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PSICOLOGICA E ARTES APLICADAS: CUIDANDO DO DEPENDENDTE

QUÍMICO INTERDISCIPLINARMENTE1

Darla Marques Batista2


Gabriel Thor de Arvelos3
Lidiane Campos Villanacci4
Natália Valéria da Silva Duarte5
Kleber José da Silva6
Zandra Coelho de Miranda7

Resumo:

O presente trabalho expõe a experiência do programa “Ateliê de Cerâmica da


APADEQ: arteterapia e geração de renda”, inserido na clínica de recuperação de
dependência química Associação de Parentes e Amigos dos Dependentes Químicos
(APADEQ) e a Universidade Federal de São João del Rei – Minas Gerais. A APADEQ é
uma sociedade civil, sem fins lucrativos, sem conotação religiosa ou política, de caráter
assistencial, educativo e cientifico, fundada em fevereiro de 1988, em São João del Rei.
Utiliza para o tratamento o Modelo Minnesota no qual o dependente químico (álcool e/ou
outras drogas) é mantido em residência educacional para sua recuperação e
conscientização da doença e a teoria cognitivo-comportamental. A iniciativa deste projeto

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Trabalho apresentado na XVI Semana de Extensão Universitária – SEMEX, do XVI Congresso de Produção Científica
e Acadêmica da Universidade Federal de São João del-Rei.
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Graduando do Curso XXXXX e bolsista do Projeto/Programa de Extensão XXXXX financiado por PIBEX/UFSJ ou
PROEXT MEC/SESu..
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Graduando do Curso XXXXX e bolsista do Projeto/Programa de Extensão XXXXX financiado por PIBEX/UFSJ ou
PROEXT MEC/SESu
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Graduando do Curso XXXXX e bolsista do Projeto/Programa de Extensão XXXXX financiado por PIBEX/UFSJ ou
PROEXT MEC/SESu
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Graduando do Curso XXXXX e bolsista do Projeto/Programa de Extensão XXXXX financiado por PIBEX/UFSJ ou
PROEXT MEC/SESu
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Coordenador do Projeto/Programa de Extensão XXXXX, do Curso XXXXX, do Departamento XXXXX.
7
Coordenador do Projeto/Programa de Extensão XXXXX, do Curso XXXXX, do Departamento XXXXX.
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se fundamenta na complexidade do problema, é uma doença que envolve diversos
fatores em várias dimensões da vida do indivíduo, por isso deve-se entender a
dependência química como sendo uma doença biopsicossocial. Em nosso trabalho
unimos duas disciplinas, a Psicologia e as Artes Aplicadas em Cerâmica, em um esforço
interdisciplinar e transdisciplinar para colaborar com a equipe terapêutica da instituição,
culminando na Arteterapia com dependentes químicos em recuperação na APADEQ.
Com isso, nossa experiência e nossa pesquisa se integram em um novo nível de
conhecimento, com o propósito de auxiliar o residente em seu processo de reformulação
de vida.

Palavras-chave: Arteterapia, Interdisciplinaridade, Dependência Química.

INTRODUÇÃO
O programa de extensão “Ateliê de cerâmica da Apadeq – Arteterapia e Geração
de Renda” surgiu com a parceria que envolve a Associação de Parentes e Amigos dos
Dependentes Químicos (APADEQ) e a Universidade Federal de São João del Rei – Minas
Gerais. A APADEQ é uma sociedade civil, sem fins lucrativos, sem conotação religiosa
ou política, de caráter assistencial, educativo e cientifico, fundada em fevereiro de 1988,
em São João del Rei. Utiliza para o tratamento o Modelo Minnesota no qual o dependente
químico (álcool e/ou outras drogas) é mantido em residência educacional para sua
recuperação e conscientização da doença e a teoria cognitivo-comportamental. O
residente é incentivado a rever seus valores e relacionamentos, por meio de palestras,
aconselhamento individual e dinâmicas em grupo. O Ateliê de Cerâmica desde 2010
acrescenta mais um espaço de terapia e de tratamento caracterizado pela
interdisciplinaridade e transdisciplinaridade, realizado sob a base teórica da Psicologia
com a das Artes Aplicadas, utilizando cerâmica e sua matéria-prima argila.

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O projeto “Esperança na Vila”, implantado no final de 2015, trouxe outro conjunto
de atividades, conectadas aos objetivos do pós-internação, que complementam as
atividades existentes na instituição e contribuem mais efetivamente para a reinserção
social dos dependentes que ainda se encontram em tratamento, e já não residem na
instituição, mas que obrigatoriamente, frequentam as sessões periódicas do pós-
internação. Trabalhamos com os ex-residentes no período de pós-tratamento (do 6° ao
12° passo do programa), e com os residentes que estão no 4° ou 5° passo, e já se
preparam para retornar ao meio social. A instituição preparou um novo ambiente de
trabalho para as atividades do pós tratamento, investindo em equipamentos para fazer
canecas impressas pelo método de sublimação. Temos um cronograma de cursos que
contam com 12 aulas e duração de 3 meses, abordando as disciplinas: desenho de
observação, técnica de sublimação de xícaras, design e manuseio básico no computador
de programas como o fotoshop, e história da arte. Todas as aulas ministradas no projeto
têm como finalidade despertar um olhar diferente para arte, trazer conhecimento aos
residentes e prepará-los para a atividade de criação e gestão de pequenos
empreendimentos em artes e artesanato.

METODOLOGIA :
Para realizar um trabalho mais amplo e profundo sobre um tema em particular, os
conhecimentos multidisciplinares, interdisciplinares e transdisciplinares são uma
alternativa notável. Na arterapia, a Psicologia e as Artes conversam e agregam seus
métodos para fazer surgir uma nova disciplina, englobando conhecimento interdiciplinar
para maior poder nas novas intervenções psicológicas. No trabalho aplicada no projeto
“Ateliê de Cerâmica da APADEQ: arteterapia e geração de renda”, existe um diálogo entre
áreas e profissionais que muitas vezes chega a transdiciplinaridade.

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O dependente químico, através da arterapia, tem a oportunidade de passar por
um tratamento com a característica de ser não-verbal, usando do trabalho com cerâmica
para prover ao indivíduo e suas particularidades uma ajuda a reconfigurar os sentidos
para sua vida e sua recuperação. Através da arte, podemos objetivar nossa subjetividade
de forma rica e poderosa, possibilitando ao psicólogo uma visão dos conteúdos
emocionais e até inconscientes através da produção de imagens e símbolos, podendo ser
reelaborados através da própria atividade artística. Por meio deste trabalho, é possível
atingir questões íntimas que ainda não são expressadas através da linguagem falada,
desde traumas e conflitos emocionais até aspectos referentes a identidade pessoal e
coletiva. O processo artístico com a argila torna possível ao interno da APADEQ uma
aproximação à suas questões interiores por um meio criativo, não somente nomeando os
conteúdos subjetivos, mas permitindo sua reconfiguração em novos sentidos.
Sigmund Freud, o criador da psicanalise, foi o primeiro a identificar manifestações
inconscientes em obras de arte. Segundo o austríaco, a atividade artística é uma forma de
comunicação com efeito catártico, existindo assim a possibilidade, através dela, de
trabalhar e até eliminar afetos patogênicos e reelabora-los, revivendo sob outra ótica os
acontecimentos traumáticos a eles ligados. Para Freud, a arte é uma das formas de
sublimação das pulsões, isto é, através do exercício artístico, é possível satisfazer as
pulsões desviando a energia libidinal e para atividades culturais (Carvalho e Andrade,
1995)
Carl Gustav Jung, eminente criador da Psicologia Analítica e artista nas horas
vagas, foi o primeiro a unir o processo artístico à psicoterapia. Para ele, a arte teria uma
função psíquica natural e estruturante, que poderia curar na medida que transformasse
conteúdos inconscientes em imagens simbólicas. Foi a partir das ideias de Jung que o
uso da arte como terapia foi sendo aderida por terapeutas e psicólogos. Na segunda
metade do século passado surge movimentos de arterapia no Brasil, principalmente

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através de Nise da Silveira (aluna de Jung), que fez uso da arte, assim como da teoria
psicanalítica e junguiana em conjunto com a psiquiatria para trabalhar de uma nova forma
a loucura, indo contra a métodos arcaicos agressivos típicos da época (Carvalho e
Andrade, 1995).
O ponto principal da arterapia é proporcionar uma maneira criativa de expressar
a subjetividade, possibilitando novos modos de subjetivação e objetivação. Isto não
apenas como uma atividade recreacional, mas como uma aliada para a cura do paciente.
Por meio da arteterapia o sujeito “pode dar-se conta do que de fato sente e, durante esse
processo, pode verdadeiramente fazer algo que assim o represente e a ele faça sentido”
(Andrade, 2000, p.33). A arte se mostra uma importante ferramenta no processo de
autoconhecimento e de ressignificação do sujeito acerca de si próprio e de sua relação
com o mundo, uma vertente de recuperação (Andrade, 2000).
O papel terapêutico da atividade artística é ligado à criatividade, indo além função
expressiva e ampliando-se como uma ação criadora, criação esta que torna possível a
geração de uma nova realidade, de um novo modo de enfrentar e buscar soluções para
os conflitos tão presentes na vida de um dependente químico. A arte, com suas diversas
formas de expressão, opera como um acelerador e motivador das capacidades de criação
e transformação próprias do ser humano. O fazer artístico e o seu resultado são como um
espelho que refletem os anseios, as emoções e as percepções de seus criadores.
O arteterapeuta deve propiciar ao indivíduo um meio de expressar não somente
aquilo que ele é, mas também suas possibilidades, o seu vir a ser, buscando uma visão
renovada sobre si mesmo e sobre sua realidade, onde o profissional contribui para que os
sujeitos se reconheçam como criadores e responsáveis pela sua obra de arte, assim
como da sua própria história de vida.

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A Dependência Química

O fenômeno da dependência química é, na atualidade, um fato amplamente


divulgado e estudado, uma vez que compulsão lesiva por substâncias psicoativas é um
grande problema social e de saúde pública. É importante sempre frisar que temas como
saúde, doença e drogas são recorrentes em todo o curso da história da humanidade,
guardadas as devidas proporções de cada período e suas maneiras particulares de
encarar e lidar com a questão (Bucher, 1992).
O consumo do que hoje é chamado de drogas sempre existiu ao longo dos
tempos, em todas as culturas e com uma pluralidade de substâncias e finalidades. O
homem sempre buscou maneiras de aumentar o seu prazer assim como de diminuir o seu
sofrimento, acabando muitas vezes no uso substâncias alteradoras da mente e humor. A
procura por narcóticos se dava também por aqueles buscadores de maior intensidade nas
experiências de cunho espiritual e religioso, através das plantas entomógenas (entheos =
Deus dentro), como, a Cannabis Sativa nas tribos indígenas Huni Kuinin (Macrae, 2001).
Hoje, a Cannabis, por exemplo, é criminalizada, repercutindo as singularidades
do mundo moderno de lidar com as drogas. Os hábitos e costumes de cada sociedade é
que direciona o uso das substâncias em cerimônias coletivas, rituais e festas, sendo que,
em civilizações ancestrais, esse consumo era restrito a pequenos grupos e em contextos
religiosos, apresentando grande diferença do momento atual, onde o uso acontece em
qualquer circunstância e por pessoas de diferentes grupos e realidades (Macrae, 2001).
O consumo de drogas cresceu de forma alarmante a partir da segunda metade
do século XX, mostrando-se como um fenômeno de massa e como uma questão de
saúde pública. Na atualidade, ao se trabalhar com dependência, não leva em
consideração elucubrações arcaicas como desvio de caráter do dependente ou como um
simplista conjunto de sintomas, para ganhar contornos de transtorno mental com

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características particulares (Bucher, 1992).
Assim, tratar a questão do consumo abusivo de substâncias psicoativas e a
possível dependência alguns casos, implica estudar não só as questões orgânicas e
psicológicas envolvidas, mas também os aspectos sociais, políticos, econômicos, legais e
culturais inerentes a esse fenômeno, além das consequências físicas, psíquicas e sociais
da mesma (Bucher, 2002)
Além da necessidade de buscar constantemente a droga, a dependência causa
mudanças consideráveis na interação do indivíduo com seus familiares, afetando suas
relações sociais e profissionais. A principal característica dessa doença pode ser
entendida como um conjunto de sintomas cognitivos, comportamentais e fisiológicos, que
evidencia que o indivíduo continua a fazer uso de uma determinada substância, mesmo
com os problemas pessoais e sociais relacionados (Bucher, 2002).
A compreensão desses aspectos é muito importante para se pensar na questão
do tratamento, principalmente na eficácia do mesmo, pois o conhecimento produzido
sobre a dependência química não pode estar desvinculado do contexto mais amplo no
qual são produzidas as representações que sustentam e organizam a vida social,
conferindo sentido às ações humanas (Bucher, 2002).

DESENVOLVIMENTO

Constitui a área do tratamento para dependência química uma gama de teorias e


métodos, o que denota a complexidade e pluralidade da questão. Os casos de eficácia e
fracasso de tratamentos holísticos, medicamentosos, religiosos, comportamentais,
espirituais, etc, mostram a diversidade de visões sobe a temática e como as preferências
pessoais do sujeito, sua individualidade, deve ser levada em conta.

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A Arteterapia possibilita um encontro do sujeito consigo próprio, explorando um
escopo mais integral para o encontro com sua singularidade, em uma situação onde é
costumeiro a pessoa estar perdida e confusa, fragmentada, distante da sua realidade
sociologica, de sua ''vida'', como consequência muitas vezes da falta de conhecimento
próprio, na constante interação do ser com o mundo.
O trabalho consiste, dessa forma, numa jornada em que dia a dia o recuperando
venha a tomar consciência de sua vida e de si próprio, entendendo que este cuidado deve
se estender para além dos portões da instituição. A partir do processo artístico com a
argila, é possível elaborar dinâmicas e trabalhos dirigidos, como por exemplo as com
base nos 12 passos do A.A./N.A. do método Minnesota, o mesmo trabalhado na
instituição.
Atividades livres, onde o sujeito tem a possibilidade de trabalhar em projetos
pessoais e ''fazer o que quiser'' devem ser vistas com suma importância, por motivos de
autoconhecimento já citados e por sua estreita relação ao bem-estar do residente, que
expressam o gosto pela atividade verbalmente e artisticamente. Estando bem consigo
mesmo, o resgate da autoconfiança ganha mais um aliado, ganhando mais força no
trabalho de recuperação.
A aceitação própria e de ajuda externa provoca desejos de mudança e de
libertação, conduzindo-o a deixar o vício. Segundo Bucher (2002), “quando o drogado se
decide por procurar uma ajuda terapêutica, pode-se presumir que a sua motivação
contenha um desejo de mudança e de libertação das drogas”, pois sabemos que não é
um processo fácil, como nos apresentam Papalia, Olds e Feldman (2010, p.397) “alguns
jovens têm dificuldade em lidar com tantas mudanças de uma vez e talvez precisem de
ajuda para vencer os perigos ao longo do caminho”.
A confiança deve ser dada aos recuperandos, estimulando-os a fazer trabalhos que
pensam não serem capazes, oferecer uma gama de atividades de modo que ele consiga

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se melhorar suas capacidades mentais e artísticas, espalhando metáforas não
verbalizadas sobre à vida, aprendizagem, trabalho, socialização, otimismo e esperança.
Trabalhar a arteterapia com dependentes químicos permite a troca com o outro,
possibilita o compartilhamento de dificuldades e anseios relacionados à própria
dependência, permite que se valorize o potencial existente em cada ser humano,
objetivando melhorar sua saúde e qualidade de vida.
Não se busca o valor estético nas oficinas. É sempre salientado que como
resultado não esperamos uma finalidade estética, e sim que a obra de arte se torne um
instrumento à expressão e à reflexão dos residentes da APADEQ. As sessões do Ateliê
de arteterapia da APADEQ facilitam a expressão da subjetividade dos participantes e
auxiliam na elaboração de conteúdo internos e alívio de tensões, permite que os
residentes expressem seus sentimentos, adquiram conhecimento sobre os mesmos e, em
seguida, possam melhorar a ativação e a estruturação do processo de seu
desenvolvimento interno.
Os arteterapeutas podem proporcionar aos recuperandos a partir da argila e das
atividades livres e dirigidas no ateliê de cerâmica da APADEQ, momentos de liberação de
tensão e alivio na ansiedade dentro de uma rotina de reclusão. Além da percepção de
tridimensionalidade através das esculturas, desenvolvimento da coordenação motora,
percepção tátil e em vários momentos a ativação de elementos arquetípicos
principalmente nas atividades dirigidas de primeiro passo, o fundo de poço. (Philippini
2009, pág 75)
A psicologia analítica de Jung em muito coincide com a alquimia, sendo esta
muitas vezes conhecida como a arte da transmutação da matéria densa em ouro. Na obra
de Jung, que chegou perto de todo significado simbólico e hermético da alquimia, lê-se
ouro como imortalidade, fazendo referência ao desejo de transformar metais menos nobre
em ouro dos antigos alquimistas, sendo essa uma metáfora do que era praticado; a arte
transmutar os aspectos grosseiros do nosso corpo físico e psíquico em
elementos superiores da Alma e do Espírito. Jung nos alerta para a única

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transmutação que nos é possível: a da individualidade humana. Há uma transformação do
ser que acontece no processo analítico, assim como no processo artístico, uma
transmutação psíquica (Philippini 2009,pág. 09).

Figura 01:Representações do poder superior, como cada interno o concebe. APADEQ, 2017.

Atividade direcionada de acordo com o 1° passo " Admitimos que éramos


Impotentes perante o álcool- que tínhamos perdido o domínio sobre nossas vidas".

Ressaltamos a impotência perante as drogas e mostram que a doença é gradativa


e que os transformam em pessoas as vezes irracionais como alguns “animais”, mas que
podem ter um novo início enaltecendo a importância de não se esquecerem dos motivos
que os levaram a pedir ajuda. Promovendo uma reflexão sobre as perdas e as angustias
causadas em suas vidas em decorrência ao uso de suas drogas de preferência. E como
novos “ animais” eles terão uma nova vida.

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O objetivo dessa atividade é promover o
trabalho de reflexão, onde eles podem ter um
recomeço promovendo uma reformulação de vida.
Ressaltamos as expectativas de vários residentes
tentando se imaginar como um novo animal com
cautela sabedoria e paciência almejando uma vida
nova e mais tranquila.
Atividade direcionada ao 2º passo “Viemos a
acreditar que um poder superior a nós mesmos
poderia devolver-nos à sanidade".
Para melhor vivenciar o segundo passo a
oração “Viemos a acreditar” deve ser

Figura 02: Animais modelados na compreendida com muita consistência. São


atividade. APADEQ, 2017 palavras que tem um poder muito forte, antes de
remeter a uma relação mística ou religiosa ela os
faz lembrar da humildade que nesse caso seria a
consciência de suas limitações consciência de
sua doença e, em função disso, admitir que é
necessário acreditar em algo mais forte para
conseguir vencer ao final.
Com base no 2º passo, foi sugerido aos
residentes criassem amuletos que
representassem o seu poder superior e esses
amuletos depois de prontos vão ornamentar o
centro ecumênico da casa servindo assim para
auxiliar em suas preces e a de seus
companheiros.
Figura 03: Modelagem do amuleto
representando o poder superior.
APADEQ, 2017. 11
Atividades com mascaras mortuárias composta por duas etapas. Esta atividade foi
direcionada de acordo com o 1°passo.
Essa é uma atividade muito forte pois mexe com muitos sentimentos, que algumas
pessoas acabam escondendo a atividade inicia com um longa meditação fazendo com
que ele reflitam todos seus defeitos de caráter tudo o que os levou até seu fundo de poço
enquanto eles estão deitados nós começamos a confecção dos moldes de gesso
mostramos que aqueles sentimentos deveriam ficar presos nessa mascaras que
estávamos confeccionando e que ao tirá-la eles teriam um novo renascer que aqueles
sentimentos ruins que faziam parte de suas personalidade morreriam naquele momento
2º parte
Na segunda etapa nós trabalhamos com grupos menores e sugerimos que eles
usassem os moldes de gesso para fazer uma cópia dessa máscara com argila após terem
feito as copias nós começamos com uma reflexão perguntando se eles se enxergavam
naquela mascara após algum tempo de conversa nós vendamos os olhos dos
participantes e pedimos que eles sentissem a máscara que haviam feito e que
relembrassem os momentos vividos seus defeitos de caráter fazendo assim intervenções
na máscara. Depois de terminada essa parte nós tiramos as vendas e eles começaram a
reparar como haviam ficado e muitos se identificaram naquele momento.
Sugerimos que ao terminar o tratamento eles levem essa máscara para casa e a
coloque em um lugar onde ela sofra as interferências do tempo sol chuva vento e aos
poucos vai se desfazendo voltando a sua origem e que esse processo seja observado por
eles e o vivenciem da mesma forma deixando seus defeitos de caráter se desfazerem e
voltando a ser quem eram antes da dependência.
Atividade trabalhando o 3º passo que é” Decidimos entregar nossa vontade e
nossas vidas aos cuidados de Deus, da maneira como nós o compreendíamos”

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Propusemos a modelagem de um jarro
feito sem auxílio de moldes que não
prevalecesse a estética mais que colocassem
muita emoção em sua confecção, esse projeto
deveria ser todo finalizado passando por todas
as etapas de produção (modelagem, secagem,
queima e acabamento) sendo assim uma
atividade que demoraria mais semanas para
ser finalizada.
Em todo esse processo foi feito uma
analogia em torno da vida de cada um
comparando a produção desse jarro a nova
estruturação de vida que eles devem fazer e ao
final plantar algo nesse jarro que deve ser
Figura 04: Confecção dos jarros com
técnicas de torno e rolinho. APADEQ, cuidado diariamente como sua recuperação.
2017. Atividade trabalhando o 4º passo
“Fizemos um minucioso e destemido inventário
moral de nós mesmos “e o 5º passo “Admitimos perante Deus, perante nós mesmos e
perante outro ser humano a natureza exata das nossas falhas”
Após uma reflexão em grupo e discutirem sobre o tema que estava sendo
trabalhado pedimos em que cada residente confeccionasse uma mandala , e que nesse
círculo mágico fosse concentrada muita energia, que representassem nela esse inventario
que cada um fez de si mesmo lembrando suas 24 horas anteriores e o momento em que
se encontram atualmente.
Nas atividades propostas nós trabalhamos muito com símbolos sendo assim uma
forma mais criativa de materializar os sentimentos, os símbolos representam o que foi ou

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é importante na vida e recuperação de cada um, são atividades em que se trabalha muito
a emoção e normalmente traz paz a quem está executando (Philippini 2009, pág.16).

CONCLUSÃO
Após a introdução da modelagem em argila como forma de tratamento, o corpo
terapêutico da Apadeq mostra que os índices de desistência do tratamento caíram. As
experiências e relatos de residentes em nossos relatórios de avaliação revelam que esta
forma de atividade os estimula a deixarem aflorar imagens e formas que estão latentes
em seu inconsciente, o que facilita o processo de análise e reestruturação psicológica. Em
meio à intensa rotina de atividades do residente, a arteterapia possibilita um controle da
ansiedade, alivia a tensão do tratamento, e os ajuda no processo de autoconhecimento
melhorando assim sua auto-estima. O trabalho com o barro, em seus diferentes estágios
pode oferecer relações com o tratamento do uso de drogas, como por exemplo, trabalhar
a frustração do interno quando a peça se quebra, a exigência de seu comprometimento e
da continuidade em projetar, executar e finalizar a peça. Assim, a produção da cerâmica
transcende o fazer artístico quando trazemos as reflexões que surgem durante o
momento da arteterapia. Com o ato de criar, os residentes repassam para o barro
memórias afetivas, traumas e sentimentos reprimidos, abrindo um diálogo com seu
inconsciente e trazendo a tona através da modelagem símbolos que ajudam em sua
individuação e na sua recuperação. Isso só pode ser realizado através da
interdisciplinaridade das Artes Aplicadas e da Psicologia, essa junção possibilita o acesso
à conteúdos que devem ser trabalhados pelo dependente químico para que ele paralise o
uso das substâncias e interrompa essa doença progressiva que atinge a pessoa nos
níveis social, físico, psicológico e espiritual.

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REFERÊNCIAS

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