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A Imoralidade

S.S Papa Pio XII

Discurso, mulheres católicas, 20 de fevereiro de 1942.

Não diversamente dos demais cristãos, também as pessoas dotadas


simplesmente de honestidade e de bom-senso natural se admiram e aterram à
vista da crescente maré de imoralidade que, embora estes últimos tempos já
sejam extraordinariamente graves, ainda ameaça submergir a sociedade.
Ninguém hesita em reconhecer como causa particular as publicações licenciosas
e os espetáculos desonestos, que se apresentam aos olhos e aos ouvidos dos
adolescentes e dos homens maduros, dos jovens e dos velhos, das mães e das
crianças. Que dizer então da arte, da moda, dos costumes públicos e privados,
masculinos e femininos? Difícil crer a que grau de corrupção moral não
titubearam em descer determinados autores, editores, artistas, empreendedores
e divulgadores de semelhantes obras literárias e dramáticas, artísticas e cênicas,
convertendo o uso da pena e da arte, do progresso industrial e das admiráveis
invenções modernas em meios, armas e lisonjas para a imoralidade. Escritos e
obras, indignos da honra das letras e das artes, encontram leitores e
espectadores aos milhares. E vós vêdes adolescentes atirarem-se a tal alimento,
para a mente e para os olhos, com toda a fúria das paixões que se acordam,
vêdes progenitores levarem e conduzirem consigo, a tão tristes cenas, meninos e
meninas, em cujos tenros corações e em cujas pupilas se imprimem assim, em
troca de inocentes e santas visões, fatais imagens e ânsias, que muitas vezes não
mais se desvanecerão.

Que se deve portanto pensar que a natureza humana seja universal e


profundamente depravada e que sua avidez de escândalos seja irremediável?
Não, no coração humano Deus colocou por fundamento a bondade, à qual
porém Satanás e a não refreada concupiscência armam ciladas. Salvo uma
pequena minoria, o povo não procuraria espontaneamente, menos ainda
pediria, divertimentos malsãos, se não fossem oferecidos, apresentados e, por
vezes, quase impostos de surpresa. Por isto, se "contro miglior voler, voler mal
pugna", é de extraordinária importância entrar na liça para a defesa da moral
pública e social. Não é um combate de armas materiais e de sangue derramado
mas um conflito de pensamentos e de sentimentos, entre o bem e o mal.
Convém que todos aqueles que são bons (e já são muitos), enderecem seus
esforços e coloquem todo seu talento para criar, promover uma literatura, um
teatro, um cinema, que sejam educativos, sãos de conceitos e de costumes, e ao
mesmo tempo interessantes e atraentes, verdadeiras obras artísticas. Não
podemos suficientemente louvar e animar os beneméritos intelectos que a esta
empresa se dedicam; são quais apóstolos do bem. É porém evidente que tal
carga de apostolado não é para todos os ombros.

Não haveria para os outros algo que lhes conviesse? Podem eles acalentarem a
esperança de que a atração das boas e belas obras será universalmente capaz de
fazer nascer e difundir invencível desgosto e repúdio por todas as torpezas?
Sobre isto ninguém é tão ingênuo que se iluda. E, então, encontram-se
porventura desarmadas as pessoas de bem, diante dos mais desfrutadores da
imprensa, da tela e do humorismo? Isto seria injusto afirmar, e tal injustiça
manifestar-se-ia logo a quem quer que conhece e considera atentamente a
louvável legislação que honra o País. Aos cidadãos respeitáveis, aos pais de
família, aos educadores, está aberto o caminho para assegurar a aplicação e
eficaz sanção daqueles leis providenciais, levando à autoridade civil, de modo
devido, as denúncias baseadas sobre o fato, exata nas referências e quanto às
pessoas, coisas e palavras, a fim de que tudo o que de reprovável fosse
apresentado ao público seja reprimido ou impedido.

O trabalho, não o dissimulamos, é imenso e variado; porque imenso, oferece


vasto campo para todos os de boa vontade; porque variado, é passível de todas
as atitudes. Sua amplidão, porém, se de uma parte possui algo que causa medo e
desencoraja os pusilânimes, de outra parte, no entretanto, serve para inflamar
sempre mais o ardor das almas generosas.

Discurso, mulheres da Ação Católica, 24 de julho de 1949.

Examinemos agora mais de perto nosso argumento, porque muito ainda


permanece por ser feito, e a Igreja, de sua parte, muito espera de nós.

Sempre mais altas e penetrantes ressoam, do solo europeu e de além-mares, os


gritos, as vozes de socorro pela infeliz condição das famílias e das gerações de
jovens. Que a guerra seja a principal culpada, parece não padecer dúvidas. É
responsável sobretudo pela violenta e funesta separação de milhões de cônjuges
e de famílias, e pela destruição de inumeráveis habitações.

Mas é igualmente certo que a verdadeira e própria razão de tão grande mal é
ainda mais profunda. Deve ser procurada naquilo que com um termo geral se
chama materialismo, na negação ou ao menos no descaso e no desprezo de tudo
o que é religião, cristianismo, submissão a Deus e a sua lei, vida futura e
eternidade. Como um hálito pestífero, o materialismo invade sempre mais todo
o ser e produz maléficos frutos no matrimônio, na família e nos jovens.

É, pode-se afirmar, unânime o juízo de que a moralidade dos jovens está em


contínua decadência. E não somente isto acontece com a juventude da cidade.
Também na do campo, onde outrora floriam sãos e robustos costumes, a
degradação moral não se torna inferior, porque muito daquilo que na cidade
leva ao luxo e ao prazer, obteve igualmente entrada franca nas vilas.

É supérfluo recordar quanto o rádio e o cinema foram usados e abusados para a


difusão daquele materialismo, e do mesmo modo: o mau livro, a licenciosa
revista ilustrada, o espetáculo impudico, o baile imoral, a imodéstia das praias
contribuíram para aumentar a superficialidade, o mundanismo, a sensualidade
da juventude.

Os relatórios que provêm de diversas regiões, assinalam tais fatores como causa
do abandono moral e religioso dos jovens. É porém responsável, em primeiro
lugar, a desagregação do matrimônio, cuja funesta consequência e cujo índice é
o abaixamento moral da juventude.

Discurso aos Cineastas, E.U.A., 14 de julho de 1945

Pergunta-se, por vezes, se os dirigentes das indústrias cinematográficas avaliam


exatamente o vasto poder que possuem de influenciar na vida social, quer no
recesso da família, quer em mais amplos grupos civis.

Os olhos e os ouvidos são como amplas vias, que levam diretamente à alma do
homem e estão abertas, o mais das vezes sem obstáculos, pelos espectadores dos
vossos filmes. Que é que passa da tela para os recônditos da mente onde se
desenvolve o fundo dos conhecimentos e se plasmam e afinam as normas e os
motivos da conduta, que formarão o caráter definitivo dos jovens?

É algo que contribuirá para nos dar um cidadão melhor, trabalhador,


observante da lei, temente a Deus o que o faz encontrar suas alegrias e recreio
nas telas e nos divertimentos?

São Paulo citou Menandro, antigo poeta grego, quando escreveu aos fiéis de sua
Igreja em Corinto que"a péssima conversa corrompe os bons costumes". Isso,
que então foi verdade, não deixa de hoje também ser verdade, porque a natureza
humana muda pouco com os séculos. E se é verdade, como o é realmente, que a
má conversa corrompe a moral, quanto mais eficazmente não será esta
corrompida pela má conversa acompanhada pela conduta, vivamente projetada,
que contradiz as leis de Deus e da decência civil? Oh, imenso é o bem que o
cinema pode fazer! Eis porque os espíritos maléficos, sempre ativos neste
mundo, desejam perverter este instrumento para seus ímpios escopos; é
encorajante saber que o vosso Comitê está consciente do perigo e torna-se
sempre mais consciente de suas graves responsabilidades diante da sociedade e
de Deus.

Cabe à opinião pública sustentar de todo o coração e efetivar todo esforço


legítimo executado por homens de integridade e honra para purificar os filmes e
mantê-los limpos, para melhorá-los e aumentar-lhes as utilidades.
Discurso, Juventude da Ação Católica, 6 de outubro de 1940.

Moda e modéstia deveriam caminhar juntas como duas irmãs, porque ambos os
vocábulos têm a mesma etimologia; do latim "modus", quer dizer, a reta
medida, além e aquém da qual não se pode encontrar o justo. Mas a modéstia
não é mais moda! Semelhantes àqueles pobres alienados que, tendo perdido o
instinto da conservação e a noção do perigo, se atiram no fogo ou nos rios, não
poucas almas femininas, esquecidas por ambiciosa vaidade, da modéstia cristã,
vão miseravelmente ao encontro de perigos onde sua pureza pode encontrar a
morte. Sofrem a tirania da moda, até a da moda imodesta, de sorte que parecem
não suspeitar mais, nem mesmo da inconveniência; perderam o próprio
conceito do perigo, o instinto da modéstia.

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