastor, às vezes, passava a noite inteira
na sua igreja orando pelas suas centenas de membros individualmente. Harper trabalhava
dia e noite, nos lares e nas ruas, indicando uma vida melhor para os desamparados. Ele
trabalhava sem cessar entre os pobres, procurando ajudá-los.

A labuta fatigante de Harper era realizada apesar de sua má saúde. No verão de 1905, a
enfermidade o incapacitou por seis meses, acabou com sua saúde e roubou sua bela e
ressonante voz. Seu corpo nunca mais foi o mesmo, restando apenas um esqueleto do
homem que fora. A pele pálida, o corpo frágil e as enfermidades constantes de Harper eram
as marcas de alguém que se recusava a parar para descansar. Porém, apesar da má saúde e
do corpo cansado, Harper era sagaz e alegre. Esse servo dedicado era conhecido por ser
"glorificado na sua fraqueza". Na noite anterior ao naufrágio do Titanic, enquanto os outros
jogavam e descansavam, John Harper foi visto no convés do navio tentando com todo zelo
levar um rapaz a crer em Cristo.

Harper Teve uma Oportunidade de Escapar do Titanic


Os atos heróicos de John Harper no Titanic assumem uma dimensão maior quando se
considera sua oportunidade de ter evitado o desventurado navio. A principio estava
marcado que Harper iria no navio Lusitania para pregar na Igreja Memorial Moody em
Chicago. Ao invés disso, ele se levantou e informou aos homens da Missão Seaman’s
Center em Glasgow que os planos foram mudados e ele partiria no Titanic para a igreja
Memorial Moody de Chicago. Em 1911, ele havia tido as melhores conferências desde os
dias do grande D. L. Moody, e a igreja o convidou novamente para três meses de reuniões.

O Sr. Robert English levantou-se numa reunião no Seaman’s Center e suplicou que Harper
não viajasse para Chicago. English disse a Harper que estava orando e teve um
pressentimento de que aconteceria um desastre se ele fizesse essa viagem. Ele se ofereceu
para pagar a passagem se Harper adiasse a sua viagem. Vários outros testemunharam o fato
de que English insistiu com Harper, inclusive Willie Burns, que estava presente na reunião
em Glasgow, e as duas netas de English, Mary Whitelaw e Georgina Smith, ambas
membros da Igreja Memorial Harper.

As palavras de English foram muito semelhantes às palavras ditas ao apóstolo Paulo por
um profeta chamado Ágabo 1.900 anos antes. Ágabo atou suas mãos e seus pés, dizendo:
"Assim os judeus, em Jerusalém, farão ao dono deste cinto e o entregarão nas mãos
dos gentios". A recusa de Harper de voltar atrás foi muito parecida com a reação de Paulo:
"Que fazeis chorando e quebrantando-me o coração? Pois estou pronto não só para
ser preso, mas até para morrer em Jerusalém pelo nome do Senhor Jesus"(Atos 21.10-
13). Ambos, Paulo e Harper, tinham um senso de propósito divino com relação às suas
viagens, e ambos estavam dispostos a morrer para realizar esse propósito.

As advertências proféticas dadas a esses dois homens de Deus indicam que o Senhor
aprovou seu sacrifício. A advertência de Ágabo deu um senso de propósito divino a Paulo
quando ele viajou a Jerusalém onde pregaria o Evangelho, seria preso e condenado à morte.
A advertência do Sr. English deu a Harper o mesmo senso de propósito divino quando ele
se tornou a testemunha final num navio da morte.

No Final só Havia Duas Classes de Passageiros

Depois que o Titanic afundou, o escritório da White Star em Liverpool, Inglaterra, colocou
um grande painel de cada lado da entrada principal. Em um deles escreveram com letras
grandes: "Identificados como Salvos", e no outro: "Identificados como Desaparecidos".
Quando a viagem do Titanic começou havia três classes de passageiros. Mas, quando ela
terminou o número foi reduzido a duas — os que foram "salvos" pelos barcos salva-vidas e
os que ficaram "perdidos" nas águas profundas.

Parentes e amigos dos passageiros do navio esperavam do lado de fora do escritório da


White Star. Quando notícias sobre um passageiro chegavam, seu nome era escrito num
pedaço de papelão. Então um empregado levava o nome até o portão. De frente para a
multidão ele levantava o papelão; a multidão ficava num silêncio mortal. Todos
observavam ansiosamente para ver em qual dos painéis o nome seria colocado.
John Harper mergulhou na morte com desprendimento total, sabendo que estaria entre os
passageiros perdidos. Mas ele tinha certeza absoluta de que seu nome estaria na lista dos
"salvos" diante do trono de Deus. Lorde Mercer expressou assim a atitude de Harper com
relação à morte: "Numa única noite, entre o anoitecer e o amanhecer, durante algumas
poucas horas de inconsciência de muitos que dormiam tranqüilamente, partiram desta terra
centenas de vidas, algumas ricas em promessas e futuros aparentemente felizes, levando
com elas todas as esperanças de outras pessoas. Mas a constância e a coragem cristãs, a
renúncia absoluta e o heroísrno inabalável com que tantos encararam seu fim, nos ajudam a
perceber que a morte não é o fim de todas as coisas e que esta vida é apenas a entrada para
a vida verdadeira, que ela é apenas o portal da eternidade".

O Último Convertido de John Harper

Duas horas e quarenta minutos depois do Titanic colidir com o iceberg, ele afundou nas
águas geladas. Centenas se ajuntaram em barcos e botes salva-vidas, e outros se agarraram
a pedaços de madeira esperando sobreviver até que chegasse socorro. Durante cinqüenta
minutos horríveis os gritos de socorro encheram a noite. Eva Hart disse: "O som das
pessoas se afogando é algo que não posso descrever para você. E ninguém mais pode. É um
som horrível. E há um silêncio terrível que o segue". O sobrevivente coronel Archibald
Gracie chamou isso de "a cena mais lastimável e horrível de todas. Os gritos comoventes
dos que estavam à nossa volta ainda soam nos meus ouvidos, e eu me lembrarei deles para
o resto da minha vida".

Durante aqueles 50 minutos, um homem agarrado a uma tábua chegou perto de John
Harper. Harper, que estava se debatendo na água, gritou: "Você é salvo?" A resposta foi:
"Não". Harper gritou as palavras da Biblia:

"Crê no Senhor Jesus Cristo e serás salvo". Antes de responder, o homem sumiu na
escuridão.

Mais tarde, a correnteza os aproximou novamente. Mais uma vez Harper, que estava
morrendo, gritou a pergunta: "Você é salvo?" Mais uma vez ele recebeu a resposta: "Não".
Harper repetiu as palavras de Atos 16.31: "Crê no Senhor Jesus Cristo e serás salvo".

Harper, que estava se afogando, soltou, então, as mãos do objeto em que se segurava na
água gelada e desceu para seu túmulo no oceano. O homem que ele tentou evangelizar
confiou em Jesus Cristo. Mais tarde ele foi socorrido pelos barcos salva-vidas do navio S.S.
Carpathia. Em Hamilton, Ontario, este sobrevivente testemunhou que foi o "último
convertido" de John Harper.

O último convertido de Harper foi alcançado pelas últimas palavras de Harper: "Crê no
Senhor Jesus Cristo e serás salvo".

Houve muitos heróis no Titanic, mas ajudando os outros enquanto se afogava, John Harper
foi o último.
A Formação de um Herói
John Climie

Faz cerca de vinte anos, talvez um pouco mais, que conhecemos o Sr. Harper pela primeira
vez. Nossa lembrança mais antiga dele era dos seus trabalhos no Evangelho em Bridge-of-
Weir. Na época ele só parecia um rapaz crescido. Mas naquele tempo, como durante toda a
sua carreira pública, a chama do Senhor ardia intensamente no seu coração.

A Conversão de John Harper

Ele nasceu em Houston, Renfrewshire, no dia 29 de maio de 1872, e foi no último domingo
de março de 1886, quando tinha treze anos e dez meses de idade, que aceitou Jesus. Ele
nunca foi um rapaz de confusão. Sua juventude desde a pré-adolescência foi moldada e
protegida por sua fé no Senhor Jesus Cristo. O amor de Deus foi derramado no seu coração,
e permeou sua vida completamente, formando seus pensamentos, induzindo à ação no
momento certo, e preservando-o do mal que está neste mundo. Foi através de João 3.16:
"Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu seu Filho unigênito, para que
todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna", que o caminho da salvação
ficou claro no seu coração e na sua mente. Esse tem sido o meio de iluminar multidões. Foi
o que o iluminou, e o libertou do medo. "O perfeito amor lança fora o medo".

Ele recebeu a verdade por amá-la, e a verdade o libertou. Nas palavras esclarecedoras
daquele texto, ele viu Jesus como a dádiva de Deus oferecida ao mundo inteiro, e, portanto,
para ele corno habitante deste mundo. Ele recebeu essa dádiva com ações de graça, e uma
nova vida começou.

Aqueles que dirigiam o culto em que ele aceitou o Salvador foram abençoados com muitas
conversões, mas convertidos como John Harper são raros. As vezes há grande júbilo e
muitos aleluias quando um pecador notório se converte, mas, infelizmente, muitas vezes a
alegria dura pouco. Algumas pessoas por quem houve muito regozijo, mais tarde provaram
ser pouco confiáveis.

Não se sabe se houve alegria especial quando o menino do interior aceitou Jesus naquela
noite, mas depois que recebeu a Palavra, ele a guardou num coração sincero, e mais adiante
deu frutos com paciência. A palavra de João 15.16 poderia se referir a ele: "eu vos escolhi
a vós outros e vos designei para que vades e deis fruto, e o vosso fruto permaneça".

Não é necessário que os homens tenham se afundado no pecado para terem utilidade
especial para Cristo depois que a graça redentora de Deus os tenha alcançado. No exercício
do seu ministério público, o Sr. Harper jamais se afastou de Deus caindo profundamente
em pecado. Contudo, ele foi o instrumento de Deus para levar ao Salvador muitos que
estavam totalmente extraviados. Desde o começo ele foi claramente, pela vontade de Deus,
"um vaso para honra, santificado, e adequado para o uso do Mestre".

E para o louvor do Senhor que Deus pode e consegue mudar as vidas de homens
degradados e infames, dando-lhes um lugar de honra e distinção na Sua obra. Mas as ações
malignas deles antes da conversão, às vezes, são uma armadilha para eles depois da
conversão, ao invés de um auxílio no serviço para Cristo. Uma vida pura antes da
conversão é um recurso valioso.

A Herança de Pais Tementes a Deus

John Harper nasceu e foi criado num lar cristão, como será relatado mais tarde neste livro.
Seus pais. pobres neste mundo, eram herdeiros do Reino que Deus prometeu aos que O
amam. Quanto mais lares cristãos, melhor, não só para a igreja, mas para a nação também.
Ser criado no cuidado e conselho do Senhor, num ambiente de oração e de reverência à
Palavra de Deus, é ser selado na juventude com marcas que são de grande valor, apesar de
ocasionalmente os resultados esperados demorarem a aparecer.

Ser criado no temor de Deus é uma herança de valor inestimável. Apesar de ter sido num
domingo à noite em março de 1886 que o menino de quase quatorze anos aceitou a Cristo,
havia todas as marcas dos anos anteriores guardadas na sua mente jovem. Não foi em vão
que ele ouviu durante esses anos marcantes as orações e súplicas de seu pai e a exposição
da Palavra de Deus naquele lar simples. A lenha foi colocada na lareira do seu coração, e
eis que naquela noite de domingo uma fagulha de amor divino caiu sobre ela, e a chama se
acendeu.

Uma Experiência Marcante na Vida de Harper

Durante os quatro anos que se seguiram não houve nada de especial sobre ele, pelo menos
nada que previsse a grande utilidade que marcaria sua vida futura. Ele ia freqüentemente às
reuniões bíblicas que eram realizadas com entusiasmo por alguns jovens da vila, com a
ajuda de pastores de outros lugares. Ele ficou livre de amizades comprometedoras, e
firmou-se na fé moderadamente e sem ostentação.

Mas depois de quatro anos e quatro meses, quando tinha acabado de fazer dezoito anos de
idade, ele passou por uma experiência maior. O crescimento é uma lei do Reino de Deus.
As vezes é bem devagar e quase imperceptível. Outras vezes é espantosamente rápido.
Alguns homens crescem mais numa hora de temor perante as coisas de Deus do que outros
que levam anos para crescerem. Seja qual for a nova experiência, é sem dúvida o Espírito
de Deus agindo para o crescimento em graça, levando a alma a um espaço mais extenso,
ampliando o horizonte, clareando a visão, implantando ideais mais nobres.

Uma Visão de Esperança

Foi no ano de 1890 que John Harper teve a conscientização que o selou para o ministério
público. Ele estava em casa sozinho num sábado à tarde no mês de junho. Ao redor da sua
casa na vila, a natureza estava exuberante. Junho é o rei dos meses de verão na Escócia. As
flores desabrochavam. Os pássaros cantavam. O sol brilhava. Mas enquanto outros jovens
deviam estar passeando nos campos verdes ou pelos riachos, dentro daquela casa na vila o
Espírito de Deus levava um jovem a pastos verdejantes e águas de descanso.
Uma clareza arrebatadora foi dada a ele, quase devastadora na sua intensidade, na qual ele
viu e sentiu como nunca havia sentido antes o propósito de Deus na Cruz de Cristo. No
amor de Cristo pelos homens como visto no Calvário ele admirou, de forma mais completa,
uma porta de esperança aberta para um mundo pecador, e juntamente com essa revelação
nova ele sentiu que Deus o chamava, e entregava-lhe uma parte no ministério de
reconciliação. No dia seguinte seus lábios estavam abertos. Assumindo sua posição na rua
da sua cidade natal, ele começou a compartilhar um apelo fervoroso para que os homens se
reconciliassem com Deus.

Um Pastor Sem Curso Teológico

Toda instrução que ele recebeu foi obtida no colégio na sua cidade natal, e como muitos
outros rapazes ele não se entusiasmava com a escola. Ele estava ansioso por trabalhar,
pensando como outros da sua idade que o trabalho é sinal de maturidade. Além disso, tudo
que podia ganhar era necessário em casa. Logo que pôde sair da escola, suas mãos estavam
ocupadas com o trabalho. Ele trabalhou com jardinagem por um tempo, mas estava
empregado numa fábrica de papel quando teve a maravilhosa experiência e o chamado para
o ministério.

Nenhuma universidade jamais teve a oportunidade de moldá-lo. Ele foi treinado pela mão
de Deus para o ministério, não tendo freqüentado curso teológico formal. Talvez isso tenha
diminuído seu "status" aos olhos de alguns, mas não diminuiu seu zelo pelo bem-estar
moral e espiritual do seu próximo. E, afinal, não é o que o homem adquire com a
escolaridade, mas o que o homem realiza que tem valor entre homens justos.

A Palavra de Deus era Sua Doutrina

Ele tinha uma mente organizada, o que ficou mais evidente com o passar do tempo, e era
um estudante dedicado de obras teológicas. Quando jovem, absorveu muito da doutrina
calvinista, mas do tipo muito rígido e restrito. Porém, à medida em que cresceu em graça e
conhecimento, sua mente se expandiu, e não teve dificuldade em crer em qualquer verdade
ou sistema de doutrina que tivesse base bíblica. Ele adotou e seguiu a Soberania Divina e o
Livre Arbítrio como esses termos são entendidos popularmente, acreditando que eram
baseados na Palavra de Deus. Dizia não saber explicar como eles co-existem, e não discutia
sobre esses termos, reconhecendo, como os homens mais sábios e dedicados de todas as
gerações, que eles são assuntos de fé e não de debate.

Ele era um estudante zeloso da Bíblia. Lia a Escritura Sagrada. Meditava nela. Usava
qualquer comentário que pudesse esclarecê-la, ou que o ajudaria a aprender com ela.
Submeteu-se à sua autoridade. Interpretou-a. Poucos podiam usá-la melhor que ele "para o
ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça". Aceitava
qualquer forma de doutrina encontrada nela. Fazia isso com persistência. Apegava-se a toda
instrução que ela lhe dava. Ele a amava como à sua própria vida. Toda doutrina que não se
encontrava nas Escrituras Sagradas, não importava quão bem apresentada, nem por quem
fosse proclamada, não era aceita por ele. "Assim diz o Senhor" era o seu lema.
Ele se firmava na rocha da revelação. As teorias dos homens eram areia para ele. A Palavra
de Deus era rocha. Sempre provava seu valor, e não se envergonhava de declarar sua fé
nela. Sempre citava textos de forma impressionante, e os homens lembrariam do texto
sobre o qual tinha pregado mesmo que não se lembrassem de mais nada.

Um homem de negócios em Glasgow lembra-se de vê-lo num salão em Kilbarchan há cerca


de vinte anos atrás citando 1 João 1.7: "E o sangue de Jesus, seu Filho, nos purifica de
todo pecado". As palavras "todo pecado" foram repetidas por ele três vezes, cada vez com
maior ênfase. "Há algo nisso, rapaz", o senhor disse para si mesmo. Certamente havia, e no
tempo determinado esse "algo" foi visto.

Qualquer Esquina Era Seu Púlpito

Quando Deus precisa de um homem para o Seu serviço Ele sabe onde procurá-lo. Ele
observa o campo. Ele vê a necessidade. Ele escolhe o homem. Ele chamou Eliseu do arado,
Amós do rebanho. Pedro do barco de pesca nas margens do Mar da Galiléia, e John Harper
da indústria de papel. E quando Deus coloca um homem num cargo, ninguém pode
"demiti-lo". Um lugar será encontrado para ele quando o dom e o chamado de Deus se
manifestarem, e se não houver lugar para ele na igreja até que seja provado, testado e
confirmado, Deus encontrará para ele um local de serviço para manifestar Seu chamado
divino.

No serviço de Deus os cooperadores são sempre necessários, homens que estejam dispostos
a trabalhar e sofrer, gastar e serem gastos, suportar repreensão e passar por dificuldades
como bons soldados de Jesus Cristo. John Harper era um cooperador — um cooperador de
Deus (1 Coríntios 3.9), um homem que se dedicava de coração, alma, força e mente a todo
serviço que prestava. No inicio da sua carreira não sonhava com o púlpito da igreja. Se
visse uma esquina vazia, seja qual fosse o lugar, ele a enchia de ouvintes. Esse era o seu
púlpito, e fazia proveito dele. Por toda a região onde vivia, depois de receber o
revestimento especial de poder do alto, saiu pregando a história da graça redentora. Bridge-
of-Weir, Kilbarchan, Elderslie, Johnstone, Linwood., e outros lugares o encontravam à
noite depois do dia de trabalho terminar, proclamando com esperança vigorosa a história do
amor de Deus aos homens. Seu coração estava incandescente. Uma coisa ele fazia então, e
a fez até o fim — ele se esforçava para trazer homens do pecado para Deus.

Essa é uma obra que deve continuar, "a história deve ser proclamada." Os que estão
afastados do Senhor devem ser encontrados, avisados, convidados, e convencidos a
abandonar o pecado e seguir a Cristo. Se um dos servos de Deus é levado, alguém deve
estar atento ao chamado divino para se apresentar e preencher o espaço vazio. Não para
servir necessariamente na mesma área, mas para manter o testemunho vivo. O número de
testemunhas não deve diminuir. Hoje o mundo precisa do Evangelho tanto quanto antes. O
coração de Deus bate tão forte quanto antes. O sangue de Jesus é tão eficaz quanto antes. O
Espírito de Deus está tão presente quanto antes, mas infelizmente deve estar tão
entristecido que o Seu poder é menos evidente do que deveria ser. Haverá trabalho
enquanto é dia. Este é o dia da salvação. A noite vem, em que nenhum homem poderá
trabalhar.
"É Maravilhoso Ser Enviado de Deus"

Depois de cinco ou seis anos de dedicação, serviço evangelístico constante, esforço na


fábrica durante o dia e à noite nos distritos rurais em redor convidando homens a se
prepararem para o encontro com Deus, o reverendo E. A. Carter da Missão Pioneira Batista
de Londres "descobriu" o jovem pregador e o liberou para dedicar todo o seu tempo e toda
a sua energia à obra que tanto amava. Com o patrocínio da Missão, uma obra Batista foi
iniciada em Govan, um dos subúrbios de Glasgow, onde havia bastante espaço para um
trabalho ativo.

Durante algum tempo, cultos evangelístícos foram realizados, depois uma igreja foi
formada. O culto de inauguração foi dirigido pelo pastor J. B. Frame, e no dia seguinte um
sermão foi pregado pelo Reitor MacGregor da Faculdade Dunoon sobre as palavras:
"Houve um homem enviado por Deus cujo nome era João" (João 1.6). A passagem
deve ter provocado sorrisos, mas era muito adequada à ocasião. Naquele salão estava um
homem que sem dúvida alguma, como resultados futuros provaram, foi enviado por Deus,
e seu nome era João (John). É maravilhoso ser enviado de Deus. As referências que tinha
consigo eram os sinais de que Deus já o moldara. Ele não tinha outras. Mas essas eram
suficientes para incentivar a certeza de que Deus o enviara.

Apesar de jovem na idade, ele já tinha um histórico confiável. O selo de Deus foi colocado
na sua obra nos diversos lugares onde ele deu um bom testemunho, e agora em meio a uma
multidão acreditava-se que seria mais útil do que nunca. Essas esperanças não foram
desmentidas. Quando Deus envia um homem Ele proporciona toda a graça necessária. Ele
não deixa nada de bom faltar para aqueles que andam corretamente no caminho da obra à
qual Ele os chama. Homens enviados por Deus com uma mensagem do Evangelho são
guardiões de um poder que converte pecadores do erro dos seus caminhos.

Mas se os homens saem antes de Deus enviá-los, tais resultados não aparecem. Na época de
Jeremias, Deus reclamou através dele daqueles que "falam as visões do seu coração, não
o que vem da boca do Senhor"

(Jeremias 23.16). Sobre eles disse: "Não mandei esses profetas; todavia, eles foram
correndo, não lhes falei a eles, contudo, profetizaram. Mas, se tivessem estado no meu
conselho, então, teriam feito ouvir as minhas palavras ao meu povo e o teriam feito voltar
do seu mau caminho e da maldade das suas ações" (Jeremias 23.21-22). Essa é uma
descrição dos homens que não são enviados. Eles não estão no conselho de Deus. Não
afastam as pessoas dos seus maus caminhos, e das suas ações malignas.

Um homem enviado por Deus proclamará a Palavra de Deus. Não declarará uma visão do
seu próprio coração. O resultado será que os homens abandonarão seus caminhos maus, e
se prostrarão em arrependimento e adoração aos pés dEle, que foi crucificado, mas que
agora é o Salvador glorificado. Sob John Harper os homens abandonaram seus caminhos
maus e suas obras más. Eles renegaram a impureza e seguiram a santidade sem a qual
ninguém verá o Senhor.
Poderia parecer um evento sem importância para alguns a consagração daquele jovem para
o ministério de Deus naquele dia. Mas centenas e centenas de pessoas têm razão para
agradecer a Deus por terem visto sua face, ou ouvido sua voz. Durante cerca de dezoito
meses ele se esforçou sem cessar em Govan, trabalhando, orando, pregando, convidando,
tocando os corações e as vidas de alguns com seus apelos sinceros, e reunindo à sua volta
um pequeno grupo de homens e mulheres que viram nele as marcas de um homem enviado
por Deus.

"Pregando Tudo o que Tinha Direito"

No início do seu trabalho em Govan um dos membros de um conjunto evangelístico foi


enviado como representante da cidade para falar num culto missionário em Govan. Quando
chegou no cruzamento de Govan, ele viu um jovem de pé "pregando tudo o que tinha
direito". "Quem é’?", perguntou a um homem que estava com ele. "Esse é o pastor da
Missão Batista", foi a resposta. A impressão que ficou naquela noite, reforçada mais tarde
com conhecimento maior do jovem que estava "pregando tudo o que tinha direito",
segundo ele, levou-o a participar da igreja quando ela foi formada, e fez dele um dos
amigos mais leais do Sr. Harper.

Depois de um ano e meio de trabalho em Govan, Harper mudou-se para Gordon Halls, na
rua Paisley. Neste lugar, no dia 5 de setembro de 1897, formou-se uma igreja com 25
membros, alguns dos quais vieram com ele de Govan. A igreja foi chamada de Igreja
Batista de Paisley Road, o nome que ainda tem. Mas foi sugerido que deveria chamar-se
Igreja Memorial Harper (e agora ela é conhecida assim).

Homens e mulheres de todas as idades juntaram-se ao jovem pastor, e sob a sua liderança, a
obra foi feita sem formalidades. Em todos os cultos na igreja fazia-se o máximo para
ganhar homens para Cristo. Do lado de fora, eram feitas pregações nas esquinas, nos
portões de prédios públicos durante as refeições, e sempre que houvesse alguém para ouvir.
A rede era lançada para todos os lados. O zelo e o entusiasmo dos obreiros pareciam
ilimitados. Almas foram ganhas, a causa prosperava, o número de membros aumentava. A
fé que age pelo amor e é radiante de esperança, animou os obreiros, e os levou de vitória
em vitória sobre as forças da incredulidade.

Depois de quatro anos em Gordon Halls, um terreno foi adquirido no distrito de Plantation,
e um galpão de ferro, com capacidade para quinhentas ou seiscentas pessoas, foi erguido. A
obra foi transferida, tendo esse local como centro, e do lado de dentro foram vistas
maravilhas do poder redentor de Deus. Uma fonte contínua de misericórdia para perdoar
jorrava nos cultos, e há seis anos atrás o prédio teve que ser ampliado para dar espaço para
as exigências crescentes da obra. Ele fica no meio de uma população densa de
trabalhadores. Ninguém, por mais próximo da obra realizada jamais poderá saber
completamente quanto bem foi realizado pelo ministério de John Harper.

"Aquele Homem, o Sr. Harper, Estava Pregando na Esquina, e Eu Aceitei Jesus"

O superintendente de um grande salão evangelístico em Glasgow estava visitando há algum


tempo atrás um homem idoso em High Street, a duas milhas de distâneia da Igreja de
Paisley Road. Perguntaram ao homem, que tinha 80 anos, se ele confiava em Jesus.
Imediatamente ele respondeu que sim. Quando perguntaram há quanto tempo ele confiava
no Salvador, ele disse: "Nove anos". "Quantos anos você tinha, então?" "Tinha acabado de
fazer 70 anos". "E como isso aconteceu?" "Bem, eu estava passando em Plantation, e
aquele homem, o Sr. Harper, estava pregando na esquina, e eu aceitei Jesus ali mesmo".
Dentro e nos arredores do distrito onde a igreja se situava, muitas casas foram abençoadas,
iluminadas, transformadas, pela pregação do servo do Senhor, cujo fim tantos lamentam. A
igreja que foi formada com 25 membros tinha quase 500 membros quando, depois de 13
anos de trabalho, ele foi, em setembro de 1910, assumir os deveres do pastorado na Igreja
de Walworth Road em Londres. O culto de despedida foi inesquecível. O galpão de ferro,
que tinha lugar para 900 pessoas, fora muito pequeno para acomodar todos os que queriam
assistir ao culto, e o espaço de uma grande igreja na vizinhança foi graciosamente cedido
para a ocasião. Ela ficou lotada.

Uma Dedicação Intensa

Ele sempre foi um pregador fervoroso. Nunca foi superficial. Nunca foi um mero falador.
Ele sempre foi um homem que fixava seu olhar na necessidade de almas preciosas. Mas
durante os últimos anos do seu ministério em Glasgow, a sua pregação parecia alcançar um
novo patamar. Havia uma dedicação intensa que crescia com o passar dos anos. Seu poder
de pregação certas vezes tinha algo extraordinário. Não era simplesmente quando fazia o
apelo para os incrédulos se reconciliarem com Deus, mas também quando exortava os
filhos de Deus a coisas maiores. Sem dúvida, como aqueles dentre nós que o conheciam
podem testemunhar, o desejo fervoroso e impetuoso que se expressava nas suas pregações
públicas brotava das horas prolongadas de oração a que ele se dedicava. Ele era antes de
mais nada um homem de oração. Quase um mês antes da sua morte, quando estava em
Glasgow para uma visita, ele passou meia hora tomando chá com alguns de nós, e a última
palavra que lembramos ter dito foi que a necessidade de hoje era uma vida de oração mais
intensa.

Seu breve ministério em Walworth Road foi claramente abençoado por Deus. Melhoras
foram feitas. O número de membros da igreja aumentou. Tudo parecia prometedor. Novos
laços de interesse se formaram. Novas amizades foram feitas. Então veio o convite para
dirigir cultos especiais na Igreja Moody em Chicago durante o inverno passado.
Referências ao trabalho notável aparecem nas últimas páginas deste livro.

Quando voltou para Londres em janeiro, não se achava que ele concordaria em fazer outra
visita tão cedo como programou. Mas ele iria "no começo de abril", nos disse duas semanas
antes de partir. "Por que vai voltar já’? Certamente não é para dirigir cultos especiais
novamente?"... "Oh, não", ele disse: "eu vou dirigir os cultos normais na Igreja Moody, e
falar em conferências e outras reuniões em outros lugares". Cheio de esperanças ele
embarcou no desventurado navio, e no caminho encontrou o seu fim. E isso que devemos
dizer? Não é melhor dizermos que ele encontrou o seu Senhor no caminho?

Naquela noite de domingo, apenas uma hora ou duas antes do Titanic colidir com o iceberg,
ele olhou para o céu e vendo um brilho vermelho no oeste, disse: "Vai fazer um belo dia
amanhã". Sim, faria, mas a beleza que ele veria não era aquela à qual se referia quando
disse essas palavras. Ele veria a beleza do Salvador.

Depois de pouco tempo de casado, ele perdeu a sua esposa no começo de 1906. Sua
filhinha, Nana, agora tem seis anos e alguns meses. A bênção do Senhor certamente estará
sobre aquela menininha órfã. "Pai dos órfãos... é Deus em sua santa morada" (Salmo
68.5).

Fonte: Livro "O Último Herói do Titanic", de Moody Adams (pag. 15 a 43), publicado por
"Obra Missionária Chamada da Meia-Noite")

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