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Resenha 21

Clot, Y. O Higienismo contra o trabalho de qualidade? Horizontes Interdisciplinares da


Gestão, 1(1), 114-124, 2017

Lidiane Campos Villanacci2

O artigo usa como base um exemplo de caso de análise do trabalho pela ótica da
Ergonomia para trazer à luz suas reflexões sobre as complexas relações entre saúde e
trabalho. Saúde e trabalho são discutidas no trabalho de Yves Clot (2017) dentro da
perspectiva da chamada “gestão dos riscos psicossociais”. Segundo Clot, “a gestão dos
chamados “riscos psicossociais” tornou-se um verdadeiro business ao associar o estresse,
o sofrimento e a violência no trabalho, o assédio moral e, às vezes, até mesmo as
LER/DORT” (CLOT, 2017. p. 114).

Yves Clot recorre às análises do ergonomista francês J. Duraffourg para trabalhar o


assunto proposto. Duraffourg atesta que em, uma de suas experiências no campo do
trabalho, analisou a atividade de metalúrgicos de uma grande multinacional francesa. Nessa
metalúrgica, empregadores e trabalhadores estão em conflito quanto às condições de
segurança do ambiente de trabalho. Nesse caso, Yves Clot ressalta que os trabalhadores
encontram-se em situação de perigo e ao mesmo tempo tentam manter uma certa
qualidade do serviço.

Higienismo contemporâneo é definido por Clot como essa transformação paradoxal,


uma vez que os sujeitos que trabalham são cada vez mais conduzidos a arruinarem a
saúde para poder conservá-la. O autor ainda aponta que há uma cultura organizacional em
desfocar as situações de trabalho que possam ser inseguras para os comportamentos e
vulnerabilidades pessoais do trabalhador. Nas palavras do autor “nesse sentido, é o
estresse dos assalariados que precisa ser tratado, quando, na verdade, é o trabalho que
está doente e aqueles que o realizam se encontram impedidos de cuidar dele” (CLOT, 2017,
p.117).

Fazendo uma análise clínica de situações de trabalho, Clot aponta dois modos de
observar o problema. Primeiramente acontece uma abordagem geral do problema. A
segunda, seria uma exposição do conflito da qualidade do trabalho com os problemas no
próprio trabalho. Sendo assim, o artigo afirma que o psicossocial não pode ser visto com um

1
Trabalho solicitado pela profª drª Rosângela Maria de Almeida Camarano Leal, para a disciplina
“Psicologia e Saúde do Trabalhador”
2
Acadêmica do curso de Psicologia Integral da Universidade Federal de São João del-Rei
risco, mas uma atividade deliberada organizacional. O problema se concentra no risco
psicossocial estar subordinado a uma negação dos problemas do trabalho.

A seguir, Clot faz uma referência a um relatório proposto pelo governo Francês para
tentar suprimir a falta das observações sobre a identificação das causas dos riscos
psicossociais no trabalho. A tentativa de mensurar o estresse é o centro desse relatório,
como as correlações entre riscos, exposição, perigos e danos. A função do relatório seria
calcular o nível de exposição que possa permitir prognosticar os danos que podem decorrer
das ações de trabalho.

Os conflitos vivenciados nos locais de trabalho, quase que de modo geral, são
caracterizados por um paradoxo que se expressa diretamente em questões psicossociais:
ao investir em algum objetivo com sucesso, o objeto torna-se desinvestido, lugar que perde
seu sentido. Os desejos que ficam à margem da possibilidade de realização são
desacreditados pelos trabalhadores. O autor aponta nesse sentido a origem da resistência à
mudança. Yves Clot então conclui o artigo afirmando que

“O princípio disso é mesmo o de uma desagregação do “bem fazer” e do


“bem estar” que não só sofre um pouco de exceção, enquanto que a sua
relação é que é decisiva. É todo o problema do higienismo contemporâneo
que não é nada mais do que uma negação do conflito sobre a qualidade do
trabalho”(CLOT, 2017, p. 123).

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