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UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA

DISCENTE:ESTANISLAU CORREIA ALMEIDA JUNIOR PERÍODO:1º

DISCIPLINA: INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS DA DATA:09/06/2017


TRADUÇÃO

No terceirro capítulo da obra “Traducción y Tradutología – Introdución a la


tradutología”, Amparo Hurtado Albir realiza uma análise da “evolução da reflexão sobre a
tradução” e introduz um estudo evolutivo desta ciência, desde seus primórdios até os dias
atuais. Inicia informando que a tradução é uma atividade humana muito antiga, com sua
própria história, cheia de mudanças. Ainda que o termo "intérprete" comece a ser utilizado
no século XVIII e a profissão de intérprete se consolide no século XX, o início da tradução
oral se perde na pré-história e está relacionado com a necessidade de intercâmbio
comercial e de todo tipo. No que se refere à tradução escrita, seu início é ligeiramente
posterior à consolidação da escrita e os primeiros testemunhos conhecidos remontam ao
século XVIII a.C.

Geir Campos, em seu magistral “O que é Tradução”, salienta que tradutor é aquele
que traduz, que realizada a atividade da tradução. A primeira habilidade do tradutor, de
acordo com Campos (1986, p. 71) é sentir-se atraído ou motivado pelo texto, seja por sua
forma, pelo seu conteúdo, pelo autor ou pela cultura do lugar a que se refere o texto a ser
traduzido. Além disso, o tradutor deve conhecer bem a língua da qual traduz (língua-fonte)
e a língua para a qual traduz (língua-meta). Além disso, é necessário que o tradutor se
atualize constantemente na manipulação de tecnologias, na medida em que a evolução das
ferramentas de trabalho exige o domínio de diversas máquinas, com impacto na eficiência
e na rentabilidade de seu trabalho.

Albir, retomando sua análise evolutiva, assinala a importância que tem a


investigação histórica no seio da Tradutologia. Esta investigação se consolidou sobretudo
nas últimas décadas, mais especificamente a partir dos anos 1980.

Na Antiguidade, Albir atesta que os primeiros testemunhos de traduções por


motivos culturais se encontram em Roma. Também em Roma aparecem as primeiras
manifestações de reflexão sobre a tradução: Cícero, Horácio, Plínio, Quintiliano.
Todos os investigadores concordam em atribuir a Cícero a autoria da primeira
reflexão sobre a tradução. Cícero, em "De optimo genere oratorum", de 46 a.C., assinala
que há duas maneiras de traduzir e, ao indicar que não se deve traduzir "verbum pro
verbo", inaugura um debate que, no mundo ocidental, dura dois mil anos. Trata-se do
debate entre tradução literal e tradução livre. A "linha ciceroniana" é seguida por Horácio,
o qual afirma que não se deve traduzir palavra por palavra e introduz o termo "fiel" no
debate ao afirmar que "Nec verbum verbo curabis reddere fidus interpres".

Já durante toda a Idade Média, sustenta Albir, se produz uma dicotomia clara entre
a maneira de traduzir os textos religiosos e a maneira de traduzir os textos profanos. Na
tradição religiosa, o respeito às Sagradas Escrituras implica um apego às palavras do
original, defendendo-se sua tradução literal. Na tradução profana, a situação é diferente,
preconizando-se uma tradução que não seja servil ao texto original.

Segundo Geir Campos, em sua seminal obra “O que é Tradução” (1986, p.30), há
uma primeira divisão da tradução em dois tipos: a tradução integral é aquela em que se
traduzem todos os itens, palavras e expressões do original. Já a tradução parcial é aquela
na qual se deixa de traduzir algumas partes do texto de origem, por razões de conveniência
editorial ou pessoal. Haveria também a tradução direta, isto é, vertida diretamente do
texto original; bem como a tradução indireta, que tem como base uma versão
intermediária do texto, em uma língua que não a original. O autor também reconhece a
modalidade “literal”, quando as línguas, por proximidade linguística, permite a tradução
quase que palavra por palavra, em contraposição à “oblíqua”, que não segue paralelamente
a forma do texto original.

Ideias semelhantes às desenvolvidas por São Jeronimo se encontram na primeira


grande contribuição hispânica à reflesão teórica: a do judeu Maimónides, quem em uma
carta dirigida a Ibn Tibbon, tradutor de uma de suas obras ao hebraico, manifestou-se nos
seguintes termos: "O tradutor deve, sobretudo, aclarar o desenrolar do pensamento,
depois escrevê-lo, comentá-lo e explicá-lo de modo que o mesmo pensamento seja claro e
compreensível na outra língua. E isto somente pode ser alcançado mudando-se, às vezes,
tudo o que precede e tudo o que segue o texto, traduzindo-se um só termo por muitas
palavras ou várias palavras por um só termo, deixando de lado algumas expressões e
juntando outras, até que o desenvolvimento do pensamento esteja perfeitamente claro e
ordenado”.

Com o Renascimento, prossegue a autora, assiste-se à primeira grande revolução no


mundo da tradução. Feitos como a invenção da imprensa, o surgimento de uma nova
classe de leitores, o nascimento das línguas nacionais, o papel da tradução como agente
transportador da cultura da Antiguidade, multiplicam e trazem variedade aos textos
traduzidos.

Nesse momento, a tradução se converte em uma questão política e religiosa.


Passam a existir mártires da tradução por questões político-religiosas, como Dolet e Fray
Luis de Leon. A tradução tem um papel decisivo na formação das línguas nacionais,
convertendo-se assim em uma questão política: a defesa das línguas nacionais e a
popularização da cultura antiga se manifestam num rechaço à latinização.

No século XVII, vê-se na Europa a afirmação do gosto francês na maneira de


traduzir: las belles infidèlles. A expressão se deve ao francês Ménage. Esta expressão
representa uma maneira de traduzir os clássicos efetuando-se adaptações linguísticas e
extralinguísticas. Reinvindica-se o direito de modificar o texto em prol do “buen gusto’, da
diferença linguística, da distância cultural, do envelhecimento dos originais. Um precursor
desta maneira de traduzir é Amyot. Autores da época justificam esta maneira de traduzir
alegando a falta de conhecimento dos leitores acerca da cultura greco-romana e à
necessidade de que o tradutor atur ao mesmo tempo como adaptador para que os textos
resultem acessíveis.

Já no século XVIII, se produz um incremento do intercâmbio intelectual, um


crescente interesse pelas línguas estrangeiras, uma proliferação de dicionários gerais e
técnicos e um auge do papel da tradução. Na França se relega a um segundo plano a
“missão civilizadora” tradicional da tradução, produzindo-se maior enfoque na tradução
especializada. Proliferam conselhor, regras para traduzir bem.
No século XIX, com a expansão industrial, comercial, científica e técnica, se
internacionalizam as relações diplomáticas, técnicas e científicas, com a criação das
primeiras organizações internacionais e dos primeiros congressos internacionais que
multiplicam e diversificam os intercâmbios entre as línguas. Enquanto a tradução literária
se produz um descolamento da tradução das literaturas antigas pela busca de literatura
contemporâneas e de literaturas mais exóticas, antes inexploradas.

O século XX, prossegue a autora, representa um período importante para a


tradução, razão pela qual é considerado a “era da tradução”: o auge dos avanços
tecnológicos, o aumento das relações internacionais com a criação de organizações
governamentais e não governamentais, situam num primeiro plano a necessidade de
tradução e de interpretação. É também o momento em que surgem novas variedades de
tradução: a interpretação consecutiva, a interpretação simultânea, a dublagem,a tradução
automática. A tradução se estende a todos os ramos do saber, com um grande auge da
tradução especializada: a tradução científica, técnica, jurídica, econômica e administrativa.
Aparecem também as primeiras organizações profissionais e os primeiros centros de
formação de tradutores e intérpretes.

Na segunda metade deste século XX, surgem grandes debates com foco na reflexão
da tradução: a própria legitimidade da tradução (traduzibilidade versus intraduzibilidade) e
a concepção da fidelidade da tradução. Três aspectos caracterizam estes debates: a)a
imbricação; 2) a falta de definição dos termos implicados; 3) o predomínio da prescrição.

Ainda sobre fidelidade, Geir Campos (p. 36) informa que a “correspondência
formal” quer dizer que a forma do texto original deve ser seguida pelo tradutor com a
máxima fidelidade possível, muito embora em alguns casos essa fidelidade se reduza ao
mínimo. Neste sentido, a fidelidade na tradução não se concebe como uma “equivalência”
entre palavras e textos, mas, se sua ideia for admitida, será como uma tentativa de fazer
que o texto-alvo funcione na cultura-alvo do modo como funciona na cultura-fonte. Por
isso, os tradutores podem ser fiéis quando recuperam aquilo que querem os que subsidiam
suas traduções. Contemplando todo esse panorama, não se pode ter outra definição para o
trabalho da tradução senão que é uma arte primorosamente trabalhada e que deve ser
honrosamente reconhecida, porque todo tradutor, longe de ser um traidor, é um
profissional competente que dedica seu tempo e suas energias para conseguir transmitir,
com fidelidade para outra língua, submetida às realidades culturais de um povo, o sentido
essencial e original do texto traduzido, embora que, eventualmente, sejam necessárias
algumas intervenções diretas no texto fonte, mas sempre feitas com a intenção de
salvaguardar o que é tido como principal: o sentido.

REFERÊNCIAS

CAMPOS, Geir. O que é Tradução. São Paulo, Ed. Brasiliense, 1986.

ALBIR, Amparo Hutardo. Traducción y Traductología. Introducción a la Traductología


Ediciones Cátedra, Madrid, 2001

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