Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
E"#$%&
C&)#*+,&-.)*&
S&0-*
A"
R*3456*"
D*
A8*#&
E)#-*
O
H&+*+
E
O"
O0;*#&"
–
P-&%$#&"
R"#"$%
R'($')*
UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI
Rafael Ribeiro
SÃO PAULO
JANEIRO DE 2009
RAFAEL RIBEIRO
SÃO PAULO
JANEIRO DE 2009
DESIGN, EMOÇÃO E OBJETOLOGIA: estudos contemporâneos sobre as
Rafael Ribeiro
__________________________________
__________________________________
_________________________________
1 Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução total ou parcial do trabalho sem autori-
zação da Universidade, do autor e do orientador.
Rafael Ribeiro
Ateliê - LTDA” em São Paulo, onde atua como Designer de produto e interiores.
Ficha Catalográfica.
Ribeiro, Rafael
otimistas que me deram força no momento exato. Não ousarei escrever o nome de todos,
pois jamais me perdoaria se me esquecesse de alguém que teve um papel fundamental neste
trabalho; dessa forma, coloco como exemplos em cada página deste trabalho um depoimento
Mas algumas pessoas é impossível não citar, dentre elas destaco: meu herói,
Silvino, que com humildade, ensinou-me como conseguir tudo o que busco; minha pequena
mãe, que, a cada dia me ensina que a vida não foi um presente pelo qual se possa apenas
passar, mas que deve ser vivida com dignidade e muita felicidade; meu companheiro e
cúmplice irmão, Diogo, que sempre instigou minha curiosidade para que eu pudesse refletir
confundia seu verdadeiro papel neste trabalho, acumulando os papéis de mãe, amiga,
professora, companheira, mas, sem sombra de dúvida, mostrou-me que, por mais árduo que
possa ser o caminho da pesquisa, ele sempre valerá a pena. À preciosissima Rosane, que
sempre esteve pronta a nos auxiliar com seu conhecimento e suas conversas de riquíssimo
valor pessoal e intelectual, à professora Ana Paula de Miranda e ao professor Wilson Alixandrino
A minhas amigas Mariana Roncoletta, Regina Golden, Regina Maria, Tatiana Azzi,
Mirian Levinbook e Eloize Navalon, pela força e pela companhia nas aulas do Mestrado,
Enfim, agradeço a Deus por ser uma pessoa de muita sorte e poder conviver com
todos vocês.
Obrigado.
RESUMO
Este trabalho apresenta um estudo sobre a relação de afeto existente entre o Homem
e os objetos, tendo como base o estudo da Objetologia, que traz uma aproximação
entre as teorias evolucionistas das espécies, desde Lamarck até a Biologia moderna,
com a tese co-evolucionista, para compreender a evolução dos objetos. Além isso,
Palavras Chave:
Design, Emoção, Objetologia, Simbologia, Consumo.
ABSTRACT
This search presents a study on the relationship between human being and objects,
theories, from Lamarck to modern Biology with the co-evolution thesis, in order to
order to identify in contemporary man not only his user characteristic, but also the
consumer one, which transforms objects from utensils or artifacts in products that
Objetivos.................................................................................................................... 19
Metodologia ............................................................................................................... 20
OBJETOLOGIA. .............................................................................................. 21
contemporâneo. ........................................................................................... 33
SOCIAS. .......................................................................................................... 53
3.1 – Objetos com “alma”- elementos formadores das relações sociais. .............. 54
objetos. ........................................................................................................ 59
BIBLIOGRAFIA.......................................................................................................... 69
do, Fica diFícil eleger o que mais gosto... Mas gosto especialmente de tudo que pessoas
queridas
me
dão
de
presente
porque
“combina
comigo”.
A
idéia
de
que
nossa
identi‐
dade,
nossos
valores
e
nosso
jeito
de
ser
e
viver
se
expressam
nas
coisas
que
escol‐
hemos usar e que ganhamos é super bacana. E a idéia de que praticamente todos os
produtos são mediadores de ações sociais e podem ser usados para aproximar pes‐
soas é revolucionária! É com esse Fim que o designer dos tempos para lá de modernos
deve projetar: aproximar as pessoas, faze‐las ver, respeitar e valorizar as diferenças!
mover o encontro, o diálogo, a troca, a amizade e o convívio harmonioso de diferentes!”
Profa.
Dra.
Vera
Damazio
–
Puc
–
Rio
I[\)*]^_`*
13
produtos ditos “simbólicos”, analisar os objetos que compõem seu entorno e que
aos objetos uma autonomia quando projetados com intenção de seduzir ou atender
aos desejos de afeto de um usuário, o objeto, por si, é capaz de provocar reações
fisiológicas nos indivíduos, percebidas nos objetos, por meio de suas funções estética,
objeto e indivíduo.
pois são eles que determinarão a intensidade do interesse pelo objeto e diversificarão
numa relação social. Percebemos neste momento que esses objetos possuíam um
valor simbólico mais explícito que os estéticos ou mesmo práticos e que possuíam
a customização de massa.
contemporâneo, se, por princípio, entendemos que deva seguir a padronização das
temos celulares para os quais podemos comprar capas de cores diferentes, relógios
15
que trocam de pulseira, enfim, uma gama de produtos que atendem de certa forma às
com relação à utilização de um celular que mude de cor, por exemplo, era diferente
da utilização dos objetos que estavam contidos dentro de seu ambiente residencial,
contato com o usuário; já um objeto de casa, uma cadeira, por exemplo, não possui
tanto contato (fisico) com o usuário, mas seu valor sentimental é muito maior.
se deixasse a cadeira que foi de seu avô sofrer um arranhão sequer. A partir dessa
objetos e foi nesse momento que nos deparamos com a possibilidade de leitura sobre
Design e emoção área que está sendo estudada e mapeada nas últimas décadas
A partir das leituras feitas, percebemos então que esta dissertação estava
a primeira alteração de projeto e pesquisa foi proposta. Como os objetos que nos
dos indivíduos e que alí eram tratados como verdadeiras “peças de museu”, com toda
individuo, e se sua experiência afetiva fosse a maior responsável por esse processo
fase então, optamos em fazer mais uma modificação na proposta deste trabalho
relações simbólicas eram criadas a partir das relações de afeto que os usuários
tinha com o objeto, e mais, que essas relações de afeto eram despertadas a partir
dos objetos em seu caráter físico, cultural e social. Assim, pudemos perceber que as
relações de afeto sempre existiram entre homens e objetos e que talvez, justamente
por isso, desenvolvemos uma quantidade gigantesca de novos produtos que são
partir de sua interação (objeto) conosco onde elegemos algumas características que
prevalecem e ganham importância na ralação pessoa-objeto, ao passo que outras se
de um objeto que deveria então ser pensado, criada e projetada por um determinado
indivíduo (o Designer), à partir de então, para ser consumido por outras pessoas.
com o indivíduo.
a perspectiva dessa relação de afeto com os objetos; ele, que não mais é visto apenas
aplicamos neste trabalho, como ponto essencial para o entendimento das emoções.
tema (emoção) pode ser ampliado e aplicado múltiplas áreas de estudo incluindo
externos diretamente do próprio corpo humano. É o corpo que sente, manifesta suas
emocional, aquele projetado para despertar emoções e que funciona como formador
das nossas relações sociais, objetos estes que sejam emocionalmente atrativos, criem
das funções dos objetos, com destaque para a função simbólica responsável pelo
nós, consumidores.
Problema de pesquisa
prazer de pesquisa. As indagações apontadas por este trabalho nos fornecem grandes
Uma primeira questão que nos fez despertar para essa pesquisa foi o fato
Objetivos
que não mais consumimos a maioria dos produtos que utilizamos em nossas casas,
Metodologia
objetos pessoais.
Marketing, encontraram diálogos parecidos para fomentar uma discussão que seja
pertinente ao Design.
Gosto
do
meu
HD
externo
de
180
GB
pois
cabe
a
minha
vida
nele.
Bruno
Oss
C"st\^%*
1
O
H&+*+
E
O
O0;*#&
–
D>?3&@&"
C&)#*+,&-.)*&"
C&+
A
O0;*#&3&@>4.
22
Objetologia é o estudo das origens e do desenvolvimento físico, cultural, biológico e social dos objetos
dois séculos. Por volta de 1809 o naturalista francês Jean-Baptiste Pierre Antoine de
Monet Chevalier de Lamarck4 propôs, pela primeira vez, uma teoria organizada sobre
a evolução dos seres vivos. Para Lamarck, os seres vivos evoluíram de forma lenta
meio circundante. Tal teoria hoje já se encontra desacreditada, mas sua postulação
serviu como base para outros estudiosos interessados no processo de evolução como
Charles Darwin5.
Evolução das Espécies”, no qual apresenta sua teoria sobre a seleção natural dos seres
vivos, dizendo que o meio ambiente seleciona os seres mais aptos, que conseguem
2 1
(fonte: www.impeti.com Acesso em 31 de outubro de 2008, às 15:50h)
3 A palavra evolução não está sujeita a julgamentos do tipo “bom ou mal”, “melhor ou pior”; en-
tendemos por evolução a transferência de características hereditárias de uma população para outra, a
fim de melhor se adaptar ãs condições do ambiente.
4 Naturalista francês do século XVIII, nascido em Bazentin, no dia 01 de agosto de 1744 e fale-
cido em Paris, no dia 28 de dezembro de 1829. Desenvolveu a teoria dos caracteres adquiridos a partir
do uso e do desuso que, conjugada com a transmissão dos caracteres adquiridos, provoca desvios na
linha evolutiva. Segundo a lei do uso e desuso, os indivíduos perdem as características de que não
precisam e desenvolvem as que utilizam. O uso contínuo de um orgão ou parte do corpo faz com que
este se desenvolva e seja apto para o correto funcionamento; e o desuso de um orgão ou parte do
corpo faz com que ele se atrofie e com o tempo perca totalmente sua função no corpo do indivíduo.
Essas mudanças são repassadas aos descendentes por intermédio da transmissão das características
adquiridas. Embora sua teoria não tenha sido aceita pelos homens de sua época, a teoria do uso e
desuso faz uma aproximação muiito importante para pensarmos a evolução nos objetos.
5 Naturalista britânico que convenceu a comunidade científica da ocorrência da evolução e pro-
pôs uma teoria para explicar como ela se dá por meio da seleção natural e sexual.
23
ao longo delas, essas características firmam-se e geram uma nova espécie ou, ainda,
1884), elaborada em 1865, mas cuja divulgação só ocorreu no século XX. Darwin
desconhecia as pesquisas de Mendel. A síntese das duas teorias foi feita somente
nos anos 1930 e 1940. A teoria neodarwinista diz que mutações e recombinações
genéticas causam variações entre indivíduos sobre as quais age a seleção natural.
Biologia moderna apresenta, hoje, uma teoria denominada de co-evolução7, pela qual
área que inaugura sua fase de estudos e ainda possui poucos registros científicos ou
São Paulo, sugeriu a definição para o significado do termo Objetologia e analisou sua
objetos, propõe uma aproximação à teoria evolucionista dos seres vivos. Tal
físicos, biológico, cultural e social como aponta a citação de Brent White no início do
capítulo.
espécie torna-se parcialmente dependente da evolução da outra; a característica mais importante da
co-evolução, que interessa para este trabalho, está na interatividade, ou seja as duas espécies evo-
luem juntas a partir da interação de uma com a outra e neste sentido a evolução de ambas sempre
dependerá uma da outra nao podendo retrosceder.
8 Brent White é um “objetologista” sistematicamente observando o caminho evolutivo dos nos-
sos objetos e experimentando os limites do desenho por meio de móveis e artefatos domésticos. Suas
criações são programadas para perseguir a sua própria feliz existência e, ao mesmo tempo, perseguir
a troca simbólica de servidão e de energia com os seus homólogos humanos (também conhecida por
seus “donos”). Ele honra a vida secreta de objetos e explora essas peculiaridades como robôs muta-
ção, voluntário de vigilância e inanimada espiritualidade. Brent White tem um MFA em Design 3D na
Cranbrook Academy of Art and Design, e um BFA em Design na Universidade do Texas. As experiên-
cias profissionais de Brent incluem experiências com o público em larga escala para uma variedade
de museus e corporações expressando temas como espiritualidade, genética, ecologia e exploração.
Seus objetos foram mostrados localmente e internacionalmente, e ele foi selecionado como um dos
quinze mais procurados Designers da Wallpaper (revista 2004). Ele atualmente vive e trabalha em San
Francisco, praticando Necromancia em seu estúdio e lecionando Design de Interiores na Academia de
Arte da Universidade.
25
De fato, o Homem se
O
que
toca
minha
emoção,
ao
relaciona com os objetos que projeta ponto
de
mudar
completamente
meu
humor
são
perfumes...
tenho
e fabrica manipulando-os, adequando- uma
memória
olfativa
prodigiosa
e
cada
período
da
minha
vida
foi
os ou manuseando-os. Quando essa marcado
por
algum
perfume
(positiva
ou
negativamente)
que
eu
ou
outra
relação de interatividade é ativada pessoa
o
tenha
usando.
Inclusive
recordo
a
embalagem,
o
frasco,
a
cor
de
cada
um
ou encontra-se nesse processo quando
sinto
o
perfume.
vezes, em suas especificidades ou, ainda, descartados. Assim, o objeto torna-se apto
momentâneos:
corolário: uma vez que nada é perfeito e que, na verdade, nossas idéias sobre
9 Henry Petroski é professor de Engenharia Civil na Duke University e autor de diversos livros de
sucesso como: The Pencil, To Engineer Is Human. Pushing the Limits e Sucesso através do fracasso.
Escreve uma coluna mensal na American Scientist e é consultor eventual de programas da BBC. Estu-
dioso da evolução dos objetos.
26
objetos está associada às suas possíveis “falhas”, que garantem sua reestruturação,
com o seu tempo nos faz entender diversos utensílios que conhecemos hoje, mas que
objeto.
Revolução Industrial.
objetos.
Bem mais que isso, a Revolução Industrial não só causou efervescência e alterações
forma mais ágil e rápida pelas máquinas, garantindo, assim, um acúmulo de produtos.
que auxiliaria ainda mais a redução dos custos com mão-de-obra técnica, garantindo,
Nesse sentido, o processo de produção, que antes era feito por um único
artesão, agora é pensado de forma detalhada por outro sujeito que conheça e que
conhecemos hoje.
ainda com o consumo dos indivíduos que deverão absorver os excessos produtivos
ascensão.
Essas modificações
Forty diz, ainda, que o espaço que hoje entendemos como lar é uma criação
pensamos que os lares, tal como os conhecemos hoje, são uma criação
(anexo I) são os que mais se assemelham às nossas mãos e dedos e que nos são
corriqueiros, tão comuns e usuais no dia-a-dia que raramente nos daríamos conta da
Os utensílios que usamos diariamente para comer nos são tão familiares
automáticas, assim como fazemos com nossos próprio dedos. Muitas vezes
Para essa finalidade, então, utilizavam pedras para cortar, rasgar, amassar, enfim
obsidiana, que eram uma espécie de rocha muito dura e cujas pontas fragmentadas
eram altamente cortantes. Logo em seguida foi descoberta do fogo e por mais que
gravetos e varetas para segurar o alimento em contato com o fogo tempo suficiente
como o bronze e o ferro eram utilizados para construir tais artefatos; hoje, coexistem
hoje. Essa seria uma segunda hipótese que conta sobre a história e necessidade
Petrosky, certamente:
Analisar os talheres que utilizamos todo dia, e sobre os quais pouco sabemos,
experimentação e na
que limitem ou inibam a utilização desses objetos. É curioso pensar que tais fatores
estão diretamente ligado ao contexto cultural e social dos indivíduos, a exemplo disso,
diferente dos ocidentais, embora a função (levar o alimento até a boca) seja a
mesma.
fica claro, então, que não somente os homens e suas diversidades culturais e sociais
pp. 30/31)
contemporâneo.
e relação com os objetos: entendemos agora o indivíduo não mais como um usuário
produto.
cultural que o transforma em um indivíduo ávido por inovações e consumo. Essa avidez
12 Conceito criado por Clemente Nobrega cuja teoria propõe a revisão dos fundamentos do ma-
rketing, considerando o fato de que os desafios mercadológicos propostos na era digital remetem à
dinâmica das relações humanas e à própria evolução das espécies. (FERNANDES, Adolpho In NO-
BREGA, Clemente. 2002, p. 8)
34
exige que os objetos sejam caracterizados como produtos13, ou seja, que estejam à
Segundo Donald Norman, as emoções são fáceis de ser interpretadas por nós porque
parte por que o afeto está intimamente ligado ao comportamento. Uma vez
de formas de vida que privilegiam sua ação individual dentro de seu grupo e, por
esse motivo, o indivíduo torna-se um consumidor de produtos que cada vez mais
lhe tragam um bem-estar emocional. Essa busca por um bem-estar faz com que ele
deixe, cada vez mais, seus padrões antigos à procura de outros novos, o que antes
lhe servia hoje já não significa mais, é necessária uma nova construção cultural quase
que imediata.
Para Bauman,
A cultura consumista é marcada por uma pressão constante para que sejamos
2008, p. 128)
evoluir de acordo com o desejo dos homens, e mais, esse desenvolvimento não
necessariamente se caracteriza como “melhor” ou “pior” mas, sim, como aquele capaz
criam novas necessidades, mas despertam novos desejos que estão associados ao
quem sabe, um mesmo produto com diversas funções diferentes umas das outras.
novas formas de utilização mais subjetiva e emocional para interagir e dar novos
obtê-los do que utilizá-los, uma vez que estamos em um novo tempo em que os
eletrônicos, essa característica é mais visível e a busca sempre pelo menor tamanho
chega a esbarrar nos limites do corpo, como, por exemplo, teclas de celular muito
do consumo:
material para se consumir e é por isso que o aumento dos serviços, viagens, lazer,
não significa a desintegração total dos produtos/objetos de consumo, uma vez que
2006, p.60)
e complexo sobre ele. Dentre esses pressupostos, temos uma nova noção de
escolhas pessoais fazem com que o consumo se torne algo individual e particular,
39
o indivíduo.
o imaterial, que faz com que os indivíduos cada vez mais valorizem os aspectos
abstratos, conceituais, virtuais, o que, segundo Semprini, contraria a teoria de Maslow
nos anos 1940, com as escalas das necessidades, porque há uma interpretação
ordem material.
se tanto física como geograficamente, o que caracteriza uma busca prazerosa por
conseguimos entender quais são as buscas, os desejos que os usuários almejam nos
fator cultural e deve justamente ser pensado sob esse prisma. Eles nos explicam que
existe uma real distinção entre o desejo que move o consumo e a necessidade, que
torna o ser humano vulnerável e refém dos discursos e das artimanhas publicitárias e
bens como forma de suprir relações sociais. Buscar satisfação pessoal em consumir
desejo é uma manifestação cultural, portanto não se deve observar o consumo sem
fazer essa dissociação.
entre usuário e objeto, que pode ser melhor trabalhada pelo Design na criação de
deve ser entendido como sistema de significação que supre nossas necessidades
consumir é:
si mesmo e, assim como é próprio dos códigos, pode ser sempre inclusivo.
Nesse caso, inclusivo tem dois sentidos. De um lado, dos novos bens que a
42
eles se agregam e são por ele articulado aos demais e do outro, inclusivo de
vida cotidiana, a partir dele. Não é por outra razao que Mary Douglas ensina
que “os bens são neutros, seu uso são sociais; podem ser usados como
particulares e simbólicos por meio de suas formas estéticas e funcionais, podendo ser
experimentadas de várias maneiras, intensificando as relações de afeto entre objeto
e usuário.
Gostamos
do
nosso
gazebo
(quiosque),
pois
nele
vivemos
momentos
felizes
entre
nós
e
nossos
Filhos,
também
com
amigos.
Família
Severino
Almeida
C"st\^%*
2
D"#$%&
E
E+&5B&
–
I)#*--*3456*"
N4
C&)"#-$5B&
S>+0E3>F4
D&"
O0;*#&".
44
para a elaboração deste trabalho na Neurociência, já que estudos nesta área têm
substituído e contribuído de forma contundente com algumas visões mais clássicas
entre a Natureza e as circunstâncias; eles servem como guias para uma resposta
corpórea, uma vez que, nosso organismo se envolve com os sentimentos e responde a
artefato, todos eles têm por base os acontecimentos neurais que ocorrem
dentro de um cérebro, desde que esse cérebro tenha estado e esteja nesse
momento interagindo com o seu corpo. A alma respira por meio do corpo, e
emoções e sentimentos nos permitem entrar em contato com a Natureza, é o elo que
Willian James, médico que deu início ao estudo das emoções há cerca de
físicas diante de uma emoção. António Damásio cita essa experiência em uma
ação tivesse lugar. Na sua própria afirmação lapidar: “Cada objeto que excita
vontade racional ou não. Damásio conclui que as emoções são mudanças corpóreas
2006, p. 168/169).
universo particular de cada indivíduo e são criadas a partir de experiências que foram
nas suas relações sociais, criando produtos que sejam emocionalmente atrativos.
e usuários por meio das emoções está no significado do sentimento que, para
Damásio, é um processo de acompanhamento contínuo das experiências e que
existentes.
na mente do indivíduo, ele deve ter sido apontado primeiro por uma emoção e, com isso,
indivíduo. Nesse aspecto, conseguimos detectar o tipo de emoção que sentimos e qual
sentimento nos será despertado pois “ [...] o impacto humano de todas essas causas
48
Design possa repensar a relação entre usuário e objeto, tentando buscar outras
além das determinadas como práticas. Seu foco maior concentra-se nas funções
na forma como os indivíduos se relacionam com eles. Tais características são por ele
De acordo com Miranda (2008), os objetos Adoro
meu
cheirinho
ele
é
rosa
e
não
durmo
sem
ele,
ai
ai
são passíveis de consumo simbólico, uma vez que são que
“soninho”.
quem sabe mais, quem tem melhor desempenho, quem é mais talentoso)
(1) Processo interativo entre duas ou mais pessoas [...] e (2) Processo que
envolve o envio de mensagem para pelo menos um receptor e, para que o ato
pessoas; dessa forma, os objetos são utilizados como mensagem dentro desse
50
processo de comunicação.
Agradeço
meu
travesseiro
que
é
quem
Aconstrução simbólica dos objetos utiliza a emoção me
escuta
todas
as
noites.
outros.
origem na Revolução Industrial, o que existiu antes disso estava sujeito a análise e
dos espaços cotidianos do Homem; esse autor os classifica como um local para o
como o estresse, a monotonia, além das relações sociais entre patrões e empregados.
do trabalho. Era nesses locais que o indivíduo podia descansar, fazer suas refeições,
desenvolver suas relações sociais de caráter familiar; esse local foi denominado de
lar.
intimidade sem que fosse criticado, julgado e até mesmo condenado pela sociedade
por estar submetido a um sistema de produção industrial ao qual ele era praticamente
escravizado, pois, embora recebesse salários pelo seu trabalho, muitas vezes
51
Alíbio
Garbeloti
Sendo assim, o lar tornou-se um “refúgio”
utilizados nesse espaço eram projetados para manter a maior distância possível entre
investir na fabricação de objetos para o lar, objetos esses que deveriam ter uma
familiaridade maior com o íntimo das pessoas e que perdessem seu caráter industrial.
As empresas fabricantes de máquinas de costuram como a Singer & Co., por exemplo,
superar sua maior fabricante da época, a Wheller e Wilson, que já fabricavam máquinas
que poderiam ser usadas em indústrias ou mesmo nos lares, devido ao seu caráter
dos preços, ou mesmo a divisão parcelada dos produtos. Logo depois, utilizaram a
propaganda para mostrar que as máquinas podem estar nos ambientes residenciais
Anexo II)
mundo contemporâneo. Criar objetos que sejam capazes de nos fazer sentir bem
tornou-se, hoje, uma vertente bastante promissora para os Designers: criar objetos
que despertem uma emoção no usuário é considerado um filão muito precioso para
o setor industrial.
Entretanto, bem mais que isso, esses objetos não devem ser projetados
apenas para despertar uma simples emoção — devem ser configurados para tornarem-
Eu
tenho
apego
a
uma
saia
comprida
azul
marinho
que
ganhei
de
uma
grande
amiga
nos
anos
de
1996
por
aí.
De
vez
em
quando
eu
uso,
outros
anos
guardo,
mas
não
consigo
e
nem
quero
me
desvencilhar
dela.
Me
trás
boas
lembranças,
e
o
sentimento
de
que
algumas
coisas
mudam,
menos
a
amizade,
e
minha
saia
azul
marinho!
Mirian
Levinbook
C"st\^%*
3
DESIGN
E
EMOÇÃO
–
OBJETOS
FORMADORES
DE
RELAÇÕES
SOCIAS.
54
2006, p. 28).
A citação acima faz parte do texto de Carol Garcia (2006, p. 28), referindo-
termo “objetos com alma”, entendemos como sendo aqueles objetos que possuam
construção de objetos que passaram a fazer parte de nosso cotidiano e a nos auxiliar
desenvolvimento desses objetos torna-se cada vez mais complexo e sofisticado. Tais
objetos são considerados ideais, por conterem elementos que vão além das funções
práticas, como aponta Coelho apud Cunha (2006), o que torna um objeto “ideal” é
usuário, então objeto ideal “[...] vem a ser um objeto particularizado, que satisfaça aos
anseios, das mais variadas naturezas, do usuário. E nesses anseios são equacionados
15 Tatiana Leite e Andrea Simone, proprietárias da loja “Casa 15”em são Paulo - http:// www.ca-
sa15.com/
55
sociais.
tudo o que se oferece à vista e afeta os sentidos”. (Larousse in MOLES, 1981, p.25).
Ainda segundo esse autor, a definição de objeto vai além da definição etimológica,
ele se configura como tal dentro de nossa sociedade, a partir do momento em que
de uma rã ou de uma árvore como um objeto, mas como uma coisa. A pedra
Isto faz com que o objeto seja destituído de seu caráter natural, relacionado
características que o tornam ainda mais importante para o ser humano; o objeto é :
pp. 10/11).
Para o Design, pensar nas relações de afeto com os objetos é enxergar além
o meio, por meio da relação de interno e externo. Nesse sentido, objeto seria
entendido como:
a arte ocidental até os nossos dias, tal objeto refletiu uma ordem total ligada a
2006. p. 33).
caracteriza como uma relação visceral, pois possuem a capacidade de conter dentro
poética de receptáculo, útero, armazenamento, retenção, para expor sua visão sobre
parcela da natureza fique incluída nele tal como no corpo humano: o objeto
Gosto
de
um
coração
O objeto é capaz
de
pelúcia,
pois
ele
já
me
fez
dormir
bem
em
várias
de evidenciar a natureza e a
situações
complicadas
da
vida
e
é
meu
Fiel
amigo.
O
cultura dentro de seus espaços,
levo
para
qualquer
lugar
e
já
viajou
o
mundo
ao
meu
lado.
considerado, assim, um elemento
Rodrigo
Fonseca
que consegue ultrapassar a
58
sujeito pode ser representada por meio de suas relações com os objetos e mais,
observamos como esse simbolismo pode atuar sobre o objeto a ponto de torná-
objetos.
espaço com outras tantas singularidades, ou seja, locais da memória de cada sujeito.
coisas; Lima de Freitas, que considera o espaço como a relação entre seres e objetos,
sendo essa a mais importante para este trabalho, porque trata da interatividade; e
por haver divisão entre coisas aparentemente distintas (locais) que se unem e formam
uma fusão adequada (espaço): “ O mundo funciona e se torna possível porque admite,
incorporadas nos espaços dos objetos, retomamos Ferrara (2002), que analisa
dos objetos está muito além do simples ato de desenhá-los ou projetá-los, pois
61
culturais.
particulares e individuais. Outro autor que cabe ser lembrado é Roland Barthes16
que, a partir de uma análise sobre a fotografia, elabora dois importantes conceitos
que podem ser aplicados para estabelecer uma ligação entre o universal, por ele
denominado de Studium17 e o particular chamado de Punctum18.
Para Barthes, o Studium está associado ao que podemos definir como bom
ou ruim, mas que, de alguma forma, está em contato com o todo; seria aquilo com que
atingidos de forma menos direta que outros, de acordo com suas expectativas e suas
é necessário compreender um
Gosto
de
um
conjunto
de
pouco sobre o que desperta potinhos
de
porcelana
que
ganhei
da
minha
madrinha.
tal emoção em uma pessoa, Gosto
muito
deles
porque
é
um
prensente
de
uma
pessoa
que
não
por isso a experimentação se vejo
com
muita
frequencia
e
que
eu
amo
muito,
também
porque
são
faz como elemento decisor no pequenininhos,
meigos
onde
eu
posso
guardar
com
segurança
coisas
processo de afetivação dos especiais
fácil
de
se
perder.
objetos e na criação de vínculos Lorena
Ribeiro
emocionais particulares, uma
que são criados para gerar experiências nos usuários objetos que geram experiências
possuem uma nomenclatura específica. Com isso o Design emocional encontra duas
um objeto faz com que laços afetivos comecem a ser criados durante esse contato;
essa categoria de Design pode ser compreendida como Design de parceira, pois
o indivíduo não apenas é usuário como também co-autor do projeto, adquire uma
pessoas e não na forma como foi produzido tal produto; o autor sugere que o público-
corpo humano como ferramentas para a construção de produtos que despertem tal
bem explorados, uma vez que o contato sensorial do indivíduo com o produto pode
emoções ativadas pela memória; essas associações podem estar vinculadas tanto ao
objeto em si como à marca dos produtos.
que possam garantir a interação com o usuário, mas esse fato se acentua de forma
formação das relações sociais por meio de um objeto que passa a ser o significante
Sinto
orgulho
de
minha
mesa
e
banquinhos
da
sala
por
que
são
únicos
e
eu
mesma
projetei
e
comprei
a
madeira,
gosto
tambem
de
mapas
e
espalhei
alguns
pelas
paredes.
Lara
Barbosa
C&)">%*-456*"
F>)4>"
65
foi possível apenas leituras simples, pouco elaboradas e que se não ofereceu-
nos respostas convincente despertou-nos para novos questionamentos trazendo
deste trabalho.
determinado grupo. O simples usuário passou então a se destacar cada vez mais
acabou por tornar-se ávido por novos produtos, lançamentos, o que imprime ao
estilo de vida, sua forma de crer e pertencer à sua contemporaneidade. Neste sentido
se adequar a este novo cenário para atender ao homem em seus anseios, vontades
emocionais que tocassem o homem de algum modo e justamente por isso suas
possuem um significado estético para uma cultura e outro para outra, como é o caso
que pensam em tratar a emoção nos produtos a serem criados. Simbologias que
despertem nos usuários sensações que foram ou que desejam ser vivenciadas ou
experenciadas em algum momento de suas vidas, que tragam recordações que podem
usuário.
são passíveis de serem pensados no que diz respeito a sua evolução e neste sentido
até tornarem-se complexamente o que são hoje, adquirindo neste percurso, diversa
é um ponto importante para este trabalho, pois é nela que buscamos compreender
que nem o homem nem o objeto consegue sobreviver sem a interação entre ambos.
Tal interação, desde a revolução industrial até meados do século XX, era assegurada
apenas pela função prática dos objetos que certamente possibilitavam uma certa
facilidade para que o indivíduo realizasse suas tarefas cotidians, das mais simples
até as mais complexas. Hoje esta função prática se torna multipla com os objetos
damos aos objetos, e por isso muitos são utilizados para outras funções práticas
totalmente diferentes a qual ele foi inicialmente proposto. Neste sentido os objetos são
entre homem e objeto, ganhando um espaço cada vez maior no projeto de criação de
“sentir”, etc, são fatores fundamentais para se pensar um objeto e para que este co-
afetivo relevante para o usuário, objetos hoje são compreendidos como formadores de
nossas relações sociais que estão cada vez mais escassas e distantes, por isso os
entender os artefatos como senhores de nossos tempo, talvez agora o homem não
uma nova visõ sobre o comportamento humano e suas relações sociais e culturais a
BIBLIOGRAFIA
BAUDRILLARD, Jean. O sistema dos objetos. 4 ed. São Paulo: Perspectiva, 2000.
BAXTER, Mike. Projeto de produto: Guia prático para o Design de novos produtos.
BONSIEPE, Gui. Design: do material ao digital, São Paulo: Sebrae / SC, 1997.
Blucher, 2006.
2004.
CASTILHO, Kathia; VILLAÇA, Nízia. O novo luxo. São Paulo: Anhembi Morumbi,
2006.
70
DAMÁSIO, António R. O erro de Descartes. 2. Ed. São Paulo: Companhia das Letras,
2006.
Blücher, 2000.
DONDIS, Donis A. Sintaxe da linguagem visual. São Paulo: Martins Fontes, 2007.
DOUGLAS, Mary e Baron Isherwood. O mundo dos bens, para uma antropologia
FORTY, Adrian. Objetos de desejo: Design e sociedade desde 1750. São Paulo:
Cosacnaify, 2007.
2007.
2007.
UERJ, 2006.
LINDEN, Julio Van Der: Ergonomia e Design: Prazer, conforto e risco no uso dos
MIRANDA, Ana Paula de. Consumo de moda: a relação pessoa-objeto. São Paulo:
MOLES, Abraham A. Teoria dos objetos. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1981.
NORMAN, Donald A. Emotional Design: Why we Love (or hate) everday things.
PETROSKI, Henry. A evolução das coisas úteis: clipes, garfos, latas, zíperes e
ANEXOS DE IMAGENS
Anexos I
Anexo I
Essa lâmina ornamentada de uma scramasax (um tipo de adaga medieval) saxônica de mil
anos atrás apresenta uma inscrição que diz: “Gebereht é meu dono.”As primeiras facas eram posses
pessoais estimadas e serviam para muitas coisas. A ponta afiada pode não apenas perfurar a carne de
um inimigo, mas fatiar pedaços de comida e levá-los à boca. O cabo desta faca, há muito desaparecido,
provavelmente era feito de madeira ou osso. (Petroski, 2007, p. 13).
Ao longo do tempo, as facas, como qualquer outro artefato, estavam sujeitas aos caprichos
de estilo e moda, em espcial no que diz respeito aos aspectos mais decorativos dos cabos. Esses
exemplares ingleses datam ( da esquerda para a direita) de aproximadamente 1530, 1530, 1580, 1580,
1630 e 1633. Mostram que, sob várias formas, a extremindade funcional da faca permaneceu constante
até que a introdução do garfo passasse a ser uma alternativa para espetar os alimentos. (Petroski,
2007 p. 16).
74
Os primeiros garfos de duas pontas funcionavam bem para segurar a carne a ser cortada,
mas não eram úteis para juntar ervilhas e outros alimentos pequenos. A ponta arredondada e grossa
da lâmina da faca evoluiu para levar comida à boca. A lâmina recurvada era um modo de minorar a
contorção do pulso nesse uso específico do utensílio. Os conjuntos de talheres ingleses acima datam (
da esquerda para a direita), aproximadamente, de 1670 e 1740. (Petroski, 2007. P. 23)
Com a introdução de garfos de três e quatro dentes – o último algumas vezes chamado
de “colheres com fendas”- não era mais necessário, e tampouco elegante, usar a faca para juntar
a comida. Assim, a lâmina recurva, com formato balboso, passou a ser fabricada em um feitio mais
simples. Contudo, hábitos e costumes persistiram à mesa de refeições, e a nova faca, ineficaz para
exercer a antiga função, continuou a ser usada por pessoas menos requintadas para levar comida à
boca durante todo o século XIX. Da esquerda para a direita: esses conjuntos foram produzindos por
volta de 1805, 1853 e 1880. (Petroski, 2007. P.24).
75
Anexos II
( Máquina de costura Willcox e Bibbs, 1857. A primeira máquina de costura de baixo custo
( Gravura de setembro de 1867, que ilustra a máquina de Wheeler & Wilson, sugerindo
a Singer apresentou rapidamente um novo modelo para o mercado doméstico. Fonte: FORTY, 2004,
p. 135)
( Máquina de costura Esquilo, 1858. Outra tentativa, mais fantasiosa, de tornar a máquina
de costura um objeto doméstico. O esquilo foi escolhido devido a sua frugalidade e prudência. Fonte:
(Máquina de costura com Querubim, 1858. No final da década de 1850, na corrida para
criar máquinas de costura domésticas, surgiu no mercado grande varideade de máquinas ornamentais