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UM PERFIL DA ESCOLA PÚBLICA:

A IDEOLOGIA DA PRÁTICA PEDAGÓGICA

Lucilene Poloto1

RESUMO

Este trabalho teve como base a análise da função social da escola sob a
perspectiva da prática pedagógica como produto e produtora de uma
ideologia. Assim, o mesmo objetivou traçar um perfil da escola pública
com os alunos do Colégio Estadual Castro Alves – Ensino Médio da cidade
de Rondon, Estado do Paraná. Para alcançar o objetivo proposto buscou-
se, por meio de uma pesquisa de campo, de natureza descritiva e
qualitativa, entender como alunos, pais de alunos, professores,
pedagogos, direção e funcionários percebem a escola. Para tanto utilizou-
se um questionário que investigava qual a função da escola em suas
vidas, as dificuldades percebidas e as mudanças pretendidas, bem como,
como percebem a prática pedagógica. Tais dados possibilitaram visualizar
um perfil geral da escola, no qual teve destaque a relevância da ideologia
presente na prática pedagógica como determinante da escola que se tem.
A conclusão obtida foi a de que o professor é o principal articulador dos
resultados alcançados no processo educativo, cabendo a ele apropriar-se
das ferramentas que possibilitem a construção de uma prática pedagógica
mediadora determinante da escola que se quer.

Palavras-chave: Prática pedagógica. Perfil da escola. Função social da


escola.

ABSTRACT

This work had as base the analysis of the social function of the school
under the practical perspective of the pedagogical one as product and
producer of an ideology. Thus, the same Average Education of the city of
Rondon objectified to trace a profile of the public school with the pupils of
the State College Castro Alves -, State of Paraná. To reach the considered
objective one searched, through a research of field, descriptive nature and
qualitative, to understand as pupils, parents of pupils, professors,
pedagogos, direction and employees they perceive the school. For in such
a way a questionnaire was used that investigated which the perceived
function of the school in its lives, difficulties and the intended changes, as

1
Professora Pedagoga do Programa de
Desenvolvimento Educacional do Estado do Paraná
Universidade Estadual de Maringá – Paraná
Colégio Estadual Castro Alves – EM
Rondon – Paraná
Especialista em Metodologia e Didática de Ensino
e-mail: polotolucilene@gmail.com
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well as, as they perceive practical the pedagogical one. Such data make
possible to visualize a profile general of the school, in which it had has
detached the relevance of the pedagogical practical present ideology in as
the determinative one of the school that if has. The gotten conclusion was
of that the professor is the main articulador of the results reached in the
educative process, fitting it to assume itself of the tools that make
possible the practical construction of one pedagogical determinative
mediating of the school that if wants.

Word-key: Practical pedagogical. Profile of the school. Social function of


the school.

1 INTRODUÇÃO

Este artigo discute a função social da escola na vida dos alunos,


pais, professores e demais pessoas da escola, ao mesmo tempo que
desnuda o processo pedagógico à luz da ideologia que o rege.
Baseia-se nas teorias de estudiosos em educação que investigam e
discutem o assunto sob a ótica escolhida. FREIRE(2000) propõe que a
educação está presente em toda a sociedade e a serviço desta; SAVIANI
(2005), no bojo de sua teoria histórico-crítica, coloca como questão
central o saber; VASCONCELLOS (1994, p. 12) com sua metodologia
dialética, propõe “que nossa atenção deve estar em torno da sala de
aula”; GÓMEZ (1998), ao analisar o que acontece em sala de aula,
ressalta que o professor deve conhecer as múltiplas influências que
acontecem, pois o desafio da escola é formar o cidadão para atuar
eficazmente no cenário social; ESTEVE (1995) mostra o que tem
acontecido no interior da escola e o papel a que o professor foi reduzido,
apontando os fatores que influenciam na prática pedagógica; MOYSÉS
(1995) apresenta a competência profissional como fator de peso para a
melhoria da qualidade de ensino; FRANCIOLLI (2005) aponta os fatores
intervenientes na prática docente; ZAGURY (2006) propõe a necessidade
de estudos abrangentes sobre os problemas ligados à educação, segundo
ela é preciso mais pesquisa em educação; CAVACO (1995) destaca a
interferência do desenvolvimento biológico, dos processos estruturais
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socialmente organizados, dinâmicas institucionais e aspectos específicos


de cada pessoa no processo ensino-aprendizagem.
Diante da atual situação de crise presenciada na educação
brasileira, é preciso entender o que está acontecendo, como e porque está
acontecendo, para tanto é necessário muitos estudos e pesquisa concreta
que permitam a análise de todas as variáveis que interferem no processo
ensino-aprendizagem. Isso requer muito esforço dos envolvidos, mas
principalmente cabe aos educadores a tarefa de desvendar, entender e
divulgar as reais causas e conseqüências, traçando linhas de ações.
Existem muitos estudos e estudiosos defendendo diversas teorias, mas é
evidente que grandes problemas educacionais existem. O caminho certo a
seguir é preciso descobrir.
Assim, a partir da realidade da nossa escola de atuação, é preciso
buscar ações efetivas, voltadas para a melhoria do quadro apresentado.
Não se pode ignorar os dados obtidos tampouco negligenciar as mudanças
necessárias.
Por meio de uma pesquisa de campo, de natureza descritiva e
qualitativa, buscou-se entender como alunos, pais de alunos e
professores percebem a escola e as práticas nela exercitadas. Essa
pesquisa é efetivada com a aplicação e a tabulação de dados de um
questionário que busca investigar questões tais como a função da escola
em suas vidas, as dificuldades percebidas e as mudanças pretendidas, e
ainda, a percepção sobre a prática pedagógica.
Os dados obtidos possibilitaram visualizar um perfil geral da escola,
no qual teve destaque a relevância da ideologia presente na prática
pedagógica como determinante da escola que se tem.
A conclusão obtida foi a de que o professor é o principal articulador
dos resultados alcançados pelo processo educativo, cabendo a ele
apropriar-se das ferramentas que possibilitem a construção de uma
prática pedagógica mediadora determinante da escola que se quer.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
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Muitos estudos sobre a situação de nossas escolas têm mostrado


que são inúmeros os problemas que se apresentam no cotidiano escolar.
Muitas situações, tais como a indisciplina, a evasão, o desinteresse pelo
que é ensinado e pela escola, dificuldades de interação entre professor-
aluno, dificuldades de aprendizagem e outros tantos problemas devem ser
estudados e as possíveis soluções buscadas e/ou sugeridas.
Assim, ao definir nosso objeto de estudo que foi traçar um perfil da
escola, havia a pretensão de efetuar um levantamento de dados que
possibilitassem vislumbrar todas as escolas públicas do Estado. À medida
que se foi aplicando os questionários, procedendo a tabulação e a análise
dos dados, percebeu-se que os dados permitiam contextualizar apenas a
escola foco da aplicação da pesquisa, e somente por ela e pelos
envolvidos, dar as respostas aos questionamentos colocados.

2.1 ENTENDENDO A FUNÇÃO DA ESCOLA

Existem muitas teorias que discutem a função da educação, mais


especificamente da educação escolar. É preciso conhecê-las para elaborar
as idéias, estabelecendo conclusões que permitam direcionar a prática
pedagógica, cientes que toda prática traz no seu bojo uma ideologia. É
preciso que o entendimento do que acontece no contexto escolar
possibilite a compreensão da realidade da nossa escola, foco da pesquisa.

Primeiramente, buscando entender a função da escola e o que se


pode esperar dela, é preciso ter claro que a educação sempre esteve
presente nas sociedades, desde as mais primitivas até a atualidade, num
processo que foi assumindo diversas funções e formatos de acordo com a
realidade vivenciada em determinada época, sempre fazendo parte de um
contexto social e ainda é um continnum.

FREIRE (2000, p.67) propôs um modelo de educação considerando


que “Se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela
tampouco a sociedade muda”. Portanto, é importante a aceitação de que
a educação está presente em toda sociedade a serviço desta para a sua
preservação.
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Com a consciência de que se vive numa sociedade capitalista, que


se é fruto dessa sociedade, é preciso adquirir a clareza que ela tem
determinado a prática pedagógica, bem como, a vida dos professores, faz-
se necessário o entendimento de que toda a situação educacional
vivenciada em nossas escolas tem uma finalidade e atende a algum
interesse.

Essas colocações delineiam a realidade que se vive em educação,


uma vez que as mudanças impostas decorrem das necessidades sociais e
expressam a força do mercado econômico “mundializado”. O que se tem
é uma educação voltada para as necessidades de mercado econômico,
cujos direcionamentos visam construir indivíduos capazes de atuar e
satisfazer as necessidades desse mercado, induzidos pela crença de que
esse é o caminho para melhorar sua condição de vida e viver plenamente
a democracia, enfim há uma descaracterização do indivíduo, ele deve
pensar e fazer aquilo que interessa ao crescimento econômico.

Hoje a escola deixou de cumprir seu papel principal de educar e


formar o cidadão, está centrada no “assistencialismo”, na “maquiagem
estatística” e na “onda de privatizações”. Deve-se ter presente a
tendência de diferenciar as escolas das massas e das elites. O discurso
que justifica as mudanças induz à idéia de que as mudanças realmente se
fazem necessárias, sendo esse o único caminho viável para a democracia.
É preciso considerar os fatores alienantes presentes nos discursos e nas
políticas educacionais que vão se sucedendo na medida em que florescem
novos interesses econômicos. De acordo com SAVIANI (2002, p.2)

outro componente dessa visão ideológica é que os


conhecimentos que a população precisa dominar são mais os
do dia a dia. O importante não é estar empregado, mas ser
empregável. Ser empregável significa ter flexibilidade e
capacidade de adaptação. E você se adapta na medida em
que você convive, se relaciona. Então os conhecimentos
sistemáticos tendem a ser secundarizados. A questão que se
põe que precisa ser pensada é se isto tenderia a alterar
substantivamente o caráter da escola. Se isto é um indicador
de que a sociedade está mudando e que, com a mudança da
sociedade, a natureza da escola também está mudando.
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O entendimento do que acontece em nossas escolas, passa pelo


entendimento da ideologia presente nas idéias transmitidas e/ou
comunicadas.
SAVIANI (2005), no bojo de sua teoria Histórico-Crítica, coloca como
questão central o saber. O saber é o que deve direcionar todo o trabalho
educativo. Na escola devemos ter presente como fim a atingir a
tramsmissão-assimilação do saber sistematizado, elaborado, científico, a
cultura letrada.

Isto porque o homem não se faz homem naturalmente; ele


não nasce sabendo ser homem, vale dizer, ele não nasce
sabendo sentir, pensar, avaliar, agir. Para saber pensar e
sentir; para saber querer, agir ou avaliar é preciso aprender,
o que implica o trabalho educativo.Assim, o saber que
diretamente interessa à educação é aquele que emerge
como resultado do processo de aprendizagem, como
resultado do trabalho educativo. Entretanto, para chegar a
esse resultado a educação tem que partir, tem que tomar
como referência, como matéria-prima de sua atividade, o
saber objetivo produzido historicamente. (SAVIANI, 2005,
p.7)

2.2 O PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM

A escola como espaço que prima pela aprendizagem tem toda uma
organização, que prioriza a construção gradual de conhecimentos, isto é,
conforme as etapas vão sendo vencidas, há a complementação desses
conhecimentos. Nesse espaço destaca-se a importância do educador ter
definido sua concepção teórica, porque isto significa ter claro que
indivíduo quer formar e que metodologia vai utilizar, possuindo a clareza
da forma como o aluno se apropria do conhecimento e das possibilidades
de efetivar sua prática educativa.

Para o entendimento de como se dá o processo ensino-


aprendizagem, é preciso que todo educador conheça as teorias que se
referem ao processo de aprendizagem, para poder definir que caminhos e
quais mecanismos serão mais efetivos para atender ao aluno, sendo
evidente a necessidade de buscar nos pensadores da educação o
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embasamento teórico que o capacite a entender a problemática


educacional ora vivenciada.

Definir como se aprende é importante, porém mais importante ainda


é definir quem são nossos alunos, quais são suas condições e perspectivas
de vida e de futuro. Isso possibilita o entendimento, pelos professores, da
maioria das problemáticas presentes hoje em nossas salas de aula.

Que o ser humano é fruto da história isso é fato, mas é preciso


considerar que a história se constrói a cada dia, assim o que se vive hoje é
parte histórica da construção de vida de nossos alunos. Essa construção
não se dá ao acaso, ela é determinada pelas interações decorrentes do
sistema vigente. Por se viver numa sociedade capitalista é preciso o
entendimento de que, com a globalização mudaram-se as relações de
trabalho, ampliando-as para esferas que exigem um novo perfil de homem
e de trabalhador, sendo que a educação deve servir de instrumentalização
do homem para atender a essa demanda capitalista.

O educador, consciente dessa realidade, deve definir qual vai ser


sua prática pedagógica, quais caminhos seguir, que conhecimentos
considera importante trabalhar junto aos seus alunos. Enfim, que
diferença pretende fazer na vida deles.

VASCONCELLOS (1994, p.34, grifo do autor), com sua metodologia


dialética entende que em sala de aula “O conhecimento tem sentido
quando possibilita o compreender, o usufruir ou o transformar a
realidade”. A finalidade do conhecimento é que possa colaborar na
formação global do educando (consciência, caráter e cidadania), assim, o
educador deve ter clareza dos objetivos que pretende atingir, deve ter
convicção daquilo que pretende com o seu trabalho, deve saber o
conteúdo e saber muito bem para poder fazer as mediações que
desencadeiem em seus alunos as relações e as problematizações
necessárias à transformação da realidade social.

SAVIANI (2005, p.15), trata da apropriação do saber


elaborado/sistematizado, “a escola existe, pois, para propiciar a aquisição
dos instrumentos que possibilitam o acesso ao saber elaborado (ciência),
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bem como o próprio acesso aos rudimentos do saber”, fazendo distinção


entre pedagogia geral (noção de cultura como tudo que o homem produz)
e pedagogia escolar (ligada ao saber sistematizado), clareando as idéias
quanto ao papel da escola e em conseqüência o caminho que o educador
deve seguir:

Ora, clássico na escola é a transmissão-assimilação do saber


sistematizado. Este é o fim a atingir. É aí que cabe encontrar
a fonte natural para elaborar os métodos e as formas de
organização do conjunto das atividades da escola, isto é, do
currículo. E aqui nós podemos recuperar o conceito
abrangente de currículo: organização do conjunto das
atividades nucleares distribuídas no espaço e tempo
escolares. Um currículo é, pois, uma escola funcionando,
quer dizer, uma escola desempenhando a função que lhe é
própria. (SAVIANI, 2005, p. 18)

2.3 A REALIDADE EDUCACIONAL

É necessário considerar a inserção de todos num contexto mundial e


por esse fato não se pode ficar à margem dos acontecimentos e das
conseqüências, nem sempre positivas. A educação deveria ser beneficiada
e privilegiada com os avanços tecnológicos, porém, infelizmente não é
devidamente contemplada como deveria, afinal, mesmo considerada
prioridade pelos órgãos governamentais, continua de modo geral, obsoleta
em tecnologia e elitista, na qual os menos favorecidos lutam por uma
escola pública de maior qualidade e por um acesso à universidade mais
democrático e menos excludente.

Por estar inserido nesse contexto, os alunos observam uma situação


crítica, o que lhes provoca desestímulo e falta de perspectiva em relação
às suas vidas e ao futuro. Isso tudo, acaba por desencadear elevados
índices de repetência e evasão escolar, ou seja, o insucesso do processo
ensino-aprendizagem. Somam-se a isso outros problemas de ordem
pessoal, social e familiar que comprometem o processo ensino-
aprendizagem, uma vez que afloram na escola e no meio próximo a esta.
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Essa realidade induz e faz acreditar que em educação tudo vai mal,
que nada mais tem jeito e que não há nada para se fazer. Instala-se um
conformismo generalizado, em que o professor faz de conta que ensina e
o aluno faz de conta que aprende.

Ora, o que se pode fazer diante de tal situação? É preciso não só


teorização, pois esta desvinculada de qualquer prática não tem nem ao
menos, razão de ser. É preciso reflexão sobre o que realmente tem
acontecido em nossas escolas, nossas salas de aula, com nossos alunos e
com os professores que ali atuam. É preciso nesse momento, concordar
com FREIRE (1996, p. 22), quando diz que “ A reflexão crítica sobre a
prática se torna uma exigência da relação Teoria/Prática sem a qual a
teoria pode ir virando blábláblá e a prática, ativismo”.

É necessário ter clareza que a escola como um todo, no nosso caso


as escolas públicas, não atuam a esmo, antes são direcionadas por leis
federais e estaduais, sendo que toda a sua ação é regida pelos órgãos
competentes (Ministério da Educação e Cultura e Secretaria Estadual de
Educação). Porém, ainda o que se vê atualmente é uma escola que não
ensina, que não consegue satisfazer as orientações e exigências das
instâncias superiores, uma escola que vive atolada em tantos afazeres,
em cumprir tantos projetos, que os conteúdos acadêmicos mínimos ficam
impossibilitados de serem desenvolvidos plenamente e como seria de
direito dos alunos e de obrigação da escola enquanto instituição
educativa. MOYSÉS (1995, p. 10) evidencia isso ao afirmar que “um dos
problemas mais graves da nossa escola em todos os níveis é o baixo nível
de aproveitamento dos alunos; a aprendizagem dos conteúdos escolares é
algo que envolve os processos mentais superiores e se dá no interior de
um ser social e historicamente contextualizado”. E o sistema gestor não se
apercebe dessa realidade e continua a inundar a escola com novos
afazeres, novas teorias e exigências, destituindo-se de qualquer culpa.

Ao considerar o que já foi exposto aqui, é preciso ter como ponto de


partida a análise do que acontece em nossas salas de aula, sendo de
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suma importância as intervenções do professor. GÓMEZ (1998, p.70) nos


mostra isso:

O ensino nas sociedades contemporâneas se desenvolve em


instituições sociais especializadas para cumprir essa função.
A aprendizagem do alunos/as ocorre em grupos sociais nos
quais as relações e as trocas físicas, afetivas e intelectuais
constituem a vida do grupo e condicionam os processos de
aprendizagem. Assim para que o professor/a possa intervir e
facilitar os processos de reconstrução e transformação do
pensamento e da ação dos alunos/as deve conhecer as
múltiplas influências que, previstas ou não, acontecem na
complexa vida da aula e intervêm decisivamente no que os
estudantes aprendem e nos modos de aprender.

O que tem acontecido com nosso(s) aluno(s)? Por que tanto


desinteresse? Por que não aprendem? De quem será a culpa? São
justamente essas a grandes questões da problemática educacional, pois
as respostas a estas perguntas parecem não interessar a quem de direito
tem a responsabilidade.

Observa-se que nesse contexto tem sido mais fácil jogar a culpa no
aluno ou no professor. A escola e o professor não podem se isentar
totalmente de culpa, mas é preciso antes, entender a problemática ou
parte desta, envolvida no cotidiano escolar. Assim, é importante entender
o que acontece no interior da sala de aula.

Busca-se em VASCONCELLOS (1994, p.12) o entendimento de “que


nossa atenção deve estar em torno da sala de aula, onde todo dia o
professor tem sua prática, seleciona os conteúdos, passa posições
políticas, ideológicas, transmite e recebe afetos e valores”. A posição do
professor em sala de aula, diante do processo ensino-aprendizagem que
se instaura a todo momento, nas dinâmicas educativas estabelecidas, é
fator de análise. Pois, parodiando SACRISTÁN (1995, p.68), os professores
não produzem o conhecimento que são chamados a reproduzir, nem
determinam as estratégias práticas de sua ação.

ESTEVE (1995, p. 100) mostra o que tem acontecido no interior da


escola e a que o professor foi reduzido.
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Há um autêntico aumento das exigências que se fazem ao


professor, pedindo-lhe que assuma um número cada vez
maior de responsabilidades. No momento atual, o professor
não pode afirmar que a sua tarefa se reduz apenas ao
domínio cognitivo. Para além de saber a matéria que leciona,
pede-se ao professor que seja facilitador da aprendizagem,
pedagogo eficaz, organizador do trabalho de grupo, e que,
para além do ensino, cuide do equilíbrio psicológico e
afectivo dos alunos, da integração social e da educação
sexual, etc.; a tudo isto pode somar-se a atenção aos alunos
especiais integrado na turma.

Dito de outra forma, a prática social inevitavelmente está atrelada à


cultura e aos contextos sociais de seus personagens, como mostra
SACRISTÁN (1995, p. 66) ao afirmar que “o ensino é uma prática social
[...] reflectem a cultura e contextos sociais a que pertencem”.

ESTEVE (1995), aponta ainda outros fatores que influenciam na


prática educativa do professor e nos resultados de sua ação: aumento das
exigências em relação ao professor; inibição da responsabilidade da
família como agente de socialização; aumento das fontes de informações
alternativas; presença multicultural e multilíngüe no seio da escola;
aumento das contradições no exercício da docência; a configuração do
sistema educativo passou de um ensino para as elites para um ensino
para as massas; o apoio da sociedade mudou pais incertos quanto ao
futuro dos filhos e a extensão e massificação do ensino também não
produziu a igualdade e a promoção social esperada; caiu o status social do
professor; o avanço das ciências e a transformação das exigências sociais
requerem uma mudança profunda dos conteúdos curriculares; a
massificação do ensino e o aumento das responsabilidades dos
professores não se fizeram acompanhar de uma melhoria efetiva dos
recursos materiais e das condições de trabalho em que se exerce a
docência. Hoje em dia, o ensino de qualidade é mais fruto do voluntarismo
dos professores do que conseqüência natural de condições de trabalho
adequadas às dificuldades reais e às múltiplas tarefas educativas; as
relações entre professores e alunos tornaram-se conflituosas;
fragmentação do trabalho do professor . Os mesmos “para além das
aulas, devem desempenhar tarefas de administração, reservar tempo para
programar, avaliar, reciclar-se, orientar os alunos e atender os pais,
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organizar atividades várias, assistir a seminários e reuniões de


coordenação, de disciplina ou de ano, porventura mesmo vigiar edifícios e
materiais, recreios e cantinas.” (ESTEVE, 1995, p. 108)

É fácil chegar à definição de que a posição do professor é muito


delicada. Se por um lado lhe é imposta uma culpa pelo fracasso, pelo
insucesso do processo ensino-aprendizagem no formato que acontece em
nossas escolas, concordando com MOYSÉS (1995, p. 11), que o “professor
a quem falta quase tudo: das condições materiais de trabalho ao apoio
pedagógico; da boa formação ao reconhecimento do seu valor
profissional”.

Tudo o que acontece no contexto escolar, bem como no meio social


ao qual se insere, marca a vida de todos os indivíduos envolvidos, em
relação à prática pedagógica do professor, salientando que

o professor trabalha de forma fragmentada, perdendo a


autonomia, o conhecimento do todo e fica incapaz de
trabalhar independentemente do capital; a atomização do
trabalho pedagógico inibe as forças intelectuais do
professor, já que a produção intelectual, o conhecimento,
concentra-se a serviço do capital e confronta-se com o
trabalhador como força estranha e dominadora; a
mecanização do trabalho docente expropria o saber do
professor sobre suas ações pedagógicas, tornando-o incapaz
de pensá-lo e concebê-lo na sua totalidade; a
desqualificação docente priva-o do debate das grandes
questões sociais: salários, desemprego, guerras;
transformando o espaço escolar em espaço do silêncio, da
aceitação e do conformismo; a forma como o sistema
educacional atende às necessidades do capital, obriga o
professor a um trabalho cansativo, apático, indiferente,
condicionando-o a produzir algo que lhe permita ganhar a
vida. Quando o sistema exige mudanças de concepções, de
metodologias – e isto ocorre, quase sempre, a cada mudança
de governo – do educador exige-se a mudança de sua
prática pedagógica e o cumprimento da nova ordem
estabelecida. (FRANCIOLI, 2005, p. 47-48)

1.4 A PRÁTICA PEDAGÓGICA POSSÍVEL

Mudanças são necessárias, mas o que de fato pode ser modificado


que leve a uma ação pedagógica de sucesso? São muitas as
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variáveis envolvidas no processo educativo, no entanto a ação docente é


considerada fator determinante do que acontece dentro da sala de aula.

É preciso considerar a idéia de VASCONCELLOS (1994, p. 11) sobre a


importância do professor estar “antenado” com todas a variáveis
envolvidas no processo educativo: “conhecer como se dá o conhecimento
no processo pedagógico é ajudar a eliminar a determinação social dos
destinos dos alunos. Para o professor, é importante esse conhecimento a
fim de melhor saber como interagir com a criança, no sentido de favorecer
seu desenvolvimento e sua emancipação.”

O professor deve assumir-se enquanto educador, acreditando como


FREIRE (1996), que o ato de ensinar cria as possibilidades para a
produção ou construção de conhecimentos, sendo que na relação
docente / discente “Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende
ensina ao aprender” (FREIRE, 1996, p.23). Assim,

Sou tão melhor professor, então, quanto mais eficazmente


consiga provocar o educando no sentido de que prepare ou
refine sua curiosidade, que deve trabalhar com minha ajuda,
com vistas a que produza sua inteligência do objeto ou do
conteúdo de que falo. Na verdade, meu papel como
professor, ao ensinar o conteúdo a ou b, não é apenas o de
me esforçar para, com clareza máxima, descrever a
substantividade do conteúdo para que o aluno o fixe. Meu
papel fundamental, ao falar com clareza sobre o objeto, é
incitar o aluno a fim de que ele, com os materiais que
ofereço, produza a compreensão do objeto em lugar de
recebe-la, na íntegra, de mim [...] (FREIRE, 1996, p. 118)”

Portanto é de suma importância a percepção de que a prática não


pode ser neutra, exige sim, uma definição, uma tomada de posição, pois
tão importante quanto ensinar os conteúdos é o testemunho ético, a
coerência com os alunos.

É preciso lembrar MOYSÉS (1995, capa/verso e p.14) que busca


entender “Qual a razão de bons resultados que alguns professores obtêm
com seus alunos? O que os distingue de seus pares? Como é a sua
prática?”. A autora considera ainda que saber ensinar é “ tarefa complexa,
requer preparo e compromisso; envolvimento e responsabilidade. É algo
que se define pelo engajamento do educador com a causa democrática e
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se expressa pelo seu desejo de instrumentalizar política e tecnicamente o


seu aluno, ajudando-o a construir-se como sujeito social.” .

MOYSÉS (1995, p.14) ressalta também a competência profissional


como fator de peso para a melhoria da qualidade de ensino, sem deixar de
considerar que “é óbvio que ele, o professor, por si só, não é capaz de
transformar a realidade que extrapola a própria escola e tem suas raízes
no econômico e no sóciopolítico”.

Preocupada também com os percalços enfrentados pela educação


hoje, ZAGURY (2006, p.12-13) propõe a necessidade de estudos
abrangentes sobre os problemas ligados a educação, é preciso mais
pesquisa.

Quem não tem por hábito questionar ou investigar as


informações que recebe (origens e autores) começa a repetir
o que ouviu. Muitos dos que falam sobre Educação ( e que
por vezes nunca deram aulas, por exemplo, no Ensino
Básico) o fazem com tal segurança e até certo ar de
superioridade, que inibem os que os escutam. Em geral,
começam assim: “todos sabem que...”; “como é de
conhecimento geral”... Quem os ouve, e não está embasado,
acaba achando que é um pressuposto incontestável. E assim
se criam mitos, modas e manias em educação [...].

Propõe como pontos fundamentais para a educação a


“Continuidade nas experiências e projetos pedagógicos iniciados; [...]
Acompanhamento e avaliação sistemáticos e abrangentes de processo e
de produto [...] e Análise final dos resultados” (ZAGURY, 2006, p.13-14),
sendo que sem eles dificilmente corrigiremos os desvios, insucessos,
influências e contaminações não desejadas na escola, como seu uso
político, por exemplo.

Ainda, ZAGURY (2006, p.18 e 19) evidencia, ao questionar se a


educação brasileira não está tomando rumos equivocados, escolhendo
“estratégias ou reformas educacionais sem embasar essas escolhas na
realidade das salas de aula” que a culpa do fracasso não pode estar no
professor, deve situar-se no sistema. Vai além quando apresenta como
uma medida para evitar fracassos, “ouvir o docente”, considerando suas
colocações, fazendo-o “como rotina, com respeito profissional e levando
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em conta, de fato, o que foi dito”. É o docente que pode realmente


expressar o que acontece no interior da sala de aula e que apesar de toda
gama de dificuldades, “continuam dispostos em busca de ensinar
qualitativamente bem”.

2.5 PESQUISAS EM EDUCAÇÃO

Essa pesquisa iniciou-se com a proposição de traçar um perfil da


escola pública, investigando, junto aos vários atores da realidade da
escola, a opinião que têm desta, as mudanças pretendidas, a forma como
percebem a prática pedagógica e a função da escola em suas vidas.
Porém, obteve-se um perfil referente apenas à população envolvida na
pesquisa, já que os dados obtidos não permitem generalizações.

Considerando os resultados obtidos pelo levantamento de dados,


seguidos de uma análise embasada em estudiosos da educação deu-se o
direcionamento da intervenção na realidade da escola junto ao corpo
docente, pois o professor é que produz a prática pedagógica, cabendo-lhe
a responsabilidade pela condução de sua aula, o sucesso ou insucesso
desta depende de inúmeras variáveis, que nem sempre ele está apto para
dominar e superar, afinal é preciso que ele seja visto como um ser
humano.

Muitas pesquisas vêm acontecendo no interior das escolas tendo em


vista investigar suas rotinas e conseqüentemente estimular novas
práticas, que vão de encontro ou complementam esta.

A fim de entender o percurso profissional de cada professor numa


trajetória seqüenciada, CAVACO (1995, p. 160) desenvolveu um estudo
que destaca a interferência “tanto do desenvolvimento biológico, como
processos estruturais socialmente organizados e dinâmicas institucionais e
ainda aspectos específicos de cada pessoa.” Os resultados dos estudos
mostraram-se afirmativos, portanto o presente trabalho se entrelaça as
proposições de Cavaco.
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FRANCIOLI (2005, p. 70) buscou obter uma descrição densa sobre a


prática pedagógica de um grupo de professores, com o “objetivo de
analisar o trabalho docente, vivido no cotidiano da escola, e os fatores que
afetam, transformando esse trabalho em trabalho alienado”, revelando a
alienação vivida pelos professores em que ele, o professor, sente-se um
estranho na sua ação durante a prática vivenciada em sala de aula e
aponta ainda os maiores problemas levantados durante a sua pesquisa em
relação a uma prática pedagógica mais efetiva, tais como: a falta de
interesse dos alunos, a rotina do trabalho docente, a sobrecarga de horas-
aula, a falta de qualificação profissional, a falta de conhecimento dos
professores sobre as outras disciplinas, a que classe trabalhadora
pertence com oprofessor. Dados parecidos aparecem no presente
trabalho, obtidos da intervenção junto aos professores.

Na tentativa de mostrar que existem possibilidades de mudanças e


melhoras, MOYSÉS (1995, p. 11) realizou uma pesquisa com o objetivo de
“ verificar porque certos professores conseguem fazer com que seus
alunos compreendam aquilo que lhes está sendo transmitido. Por que
conseguem ensinar bem? Qual a razão dos bons resultados que obtém
com os alunos, a despeito do enorme fracasso que ronda a escola? O que
os distingue de seus pares? Como é a sua prática? E o seu discurso? Quais
são as representações sociais que tem sobre a educação, aprendizagem e
seus alunos?” Para entender as respostas a estas questões, faz uma
análise do desafio de saber ensinar, a ênfase na aprendizagem por
compreensão, disciplina e motivação: conquistas necessárias e o
Professor e sua representações. Sob essa perspectiva, o presente
trabalho dá continuidade ao trabalho de MOYSÉS (1995), uma vez que
propõe direcionamentos à prática pedagógica de professores.

Numa mesma linha de pensamento ZAGURY (2006, p. 19)


desenvolveu uma pesquisa buscando colher dados concretos sobre o
pensamento do professor brasileiro e propõe “ouvir o docente” sobre
todas as variáveis que interferem no ensino, educação brasileira, pois é
ele que está na sala de aula e está apto a indicar o que precisa ser
mudado e como deve ser a mudança. Buscando as causas do fracasso,
17

coloca a disciplina como uma das problemáticas. No entanto, o trabalho


ora apresentado permite observar que nada tem acontecido, nesse
sentido, no sistema educacional vigente.

Tanto os estudos já efetuados pelos estudiosos em educação,


quanto o presente trabalho levantam dados e situações que expressam a
realidade educacional brasileira, seus problemas e agravantes. Assim, é
preciso que intervenções sejam feitas e responsabilidades assumidas e
cobradas.

3 METODOLOGIA DA PESQUISA

Dentro de uma proposta de trabalho iniciada com o Programa de


Desenvolvimento Educacional (PDE), num trabalho conjunto com outras
três orientandas, pedagogas, atuantes em diferente Núcleos Regionais de
Educação do Estado do Paraná, sob a orientação da Professora
Orientadora da IES, em conjunto com duas co-orientadoras, da mesma
linha de ação, havia a pretensão/proposição de traçar um perfil das
escolas públicas do Estado do Paraná (Região Noroeste) sob a perspectiva
de alunos, pais e professores, tendo como campo de pesquisa as nossas
escolas de atuação.

A pesquisa foi realizada junto aos alunos, professores e famílias dos


alunos da minha escola de atuação, investigando qual a visão que
possuíam da escola e as perspectivas de mudanças e sobretudo buscando
identificar quais os maiores anseios da comunidade escolar em relação à
escola, ao que está sendo ofertado por ela, o que ela representa em suas
vidas, na perspectiva presente e futura qual a função que creditam à
escola. Os dados levantados permitem definir o perfil desse grupo
pesquisado e, somente em relação a ele proceder a análise e
direcionamento de ação.

As ações dizem respeito à proposta de intervenção na realidade da


escola pesquisada, em função dessa pesquisa realizada e em
18

concordância com as diretrizes do PDE. A intervenção ocorreu junto aos


professores e possibilitou um levantamento de dados que permitiu uma
análise da prática pedagógica enquanto produtora e ou reprodutora de
uma ideologia e da função social desta escola para os seus atores.

Foi realizada uma pesquisa de campo, com a aplicação de


questionários específicos. Com o objetivo de levantar dados e
informações concretas, busquei um levantamento qualitativo, utilizando
questionários de questões abertas, tais como: Qual a sua opinião sobre a
escola? O que mudaria na escola? Como é a prática pedagógica? Qual a
função da escola sem sua vida? Essas questões foram aplicadas para
cada segmento da comunidade escolar: alunos, professores e pais dos
alunos. Resultando em dados que, após tabulação e análise, permitiram
delinear um perfil da escola, apontando aspectos positivos e negativos.
O trabalho teve início com a aplicação dos questionários na primeira
semana do mês de agosto de 2007, a 03 (três) turmas do período noturno,
uma de cada série do Colégio Estadual Castro Alves – Ensino Médio,
cidade de Rondon, Estado do Paraná. O estabelecimento atende 450
alunos de 1ª a 3ª séries do Ensino Médio e tem no seu quadro funcional 21
professores, 02 pedagogas, 03 funcionários administrativos e 05
funcionários de serviços gerais.

O levantamento de dados pela aplicação dos questionários e


tabulação dos dados se deu por amostragem. Os questionários foram
aplicados aos alunos e professores no horário normal de aula e o dos pais
foi levados para casa pelos filhos.

A tabulação dos dados, aconteceu considerando todas as respostas


dadas. Sendo que o questionário era com questões abertas, foi necessário
proceder o levantamento de todas as respostas dadas para cada questão
proposta, a seguir agrupar essas respostas em categorias que
apresentavam características próximas e/ou redundantes de expressão de
idéias, o que permitiu analisar os dados quantitativamente.

A partir desses dados iniciou-se o trabalho de intervenção na escola,


numa proposta de implementação do projeto de pesquisa junto aos
19

professores, abordando o tema “A função social da escola e o processo


ensino-aprendizagem”, apresentado para fins de estudos, num caderno
pedagógico de nossa autoria, dentro do qual destacou-se a função da
escola, o processo ensino-aprendizagem, a prática pedagógica, a
realidade educacional e as possibilidades de mudanças.

Esse estudo possibilitou também aos professores a discussão acerca


de novos encaminhamentos metodológicos e pedagógicos. Procedendo
paralelamente um levantamento das possíveis dificuldades encontradas
em relação aos alunos, aos conteúdos a serem trabalhados, ao tempo de
aula, e ainda dificuldades para perceber, resgatar e implementar a função
da escola, bem como sugerir alternativas nesse sentido.

Possibilitou ainda, aos educadores, a busca de subsídios para uma


ação mais efetiva, voltada para os interesses dos alunos e suas famílias,
adotando estratégias e mecanismos de ação, com a finalidade de
melhorar a escola como um todo.

4 RESULTADOS, ANÁLISE E DISCUSSÃO DA PESQUISA

Através da aplicação de questionários de questões abertas foi


possível levantar diversas informações acerca da escola, do trabalho dos
professores, da postura dos alunos frente aos estudos e da função que
acreditam ter a escola.

Foram obtidos os seguintes dados referentes à aplicação dos


questionários e devolução dos mesmos respondidos: dos 76
questionários dos alunos, 76 foram devolvidos, dos 76 questionários dos
pais enviados apenas 24 foram devolvidos, dos 21 questionários dos
professores, 16 responderam, dos 03 questionários da equipe pedagógica
foram respondidos os 03 e dos 08 questionários dos funcionários, os 08
foram respondidos. Os questionários dos pais foram levados para casa
pelos filhos.
20

Não havia a obrigatoriedade de responder aos questionários e a


participação era voluntária. Vale salientar que nem todos os questionários
foram devolvidos como mostram os dados acima, sendo o questionário
dos pais o de menor retorno, o que reforça a idéia de que os pais dos
alunos do ensino médio se isentam da responsabilidade com os filhos.

Assim, na pretensão de uma análise dos vários pontos de vista dos


diversos segmentos escolares: alunos, pais e professores, foi dada
atenção as questões básicas e comuns a todos os questionários, para o
estabelecimento de parâmetros que permitiram uma intervenção mais
efetiva no processo ensino-aprendizagem e conseqüente melhoria da
escola, finalidade esta do PDE. Desta forma, foi investigada a opinião de
todos sobre a escola, as mudanças pretendidas, a forma como percebem
que se dá a prática pedagógica e qual a função da escola.
Considerando o foco dessa pesquisa e pela grande quantidade de
dados obtidos, foi dada prioridade à análise das questões referentes a
função da escola, a prática pedagógica e ainda, aos depoimentos dos
professores resultantes dos estudos propostos na implementação,
efetuada na escola junto aos mesmos.
Os dados colhidos nos questionários foram submetidos a uma
avaliação, selecionando os que interessavam mais de perto ao objeto de
estudo.
Em primeiro lugar fez-se uma listagem de todos os dados, que
foram agrupados por categorias de expressão de idéias. Em seguida
procedeu-se uma análise crítico-comparativo, buscando nas respostas
registradas, os elementos que se direcionavam ao objeto principal da
pesquisa, ou seja a função social da escola na perspectiva da prática
pedagógica.
Nesse contexto o objetivo do estudo foi analisar a visão de todos os
personagens da escola sobre a função da escola, definida pela ideologia
presente na prática pedagógica.
Consideram-se pertinentes as colocações de FREIRE (2000, p.67)
que “ Se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela
tampouco a sociedade muda” e de SAVIANI (2002, p.2)
21

outro componente dessa visão ideológica é que os


conhecimentos que a população precisa dominar são mais os
do dia a dia. O importante não é estar empregado, mas ser
empregável. Ser empregável significa ter flexibilidade e
capacidade de adaptação. E você se adapta na medida em
que você convive, se relaciona. Então os conhecimentos
sistemáticos tendem a ser secundarizados. A questão que se
põe que precisa ser pensada é se isto tenderia a alterar
substantivamente o caráter da escola. Se isto é um indicador
de que a sociedade está mudando e que, com a mudança da
sociedade, a natureza da escola também está mudando.

É preciso o entendimento de que a questão da mudança da


sociedade diz respeito diretamente a nossa realidade, pois em todas e por
todas instâncias há relação direta com o que acontece na nossa escola,
com os nossos professores, com nossos alunos e com suas famílias.
Ao se tentar estabelecer qual a função que atribuem à escola, foi
preciso considerar os posicionamentos observados no questionamento
sobre qual a função da escola.
Os alunos, a partir de indicações, colocam que a função da escola é
preparar para o futuro, para um futuro melhor, é ensinar, preparar para a
vida, prepará-los para ser alguém na vida, para vencer na vida, para
conseguir um bom trabalho, educar, aprimorar e enriquecer
conhecimentos. Nesse sentido pode-se elencar expressões como: “tenho
um grande sonho, me formar e ter um bom emprego, acho que está aí a
função da escola”, “fazer de nós cidadãos, homens de bem”, e finalizando
“preparar para os obstáculos futuros em nossa vida”.
Assim, ficou claro que colocam na escola suas esperanças de vida,
onde se espera a aquisição de conhecimentos que vão possibilitar a
transformação de suas vidas. SAVIANI expõe muito bem essa função
através da sua pedagogia histórico-crítica.
Isto porque o homem não se faz homem naturalmente; ele
não nasce sabendo ser homem, vale dizer, ele não nasce
sabendo sentir, pensar, avaliar, agir. Para saber pensar e
sentir; para saber querer, agir ou avaliar é preciso aprender,
o que implica o trabalho educativo. (SAVIANI, 2005, p.7)

Os pais têm pontos de vistas diversificados, mas colocam como


função da escola: ensinar, ajudar seus filhos, preparando-os para um
futuro melhor, para ter um bom emprego, alguns abordam os professores
22

e a prática pedagógica tal como, “minha filha vai as aulas mas tem notas
baixas”, “tem que ter bons professores, competentes e responsáveis, e
nessa escola é exemplo”, outros a escola “ a escola tem muitas regras,
mas tudo o quem acontece a gente sabe”, a escola tem que formar e
informar e ela tem cumprido essa função”, “ a escola tem cumprido sua
função, meu filho sabe muito mais coisas que eu”.

Todas essas colocações evidenciam a satisfação dos pais com a


escola, mesmo com algumas dificuldades, ainda acreditam na escola
como uma instituição onde o saber elaborado, sistematizado, adquire
forma e tem vez.

Assim, o saber que diretamente interessa à educação é


aquele que emerge como resultado do processo de
aprendizagem, como resultado do trabalho educativo.
Entretanto, para chegar a esse resultado a educação tem
que partir, tem que tomar como referência, como matéria-
prima de sua atividade, o saber objetivo produzido
historicamente. (SAVIANI, 2005, p.7)

Os professores, por sua vez, colocam que a função maior da escola é


ensinar, preparar para a vida, para enfrentar o mundo, para ser um
cidadão responsável. Também apontam problemas tais como, evasão,
repetência, dualidade entre ensinar para a vida e preparar para o
vestibular, alunos e professores desmotivados por longas jornadas de
trabalho, falta da presença da família no contexto escolar, desinteresse
pelos estudos e falta de perspectiva no futuro, assistencialismo imposto as
escola em detrimento do pedagógico, no entanto ressaltam os sucessos
observados: esforço em “organizar o trabalho pedagógico centrado no
aluno” e muitos ex-alunos formados e trabalhando com sucesso.

VASCONCELLOS (1994) dá suporte teórico a essas idéias, com sua


metodologia dialética entende que em sala de aula “O conhecimento tem
sentido quando possibilita o compreender, o usufruir ou o transformar
a realidade” (grifo do autor) e GÓMEZ (1998, p.70) nos mostra também
que

A aprendizagem do alunos/as ocorre em grupos sociais nos


quais as relações e as trocas físicas, afetivas e intelectuais
23

constituem a vida do grupo e condicionam os processos de


aprendizagem. Assim para que o professor/a possa intervir e
facilitar os processos de reconstrução e transformação do
pensamento e da ação dos alunos/as deve conhecer as
múltiplas influências que, previstas ou não, acontecem na
complexa vida da aula e intervêm decisivamente no que os
estudantes aprendem e nos modos de aprender.

Tais posicionamentos permitiram visualizar uma imagem da escola,


que, via de regra, parece não se diferenciar das demais. Possibilitou
ainda, perceber que os estudos realizados sobre a função da escola
situam a realidade desta escola num contexto globalizado.
No questionamento sobre a forma como percebem que se dá a
prática pedagógica, foi necessário considerar a prática pedagógica
como determinante da aprendizagem que se tem, nas quais os pontos
apontados permitiram definir o que vem ocorrendo e ainda as mudanças
necessárias.
Os alunos apontam a prática pedagógica que acontece em sala de
aula como boas, os professores “explicam bem”, “alguns professores além
de darem aula, também dão conselhos, idéias sobre as nossas
dificuldades do dia-a-dia” e “ aprende quem presta atenção”, porém
alegam que “algumas aulas poderiam ser mais dinâmicas” e “alguns nos
escutam, outros nos ignoram, tenho medo de perguntar”. Essas
considerações conduzem ao entendimento do que aponta VASCONCELLOS
(1994, p.12), “que nossa atenção deve estar em torno da sala de aula,
onde todo dia o professor tem sua prática, seleciona os conteúdos, passa
posições políticas, ideológicas, transmite e recebe afetos e valores”.
Nas colocações dos alunos ficou evidente como percebem as formas
dos professores ensinar, agir e de conduzir a aulas.
Os pais demonstram claramente que esperam da escola a
responsabilidade quanto à competência pedagógica, com depoimentos
tais como, “confio na escola, sei que utiliza somente o certo”, “ a gente
procura saber um pouco sobre o ensino, confiamos nos professores que
estão dando o melhor, um ensino de qualidade”, porém quando avaliaram
a escola apresentaram sugestões de melhorar o nível de ensino de alguns
professores. Também apresentam visão sobre a participação dos alunos “
24

pelo meu filho digo que os alunos não levam os estudos a sério”. Isso
evidenciou um descompromisso com a aprendizagem de seus filhos, que
fica a cargo da escola e dos professores toda a responsabilidade pelo que
seus filhos aprendem, transferem toda a responsabilidade da família para
a escola. ESTEVE (1995) mostrou muito bem o que vem acontecendo no
interior da escola e a que o professor vem sendo reduzido.
Esse descompromisso do pais em relação a aprendizagem de seus
filhos, como fruto de um momento atual da realidade em sociedade,
remete a SACRISTAN (1995, p.66) que afirma que “o ensino é uma prática
social [...] reflectem a cultura e contextos sociais a que pertencem”.
Os professores descrevem sua prática pedagógica, na maioria como
tradicional, porém procurando relacionar a teoria à prática, verificando as
possibilidades de aprendizagem para o planejamento de atividades. Fica
evidente por suas respostas que têm consciência do trabalho que
desenvolvem demonstrando a necessidade de mudar, Afirmativas como
“Acho que preciso melhorar muito, mas procuro fazer o melhor no sentido
de estabelecer uma prática que leve meu aluno a se sentir motivado em
aprender o que quero transmitir. Percebo que o mais importante é que
tenho consciência de que erro e quero melhorar” foram percebidas.
Destacam também que necessitam de metodologias que possam
favorecer a aprendizagem dos alunos.
As respostas dadas pelos professores permitiram vislumbrar um
quadro angustiante vivenciado, pois a eles é incutida toda a
responsabilidade pela aprendizagem dos alunos, do sucesso que obterão
na vida, cabendo ainda sanar-lhes as necessidades mais imediatistas que,
em muitos casos, assumem cunho assistencialista. Sabem que precisam
ensinar, que tem erros e que precisam melhorar, mas não conseguem,
com seus conhecimentos, achar os caminhos para mudar essa situação
vivenciada.
Muitos estudos e pesquisas acontecem, procurando evidenciar a
realidade vivenciada pelos professores que refletem diretamente na sua
prática pedagógica e nos resultados desta. ESTEVE (1995, p. 108)
apresenta que o professor
25

Para além das aulas, devem desempenhar tarefas de


administração, reservar tempo para programar, avaliar,
reciclar-se, orientar os alunos e atender os pais, organizar
atividades várias, assistir a seminários e reuniões de
coordenação, de disciplina ou de ano, porventura mesmo
vigiar edifícios e materiais, recreios e cantinas.

MOYSÉS (1995, p. 11) ressalta ainda, o “professor a quem falta


quase tudo: das condições materiais de trabalho ao apoio pedagógico; da
boa formação ao reconhecimento do seu valor profissional”

Assim, tudo o que acontece no contexto escolar, bem como no seu


meio social ao qual se insere, marca a vida desses indivíduos, em relação
à prática pedagógica do professor e vale a pena salientar que

o professor trabalha de forma fragmentada, perdendo a


autonomia, o conhecimento do todo e fica incapaz de
trabalhar independentemente do capital; a atomização do
trabalho pedagógico inibe as forças intelectuais do
professor, já que a produção intelectual, o conhecimento,
concentra-se a serviço do capital e confronta-se com o
trabalhador como força estranha e dominadora; a
mecanização do trabalho docente expropria o saber do
professor sobre suas ações pedagógicas, tornando-o incapaz
de pensá-lo e concebê-lo na sua totalidade; a
desqualificação docente priva-o do debate das grandes
questões sociais: salários, desemprego, guerras;
transformando o espaço escolar em espaço do silêncio, da
aceitação e do conformismo; a forma como o sistema
educacional atende às necessidades do capital, obriga o
professor a um trabalho cansativo, apático, indiferente,
condicionando-o a produzir algo que lhe permita ganhar a
vida. Quando o sistema exige mudanças de concepções, de
metodologias – e isto ocorre, quase sempre, a cada mudança
de governo – do educador exige-se a mudança de sua
prática pedagógica e o cumprimento da nova ordem
estabelecida. (FRANCIOLI, 2005, p. 47-48)

Mais uma vez, os resultados que foram colhidos junto aos atores da
escola indicam que o que acontece no interior desta escola é reflexo do
vem acontecendo na maioria das escolas, onde a função que assume a
escola está em relação direta ao que se espera dela, refletida na ideologia
presente no fazer pedagógico ali existente.
O resultado dessa pesquisa permitiu a análise e o confronto entre o
prescrito e o realizado e, desta forma, desvelou-se o que realmente vem
26

acontecendo em nossa escola, assim, foi proposto um aprofundamento de


estudos junto aos professores, numa proposta de implementação desse
projeto de pesquisa.
FREIRE (1996, p.22) destaca a necessidade desses estudos ao
afirmar que “a reflexão crítica sobre a prática se torna uma exigência da
relação Teoria/Prática sem a qual a teoria pode ir virando blábláblá e a
prática, ativismo”.
Assim, foi discutido com os professores temas diretamente
relacionados a sua prática pedagógica, a sua atuação em sala de aula,
buscando efetivamente uma melhoria do quadro educacional
apresentado. Essa é a idéia, melhorar nosso meio próximo, a nossa escola.

O que embasou esses estudos foi a idéia de que o professor como


principal articulador do processo ensino-aprendizagem, precisa, conforme
VASCONCELLOS (1994, p. 11) estar “antenado” com todas a variáveis
envolvidas no processo educativo: “conhecer como se dá o conhecimento
no processo pedagógico é ajudar a eliminar a determinação social dos
destinos dos alunos. Para o professor, é importante este conhecimento a
fim de melhor saber como interagir com a criança, no sentido de favorecer
seu desenvolvimento e sua emancipação.”

Conforme FREIRE (1996), o ato de ensinar cria as possibilidades para


a produção ou construção de conhecimentos e, de acordo com ZAGURY
(2006, p.12-13) existe a necessidade de estudos abrangentes sobre os
problemas ligados a educação, é preciso mais pesquisas e também sugere
como medida para evitar fracassos, “ouvir o docente”, considerando suas
colocações, fazendo-o “como rotina, com respeito profissional e levando
em conta, de fato, o que foi dito”. É o docente que pode realmente
expressar o que acontece no interior da sala de aula e que apesar de toda
gama de dificuldades, “continuam dispostos em busca de ensinar
qualitativamente bem”.
Assim, foi aprofundado o estudo com os professores sobre a função
social da escola e o processo ensino-aprendizagem, momento no qual
também foi apresentado os dados levantados com a pesquisa.
27

Os resultados dessa pesquisa causaram certa inquietude entre os


professores, pois apontaram, os problemas que requeriam soluções
urgentes, destacando a prática pedagógica de alguns professores.
Seguindo um cronograma de estudos estabelecido com os
professores, efetivou-se a implementação na escola, o que possibilitou um
levantamento de dados sobre a prática pedagógica por eles realizada,
bem como dos problemas e soluções apontados.
a) As dificuldades em relação aos alunos, aos conteúdos a serem
trabalhados, ao tempo de aula e a outras variáveis observadas:
desinteresse generalizado, sem objetivo de vida, sem empenho nas
atividades escolares, comodismo; a preocupação maior dos alunos é
passar de ano; falta de apoio e estrutura familiar; sem limites, desconhece
seus deveres e obrigações; violência contra o professor; muita burocracia
legal, com a preocupação constante de documentar o que acontece em
relação aos alunos, considerando os fatores citados; dinamicidade
histórica que traz angústia aos alunos e ao professor que não sabe o quê,
como e porque ensinar; falta de maturidade e pré-requisitos necessários
ao desenvolvimento dos conteúdos; o número de aulas é insuficiente para
trabalhar os conteúdos mínimos necessários das disciplinas; os conteúdos
previstos são ditados pelo sistema que atende aos interesses dos que
mandam, cabendo ao professor através da sua prática pedagógica,
socializá-lo aos alunos;
b) As dificuldades para perceber, resgatar e implementar a função da
escola: a função da escola não está clara nem aos professores, nem
aos pais; escola presa a burocracia como mecanismo de defesa dos
problemas sociais que estouram no interior da escola; falta de
discernimento da sociedade, principalmente dos dirigentes, sobre a
função da escola; a imposição da função do assistencialismo à escola
quando as demais instituições sociais falham; descaracterização da sua
função, quando lhe é imposta assumir a função da família; grande
burocracia que a escola tem enfrentado, se trabalha muito com
levantamento de dados, índices e apontamentos de situações, projetos
impostos pela SEED, ficando os conteúdos e os projetos reais da escola
28

relegados a segundo plano, nunca atingindo os objetivos previstos;


dificuldade de transpor teoria para a prática sem os recursos e tempo
necessários;
c) Possíveis soluções e alternativas propostas a partir dos estudos:
produzir aulas dinâmicas e criativas, tendo o professor como produtor
dessas aulas, a sala de aula como um laboratório de conhecimento, e o
aluno criando suas próprias idéias; maior envolvimento escola-família e
comunidade; “Procurar novos meios de avaliar o aluno, sem esta
preocupação com “nota”, isto me parece muito capitalista, quanto vale
o conhecimento de um aluno? 0 ou 10?”; valorização dos profissionais
da educação, principalmente dos professores; ampliação do tempo
escolar dos alunos, com ampliação de estudos efetivos, alimentação e
orientações práticas para a vida; diálogo permanente, atrelado ao
compromisso ético do profissionais da educação; trabalho conjunto de
professores e equipe pedagógica; mais espaço para estudo
direcionados ao tema; “ a reflexão sobre a ideologia que dá suporte à
minha prática docente, possibilitou que eu fizesse uma reavaliação da
metodologia, que buscasse novas estratégias motivadoras voltadas à
aprendizagem significativa”; maior disponibilidade de tempo para o
professor e maior salário possibilitando ao professor estudar, planejar,
aplicar e avaliar os resultados de sua prática pedagógica; os conteúdos
e a escola devem buscar a reflexão, deixar de ser meros reprodutores;
seleção crítica dos conteúdos; seleção e autonomia de escolha na
participação naqueles projetos que dizem respeito a realidade dos
alunos e represente ganhos significativos para estes; maior
investimento em material didático; dar oportunidades iguais de
capacitação aos professores; escola em tempo integral; enfim, buscar o
conhecimento do aluno através da troca de experiências, o bom
relacionamento com o grupo através do diálogo, as normas para a
convivência em grupo com a formulação de regras com o próprio
grupo; o trabalho com a afetividade por meio de dinâmicas, o
embasamento teórico através de pesquisas; o domínio de conteúdos
através da formação continuada; a reflexão das ações através de
29

avaliações diagnósticas, o respeito a diversidade com a aceitação do


diferente e a compreensão da singularidade dentro dessa diversidade;
Todos esses dados vem subsidiar a busca constante pelos
professores e equipe pedagógica do entendimento do que realmente vem
acontecendo com a realidade escolar. Achar culpados não é suficiente, é
necessário empenhar esforços de todos os envolvidos para melhorar o que
está aí posto.
É preciso entender como se dá a prática pedagógica e buscar nas
pesquisas realizadas, subsídios e dados complementares. Vale citar as
pesquisas de CAVACO (2005), FRANCIOLLI (2005), MOYSÉS (1995) e
ZAGURY (2006), anteriormente expressas nesse trabalho.

5 CONCLUSÃO

Esse estudo não esgota todas as possibilidades de compreensão do


objeto de pesquisa proposto. A idéia de analisar a função social da escola
sob a perspectiva da prática pedagógica como produto e produtora de
uma ideologia, foi impulsionada a princípio pela necessidade de realização
de um trabalho de pesquisa dentro do PDE, porém muito mais pela
necessidade de entender e modificar o cotidiano escolar vivenciado.
Problemas para os quais, na maioria das vezes, não temos respostas e que
tem levado educadores e alunos ao desestímulo, ao desânimo, e ao final
de um ano letivo, a um sentimento de impotência e de fracasso.
Por isto, fez-se necessário entender o que realmente acontece na
sala de aula, os pontos de vista de alunos, professores e pais. Enfim,
como tem se efetivado o processo ensino-aprendizagem.
Dessa forma, ao discutir a função social da escola na vida dos
alunos, pais, professores e demais pessoas da escola, desnuda-se o
processo pedagógico à luz da ideologia que o rege, ficam transparentes os
sucessos e os fracassos obtidos em educação junto a clientela pesquisada.
Assim, aparece o perfil dessa escola pública na qual teve destaque a
30

relevância da ideologia presente na prática pedagógica, pois vivemos em


uma sociedade capitalista, voltada para o mercado de consumo, num
mundo globalizado, onde todas as diretrizes que regem a educação estão
voltadas para o atendimento dessa ideologia.

Mudanças são necessárias, mas o que de fato pode ser modificado


que nos leve a uma ação pedagógica de sucesso? São muitas as variáveis
envolvidas no processo educativo, mas o professor e a sua ação docente
são fatores determinante do que acontece dentro da sala de aula.

Portanto, o professor é figura de destaque e determinante da ação


pedagógica efetivada em sala de aula, perpassada por uma ideologia
capitalista. Todas as variáveis apontadas indicam o professor como a mola
mestra do ensino, nesse enfoque cabe a ele tomar as rédeas do que
realmente está acontecendo no seio da escola, como determinante da
escola que se tem.

Tendo presente todas essas considerações, é preciso reflexão sobre


a ação educativa procurando delinear possíveis caminhos. Não é tarefa
fácil ser educador, mas é preciso assumir a função com responsabilidade
e respeito.

Enfim, a conclusão é que o professor é o principal articulador dos


resultados obtidos através do processo educativo, cabendo a ele
apropriar-se das ferramentas que possibilitem a construção de uma
prática pedagógica mediadora determinante da escola que se quer.

6 REFERÊNCIAS

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NÓVOA, Antonio (org.). Profissão Professor. 2ª ed.. Cidade do Porto: Porto
Editora, 1995, p. 63-92 (Coleção Ciências e Educação)..........

ESTEVE, J. M. Mudanças sociais e função docente. In: NÓVOA, A.


(org.). Profissão Professor. 2ª ed. Cidade do Porto: Porto Editora, 1995, p.
93-124 (Coleção Ciências e Educação).
31

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Estadual de Ponta Grossa, 2005 (Dissertação de Mestrado).

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libertação profissional dos professores. In: NÓVOA, A. (org.).
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Libertad; 2]

ZAGURY, T. O professor refém: para pais e professores entenderem


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2006. -

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