CONVENÇÃO DE VIENA SOBRE CONTRATOS DE COMPRA E VENDA
INTERNACIONAL DE MERCADORIAS
A Convenção de Viena sobre Contratos de Compra e Venda
Internacional de Mercadorias é a responsável por regulamentar a formação dos contratos de compra e venda internacional de mercadorias.
Elaborada e concluída em 11 de abril de 1980 durante a Conferência das
Nações Unidas sobre Contratos de Compra e Venda Internacional de Mercadorias, a Convenção entrou em vigor em 1º de janeiro de 1988. Apesar de ter participado da Conferência no ano 1980, o governo brasileiro apenas iniciou o procedimento para sua ratificação recentemente, com a aprovação pelo Conselho de Ministros da Câmara de Comércio Exterior.
A Convenção trata da formação dos contratos de compra e venda
internacional de mercadorias, determina as obrigações do vendedor e comprador, originárias do contrato, bem como estabelece medidas em caso de perdas e danos por violação contratual e outras formas de descumprimento. Analisando os dispositivos de forma integrada, observa-se a tentativa de dar maior liberdade jurídica às partes envolvidas no contrato, com grande respaldo nos princípios de transparência e boa-fé, evitando, ao máximo, disputas através do sistema judiciário, prevendo formas alternativas para a prevenção e solução de conflitos entre as partes.
A aplicação da Convenção se dá quando ambas as partes que celebram
o contrato de compra e venda tenham estabelecimento em Estados diferentes e contratantes da Convenção, ou quando o Direito Internacional Privado determina a aplicação da legislação nacional de um Estado contratante, ainda que a outra parte tenha estabelecimento em Estado não-contratante. Nesta última situação, por exemplo, uma empresa com estabelecimento no Brasil (Estado não-contratante) estará sujeita à aplicação da Convenção caso celebre contrato proposto por uma empresa estabelecida na Argentina (Estado contratante da Convenção), já que o artigo 9° da Lei de Introdução ao Código Civil (LICC) determina que seja aplicável a lei do país em que se constituiu a obrigação. No entanto, o princípio da autonomia da vontade das partes presente na Convenção permite a exclusão de sua própria aplicação por meio da escolha de aplicação da legislação doméstica de países contratantes ou não- contratantes. Há também a possibilidade de exclusão parcial da aplicação da Convenção através da exclusão de dispositivos específicos, e da derrogação ou modificação dos seus efeitos.
Outro aspecto importante da Convenção pode ser observado nas
previsões sobre as fontes de interpretação, que dá ênfase ao seu caráter internacional, e à necessidade de promover uniformidade na sua aplicação. Os princípios gerais que inspiram a Convenção devem ser sempre observados, e na falta dos mesmos, serão observados os princípios pertinentes à lei aplicável em decorrência das regras de conexão do Direito Internacional Privado. Importante ressaltar o destaque dado à boa-fé das partes, que é analisada de forma objetiva.
Com relação às obrigações das partes, salvo o que for expressamente
estabelecido ou uma prática tacitamente aceita, serão regidas pelos dispositivos da Convenção, a qual também prevê em detalhes os termos de transferência de riscos. Muitas vezes tais termos de obrigações e riscos são expressos no texto do próprio contrato. A falta de detalhamento nos termos de compra e venda poderá ser sanada pelas determinações da Convenção.
As condições de formação do contrato, as principais definições e os
prazos também são parte do conteúdo da Convenção e auxiliam na transparência e previsibilidade das partes quando da sua celebração.
Havendo violação ou resolução contratual, conforme suas respectivas
obrigações e direitos, as partes poderão demandar ressarcimento por perdas e danos. É importante observar que no caso de resolução por violação de contrato prevista na Convenção é possível a fixação de prazo suplementar ao devedor e de procedimento alternativo extrajudicial. Ademais, há prazo máximo de dois anos para que o comprador reivindique problemas com a qualidade ou quantidade da mercadoria. Os critérios para o cálculo e definição do valor indenizatório são bem delimitados (Artigos 74 a 77 da Convenção). Não obstante as obrigações contratuais das partes, é previsto dispositivo que garante a conservação das mercadorias em determinadas circunstâncias. Muitas vezes as mercadorias são abandonadas por uma das partes em razão do suposto descumprimento contratual pela outra parte, por exemplo. Para evitar a deterioração das mercadorias, em separado das obrigações contratuais, a Convenção estipula as responsabilidades quanto à conservação das mercadorias, que será em geral da parte que detém a sua posse, prevendo ressarcimento pela outra parte conforme o caso.
Embora admita a utilização dos meios judiciais, a Convenção estimula
os métodos alternativos de solução de conflitos, prevendo formas de conciliação diretamente entre os contratantes. Ademais, em outros dispositivos as partes e os árbitros encontram preceitos pormenorizados que, afastando o subjetivismo, servem para agilizar a solução do conflito e primam pela fluidez dos negócios internacionais. Outro indicativo da liberdade jurídica das partes é a permissão às partes para acordar por excluir a aplicação total ou parcial da Convenção, e para disciplinar a modificação ou resolução do contrato de acordo com sua vontade.