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See te eed Pepe eco) a tue eel ene OR aelea pcesirnne t eolaiae Pa ee aaa a et aes ee a aaa ed RR or a ae ae ay panes Ort eu eau ae ee ae Be ei Ga ae bahy ee arene es beeen os eee tae eee rece i Daag ealeneeaper tas Er ert pipshersrenen en eked Deemer rte aoa beerseereg erie! pinaaiidiener pee tt eat Eiaalieemen ai tart nas Epes Aireenes te era Ae ye pete ae aa eer Hee eee ott cea ae serene eet dices | il | ot ‘i R Ht 3s ¥ GERALDO AUGUSTO PINTO A ORGANIZAGAO DO TRABALHO NO SECULO 20 Taylorismo, Fordismo e Toyotismo jg70 PINTO. cere Forces EOCENE Creamers 2, ORIGENS DA EXPRESSAO "ORGANIZAGAO DO TRABALHO" Muitos jf associaram a origem da palavra trabalho 0 ‘ripatium, un antigo instrumento de torcura. A eficicia des- sa explicagio esti na sua verificagao do fato de que o trabalho, enquanto “atividade laboral desejivel por homens e mulheres em todas as épocas hist6- nem sempre foi considerado orém, para que tal constataglo fosse possivel, nio po- desi cla negae um outro fito, de maior importincia: que 0 trabalho, em sentida amplo ~ como um conjunto de atvida- des intelectuais e manusis, organizadas pela espécie huma- na ¢ aplicadas sobre a natureza, visando assegurar sus subsisténcia ~ munca deixou (como no deixa, atualmente} de ser tealizado, por homens e mulheres, 20 longo da hist6- ria, Se por um lado tivéssemos nds, homens € mulheres, nos centregado a isso, eementes a soberanos ou a divindades, por ‘outcofomos (e somos, ainda hoje) obrigados a tal para sobre- Dessa tltima constatagio, isto é, 0 trabalho como algo imanente a espécie humana, pode-se deduzir quiio longe ‘std a origem das preocupages dos homens e mulheres com telagio a oxganizaglo de suas aividades de trabalho, a0 lon- 0 da histéria ds humanidade — sefa no ambito das relagées sociais internas aos grupos familiares que constiufram, seja ‘no mbito das relages sociais que se estabeleceram entre esses grupos nas ordens comunais, wibais © nas diversas fore ‘mas de sociedade surgidas uo longo da hist6ra Sendo assim, os estudos que tomaram como objeto a or sanizagio do trabalho humana em atividades laborais eom- plexas ¢ variadas, podem ser constatados desde antes da Antigtidade clissics. Pois nao estariam presentes no pensa ‘mento de povos como os egipcios, quando ergueram obras arquitetonicas da envergadura das pitimides farabnicas? Nao ‘cram sido, essas obras, previamente planejadas antes de sua execuglo, em todos os seus detalhes, em projetos mint iosos, solidamente elaborados com conhecimento prévio {as condigfes a serem impostas nas diversis etapas de sue construc, bem eoto fundamentadas em prineipios gerais ‘Que fururamente norteariam decisdes a serem tomadas na superago de eventusis obstéculos?! ‘Se essas indagagdes slo amples e, alvez, precipitadas ‘demais para serem colocadas de forma tio breve aqui, po- demos ao menos itustray, através delas, que hd uma utilida- "Quan mis nets gr a eee dns cs vanstende centenat Se gees de encase endures, mee de onl, de indiscurivel em analisar previamente a organizagio de atividades de trabalho complexas, especialmente as que envolvem grande niimero de agentes, pertenga essa anélise 40s agentes que efetivamente executaro o trabalho ou p tenga ela aos que apenas desenvolverto o projeto desse ta balho. Esse sentido estritamente téenico de enecarar a organiza- ‘0 do trabalho foi incorporado pela mado de produgzo ca- pitalisea e submetido aos inceresses de classe af envolvidos, especialmente apés as primeiras revolugées industias, do séeulo 18 em diante. Desde entio, a organizagao do traba tho foi elevada a categoria de matéria do conhecimento a ser conquistada com base na Iuta politica e econdmica explicta entre 6 empresariado (classe proprieéria dos meios de pro. Augio e compradora de forga de trabalho) ¢ os trabalhadores (classe social expropriada nesse processo e cuja existéncia atual exige vender sua capacidade de trabalho em troca de salitios). Enquanto aos siltimos tal conhecimento passou a ser um dos poucos meios de assegurar sua subsistencia e, Portanto, suas condigbes minimas de satide fisica e mental (além de direitos socisis, civis e:politcos bésicos, frente ao esemprego © a queda dos salérios tomnada erGnica a partie de entio), ao empresariado tal conhecimento tomou-se um imporante meio de controle social, econtmico e politico da classe rabalhadors, com o objetive de manter em funcionae ‘mento sistema de acumulagao de capital Esse processo de Iuta se dvi em fasesdistints, "Toms vidades de trabalho, ainda permaneciam difusas © pouco po- Jarizadas, obviamente em vista do maior dominio técnica mantido pelos trabalhadores através de suas geragbes. Assim, configurou-se uma estrutura na qual, pelo menos 0 planejamento ¢, na méxima, a enordenagio da produsio, eram | de comprare Asti senda: reste fenamente dang (OHNO, 197. p. 24, oped CORIAT, 194 p 55.58. coLegho thataine £ emancrracto | 77 Ono soube dessa invengio ¢ trouxe- (CORIAT, 1994, p. 38, pp. 55-56). A incorporaglo desse método na produgio automobilistica ovorteu do sequinte mado: considerand @ fuxo continuo da produgio cada trabalhador de um posto se abestecetia, quan- do necessiro, das pecas do pesto anterior ao seu, de modo que para a Toyota 2 fabricagio de pecas desse timo apenas acoreria em fungio «da demands ou alimentagio daquele ~ nem mais, em menos Para isso, paralelamente ao desenrolar do fluxo da produgio, cestabeleceu-se um fluxo inverso de informastes, onde cada posto posterior emitia uma intrugio destinada a0 posto imedla- tamente anterior, de maneira que af se mantivesse em produ- 0, em dado momento, somente a quantidade de pegas ‘exatamente necessiia (CORIAT, 1994, p. 56) ‘No ambito interno das fabrcas, esses fuxes de informacso «de materia foram possbiltados pela elaboragio de um dispo- sitivo mecfnico que conduzia casas no sentido inverso da pro- duo (ou sea, dos posto posteriores as anteriores), contendo carzazes (Aanan, ef japonts) com informagées sobre a quanti- dade necessiria dealimentagio dos postos subsequentes, 20 ‘mesmo tempo em que outras caixas passaram a circular na sen= Bmaimena to econo eats ola de“ cnn pou” pelt de “iba de pod er sr” gue tnbm coe em ie oie ‘Minka de proof senda frie cosine nun seiénca de fenge ‘pcs pit pars, que digdemUneamente eoSenucmeste Aesde «pine metimesoe t madenprina st fei tina Ne ‘odugto tye, com a reaper da rin aferaien tm ponies de “hh mulfininss,chamaes “due de dic na Go epse 4 pdf rent, mares poo sinc eu conten honseme des mers empepace fe escheat filo de ‘ido normal do flxo produtivo (dos postos anteriores aos poste- riotes), carcegadas das pevas ou maceriais encomendados por cada um desses postos Teatava-se do sistema Aanda, O sistema darian, al como a avtonomagio, teve um papel cesencial na reagregagio das postos de trabalho. Por um lado, o handlan permitin descentra- lizar uma parcela des atividades relativas ao controle das enco- mendas ¢ das fabricagdes, confiando-as ans chefes das equipes de tabathadores, sendo que, até enti, estavam concentradas ‘num departamento especalizado, no sistema taylorstaffordista. Por outro lado, essa descentralizagio permitiu integra as ativi= ddades de controle de qualidade des produtos & propria esfera dda producdo deta (CORIAT, 1994, p, 56). Essa descentralizagio de fungies — entes fungbes em poucos tes limitadas 2 de- partamentos distintos ¢situados em locais diferentes no es- ago da fébrica, mas agora concentradas em postos de twabalho onde operam trabathadores polivalentes — acompa- ‘nhada como foi de uma série de aparatos como o sistema de informasdes € transporte interno (dono), exigia um novo Jayout da planta fabril, no objetivo de viabilizar a produgio em fluxo continuo, evitando-se, ais, 0 deslocamento des- nevessirio de trabalhadores ¢ insumos Foi entio reformulado 0 espaco da produsio pela “celularizaglo", que consistiu em organiza os postos de tr balho em grandes conjuntos aber (€ nio fechados, como nc, ilearse combos de canes (geamente ele, sles srr) gue pees tale o ep i den pean insomor ee. ete or oon de pats cet, cOLeGho Teeeaine C emancieacho | 79 departamentos), de modo a concentrarem em si uma etapa Aefinida de todo o processo produtive. Por exemplo, na fabri= ‘eaglo de automéveis: um conjunto de postos responsiveis pela montagem dos eixos; ausro pelo acoplamento do siste- sma de suspensio; seguince pelos ftefos, e assim por diante. Cada tum desses conjuntos de postos de trabalho foram denominados “eélulas de produgio” ¢ constituem-se de cequipes de trabalhadores, que podem alternar-se em seus postos conforme o volume de produgio pedido ou metas de qualidade exigidas ov outro motivo. Essa organizagao tem caracteristicas similares, 2 nosso ver, 20s GSAs, organizagio sueca comentada na seco anterior. Nesse sentido, as célu- las podem contar com um lider dente os seus trabalhado- res, que pode ser eleito ou nto pela célula (dependendo da cultura gerencial da empresa), a0 qual se atribui a fungio de assegurar o funcionamento perfeito dos postos bem como a centre as células e a administracio da empresa, (Com a *celularizasio”, aboliu-se o formato reilineo dos postos de trabalho a linha de série fordista, endo 0 conjunto das eélulas de produgio se encaisado entre si num formato semelhante a uma linha sinuosa, na busca de se formar nova mente o fluxo produtiva® A combinagio entre autonomacio, ja *U" prom wade ene ve Spe cone pts fae ena um pada emis 09 uma mE Pn, ue € canbe ses po, ide plo ot dando Hii ie. O conte de eh set farande, quedo fe enesitam ta ste de "Ur um nema eo pin ver, i's ume ba hoor a mies dees © Sumagien ver Coit (198, pS) 80 | f ohcanizacio co tastsino wo steute ae polivaléncia e celularzagio, promoven uma resloc ‘aquinas por trabalhador,estabelecendo, poranto, no ape- nas uma nova racionalizagio das operagies de cada posto no processo produtivo, mas uma nova sineronizagio dos postos e das céluls ence s,visando uma diminuigao tanto do acérmulo de estoques em cada miquina (ou em cada célula), bem como perdas de tempo no decorrer lo transporte dos produtos 20 longo da fibrica. EE preciso observar aqui o fato de que os métodos bis! cos de execugio das atividades realizades dentro de cada posto continuaram, tal como no sistema tayloristaffordista, estritamente prescritos ¢ regulamentados pelas geréncias, Isso 6 uma decorréncia do igido controle de qualidade, cujo ccumprimento, no sistema toyotista, ficou circunscrto 40 ni- vel dos postos de trabalho ou, no maximo, 20 nivel das célu- las, Bntretanto, a demarcagio do tempo de execugio das ‘operagdes nos postos somente € feita tendo em conta 0 com junto das células, apés © que, passa a ser estabelecida como ‘meta em cada posto individual O objesivo é estabelecer um fhuxo continuo, com 2 quan- tidade minima de trabalhadores ¢ insumos em processo. ‘Assim, num perfodo de baixa demanda, estabelecem-se metas de uso do tempo de tal modo que os trbalhadores fiquem ocupados durante toda a jornada, sem formago de cesioques de produtos. Elevando-se a demanda, esse mes- mo efetivo é chamado a cumprir novas metas, com cada tra- balhador assumindo maior quantidade possivel de postos. Essas metas de uso do tempo so recalculadas permanente ‘mente pela geréncia com 0 apoio das pr6prias oélulas, a {que se atinja um niimero fixo minimo de trabalhadores, ca- paves de assumir todos os postos com suficiente produti dade em ocasides as mais extremas. Aqui adeneramas o que veio a ser uma das maiores inow ges desse sistema de organizagio. A autonomacéo, a polivaléncia © a celularizagio permitiram a aplicacéo do siste- ‘ma Aanhan nas relagdes entre as empresas clientes e fornece- ddoras ao longo das cadeias produtivas (0 chamado Aanlan extemo"), de modo que, 20 estabelecer um fluxo continuo de informagtes ¢ alimentagao de produtos entre estas em- presas, suas operagies de fibrica passassem a ser aivadas so- mente ap0s as encomendas, as quais devem ser feitas apenas ap6s conclufds determinadas patamares de vendss. Com base rnesse sistema, “nivelou-se” gradativamente 0 fluxo de pro- dugio ao longo das cadeias produtivas, com baisa formaglo de estoques nas empresas. A produgio passov a ter, portnto, uma relacfo muita mais, estreita com a denfanda do mereado consumidor, posibili- tando a pronta entrega ¢ 0 estoque minim. Segundo Salerno (1985, p. 191), tratou-se de estabelecer uma “filosofia de acen- ddimento a0 mercado”, que, nas suas palavras, “(.) d& aos departamentos de vendas 0 papel de detonadores do proves- 0 produtivo: 86 € produzido algo se for pedido por vendas. A idéia de produzir ¢ ‘empurra’ para os revendedores ficaria,, entio, compromerida”, A esse regime de encomenda-produslo-entrega preci= sas chamou:se just-in-time. A wadueSo literal dessa expres- sho setia “no tempo certo”. Todavia, seu significado & mais abrangente: organizar-se sob regime just-in-time significa produzir somente o que € necesséria(seguindo exatamente as especificagdes do cliente), na quantidade necesséria (nem, mais, pois se deve abolir 0 estoque, nem menos) e no mo- ‘mento nevessirio (nem antes, o que significa ter um “esto- que” na forma de eapacidade produtiva ociosa, nem depois) Em termos dos processos produtives intemnos as empre- sas, organizar a produgio sob o regime just-in-time significa que, na montagem de um produto, todos os seus compo- nentes, fabricados em process0s distintos de submontagem, devem chegar af no momento exato © na quantidade estri- ‘amente necessra, sem a formagio de estoques nem tempo dle espera entre 0s postos de trabalho, Portanto, a0 contritio do sistema tayloristaffordisea, no {qual a somat6ria do tempo das minimas operasées de cada ‘um dos trabathadores era previamente fixada e determina vva.a capacidade produtiva do sistema coma um todo, no sis- tema coyotists, o que importa € o tempo de “ciclo das atividades” realizadas em cada eélula e, conseqtlentemen- te, em cada posto de trabalho, sendo ambos variéveis, ow testabelecidos permanentemente de acordo com a vatiagio dda demande geral, isto, do fluxo da cadeia produtiva, Essa € a diferenga quando se fala em produglo “empure rida” ou “puxada”. Muito menos abrangente do que a co- nhecida afirmagdo de que o sistema tayotista submeten a producto as determinagées do mercado consumidor, a dife- renga marcante entre o sistema taylorista/fordista © 0 corde teanauno © cwaneipacto | 83 toyotista, nessa questo, reside muito mais no ato de que 0 balanceamento do tempo do ciclo das atividades de traba- Iho, nos postos intemnos nas empresas, passou a ser realizado ‘com base no fliaxo da demanda nas cadeias produtivas como um todo, [Em termos objeives, no sistema tayloristafordista, a ca- pacidade produtiva era fixada ao nivel do trabalhador em seu posto e, dada a rigides da hierarquia na divisto do Tho, a solugio para picos de variagdes na demanda era a ma nutengio de estoques, sujeitando a forga de trabalho a altos niveis de rotatividade e os produtos a estandardizagio. No sistema toyotista, a autonomagio, a polivaléncia e a organi zagio celular permitiram que a cepacidade produtiva dos ppostos de trabalho passasse a ser flexivel, absorvendo wat ies quantitativas e qualitaivas na demanda dos produtos, sem manutenglo de estoques e contando:com um aiimero idealmente fixo de trabalhadores, dos quais podem set ‘exigidas jomnadas flexiveis, com aumento significative de horas extras. * Fica claro, ness€ ponto, a abrangéncia ésistematicidade esse conjunto de métodas ¢ tecnologias japonesas, que englobam desde a organiza vo até a’organizagao da cadeia industrial como um todo, interna do processo produti- Pensando na relagio entre clientes e fornecedores (ou mais amplamente na relagio entre produgio ¢ consumo alu- ida acima) € considerandose um mercado consumidorins- tavel, diversificado ¢ altamente concorrencial: nessas condigdes, uma demanda sobre a produsSo serd de uma cx- pacidade de pronta entrega, qual se, 0 regime just-in-time Esse regime, por sua ver, exige nfo somente um fluxo pet~ feito de informagées (Hanon), mas também uma capacida- de produtiva flexivel, para a qual se fax necessé controle de qualidade minucioso e uma distibuigao de fun- «Bes que permita a cada trabalhador abranger uma totalida- de de metas em pouco tempo. Isto € satisfeito pela autonomaso pela polivaléncia. Finalmente, € 0 que se espera de fato, € importante que se tenha bsixos eustos: es- tes sto atingidos através do controle do “estoque minimo”, isto é, a geréneia do minimo de efetivos de trabathadores © instalagGes fisicas necessérias a determinada escala de pro- dugdo, voltada @ acender exatamente determinada quanti- dade de consumo, sem geraglo de capacidade produtiva ‘ociosa. Daf a importincia da celularizagio da produgio. js elemen- Note-se comoa coesio “sistémica’” desses tos ocorre na proporglo direta de sus melhor aplicabitidade € funcionamento como um conjunto harménico. Disso advém sua particular dificuldade em ser implementado em empresas cujos sistemas de organizagio estio fortemente arraigados no taylorismoffordismo, ou entio, em empresas cuja posigto na cadeia produtiva a que pertencem Ihes re= serva relagoes contratuais que entijecem e hierarquizam suas cestruturas produtivas incernas. FFaremos, na seglo seguinte, uma anilise acerca dos mé- todos de controle desse sistema sobre 2s atividades de ta balho nas empresas, apontando suas mais conhecidas cconseqiléncias sobre os crabalhadores af empregados. coeghe thasaino © emancieacke 1 BS 8. COACAO E CONSENTIMENTO SOB A ORGANIZAGAO FLEXiVEL Entre todas as caracteristicas arroladas na segdo anterior, € preciso notar que a implementacio dos sistemas de orga~ nizagio flexivel, em especial 6 toyotista, gerow no apenas aumento da produtividade, mas também possibilitou as ‘empresas adquitir maior flexiblidade no uso de suas insta- liagbes e no consumo da forsa de trabalho, permitindo-as, ortanto, clevar com rapidez até entio inatingivel sua dise pposigo de atendimento a demanda sem ter de aumentar para isso 0 nimero de trabalhadores ~ a0 contriro, 0 fetivo de trabalho tem sido reduzido drasticamente. Desse modo, a ampliseio do taio de ado sobre o tabs Iho, aventada como vantagem aos trabalhadores, foi seguida pelo aumento do volume € pela intensificagda dos ritmos, sem que houvesse, em contraparida, maior estabilidade no temprego, mesmo no JapZo, onde o conhecido “emprego vitelicio” nio abrangia, em meadas dos anos de 1990, mais do que 30% da populagdo operiria ativa geral, concentran- ddo-se nas grandes empresas, que demitem os tabalhadores assim contratados em conjunturas de ctise (CORIAT, 1994, p. 88) Por outro lado, o sistema toyotista de organizacio inten- siffcou o controle patronal sobre os tabalhadores nos locals de trabalho, A centralizagio de virias fungSes dentro de ppostos polivalentes trouxe facilmente & vista das geréncias 0 tuabalho defeitueso, ou entio 0 acirmulo de estoques, evi- denciando capacidade produtiva ociosa. Isso tomou poss'- vel um controle ativo sobre os trabalhadores e desenvolveu 1 chamada “gestio pelos olhos", em alguns casos aprimora- dda com a instalagdo de cartazes em cada posto de trabalho, indicando, publicamente, os niveis de produtividade a atin tgs e se 0s funcionérios t2m encontrado (e quais)dificul- dades no desenvolvimento programado do trabalho. No caso das fibricas da Tayora, 0 arranjo se completa com a disposig Ho que congregam informagdes tanto acerca de um posto {de placas luminosas em pontos da produ de trabalho, quanto de uma eélula ou grupos de células, conforme a precisig requerida, com base'na erticidade ou no valor estratégico de cada ponto ou setor para 0 fluxo pro- dutivo, Trata-se de objetos semelhantes # seméforos: se a Inz verde esté acess, significa que o fluxo de produgo corre perfeitamente; se a amarela se acende, significa que esté répido demais © podem ocorrer problemas a qualquer mo- ‘mento; acendendo-se a vermelha, houve problemas naque- les determinados pontos. Isso leva & interrupgio da produgio| em todas as céhilas € postos, mobilizando-se quase todo 0 corpo de tabalhadores na sua solugo (CORIAT, 1994, pp. 35, pp. 71-72) [A chefia passou a dispor, a todo instante, de informagoes precisas para assegurarse de que a produgio se desenrola ‘num fluxo continuo, ao mesmo tempo em que informa a todos os trabalhadores os tipos de problemas que vem afe- tundo essa continuidade, Cabe notar, entretanto, que 0 ob- jetivo da administragio nesse processo no é manter a “luz verde”. Ao contririo: é acelerar continuamente 2 produ todo 0 tempo, de forma a manter as luzes entre o vermelho © 0 amarelo, pois somente assim se evidenciam os “esto- ‘ques”, que podem ser miquinas, espaco ou trabalhadores em excesso, ot outros elementos. Por isso, dizse ter tido o “estoque”, num sentido amplo, para Ohno, o papel de ins- ‘trumento metodoldgico, pois € através dele que se analisam ‘todos os problemas relativos a tio buscada combinagio en- ‘re qualidade, produtividade e flexibilidade (CORIAT, 1994, p34), Gerou-se um sistema de “geréncia pelo estresse”. Cada lula € responsabilizada pelo cumprimento de metas estabelecidas pela geréncia, decidindo com isso como dis- allo internamente entte os mem- fordista, a idéia & fazer que cada trabalhador conhega e compreends, tanto tribuirasatividades de bros. Contrasiamente 20 sistema tayl quanto posstvel, o funcionamento dos postos e de toda a célula e, se necessério, também de outras célulss. problema, no entanto, & que 2 alocagio freqlente dos ttabalhadores polivalentes entre variadas atividades, provo- coeghe TRARALNO E twaneiraghe | 89 cates sucessivas crises de adapracio ~ pois se exigem int- ‘meras habilidades, sempre em mutagZo, Uma vez que isso (6s mantém altamente concentrados na superagio das difi- culdades, tornam-se reduzidas as chances de refletirem so- bre sua condicio social comum no ambiente de trabalho. Assim, contrariamente ao que parece, as eélulas de pro-

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