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HEIDEGGER, Martin, Vorträge und Aufsätze, trad. port. de Emmanuel Carneiro Leão, Gilvan Fogel,
Márcia Sá Cavalcante Schuback, Ensaios e conferências, Rio de Janeiro, Vozes, 2001, pp. 205-
226.
Pensar logicamente significa que não se pode pensar contraditoriamente. Parmênides faz
uma diferenciação entre o mundo lógico e o mundo sensível. Ele começa perceber que o mundo é
diferente do que vemos e que o mundo sensível pode nos enganar, e muito. Para Heráclito o não-ser
não é e é, o ser é e não é, o devir transforma o ser em não ser e não ser em ser; para Parmênides o ser
é ou o ser não é. Para este, como que uma coisa poderia ser e não ser ao mesmo tempo? Sem relação
não há identidade. O ser vai se acumulando para constituir o não ser: A montanha está incluindo o não
ser vale.
A relação de pensar e ser movimenta toda reflexão ocidental sobre o sentido. Esta
relação esta nomeada na seguinte sentença:
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SEMINÁRIO IV – MOIRA (PARMÊNIDES, FRAGMENTO VIII, 34-41)
12 DE MAIO DE 2010
Com base no texto de Parmênides são mencionadas três perspectivas. A primeira é
aquela em que se descobre o pensar no sentido de uma coisa simplesmente dada, que ocorre ao lado
de muitas outras coisas e assim “é”.
Na tradução de Hegel sobre o fragmento VIII “o pensar e aquilo em virtude do que o
pensamento se faz é o mesmo. Pois sem o ente em que ele se exprime, não encontrarás o pensar, pois
nada é e nada será fora dos entes. Esse é o pensamento principal. O pensar se produz e o que se
produz é um pensamento. Pensar é, portanto, com o seu ser; pois nada é fora do ser.” Ser é, para
Hegel, afirmação do pensar que se pro-duz a si mesmo.
No entanto, em outra interpretação, de Berkeley, ao contrário, nomeia o esse(ser) antes
do percipi (pensar). Isso significa que Parmênides privilegia o pensamento enquanto Berkeley privilegia
o ser. Mas de fato o que ocorre é o contrário, Parmênides confia o pensamento ao ser. Berkeley remete
o ser ao pensamento, numa correspondência que, em certa medida, se poderia equiparar à sentença
grega, a frase moderna deveria então dizer: percipi (pensar) igual a esse(ser).
A segunda perspectiva concebe modernamente o ser no sentido da representabilidade
dos objetos enquanto objetividade para o eu da subjetividade.
A terceira perspectiva segue um traço fundamental que, através de Platão, determinou a
filosofia antiga de acordo com a doutrina socrático-platônica, as idéias constituem o “sendo” de todo
ente.
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SEMINÁRIO IV – MOIRA (PARMÊNIDES, FRAGMENTO VIII, 34-41)
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Descobrindo, o desdobrar da dobra resguarda o trazer para a atenção no seu
encaminhamento para o captar que reúne e concentra a propriedade do que é presente. A verdade,
caracterizada como o descobrir da dobra, deixa o pensar pertencer ao ser. Na palavra enigmática “o
mesmo”, silencia o resguardo descobridor do mútuo pertencer entre a dobra e o pensamento que, na
dobra, se faz aparecer (trazer para uma posição daquilo que aparece – pensar).
Pensar não pertence, portanto, a ser porque também é algo presente o qual, por este
motivo, deve ser computado na totalidade do que é presente, ou seja, dentre as coisas presentes.
Parmênides diz que fora dos entes nada foi, nada é, nada será. Τ ο ε ο ν não significa “o ente”, ele
exprime a dobra. Fora desta não há jamais qualquer presença de coisas presentes, pois a presença
enquanto tal reside na dobra (posição para a qual é trazida aquilo que aparece), brilhando e
aparecendo em sua luz desdobradora.
Physis: é aquilo que surge, a partir de si mesmo, e que se sustenta e permanece nesse vigor
próprio.
Logos: o logos é a reunião daquilo que está presente nos entes; reunião que de-põe e pro-
põe, isto é, reúne a presença, lança-a num repouso de estar diante de.
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