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A Alquimia na

Obra de Isaac Newton


Eliana Moraes Marcondes

Luiza Fabiani dos Santos Medeiros

Raíssa Fernandes Tavares

Colégio Padre Moye

Segundo os historiadores da Ciência Bernard Cohen e Richard


Westfall,<! 01 em uma viagem feita a Londres, em 1669, Newton comprou
uma grande coleção de textos de Alquimia<!02 em seis volumes, mais
algumas substâncias químicas, instrumentos de vidro e dois fornos. Por
ocasião dessas aquisições, Newton iniciou uma longa carreira na Alquimia.

Newton tinha acesso a várias fontes de manuscritos alquímicos, tendo como seus
favoritos os de autoria do norte-americano George Starkey03

Westfall e Cohen comentam:

“Se a química não esteve entre as primeiras leituras de


filosofia natural de Newton, ele não tardou a descobri-la e a
começar a investigá-la. Não muito depois, foi além da química
comum (se é que essa distinção é válida quando se trata do
século XVII) e passou para a Alquimia” 04

Os estudos de Newton propiciaram a criação de um imenso número de textos,


redigidos em sua letra característica, dedicados à Alquimia. Datam de
aproximadamente de 1669 até meados da década de 1690.

Segundo Newton no  capítulo 5 de Práxis:

“Nessa água, digira-se o régulo de ♂ [ferro] 1, o     [mercúrio] 1 anterior,


durante uma semana [,] até o     decompor-se em     [.] (Ou, se o régulo
de ♂ não se amalgamar e se decompuser sem a adição de outros
metais, misturá-lo com ♀,     [estanho] e     [bismuto] em partes iguais,
ou melhor, com Luna<!05, e digerir por uma semana.) Destile-se e
retifique-se o    , dissolva com o resto de Æ [aqua fortis]<! 06 e tereis
vosso ouro num pó negro. O mesmo pode ser obtido digerindo o ☿ de 7,
8, 9 ou 10 águias [,] mas essa via é tortuosa. Lavar e secar o pó negro.
Amalgamá-lo com seu    , retificado na proporção devida. Lavá-los bem
e secá-los e [,] numa digestão de 7 meses[,] terei vossa tintura de     
[enxofre].” 07

Algumas pessoas que estudaram os textos de Newton estão convencidas de que


ele não estava empenhado na tentativa de produzir ouro. O estudioso pesquisava o
assunto por ver uma forma de filosofia natural, que afirmava a existência de agentes
imateriais na natureza e a superioridade do espírito sobre a matéria do universo.
Três textos extraídos de seus principais manuscritos alquímicos foram Das Leis e
Processos Óbvios da Natureza na Vegetação, Praxis e De Natura Acidorum e
mostram a opinião, as pesquisas e os experimentos de Newton em relação à Alquimia.

O primeiro é um conjunto de reflexões redigidas não muito depois do


mergulho inicial de Newton na literatura alquímica, que diz que todas as
operações da natureza se dão entre coisas de disposições diferentes, e que
todas as coisas são corruptíveis e geráveis.

O segundo texto, Praxis, seu tratado mais importante de Alquimia, sugere uma
filosofia que via na natureza algo diferente do que admitiam as filosofias mecanicistas
ortodoxas. Não tem data, mas vários indícios dispersos parecem situá-lo no verão de
1693, perto do fim do envolvimento Newtoniano na Alquimia.

Já o terceiro texto, De Natura Acidorum, não se dedica totalmente à Alquimia, e


sim à concepção da matéria.

Para John Maynard Keynes08:

“Newton foi um profundo neurótico de tipo não comum – diria eu, com base
nos registros – um exemplo dos mais extremados. Seus instintos mais
profundos eram ocultistas, esotéricos, semânticos e com um profundo
retraimento do mundo, um medo paralisante de expor suas idéias, crenças
e descobertas ao exame e à crítica do mundo, em sua plena nudez. (...) Por
que o chamo de mago? Por que ele via o Universo inteiro e tudo que há nele
como um enigma, um segredo que se poderia ler pela aplicação do
pensamento puro a certos indícios (...)”.09

Betty Jo Teeter Dobbs10 diz que:

 “[Newton] Passou então a buscar a origem de todos os processos


aparentemente espontâneos, como fermentação, putrefação e geração”. 11

 Ela ainda completa que, para Newton:

“Deus era a causa última, e o que ele desejava localizar no mundo natural
era a causa mais imediata dos fenômenos da vida que servia como agente
divino nessas questões”. 12

Por fim, podemos concluir que segundo Newton, a alquimia pode pôr a natureza
para trabalhar e promover seu trabalho na produção de qualquer coisa, e ainda
resume o trabalho de sua vida em: “E é o quanto basta dizer no que concerne a Deus,
o discorrer sobre quem, a julgar pela aparência das coisas, certamente compete à
filosofia natural”.13

Referência Bibliográfica: COHEN, I.B. & R. S. WESTFALL: Newton: Textos,


Antecedentes, Comentários. Tradução de Vera Ribeiro, 1ª Edição, Rio de Janeiro,
Contraponto, 2002.
Notas

01.
B. Cohen e R. Westfall são historiadores e escritores newtonianos, autores do livro Newton: Textos,
Antecedentes, Comentários.

02.
Alquimia: apesar de ser exclusivamente associada, na mentalidade do século XX, à tentativa de transformar
metais sem valor em ouro, Alquimia também incorporava uma concepção da natureza e de seus fenômenos que
diferia radicalmente, na maioria dos aspectos, da filosofia mecanicista que veio a prevalecer no fim do século XVII.
Os Alquimistas viam a natureza em termos orgânicos e falavam em geração, morte e putrefação, que figuravam
com destaque em suas descrições dos fenômenos mecânicos; os metais, diziam, também sofriam essas
transformações básicas. Os Alquimistas acreditavam que todas as coisas, inclusive os metais, eram geradas a
partir dos princípios masculino e feminino. Muitas vezes, esses dois princípios eram identificados como o enxofre
e o mercúrio, embora os alquimistas não se referissem com isso ao enxofre e ao mercúrio comuns. Considerava-
se que os metais literalmente cresciam na terra e no laboratório, onde esse processo podia ser acelerado pelo
alquimista. Uma única matéria comum era tida como a que formava todas as substâncias da natureza; o ouro era
a mais perfeita forma que ela poderia alcançar – era o resultado do processo natural que gera os metais ao atingir
a maturidade. Os alquimistas tentavam facilitar esse processo. Supunha-se que um agente ativo, fonte da
transformação das substâncias, se ocultasse em todas as coisas. A literatura alquímica era repleta de referências
a esse agente, sob uma imensa proliferação de metáforas, tais como Prometeu, o Leão Verde e o Mercúrio das
Sete Águias, que sugeriam atividade e poder. Esse agente era também o que os alquimistas chamavam de pedra
filosofal. Acredita-se que o agente ativo era bloqueado pela matéria básica em que estava imerso, de modo que
muitos dos processos alquímicos diziam respeito a purgar e purificar, a fim de libertar esse agente ativo, que
então ficaria livre para agir.

03.
G. Starkey foi um dos primeiros Norte-Americanos a desempenhar um papel significativo na ciência.

04.
B. Cohen & R. Westfall, “Alquimia e Teoria da Matéria” in B. Cohen & R. Westfall, Newton: Textos,
Antecedentes, Comentários, pág. 363.

05.
Literalmente, Lua; na alquimia, prata.

06.
Aqua fortis: provavelmente, o que a química atual chama de ácido nítrico.

07.
I. Newton: Praxis in B. Cohen & R. Westfall:  Newton: Textos, Antecedentes, Comentários, pág. 377.

08.
J. M. Keynes foi um economista que fez grandes compras em um leilão de manuscritos de Newton - realizado
em 1936 – e adquiriu um número considerável de textos de Alquimia, e deles retirou os ensaios sobre seu livro
Newton, o Homem.

09.
J. M. Keynes: Newton, o Homem in B. Cohen & R. Westfall: Newton: Textos, Antecedentes, Comentários,
págs. 382 e 383.

10.
B. J. T. Dobbs fez do estudo dos manuscritos Alquímicos de Newton o centro de sua atividade acadêmica.
Escreveu o livro A Alquimia de Newton e sua Teoria da Matéria.

11.
B. J. T. Dobbs: A Alquimia de Newton e sua Teoria da Matéria in B. Cohen & R. Westfall: Newton: Textos,
Antecedentes, Comentários, pág. 387.

12.
Ibid, pág. 388.

    13. B. Cohen e R. Westfall: Newton: Textos, Antecedentes, Comentários, pág. 393.

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