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ALÉM DO

VEGETARIANISM
por Purushatraya Swami

Dedicado a:
Sua Divina Graça A.C. Bhaktivedanta
Swami Prabhupada
Acarya-Fundador da ISKCON e BBT

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Sumário
Capa
Sumário
Além do
Capítulo 1 ·
Vegetarianismo
Que mal há em
Capítulo 2 ·
matar os animais?
Capítulo 3 · Proteção das Vacas
Autor

3
Obras de Sua Santidade
Purushatraya Swami
Sanidade Espiritual - Reflexões do Aqui e do Porvir
O Monge e o Aposentado - Reencontro de Dois Amigos de
Infância

Disponíveis em:
sankirtana.com.br

4
A Sociedade Internacional para a
Consciência de Krishna (ISKCON) convida
os interessados no assunto a se
corresponderem ou visitarem um Templo,
Comunidade ou Centro de Estudos.

Acesse:
iskcon.com.br

Belo Horizonte Mandir


Rua Ametista, 212, Bairro Prado
Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil
Fone: +55 (31) 3337-7645
harekrishnabh.com.br

Instituto Jaladuta
Rua Dr. Abdias da Silva Campos, 122, Novo
Bodocongó
Campina Grande, Paraíba, Brasil
Fone: +55 (83) 3333-7044
institutojaladuta.com

Goura Vrindávana
Rodovia Rio-Santos, BR 101, KM 562,

5
Graúna
Paraty, Rio de Janeiro, Brasil
goura.com.br

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Direitos Autorais 2006
Autor: Purushatraya Swami
Organizador: Sankirtana Dasa

ISBN
Primeira edição e-book: Novembro de 2017
versão 1.0 - 15.11.17
Estamos aproveitando bem o fato de termos adotado uma
dieta karma-free? Estamos aperfeiçoando nosso
vegetarianismo? Estará nosso vegetarianismo contribuindo
realmente para nossa saúde? Estamos, realmente, dando um
exemplo do melhor que o vegetarianismo pode apresentar?
Nosso vegetarianismo resume-se somente em evitar comer
carne? Abster-se de alimentos de origem animal é muito
positivo, mas será o auge? Os tipos mais comuns são o ovo-
lactovegetariano (não utiliza carne, mas ingere leite e
derivados e ovos), o lactovegetariano (apenas leite e
derivados), o vegetariano estrito (não come nenhum alimento
de origem animal) e o vegano (vegetariano estrito que
também não utiliza nenhum produto, seja roupas ou
cosméticos, que tenham na sua composição animal ou que
foram testados em animais).

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Capítulo 1
ALÉM DO
VEGETARIANISM
Pioneirismo

O movimento Hare Krishna sempre


esteve na vanguarda do
vegetarianismo. Os devotos têm uma
grande parcela do mérito na expansão
do vegetarianismo pelo mundo. No
Brasil, os pioneiros do
vegetarianismo foram basicamente os
adventistas, a macrobiótica e o
movimento Hare Krishna. Os
adventistas tiveram seu auge com a

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marca Superbom, mas a mesma foi
vendida a um grupo poderoso não
comprometido diretamente com a
dieta vegetariana.

Muitos adventistas não são estritos


em sua dieta vegetariana, por isso
perderam a força. A macrobiótica foi
somente uma onda, como tantas
outras. É mais adequada para quem
vive no Japão. Hoje em dia, pouco se
fala nela. Vegetarianismo é uma
marca registrada da cultura védica da
Índia milenar. Os devotos de Krishna
estão sempre empenhados numa
campanha vitalícia de livrar as
pessoas do consumo de carne e
minimizar a violência no mundo. Sua
força está na fé que eles têm na
prasada.

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Prasada e vegetarianismo nunca
estarão dissociados. A questão que
queremos analisar é: Estamos
aproveitando bem o fato de termos
adotado uma dieta karma-free?
Estamos aperfeiçoando nosso
vegetarianismo? Estará nosso
vegetarianismo contribuindo
realmente para nossa saúde? Ou é
somente parte da doutrina religiosa,
como um ritual ou um tabu? Estamos,
realmente, dando um exemplo do
melhor que o vegetarianismo pode
apresentar? Ou nosso vegetarianismo
resume-se somente a evitar comer
carne, peixes e ovos?

Congresso Vegetariano Mundial

Participei, em 2004, do 36º

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Congresso Vegetariano Mundial, em
Florianópolis, que pela primeira vez
foi realizado no Brasil. A questão dos
transgênicos foi um dos temas mais
debatidos e alguns querem tomar
posturas políticas para lidar com o
assunto.

Hoje em dia, a onda mais forte no


vegetarianismo é a postura “vegan”,
ou “vegana”, que rejeita qualquer
produto de origem animal, como o
leite, derivados lácteos, mel etc.
Alguns vegans são muito “prosas”,
pois julgam-se estar num nível de
vegetarianismo mais elevado do que
os lacto-vegetarianos. Mas outras
correntes aparecem no cenário e, por
sua vez, insinuam que “temos a
última palavra em alimentação”.

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Dois grupos foram as “vedetes” do
congresso: os crudívoros, liderados
por um jamaicano rastafári, e o
pessoal dos alimentos vivos ou, como
eles chamam, biochips. O jamaicano
dizia: “Quem come arroz cozido e
quem come churrasco está no mesmo
nível. A alimentação tem que ser
totalmente crua”. O pessoal ficou
impressionadíssimo. Suas
apresentações eram verdadeiras
performances e atraíam muita gente.

Já o pessoal dos alimentos vivos, que


se alimentam principalmente de grãos
germinados, eram todos bem
magrinhos e pareciam entusiasmados
com sua alimentação. Quanto a nós,
“os Hares”, continuamos firmes em
nossa proposta lacto-vegetariana, que

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consideramos ser muito mais realista.
Temos, no entanto, que aprender a
usar corretamente essa dieta para
podermos usufruir de todos os
benefícios que a dieta vegetariana
tem a oferecer.

Princípios Védicos da Alimentação

Na palestra que dei no congresso,


falei sobre “Os Princípios Védicos da
Alimentação”. Primeiro, abordei um
ensinamento do terceiro capítulo do
Bhagavad-gita, em que Krishna diz
que, se não reconhecemos as dádivas
que temos recebido dos semideuses, e
indiretamente dEle, e usamos essas
coisas para nosso desfrute sensual,
desenvolveremos a mesma
mentalidade de um ladrão.

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Agradecer a Deus pelo alimento que
consumimos é um sinal de gratidão
ou, pelo menos, de boa educação. Ao
recebermos um favor, um simples
“Muito obrigado” harmoniza o
ambiente e todos ficam felizes. Se
ajudamos uma pessoa e não
recebemos nenhum sinal de
agradecimento, ficaremos em dúvida
se devemos ajudar em outra ocasião,
pois não sabemos se nossa ajuda foi
bem recebida ou não.

No Bhagavad-gita, é explicado que,


quando a pessoa não somente
agradece, mas oferece algo de si a
Deus, Ele, presente no coração de
toda entidade viva, irá, de Sua parte,
reciprocar. A verdade é que
precisamos muito mais dEle do que

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Ele de nós.

A alimentação é uma atividade em


comum com o reino animal. Quando
estamos com fome e “atacamos” a
comida, estamos com o mesmo nível
de consciência de qualquer
animalzinho esfomeado. Se, nesse
exato momento em que nossa
consciência é empurrada para baixo
pelos impulsos corpóreos, nós
elevarmos nossa consciência a Deus,
isso vai enaltecer nossa condição
humana, frear o controle da natureza
inferior sobre nós, fortalecer nossa
estrutura moral e vai estreitar nossa
conexão com Deus.

Quem cultiva um contato direto com


a Natureza está sempre consciente de

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que o alimento que é ingerido é o
resultado do milagre da vida: cresceu
de uma pequena sementinha, foi
nutrido por elementos minerais e
orgânicos do solo – que, por sua vez,
são subprodutos de outras entidades
vivas – captou o prana do éter e a
energia proveniente do Sol e ficou
completamente dependente da chuva
providencial ou de uma rega
generosa. Podemos assim apreciar
todo processo sistêmico que
harmoniza os inúmeros ciclos de vida
que interagem entre si. Quem tem
esse contato com a Natureza e tem
visão holística pode apreciar essas
maravilhas e, naturalmente, elevar
sua consciência para Deus por ter
sido agraciado por essas dádivas.

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Vida Artificial

Por outro lado, a vida urbana impõe


um ritmo e concepção de vida
completamente artificial e bloqueia a
percepção holística. A pessoa fica
literalmente desassociada da
Natureza. Sem o contato direto com a
terra, deixa-se de apreciar os milagres
que a Natureza proporciona.

O grande argumento da vida urbana é


a sua praticidade. Fica tudo muito
fácil. É só ir ao Supermercado 24
horas, encher o carrinho e pagar o
preço. Em casa, a geladeira conserva
os produtos por alguns dias. Daí para
a panela de pressão ou para o
microondas. Tudo muito simples,
prático e automático. O vegetariano

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urbano fica, em muitos casos,
envolvido nessa cultura de
supermercado. É, portanto,
fundamental expandir nossa
consciência e ir além do
vegetarianismo de motivação pura e
simplesmente corpórea.

Vegetarianismo e Consciência de
Deus

O vegetarianismo, pela sua natureza


sattva-guna, é totalmente compatível
com a consciência de Deus. Tenho,
contudo, observado que existem
muitas pessoas agnósticas e ateias
também entre vegetarianos. Muitos
perderam a motivação na fé religiosa
e canalizam sua tendência devocional
para sua dieta. Fazem do processo

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alimentar, levado às últimas
consequências e minúcias, a meta
principal da vida. Tornam-se, muitas
vezes, fanáticos, similares a alguns
grupos religiosos dogmáticos e
sectários. Isso acontece também em
outras atividades, tidas como
humanistas, como ecologia, política
(no bom sentido), trabalho social,
indigenismo, psicanálise etc. A
atividade caracterizadamente secular
é revestida de uma aura que sugere
um quê de sectarismo religioso.

Não obstante serem atividades


piedosas, não se deve considerá-las
no mesmo nível da espiritualidade.
Quando falamos em
“espiritualidade”, referimo-nos à
noção de espiritualidade sã, onde o

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enfoque primordial é a conexão
amorosa com a Transcendência, sem
motivações materialistas e egoístas.

Quem cozinha? Importante também


na alimentação é a vibração que vem
embutida na comida. Não é só o valor
nutricional do alimento que é
importante, mas também seu lado
mais sutil, sua vibração. A
consciência na hora de se cozinhar
deve ser a mais elevada possível.
Deve-se ter um ambiente de alto
astral, pois as impressões sutis da
mente de quem cozinha ficam
impregnadas no alimento.

Uma vez ouvi, na Índia, uma história,


tida como verídica, de um
renunciante muito idoso e iluminado.

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Todos os dias, no final da tarde, seu
servente buscava um copo de leite
das vaquinhas do goshala (curral) da
vizinhança. Um dia, uma pessoa
mundana e materialista estava
presente quando o servente foi pegar
o leite e, para sentir-se generoso, fez
questão de pagar o copo de leite do
homem santo. Dessa forma, algumas
moedinhas foram economizadas e o
materialista ficou com a consciência
de ter feito uma grande caridade.
Porém, quando o sadhu tomou o
primeiro gole do leite, sentiu que
havia algo estranho e desagradável
naquele leite, diferente da costumeira
vibração sattva-guna de seu leitinho
diário. O servente contou então que
tal pessoa tinha pagado, no que o

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renunciante rejeitou tomar aquele
leite. Embora sem diretamente ter
tocado, a vibração pesada do
materialista tinha impregnado o leite
e interferiu na harmonia, pureza e
amor que envolvia essa singela
atividade cotidiana. Esse é, sem
dúvida, um exemplo de extrema
sensibilidade, mas podemos entender
como uma vibração sutil no éter pode
afetar o alimento.

Se isso é assim, o que dizer de


quando o alimento é diretamente
manuseado e preparado por pessoas
de baixo nível moral e espiritual. É
realmente importante sabermos quem
cozinha e com qual consciência o
alimento é cozinhado.

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Bhakti-yoga na Cozinha

Da mesma forma com que um


alimento pode ser contaminado por
vibrações nocivas, pode ser
vivificado por uma vibração pura.
Quando cozinhamos com a intenção
de fazer uma oferenda a Deus, o
alimento é dessa forma
espiritualizado. Essa intenção é muito
importante, pois, se iremos oferecer o
alimento que está sendo preparado
para Deus, ele deve ser preparado
com todos os critérios de limpeza e
pureza de consciência. Deve-se evitar
antecipar o desfrute sensório que
iremos ter ao comer. Nossos sentidos
devem permanecer tranquilos, sem
agitações. Nada de comentários como
“Que cheirinho bom...” e o que dizer

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de “dedão” na panela para
experimentar. O oferecimento do
alimento requer um pequeno
momento de reflexão e até um
pequeno ritual com algum mantra,
hora em que a consciência eleva-se a
Deus num ato de amor e devoção.
Após isso, podemos então satisfazer
nossos apetites, demandas corpóreas
e desfrutar das delícias do sabor. O
alimento assim oferecido a Deus é
chamado “prasada”, palavra em
sânscrito que significa “satisfação”
ou “misericórdia”.

Imagine se convidamos uma pessoa


importante e querida para almoçar em
nossa casa e, quando ela chega,
dizemos: “Nós já almoçamos, agora
você almoça sozinha”. Realmente,

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essa não é a etiqueta apropriada.
Damos sempre a primazia para quem
convidamos. Da mesma forma,
quando oferecemos o alimento a
Deus, evitamos qualquer tipo de
antecipação de desfrute sensório.
Desfruta-se, e muito, quando o
alimento passa a ser prasada. Esse é
um “segredinho” importante no
processo de bhakti-yoga, o yoga da
consciência.

Na prática do yoga clássico, o


controle dos sentidos chama-se
pratyahara, que significa controlar os
sentidos de forma a não ficar à mercê
dos estímulos externos. É dito que,
dos sentidos, a língua é o mais voraz.
Sem o devido controle, a pessoa pode
cair vítima do descontrole

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compulsivo da língua. Como diz o
ditado: “O peixe morre pela boca”.
Isso vale também para muitos
humanos.

Doenças entre Vegetarianos

Em websites de notícias da ISKCON,


um dos temas que tem aparecido com
certa frequência é a notícia de
doenças e falecimentos de devotos,
principalmente discípulos de Srila
Prabhupada. “Sridhara Maharaj
abandona o corpo”, “Gangamayi
Devi Dasi abandona...”, “Praghosh
Prabhu está com câncer”, “Mula
Prakriti Devi Dasi deixa o corpo”,
“Falecimento de Bhava-bhuti
Prabhu”, “Shyama Devi Dasi...”, são
algumas notícias que foram

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divulgadas recentemente. Todos esses
devotos saíram desse mundo
prematuramente, pois não tinham
idades avançadas.

O lado bom da história é que esses


devotos, e muitos outros mais, estão
saindo desse mundo de forma
pacífica e com alto nível de
consciência de Krishna. Podemos ver
que o processo da consciência de
Krishna, como foi instruído por nosso
amado fundador-acharya Srila
Prabhupada, está funcionando. Ele
mesmo, no seu papel de acharya,
mostrou pessoalmente como sair
desse mundo com lucidez, desapego,
dignidade e pleno de amor por
Krishna.

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A causa mais frequente das doenças
fatais entre devotos é o câncer.
Problemas no trato intestinal, fígado e
coração, assim como diabete e
obesidade, são igualmente comuns.
Isso nos leva a questionar: Qual seria
a causa dessas doenças, visto que o
estilo de vida adotado pelos devotos é
supostamente o mais saudável
possível? Embora sem nenhum dado
concreto em mãos, arrisco dizer que,
na maioria dos casos, a causa da
doença foi a alimentação inadequada.
Mas como? Alguém pode argumentar
que muitos deles comeram toneladas
de maha-prasada durante suas vidas.
Mesmo sendo um alimento
santificado, se não tivermos um
critério rígido do que ingerimos,

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teremos inevitavelmente problemas
com o corpo.

Conceito Ayurvédico de Doença

Um dos maiores perigos na


alimentação é o uso constante de
alimentos industrializados. É a massa
de tomate, o leite condensado, o
açúcar refinado, sal refinado, queijos,
batatas fritas, leite embalado,
margarinas, gordura hidrogenada etc.
Também, muitas frituras, muito ghi,
muitos doces. Tudo isso gera
resíduos, chamados na nomenclatura
da medicina ayurvédica de ama.
Esses resíduos apodrecem
internamente e contaminam todo o
organismo, pois a energia sutil circula
por todo o corpo. Nesse percurso pelo

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corpo, quando essa energia
contaminada encontra um bloqueio
ou um órgão debilitado, ali vai
aparecer um foco de doença. Dessa
forma, uma indigestão pode provocar,
por exemplo, um tumor no cérebro.

Dos grandes inimigos da saúde, o


comer além da conta, o over-eating, é
imbatível. Geralmente depois de uma
comilança em demasia, o organismo
reage e bate até um arrependimento,
mas já é tarde – não dá para voltar
atrás. Agora só resta esperar as
consequências.

Temos, portanto, que estar sempre


conscientes e alertas para não cair no
engodo do desfrute irrestrito da
língua. Quem desenvolve esse

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autocontrole preserva muito mais sua
saúde. Toda alimentação deve ser
feita na hora certa e sem ansiedades.
Muitos engolem a comida sem
mastigar. Uma coisa é certa: quando
ficamos dominados pela gula e pelo
prazer da língua, nossa saúde fica
totalmente comprometida.

Existem muitos planos de saúde,


como Amil, Golden Cross etc., mas
todos esses são basicamente “planos
de doenças”. O verdadeiro “plano de
saúde” deve ser nossa mesa de
refeições.

Cultura Védica

A questão do leite é um assunto bem


delicado. A dieta vegan, entre outras,

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rejeita terminantemente. Leite, para
eles, só de soja. Já para os devotos, o
leite da vaca é muito apreciado.

Para começar, Krishna é o


vaqueirinho transcendental. Na
primeira infância, Krishna era
chamado de makhana-chora, “o
ladrãozinho de manteiga”; o leite é
chamado nas escrituras de “religião
líquida”; o ghi é o elemento
indispensável para o ritual de
sacrifício de fogo, agni-hotra; a
vaquinha kamadhenu pode suprir
quantidades ilimitadas de leite; o
elixir da imortalidade, soma-rasa,
surgiu da agitação do oceano de leite
– são muitas histórias da cultura
védica relacionadas ao leite.

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Além disso, é dito que um copo leite
quente ao dormir produz um efeito
que nenhum outro alimento produz:
alimenta as células da área cerebral
que lida com assuntos espirituais. Na
cultura védica, a vaca e o boi são os
animais mais próximos à sociedade
humana. A convivência entre esses
animais e o homem é completamente
natural e harmoniosa. Contudo, em
nossa sociedade moderna, eles
perderam essa posição para a classe
canina, que funciona como expansão
do ego da pessoa.

Mamãe Vaca

O leite é uma dádiva especial de uma


de nossas mães, a vaca. Esse é o
status da vaca na cultura védica.

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Assim como a mãe biológica
amamenta o bebê com leite materno,
a vaca também fornece seu leite para
a sociedade humana. É dito por
alguns opositores do consumo de leite
que tirar o leite da vaca seria um ato
desumano, que o leite pertence ao
bezerro e não se deixa praticamente
nada para ele. Isso certamente pode
ser que ocorra entre pessoas muito
gananciosas e materialistas e deve ser
repudiado.

Uma vez li que, em fazendas


produtoras de leite nos Estados
Unidos, vacas que não produzissem
mais do que trinta litros diários eram
mandadas ao matadouro, pois
ficavam inviáveis economicamente,
devido ao alto custo das rações,

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hormônios e remédios que eram
investidos nelas. Sei também que
vacas leiteiras da melhor qualidade
são usadas como reprodutoras. Assim
que o feto começa a se desenvolver
em seu ventre, ele é retirado por meio
de uma cesariana e introduzido no
ventre de outras vacas de menos raça
que a mãe original. Com isso o tempo
da gravidez da vaca reprodutora
diminui sensivelmente e ela, ao invés
de parir uma cria por ano, produzirá
dez. Pode ser que esse procedimento
aumente os lucros do produtor, mas é
o suprassumo da ganância, maldade e
insensibilidade.

O que realmente acontece é que a


vaca produz muito mais leite do que o
bezerro pode consumir. Se deixarmos

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o bezerro beber todo o leite diário que
sua mãe produz, ele vai sofrer de
diarreia. Por outro lado, se não
extraímos todo o leite do úbere da
vaca, ela sofrerá e terá problemas nas
tetas. Dessa forma, o consumo de
leite pela sociedade humana é algo
completamente natural. No lado
masculino, o boi deve ser empregado
para atividades que exigem força,
como tração e aração. Hoje em dia,
com a mecanização das atividades
rurais, o boi perdeu sua função para o
trator. Só resta mesmo mandá-lo para
o matadouro.

Durante a maternidade, a vaca produz


e libera o leite devido ao amor
maternal. É indiscutivelmente um ato
de amor. Quem lida com esses

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animais no curral sabe que cada vaca
tem uma personalidade e um
temperamento particular. Esses
animais, apesar de enormes, são
muito sensíveis e relacionam-se
perfeitamente com os seres humanos.
Já tenho presenciado coisas
impressionantes: vi, por exemplo,
numa fazenda do Movimento Hare
Krishna, uma vaca que por oito anos
fornecia leite sem ter crias. Ela vivia
tão feliz que seu leite nunca parava de
ser produzido e assim ela podia
satisfazer muita gente.

Terapia da Vaca

Um argumento bem conclusivo que


diferencia a classe bovina dos outros
animais é o fato de que o seu

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excremento, ao invés de ser nojento e
repugnante como de todos os
animais, humanos incluídos, pode ser
manuseado e é dito que tem,
inclusive, propriedades antissépticas.
Nas zonas rurais na Índia, é comum
espalhar o esterco do gado pelo chão
e paredes. Outra prática comum é
amassar o esterco e formar umas
“bolachas” achatadas, que são
secadas ao Sol e usadas como
material combustível para a cozinha.
Diz-se que produz a melhor chama
para se cozinhar.

Na Índia, conhece-se bem as


propriedades terapêuticas dos
derivados lácteos. Tanto o leite e
derivados, como o iogurte, quanto o
esterco e a urina da vaca têm

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poderosos efeitos terapêuticos. O ghi,
então, pode fazer milagres. Qualquer
raça bovina produz o ghi, que é usado
na culinária e na medicina. Todavia,
existe uma raça específica que produz
o ghi mais poderoso. São as vacas
branquinhas de Vrindavana, um tipo
de raça nerole. Essas vacas dão pouco
leite e, ainda por cima, ralo. Mas o
ghi produzido desse leite tem um
valor terapêutico tremendo. Quanto
mais velho o ghi, mais ativo. Pode
ficar enterrado por dez anos ou mais,
e, assim, seu poder terapêutico será
mais ativo.

Um dos argumentos contra o leite é


que ele produz mucos. É por isso que
não se deve tomar frio e, mesmo
quente, deve ser tomado em pequenas

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quantidades. Para neutralizarmos a
tendência de produzir mucos, deve-se
acrescentar o turmeric, ou cúrcuma
em pó, que tem coloração amarela.
Aqui no Brasil é chamado de açafrão.
O uso do leite deve ser bem
moderado. É um alimento forte e, em
excesso, trará distúrbios ao
organismo. O queijo consumido em
excesso faz os mesmos estragos no
organismo que a carne. Tenho
presenciado lacto-vegetarianos
promovendo verdadeiras orgias de
queijos. Pode ser que seja um festival
para a língua, mas força muito o
aparelho digestivo e produz ama,
resíduos não digeridos que
apodrecem dentro do organismo.

Leite Industrializado

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Uma coisa que concordamos cem por
cento com o pessoal vegan é que o
leite industrializado é de péssima
qualidade. Primeiro porque, como
todo alimento industrializado, possui
conservantes químicos que
definitivamente devem ser evitados o
máximo possível. Segundo porque as
vacas, para que suas produções sejam
aumentadas, são tratadas com
produtos químicos (hormônios,
remédios contra vermes e carrapatos,
e outros produtos da indústria
veterinária) e com rações que contêm
produtos muito duvidosos para a
saúde dos animais. O maior
escândalo que o mundo assistiu
recentemente foi a epidemia das
“vacas loucas”, causada pelo uso de

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rações que eram recheadas com
sangue e ossos dos animais já
abatidos. A Natureza naturalmente
rebelou-se contra esses abusos.

Um vaqueiro de uma fazenda


próxima à nossa, em Paraty, falou da
seguinte maneira a um devoto que
comentou que os animais estavam
muito bonitos: “Tenho pena de quem
vai comer a carne desses animais,
pois três vezes por semana injetamos
neles uma quantidade de veneno para
vermes e carrapatos porque assim o
couro fica lisinho e vale mais”.

Além desse aspecto mais físico,


existe as implicações mais sutis. O
leite industrializado é subproduto da
matança de animais. Isso porque o

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valor que as cooperativas de leite
pagam ao produtor é muito baixo, de
modo que o preço final ao
consumidor seja compatível ao bolso
das classes menos favorecidas.
Ninguém sobrevive comercialmente
apenas com o leite. O lucro, então,
vem de onde? Dos bezerros machos
que são mandados para a engorda e,
posteriormente, para o matadouro.
Isso implica em que o leite
industrializado carrega esse karma
embutido nele.

Aliás, muitos alimentos hoje em dia


são contaminados. O açúcar refinado
é branqueado com produtos feitos de
ossos de animais. Outro perigo vital é
a gordura hidrogenada que é a
responsável por inúmeros enfartes. A

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legislação contém normas para
regular as cotas de venenos que são
utilizados na agricultura, mas quem
garante que isso é respeitado e qual
órgão do governo pode controlar
isso?

Pessoalmente conheci um produtor de


tomate que disse que sua produção
era pulverizada com venenos pelo
menos sessenta vezes. O medo que
ele tinha de perder a produção por
causa de alguma praga era tanto que
dava sua última pulverizada minutos
antes da colheita. Poucas horas
depois, seus tomates, muito grandes e
bonitos, estavam nas prateleiras dos
supermercados e hortifrútis. A salada
feita com aqueles tomates foi
temperada com azeite de oliva,

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agrotóxicos e fungicidas. A coisa
ainda vai longe...

Muitos vegetais, principalmente em


países do “primeiro mundo”, já têm
incorporado em si genes animais para
aumentarem de tamanho e terem
aparência mais “saudável”. Outras
experiências em progresso são ainda
mais sinistras: células cancerígenas
humanas, que têm a propriedade de se
proliferarem de forma assustadora,
são incorporadas nos vegetais para
estes aumentarem o tamanho! Nessas
alturas, as calorosas discussões sobre
os transgênicos e seus efeitos futuros
já estão caducando. Já são coisas do
passado... Não temos aqui o intuito de
ser alarmista, mas precisamos estar
bem conscientes para não

45
comprometermos nossos princípios e
manter certo padrão de pureza,
essencial para a manutenção da
saúde.

Muitos devotos argumentam em


favor de um relaxamento na questão
da alimentação com base no que foi
dito por Srila Prabhupada em
diferentes ocasiões. Temos, contudo,
que entender que essas afirmações
foram feitas há mais de trinta anos,
época em que a indústria alimentícia
e os hábitos alimentares eram bem
diferentes dos de agora. Também,
muita coisa a que Srila Prabhupada se
referiu teve como base o que se
passava na Índia, e não a realidade do
Ocidente. Devemos, portanto,
considerar esse assunto baseado em

46
nossa experiência presente e com o
uso de toda a nossa capacidade de
bom senso.

Srila Prabhupada anteviu a


degradação da qualidade de vida nos
grandes centros urbanos e propôs o
estabelecimento de comunidades
rurais. Sua ideia foi que as fazendas
dos devotos produzissem alimentos
puros para a comunidade urbana de
devotos. É imperioso que os devotos
se conscientizem desse fato e apoiem
com energia as iniciativas nessa
direção que vêm sendo feitas no
Movimento Hare Krishna. Devotos
que têm formação profissional ou
vocação nata para a agricultura
devem canalizar seus talentos para
enriquecer a missão de Srila

47
Prabhupada com essa contribuição.

Por não estar na linha de frente da


pregação, as atividades rurais do
Movimento Hare Krishna são
consideradas por muitos devotos
como algo de segunda ou terceira
classe. Mas que guerra pode ser
ganha sem boa logística? Não
podemos cair na antilógica da galinha
dos ovos de ouro, que concentra o
interesse no buraco onde sai os ovos e
negligencia a parte de cima que tem
que ser alimentada.

48
Capítulo 2
QUE MAL HÁ
EM MATAR OS
ANIMAIS?
Como é sabido, os devotos de
Krishna não mandam as vacas e os
bois ao matadouro. Depois de
passarem suas vidas oferecendo seus
serviços ao homem—a vaca,
procriando e fornecendo o precioso
alimento, o leite, e o boi, oferecendo
sua força no campo, em trabalhos de
tração e aração—, consideramos que

49
é mais do que justo e, sobretudo, é
um ato de humanidade, que esses
animais tenham melhores condições
para o período da velhice.
Normalmente, nessa fase esses
animais são considerados
economicamente improdutivos no
campo, e são, invariavelmente,
enviados ao matadouro.

Mandar os animais ao matadouro


significa encerrar violentamente a
vida de um ser vivo. Tal ato é
completamente contra às leis naturais,
que são leis de Deus. Não temos
direito para isso.

O homem moderno, em sua arrogante


visão antropocêntrica, dominado por
uma cobiça desvairada, julga-se o

50
senhor da natureza, com irrestritos
direitos de explorá-la. Não existe o
devido respeito às formas inferiores
de vida, assim como à Natureza como
um todo. A natureza e os animais são
vistos através das lentes do lucro—
esse é o único referencial. A vida
urbana artificial embruteceu a
consciência das pessoas. Perdeu-se a
visão holística do mundo e o coração
das pessoas endureceu.

A grande maioria de pessoas, ditas


normais, consideram a matança de
animais, como a vaca, uma atividade
completamente civilizada,
progressista e perfeitamente dentro
das leis, tanto seculares como
religiosas. Para elas, animais, como
os bovinos, são naturalmente

51
destinados a virar bife, dieta
considerada essencial para os seres
humanos. Sem o bife, pensam elas, a
pessoa debilita-se devido à
deficiência de proteínas. Portanto, o
destino natural dos bovinos é o
matadouro. Que mal há nisso? Tanto
o Estado quanto a Igreja não
questionam, e dão luz verde. Além
disso, é uma atividade econômica
bastante lucrativa. Isto por si só já
justifica. Quanto dinheiro está
envolvido nessa atividade! Quantas
famílias mantém-se com essa
atividade, quantas divisas entram para
o país, poderiam argumentar.

Argumenta-se que as técnicas


modernas de matança dos animais são
indolores, ao contrário do processo

52
tradicional em que o animal leva uma
marretada na cabeça, é içado pelas
patas, e estripado, mesmo ainda vivo.
Outros argumentam que não são eles
que matam, alguém faz esse trabalho
sujo. E outros afirmam que a carne é
essencial na alimentação do homem,
e citam até trechos de escrituras para
justificar-se.

Argumenta-se que animais não têm


alma, portanto, não existe pecado em
matá-los. Dizem que quando na
Bíblia é dito “Não matarás”, isso
refere-se somente a seres humanos.

O caso é que, qualquer que seja o


argumento, a violência está presente,
e aquele que participa da matança dos
animais, seja diretamente ou

53
‘inocentemente’ à distancia, é
cúmplice deste ato desumano.
Alguém pode ainda argumentar que
comer vegetais, como o alface, é
também um ato de violência, pois a
planta é sacrificada. Quanto a isso,
temos que considerar que os vegetais,
cereais e frutas são os alimentos
destinados aos seres humanos. Um pé
de alface que é comido cumpriu com
a sua função nessa vida. Sem dúvida,
existe violência nesse ato. O simples
fato de caminhar ou respirar, por
exemplo, está sempre sujeito a
alguma violência, pois podemos pisar
em formigas ou inspirar algum germe
no ar. Portanto, a conclusão é que,
para viver, a violência é inevitável.

O grande problema é quando existe a

54
violência desnecessária. Devemos
evitar a todo o custo essa violência
desnecessária. A matança de animais
deve ser evitada pois é desnecessária,
uma agressão à harmonia do universo
e um ato de covardia. Quanto à
violência aos vegetais, como por
exemplo, ao alface, nós devemos
estar conscientes desse fato. Devido a
isso, é recomendado nas escrituras,
que, antes de comermos, nós
ofereçamos o alimento a Deus, a fim
de purificá-lo e espiritualizá-lo.
Ademais, oferecer os alimentos é um
ato de devoção, amor a Deus.

A Cultura Védica e as Vacas

A proteção das vacas e dos bois,


chamada em sânscrito de go-raksya, é

55
uma das características mais
marcantes da cultura védica da Índia
milenar. É considerada uma atividade
altamente piedosa, e até mesmo
religiosa.

Existe no mundo ocidental uma ideia


muito pejorativa com respeito da
proteção das vacas. Normalmente se
diz: “Na Í...ndia, a vaca é sagrada. As
pessoas morrem de fome mas não
matam a vaca para comer”. Essas e
outras insinuações são frutos de uma
propaganda distorcida e maliciosa
que os ingleses, em três séculos de
dominação na Índia, espalharam, ao
tentar desmoralizar a cultura védica e
impor sua cultura e religião. Eles
queriam mostrar que a cultura védica
da Índia era ‘primitiva e retrógrada’,

56
e que o povo indiano deveria
descartá-la, e acatar os padrões da
cultura ocidental, muito mais
‘racional e progressista’.

Hoje em dia podemos comprovar


quão ‘racional e progressista’ nossa
civilização ocidental tem sido. O
critério de progresso aqui é altamente
questionável. O orgulho das
conquistas tecnológicas fica
obscurecido com o alto preço que
estamos pagando: extensiva
degradação ambiental, moral e social.

Por outro lado, a milenar cultura


védica, embora considerada por
muitos como ‘primitiva e retrógrada’,
é essencialmente humanista e
ecológica. Existe o respeito da

57
natureza, a maravilhosa criação de
Deus. Existe o respeito pela entidades
vivas em corpos inferiores ao
humano. Existe harmonia entre o
homem e os animais, enfim, com toda
a natureza.

Nos parâmetros da cultura védica, o


boi e a vaca são os animais mais úteis
e próximos ao homem. Eles são
animais domésticos. O curral situava-
se junto das casas e existia um
perfeito convívio entre os humanos e
os animais.

A vaca é considerada, dentro da


cultura védica, como uma de nossas
mães, e deve ser respeitada como tal.
Como podemos entender isso?
Damos um exemplo: Após o

58
nascimento de uma criança, acontece
da mãe morrer. A criança sobreviverá
se houver por perto uma vaca que a
alimentará com seu leite. Com esse
conceito em mente, quem mandaria
sua mãe ao matadouro?

O leite é uma dádiva especial da


vaca. A vaca come capim e ervas, e
isso é transformado em sangue, e
depois leite. A vaca sempre produz
uma quantidade de leite a mais, que
permite que o bezerro seja
devidamente alimentado, e sobre uma
grande quantidade para alimento
humano. Assim como a relação entre
a mãe e o filho recém nascido é
baseada em puro amor, similarmente
a relação da vaca e seu bezerrinho, e
sua produção de leite, é um ato de

59
amor.

A vaca é um animal extremamente


sensível. Ela capta a vibração da
pessoa que a está tratando, e
corresponde-se de acordo. É, por
natureza, extremamente pacífica,
situada no modo da bondade.

O boi, por sua vez, sente grande


prazer quando está ocupado no
trabalho pesado do campo. Devido à
sua estrutura física ele pode
movimentar grandes pesos, e embora
seja forte e robusto, o boi aceita
pacificamente o comando do homem.
Hoje em dia, o trabalho dos bois na
aração da terra foi trocado pelos
tratores, mas os especialistas provam
que as máquinas, embora sejam

60
rápidas e eficientes, produzem, entre
outras coisas, a compactação do solo,
dificultando a infiltração da água no
solo e alterando a estrutura biológica
da terra, e, conseqüentemente,
causando o empobrecimento e
desertificação do solo. Já o trabalho
da terra com os bois faz com que a
vida do solo intensifique-se.

Uma das coisas mais surpreendente


em relação aos bovinos, é que seu
excremento não é nojento, ao
contrário de todas as classes de seres,
seja eles animais ou humanos. O
excremento da vaca e do boi é, na
verdade, puro e anticéptico. Podemos
passar a ‘bosta’ da vaca nas panelas
que cozinhamos a fim de purificá-las.
Na Índia, e mesmo em algumas

61
regiões no Brasil, costuma-se
espalhar o excremento pelas áreas de
serviço—isso dá um ar de limpeza na
casa.

A urina da vaca, por sua vez, tem


altas propriedades medicinais.
Recentemente, descobriu-se que a
urina dos bovinos é um excelente
fungicida e pesticida para a
agricultura. Na área da saúde, existe,
inclusive, atualmente na Índia,
pessoas desenvolvendo seriamente
um tratamento chamado “terapia da
vaca”, que consiste de remédios para
doenças mais graves, como
problemas do coração, feitos à base
de leite, ghi (manteiga clarificada),
iogurte, excremento e urina.

62
A vaca tem, também, uma profunda
significação à nível espiritual. As
escrituras védicas chamam o leite de
“religião líquida”. É dito que o leite,
consumido quente e antes de dormir,
além de acalmar a mente e propiciar
um bom sono, nutre certas células no
cérebro que abrem os canais da
consciência para o entendimento da
realidade espiritual transcendental.
Por sua vez, o leite, na forma de ghi,
é o principal ingrediente em todos os
rituais de sacrifício e oferendas a
Deus. Mesmo hoje em dia, existem
muitos templos na Índia que mantém
uma goshala, ou curral de vacas, na
área do complexo do templo.

Outro conhecimento importante do


conhecimento védico é a doutrina do

63
karma, a lei da ação e reação. Uma
atividade piedosa trará como reação
satisfação, inteligência, saúde, e toda
a sorte de benefícios, enquanto que
uma atividade perversa ou contrária
às leis de Deus, trará,
conseqüentemente, sofrimento.

Existe muitas atividades que são


consideradas piedosas e auspiciosas,
das quais enumeraremos algumas: a)
dar caridade aos sadhus, pessoas
santas dedicadas à vida espiritual; b)
construir templos para adorar a Deus;
c) plantar árvores que, em muitos
casos, não serão desfrutadas pela
pessoa que plantou, mas sim pelas
gerações que se seguem; d) abrir
poços em vilas que muitas pessoas
irão utilizá-los; e) abrir estradas que

64
irão beneficiar muitas pessoas; e, por
fim, f) proteger as vacas. Portanto,
pessoas conscientes disso estão
sempre prontas para investir em seu
próprio karma.

A sociedade humana moderna


desviou-se consideravelmente do
dharma, os princípios religiosos
eternos que são enunciadas nas
escrituras védicas. Essas leis divinas
ensinam-nos como viver em
harmonia com a natureza, e são as
fórmulas para trazer paz e
prosperidade à sociedade humana. O
conteúdo dessas leis é ainda
praticamente desconhecido no mundo
ocidental. Portanto, é o dever
daqueles que tiveram a ventura de ter
acesso a esse conhecimento, divulgá-

65
lo aos demais. Essa deve ser a missão
de nossas vidas.

As vacas são, também, as eternas


companheiras de Krishna em
Vrindávana. Krishna é conhecido
como Gopala, o vaqueirinho
transcendental, e Govinda, aquele que
dá prazer às vacas. Na escritura
sagrada Brahma-Samhita, está escrito
surabhir apalayantam, que significa
que Krishna está sempre
apascentando Suas vaquinhas Surabhi
em Goloka Vrindávana, Sua eterna
morada suprema. Daí o nome desse
programa — Krishna-Surabhi-Seva
—“Serviço às vaquinhas Surabhi de
Krishna”. Servir Suas vaquinhas é o
mesmo que servi-Lo pessoalmente.
Como resultado desse serviço, a

66
pessoa desenvolve consciência
espiritual pura, e torna-se um
receptáculo da misericórdia de
Krishna, condição essencial para
fazer de nossa vida um sucesso.

Fracassos do Homem Moderno

Motivado pela cobiça, que é a mola


mestra do moderno sistema
econômico baseado na exploração
irrestrita da natureza, o homem
perdeu toda a sensibilidade para lidar
com outras entidades vivas que se
encontram numa posição inferior ao
homem na cadeia evolucionária.

O recente e triste episódio das ‘vacas


loucas’ na Inglaterra, por exemplo, dá
um indicativo do lado negro da

67
mentalidade do homem moderno.
Com o objetivo de se produzir mais
carne e ter mais lucro, as vacas foram
alimentadas com um tipo de ração da
pior qualidade. A ração, além de
produtos químicos e hormônios
artificiais, continha entre outras
coisas, víceras de animais já
sacrificados, devidamente
processados para dar gosto atrativo.
Esta ração era considerada a mais
balanceada e mais barata, portanto, as
oportunidades de lucro eram
enormes. Mas, qual foi o resultado?
Uma séria epidemia nos animais e
contaminações alimentares aos que
consumiram sua carne. Como
conseqüência, mais de cinqüenta mil
vacas foram estupidamente

68
sacrificadas e, sabe-se lá quantas
pessoas foram contaminadas com
agentes cancerígenos que irão
manifestar-se no decorrer do tempo,
além de prejuízos de milhões, que
poderiam ser utilizados para o
benefício da humanidade. Esse é
somente um entre muitos exemplos
que acontecem no mundo
considerado civilizado.

Animais, como os bovinos, são vistos


pelo homem moderno como meros
meios produtivos econômicos
destinados exclusivamente a render
lucros para os exploradores e suprir
certas necessidades alimentares
supérfluas para os consumidores. O
hábito de comer carne tornou-se
muito arraigado na cultura ocidental.

69
Hoje em dia, nos grandes centros
urbanos, as sofisticadas churrascarias
são símbolos de status social. Para os
menos gastadores, as conhecidas
redes de fast-foods dos shoppings,
com seus hamburgueres e salsichas,
são a atração para língua.

A grande maioria do público


consumidor de carne não tem a
mínima noção de que esse alimento é
impróprio para o consumo humano.
Além de ser antinatural como
alimento humano, pois o corpo
humano não possue as mesmas
características dos animais
carnívoros, como um tigre, por
exemplo, e ser completamente
supérfluo em termos de propriedades
nutritivas essenciais, esse alimento

70
está carregado com uma vibração
muito negativa de violência e
impiedade. O pior de tudo é que
mesmo muitas pessoas de boa índole,
ao terem conhecimento disso, não
conseguem desvencilhar-se do hábito
de comer carne. O comer carne torna-
se sua segunda natureza, como se
fosse um vício impossível de se
descartar. Recentemente a revista
Super Interessante, que trata de
tópicos científicos, teve como matéria
de capa, um artigo que dava a
conclusão de um congresso mundial
de medicina provando que a carne é o
maior agente cancerígeno. Quantos se
sensibilizaram com essa informação e
pararam com o consumo da carne

De acordo com o conhecimento

71
transcendental védico, existe uma
relação direta entre a matança de
animais e a violência. Dentre todos
problemas que assolam nosso planeta,
a violência é um dos principais.
Tomamos conhecimento diariamente
de absurdos que acontecem em todo
mundo—atentados, assassinatos
coletivos, massacres, guerras com
extermínio étnico, torturas, assassinos
infantis, e muitos outros horrores.
Recentemente um criminoso paulista,
o ‘moto-boy’, matou nove ou dez
namoradas. Depois de preso, ele
declarou que seu maior prazer na
adolescência era freqüentar um
matadouro. Ele absorveu a vibração
de violência em sua consciência e
tornou-se insensível ao ato de matar.

72
Violência, definitivamente, só pode
gerar violência. Essa é a lei do karma.

Ainda Assim, Há Esperança

A vida do homem moderno,


principalmente nos grandes centros
urbanos, tornou-se extremamente
artificial. Não existe praticamente
nenhum contato direto com a
natureza. A mentalidade tecnológica
e consumista que ora vigora causou
um abismo de distancia da vida
urbana com o meio ambiente rural e a
natureza nativa. Para as pessoas na
cidade é muito fácil conseguir seus
alimentos, bastando, somente, pagar
seu preço no supermercado. Ela não
fica, nem de leve, ciente das
dificuldades e desafios da vida do

73
campo. Com programa de proteção
das vacas de Goura-Vrindávana, nós
estamos dando uma oportunidade
para os moradores das cidades
participarem e estarem conscientes da
realidade da vida no campo. Essa
integração irá certamente quebrar a
rotina artificial urbana e acrescentar
um toque de natureza na vida
cotidiana.

Hoje em dia, mais e mais pessoas


estão desenvolvendo consciência
ecológica em diferentes níveis. Uma
das grandes preocupações de pessoas
conscientes e espiritualizadas no
mundo atual é tentar salvar o que
ainda resta no planeta e estabelecer
padrões dignos do status humano.
Alguma coisa já foi feita em termos

74
de preservar o pouco de florestas
nativas que restaram, e proteção de
espécies em vias de extinção, como
baleias, focas, tartarugas, mico-leão,
e outras, mas praticamente nada foi
feito até agora para frear a exploração
e matança dos bovinos. Portanto,
alguém tem que se preocupar com
isso e fazer alguma coisa.

Mas, quem, hoje em dia, está


preocupado com isso? De uma forma
literalmente generalizada, as pessoas
desconhecem totalmente o que
significa proteger as vacas. Muitas
pessoas, mesmo que educadas e
sensíveis, são, na maioria dos casos,
influenciadas pelo consenso geral,
fartamente divulgado pela mídia e
aceito pelos meios científicos, de que

75
o bife é uma necessidade nutritiva
como fonte de proteínas e a matança
dos animais é uma atividade
econômica normal, plenamente
aceitável na sociedade.

Mas temos esperanças de que este


quadro possa começar a reverter-se.
O vegetarianismo, hoje em dia, é o
movimento popular que mais cresce
no mundo, dizem os entendidos.
Agora é a hora para começar a
divulgar como proteger esses animais
e acabar com a violência
desnecessária. Essa é a nossa missão.
Uma missão com proporções
gigantescas, pois as forças
antagônicas são poderosíssimas.
Certamente os McDonalds, Sadias e
Perdigões não irão gostar, e aqueles

76
que têm o poder econômico na mão
não admitem serem desafiados e
contra-atacam de diferentes maneiras.
Mas nós temos Krishna e razão ao
nosso lado. Que haveríamos de
temer?

Temos que começar com alguma


coisa, mesmo que seja, à princípio,
simples e modesta. Temos que criar
um modelo que possa ser ampliado e
multiplicado.

Com essa mentalidade, Srila


Prabhupada começou sozinho esse
movimento, que começou bem
modesto, mas, logo, espalhou-se
pelos quatro cantos do mundo. Essa é
a nossa inspiração.

77
Proteção das vacas e a Economia

Existe um consenso entre pessoas


ligadas ao setor de agropecuária que a
exploração do gado de corte é uma
atividade econômica de vital
importância para a sociedade. Por
exemplo, no centro-oeste do país, em
terras de milhares de alqueires,
milhares de cabeças de gado são
controladas por somente dois ou três
caboclos. É só deixar o gado engordar
e mandá-lo para o matadouro. Com a
mesma mentalidade gananciosa
milhões de hectares de floresta
amazônica, que custaram milhares
anos para serem formados, foram
destruídos nessas últimas décadas
para abrir espaço para a pecuária de
corte. Qual é a importância

78
econômica desses empreendimentos?
Será que estão resolvendo os
problemas do homem?

Num documento surpreendente,


técnicos do Banco Mundial,
declararam que esse banco não
financiará daqui para frente nenhum
projeto econômico de gado de corte,
em nenhum país do mundo, mesmo
em países onde existe o problema de
fome. Eles chegaram à conclusão de
que a atividade de pecuária de corte
está emprobecendo o planeta, e não
está resolvendo o grave problema
alimentar dos países pobres. Se todos
os recursos investidos neste setor
forem utilizados para produzir grãos,
a sociedade humana seria muito mais
beneficiada.

79
Vemos, a partir desse dado, ‘uma luz
no fundo do túnel’, uma esperança de
que algum dia a comunidade
científica irá reconhecer a visão
ecológica e holística da Natureza, e
irá considerar a proteção dos bovinos
como a única saída para o verdadeiro
progresso e bem estar do planeta.

Não mandar os animais ao matadouro


acarreta cuidados muito especiais. O
grande perigo é chegar ao ponto de
superpopulação do rebanho, isto é,
muitos animais para pouca terra. Se
existe um programa irrestrito e sem
controle de produção de leite, o que
implica em constante procriação, o
plantel aumenta, e, de repente, tem-se
um enorme problema a se enfrentar.
Quando chega-se a esse ponto, cuidar

80
dos animais, que é uma atividade no
modo da bondade, e deve, inclusive,
ser economicamente produtiva, torna-
se um pesadelo. Se não há pastos
suficientes, o que os animais irão
comer? O que fazer com os animais
improdutivos?

Esse é o grande desafio dos projetos


rurais dentro dos princípios
espirituais da consciência de Krishna.
É fundamental que consigamos
recursos para investir no plantio de
pastos, construção de um bom curral,
manutenção de cercas, remuneração
de vaqueiros profissionais
especializados, assistência veterinária
aos animais, criação de capineiras
forrageiras e silagem, aquisição de
implementos de aração e tração

81
animal, cursos técnicos para
treinamento dos devotos, instalações
para o beneficiamento do leite,
minhocário para produção de húmus
a partir do esterco, etc.

82
Capítulo 3
PROTEÇÃO DAS
VACAS
Srila Prabhupada exaustivamente
afirmou que a proteção das vacas
constitui a base da cultura
brahmínica. É a “marca registrada”
da cultura védica. Na verdade, não
podemos falar de cultura védica sem
considerar a proteção das vacas. O
que acontece é que para grande
maioria dos devotos seguidores de
Prabhupada essa afirmação é
meramente teórica. Pouquíssimos

83
devotos têm a noção do que proteção
das vacas realmente é.

Uns anos atrás, participei de um


mega-evento no sul da Ìndia — um
congresso sobre proteção dos bovinos
da Ìndia. Foi uma experiência muito
enriquecedora. Estava presente
também o ministro de proteção das
vacas da ISKCON, o dedicado e
experiente Balabhadra Prabhu.
Muitos sadhus, sannyasis e
representantes de muitas instituições
espiritualistas da Índia estavam
presentes. Tive oportunidade de
dirigir uma mensagem numa
assembléia de sadhus. Nessa
oportunidade eu glorifiquei meu
mestre espiritual Srila Prabhupada
afirmando que ele foi a pessoa que

84
trouxe a proteção das vacas para o
Ocidente. Um feito inédito até então.
Alguém tem dúvida quanto a isso?

Um nome de Krishna é Go-pala, “O”


protetor das vacas. Acontece que essa
imagem é normalmente apreciada e
considerada somente em ilustrações e
pinturas mesmo entre os devotos de
Krishna, em que Krishna aparece no
meio das vaquinhas tocando sua
flauta. Tudo muito abstrato e teórico.
O que realmente significa “proteger
as vacas”? Poucos têm essa
experiência. Principalmente no meio
urbano, onde a vida é mais que nada
artificial e cheia de superfluidades, a
proteção às vacas é algo distante e
totalmente fora do contexto.

85
Tive várias oportunidades em
programas públicos em me dirigir a
audiência da seguinte maneira:
“Muitas pessoas adotam cães e gatos,
e estão muito preocupadas em
proteger baleias, tartarugas,
golfinhos, mico-leão, etc. Nós, Hare
Krishnas, protegemos e cuidamos dos
bovinos”. “Em muitas culturas do
passado, os bovinos eram os animais
mais próximos dos humanos. Hoje
em dia, os gatos e cachorros
assumiram esse status”. “Com a
revolução industrial, os tratores
entraram no campo e os bois, usados
para tração e aração, tornaram-se
inúteis. O que fazer então com eles?
A solução foi comê-los. A sociedade
demanda cada vez mais quantidade

86
de leite para a confecção de
guloseimas e sorvetinhos. Para isso as
vacas são obrigadas a procriar. O que
fazer então com as crias machos?
Estabeleceu-se a cultura do
matadouro, uma poderosa indústria
da carne e o mito da carne como
alimento essencial para a saúde.”
Graças a Srila Prabhupada nos
livramos desse karma.

Em outra ocasião, pude falar para


uma grande platéia de pessoas em
busca de soluções alternativas para se
viver bem nesse planeta. Eu dizia:
“Em nossa fazenda, os animais são
considerados com membros da
comunidade. Eles não são
explorados. Todos eles são
conhecidos pelo nome; tem a data de

87
nascimento registrada, com nome do
pai e da mãe...” Fui calorosamente
ovacionado. Emocionante.

Dias atrás, houve uma discussão no


fórum mundial de discípulos de
Prabhupada sobre um tema que volta
e meia eu tenho sido solicitado a
opinar entre devotos aqui no Brasil.
Trata-se da delicada questão sobre o
leite comercial. Como sabemos, o
leite comercial está intimamente
relacionado com os matadouros. A
vaca para fornecer leite tem que
procriar. Se a cria é fêmea, será
tratada para se tornar uma vaca
leiteira, mas se a cria é macho, vai
engordar num pasto para, quando
chegar a um número X de arrobas, ser
vendido ao matadouro. O leite torna-

88
se um produto relativamente barato,
pois é subsidiado pela venda dos
animais machos ao matadouro. Por
sua vez, a vaca leiteira, depois de
alguns anos fornecendo o cobiçado
leite, é também mandada ao
matadouro quando sua produção
decresce e torna-se economicamente
inviável. Tudo isso está envolvido
numa atmosfera de violência. Uma
violência desnecessária. O fato é que
ao se consumir esse leite e derivados,
a pessoa fica irremediavelmente
relacionada karmicamente a essas
atividades, que são totalmente
contrárias ao dharma e consideradas
práticas pecaminosas.

Outro fator questionável é que o leite


de saquinho é um líquido pobre, pois

89
foram retiradas várias substâncias
para confecção de produtos
derivados. Além disso, quando os
animais são tratados visando-se
somente o lado comercial, injetam no
animal um monte de remédios e
hormônios, cujos resíduos certamente
estarão presentes no leite. No leite
embalado em caixa, a situação é
inclusive pior, pois são adicionados
conservantes, como formol. Quando
o prazo de validade do produto expira
nas prateleiras do supermercado, ele é
recolhido para ser reciclado e, então,
volta de novo para a venda. Já não é
mais o leite como ele é.

O dilema dos devotos é que o leite é


um ícone da cultura védica. No
Bhagavad-gita, Krishna diz que é o

90
dever dos vaishyas proteger as vacas
— go-rakshya. O guí é o elemento
mais importante nos yajñas. Nas
oferendas das deidades é impossível
se prescindir do leite. Principalmente
em grandes centros urbanos, como
vamos achar um leite confiável?
Devemos oferecer esse leite
comercial às deidades? E quando ao
consumo dos mesmos?

No fórum mencionado acima, alguns


devotos argumentaram que só
tomavam leite de vacas protegidas,
isto é, vacas que fazem parte de um
programa de proteção em alguma
fazenda da ISKCON. Vários devotos
afirmaram que, não tendo acesso
freqüente ao leite de vacas
protegidas, eles adotaram a dieta

91
vegana. Um fato incontestável é que
o leite de vacas protegidas é
completamente vegano, pois não há
exploração e violência no processo da
produção.

Um devoto antigo nesse fórum fez o


seguinte comentário: “Será que o
simples pronunciar de alguns mantras
à frente de um quadro ou murti de um
Krishna abstrato teria a potência
suficiente para purificar esse leite?”
Outro devoto comentou: “Às vezes os
devotos esquecem que Krishna, Ele
próprio, é um vaqueiro. Não dão a
mínima atenção nem têm o mínimo
interesse nos programas de proteção
das vacas”.

Outros, por sua vez, contra-

92
argumentam dizendo que Prabhupada
aceitava esse leite e, mesmo embora
não fosse o ideal, se o leite é
oferecido com amor e devoção,
certamente Krishna o aceita. Esse
argumento tem normalmente sido
considerado como definitivo para a
solução desse impasse. Em vista de
tantas opiniões sobre esse assunto tão
delicado e controverso, como chegar
a um consenso? E agora? Como
resolver esse dilema? Qual seria uma
solução alternativa de consenso?

A solução encontrada em consenso


foi a seguinte: Afim de se purificar a
oferenda de leite comercial às
deidades e o leite usado na
alimentação dos devotos, todos os
devotos de Krishna deveriam apoiar

93
financeiramente os projetos de
proteção das vacas do movimento de
Prabhupada. Tal atitude espontânea
por parte dos devotos, mesmo
dispondo de pequena quantia,
fortaleceria tremendamente os
projetos dedicados à proteção das
vacas e, conseqüentemente,
fortaleceria o próprio movimento,
pois todos sabemos como Srila
Prabhupada amava e dava
importância a esse programa. Uma
doação regular, mesmo que pequena,
traria imensos benefícios espirituais
aos devotos e à missão de
Prabhupada.

Um projeto de proteção das vacas não


é um programa sustentável, isto é, ele
não se mantém por si próprio. Não é

94
um projeto simples. Na verdade, é
bastante complicado. É um projeto
que tem que ser totalmente
subsidiado. Não gera recursos.

Alguém pode argumentar: “Mas por


que vocês não comercializam o leite e
os produtos lácteos e assim poderia
cobrir as despesas”. Isso pode ser
feito em pequena escala, caso haja
excedente na produção de leite.
Proteção das vacas e comercialização
do leite não se coadunam. Produção
comercial de leite acarreta exploração
dos animais. Nos primórdios da
primeira fazenda do movimento nos
Estados Unidos, New Vrindavana, os
devotos fizeram um mega projeto de
produção de leite. Mas tudo resultou
num fracasso. Gerou uma

95
superpopulação de animais e uma
fonte de ansiedades e problemas.

Alguém pode também argumentar:


“Qual é o gasto de manter uma vaca?
Ela come capim...” É um fato que
alimentar os animais não é o
problema maior. É necessário que se
tenha um bom pasto, uma capineira
produtiva (capim elefante ou napier),
uma picadeira de capim, oitenta por
cento do problema está resolvido.
Mas tudo isso requer investimento.
Além do capim, as vaquinhas de leite
precisam de um complemento de
proteína. No curral sempre deve ter
farelo de trigo ou de soja e o milho
moído que custam uma média de 50
reais um saco de 20 quilos.

96
Outra despesa são os remédios.
Alguns meses atrás, a Vrinda, uma de
nossas vacas, estava a ponto de parir
e teve uma inflamação violenta em
uma das tetas. Seu úbere inchou
consideravelmente. A situação estava
crítica e urgente. Eu pessoalmente fui
até a cidade e recorri a um veterinário
que receitou antibiótico e outras
medicinas. Custo dos remédios: 120
reais. Em poucos dias a Vrinda estava
recuperada. Por aí, podemos ver que
não é muito barato manter esses
animais. Imaginem se não tivéssemos
uma reserva de lakshmi na hora para
cobrir um gasto urgente desses...

As despesas mais pesadas do


programa de proteção das vacas são,
no entanto, os trabalhos de

97
manutenção (roçada) dos pastos e das
cercas (moirões, arame farpado, etc.).
Esses são trabalhos custosos que
exige a contratação de pessoal
especializado para isso. Cada
operação como essa custa alguns
milhares de reais. A cada dois anos é
necessário fazer uma manutenção nos
pastos.

Aqui no yatra brasileiro, nós temos a


ventura de possuir três fazendas:
Nova Gokula, Nova Vrajadhama e
Goura Vrindávana. Em Goura
Vrindávana, estamos desenvolvendo
um programa de proteção das vacas,
chamado “Surabhi Seva”, sob a
direção de Venu Gopal Prabhu e
assistência de Jaya Bhakti Prabhu.
Alguns devotos e devotas, assim

98
como alguns simpatizantes, têm
contribuído para esse programa. Mas,
mesmo assim, o montante ainda está
aquém dos gastos. Precisamos
fortalecer mais esse setor.

Proteção das vacas em Goura


Vrindávana. Aqueles que desejarem
contribuir para esse projeto, por
favor, contatem Venu Gopala Prabhu
no e-mail surabhiseva@goura.com.br
.

Uma mobilização dos devotos em


apoio financeiro aos programas de
proteção das vacas será muito
benéfica para o projeto de Nova
Gokula. Por anos e anos, dezenas de
animais vivem soltos pela
propriedade sem o devido cuidado.

99
Várias áreas de pasto foram
irreversivelmente perdidas, pois
viraram capoeira. As medidas que
devem ser tomadas são urgentes. Se
todos os devotos e simpatizantes que
estão conectados com Nova Gokula
se conscientizarem de que é um dever
moral e espiritual de todos os
seguidores da cultura védica apoiar os
programas de proteção das vacas, a
administração de Nova Gokula
poderá facilmente resolver todos
esses problemas, que vêm se
arrastando sem solução por anos a
fio.

Da mesma forma que Nova Gokula


pode ser beneficiada, nossa fazenda
de Caruarú, Nova Vraja-dhama,
poderá estabelecer um belo programa

100
de proteção das vacas. Sabemos que
muitos devotos estão cooperando
financeiramente com os projetos
locais, mas ninguém vai empobrecer
se contribuir mensalmente nem que
seja com vinte reais para essa causa
tão valiosa. O importante é ter o
compromisso e a constância em suas
doações.

Grave isso em tua consciência:


Purifique tua associação com o leite
comercial contaminado apoiando os
projetos de proteção das vacas do
movimento aqui no Brasil.

Vamos lá pessoal, vamos levantar


esses programas de proteção das
vacas nas comunidades rurais de
nosso movimento para a total

101
satisfação de nosso amadíssimo
acharya Srila Prabhupada.

102
Autor

Sua Santidade Purushatraya


Swami é um dos principais líderes
mundiais da Sociedade Internacional
para a Consciência de Krishna
(ISKCON). Na vida monástica desde
1976 e sannyasi (ordem de vida
renunciada) desde 1985, o Swami
coordena atualmente o bem-sucedido
projeto da Comunidade
Autossustentável de Goura
Vrindavana (www.goura.com.br), no
meio da Mata Atlântica, em Parati
(RJ), após ter ficado cerca de 8 anos
na Índia, ministrando aulas de

103
filosofia em diversas instituições no
país. Paralelamente, estudou piano na
juventude e gravou dois CDs de
mantras com diversas participações
especiais, e viaja ao redor do mundo
dando palestras sobre a Filosofia
Védica.

104
105
106
107
108
Índice
Sumário 3
1- Além do
8
Vegetarianismo
2- Que mal há em matar os
49
animais?
3- Proteção das Vacas 83
Autor 103

109

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