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A emoção no design: uma discussão sobre as práticas e

abordagens
The emotion in design: a discussion about the practices and approaches

SCHLEMMER, André; BSc; Universidade Federal do Paraná, Programa de Pós-Graduação em


Design.
schlemmer.andre@gmail.com

Resumo

O tema emoção tem sido cada vez mais explorado nas publicações e estudos em design.
Diante disso, o profissional dessa área deve buscar resultados para proporcionar uma
experiência agradável aos destinatários de seus projetos. Este artigo tem como objetivo
apresentar uma visão geral das práticas e abordagens desta relação entre design e emoção. Um
estudo exploratório mostra, através de uma revisão de literatura, a conceituação, o
funcionamento, a classificação e as ferramentas utilizadas para avaliar a emoção no design.
Os resultados revelam que a emoção tem parte da tomada de decisões dos usuários, sendo um
dos fatores relevantes na avaliação de um projeto e os designers devem considerá-la, mesmo
que a emoção seja mutável, instantânea, ela precisa ser mensurada para se obter resultados
satisfatórios.

Palavras Chave: Emoção no Design, Avaliação da Emoção, Design Emocional.

Abstract

The issue emotion has been increasingly explored in publications and studies in design. Given
this, the professionals of this area should seek results to provide a pleasant experience to the
users of their projects. This paper aims to present an overview of the practices and
approaches of the relationship between design and emotion. An exploratory study shows,
through a literature review, the conceptualization, operation, classification and the tools used
to assess emotion in design. The results show that emotion is part of the decision making of
users, one of the relevant factors in assessing a project, it is recommended that designers
consider it, even if the emotion is changeable, instant, it needs to be measured to obtain
satisfactory results.

Keywords: Emotion in Design, Evaluation of Emotion, Emotional Design.


Introdução
A emoção era um termo praticamente ausente ao design, hoje, ganha cada vez mais
espaço em publicações e estudos que envolvem essa relação. Segundo Norman (2008), a
relação entre design e emoção foi registrada com o nome “Design Emocional”, desta maneira,
o profissional em design direciona sua atenção para a interpretação e interação com o meio
físico e social das pessoas, com o intuito de buscar resultados para proporcionar uma
experiência agradável.
Podemos dizer que as pessoas desenvolvem relações afetivas com os produtos,
produzindo experiências que podem ser positivas ou negativas, que geram sentimentos
prazerosos ou desagradáveis. Cabe ao designer utilizar métodos e técnicas para identificar e
avaliar as emoções no design.
Diante desse cenário, o presente estudo tem como objetivo explorar a emoção no
design, bem como, apresentar uma visão geral das práticas e abordagens da emoção inseridas
no design.

Conceituação da emoção
A emoção é conceituada por Bock, Furtado e Teixeira (1991, p. 175) como
“expressões afetivas acompanhadas de reações intensas e breves do organismo”. Segundo os
autores, a emoção acontece por uma experiência interna que é percebida pelas modificações
no organismo (como exemplo, o batimento cardíaco acelerado). Damásio (1996, p. 168)
define a emoção como “a combinação de um processo avaliatório mental, simples ou
complexo, com respostas dispositivas a esse processo, em sua maioria dirigidas ao corpo
proprieamente dito, resultando num estado emocional”.
Para James (1884), a natureza da emoção surge de sentimentos de prazer e desprazer,
do interesse e da excitação, ligados pelas operações mentais, que apresentam à expressão
corporal. James (1884) defende que as mudanças corporais se manifestam pela percepção do
fato estimulado, desta maneira o sentimento criado pelas mudanças corporais podem ser
denominados de emoção.
Na visão de Rolls (2000), as emoções podem ser produzidas através da entrega,
omissão, término de recompensas ou punições aos estímulos, por exemplo, a frustração de um
prêmio recebido (omissão da recompensa esperada), a morte de um ente querido (término da
recompensa de viver com a pessoa amada), ou ainda, o alívio por colocar um barco fora de
perigo (omissão ou término da punição, sem culpas ou dores).
Além dos estímulos, as emoções também compartilham dois princípios básicos, ou
seja, podem ser positivas e atraentes ou negativas e repulsivas e com esses princípios
conseguimos escolher o que é bom para nós (CSIKSZENTMIHALYI, 1999).
Relacionando os conceitos apresentados, podemos concluir que a emoção é gerada por
estímulos internos, manifestados pela expressão corporal do indivíduo, que determina um
estado emocional, podendo ser positivo ou negativo, atraente ou repulsivo. Mas como
funcionam esses estímulos internos? Como os sinais se comunicam e reagem no ser humano?

O funcionamento da emoção
No cérebro humano, um conjunto de sistemas é dedicado tanto à razão quanto a
emoção, o processo de pensamento, guiado para um determinado fim, chamamos de
raciocínio (a razão), desenvolvido pelo córtex pré-frontal (visualizado na figura 1), no mesmo
conjunto se localiza o sistema límbico (destacado pelo contorno preto da figura 1),
responsável pela emoção (DAMÁSIO, 1996). Sendo assim, ao selecionar uma resposta, o ser
humano ativa este conjunto de sistemas e toma uma decisão através do seu domínio pessoal e

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social (DAMÁSIO, 1996). Todavia, ao ativar essas unidades cerebrais, o ser humano não
toma apenas a decisão pelo lado racional, mas também, envolvem na decisão, suas emoções e
sentimentos, que são manifestadas por estímulos que alteram o estado do corpo, apresentando
as reações emocionais (DAMÁSIO, 1996).
A partir disso, sabemos que o corpo e o cérebro interagem entre si e
consequentemente, o organismo interage com a mesma intensidade no ambiente em que o ser
humano convive (DAMÁSIO, 1996).

Figura 1: Córtex frontal e o sistema límbico


Fonte: Guizzo (2011)

De acordo com outra pesquisa feita por Santi (2011), explica que no cérebro o sistema
desenvolvido pelo córtex pré-frontal raciocina os problemas e faz comparações com tudo
(papel pelo qual é dedico à razão), que faz as escolhas para garantir o sucesso em longo prazo,
por outro lado, as pessoas possuem emoções e sentimentos irracionais, que são preocupados
com o resultado imediato das escolhas. Deste modo, o instinto das pessoas influenciam
diretamente suas escolhas, mesmo quando as pessoas não querem (SANTI, 2011).
Assim, todas essas escolhas ou experiências são registradas e catalogadas por uma
região do cérebro, denominada como sistema de recompensas, que contém o nível do prazer e
da frustração das pessoas (SANTI, 2011). O funcionamento fica por incumbência dos
neurônios, que controlam a dose de dopamina (neurotransmissor que causa sensações de
prazer e motivação) acessando constantemente a memória das pessoas para orientar o cérebro
sobre as alternativas (SANTI, 2011).
Portanto, sabemos que as pessoas tomam decisões usando sempre o instinto, a
experiência (pessoal e social) e a razão, por esse motivo, tanto os lados racional e emocional
não decidem individualmente a tomada de decisão, o importante é saber usar as alternativas,
mesmo assim, o sistema de recompensas anota tudo e avisa se algum equívoco acontecer
(DAMÁSIO, 1996; SANTI, 2011).
Além disso, as emoções também possuem um mecanismo pré-organizado, pelo qual as
pessoas reagem a determinadas características dos estímulos recebidos pelo envolvimento no
ambiente e corpo, são identificadas individualmente ou em conjunto (DAMÁSIO, 1996).

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As emoções pré-organizadas fazem parte de um processo básico e são chamadas de
emoções básicas ou primárias, que possuem uma classificação. Na sequência, apresento
algumas características que distinguem emoções básicas de outras emoções, como também,
uma tabela desenvolvida a partir das visões de alguns autores sobre as emoções consideradas
básicas.

Classificação das emoções


As emoções podem ser classificadas de acordo com Reeve (2008), num nível geral
como uma família (por exemplo, a raiva) ou em um nível de situação específica (por exemplo,
inveja, frustração). Para Ortony e Turner (1990), algumas emoções recebem um tratamento
especial, são privilegiadas e chamadas por vários teóricos contemporâneos de emoções
básicas, primárias ou fundamentais.
Além disso, os autores destacam que não existe um consenso significativo de quantas
emoções são consideradas básicas e nem todos os teóricos consideram a ideia da existência de
emoções básicas, porém, a maneira como utilizam os termos acabam empregando diferentes
expressões para a própria emoção, que antecede da mesma fonte de pesquisa (ORTONY e
TURNER, 1990). Estas pesquisas apresentam algumas observações da rotina humana e
indicam que algumas destas emoções existem em todas as culturas, sendo universal, são
reconhecidas por expressões faciais e estão relacionadas à sobrevivência do indivíduo e da
espécie (ORTONY e TURNER, 1990).
Ainda sobre a composição das emoções básicas, os teóricos da emoção seguem duas
concepções distintas, uma delas está relacionada com a biologia e a outra diz respeito à
psicologia (ORTONY e TURNER, 1990). Na visão da biologia, os teóricos acreditam que as
emoções básicas contribuem para compreender o significado funcional das emoções no
organismo do indivíduo e da sua espécie (ORTONY e TURNER, 1990).
Para definir as emoções básicas com fundamento na biologia, os teóricos mensuraram
a emoção pelo comportamento do sistema cerebral e as consequências sensoriais dos
indivíduos (aspectos fisiológicos e anatômicos), com isso, concluíram que as emoções básicas
com base na biologia são mais fáceis de serem encontradas e relacionadas através da
diversidade cultura (ORTONY e TURNER, 1990).
Outra forma de compor as emoções básicas é com base na psicologia, que existe um
pequeno conjunto básico de emoções nos indivíduos e que através deste conjunto são
construídas as outras emoções, ou ainda, entre a combinação de elementos básicos surgem
outras emoções chamadas de não básicas (ORTONY e TURNER, 1990).
Sob esta perspectiva da psicologia, Reevy, Ozer e Ito (2010) explicam que os
indivíduos nascem com tendências a sentir emoções e que a vivência com as emoções,
geradas pelas experiências em sociedade, fazem com que os indivíduos diferenciem e
classifiquem cada uma delas.
De acordo com Frijda (1986), a identificação da emoção acontece pelas mudanças
causadas pela disposição de uma ação e diferentes modos de disposição causam diferentes
emoções, sendo assim, as emoções não consideradas básicas são identificas pela mescla ou
mistura das emoções básicas.
Cabe ressaltar que as duas concepções de emoções básicas não trabalham sozinhas,
elas estão relacionadas entre si, como também, as emoções são consideradas básicas apenas
pelo fato de produzir emoções mais gerais, que eliminam componentes complexos
fisiológicos, cognitivos, fenomenal e comportamental dos indivíduos (ORTONY e TURNER,
1990).
Em seu estudo, Ekman (1999) apresentou algumas características que distinguem
emoções básicas de outras emoções e de outros fenômenos afetivos, são elas:

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 Sinais universais característicos;
 Diferenciação fisiológica;
 Avaliação automática, ajustada para;
 Sinais universais característicos em eventos antecedentes;
 Desenvolvimento da aparência distinta;
 Presença em outros primatas (indivíduos);
 Fácil identificação;
 De breve duração;
 Que ocorra espontânea;
 Pensamentos distintos, memórias por imagem;
 Experiência subjetiva distintiva.
Com base no estudo de Ortony e Turner (1990), apresento na tabela a seguir, um
conjunto que representa a posição de alguns teóricos sobre as emoções consideradas básicas.

Tabela 1: As emoções básicas na visão de alguns teóricos


Autores

Oatley e Johnson-Laird (1987)


Weiner e Graham (1984)
Campos e Barrett (1984)
McDougall (1926)

Ekman, Friesen e

Panksepp (1982)
Ellsworth (1982)

Tomkins (1984)
Mowrer (1960)

Plutchik (1980)
Watson (1930)

Arnold (1960)

Reeve (2008)
James (1884)

Frijda (1986)
Izard (1971)

Gray (1982)

Tipos de
Emoções
Básicas
Medo           
Raiva         
Alegria       
Repulsa       
Tristeza       
Interesse     
Surpresa     
Ira    
Amor   
Felicidade   
Vergonha   
Ansiedade  
Culpa  
Depressão  
Desejo  
Desprezo  
Maravilha  
Pesar  
Sofrimento  

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Aceitação 
Antecipação 
Aversão 
Coragem 
Desespero 
Dor 
Esperança 
Exaltação 
Expectativa 
Inveja 
Ódio 
Pânico 
Prazer 
Sensível 
Submissão 
Terror 

Sob os aspectos da classificação das emoções, Ekman (1999) acredita que para
classificar as emoções é necessário considerar o que está ocorrendo dentro da pessoa (planos,
memórias, mudanças fisiológicas), o que provavelmente ocorreu antes (antecedentes) e o que
provavelmente ocorre depois (precedentes), as consequências, a tentativa ou a ação tomada
pela pessoa.

A emoção no Design
A emoção faz parte do ser humano, sabemos que ela interage junto com o lado
racional de cada um, portanto, a emoção tem parte da tomada de decisão, da escolha, da
avaliação perante o produto. Alguns autores defendem que a emoção estava ausente no
Design e há pouco tempo ganhou destaque, pois o indivíduo estabelece relações afetivas com
os produtos que o cercam (NORMAN, 2008; MONT'ALVÃO e DAMAZIO, 2008).
Norman (2008) acredita que o design emocional faz com que os designers passem a
projetar focados na emoção, buscando resultados que proporcionem experiências agradáveis
para as pessoas. Na visão de Norman (2008, p. 13) “as emoções são inseparáveis da cognição
e fazem parte de um sistema de julgamento do que é bom ou ruim, seguro ou perigoso”. O
autor direciona as emoções para três níveis de processamento, representados na figura 2.

Figura 2: Os três níveis do processamento (baseado em Norman, 2008)

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Segundo Norman (2008), os três níveis de processamento estão associados entre si e
consequentemente, tudo o que as pessoas fazem, existe um componente cognitivo e um
componente afetivo, sendo assim, o cognitivo concede significado e o afetivo concede valor.
Além disso, Norman (2008, p. 53) explica que “as emoções modificam o
comportamento durante um período de tempo relativamente curto, pois reagem aos
acontecimentos imediatos”, e mesmo assim, os traços característicos das pessoas, que definem
sua personalidade, também são mutáveis, pois mudamos nossos parâmetros de acordo com a
situação. Assim, as emoções interpretadas pelas pessoas relativas às suas experiências, podem
ser interpretadas de diferentes formas, o que agrada a um pode não agradar a outro
(NORMAN, 2008).
Em síntese, sabemos que a emoção também é um dos fatores que precisa ser estudado
e analisado no design, pois as pessoas escolhem um determinado produto, tomam decisões,
avaliam o que querem através das experiências que se manifestam ao se relacionar com os
produtos, levando em conta o envolvimento afetivo, os sentimentos que são gerados, o
impacto emocional, o atrativo estético, a satisfação e o prazer provocados por essa interação.
Mas como podemos avaliar a emoção no design? A seguir apresento algumas técnicas
que auxiliam o designer na avaliação da emoção no design.

Técnicas de avaliação das emoções


Para Norman (2008, p. 216) “a resposta apropriada para uma emoção evidentemente
depende da situação”, sendo assim, para medir a emoção deve levar em consideração qual
tarefa o usuário vai participar, em que condições e que ações vão ocorrer.
Um estudo conduzido por Desmet (2002) examinou os tipos de emoções que são
induzidas pela aparência do produto. O autor desenvolveu um modelo para medir essas
emoções, mostrado na figura 3 e apresenta três parâmetros: (1) avaliação, (2) preocupação e o
(3) estímulo.

Figura 3: Modelo básico para medir as emoções (adaptado de Desmet, 2002, p. 107)

O modelo parte de uma preocupação e uma estimulação e a partir destes dois


parâmetros, o indivíduo faz uma avaliação se o produto será benéfico, prejudicial ou nulo. Ao
atribuir essa avaliação o indivíduo gera um significado pessoal ao produto, que
consequentemente provoca a emoção. Por exemplo, ao avaliar um carro, a preocupação é com
a segurança, a estimulação é pelos opcionais gratuitos, consequentemente a avaliação do carro
será benéfica, logo, vai provocar uma emoção positiva e agradável.

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Em suma, o modelo básico tem a finalidade de compreender as respostas emocionais
da interação humano-produto e determina se a aparência do produto provoca uma emoção
agradável, desagradável ou uma ausência de emoção (DESMET, 2002).
O mesmo autor desenvolveu outra técnica de avaliação, uma ferramenta para medir as
emoções que parte das expressões faciais e a linguagem corporal (DESMET, 2002). A
ferramenta foi denominada PrEmo e recentemente foi atualizada por Caicedo (2009), onde o
participante pode escolher entre 14 emoções e em seguida atribui valores em uma escala do
“quanto se sente” perante a emoção selecionada, as 14 emoções são representadas por
animação de dinâmica facial, corporal e expressões vocais (CAICEDO, 2009).
Outra ferramenta que avalia as emoções e segue parâmetros semelhantes com a do
PrEmo, ou seja, um combinado das expressões faciais e a linguagem corporal que mostra
emoções específicas para proporcionar um meio de comunicação das emoções, expressadas
por um personagem, é a ferramenta denominada de LEMtool (Layered Emotion Measurement
tool.). A LEMtool avalia a experiência emocional na interface e funciona como um auto-
relato, de fácil instalação online, compreensível e pode ser usada em diversas culturas (HOUT
e HUISMAN, 2010).
Existe uma ferramenta que mede a desejabilidade, criada por pesquisadores da
Microsoft Corporation, chamada de Desirability Toolkit (BENEDEK e MINER, 2002). Este
kit de ferramentas para medir a desejabilidade constitui-se de um questionário de faces
(fotografias de rostos), trabalhando com expressões faciais e emoção, com o objetivo de ter
um feedback imediato sobre o produto e as emoções apresentadas durante o uso (BENEDEK
e MINER, 2002).
A outra ferramenta do kit constitui-se de 118 cartões que expressam reações ao
produto (por exemplo, fácil de usar, atrativo, chato, motivador, rígido, etc.), assim, o
participante escolhe as palavras que melhor descrevem o sentimento que o motivou a usar o
produto. Após escolher o conjunto de palavras o usuário é convidado a sintetizar as
selecionadas em um grupo de apenas cinco cartões (BENEDEK e MINER, 2002).
Além destas ferramentas apresentadas até o momento, existem outras que também
auxiliam o designer para mensurar a emoção, entre elas, destacam-se os Emocards,
semelhantes ao Desirability Toolkit, onde os usuários auto-relatam suas emoções, utilizando
cartas com expressões faciais, que identificam como estão se sentindo sobre sua interação
(REIJNEVELD, LOOZE, et al., 2003). Seguindo os mesmos aspectos, o Moodboards, se
utiliza de imagens (no geral, imagens fotográficas) para avaliar o humor da pessoa durante a
interação com o produto (GARNER e MCDONAGH-PHILP, 2001).
O TRUE ( Tracking Real Time User Experience) que auxilia o designer no
rastreamento do comportamento dos usuários, monitorando digitalmente a interação entre o
usuário e o sistema, através da gravação em vídeo e podendo intercalar dados
comportamentais e atitudes do usuário em relação ao sistema (KIM, GUNN, et al., 2008).
O ESD (Emotion Sampling Device) é uma ferramenta baseada na teoria de avaliação
cognitiva (CAT) e no sistema de avaliação emocional, que condiz em uma série de questões
onde as respostas identificam as causas da emoção, podendo ser identificado até 17 emoções
diferentes (ROSEMAN, ANTONIOU e JOSE, 1996).
Por fim, apresento a ferramenta AttrakDiff, parte de um projeto desenvolvido pela
User Interface Design GmbH (UID) e por Hassenzahl Marc, com o objetivo de fornecer
soluções de atratividade do produto (ATTRAKDIFF, 2005). A ferramenta consiste em pares
de palavras que simplificam o processo de classificação do produto, um par de palavras
representa entre si o oposto (por exemplo, desagradável – agradável), com isso os
participantes selecionam em uma escala Likert o quanto se torna um produto atrativo
(ATTRAKDIFF, 2005).

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Em suma, pode-se dizer que as ferramentas que medem a emoção no design, são
categorizadas em três grupos: verbais, não-verbais ou fisiológicas.
As ferramentas verbais condizem basicamente de auto-relato, onde os usuários relatam
suas emoções e utilizam uma escala para registrá-las. Os fatores negativos da técnica verbal
são de capturar apenas os estados emocionais conscientes dos usuários, tendem a ser longas e
demoradas, podendo ainda distorcer o que os usuários sentiram no início da aplicação. Essas
medidas verbais também dependem do fator cultural, não pode generalizar para todas as
culturas ou populações, porém, ela apresenta uma facilidade no seu desenvolvimento e
utilização (AGARWAL e MEYER, 2009; DESMET , 2004).
Por outro lado, as ferramentas não-verbais tem a vantagem de serem utilizadas por
diferentes culturas, são discretas, não atrapalham os usuários durante a aplicação. As medidas
não-verbais condizem basicamente de representações visuais da emoção, onde os usuários
selecionam o que caracteriza o seu sentimento (AGARWAL e MEYER, 2009; DESMET ,
2004).
E por fim, a última categoria que surge das mudanças que ocorrem nas atividades do
sistema nervoso autônomo (SNA) e que são responsáveis pelas medidas das emoções no
contexto fisiológico. Para serem medidas, existe um conjunto diversificado de técnicas e
instrumentos que podem variar de uma medição da pressão sanguínea, respostas da pele,
dilatação da pupila, batimentos cardíacos e até ondas cerebrais (DESMET, 2004).
Um exemplo de ferramenta utilizada para medir respostas fisiológicas, é a
eletromiografia facial (Facial EMG), que identifica através de sinais específicos dos músculos
faciais as reações emocionais, por exemplo, quando o usuário sorri, o músculo zigomático é
contraído e faz uma associação direta aos estímulos emocionais positivos e ao estado de
humor do usuário (BOXTEL, 2010).
Então, podemos perceber que existem vários métodos que os designers podem utilizar
para avaliar a emoção no design e todos estes métodos apresentam fatores positivos e
negativos no seu uso, compete ao designer escolha a melhor maneira de aplicá-los, para isso,
é necessário saber o se quer medir e como será medido.

Conclusões e desdobramentos
O artigo teve o objetivo de explorar a emoção no design, revelando que a emoção
passou a ser um componente importante nas discussões científicas e acadêmicas da nossa
área, bem como, na avaliação usuário-produto. Por isso, os designers precisam avaliar além
da usabilidade, da funcionalidade ou dos aspectos pragmático do produto.
Sob estes aspectos, Desmet (2002) afirma que existe uma variedade de fenômenos
(por exemplo, humor, paixão, prazer) que devem ser considerados e estão relacionados com a
emoção e consequentemente, classificam os estados afetivos das pessoas, portanto, é
necessário incluí-los na avaliação.
Acima de tudo, os autores concluem que estudar a emoção é desafiador, pois sua
construção é altamente complexa, subjetiva e a grande maioria dos estudos são qualitativos.
Sobre as ferramentas para medir a emoção no design, o que posso concluir é que muito
depende do que se escolhe medir (produto, interface) e como será medido, dentro deste
contexto existem as três grandes categorias, verbais, não-verbais e fisiológicas.
Cabe ressaltar que Desmet (2004) explica que as ferramentais não-verbais na maioria
das vezes são menos subjetivas que as de auto-relato (verbais). Além disso, Norman (2008)
enfatiza que as respostas apropriadas de uma emoção dependem da situação e para medi-las é
preciso levar em consideração qual tarefa o usuário vai participar e em que condições e ações
vão ocorrer.

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Ainda, no escopo dos aspectos avaliativos, os autores aconselham usar complementos
se necessário for, ou seja, as ferramentas podem ter limitações e com isso o designer precisa
utilizar-se de outros recursos, como questionários ou entrevistas.
Diante do exposto, o meu levantamento não foi realizado de forma aprofundada e dos
métodos apresentados neste estudo, posso concluir que a grande maioria é similar entre seus
grupos (verbais, não-verbais e fisiológicas) e o grande diferencial é o contexto em sim, ou
seja, a facilidade de uso, qual o artefato (ex:. produto ou interface, etc.) será avaliado e quais
condições e acessibilidade a tais ferramentas estarão disponíveis ao designer.
Além disso, penso que hoje em dia, com tantas tecnologias disponíveis, seja possível
desenvolver outras técnicas inovadoras para auxiliar o designer na avaliação emocional e que
possam ser elaboradas através de uma mescla dos grupos (verbais, não-verbais e fisiológicas),
ou ainda, através de um estudo comparativo entre os métodos existentes, investigando os
aspectos positivos e negativos de cada método.
Da classificação das emoções, conclui-se, que existem algumas divergências sobre a
existência de quantas emoções são consideradas básicas, já que a tabela indica uma grande
diversidade, porém, alguns teóricos defendem que classificar as emoções é necessário, para
isso acontecer deve-se considerar o que está ocorrendo dentro da pessoa (planos, memórias,
mudanças fisiológicas), o que provavelmente ocorreu antes (antecedentes) e o que
provavelmente ocorrerá depois (precedentes), as consequências, a tentativa ou a ação tomada
pela pessoa.
Observou-se também que é difícil encontrar o motivo, a razão de uma emoção em
particular, segundo os autores, a emoção pode mudar instantaneamente, dificultando sua
avaliação. Nesses aspectos, Desmet (2002), afirma que as emoções são pessoais e cada
indivíduo experimenta diferentes emoções perante o mesmo produto, ou ainda, cada indivíduo
pode sentir mais que uma emoção ao mesmo tempo.
Portanto, pode-se concluir que a emoção é mutável, gerada por um estímulo, imediato,
relativamente curto e é nesse momento que ela deve ser mensurada para obter resultados
satisfatórios.
Sob estas circunstâncias fica claro que nós, designers, precisamos mensurar também o
emocional, já que o usuário recebe estímulos que influenciam na avaliação do que é
prejudicial ou benéfico, bom ou ruim, agradável ou desagradável e toma suas decisões sempre
usando o instinto, a experiência (pessoal e social) e a razão.
Como desdobramento deste estudo, surge à necessidade de um estudo na prática, para
saber quais métodos estão sendo utilizados para avaliar a emoção no design, quão subjetivas
estão sendo as respostas coletadas por tais métodos e quais métodos efetivamente funcionam,
para então poder discutir sobre a validade dos métodos e desenvolver um estudo comparativo
dos mesmos.

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