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COBRAMSEG 2010: ENGENHARIA GEOTÉCNICA PARA O DESENVOLVIMENTO, INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE. © 2010 ABMS.

Análise Numérica de Barragens de Enrocamento com Face de


Concreto com objetivo de otimizar os critérios de projeto
Adriano Frutuoso da Silva
Universidade Federal de Roraima, Boa Vista, Brasil, adrianofrutuoso@bol.com.br

André Pacheco de Assis


Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, aassis@unb.br

Márcio Muniz de Farias


Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, muniz@unb.br

Manoel Porfirio Cordão Neto


Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, porfirio@unb.br

RESUMO: As BEFC têm sido construídas com frequência crescente em todo mundo. Apesar disso,
os critérios de projeto são ainda predominantemente empíricos, baseados na experiência prática
obtida de obras já construídas. A utilização da análise numérica ainda não é uma ferramenta usual
para o desenvolvimento e dimensionamento desse tipo de barragem. Contudo, o presente trabalho
propõe uma metodologia para análise do comportamento desse tipo de barragem e
dimensionamento estrutural da laje, baseada nos seguintes aspectos: análise numérica
tridimensional; comportamento conjunto do maciço e face de concreto; utilização de elemento de
interface para representar o contato entre essas estruturas; simulação da laje com elementos de
placas sobre base elástica. Nessas análises o enrocamento foi modelado com modelo elastoplástico
Cam-Clay modificado, a laje com o modelo elástico linear e a interface foi representada por um
modelo elástico-perfeitamente plástico com critério de ruptura de Drucker-Prager. Os resultados
permitiram observar a influência das condições de contorno impostas, como geometria do vale e
carregamentos, no comportamento da barragem e da laje, resultando em um dimensionamento da
laje mais otimizado em termo de taxa e posicionamento da armadura.

PALAVRAS-CHAVE: Análise Númerica, BEFC, Critério de Projeto, Modelo Cam-Clay.

1 INTRODUÇÃO em Laos. Registro do ano de 2006 relata mais


de 150 BEFC acima de 100 m de altura, entre
As Barragens de Enrocamento com Face de obras concluídas e em fase de projeto.
Concreto (BEFC) têm sido construídas com Apesar do sucesso desse tipo de barragem os
freqüência crescente em todo mundo, com critérios de projeto são ainda
altura cada vez maior. A mais alta é Shuibuya predominantemente empíricos, baseados na
com 233 m na China. Algumas barragens com experiência prática obtidas de obras já
quase 200 m de altura ou próxima já foram construídas. A utilização da análise numérica
construídas, tais como: Bakún CFRD (205m) ainda não é uma ferramenta usual para o
na Malásia; Campos Novos (202m) e Barra desenvolvimento deste tipo de barragem
Grande (185), no Brasil; Kahrahnjukar (196m) (Pacheco, 2003). Entretanto, alguns problemas
na Islândia; Sanbanxi (186m) e Hongjiadu práticos tem sido observados, tais como:
(180m) na China; e El Cajón (189m) no ocorrencia de trincas no maciço de
México. Outras BEFC altas estão em fase de enrocamento, como relatado nas barragens de e
projeto como Agbulu (234m) nas Filipinas, La Tianshengqiao I (Figura 1a), na China, e Xingó
Yesca (210 m) no México, Xe Kaman (200 m) (Figura 1b), no Brasil,; fissuras, trincas e

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ruptura da laje da face de montante, observadas questões: retração e cura do concreto;


nas barragens de Tianshengquiao I, na China, abaulamento ou inchamento da parte inferior do
Aguamilpa, no México, Campos Novos (Figura maciço; deformações diferenciais do maciço,
1c) e Barra Grande (Figura 1d), no Brasil, e seja pela construção por etapas, seja pelo
Mohale (Figura 1e), em Lesoto. Como zoneamento do maciço com materiais de
consequencia, a ocorrencia desse eventos módulos muito diferentes em interface vertical.
aumenta consideravelmente a perda de água Portanto, novos critérios de projetos de
atravez do corpo da barragem, o que pode levar BEFC baseados em fundamentos técnicos mais
a um aumento considerável dos deslocamentos elaborados são necessários. Neste sentido, este
do corpo da barragem, gerando assim uma trabalho apresenta um estudo numerico de
preocupação adicional com a estabilidade da BEFC, tendo como objetivo a otimização dos
estrutura. critérios de projeto. Para tanto, foi avaliado o
efeito do enchimento do reservatório e da
geometria do vale, no comportamento do aterro
da barragem e da laje de concreto, a partir da
determinação dos deslocamentos e das
deformações na laje e tensões no aterro.

2 METODOLOGIA ADOTADA
(a) Tianshengqiao I (b) Xíngó
A metodologia adotada, proposta por Frutuoso
(2007), consiste em estudar o comportamento
da barragem de enrocamento com face de
concreto e dimensionamento da laje da face de
monstante, em três etapas principais, de acordo
com o fluxograma apresentado na Figura 2.
1ª Etapa
(c) Campus Novos (d) Barra Grande Análise Tridimensional
MEF (Allfine)

δv, Fv, kv

2ª Etapa
Análise Estrutural da laje
MEF (SAP 2000)

(e) Mohale
Figura 1. (a), (b) Trincas no maciço de enrocamento; (c), Esforços Solicitantes
(d), (e) trincas e ruptura das lajes. M, Q, N

3ª Etapa
Segundo Veiga Pinto (1979), Frassoni et al. comp.
Dimensionamento Critério Empírico
(1982), Materon (1983) e Saboya Jr. (1993), os estrutural da Laje
movimentos sofridos pelo maciço de
Figura 2. Metodologia Proposta.
enrocamento dependem de vários fatores
intervenientes, como: fatores geométricos;
Na primeira etapa é feita uma análise do tipo
particularidades construtivas, como
de tensão-deformação a partir da simulação da
zoneamento e compactação; e os relacionados
barragem sob condições tridimensionais
com as características dos materiais
utilizando o método dos elementos finitos
empregados.
(MEF), com o programa ALLFINE (Farias,
Segundo Mori (1999) a ocorrência de trincas
1993). Esta simulação fornece os campos de
na laje de concreto estão associadas três
tensões, deformações e deslocamentos.

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Relacionando os deslocamentos normais barragem-laje de concreto.


obtidos nos nós dos elementos da face de Para tanto, foi utilizado o programa de
montante, w(x), com as reações exercidas pelo elementos finitos ALLFINE (Farias, 1993). O
maciço sobre a laje, r(x), estima-se uma modelo constitutivo utilizado para a descrição
constante k para cada nó (r(x)=k.w(x)). do comportamento mecânico do maciço de
Na segunda etapa, a partir das informações enrocamento é o modelo elastoplástico Cam-
de esforços e deslocamentos obtidas da análise clay modificado e para a face de concreto o
de equilíbrio da barragem, é feita a análise modelo elástico linear. O contato entre estas
estrutural da laje de concreto pelo método dos estruturas é representado por um elemento de
elementos finitos por meio do programa SAP pequena espessura (elemento de interface)
2000. Esta análise consiste da simulação dos modelado com modelo elástico perfeitamente
painéis de laje sob base elástica, sendo os plástico com critério de ruptura de Drucker-
coeficientes de mola (k), obtidos na etapa Prager. As Tabelas 1 e 2 apresenta os
anterior. Essa simulação fornece os diagramas parâmetros adotados.
de esforços internos solicitantes na laje Por questões de simplicação, as simulações
(momento fletor, esforço cortante, esforço foram feitas apenas para o maciço da ombreira
normal e momento torçor). direita. A Figura 3 apresenta a malha de
A partir da determinação dos esforços elementos finitos utilizada na simulação
solicitantes, dá-se início a terceira etapa deste tridimensional.
trabalho que corresponde ao dimensionamento
estrutural pelo Estado Limite Último (ELU), Tabela 1. Parâmetros dos enrocamentos da barragem.
conforme a NBR6118/2003, onde são definidas E1 E2 E3
as áreas de aço para as seções de concreto. Parâmetros (γ=17,8 (γ=15,2 (γ=15,1
kN/m3) kN/m3) kN/m3)

3 CASO ESTUDO – UHE BARRA κ


κ∗ = 0,0010 0,0013 0,0020
GRANDE (1 + e)
λ
3.1 Descrição da Barragem λ∗ = 0,014 0,016 0,017
(1 + e)
Para validação da metodologia proposta foi ⎛σ ⎞ (1 + senφ )
R f = ⎜⎜ 1 ⎟⎟ = 4,0 3,6 3,0
realizada simulações da BEFC da UHE Barra ⎝ σ 3 ⎠ rup (1 − senφ ) (φ=37o) (φ=34o) (φ=30o)
Grande.
ν 0,27 0,41 0,25
A UHE Barra Grande está localizada no Rio
Pelotas, entre os municípios de Anita
Garibaldi/SC e Pinhal da Serra/RS, nas Tabela 2. Parâmetros para a laje e para interface.
coordenadas geográficas: Latitude 27º46’ e Parâmetros Laje Interface
3
Longitude 51º13’ Oeste. A barragem é do tipo E (MPa) 21,8 x 10 20
Enrocamento com Face de Concreto, com 665 ν 0,2 0,3
m de comprimento de crista e altura máxima de 2.senφ
185 m. Os taludes tem inclinação de 1V:1,3H a α= - 0,25 (φ=32o)
montante e 1V:1,2H. A laje de montante é 3.(3 − senφ )
formada por 42 paineis de 16 m de largura, com 6.c. cos φ
k= - 0 (c=0)
108.000m2 de área total. 3.(3 − senφ )
3.2 Simulação da Barragem

A simulação da barragem foi realizada para três


etapas de carregamento: construção,
enchimento e rebaixamento. Essas simulações
foram realizadas sob a condição tridimensional,
considerando o comportamento conjunto

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essa fase.

4.1 Tensões

Interface Os contornos das tensões normais (σx, σy, σz)


Laje são apresentados nas Figuras 5, 6 e 7. Estas
figuras servem como ilustração dos resultados
y Det. 1
Enrocamento
tridimensionais obtidos, além de permitir a
z x
Det. 1: Interface,
visualização de que as tensões distribuem-se de
enrocamento e laje
forma assimétrica devido ao processo de
Figura 3. Malha 3D da Barragem utilizada nas
enchimento do reservatório. As tensões na
simulações (vista isometrica - ombreira direita). região a jusante são praticamente as mesmas da
fase final de construção. A montante nota-se a
3.3 Simulação da Laje influência do enchimento, com a elevação das
tensões normais, principalmente na região
Após a simulação da barragem foi feita análise inferior onde as pressões hidrostáticas na face
estrutural de um painel de laje, localizado na da barragem são maiores.
seção central da barragem, com o programa o
(kPa)
SAP2000. As condições de contorno imposta a
laje foram as seguintes: a face inferior foi
apoiada sobre molas que definem o apoio
elástico e a extremidade inferior sobre uma Jusante

viga, restringindo os deslocamentos e Montante


permitindo rotação, representando a estrutura
do plinto. A Figura 4 apresenta a malha de
elementos finitos da laje adotada.
y
x
z

Figura 5. Tensões na direção longitudinal (σx).


Fi

ki
(kPa)

y'
x' z' Jusante

Figura 4. Malha 3D da Laje com as cargas aplicadas e o


sistema de molas.
Montante

4 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS


y
O enchimento do reservatório caracteriza-se x
z
como a fase mais crítica do estudo do
comportamento de uma BEFC, considerando-se
que a pressão hidráulica do reservatório na face Figura 6. Tensões na direção vertical (σy).
de montante é a maior solicitação estática de
sua vida útil. O carregamento vai induzir
movimentações no maciço e na laje, que vão
ser função não apenas das características
mecânicas do enrocamento, mas também da
geometria da fundação. Contudo, são
apresentados, aqui, apenas os resultados para

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(kPa)

Jusante

Montante

Junta vertical de tração


y
x
z
Junta vertical de compressão
Figura 9. Posicionamento das juntas verticais entre os
Figura 7. Tensões na direção horizontal (σz). painéis da face de concreto.

4.2 Deformações 4.3 Deslocamentos na Face de Montante

A Figura 8 apresenta os contornos das Os deslocamentos na laje são parâmetros que


deformações longitudinais (direção x). A sempre se procura prever, seja utilizando
previsão das deformações nessa direção é programas de elementos finitos, devidamente
importante para a identificação de zonas de ajustados em função das deformações
tração na face de montante e consequentemente observadas durante a construção, seja por meio
dos painéis que estarão submetidos a esse de comparações com barragens de
comportamento. Analisando a figura, observa- características similares. Neste sentido serão
se ao longo do contato com a ombreira até a apresentados os deslocamentos normais e
linha tracejada em azul as deformações são horizontais obtidos na laje para a fase de
negativas, dando indício que os painéis da laje enchimento do reservatório.
concreto nessa região estão sendo tracionados. A Figura 10 mostra o deslocamento normal
Assim sendo, a laje deve ser projetada com na laje para os três estágios de enchimento, para
juntas de tração nesta zona e com juntas de a máxima seção transversal da barragem. De
compressão no restante da laje. A Figura 9 forma geral, a figura mostra que os valores
apresenta uma indicação do posicionamento das máximos do deslocamento normal ocorrem no
juntas verticais. terço inferior da face barragem, entretanto, para
a condição de reservatório cheio (N.A. 3, El.
639 m) os valores máximos foram da ordem
0,66 m (0,0036 H) a cerca de 0,16 H e 0,30 m
(0,0016 H) na crista, onde H – altura da
barragem acima da linha de fundação.
A Figura 11 mostra as curvas de
deslocamento horizontal na laje para os três
estágios de enchimento. Assim como observado
para o deslocamento normal, nota-se um
aumento do deslocamento horizontal com a
y elevação do nível d’água, com valores máximos
x da ordem de 0,30 m (0,0016 H) a cerca de 0,30
z
H e zero na crista.

Figura 8. Deformações na direção longitudinais (εx) ao


final do enchimento do reservatório.

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Elevação (m)
651,00 4.4 Estudo de dimensionamento da laje
N.A. 3
639,00
628,00
617,00 As Figuras 12 e 13 apresentam os diagramas de
606,00
595,00
N.A. 2 momentos fletores obtidos. Nota-se que os
584,00
573,00
momentos máximos são mais pronunciados na
562,00
551,00
região inferior da laje, ou seja, no “arranque”.
540,00
N.A. 1
Os valores máximos foram Mx',máx = - 27,29
529,00
518,00 kN.m e Mz',máx = - 207.75 kN.m para o arranque
507,00
496,00
e Mx',máx = 4,79 kN.m e Mz',máx = 220,86 kN m
481,00 para a laje principal.
466,00
0,
10
1o Enchimento 0,
20
2 o Enchimento 0,
3 o Enchimento 30
0,
40
0,
50
0,
60
0,
70
Deslocamento Normal (m)

Figura 10. Deslocamentos normais da laje no leito do rio


(painel de laje 20).

Elevação (m)
651,00
N.A. 3
639,00
628,00
617,00
606,00
N.A. 2
595,00
584,00
573,00
562,00
551,00
N.A. 1
540,00
y'
529,00 z'
x'
518,00
507,00 Mz'
Mx'
496,00

481,00

466,00

1o Enchimento 0,
0,

20
10 Figura 12. Diagrama de momento fletor na direção x'
2 o Enchimento
3 o Enchimento 0,
0,
30 para o painel de Laje 20.
40

Deslocamento horizontal (m)

Figura 11. Deslocamentos horizontais da laje no leito do


rio (painel de laje 20).

Para fins de comparação a Tabela 3 apresenta


alguns valores de deslocamento normal à laje,
observados para outras barragens.

Tabela 3.Deflexão normal na laje (Sobrinho et al., 2007).


Desl.
Desl.
Ano normal
normal
Barragem País de max. na
max. na
concl. crista
laje (m)
(m)
Campos Novos
Brasil 2006 0,86 0,33
(202)
Itapebi (112) Brasil 2003 0,38 0,63
Tianshengqiao I China 2000 1,38 - y'
x' z'
Itá (125) Brasil 1999 0,60 0,70
Xingó (150) Brasil 1994 0,28 0,47 Mz'
Mx'
Shiroro (125) Nigéria 1983 0,09 -
Foz do Areia (160) Brasil 1980 0,77 -
Anchicaya (140) Colômbia 1974 0,16 -
Cethana (110) Austrália 1971 0,18 - Figura 13. Diagrama de momento fletor na direção z'
Simulação (185) Brasil - 0,66 0,30 para o painel de Laje 20.

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Partindo desses resultados, pode-se calcular a critérios empíricos e existentes,


taxa de armadura necessária e compará-la com respectivamente.
a recomendada pelos critérios empíricos e com
a existente na barragem simulada. A Tabela 4 0.50 0.50

Taxa de armadura (%)


Taxa de armadura (%)
0.40 0.40
mostra a comparação entre a armadura 0.35

0.30
0.30 0.25
0.25
recomenda pelos critérios empíricos, armadura 0.20 0.20
0.22

calculada e a armadura existente. 0.10


0.10

0.00
0.00
Direção x' Direção z'
Tabela 4. Armadura calculada versus critério empírico e Direção x' Direção z'

armadura existente. (a) (b)


Taxa de armadura, Figura 14. Diferença entre a armadura recomendadas nos
Metodologia Vão
ρ (%) Distribuição critérios empíricos e a armadura calculada no ELU: (a)
Direção Direção da armadura Laje de arranque; (b) laje principal.
x' z'
Simples (na 0.50 0.50

Arranque 0,15 0,35 face

Taxa de armadura (%)

Taxa de armadura (%)


0.40 0.40
0.35
superior)
Calculada 0.30 0.30
0.25
Simples (na
0.20 0.20
Principal 0,15 0,18 face 0.12

inferior) 0.10 0.05


0.10

Dupla (na 0.00 0.00


Direção x' Direção z' Direção x' Direção z'
0,25– face
Arranque 0.4–0.5 (a) (b)
0,6 superior e
Critérios
inferior) Figura 15. Diferença entre a armadura existente e a
empíricos
Simples (na armadura calculada no ELU: (a) Laje de arranque; (b)
Principal 0.3–0.4 0,3–0,4 seção média laje principal.
da laje)
Dupla (40%
na face Quanto à distribuição das armaduras, os
Arranque
Existente (1) 0.5 0,4 inferior e critérios empíricos recomendam armadura
60% na face dupla para a laje de arranque posicionada nas
(Albertoni et
superior)
al., 2002). faces superior e inferior da laje, e para a laje
Simples (na
Principal 0.4 0,3 seção média principal armadura simples na seção média da
da laje) laje. Entretanto, o posicionamento da armadura
(1)
Laje de arranque: região compreendida entre o plinto e
um trecho de 15 m na direção inclinada do talude.
no centro da seção transversal não respeita aos
critérios usuais de dimensionamento e
A análise dos resultados apresentados na detalhamento de peças estruturais de concreto
Tabela 4, permite verificar que as taxas de armado. De acordo com a norma NBR
armaduras necessárias calculadas no Estado 6118/2003, nas peças fletidas a posição da
Limite Último (ELU) foram bem menores que armadura mínima deve ser determinada pela
as recomendadas nos critérios empíricos e as região tracionada. Para peças onde a flexão
armaduras existentes: na direção x', a redução possa ocorrer em ambas as faces as armaduras
foi de 63% e 70% para a laje principal e para a devem ser dispostas nas duas faces na
laje de arranque, respectivamente; na direção z', quantidade prescrita para a maior armadura
para a laje de arranque, essa redução foi de mínima entre a de flexão e a das deformações
42% com relação as armaduras recomendadas plásticas.
nos critérios empíricos e 13% com relação a A armadura calculada apresenta distribuição
armadura existente. Para laje principal, a simples na face superior para a laje de arranque
redução foi de 55% e 40% com relação às e na face inferior para a laje principal.
armaduras recomendadas nos critérios Entretanto, recomenda-se para a laje de
empíricos e as armaduras existentes, arranque a colocação de uma armadura
respectivamente. adicional mínima (ρ = 0,15%) posicionada na
As Figuras 14 e 15 ilustram a diferença entre face inferior, uma vez que a grande
as taxas de armaduras calculadas no Estado concentração de tensão nesta região pode
Limite Último com as determinadas nos provocar fissuras.

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No dimensionamento da laje foi feito, provocar fissuras.


também, a verificação quanto à fissuração. Para Com base nessas considerações, este trabalho
tanto, as fissuras foram limitas em 0,3mm, mostra que a metodologia adotada se apresenta
considerando classe ambiental CAA III adequada para o estudo do comportamento do
(agressividade forte). Esta verificação maciço de enrocamento e dimensionamento
apresentou um valor de abertura de fissura de estrutural da laje. Portanto, se apresenta como
0,12 mm, portanto inferior à abertura máxima, mais um avanço no sentido de propiciar
indicando um comportamento satisfatório projetos de laje de face de barragens de
quanto à fissuração. enrocamento baseados em fundamentos
técnicos mais elaborados.
5. CONCLUSÕES
AGRADECIMENTOS
Dos resultados aqui apresentados, tem-se as
seguintes considerações: Os autores agradecem a Universidade Federal
• O enchimento do reservatório basicamente de Roraima (UFRR) e Universidade de Brasilia
influenciou as tensões na região de montante, (UnB).
com elevação das tensões normais (σx, σy, σz)
na área inferior do talude onde as pressões REFERÊNCIAS
hidrostáticas são maiores;
• A distribuição das deformações longitudinais Farias, M.M. 1993. Numerical analysis of clay core
dams. PhD Thesis, University College of Swansea,
mostrou a ocorrência de uma zona de Swansea, UK, 159p.
deformação normal horizontal negativa na face Frutuoso, A. (2007). Análises Tridimensionais de
de montante, ao longo do contato com a Barragens de Enrocamento com Face de Concreto
ombreira, dando indício de que os painéis de com Objetivo de Otimizar os Critérios de Projeto.
laje nessa região estão sendo tracionados. Tese de Doutorado, Publicação G.TD-050/2007,
Departamento de Engenharia Civil e Ambiental,
Assim sendo, os painéis da laje devem ser Universidade de Brasília, Brasília, DF, 145 p.
projetados com juntas de tração nessa zona e Materón, B. (1983). Compressibilidade e
com juntas de compressão no restante da laje; Comportamento de Enrocamentos, Simpósio sobre a
• Na direção normal, os deslocamentos com o Geotecnia da Bacia do Paraná.
enchimento do reservatório apresentaram Mori, R.T. (1999). Deformações e trincas em Barragens
de Enrocamento com Face de Concreto. II Simpósio
valores máximos da ordem de 0,66 m de Barragens de Enrocamento com Face de
(0,0036H) a cerca de 0,16H do pé do talude e Concreto, CBDB, Florianópolis, SC, pp. 27-60.
0,30 m (0,0016H) na crista, onde H - altura da Saboya Junior, F. (1993). Análise de Barragens de
barragem. Na direção horizontal, esse valores Enrocamento com Face de Concreto Durante o
máximos foram da ordem de 0,30 m (0,0016H) Período de Construção e Enchimento. Tese de
Doutorado, DEC/PUC – Rio de Janeiro, RJ, 225p.
a cerca de 0,28H e zero na crista; Veiga Pinto, A.A. (1979). Características de Resistência
• As taxas de armaduras necessárias calculadas e Deformabilidade dos Materiais de Enrocamento,
no Estado Limite Último (ELU) foram menores Geotecnia No. 27, pp.3-41.
tanto com relação as taxas recomendadas nos
critérios empíricos quanto as que de fato foram
projetadas;
• Com relação ao posicionamento das
armaduras, os cálculos mostraram que essas
devem ser posicionadas na face inferior para a
laje principal e na face superior para a laje de
arranque. Entretanto, recomenda-se para a laje
de arranque a colocação de uma armadura
adicional mínima (ρ = 0,15%) posicionada na
face inferior, uma vez que a grande
concentração de tensão nessa região pode

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