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Um Novo Paradigma.
Resumo:
Uma questão relevante, para o controle gerencial em entidades da administração pública, é a possibilidade de se
estabelecer uma medida de resultado, que seja capaz de traduzir a performance dos gestores no cotidiano de alocarem
recursos escassos. A literatura, aqui discutida, enfoca pelo menos duas características importantes para a definição de
indicadores de performance em entidades hospitalares: a multidimensionalidade, que evidencia o potencial informativo
do indicador em demonstrar várias dimensões relevantes de um processo e, ao mesmo tempo, ser uma medida única, que
seja de fácil leitura e interpretação. A Constituição Federal e a Lei de Responsabilidade Fiscal, por outro lado,
introduzem uma perspectiva de avaliação, da gestão pública brasileira, baseada em um escopo muito mais amplo e
profundo do que o praticado nos sistemas de contabilidade governamental, insculpindo uma idéia de avaliação baseada
em resultados. No contexto da atuação dos hospitais públicos brasileiros, cerca de 5.884 unidades, agora mais
intensamente submetidos à necessidade de otimizarem o uso de seus recursos escassos, é fundamental uma abordagem de
contabilidade pública gerencial que concretize os procedimentos necessários para a definição de uma medida
multidimensional do resultado econômico, de forma que o nível de eficácia seja conhecido e monitorado. Tal paradigma
de contabilidade pública gerencial, como discutido e apresentado nessas reflexões, considera uma visão de modelo de
identificação, acumulação, mensuração, informação e processamento, que orienta o modelo decisório dos vários gestores
das unidades internas de hospitais públicos, suficiente para a definição de uma medida de resultado econômico,
fundamental para fomentar a coordenação do trabalho em organizações complexas, a exemplo dos hospitais
públicos.Tudo se traduz pela possibilidade de aplicação de uma estrutura conceitual que propõe uma nova abordagem
para mensuração dos ativos, receitas, despesas e custos, no âmbito de entidades hospitalares da administração pública.
RESUMO
1. Apresentação
A rede brasileira de hospitais é formada por 5.884 unidades distribuídas nas quatro
macrorregiões do país, de forma que a região norte conta com 475 hospitais; a região
nordeste com 1.943 hospitais; a região sudeste com 1.694 hospitais; a região sul com 1.118
e a região centro-oeste com 654 unidades hospitalares. Essa estrutura aplicou recursos,
oriundos do atendimento SUS para o ano de 1998, da ordem de R$ 3.809.273.656,28
correspondentes a 12.254.008 AIHs. Os hospitais estão constituídos, quanto à natureza
jurídica, em entidades filantrópicas sem tributação; entidades filantrópicas submetidas à
tributação do imposto de renda; entidades privadas submetidas à tributação e hospitais
públicos federais, estaduais e municipais. Desse universo, pelo menos 30% são hospitais
públicos o que corresponde a 1.831 unidades, sendo: 288 na região norte; 877 na região
nordeste; 330 na região sudeste; 143 na região sul e 193 na região centro-oeste. (Marinho,
Moreno e Cavalini, 2001).
A presença marcante dos hospitais públicos, especialmente nas regiões norte e
nordeste, as mais carentes do ponto de vista econômico e social, insere uma outra variável
de análise particularmente relevante. Trata-se da vocação desses hospitais, na medida em
que se organizam para prover atendimentos e procedimentos médicos de média e alta
complexidade, além de suprirem parcela muito significativa do ensino e da pesquisa na
área de saúde.
Nesse sentido cobra-se, dos hospitais públicos, uma atuação dinâmica e indutora,
especialmente daqueles vinculados aos centros de ensino e pesquisa, no sentido de se
constituírem como benchmarking, tanto no atendimento quanto na geração de novos
saberes para a área de saúde; mas, principalmente, cobra-se uma postura clara e definitiva
em torno do processo de accountability, precisamente por serem públicos.
Do ponto de vista de cada entidade hospitalar da administração pública, que obtém
seus recursos financeiros fundamentalmente de atendimentos para o SUS, existe um desafio
gerencial permanente: conciliar um fluxo de gastos, formado por itens como medicamentos,
equipamentos médicos, gases medicinais, contratos de manutenção, energia elétrica,
combustíveis, água, telefone, e outros; com um fluxo de receitas cuja origem é a tabela de
preços de procedimentos mantida pelo SUS. Na verdade existe sempre uma discussão entre
os operadores (hospitais) e os gestores do SUS, no que diz respeito às correções de preços
dos procedimentos, envolvendo a necessidade de preservação do equilíbrio financeiro dos
contratos, o que envolve, também, os hospitais públicos.
Por outro lado, as entidades da administração pública, incluindo os hospitais, estão
no centro de uma outra discussão, em linha com o ponto enfocado no parágrafo anterior,
que é a chamada administração pública gerencial. (Pereira, 1998).
Nessa visão, na medida em que se supera a fase da administração pública
burocrática, sob a égide dos embates em torno do Estado mínimo ou máximo e da crise de
financiamento para atender demandas sociais crescentes, (re)surgem os conceitos de
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3. Metodologia
4. Justificativas
5. Revisão da Literatura
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descentralização dos serviços de saúde, quanto pela busca da sociedade por serviços de
melhor qualidade, o que tem impactado na concepção de modelos de mensuração da
performance e resultados nessas entidades e, em especial, nas entidades públicas.
Ocorre que uma entidade hospitalar da administração pública se organiza sob uma
estrutura interna onde os médicos detêm autonomia considerável, no que diz respeito a
execução de procedimentos que têm impacto nos recursos disponíveis.
Essa possibilidade, em um cenário de recursos escassos, poderá acarretar, caso não
ocorra coordenação adequada, ineficiências e perda de qualidade nos serviços prestados.
É nesse sentido que apontam Marinho e Façanha (2000:340), quando mencionam os
problemas informacionais e de agenciamento (agency) e o desalinhamento de objetivos
entre os superiores hierárquicos (principal) e os agentes (agents), ao nível do sistema, além
das questões envolvendo os modelos de custeio, como prováveis razões para baixos níveis
de eficiência nos hospitais universitários da administração pública federal.
Pensa-se, portanto, em um sistema de informações gerenciais de base contábil que
seja capaz de propiciar a coordenação das ações das diversas unidades de saúde, de apoio à
saúde, além daquelas de apoio administrativo, de forma que se preserve as autonomias
individuais, de cada especialidade e, ao mesmo tempo, se atinja níveis de eficácia,
eficiência e qualidade sempre crescentes para o hospital como um todo.
PROCESSO FÍSICO-OPERACIONAL
EVENTOS, TRANSAÇÕES, ÁREAS, ENTIDADE
RECEITAS OPERACIONAIS
(-) Custos/Despesas diretos
(=) Margem Operacional
(+) Receitas Financeiras
(-) Despesas Financeiras
(=) Margem de Contribuição Financeira
(-) Custos/Despesas Fixos Identificados
(=) Resultado Econômico
Cada área tem seu próprio algoritmo, que traduz o como fazer do setor. Na
estruturação do sistema de contabilidade gerencial, para apuração do resultado econômico,
considera-se a forma como os recursos se deslocam, traduzidos em mapas de apuração e
registros. Ressalte-se, também, que tanto as receitas como os gastos (custos e despesas),
seriam acumulados nos vários níveis, definidos pelas entidades de acumulação, sem a
necessidade de atribuições arbitrárias, rateios ou direcionadores. Pensa-se, portanto, no
custeamento direto para o suporte e tratamento dos custos em cada nível de acumulação.
Infere-se, portanto, uma visão de contabilidade gerencial suportada nas seguintes
premissas:
1) O modelo deve operacionalizar um sistema de informações gerenciais de base contábil,
a partir do ambiente de processamento eletrônico de dados disponível na entidade, de
forma que a idéia de accountability se concretize sob os auspícios da veracidade e
integridade informacional;
2) O modelo gerencial, assim estruturado, deve estar logicamente conectado com um
ambiente de planejamento estratégico e operacional, onde a missão institucional, bem
como os modelos de gestão e decisão, atribuem caráter de efetividade aos resultados
econômicos apurados;
3) As equipes das unidades internas, juntamente com seus gestores, são responsáveis por
decisões que geram impacto de movimentação de recursos, ao nível de suas unidades,
dado o caráter vinculador da especialidade, que cobra autonomia na definição de
procedimentos e implementação de soluções;
4) Os vários resultados apurados, fruto das decisões efetivadas ao nível das unidades
funcionais, traduzem, quando somados, o nível de resultado do hospital como um todo;
5) Os gestores das unidades funcionais, considerando estarem imersos em uma realidade
de alocação sistemática de recursos escassos, necessitam de informações sobre os
resultados econômicos de suas áreas, de forma que os recursos disponíveis tenham sua
utilização otimizada;
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CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO
DEFINIÇÃO DA MISSÃO E OBJETIVOS ORGANIZACIONAIS
CR NUTRIÇÃO
CR – CENTRO DE RESULTADO
Considerando que a base fundamental para a mensuração dos ativos, sempre que
possível, dadas as características específicas dos vários equipamentos e móveis existentes
em uma entidade hospitalar, é o valor presente do fluxo de benefícios futuros, a simulação
seguinte considerará tais aspectos no CR Laboratório.
Ativo Permanente
Investimentos
Equipamento Cobas Mirapus 12.491,63
Receita Econômica 12.491,63
Pela incorporação do ativo
Custo de Aquisição 2.500,00
Receita Econômica (CR Almox) 2.500,00
Despesas com Manutenção 1.702,63
Provisão com Manutenção 1.702,63
EVIDENCIAÇÃO NO ATIVO DO CR LABORATÓRIO
Ativo
Permanente
Investimentos
Equip Cobas Mirapus 12.491,63
(-) Prov. Manutenção (1.702,63)
DEMONSTRAÇÃO DO RESULTADO ECONÔMICO
Receita Econômica 12.491,63
(-) Despesas Operacionais
Custo de aquisição (2.500,00)
Despesas com Manutenção (1.702,63)
(=) Resultado Operacional 9.220,00
(-) Gastos Identificados (7.569,00)
(=) Resultado Econômico 720,00
Essa perspectiva de tratamento dos ativos, receitas, despesas e custos, ao nível das
unidades internas de um hospital público, permite a visualização de um verdadeiro mercado
interno, de bens e serviços, incentivando a busca sistemática por níveis de eficácia
melhores, em benefício do usuário/cliente/cidadão. O resultado econômico apurado no CR
Laboratório, no valor de R$ 720,00, representa um benefício efetivo, que os clientes
obtiveram ao utilizarem os serviços do CR, na medida em que deixaram de desembolsar
aquele valor (realizaram uma economia), porque utilizaram o CR Laboratório que opera
com gastos que permitem, face o custo de oportunidade definido nos preços dos exames, a
efetivação daquele resultado econômico no setor. Isto é, caso os usuários buscassem a
realização dos exames no mercado pelo menor preço à vista, deveriam desembolsar R$
12.491,63. No entanto, ao utilizarem o CR Laboratório, desembolsaram o valor de R$
11.771,63, restando uma economia de R$ 720,00.
O Quadro 8 abaixo demonstra os níveis de acumulação de receitas e gastos para os
10 CRs considerados, permitindo uma visualização mais clara do mercado interno
mencionado.
Quadro 8-Níveis de acumulação nos CRs
7. Conclusões
8. Referências bibliográficas
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