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PS

ICOLOGIA

MARCIELE ESTULANO

JANAINA CARDOSO AZAMBUJA

SUZEINA SABALA

INTERVENÇÕES EM CONTEXTOS EDUCACIONAIS E ESCOLARES:

Projeto de intervenção - A construção da relação interpessoal através do


círculo: teia de aranha, mandala e dança circular.

Trabalho elaborado para a disciplina de


Intervenções Psicológicas em Contextos
Escolares e Educacionais, do curso de
Graduação em Psicologia do Centro
Universitário Ritter dos Reis - Campus FAPA.

PORTO ALEGRE
Novembro 2023
Introdução
O presente trabalho foi elaborado para atender ao projeto de intervenção da
disciplina de Intervenções em contextos escolares e educacionais, além do
desenvolvimento teórico, a intervenção conta com a aplicação da prática em
ambiente escolar. As autoras propuseram a ação para uma escola estadual e em
entrevista inicial ouviram a orientadora educacional da instituição, que sugeriu
trabalhar com a turma do quinto ano com o tema referente a relacionamento
interpessoal.

Por vezes a intervenção escolar é pouco compreendida, muitos acreditam


que caracteriza-se como uma prática que irá tratar dos problemas dos alunos ou até
mesmo alunos problemas e logo após devolvê-los à sala de aula de modo que
estejam mais adequados. Essa ideia também precisa ser trabalhada no processo da
intervenção escolar, a fim de que expectativas recorrentes da prática não sigam
essa ideia de ajustamento do aluno. Para isso, o CFP traz a resolução n° 03/22
que fundamenta a prática tão requisitada do psicólogo escolar e consequentemente
da intervenção escolar. Destacamos aqui algumas tarefas descritas nesta
resolução:

a) o profissional especialista em psicologia escolar e educacional


analisa e propõe intervenções psicológicas em processos de ensino-aprendizagem,
de acordo com características de docentes, discentes, normativas e materiais
didáticos usados em instituições de ensino.

b) promove, por meio de atividades específicas, o desenvolvimento


cognitivo e afetivo de discentes, considerando as relações interpessoais no âmbito
da instituição de ensino, da família e da comunidade;

c) contribui com a promoção dos processos de aprendizagem, buscando,


juntamente com as equipes multiprofissionais, garantir o direito a inclusão de todas
as crianças e adolescentes; promovendo ações voltadas à escolarização do público-
alvo da educação especial;

d) propõe e implementa intervenções psicológicas junto às equipes de


instituições de ensino, a fim de realizar objetivos educacionais;

e) atua considerando e buscando promover a qualidade de vida da


comunidade escolar, a partir do conhecimento psicológico.
f) atua nas ações e projetos de enfrentamento dos preconceitos e da
violência na escola, orientando as equipes educacionais na promoção de ações que
auxiliem na integração família, educando, escola e nas ações necessárias à
superação de estigmas que comprometam o desempenho escolar dos educandos.

Descrição das Instalações (Ambiência)

A Escola Estadual Ensino Médio Professor Sarmento Leite, situada no bairro


Cristo Redentor, na cidade de Porto Alegre no Rio Grande do Sul, fundada em
07/09/1951, com ensino fundamental e ensino médio, possui 42 funcionários, entre
eles professores, secretária, orientadora pedagógica, direção e serviços gerais.
Atualmente atende 310 alunos, matriculados nos turnos da manhã e tarde, sendo 20
de inclusão com laudo, para atendimento em sala de recursos.

Composição da Diretiva:
Maria Cristina Fagundes da Silva – Diretora
Lourdes Maria Fernandes Beheregaray – Vice-diretora
Priscila Bravo Cabrera – Vice-diretora
Ereny Alfonsil Sincher Souza - Supervisora
Lisiane Iverze Sengik – Supervisora
Analúcia dos Santos - Orientadora

A entrada da escola é por uma porta de ferro que fica trancada e só se tem
acesso ao tocar uma campainha para a secretaria abrir, entrando nas instalações, a
direita há um corredor, iniciando com uma sala com livros pedagógicos, secretaria,
sala da vice-diretora, sala da diretora, sala da coordenação, sala da orientação e
sala de professores, ao final do corredor um banheiro com vestiário.

Voltando a entrada da escola a sua frente tem um hall e à direita um corredor


com as salas de aula e uma escada que dá acesso ao segundo piso, onde tem
mais salas de aula e salas de mídia, à esquerda do hall ficam refeitório, biblioteca e
mais salas de aula.

No centro do térreo há um grande salão com mesa de ping-pong, bancos e


cadeiras, uma mesa para leitura e livros, tem um espaço com um brechó solidário,
para trocas de roupas e sapatos, onde os alunos podem deixar roupas e pegá-las,
com o lema de “quem tem deixa e quem não tem, pode pegar”. A escola também
disponibiliza a venda de uniformes.

No final, há uma porta grande de ferro com acesso a um pátio muito grande
onde à direita tem uma quadra de vôlei e alguns brinquedos de pracinha e, à
esquerda uma quadra de futebol, a escola é bastante arborizada e muito bonita.
Ambas as quadras não são cobertas e há uma promessa de construção de uma
cancha coberta de parte do governo do estado.

Notamos que se trata de um ambiente bem cuidado e com diversos retratos e


produções dos próprios alunos nas paredes dos corredores. Achamos o espaço
bastante amplo e notamos todos os envolvidos com quem conversamos muito
acessíveis e dispostos a abrir as portas para a nossa intervenção.

CARACTERIZAÇÃO INSTITUCIONAL

A entrevista inicial foi realizada com Analúcia e Cristina, salientaram que a


escola tem como valores a solidariedade e empatia com os alunos, familiares e
funcionários, contribuindo com o aprendizado acadêmico, preza pelo
desenvolvimento biopsicossocial do aluno.

Tem hoje, um aluno com diagnóstico de Dislexia, mas não conta como
inclusão e uma aluna sem diagnóstico de deficiência intelectual que está se
alfabetizando. Ambos recebem o apoio da sala de recursos mesmo sem estarem
listados na inclusão.

Ao que se refere à programas de educação continuada para os professores,


a escola segue as prerrogativas do governo do Estado que oferece formação aos
professores, porém deve ser feita fora do seu horário de trabalho e cada
professor(a) decide por participar ou não, bem como cada professor é responsável
por sua atualização. As reuniões que acontecem na Escola são de caráter
administrativo/pedagógico com planejamentos e estudos. Embora nas reuniões a
orientadora juntamente com a direção e supervisão ofereçam ferramentas e
dinâmicas para integração e reflexão sobre algum assunto mais emergente.
Analúcia, nos contou que frequentemente precisa atender os alunos no SOE
e de como procura ouvi-los, tentando ajudá-los para que eles mesmos conversem
com seus familiares quando há necessidade de contar algo que está acontecendo.
Também relatou como o conselho de classe da escola tenta ser inclusivo com todos
os alunos e professores, faz dinâmicas para o envolvimento do grupo na atividade
do conselho de classe, sempre voltadas para a melhoria da convivência e solução
das problemáticas da escola e turmas.

Analúcia também nos acompanhou em visita à turma escolhida para a


intervenção, onde nos apresentou aos alunos e a professora Cintia, salientou a
importância de trabalharmos com os alunos, de como será um aprendizado para
nós, mas também para eles.

A turma já teve aula sobre as questões de sexualidade e lidaram bem com o


aprendizado.

A escola tem um PPP – Plano Político Pedagógico, porém está bem


desatualizado e está na lista de tarefas refazê-lo, diz que não existem diretrizes para
abordagem de algum assunto e que podemos ficar livres, pois, partindo da
informação que se trata de uma escola pública e que essa está a serviço social,
qualquer atividade que contemple a melhoria das demandas da escola e traga a
melhoria social, é bem-vinda, mas devemos cuidar com assuntos considerados de
ordem ideológica, pois estes, podem gerar conflitos.

Histórico da turma:

A turma vem andando junto desde as séries iniciais, entretanto no último ano
flutuavam entre dois extremos de professores, no quarto ano tiveram uma
professora muito enérgica, que os mantinha “na linha”, porém bastante conteudista
e que cobrava resultado e pouco trabalhava com o lúdico.

Após a saída desta professora, a que lhe substituiu era completamente o


oposto, não cobrava, tinha um discurso muito ambíguo, se dizia cansada e pedia
constantemente para mudar de escola ao mesmo tempo que falava veemente que
amava seus alunos, mandava diariamente de quatro a cinco alunos para a direção.
Atualmente estão com uma terceira professora que se mostra mais contida,
porém empática, parece estar analisando e conhecendo a turma, única ressalva que
ela pode estar internalizando problemas que poderiam ser resolvidos em conjunto
com a equipe escolar.

Principais demandas vindas da orientadora:

Analúcia sugere trabalhar com o 5º ano, serão 26 alunos, destes 02 possuem


laudo com diagnóstico psicopatológico, sendo um Deficiente intelectual e um com
autismo. Ela sugere assuntos referentes ao tema relacionamento interpessoal, diz
que eles estão bastante revoltados e agressivos, se empurram, dão tapas e
cascudos e que no entender dela seria bom trabalhar questões de respeito mútuo,
permissão para tocar o outro e bullying, as autoras pensaram no conceito “rir com o
outro é diferente de rir do outro”.

Objetivo específico

Durante quatro horas, entre 13h30 às 17h30 vamos trabalhar dinâmicas que
estimulem os aspectos coletivos e criativos da turma, iniciaremos com uma dança
circular de fácil execução como quebra gelo, após continuaremos com a atividade
da teia de aranha, com o auxílio de um barbante, a primeira pessoa a se apresentar
deve ser uma das responsáveis pela intervenção, mas antes de lançar o barbante
deve falar uma qualidade da próxima pessoa que irá se apresentar, a atividade irá
se suceder assim porém a partir da terceira pessoa, antes da apresentação também
deve falar a qualidade já dita da pessoa que lhe jogou o barbante, a atividade será
utilizada para todos se conhecer e fomentar as qualidades entre os colegas, as
idealizadoras também pensaram em construir em coletivo um mandala, foi então
que surgiu a ideia que a partir da construção da teia sairia também o formato do
mandala.

Para trabalhar a questão corpo e expressão vamos praticar a dança circular


sagrada, a construção do círculo se dará a partir de elementos que o grupo
encontrar na natureza e irão trazer para o centro da roda, utilizaremos coreografias
de fácil aprendizado.
Objetivo geral

O objetivo deste trabalho é dar início a construção, juntamente com os alunos


e a professora em uma nova forma de se relacionar, baseada no cuidado e respeito
pelo outro, por suas diferenças e seus jeitos de ser, o trabalho não se finda nesta
intervenção mas sim inicia com ela e é importante salientar que esse não pretende
resolver o problema ou a dificuldade que as crianças têm em se relacionar mas sim,
abrir no horizonte um buraquinho por onde entre a luz que pode levá-las a um lugar
menos angustiante e ansioso.

A proposta das autoras está embasada em duas dinâmicas que envolvem a


arte. A primeira trabalha com as danças circulares sagradas e a segunda com a
produção de uma mandala em conjunto, com o objetivo de promover autonomia e
discussão sobre relacionamento interpessoal. As duas dinâmicas trabalham o estar
em grupo, construir em conjunto e perceber o outro a partir da empatia e cuidado
que, em função de haver pouco tempo para a intervenção, serão realizadas na
mesma tarde.

Danças Circulares Sagradas

São danças realizadas em círculos com a intenção de estar junto. Sobre as


danças circulares sagradas existe muita informação, através de artigos e livros
produzidos no Brasil ao longo dos últimos vinte anos, as autoras procuram destacar
o que está voltado para a educação e explicar sucintamente do que se trata.

A história das danças circulares tem início na década de sessenta com


Bernhard Wosien (1908-1986), bailarino alemão que tinha como missão resgatar
para preservar as danças étnicas e folclóricas europeias, enfatizando nestas o
aspecto do estar junto, do sagrado e da cura. Essas danças chegaram no Brasil na
década de oitenta e se espalharam fortemente pelo país, no Rio Grande do Sul o
marco são os anos noventa. Na área da educação são ferramentas para trabalhar
valores éticos, sociais e a diversidade cultural (Ramires, 2013).

Sem perder de vista as trilhas do compromisso e da competência. existe


possibilidade de um fazer mais criativo na educação, reinventando o cotidiano,
comumente o adulto esquece a brincadeira, o desenho, o movimento, as cantigas e
tudo o permeia o mundo infantil, seria possível trabalhar de forma que o modelo de
educação racionalista dê espaço ao criativo (Ostetto, 2014).

A dança circular sagrada invoca um conhecimento ancestral, dar as mãos,


dançar músicas de outros povos, dançar a vida, a dor, os acontecimentos do
mundo, brincar, sorrir, a dança produz uma mudança, mudança interior e exterior, a
forma como me vejo no mundo e como vejo o mundo em mim, para tanto é
necessário se entregar, deixar-se envolver por um tempo-espaço que some dando
lugar simplesmente à presença (OStetto, 2014).

O sagrado que está dentro de nós é acessado a partir do estar em círculo, de


mãos dadas, com o propósito de trabalhar a tolerância, o respeito pelas diferenças,
ouvir as divergências e tudo isso está posto quando damos as mãos, ali não se
discutem ideias, se vê rodando uma atitude, com isso não precisa ser nomeado ou
definido, mas sentido e assim se faz o sagrado em cada um de nós (Ostetto, 2014).

A proposta do projeto é trabalhar a dança com a turma do quinto ano,


utilizando dos elementos de uma roda de dança circulares sagrada. A construção de
um centro deve ser feita a partir de elementos que os alunos encontrarão na
natureza e colocarão no centro da roda, as focalizadoras é quem irão organizar e
impulsionar os movimentos. O círculo, nele todos se enxergam, ninguém fica mais
fora ou mais dentro, todos estão equidistantes do centro e nele somos todos como
um, um único organismo composto por partes que contribuem para a harmonia. As
danças são compostas por música e coreografia.

O trabalho visa as relações interpessoais e convivência plural com essa a


atividade descontraída e terapêutica, promove a colaboração e autoestima, com
movimentos simples, propicia a solidariedade, sentimento de união e convivência
prazerosa ao grupo, de mãos dadas auxiliam os colegas e incentivam o contato
físico saudável, favorecendo a comunicação e integração.

As danças sugeridas são de fácil aprendizado, é importante lembrar que


nesta roda não tem certo e errado, tudo faz parte de um processo terapêutico em
andamento, Tzadik Katamar, O sábio e o louco (Israel), Alma (Contemporânea,
Jogos Cooperativos São Paulo), Oremã (Indígena), Em tudo o que é Belo
(Guataçara Monteiro, São Paulo).
A dança na educação

A dança aparece como trabalho proposto na BNCC (Base Nacional Comum


Curricular), a ser trabalhada tanto na educação infantil quanto no ensino
fundamental (BRASIL, 2023).

O documento da BNCC contempla a experiência do eu, o outro e o nós;


corpo, gestos e movimento. É criar com o corpo formas diversificadas de expressar
sentimento e emoções. No trabalho em relação ao movimento, aborda os aspectos
de conhecer o próprio corpo e respeitar as diferenças dos outros corpos, olhar
essas diferenças como riqueza de diversidade. Outro aspecto é relacionar
movimentos e emoções e dar referências à criança de como ela se relaciona com o
espaço ao seu redor. Permite discutir as experiências pessoais e coletivas
vivenciadas na dança, problematizando estereótipos e preconceitos (BRASIL,
2023).

A dança faz parte da linguagem corporal e da cultura corporal, a linguagem é


instrumento significativo para o desenvolvimento humano e para interação social
enquanto ser em constituição com o outro e com o mundo, temos a dança como
uma das manifestações corporais essenciais nos processos de ensino
aprendizagem, contribuindo para o desenvolvimento integral das crianças (DRAGO;
ROSSI, 2022).

Mesmo estando presente nos documentos oficiais a dança ainda não é


explorada com intencionalidade docente. Pensando desta maneira, a inquietação
dos alunos pode representar a vontade de ter um espaço de liberdade, de
experimentar, correr, se jogar no chão, vontade essa que poderia ser suprida se a
linguagem corporal fosse trabalhada em rotinas escolares (DRAGO; ROSSI, 2022).

A função social e política da escola está ligada a formação de cidadãos


conscientes e capazes de combater os mais diversos tipos de discriminação e
preconceito presentes na sociedade. Por meio da dança é possível indagar o senso
comum e notar as fragilidades da ignorância, desconstruir preconceitos. Com isso, a
dança pode contribuir para a construção do pensamento crítico, possibilitando
mudanças no mundo em que vivemos (DRAGO; ROSSI, 2022).
Mandalas

A mandala dançada é viva e após essa experiência trazer para o papel o que
foi pelo corpo, a ideia é construir uma mandala em conjunto, dessa forma será
trabalhada a questão de respeito pelas diferenças e pela construção em conjunto. O
lápis no papel também exerce a dança, o movimento da criação, conforme vão
desenhando e colorindo, as formas se fazem e nessa dança se encontra uma linda
mandala.

O objetivo das mandalas é representar o interior, para isso cada um deve


buscar dentro de si o que está vibrando naquele momento. O uno, o centro da
mandala, não recebe ordens da racionalização, ele foge da representação
intelectual e vive, contudo, dentro de todos nós, ele busca uma linguagem de
expressão do sentimento (Dahlke, 1985).

São propriedades do círculo a perfeição e a ausência de divisão, nos remete


a equilíbrio, interdependência. A construção do mandala é uma prática integradora.
O círculo é o que agrega tudo e todos, mais do que trazer as ideias a roda é chamar
para o encontro, deixar de pensar em linha reta, é abrir-se ao diálogo, ao
acolhimento da diversidade, construir símbolos e significados em conjunto com a
subjetividade de cada um resultando em uma obra múltipla. O poeta Manoel Barros
(1997) disse, “a expressão reta não sonha” (OSTETTO, 2009).

Para Jung (2001), a circulação é psicologicamente, o ato de mover-se em


círculo em torno de si mesmo, de modo que todos os lados da personalidade sejam
envolvidos, vivenciando todas as forças da natureza humana (OSTETTO, 2009).

Na sociedade onde o tecnológico predomina, o potencial criativo do ser


humano é interrompido, negado, na mesma medida que diminui a capacidade de
realizar-se do ser humano. Neste caso, o entrar na roda, dançar em círculo e
desenhar mandalas pode ser uma atividade de provocação para essa criatividade
perdida (OSTETTO, 2009).

TEIA DE ARANHA
A atividade dará início ao trabalho, será nosso quebra gelo com a turma e
meio de apresentação, ela tem por objetivo mostrar que nos relacionamos em rede
e essa união entre as pessoas contribui para quem nós somos e nos torna mais
fortes. o vínculo entre colegas, professores e equipe diretiva, também estará
presente nesse elo.

A dinâmica de apresentação junto com a escolha da qualidade do colega,


fortalece o grupo, incentiva a autoestima e releva também a relação entre eles, além
disso, ter que repetir a qualidade do colega anterior incentiva a atenção ao que o
colega fala, caso o colega tenha esquecido, poderá pedir ajuda aos colegas,
promovendo o sentimento de equipe.

As relações interpessoais, são um conjunto de mecanismos que facilitam a


comunicação e as linguagens estabelecendo laços sólidos nas relações humanas.
As relações interpessoais têm bases emocionais e psicopedagógicas e podem ser
responsáveis pelo clima positivo na escola, ou não (ANTUNES,2014).

Os membros de um grupo se influenciam reciprocamente, desenvolvem


consciência dos valores que provêm da cooperação em tarefas, da escuta aos
colegas, desenvolvendo habilidades sociais. O desenvolvimento da autoestima é
importante, pois quando o jovem tem um autoconceito negativo, isso influencia na
sua constituição de personalidade e limita as suas possibilidades de
desenvolvimento (ANTUNES, 2014).

Ciclo de Desenvolvimento

As crianças com as quais iremos desenvolver o projeto estão na faixa etária


que a literatura convencionou chamar de Adolescência, entre onze e dezenove/vinte
anos. Neste caso, em sua maioria estão entre 11 e 12 anos, nesta etapa da vida as
mudanças físicas, cognitivas, emocionais e sociais são muito grandes,
particularmente estes dois anos do início desta etapa, o início da puberdade, é
quando a sexualidade começa a despertar, é a transição da infância para a vida
adulta (Papalia & Martorell, 2022).

As alterações físicas são rápidas e causam confusão, acontecendo de forma


diferente para meninos e meninas. Os hormônios estão em produção máxima
causando grande descontrole emocional e psicológica, muitas vezes não entendem
bem porque e como lidar com tamanhas mudanças. Essas diferenças se tornam
muito evidentes à medida em que não se tem como precisar quem vai amadurecer
primeiro ou em que idade, uma vez que não tem como generalizar nem o tempo e
nem a intensidade com que cada indivíduo vive esta etapa (Papalia & Martorell,
2022).

Nesta fase as crianças ficam mais curiosas com as questões de drogas e


álcool, passam a questionar e buscar informações sobre o assunto. Piaget chama
esta fase de operatório formal, onde começam a pensar em termos abstratos,
começam a formular hipóteses e imaginar possibilidades. A medida em que seus
pensamentos se tornam mais complexos, começam a imaginar sociedades ideais e
se tornam mais egocêntricos, neste momento é muito importante que possam
experimentar debates e discussões mediadas amorosamente por adultos capazes
de lhes ensinar a ver mais de uma posição sobre os assuntos (Papalia & Martorell,
2022).

O desempenho escolar está ligado ao tipo de parentalidade, etnia, gênero,


influência dos pares, qualidade de do ensino e confiança. Esta etapa será decisiva
para formação de moral, cuidado pró-social e o abandono escolar, participar da
construção das regras e leis que giram em torno do que farão pode ser uma forma
de mantê-los engajados no processo (Papalia & Martorell, 2022).

Erikson (1968) denominou esta fase como a identidade versus a confusão de


identidade, momento no qual o adolescente está focado na resolução de três
grandes marcos, a escolha de uma ocupação, adoção de valores e a adoção de
uma identidade sexual satisfatória, para ele os adolescentes que estão construindo
sua identidade de forma satisfatória desenvolvem a virtude da fidelidade, ou seja,
lealdade constante, fé e um sentimento de integração com os amigos e pessoas que
ama. (Papalia & Martorell, 2022).

Também nesta fase, as variações de humor, estresse emocional, conflitos


familiares na tentativa de individuação, depressão e comportamento de risco são
fatores relevantes e que exigem cuidado. Normalmente o grupo passa a exercer
grande influência no indivíduo que se une a seus pares em busca de um ambiente
para conquistar autonomia e independência dos pais. As amizades tendem a tornar-
se mais recíprocas e os riscos de entrar para gangues e grupos violentos se
acentuam (Papalia & Martorell, 2022).

RELATÓRIO DA INTERVENÇÃO

No dia vinte e sete de novembro ocorreu a aplicação da Intervenção, a


chegada ocorreu por volta das 12h50 para organização do espaço e últimos
combinados entre o grupo, que foi recebido pela coordenadora pedagógica
Analúcia. Após organização do material na sala, encaminharam-se para a sala de
aula para buscar os alunos, chegando lá relembraram a visita do dia da entrevista,
alguns alunos pareciam já esperar e saber que a atividade iria ocorrer, outros se
demonstraram surpresos. Após alguns combinados com eles como, que cada um
falaria por vez, sempre ouvindo o que o colega tinha a dizer. A questão de ouvir o
colega enquanto ele fala foi algo que eles tiveram muita dificuldade em respeitar,
tendo que ser reforçado durante todo tempo da prática, muitas vezes até de forma
mais incisiva.

Ao chegar na sala ficaram bastante surpresos com a organização do espaço,


foram convidados a formar um círculo, realizou-se um exercício de respiração, que
incluía inspirar e ao expirar fazendo barulho, então deu-se início a primeira dança -
Danza de San Juan que trabalha os aspectos do elemento terra, que está ligado ao
corpo, a matéria, esse elemento busca a percepção da realidade e o que dá base e
suporte para o crescimento saudável, a dança consiste em bater o pé direito com
força no chão alinhado com o tabor na música tal de tal, trata-se de uma
dança…..ao final da dança foi solicitado que sentissem onde no corpo a dança
reverberava.

Cartas

Depois todos sentados em círculo, receberam as instruções sobre a dinâmica


da teia, todos denotaram entendimento da atividade, pois sabiam que ao receber o
barbante deveriam além de se apresentar reforçar a qualidade do colega anterior, o
que notou-se dificuldade foi realmente a má escuta entre os colegas e até mesmo
despretensão com a atividade, contudo, todos atribuíram qualidades, inclusive
muitas vezes mais de uma, houve uma menina que se emocionou ao falar da
qualidade da amiga, o que frisa a relação de base que muitos encontraram no
grupo, outra que ficou por último no exercício falou sobre os colegas não gostarem
dela, porém como tem reforçada autoestima não trouxe isso como um problema,
mas como constatação, algumas das qualidades que apareceram no grupo foi:
dedicado, criativo, companheiro, legal, etc. Muitos não conseguiam nomear a
qualidade e eram ajudados pelo grupo.

Feita a atividade foi explicada a motivação pela escolha, falado sobre a


vivência em rede e como eles possuem elos. Nesta hora eles estavam muito
dispersos, fez-se mais uma dança circular - Alma, uma dança criada pelo grupo de
formação dos Jogos Cooperativos de São Paulo e consiste num movimento mais
lateral e em ponta de pé, a música de Zélia Duncan traz a liberação da alma e
aborda entrega.

Logo em seguida foi dançado a dança Pé de Nabo, que é muito energética,


demanda interação de palmas entre os colegas, trabalhando questões de
coordenação motora, uma vez que bate uma palma, depois palmas com par, com
contra par e em seguida nas pernas uma vez em cada, é importante falar que todas
as danças eram previamente explicadas, na explicação da última dança houve uma
aluna que insistia em ficar dispersa, querendo dança funk e mostrando os passos e
movimentos deste ritmo, foi quando uma integrante do grupo a desafiou a realmente
conseguir dançar essa dança junto com os colegas e não aquela que queria, ali
surgiu uma motivação para que a aluna se concentrasse na atividade.

Houve pausa para o lanche e recreio, na volta deu-se início a construção da


mandala, ideia era a partir da teia construí-la, entretanto, de forma espontânea os
alunos iniciaram desenhos e a teia ficou por cima, mais no sentido de lembrá-los
sobre o que havia sido feito enquanto se apresentavam. Para finalizar a intervenção
foi solicitado que novamente formassem um círculo sentados no chão, devido a
dificuldade de permanecer em silêncio também foi inserida como ferramenta uma
“almofada faladora”, apenas quem estivesse em posse dela poderia falar, a ideia foi
que descrevessem como se sentiram na atividade, como experienciaram
mentalmente e corporalmente o processo da dança e o que mais achassem
importante colocar ao grupo.
A almofada foi passada em roda, quem não quisesse compartilhar ao grande
grupo apenas seguia passando a almofada. Mesmo com o uso da ferramenta houve
muitas interações paralelas, novamente precisou de uma intervenção mais incisiva
para pedir silêncio e atenção ao que o colega falava, neste momento também
surgiram temas relevantes como a importância do estudo como meio para mudar a
realidade que se vive, como precisamos nos dedicar a escola como um todo, não
apenas no que é de interesse próprio, os alunos trouxeram para a conversa pontos
relacionados a um certo pesar em deixar de ser criança, citaram que adultos na
visão deles mesmo sofrendo não choram e como os professores são
desvalorizados.

Conclusão

A aplicação das vivências, danças, construção de mandala e teia de aranha e


uso das cartas, propostas para trabalhar as questões relativas às relações
interpessoais e respeito foram atingidos seus objetivos, ao final da tarde de
atividades, as autoras juntamente com a professora orientadora fizeram uma análise
do processo e foi levantado o quanto todas estavam exauridas e o quanto é

Bibliografia

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Ostetto, Luciana Esmeralda; Danças Circulares na Formação de Professores – Florianópolis,


Santa Catarina, Editora Letras Contemporâneas - 2014

Ramires, Ana Lúcia Marques; Corpo, memórias e identidade no Grupo Redenção de Danças
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https://dialnet.unirioja.es/servlet/articulo?codigo=6238768 Acessado em 05/11/23

Andrada, Edla; Focos de intervenção em psicologia escolar, universidade federal de santa catarina,
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DIÁRIO OFICIAL DA UNIÃO, CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. Código de Ética Profissional


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crescimento integral. Petrópolis, RJ: Vozes, 2014.

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