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O método
buí-la, cortar a grama, confeccionar cortinas etc. Outra escola recorre à ajuda
dos próprios alunos, elegendo alguns para desempenhar funções de inspetor,
porteiro, secretário etc. Em outra escola, alunos e pais são solicitados para cola
borar com estas tarefas, de forma menos sistemática, estabelecida e organizada
como nas duas primeiras. Na última, alguns membros da comunidade, consi
derados pela população como “marginais ou bandidos”, se tornam uma espécie
de padrinhos da escola, ajudando-a com trabalho e dinheiro.
A clientela que freqüenta as escolas é composta de grande número de
crianças pobres, que moram em favelas ao redor, e devpequeno número de crian
ças de classe média baixa, cujos pais não conseguem mais arcar com os custos de
uma escola particular. Duas das quatro escolas pesquisadas foram, há alguns anos,
consideradas escolas de elite e atendiam uma população de classe média do bairro.
Com a reestruturação do ensino, esta clientela migrou para outras escolas. Os
professores se queixam da dificuldade de se adaptar aos novos alunos.
A pesquisa coincide com várias reformas educacionais, algumas cita
das por pais, alunos e professores como incrementadoras de indisciplina esco
lar. A nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), sancio
nada em 20 de dezembro de 1996, propôs transformações, especialmente
para o ensino fundamental. Entre elas, o ano letivo passa a ter 800 horas aula,
aumentando o número de dias letivos para 200. Institui-se a obrigatoriedade
dos HTPCs, “horas de trabalho pedagógico coletivo”, reuniões pedagógicas
regulares. As escolas de ensino fundamental são separadas em dois tipos: as
que atendem aos alunos de primeira a quarta séries e as que atendem de
quinta a oitava séries. A avaliação quantitativa e pontual é substituída pela
“avaliação contínua”, em que o aluno é avaliado ao longo de todo o ano
letivo e submetido, se necessário, à recuperação paralela ou reforço fora do
horário de aula. Se o aluno não conseguir se recuperar ao longo do ano, há a
recuperação ao final do ano e, sendo insuficiente, há ainda a recuperação de
janeiro, que, segundo os professores, “aprova todo mundo”. Outro esforço
para regularizar a relação idade/série é a polêmica “progressão continuada”,
com a criação de ciclo de aprendizagem ininterrupta da primeira à quarta
série e da quinta à oitava série e de classes de aceleração, nas quais o conteú
do de um ano é ministrado em alguns meses. São criadas “salas ambiente”,
com recursos específicos para cada matéria, promovendo o deslocamento dos
alunos entre as classes, a cada mudança de aula. (Roman, 1999, p. 81, em
artigo denominado “Neoliberalismo, Política Educacional e Ideologia: as Ilu
sões da Neutralidade da Pedagogia como Técnica”, descreve algumas das
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indisciplina escolar, pois, muitas vezes, alunos, pais e professores não falam direta
mente sobre o tema, mas sobre aspectos a ele relacionados, permitindo-nos com
preender mais facetas do fenômeno, o qual, geralmente, é mais complexo do que
aparenta ser. Muitos alunos, por exemplo, quando convidados a escrever sobre
indisciplina, elaboram redações sobre necessidades que esperam ser supridas
pelas, escola, sobre sugestões para que as práticas escolares sejam mais eficientes,
sobre privações por eles sofridas no decorrer do processo educativo etc. Não
interpreto estas respostas como dificuldades de entendimento do tema, ou des
vio, mas como algo que eles precisam comunicar, que certamente está articulado
com indisciplina escolar e com outros problemas que enfrentam na escola.
Eu também participo de atividades escolares rotineiras, como HTPCs,
reuniões de pais e mestres, recreios, festas, aulas. Mais ativamente, coordenan
do ou, de forma mais reservada (como observador-participante), acompanhando
o seu desenrolar.
Além desse trabalho mais sistemático sobre o tema da indisciplina, traba
lho com escolas públicas, através do Serviço de Psicologia Escolar desde 1984,
e a indisciplina escolar tem sido uma das queixas mais freqüentes entre os
professores das escolas atendidas. Portanto, também reflito, nesse trabalho,
sobre os problemas enfrentados em outras instituições por mim atendidas nesse
período, bem como sobre o material apresentado por professores em cursos
oferecidos aos educadores da rede. Parte do material veio do trabalho realiza
do por nossos alunos de graduação, durante os estágios realizados em escolas
públicas, através das disciplinas Psicologia Escolar e Psicologia Aplicada a esco
lar, que a equipe do Serviço de Psicologia Escolar organiza e supervisiona.