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A Filosofia Simbólica dos Números

      Como iniciador da Escola de Crotona, uma das tantas Escolas de


Mistérios Iniciáticos da Antiguidade, Pitágoras dedicou-se também à
filosofia dos números. Ensinava a seus alunos que os números
revelavam a criação do universo manifestado e a trajetória evolutiva do
homem, desde sua origem até um futuro retorno a ela. É sobre o seu
pensamento não como matemático, mas como filósofo iniciador que
elaboro este trabalho.

Uróburo

 
 
      Os números de zero a dez, sozinhos ou diversificados pelo jogo de
adições, subtrações, multiplicações ou divisões nos mostrariam as leis
da Criação. Desde a Criação todas as coisas e todos os seres fariam
enumeráveis evoluções, mudanças de consciências e depois de tudo se
aproximariam novamente de sua origem, num retorno então já
plenamente consciente e merecido. Os números poriam então diante de
nós este quadro de vidas sempre renovadas que, porém, defeririam uma
das outras pela multiplicidade de realizações individuais. Tais realizações
estariam expressas em todas as possíveis combinações dos números.

      Todos os seres segundo ele teriam, porém isto em comum: Só


voltariam à sua origem, a que ele chama de seio divino, para usufruírem
o estado de felicidade, de bem aventurança (chamada depois pelos
budistas de Nirvana), quando após longa trajetória de agregar suas
formas e renovar suas consciências, adquirissem a plenitude da
sabedoria.

   Abordo aqui um pouco deste quadro numérico:


O Zero - Representado numericamente por um círculo nos revelaria a
vontade de uma de uma força inicial (a que chamamos Deus) de limitar-
se a si mesmo. Para tanto, teria, numa ilustração muito simplista, criado
em seu espaço ilimitado, um espaço limitado representado no círculo
para que, dentro dele, manifestasse universos nos quais aconteceria a
manifestação de tudo o que existe, incluindo as nossas entidades
individuais que eram chamadas por Pitágoras “Mônadas”.

   O Zero é também representado simbolicamente por uma serpente que


morde a própria cauda chamada de Uróburo. Uma alusão à unidades
que buscariam a volta a sua origem, voltar em formas cada vez mais
apuradas a uma totalidade de consciência.

   O Um - Tem como símbolo um ponto dentro de um círculo limitador. Tal


ponto, como um fogo incandescente dentro do círculo limitador teria
explodido como uma flor, criando as unidades individuais, tudo, todos os
seres, todas as coisas microcósmicas e que conhecemos e que ainda
não conhecemos. Tais unidades, embora sempre renovadas em formas
e consciências, trariam em si uma essência imutável, imortal, vinda da
fonte original que as criou.

Tao, composto da força do Yng e do Yang.

O Dois - Representaria uma energia magnética, um princípio que uniria


força e forma (nos mitos gregos de criação seriam Urano e Geia)
nomeada pelos antigos pitagóricos de “alma mundi”, origem da atração e
repulsão que manteriam os mundos sustentados. Seria também um
impulso que une os opostos. Em âmbito humano foi visto como o amor
que tenta a harmonização entre as mônadas individuais por diversas que
sejam.
   No símbolo chinês do ying e yang, vemos o número dois representado
numa dualidade de feminino e masculino. Se notarmos o Ying (Lado
negro, feminino) vemos dentro dele um ponto branco. Se notarmos o
Yang (lado branco, masculino) veremos nele um ponto negro. Um dentro
do outro, numa dependência mútua para se sentirem plenos. O número
dois representa para o chinês, enfim, toda e qualquer das polaridades
em que vivemos: Calor/frio, tristeza/ alegria etc.

   O Três - É um dos símbolos da Escola Pitagórica por excelência. Seu
símbolo é o triângulo. Chamado às vezes de “Tríada Pitagórica”
Resultado da união de 1+2 soma a nossa unidade individual monádica,
mais a polaridade humana. È a constituição ternária representada em
mitos tais como: Osíris, Isis e Hórus (Egito) An, Anli e Anki
(Mesopotâmia), Zeus, Podeidon e Hades(Grécia), Brama, Vishnu e Shiva
(Ìndia) Corresponderiam a uma trindade de matéria, alma e espírito e no
caso da trindade Brama Vishnu e Shiva seria a Criação, a manutenção e
a destruição, acontecendo em ciclos contínuos.

   O Quatro - É o quaternário representado por uma pirâmide triangular


de 3 faces triangulares laterais e uma base também triangular que
perfazem 4 triângulos. “Chamado pelos pitagóricos de” Tétrada
Sagrada”, recebia deles este juramento: “Juro por aquele que grava em
nossos corações a Tétrada Sagrada, imenso e puro símbolo, origem da
natureza e modelo dos deuses”.

   Na natureza a Tétrada é representada na flor de lótus que nasce na


terra, passa seu caule pela água, passa outro pedaço pelo ar e
desabrocha sua flor ao calor do sol. Representaria então os quatro
elementos da natureza; terra, água, ar, e fogo.

   O Cinco -  Tem simbolismo no pentagrama (estrela de cinco pontas). A


academia de Pitágoras o usava como símbolo do homem perfeito.
Porém, a Arqueologia descobriu    pentagramas em cerâmicas na
Mesopotâmia e na Anatólia datados de 3.500 AC. como símbolos rituais.

      O homem perfeito - segundo Pitágoras - tem a cabeça voltada  à


transcendência do céu acima de si, os pés objetivamente plantados no
habitat terrestre e os braços abertos abraçando os seres da
humanidade. Perfaz, enfim, o desenho de uma estrela representativa da
trajetória do homem até atingir a perfeição. Traçavam-na com uma linha
apenas que partia do ponto 1 acima (parte espiritual), descia ao ponto 2
(forma embrionária), trazia à linha ao ponto 3 (nascimento
do  emocional), trazia ao ponto 4 (nascimento do mental), descia ao
ponto 5 (plano da purificação, chamado de descida ao inferno), subia ao
1 novamente (retorno à origem, ao plano espiritual). Tal desenho
representava a trajetória evolutiva do homem.
Pentrama, símbolo do homem perfeito.

   Alquimistas medievais estudaram o cinco simbolizando-o num desenho


representativo de um quinto elemento natural ao qual chamavam
Quintessência  da matéria. Representaria um quinto elemento agindo por
traz da manifestação física e no qual se acumulariam todas as desditas e
enfermidades corporais, a razão do corpo degenerar-se. Purificar e
dominar a energias desta quintessência seria a própria razão da busca
alquímica pela chamada “Pedra Filosofal”. Buscá-la foi o sonho inglório
dos alquimistas.

    O Seis -    A representação simbólica deste número é uma estrela de


seis  pontas, o Selo de Salomão, símbolo judaico representativo dos três
atributos que o homem recebeu em sua essência: Vontade, Sabedoria e
Amor simbolizados no triângulo de vértice para cima e que terá que ser
manifestado perfeitamente equilibrado a bem de evoluir no mundo físico,
representado no triângulo de vértice para baixo.

   O Sete -  São inúmeras as estruturas sétuplas a serem estudadas. O


artista se ligará as sete cores básicas, o musico à escala setenária dos
sons, o hinduísta    as energias dos sete chacras etc. Porém, a reflexão
sobre o símbolo judaico do Menorá (castiçal de 7 velas) nos faz concluir
que ele representa, na realidade, uma pausa pós-criação, um repouso.
Diz a Bíblia judaica; “No sétimo dia Deus descansou”. O sétimo dia seria
então aquele em que a própria Criação para, faz um entreato de
repouso. È comemorado no sabá    judaico. Tal entreato criativo se
encontrará também no estudo hinduísta da chamada “Noite de Brama “
sendo chamado então de Ponto Laia ou do repouso.
A rida do Dharma e as oito sendas.

O Oito -  Os budistas o representam  na “Roda do Dharma”. Ela mostra


as 8 sendas para se chegar ao Nirvana. Chamada também de caminho
Óctuplo: Reta crença, reto pensamento, reta fala, reta ação, reta
sobrevivência, reto esforço, reta atenção, reta concentração. O oito é
também o símbolo da ressurreição da consciência “segundo
nascimento”. As antigas pias batismais eram em forma óctupla.
Momento em que era oportunizado um novo nascimento para à vida,
uma ressurreição .

O Nove -   O que de melhor simboliza o nove é a Cabala judaica em sua


Arvore da Vida. Um dia –nos diz a Cabala- o homem poderá afirmar; “Eu
sou o poder de três vezes o três” . Teremos então já percorrido    3
triângulos, o equilíbrio físico, o ético e o espiritual.

O Dez -      É  novamente Pitágoras que sacraliza um número. Ele é


simbolizado no Tetraktys, ou Década Sagrada, tão importante para os
pitagóricos como a cruz para os cristãos. A soma de 1+2+3+4 simboliza
a origem alcançada. Símbolo da totalidade da manifestação, o retorno.
Representado numa parábola cristã, seria a do “Filho Prodigo” que volta
a seu lar paterno após uma jornada por busca de plenitude que por fim
consegue.
Tetraktys, a década sagrada.

      A um iniciado da ordem pitagórica de Crotona era exigido buscar o


conhecimento do Tetraktys, antes de começar os três anos como noviço.
Sua oração perante este símbolo assim dizia ;” Abençoai-nos ó número
divino que gerastes os deuses e os homens!  Ó santo número que
encerrais a raiz e a fonte do eterno fluxo criador!”.

      Esta divagação filosófica sobre números, inicia-se no zero, símbolo


circular, no momento em que Deus (ou seja que nome alguém queira dar
ao impulso criador) limita-se para criar e termina no círculo do zero, que
remata o número dez. Por traz do Zero, aquém do início da Criação,
esbarra-se no sublime mistério, no incognoscível, no Imanifesto.
 

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