Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Edição Especial:
Villa-Lobos e os sons do
Brasil
SUMÁRIO
ANEXO 1 .......................................................................................................... 13
ANEXO 2 ........................................................................................................ 24
ANEXO 3.......................................................................................................... 27
ANEXO 4.......................................................................................................... 29
“Heitor Villa-Lobos está entre os brasileiros que, até hoje, nas artes, mais se
salientaram, dentro e fora do país, pela contribuição de sua obra ao acervo de
nossa terra. Na sua música, não há somente a circunstância de revelar poderosa
imaginação criadora, nem o sabor de originalidade: acima de tudo isso, reflete a
música de Villa-Lobos a própria nacionalidade, a saber, o sentimento do homem
brasileiro, o espírito do povo, a terra, o tropicalismo da natureza” (Clóvis Salgado
– Ministro do Governo Juscelino Kubistchek em documento enviado ao presidente,
justificando a criação do Museu Villa-Lobos, em 13/06/1960).
A Edição Especial Villa-Lobos e os sons do Brasil, que será apresentada no programa Salto
para o Futuro/TV Escola (SEED/MEC), no dia 28 de abril de 2008, visa debater aspectos da
vida, da obra e do legado desse grande compositor e maestro e, ainda, refletir sobre a relação
Escola e Museu, por meio do trabalho realizado pela Ação Educativa do Museu Villa-
Lobos, no Rio de Janeiro.
Fundado em 1960, o Museu Villa-Lobos nasceu como instituição pública federal, com a
finalidade de preservar e difundir a obra de Heitor Villa-Lobos, esse renomado artista
brasileiro que, ainda em vida, chegou a ser considerado o maior compositor das Américas. E
não fosse já grandiosa a sua contribuição, enquanto criador identificado com as nossas raízes
culturais, Villa-Lobos dedicou quase duas décadas de sua existência a um valioso trabalho na
área da educação musical, acalentando o sonho de, através das crianças e dos jovens, iniciar
um processo de “formação de uma consciência musical brasileira” que, com o passar dos
anos, acabaria por contribuir para a transformação de nossa sociedade, no seu ideal de um
Brasil mais brasileiro.
Neste momento em que a nação brasileira volta a colocar em pauta suas intenções em relação
ao retorno do ensino da música às escolas, nada mais oportuno do que trazer para o centro das
discussões com educadores de todos os recantos do País este programa sobre Villa-Lobos –
sua vida e sua obra –, tendo como foco o Museu Villa-Lobos e suas ações na área da educação
musical. Antes de chegar às crianças, Villa-Lobos iniciou seu projeto educativo aliando-se aos
professores, na missão de trabalhar uma consciência musical no Brasil. O Museu, em seu
trabalho cotidiano na área de educação, difundindo a música de seu patrono e de outros
compositores brasileiros e universais, também tem encontrado em educadores de todos os
segmentos escolares importantes aliados em sua tarefa de difundir o transbordante amor deste
compositor pelo Brasil:
“O que escrevo é conseqüência cósmica dos estudos que fiz, da síntese a que
cheguei para espelhar uma natureza como a do Brasil. Quando procurei formar a
minha cultura, guiado pelo meu próprio instinto e tirocínio, verifiquei que só
poderia chegar a uma conclusão de saber consciente, pesquisando, estudando
obras que, à primeira vista, nada tinham de musicais. Assim, o meu primeiro livro
foi o mapa do Brasil, o Brasil que eu palmilhei, cidade por cidade, estado por
estado, floresta por floresta, perscrutando a alma de uma terra. Depois, o caráter
dos homens dessa terra. Depois, as maravilhas naturais dessa terra. Prossegui,
confrontando esses meus estudos com obras estrangeiras, e procurei um ponto de
apoio para firmar o personalismo e a inalterabilidade das minhas idéias.”
Hoje, passados mais de setenta anos dessa profissão de fé de nosso compositor, o que restou
desse monumental esforço de Villa-Lobos em sua tarefa de despertar o País, através das
crianças, para uma nova mentalidade quanto à valorização de nossa identidade cultural?
A Ação Educativa do Museu Villa-Lobos, em seu trabalho cotidiano junto aos mais
diversos públicos tem, nos ensinamentos de Villa-Lobos, a diretriz, e na sua música, o
caminho que permeia todos os processos.
• oferecer aos estudantes uma visão ampla da música, através do contato com um tipo de
música diferente da que é apresentada pelos meios de comunicação de massa, tentando
apontar, criticamente, equívocos veiculados por esses formadores de opinião;
Os textos auxiliares, disponibilizados em anexo, devem ser utilizados para uma melhor
condução da audição comentada.
Próximo passo:
- fale, de forma sucinta, sobre: quem foi este compositor, sua época, sua importância para a
música e para a cultura brasileira;
Esta obra descreve impressões de viagens, em trens de ferro (Maria Fumaça), realizadas por
Villa-Lobos pelo interior do Brasil.
Antes de ouvir a música, falar sobre o que Villa-Lobos aprendeu em suas viagens e transpôs
para sua música; convidar os alunos a realizar – através da imaginação – uma viagem de trem,
como fez Villa-Lobos, pedindo que eles, ao final da audição, descrevam as experiências
vivenciadas durante o passeio; conduzir a atividade de forma descontraída, propondo a
identificação de algumas imagens descritas pela música, como: o apito do trem, o trem saindo
e chegando da estação, etc.
“Conta a lenda que o Uirapuru é um pássaro de canto noturno. Seu canto atraía
as índias da tribo que, todas as noites, se reuniam para caçá-lo, pois a feiticeira
lhes contou que este pássaro de canto atraente era, na verdade, o mais belo
cacique da terra” (Argumento de Villa-Lobos, In: Villa-Lobos, sua obra).
Falar sobre como o compositor utilizou-se de temas indígenas e de lendas para compor suas
obras; contar o resumo da lenda “O Uirapuru”, de forma expressiva, e explorar a imaginação
dos alunos através de perguntas sobre o possível desenrolar da história; desenvolver algum
trabalho sobre o tema: textos, desenhos, representações teatrais, etc.;
4. “Choros 3” (Pica-Pau)
Este “Choros” – composto para coro masculino e sete instrumentos de sopro – é consagrado
ao ambiente sonoro da música primitiva dos aborígines dos estados de Mato Grosso e Goiás.
O tema Nozani-ná é autêntico dos índios Parecis, recolhido pelo cientista brasileiro Roquette
Pinto. O texto cantado pelo coro é formado: por palavras da língua dos índios Parecis, por
uma palavra em português, insistentemente repetida, e por várias sílabas sem nexo, de efeito
onomatopaico.
A seguir, nos Anexos, seguem textos auxiliares que trazem informações relevantes sobre a
vida, a obra e o legado de Heitor Villa-Lobos.
2
Pesquisadora. Técnica em dinâmica educativa do Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional – IPHAN/MINC. Coordenadora da Ação
Educativa do MUSEU VILLA-LOBOS, desde 1986. Consultora desta Edição
Especial.
A 05 de marco de 1887, antes de o Brasil ser uma República, nascia Heitor Villa-Lobos – na
Rua Ipiranga, bairro de Laranjeiras – no Rio de Janeiro. Seu pai, Raul Villa-Lobos, era
funcionário da Biblioteca Nacional e dedicava-se à música, como amador. Sua mãe, Noêmia
Villa-Lobos, cuidava dos filhos e da casa.
Na residência de Raul Villa-Lobos se fazia boa música. Todos os sábados, eram convidados
amigos e organizavam-se verdadeiros concertos. Nomes respeitados da época participavam e
faziam música até altas horas da madrugada.
Esse hábito, que durou anos, influiu decisivamente na formação musical de Villa-Lobos que,
logo cedo, iniciou-se na música. Aos seis anos de idade aprendeu, com o pai, a tocar
violoncelo em uma viola especialmente adaptada. No ano seguinte, já improvisava melodias
simples das cantigas de roda que cantava com seus companheiros de folguedo.
O fascínio por Bach – levando-o, mais tarde, a escrever algumas de suas mais representativas
obras, as “Bachianas Brasileiras” – data também dessa época. Criança, ainda, extasiava-se
diante dos prelúdios e fugas do “Cravo Bem Temperado” que a sua tia Fifinha executava ao
piano.
Raul Villa-Lobos foi pai rigoroso e sempre exigiu do pequeno Villa-Lobos o que jamais pedia
aos outros filhos. É o próprio Villa-Lobos, conhecido na época pelo apelido de “Tuhu”, quem
nos conta sobre o seu pai:
Apesar da rigidez paterna, Villa-Lobos teve uma infância das mais felizes, com ricas
vivências, em cidades do interior do Estado do Rio de Janeiro e de Minas Gerais, onde chegou
a residir com a família, por um período. Nessas viagens, entrou em contato com um tipo de
música diferente da que estava acostumado a ouvir: a música rural.
Naquele tempo em que o rádio nem existia, o pequeno “Tuhu” deliciava-se com as modas
caipiras, com os tocadores de viola, enfim, com um certo tipo de música folclórica que, mais
tarde, viria a universalizar através das suas obras.
Ao voltar ao Rio de Janeiro, a música praticada nas ruas e praças da cidade também passou a
exercer um atrativo especial sobre o menino; mas quando tentou aproximar-se dos autores
daquele gênero musical, a reação dos pais foi negativa e o pequeno “Tuhu” teve que se
conformar em apreciá-los de longe.
Esses músicos – os “chorões” – reuniam-se para tocar e alegrar os bailes nas casas de família
e festas da cidade. Tocavam também em aniversários, batizados, casamentos e durante o
carnaval, percorrendo os bairros da Cidade Nova, Praça Onze e Centro. Quando a cidade
adormecia, pelas ruas e caminhos, eles andavam, em grupos numerosos, tocando violões,
O gosto de Villa-Lobos por essa música dos “chorões” levou-o a estudar violão, aprendendo,
às escondidas, os primeiros acordes. Com a morte de Raul Villa-Lobos, em 1899, D. Noêmia
– tendo que trabalhar duro para sustentar os filhos, lavando e engomando guardanapos para a
Confeitaria Colombo – não conseguiu conter os ímpetos do filho adolescente em seu
incontrolável desejo de conhecer, de perto, os “chorões”. Villa-Lobos, ao completar 15 anos e
pretendendo uma maior liberdade, fugiu de casa, indo encontrar refúgio na casa de sua tia
Fifinha.
Mas, apesar de todo o seu fascínio pela música, conseguiu dar prosseguimento ao Curso de
Humanidades no Mosteiro de São Bento. D. Noêmia era mãe cuidadosa e sempre incentivou
os estudos do filho, esperando vê-lo um dia médico. Atendendo aos desejos de sua mãe, Villa-
Lobos chegou a matricular-se num curso de preparação para o vestibular da Faculdade de
Medicina, até convencer D. Noêmia de que essa não era a sua inclinação.
A partir daí, passou a ter contato maior com os “chorões”, freqüentando o Cavaquinho de
Ouro, na atual Rua da Carioca, onde recebia convites de toda a espécie para tocar nos lugares
mais diversos. Inspirado neste ambiente dos “chorões”, aproveitou o que havia de original e,
anos mais tarde, compôs uma série de obras intitulada “Choros”, inovando na forma musical.
Tempos depois, seguia para a sua quarta viagem – uma ousada excursão pelo interior dos
estados do Norte e Nordeste – que se estenderia por mais de três anos. Nesta viagem, teve
como companheiro inseparável a figura interessante do músico Donizette. Em cada lugarejo a
que chegavam, Villa-Lobos tratava de arranjar concertos. Tocando violoncelo, piano, violão
ou saxofone, ganhavam dinheiro e seguiam viagem. A coleta folclórica foi bastante
proveitosa. Não puderam, no entanto, trazer tudo o que recolheram, pois muito se perdeu nas
travessias dos rios. É o próprio Villa-Lobos quem relembra:
“Abandonei a casa aos 15 anos para aliviar minha inquietude que me fez um
passeante noturno, cantando serenatas. Viajei muito. Muitíssimo. Andei por todos
os rincões de minha terra fascinante. Escutei os tambores dos índios nas noites
cheias de mistério. Vivi com aborígines, em regiões que quase escapam às cartas
geográficas. Andei em canoas primitivas. Conheci o desconhecido do Amazonas,
quando fiz parte de uma expedição científica. Naufraguei várias vezes e, sempre,
salvei meus instrumentos musicais.”
Apesar de ainda jovem e de sua pouca experiência em assuntos folclóricos, Villa-Lobos soube
aproveitar bem as suas viagens. Por onde passava ia recolhendo temas folclóricos que utilizou
não apenas em suas composições, como no seu trabalho de Educação Musical, quase 30 anos
depois, através da coleção “Guia Prático”. Assim se referiu Villa-Lobos, anos mais tarde, à
utilização do folclore em suas composições:
A maioridade artística
Os jornais publicavam críticas contra a música moderna de Villa-Lobos, dizendo que “feria os
ouvidos” por ser uma música diferente. A oposição e os debates sobre sua obra foram
enormes. A pressão foi grande contra aquele homem que ousava quebrar os padrões e
costumes da época. Anos mais tarde, Villa-Lobos fez questão de explicar:
“Não escrevo dissonante para ser moderno. De maneira nenhuma. O que escrevo
é conseqüência cósmica dos estudos que fiz, da síntese a que cheguei para
espelhar uma natureza como a do Brasil. Quando procurei formar a minha
cultura, guiado pelo meu próprio instinto e tirocínio, verifiquei que só poderia
chegar a uma conclusão de saber consciente, pesquisando, estudando obras que, à
primeira vista, nada tinham de musicais. Assim, o meu primeiro livro foi o mapa
do Brasil, o Brasil que eu palmilhei, cidade por cidade, estado por estado, floresta
por floresta, perscrutando a alma de uma terra. Depois, o caráter dos homens
dessa terra. Depois, as maravilhas naturais dessa terra. Prossegui, confrontando
Convidado por Graça Aranha para participar da “Semana”, Villa-Lobos ficou encantado com
a proposta, pois coincidia com as idéias pelas quais vinha lutando há anos como figura mais
expressiva da corrente musical nacionalista, inaugurada no Brasil, pelo compositor Alberto
Nepomuceno.
Por já estar bastante conhecido no meio musical brasileiro, alguns de seus amigos começaram
a animá-lo a ir à Europa. E apresentaram à Câmara dos Deputados um projeto para financiar
sua ida a Paris, com o propósito de divulgar a nossa música na Europa. O meio musical
carioca movimentou-se e mesmo os inimigos mais ferrenhos mostraram-se favoráveis à ida de
Villa-Lobos a Paris. O maestro Francisco Braga – uma das figuras mais representativas da
música, naquela época – passou em cartório um curiosíssimo documento, onde atestava a
competência artística do nosso compositor: “O senhor Villa-Lobos tem um enorme talento
musical. De uma capacidade produtora assombrosa, tem uma bagagem artística considerável,
onde existem obras de valor, algumas bem originais. Não é mais uma promessa, é uma
afirmação. Penso que a Pátria muito se orgulhará, um dia, de tal filho”.
A proposta foi aprovada, mas com a verba reduzida a um terço do valor proposto. Mesmo
assim, Villa-Lobos partiu, em 1923, rumo à Europa, em sua primeira viagem: não ia a Paris
para estudar ou aperfeiçoar-se: ia para exibir o que já havia feito.
Desejando dar uma satisfação ao público brasileiro, Villa-Lobos, antes de sua partida,
promoveu – com a ajuda de seus amigos músicos – uma série de quatro concertos sinfônicos,
apresentando as suas melhores obras, de diversos estilos, como forma de justificar o favor
recebido.
A bordo do navio francês “Croix”, o autor de “Amazonas” chegou à Europa com mentalidade
própria e se impôs em menos de um ano. Um grupo de amigos ajudou-o nas despesas e
apresentou-o aos editores Max-Eschig, enquanto o famoso pianista Artur Rubinstein – que já
o conhecia do Brasil – e a cantora Vera Janacópulus divulgavam suas obras em recitais em
vários países. Muitos concertos foram realizados para apresentar o compositor brasileiro.
Em 1927, Villa-Lobos retorna a Paris, dessa vez acompanhado de sua primeira esposa, a
pianista Lucília Guimarães. Era necessário aproveitar o impulso inicial do primeiro estágio,
coordenar o generoso esforço dos amigos residentes em Paris, organizar concertos e publicar
uma série de obras. Além da ajuda da família Guinle – que emprestou ao casal seu
apartamento mobiliado em Paris – Villa-Lobos procurou equilibrar melhor o seu orçamento,
dando aulas e trabalhando como revisor na Casa Max-Eschig. Fez amigos e muitos artistas de
renome freqüentaram-lhe a casa e participaram das alegres feijoadas dos domingos.
Com o nome feito em Paris e com 19 obras editadas, Villa-Lobos ganhava prestígio
internacional. Apresentou as suas composições em recitais, audições e regendo orquestras nas
principais capitais européias, causando forte impressão. A sua obra expressava uma força
nova, uma contribuição original aos caminhos da música. Ao mesmo tempo em que, também,
provocava reações diante daquelas composições ousadas demais para a época.
Villa-Lobos, o educador
A aprovação do seu projeto pelo Governo de São Paulo o fez transferir-se definitivamente
para o Brasil e logo iniciou as suas atividades, realizando uma “tournée” artística pelo interior
dos estados de São Paulo, Minas Gerais e Paraná. Em 193l, reunindo representações de todas
as classes sociais paulistas, organizou uma Concentração Orfeônica chamada “Exortação
Cívica”, reunindo cerca de 10 mil vozes.
Após dois anos de trabalho em São Paulo, Villa-Lobos foi convidado oficialmente pelo
Secretário de Educação do Estado do Rio de Janeiro – Anísio Teixeira – para organizar e
dirigir a Superintendência de Educação Musical e Artística (SEMA), que introduzia o Ensino
da Música e o Canto Coral nas escolas.
Em sua visão revolucionária, o autor do “Uirapuru” tinha como finalidade preparar a mente
infantil para reformar, aos poucos, a mentalidade coletiva das gerações futuras. Somente a
implantação do ensino musical, renovado por intermédio do canto coletivo, seria capaz de
iniciar a “formação de uma consciência musical brasileira”. E passou a desenvolver entre as
novas gerações, através do Canto Orfeônico, o sentimento de nacionalidade:
”Quem nasceu no Brasil e formou sua consciência no âmago deste país, não
pode, embora querendo, imitar o caráter e o destino de outros países, apesar de
ser a cultura básica transportada do estrangeiro”.
Com o objetivo de apresentar ao público em geral as razões da utilidade desse ensino, para
que se entendesse a música como uma necessidade imprescindível à educação, realizou, após
cinco meses de intenso trabalho, uma demonstração pública com um coral de 13 mil vozes,
com alunos de escolas primárias e secundárias do Rio de Janeiro. Naturalmente, várias falhas
e dificuldades ocorreram, mas Villa-Lobos procurava junto com os professores, contorná-las,
lutando por seu ideal. Em 1932 promoveu, pela primeira vez no Brasil, uma série de concertos
Combatido por alguns, mas apoiado pelo Governo Getúlio Vargas, Villa-Lobos continuava
persistente em seu trabalho na SEMA. Organizou Concentrações Orfeônicas grandiosas: em
1935, no Congresso Nacional de Educação – 30 mil vozes e mil músicos de banda – tendo
repetido o feito em l937; em 1940, reuniu 40 mil vozes escolares sob a sua batuta; em 1942,
escreveu para um coro de 35 mil vozes o “Juramento da Juventude Brasileira”; e, finalmente,
em 1943, organizou e dirigiu uma demonstração cívico-orfeônica, com 15 mil escolares,
tendo composto para este dia, a “Invocação em Defesa da Pátria”.
“Autodidata, depois da severa iniciação que recebeu do pai (Raul Villa-Lobos, professor,
erudito e amador de bom gosto), com a morte deste e facilmente rompidas as amarras da
vigilância materna, entregou-se à plena expansão do seu temperamento indomável. Passou a
freqüentar as rodas boêmias dos chorões. E com esses menestréis caboclos, hauriu a essência
e o perfume de sua música, toda feita de sutilezas rítmicas, de sensualidade melódica, de
imprevistas e traiçoeiras modulações deixando-se impregnar da fecunda seiva que haveria de
nutrir-lhe a obra.
Ao lado dessa boemia seresteira, outro fator se impõe considerar na formação do autor, para
melhor compreensão de sua obra: o amplo conhecimento do folclore musical brasileiro
(conhecimento sem pretensões científicas de folclorista), que absorveu em longas, atribuladas
e romanescas viagens a diversas regiões do país, desde o sul às selvas amazônicas, até além
das fronteiras, até Barbados, numa louca aventura bem própria da mocidade do compositor. E
nessas acidentadas incursões assimilou as mais diversificadas manifestações musicais do
povo, desde as toadas e cateretês de Minas Gerais aos pontos de macumba da Bahia; da
música urbana do Rio de Janeiro aos maracatus do Recife; do modalismo dos cantos
nordestinos ao tom declamado e oratório dos çairés amazônicos.
Por outro lado, graças à providencial Tia Zizinha, que lhe tocava os prelúdios e fugas do
‘Cravo bem temperado’, muito cedo se tornou íntimo da música de Bach. A vivência do
populário brasileiro e a intimidade com a voz milagrosa do Cantor de Leipzig eram dois elos
isolados de uma corrente. Fácil lhe foi verificar a existência de identidade de inflexões
melódicas, de relações harmônicas e de combinações polifônicas entre ambos. Levado pela
fantasia do artista, Villa-Lobos explicou aquela afinidade à sua maneira:
Pode-se aceitar ou não a hipótese imaginosa segundo a qual a música do grande mestre
barroco passaria, mediante um processo telúrico, a transformar-se em sedimento folclórico
universal. Isto é acessório. O que importa é que realmente o parentesco existe e dele nasceram
as ‘Bachianas Brasileiras’.”
(...)
(...)
“Por que Choros? É preciso recorrer ao compositor para bem situar e conceituar suas obras
assim denominadas. Um esclarecimento publicado na edição do ‘Choros No. 3’, diz que os
Choros representam uma nova forma de composição musical, na qual são sintetizadas as
diferentes modalidades da música brasileira indígena e popular, tendo por elementos
principais o ritmo e qualquer melodia típica de caráter popular que aparece vez por outra,
acidentalmente, sempre transformada segundo a personalidade do autor. Os processos
harmônicos são, igualmente, uma estilização completa do original. (...) Em explicação
posterior, os choros são construídos segundo uma forma técnica especial, baseada nas
manifestações sonoras dos hábitos e costumes dos nativos brasileiros, assim como nas
impressões psicológicas que trazem certos tipos populares extremamente marcantes e
originais. Temos, portanto, que além do propósito de sintetizar diferentes modalidades da
“HEITOR VILLA-LOBOS – Obra Completa para Violão Solo” – Sérgio e Odair Assad
(Kuarup Discos)
GRAVADORA E LOJAS
LIVRARIA DA TRAVESSA: (21) 3231-8015 / Centro: Travessa do Ouvidor, 11. Tel.: (21)
3205-9002 / Ipanema: Visconde de Pirajá, 462 www.livrariadatravessa.com.br
BIBLIOGRAFIA
MARIZ, Vasco. Heitor Villa-Lobos; compositor brasileiro. 5 ed. Rio de Janeiro: Museu
Villa-Lobos, 1977.
Ministro da Educação
Fernando Haddad
Coordenador-geral da TV Escola
Érico da Silveira
Supervisora Pedagógica
Rosa Helena Mendonça
Acompanhamento Pedagógico
Grazielle Avelar Bragança
Copidesque e Revisão
Magda Frediani Martins
Diagramação e Editoração
Equipe do Núcleo de Produção Gráfica de Mídia Impressa – TV Brasil
Gerência de Criação e Produção de Arte
E-mail: salto@mec.gov.br
Home page: www.tvbrasil.org.br/salto
Rua da Relação, 18, 4o andar - Centro.
CEP: 20231-110 – Rio de Janeiro (RJ)
Abril de 2008