Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
A Academia Brasileira da Qualidade (ABQ) é uma organização não governamental e sem fins
lucrativos, tendo como membros participantes pessoas experientes e de reconhecida competência
profissional adquirida ao longo dos anos – nas universidades, nas empresas e em outras
organizações privadas ou públicas – em atividades relacionadas à engenharia da qualidade, à
gestão da qualidade e à excelência na gestão. A administração da ABQ é realizada por um
colegiado eleito entre os membros, de acordo com seu Estatuto.
Pesquisar
1. Considerações iniciais
Em novembro de 2014, por ocasião das comemorações do Dia Mundial da Qualidade, a Academia Brasileira
da Qualidade (ABQ) divulgou um Manifesto à Sociedade Brasileira com base nos desafios de gestão que afetam
negativamente a utilização dos recursos e a qualidade dos bens e serviços no Brasil. Um dos tópicos desses
desafios se refere aos Programas de Inclusão Social. Esta preocupação gerou um projeto específico dentro do
Plano Estratégico da ABQ. Este projeto foi denominado Incentivo à Inclusão Social com Qualidade. O presente
artigo apresenta um resumo dos conceitos desenvolvidos,
Inicialmente, é preciso desenvolver os conceitos de inclusão e exclusão social. Uma investigação bibliográfica
preliminar mostra que tais conceitos não são somente bastante complexos, pois envolvem muitas variáveis inter-
relacionadas, como também não são universalmente padronizados.
Assim como muitos outros autores, Akhras (2011) afirma que “inclusão social é um problema multifacetado,
multidisciplinar e complexo, que está longe de possuir o mesmo tipo de base formal que outras disciplinas científicas
alcançaram”. Tal complexidade advém de fatores relacionados com condições sociais, econômicas, tecnológicas,
culturais, ambientais e humanas. Para o autor tais fatores podem caracterizar um sistema de inclusão social sob
uma perspectiva científica. Mas, para isso é preciso desenvolver “uma ontologia e modelos que permitam formalizar
noções e princípios associados ao problema de inclusão social em diversos contextos”. Isto permitirá “que os
princípios em que se baseiam os sistemas de inclusão social criados sejam descritos em uma linguagem comum,
www.abqualidade.org.br/estudos-destaque-abq.php?id=214 1/13
05/08/2019 ABQ - Academia Brasileira da Qualidade
possibilitando estudos comparativos e permitindo o compartilhamento dos resultados de projetos de inclusão social”.
E ainda “facilitará também a interação entre várias disciplinas, já que os sistemas de inclusão social tenderão a ser
multidisciplinares”.
Por outro lado, toda vez que se trata de inclusão social ocorre naturalmente o conceito adjacente ou
complementar de exclusão social. De acordo com Leal (2004), “a ideia de exclusão social, que ganha força no Brasil
na década de 90, tem suas raízes nas ciências sociais francesas”. Antes, entre as décadas de 50 e 70, a noção
predominante não só aqui como em toda América Latina era de marginalidade. Porém, em função da complexidade
envolvendo o conceito de inclusão social mencionada acima torna-se difícil saber exatamente o que os seus autores
pretendem se referir ao tratar da exclusão social. Em outras palavras, quando se fala de exclusão social, sempre
surge a necessidade do complemento – “exclusão em relação a que? Ao mundo do trabalho? Às instituições
escolares? Ao acesso à tecnologia? ” A autora agrupa três grandes conjuntos de significados para o conceito de
exclusão social no Brasil, desenvolvido por diversos autores. Todos os três conjuntos são combináveis entre si. São
eles a ruptura de laços sociais, a inserção precária no mundo do trabalho e ou do consumo e a não realização da
cidadania. Portanto, para a autora “não existe uma única teoria da exclusão social, mas sim significados, teses e
argumentos diversos ligados a este tema”. Dependendo do conceito adotado as propostas de tratá-lo são distintas
quando se pensa em medidas práticas de intervenção.
Contudo, convém destacar as definições apresentadas no artigo de Atkinson e Marlier (2010), publicado pela
Organização das Nações Unidas (ONU). A ONU, como é de conhecimento geral, é uma organização internacional
formada por países que se reuniram voluntariamente para trabalhar pela paz e o desenvolvimento mundiais. Essas
definições, que têm a particular qualificação de serem publicadas por uma organização reconhecida mundialmente,
são resumidas a seguir:
- Inclusão social é um processo de combate à pobreza e à exclusão social.
- Exclusão social é uma exclusão involuntária de indivíduos e grupos dos processos sociais, econômicos e
políticos, o que impede sua participação na sociedade em que vivem.
- Pobreza é a falta de recursos econômicos sendo, assim, importante causa da exclusão social. Todavia, há outras
relevantes dimensões da exclusão social que resultam num complexo e multidimensional conjunto de preocupações.
É necessário levar em conta saúde, educação, livre acesso a serviços públicos como justiça, habitação, direitos
civis, segurança, bem-estar, informação e comunicação, mobilidade, participação social e política, cultura e lazer.
Isto leva à criação de um conjunto de indicadores sociais que são usados para medir o nível de inclusão social.
- Sociedade inclusiva é aquela que nasce acima de diferenças de raça, gênero, classe, geração e geografia para
garantir igualdade de oportunidades independente de origem e, aquela que subordina o poder militar e econômico à
autoridade civil. Nela a interação social é governada por um conjunto aceito de instituições sociais onde todos têm a
capacidade de determinar seu modo de funcionamento. Nota-se que o conceito de sociedade inclusiva foi construído
tendo a democracia como pano de fundo.
Como foi dito inicialmente, a ABQ se preocupa com a inclusão social com qualidade. Sabemos que há vários
conceitos sobre qualidade, cada um proposto por diferentes especialistas do assunto. Para nosso propósito é
conveniente usar o conceito de Crosby (1979). Para ele qualidade significa conformidade aos requisitos. No nosso
caso, são os requisitos necessários para garantir a inclusão social do indivíduo ou grupo de indivíduos.
Evidentemente, conforme já mencionado, esses requisitos estão relacionados com a pobreza e com as demais
dimensões da exclusão social. Além disso, para alcançá-los é preciso medi-los.
a) Um conjunto de indicadores deve ser balanceado ao longo das diferentes dimensões. Dificilmente um conjunto de
indicadores pode ser exaustivo, não somente devido ao custo envolvido como pelo risco de perder a credibilidade
em função de uma grande quantidade de indicadores. Portanto, apenas alguns indicadores devem ser selecionados
de maneira que as principais áreas de preocupação sejam cobertas. Assim, é importante que haja no conjunto
escolhido uma representação balanceada de preocupações sobre pobreza e exclusão social.
b) Os indicadores devem ser mutuamente consistentes e o peso de cada indicador no conjunto não deve ser
desproporcional. A interpretação de um conjunto de indicadores é muito facilitada quando os componentes
dimensionais tenham graus de importância que, enquanto não sejam necessariamente iguais, não sejam
grosseiramente diferentes. Não faz sentido um conjunto de indicadores que reúna indicadores de central
importância, como níveis de pobreza nacional, com indicadores de dimensões mais específicas ou de interesses
mais locais.
www.abqualidade.org.br/estudos-destaque-abq.php?id=214 2/13
05/08/2019 ABQ - Academia Brasileira da Qualidade
c) Além disso, tanto um indicador individual como um conjunto de indicadores devem ser transparentes e acessíveis
aos cidadãos.
a) Nível 1: consiste de um número restrito de indicadores principais (não mais que dez) para os mais relevantes
campos em todos os países, incluindo pobreza, privação material, ausência de educação, falta de emprego,
precariedade da saúde e falta de habitação.
b) Nível 2: contém os indicadores-suporte que apresentam mais detalhes e descrevem outras dimensões do problema
não incluídas nos indicadores de nível 1; embora não haja um número limite destes indicadores, devemos evitar sua
proliferação por questões de consumo de recursos para obtê-los; eles podem incluir, por exemplo, acesso à justiça,
participação social e política, direitos civis, justiça e segurança, bem-estar, informação e comunicação, mobilidade,
lazer e cultura. Os indicadores nível 1 e nível 2 devem ser aceitos de comum acordo pelos países membros da
ONU.
c) Nível 3: inclui aqueles indicadores específicos de um determinado país e que podem mais tarde se transformar em
indicador de nível 1 ou 2.
Quando necessário devemos promover a decomposição de indicadores como, por exemplo, no caso de
decomposição por gênero (homens e mulheres). Há pelo menos três maneiras pelas quais um indicador pode ser
decomposto, considerando, ainda segundo Atkinson e Marlier (2010):
a) Os valores do indicador para subgrupos específicos da população. Podemos, por exemplo, estar interessados em
diferenças entre famílias que vivem na região rural e urbana; para este propósito os subgrupos não necessitam ser
exaustivos. Podemos ainda, por exemplo, olhar para a relação de crianças vivendo abaixo da linha da pobreza e a
relação dos idosos nesta mesma situação, sem, entretanto, considerar a faixa de idade intermediária.
b) A variação do indicador ao longo dos subgrupos da população, como por exemplo, a relação da proporção de
crianças e velhos vivendo abaixo da linha de pobreza.
c) A decomposição da população em subgrupos definidos na qual não haja intersecção entre eles, isto é, subgrupos
exclusivos, como, por exemplo, a decomposição por idade de desempregados por longo período.
Há um apelo por indicadores compostos, também chamados de índices por diversos autores, pois eles
resumem todo um cenário e facilitam a comunicação. Um exemplo é o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH).
Todavia, reduzir a um indicador fenômeno multidimensional gera inúmeros desafios. Portanto, apesar de que alguns
indicadores compostos como o IDH sejam consagrados e exerçam papel importante em certos contextos, Atkinson e
Marlier (2010) recomendam empregá-los em poucas e especiais situações.
Por outro lado, Siche et al. (2007), consideram que somente o índice pode interpretar a realidade de um sistema
ou uma região por abranger, no mínimo, as principais dimensões dos mesmos. Nesta visão, resta para o indicador o
papel secundário de pré-análise de dados originais.
Atkinson e Marlier (2010) fazem também recomendações em relação à apresentação de indicadores de inclusão
social. O ponto de partida para considerar um indicador social é o indivíduo como cidadão. Mas, podemos estar
interessados em considerar um agregado como família ou outro grupo específico. Indicadores tem uma importante
dimensão territorial como, por exemplo, taxa de pobreza em regiões urbanas ou rurais. Promover a “igualdade de
gêneros” deve ser constante preocupação de toda política para processo de integração social, desde seu
planejamento até sua efetiva implantação, monitoramento e maturação. Portanto, os indicadores sociais devem
captar as diferenças entre homens e mulheres. Investimento em crianças é aceito como prioritário e os indicadores
de pobreza e inclusão social devem, na medida do possível, refletir essa preocupação.
Também é interessante destacar que o desenvolvimento de métricas (indicadores e índices) comuns, diante da
diversidade de métricas utilizadas, para as pesquisas sobre ciências sociais, tem sido uma preocupação de
especialistas da área. O desenvolvimento dessas métricas padronizadas pode permitir o avanço na pesquisa com a
redução dos custos envolvidos nessa atividade (LI, 2011, p.1 ) Mas é particularmente interessante as considerações
de Mulgan (in: LI, 2011, p.32) para os problemas de utilização de indicadores padronizados para processos de
estabelecimento de políticas e de decisão: excesso de simplicidade na concepção; distorção na utilização;
diminuição da utilidade até a obsolescência; e relevância limitada.
Finalmente, analisando alguns trabalhos de autores que utilizam indicadores e índices de inclusão social no
Brasil, constata-se que tais métricas diferem entre si e nem sempre seguem as regras sugeridas até aqui.
Mapeando a inclusão social nas capitais brasileiras Barroso (2006) utiliza o indicador composto Índice de
Inclusão Social (IIS) formado pelo conjunto de sete indicadores distribuído em três dimensões: anatomia de renda,
escolaridade e risco juvenil de homicídios. Assim, foi possível analisar e comparar o IIS de cada capital e em
seguida apurar o IIS de cada região brasileira com base em suas capitais nela englobadas.
Em seu trabalho Albuquerque (2010) avalia o processo de inclusão social no Brasil compondo o seu IIS por meio
de doze indicadores distribuídos em três componentes, isto é, componente emprego e renda, componente educação
e conhecimento e o componente informação e comunicação. O primeiro componente gera o sub-índice inserção
econômica, o segundo o sub-índice inserção educacional e o terceiro o sub-índice inclusão digital. A partir destes
índices e sub-índices é possível fazer três tipos de análise. A primeira, em nível agregado, usa o IIS e o compara
com outros indicadores sociais e econômicos. A segunda, em nível semi-agregado, utiliza os três sub-índices
componentes do IIS para investigar sua evolução, correlações entre eles, comparações entre regiões, estados e
situações de domicílio. O terceiro tipo de análise, em nível desagregado, toma como base os doze indicadores. Para
este tipo afirma: “construindo painel amplo e multifacetado no qual os perfis, as características, as especificidades
de cada situação social, além de seu evoluir no tempo e suas mutações no espaço, poderão ser detalhadamente
captadas e compreendidas”. Finalmente, o autor conclui que “a integração desses três níveis de análise poderá dar
www.abqualidade.org.br/estudos-destaque-abq.php?id=214 3/13
05/08/2019 ABQ - Academia Brasileira da Qualidade
aos formuladores de políticas públicas e aos gestores sociais informações úteis para orientar seja o planejamento,
seja a gerência da inclusão social, processo tão complexo quanto importante à compreensão do desenvolvimento
como fenômeno global”.
a) Vulnerabilidade social muito baixa (IVS de 0 a 0,200): 38 municípios em 2000 para 627 em 2010.
b) Vulnerabilidade social baixa (IVS de 0,201 a 0,300): 600 municípios em 2000 para 1699 em 2010.
c) Vulnerabilidade social média (IVS de 0,301 a 0,400): 1317 municípios em 2000 para 1258 em 2010.
d) Vulnerabilidade social alta (IVS de 0,401 a 0,500): 1065 municípios em 2000 para 1178 em 2010.
e) Vulnerabilidade social muito alta (IVS de 0,501 a 1): 2545 municípios em 2000 para 803 em 2010.
Vale notar que, dos 1981 municípios com IVS alto ou muito alto em 2010, mais de 88% encontram-se no Norte e
Nordeste do Brasil.
É importante também destacar o índice de desenvolvimento humano do município (IDHM) elaborado pelo
Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento no Brasil (PNUD Brasil), com apoio do IPEA e da Fundação
www.abqualidade.org.br/estudos-destaque-abq.php?id=214 4/13
05/08/2019 ABQ - Academia Brasileira da Qualidade
João Pinheiro (FJP) da Secretaria do Planejamento do Estado de Minas Gerais, (NAÇÕES UNIDAS NO BRASIL,
2013). A análise integrada realizada pelo IPEA entre o IDHM e o seu correspondente IVS do município oferece o
que se denomina prosperidade social, definida como a ocorrência simultânea do alto desenvolvimento humano
com baixa vulnerabilidade social. Assim, temos, de acordo com o IPEA (2015), a seguinte distribuição dos
municípios brasileiros por faixas de prosperidade social nos anos 2000 e 2010:
www.abqualidade.org.br/estudos-destaque-abq.php?id=214 5/13
05/08/2019 ABQ - Academia Brasileira da Qualidade
Precisamos considerar também motivos intrínsecos que podem ser enquadrados em termos de uma teoria mais
ampla de justiça. Com ela, a distribuição de renda é apenas uma dimensão da desigualdade, o que traz à luz
discussões sobre a importância de outras dimensões já mencionadas quando o assunto é inclusão social. Mesmo
assim, Atkinson (2015) dá muita ênfase a dimensão econômica da desigualdade.
Com o objetivo de estender um primeiro olhar no nível de desigualdade no mundo Atkinson (2015) analisa a
distribuição de renda dos Estados Unidos e Reino Unido por meio do coeficiente de Gini e outros indicadores
econômicos dos últimos cem anos e, chega às seguintes conclusões:
a) Nos Estados Unidos o coeficiente de Gini vem crescendo e, portanto, a desigualdade social, o que mostra que “a
desigualdade geral não voltou aos níveis atingidos na Era do Jazz, mas já está a mais de meio caminho andado”
(p.41).
b) Com relação ao Reino Unido o coeficiente de Gini não cresceu nos últimos vinte anos, porém o nível de
desigualdade “permanece desafiadoramente acima de seu nível nas décadas de 1960 e 1970” (p.45) quando os
Beatles se encontravam no auge (dez pontos percentuais abaixo).
Em seguida, Atkinson (2015) faz uma análise de vários países utilizando-se do coeficiente de Gini de 2010 para
renda familiar, onde vemos que a China e Índia estão próximos de 50,0%, Brasil e México acima de 40,0%, Em
seguida, pouco abaixo, vem Estados Unidos e Reino Unido. A Suécia, com 23,7%, lidera a classificação.
Na opinião de Atkinson (2015) essas análises preliminares já revelam que o abismo entre ricos e pobres no
mundo é muito preocupante, ou mesmo inaceitável. Além disso, ele afirma que não seria viável uma redução de 10
pontos percentuais no coeficiente de Gini do Reino Unido apenas através de impostos e transferências, em função
do elevado montante necessário.
Por outro lado, podemos dar ênfase à eliminação da pobreza e não na distribuição de renda. Os economistas
classificam renda como dimensão de fluxo, isto é, o valor monetário dos bens econômicos recebidos num dado
período e, chamam pobreza - ou riqueza - de dimensão de estoque, ou seja, o valor monetário dos bens econômicos
acumulados numa determinada data.
Atualmente, a luta contra a pobreza encontra-se firme na agenda política de vários países, com os governos
nacionais estabelecendo metas explicitas. Apesar destas boas intenções, o progresso no sentido de reduzir a
pobreza, mesmo em países ricos, tem sido lento. Nos Estados Unidos, por exemplo, há cerca de 45 milhões de
norte-americanos vivendo abaixo da linha oficial da pobreza.
Deaton (2013) volta sua atenção para a pobreza. Dados de 2008 mostram que existiam cerca de 800 milhões de
pessoas no mundo vivendo com menos de US $ 1,00 por dia. Portanto, se os países ricos como Estados Unidos,
Reino Unido, França, Alemanha, Japão e outros doassem uma quantia anual relativamente pequena poderiam já ter
eliminado a pobreza no mundo. De acordo com o autor isto não acontece por alguns motivos destacados a seguir:
a) As doações não vão direto para quem necessita, pois passam pelos governos dos países beneficiados, os quais
muitas vezes têm outros destinos para os valores recebidos.
b) Muitos países pobres pequenos recebem mais doações do que necessitam em detrimento de outros maiores, pois
há em jogo diferentes interesses políticos por parte dos países ricos.
c) As avaliações, geralmente, são imprecisas quanto aos resultados efetivos das doações, o que impede de se
conhecer os reais motivos da não eliminação da pobreza.
d) As doações são desviadas por corrupção, principalmente em governos totalitários.
Como consequência disto tudo, o Deaton (2013) conclui que é falsa a ideia de que doações reduzem ou eliminam
a pobreza.
“Podemos perguntar se os países conseguem atingir índices menores de pobreza ao mesmo tempo em que têm
extratos de renda concentrados no topo” questiona Atkinson (2015, p.49). Para examinar se esse é o caso, o autor
reuniu dados de quinze países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Apenas a
Suíça parece ter chegado à pobreza abaixo da mediana, enquanto tem extratos superiores de renda acima da
mediana. “Pobreza maior tende a andar ao lado de extratos superiores mais concentrados”, conclui (p.49). Esse
autor indica ainda que nem todas as diferenças em resultados econômicos representam uma desigualdade não
justificada; algumas pessoas recebem mais que outras por motivos perfeitamente justificáveis, como trabalhar mais
horas, fazer trabalhos desagradáveis ou assumir mais responsabilidades.
Neste ponto é preciso esclarecer os conceitos subjacentes às estatísticas. Há muitas dimensões de
desigualdade, e outras muito importantes ainda estão faltando. Na verdade, mesmo dentro do que foi tratado,
podemos estar perguntando o que está e o que não está incluído? Podemos ainda perguntar: qual o significado da
desigualdade, ou seja, desigualdade do que em relação a quem?
Falamos sobre indivíduos e sobre famílias. “Dentro de ‘família’, podemos ter famílias diferentes, e, dentro destas,
gerações diferentes. Quais delas devem ser usadas? A resposta depende em parte de como os membros da família
compartilham de maneira igualitária seus recursos. Se há um compartilhamento total, então os cálculos baseados na
renda total da família seriam apropriados. Quando o compartilhamento é incompleto, podemos optar por considerar
as diferentes unidades de gastos, ou famílias nucleares, que constituem essa família. Em relação às diferenças
familiares, trataríamos separadamente filhos crescidos que ainda moram na casa, e pais idosos que vivem com seus
filhos constituiriam uma unidade familiar à parte dentro da família”, conforme indica Atkinson (2015, p.53).
Para maior entendimento, Atkinson (2015) oferece uma série de definições e conceitos para a renda familiar:
a) Rendimentos da pessoa Ri: inclui salário de funcionários e remuneração de autônomos, de cada membro da
família.
b) Rendimento de capital (ou renda de capital) RC: inclui juros em contas bancárias ou títulos, dividendo de ações,
aluguéis de propriedade, ganhos ou perdas de capital e renda pró-labore.
c) Transferências privadas TP: são transferências de instituições privadas, como pensão.
d) Transferências do governo TG: são transferências sociais de órgãos do governo.
www.abqualidade.org.br/estudos-destaque-abq.php?id=214 6/13
05/08/2019 ABQ - Academia Brasileira da Qualidade
e) Renda de mercado das famílias RMF: é obtida pela fórmula: RMF = ∑ Ri + RC + TP , onde ∑ Ri é a somatória do
rendimento de todos os membros da família.
f) Renda familiar bruta (ou renda bruta da família) RBF: é obtida pela fórmula: RBF = RMF + TG
g) Impostos diretos ID: inclui contribuições para seguridade social (além do imposto de renda)
h) Renda familiar disponível RDF: é obtida pelo seguinte cálculo: RDF = RBF - ID
i) Renda familiar disponível equivalente RDFE: Uma renda familiar significa menos se tiver que sustentar dois filhos
do que se for referente a uma única pessoa. Na prática, o ajuste efetuado para permitir diferenciar o tamanho da
família não é feito em termos “per capita”, uma vez que há economia de escala. Uma família de quatro membros não
precisa de quatro aquecedores centrais. Em vez disto uma escala de equivalência é aplicada de modo a permitir
que nem todas as despesas aumentem por pessoa. Uma escala simples é a raiz quadrada do tamanho da família.
Existem outras, inclusive mais complicadas como aquela da OCDE, que distribui peso para cada membro da família.
j) Renda imputada: Os economistas têm uma visão mais abrangente de renda. Eles a consideram como a soma de
todas as receitas, seja monetária, seja em dinheiro, que advém de um dado período, ou, de modo equivalente, a
quantia máxima de recursos de que a família pode dispor em termos de consumo enquanto matém constante seu
patrimônio líquido (ativos menos passivos). Possuir uma casa não gera renda em dinheiro, mas tem o efeito
equivalente de evitar que o proprietário tenha que pagar aluguel. Por esse motivo, a aplicação de uma definição
abrangente de renda indica que devemos imputar uma renda, chamada aqui de renda imputada.
k) Valor dos serviços públicos VSP: Serviços públicos não são facilmente avaliados, mas sem dúvida acrescentam
recursos disponíveis às famílias.
l) Renda familiar ampliada RAF: pode ser obtida pela fórmula: RAF = RDF + VSP . Avaliando os serviços públicos
quanto ao seu custo para o governo, a desigualdade mensurada em renda ampliada nos países europeus é
consideravelmente menor do que a da renda disponível.
“Se considerarmos o consumo em vez da renda, os achados em relação à desigualdade e à pobreza podem ser
diferentes” (p.59). Há muitas divergências entre os estudiosos. “A escolha entre consumo e renda depende do
propósito da análise. No caso da medição da pobreza, a resposta depende de qual dos dois conceitos adotamos. O
primeiro se refere ao padrão de vida; o segundo, ao direito a um nível mínimo de recursos. Historicamente, estudos
da pobreza adotaram a primeira abordagem, e aqueles que medem a renda fizeram isso sob alegação de que
baixos níveis de renda permitiam pouca margem para a poupança, portanto a renda fornecia uma boa base para a
mensuração do consumo” (p.61).
“Considerações quanto ao acesso de bens e serviços levaram a propostas de que deveríamos contemplar a
distribuição de “certas e específicas commodities escassas”, como o vencedor do Prêmio Nobel, James Tobin, de
Yale, coloca no que ele chamou de “igualitarismo específico”. Ele citou, entre outros bens, alimentos, moradia,
educação e assistência médica” (p.62).
“A natureza multifacetada do consumo e as inúmeras preocupações que isso evoca significam que a medida de
gastos do consumidor não é, como indicador, demonstravelmente superior à renda”. Atkinson continua a “focar na
renda como indicador de controle potencial sobre os recursos. O uso de renda é, na verdade, o reconhecimento de
que o uso de recursos vai além do consumo. Quando se mede a desigualdade, nos preocupamos não apenas com o
consumo dos ricos – por mais importante que ele seja -, mas também com o poder que a riqueza pode transmitir.
Esse poder pode ser exercido sobre a família de alguém, por exemplo, com a transmissão da riqueza para os
herdeiros, ou de forma mais geral, como o controle da mídia ou a influência em partidos políticos”. “A renda é de fato
um meio para um fim, mas seu alcance é muito mais amplo do que o consumo” (p.63).
Até aqui o autor se concentrou na dimensão vertical da desigualdade (ordenação crescente da renda – nossa
observação) entre ricos e pobres, mas há também importantes dimensões horizontais. “No índice Gini ou no 1% do
topo da parcela de renda, as pessoas aparecem anonimamente, mas podemos considerar a desigualdade da renda
entre os diversos grupos, como por gênero, localização ou etnia. Podemos querer levar em conta as diferenças de
necessidades” (p.65).
“Considerando-se a tendência de remuneração entre os gêneros, precisamos – como no caso da distribuição de
renda em geral – fazer uma distinção entre atribuíveis a características como conquistas educacionais, que podem
justificar um pagamento diferenciado, e aquelas que refletem discriminação” (p.66).
Nas análises estatísticas temporais não sabemos se as pessoas nas camadas superiores permanecem ali no ano
seguinte; não sabemos quantas famílias na pobreza foram capazes de escapar no ano seguinte. Isso é relevante
por três motivos:
a) “Há uma mobilidade ano a ano, e é possível que o aumento da desigualdade observado se deva ao aumento da
volatilidade” (p.67).
b) “Há variações previsíveis do ciclo de vida da renda. Para muitas pessoas ela cresce conforme a carreira avança e
cai conforme as pessoas se aposentam e consomem suas economias” (p.68).
c) Pode haver uma desigualdade significativa entre gerações. Não deveríamos presumir que as futuras gerações se
sairão melhor que as de hoje. Elas podem estar até em situação pior. “A questão da justiça intergeracional tem,
portanto, maior prioridade do que apenas acreditar que a “vida só pode melhorar”, e esse deveria ser um dos fatores
para julgarmos a escolha de métricas para reduzir a atual desigualdade de renda” (p.69).
“A desigualdade entre todos os cidadãos do mundo reflete o impacto combinado da desigualdade dentro dos
países e da desigualdade entre países. Vista desta forma, a história simplificada da desigualdade global ao longo
dos últimos cem anos é que houve primeiro um período no qual a desigualdade dentro dos países ricos estava
caindo, mas a desigualdade entre países se ampliava, sendo agora substituída por um período no qual a
desigualdade nos países ricos está aumentando, mas a desigualdade entre os países diminuiu” (p.69 - 70).
www.abqualidade.org.br/estudos-destaque-abq.php?id=214 7/13
05/08/2019 ABQ - Academia Brasileira da Qualidade
No Anexo são apresentadas algumas informações complementares sobre o coeficiente de Gini e outros índices e
indicadores de desenvolvimento econômico e social.
6. Caminho a seguir
Embora não haja um consenso sobre qual o melhor caminho a seguir, Piketty (2015), ao analisar o conflito
histórico entre o socialismo e o capitalismo, observa que “só uma análise minuciosa dos mecanismos
socioeconômicos que produzem a desigualdade é capaz de definir a parcela de verdade dessas duas visões
extremas de redistribuição e talvez contribuir para a instauração de uma redistribuição mais justa e eficiente” (p.10).
Mesmo assim, após análise detalhada destes mecanismos, Piketty (2014), ao comentar a solução adotada pela ex-
União Soviética que aboliu a propriedade privada, observa; “a desigualdade r > g seria apenas uma lembrança ruim,
sobretudo porque o comunismo gosta do crescimento e do avanço tecnológico. O problema, infelizmente para as
www.abqualidade.org.br/estudos-destaque-abq.php?id=214 8/13
05/08/2019 ABQ - Academia Brasileira da Qualidade
populações atingidas por estas experimentações totalitárias, é que a propriedade privada e a economia de mercado
não têm apenas a função de permitir que os detentores do capital dominem os que trabalham para eles. Estas
instituições desempenham também um papel útil para coordenar as ações de milhões de indivíduos, e não é fácil
ficar sem elas. Os desastres humanos causados pela planificação centralizada ilustram de maneira clara este
problema” (p.518). O autor, então, vai mais além e propõe o imposto progressivo anual sobre o capital como uma
“resposta mais pacífica e eficaz para esse eterno problema colocado pelo capital privado e por seu rendimento”
(p.518). Mesmo assim, o autor acrescenta; “a dificuldade é que o imposto progressivo sobre o capital exige um alto
grau de cooperação internacional e integração política regional” (p.556).
Ainda se tratando do melhor caminho a seguir na promoção de uma sociedade igualitária, Stiglitz (2013),
analisando a situação norte-americana, sustenta que, “muito da desigualdade que existe hoje é o resultado da
política governamental, ambos, pelo que o governo faz e pelo que ele não faz” (p.35). Cita como exemplos as
decisões de governo em favor do 1% mais rico da população, possibilitando a criação de monopólio e redução de
carga tributária. Menciona também, como exemplo, que o governo deveria considerar ilegal certos ganhos oriundos
de incentivos recebidos por altos executivos como o mencionado acima.
Atkinson (2015) também apresenta propostas e ideias para redução da desigualdade envolvendo áreas de
tecnologia, emprego e remuneração, capital, tributação progressiva e seguridade social. Considerando o fato de que
a economia de mercado não é na realidade eficiente, ele acredita, inclusive, que algumas de suas sugestões, senão
todas, possibilitem o aumento da renda total do país.
Já vimos ser uma ilusão a ideia de que doações de países ricos a países pobres reduzam ou eliminam a
pobreza. Deaton (2013) explora algumas alternativas mais eficazes:
a) Ajuda com condicionalidade, onde o país receptor da ajuda se submete a certas condições, o que não é algo fácil de
ser urdido.
b) Comprometimento do país beneficiário a determinadas boas políticas antes de ser tornar candidato à ajuda.
Denominada ajuda com seletividade, esta alternativa é uma espécie de condicionalidade. Neste caso, a seletividade
pode se encerrar se o regime de governo se torna totalitário e opressivo. Isto, naturalmente, é um desafio para este
tipo de opção.
c) Outra ideia é aquela em que a doação somente é entregue quando o país receptor cumpre determinada meta, como,
por exemplo, redução do indicador de mortalidade infantil. Ela é conhecida como ajuda com depósito na entrega.
Mas, há muita polêmica em torno da mesma, principalmente, no que se refere ao método de medida e ao risco de
que fatos alheios aos programas afetem os objetivos a serem alcançados.
d) Por todas estas dificuldades acima, muitos chegaram à conclusão de que seria melhor investir para uma dada região
alvo do que na região alvo. Um exemplo seria investir no desenvolvimento de vacinas contra grandes ameaças à
saúde, como é o caso da HIV/AIDS.
Mas, independentemente dessas discussões, o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 10 da ONU “reduzir a
desigualdade dentro dos países e entre eles” é monitorado no Brasil por indicadores estabelecidos em ONU
(2015) e IBGE (2015). Em relação ao primeiro, vê-se que há uma preocupação de acompanhar não somente os
indicadores relativos ao objetivo 10, mas também todos os indicadores dos demais ODS. Para cada indicador são
definidos a periodicidade de sua publicação, base de dados, fonte, desagregação e principais sinergias com outros
indicadores. Isto vem de encontro às preocupações levantadas no início deste relatório, isto é, a publicação
sistemática dos indicadores ou índices para possibilitar seu acompanhamento no tempo e desagregação dos
mesmos para cobrir grandes regiões, estados e regiões metropolitanas brasileiras.
www.abqualidade.org.br/estudos-destaque-abq.php?id=214 9/13
05/08/2019 ABQ - Academia Brasileira da Qualidade
municípios brasileiros, devemos focar nossas políticas públicas de inclusão social nas macrorregiões do Norte e
Nordeste brasileiras, pois ali se concentram mais de 88% dos desafios relacionados ao tema.
i) A análise do Programa Bolsa Família do Brasil de transferência de renda para famílias em situação de pobreza ou
extrema pobreza comprova a complexidade mencionada sobre o tema inclusão social e desigualdade social e, por
consequência, a necessidade de integração de todos os níveis do Governo, além de outras organizações
envolvidas.
j) Embora, vários instrumentos de intervenção na sociedade, para torná-las mais igualitárias, estejam sendo utilizados
por Governos de diversos países, ainda não há um consenso sobre o melhor caminho a seguir.
3. Índice de Gini
Definição do índice
O denominado Índice de Gini, muitas vezes também conhecido como Coeficiente Gini, recebe o nome de seu
criador Corrado Gini, em decorrência dos estudos conduzidos sobre a concentração de renda na população em
diferentes regiões europeias no começo do século passado (GINI,1909).
O IBGE (2015) utiliza esse índice e o descreve da seguinte forma: “Medida de desigualdade relativa obtida a
partir da Curva de Lorenz, que relaciona o percentual acumulado da população em ordem crescente de rendimentos
(eixo x) e o percentual acumulado de rendimentos (eixo y). Quando os percentuais acumulados de população
correspondem aos percentuais acumulados de rendimentos (10% da população com 10% dos rendimentos, por
exemplo), tem-se a linha de perfeita igualdade. A Curva de Lorenz representa a distribuição real de rendimentos de
uma dada população tendo, em geral, formato convexo. Quanto mais afastada da linha de perfeita igualdade, mais
desigual a distribuição. O índice de Gini é uma medida numérica que representa o afastamento de uma dada
distribuição de renda (Curva de Lorenz) da linha de perfeita igualdade, variando de “0” (situação onde não há
desigualdade) e “1” (desigualdade máxima, ou seja, toda a renda apropriada por um único individuo).”
Atkinson (2015) descreve também com outras palavras do seguinte modo: (a) Curva de Lorentz: para uma
distribuição de renda é uma curva formada pela classificação de pessoas segundo sua renda e representa sua
participação cumulativa na renda total, conforme a pessoa sobe na classificação, em termos de distribuição. A curva
começa em 0% e termina em 100%. Se todas as rendas fossem idênticas, a curva seguiria a diagonal, unindo esses
pontos finais (a linha da igualdade) (p. 369); (b) Índice de Gini: é a área entre a curva de Lorenz e a linha da
igualdade (A) dividida pela área do triângulo total (A + B). É uma medida de desigualdade relativa com valores que
vão de 0% (igualdade total; todos tem a mesma renda) a 100% (uma pessoa recebe toda renda) (p. 368).
Estimativa de Índices no Brasil, na América Latina e no Mundo
Cálculo do IDH
De acordo com o UNDP (2015) o cálculo e os indicadores que compõem o IDH vêm sendo sistematicamente
revisados e alterados desde 1990, com ênfase nos refinamentos ocorridos em 2010 e 2014.
Conforme o UNDP (2016) (1), o método de cálculo do IDH determina valores máximo e mínimos para
transformar os indicadores expressos em diferentes unidades em índices que variam no intervalo de 0 a 1. Estes
valores extremos agem como “zeros naturais” e “metas a alcançar”, respectivamente, a partir dos quais os
indicadores são padronizados utilizando a equação (1):
Índice de dimensão = (valor real – valor mínimo) / (valor máximo – valor mínimo) ...eq.(1)
Cada índice de dimensão pode ser visto como uma procuração para o exercício das capacidades do indivíduo
nas respectivas dimensões. No caso da renda, a equação (1) deveria ser côncava, pois cada dólar adicional na
renda tem efeito cada vez menor na expansão das capacidades relacionadas. Portanto, para a equação usada no
cálculo do índice de renda aplica-se o logaritmo natural aos valores usados, conforme equação (2):
Índice de renda = [ln(valor real) – ln(valor mínimo)] / [ln(valor máximo) – ln(valor mínimo)] ...eq.(2)
Os valores extremos surgem de diferentes critérios e, atualmente, são os seguintes:
1. Dimensão saúde com o indicador de expectativa de vida ao nascer (em anos): mínimo 20, máximo 85.
2. Dimensão educação com o indicador de tempo esperados de escolaridade (em anos): mínimo 0, máximo 18; e
com o indicador de tempo médio de estudo (em anos): mínimo 0, máximo 15.
3. Dimensão renda com o indicador de renda nacional bruta per capita (paridade do poder de compra de 2011 em
dólar): mínimo 100, máximo: 75000.
O Índice da Dimensão Educação é calculado pela média aritmética simples dos seus dois índices oriundos da
aplicação da equação (1) a cada indicador.
Assim, o IDH é calculado pela média geométrica dos índices saúde Isaude, educação Ieducação e renda Irenda,
conforme equação (3):
HDI = (Isaúde . Ieducação . Irenda)1/3 ...eq.(3)
Críticas ao IDH
Muitos autores defendem que reduzir a um índice fenômeno multidimensional gera inúmeros desafios e,
portanto, recomendam empregar indicadores compostos em poucas e especiais situações. No caso do IDH duas
preocupações, além de outras, são frequentemente levantadas. Trata-se da sensibilidade do índice em avaliar a
desigualdade entre os índices de dimensão e ou a desigualdade dentro de cada índice de dimensão.
No início, o IDH era obtido pela média aritmética simples dos três índices de dimensão. Muitas vezes, este
método igualava o IDH de um país com três índices de dimensão muitos parecidos com IDH de outro país de três
índices de dimensão bem diferentes, como, por exemplo, país A (0,5; 0,5; 0,5) e país B (0,3; 0,4; 0,8) cujo IDH
médio é 0,5 para ambos países, A e B. Foi por essa razão que mais tarde o IDH passou a ser calculado pela média
geométrica conforme equação (3).
Porém, quando se trata de desigualdade na distribuição de cada dimensão ao longo da população, a solução
foi ajustar o IDH pelo chamado Índice de Desenvolvimento Humano Ajustado a Desigualdade (IDHAD) dado pela
equação (4):
IDHAD = [(1 – Asaúde) . (1 – Aeducação) . (1 – Arenda)]1/3 . IDH ...eq.(4)
sendo Ax a medida da desigualdade de Atkinson de um dado índice de dimensão desenvolvida pelo economista
britânico Anthony Atkinson; quando há perfeita igualdade na população em relação a dimensão analisada Ax = 0;
quando há alguma desigualdade Ax > 0.
www.abqualidade.org.br/estudos-destaque-abq.php?id=214 11/13
05/08/2019 ABQ - Academia Brasileira da Qualidade
Assim, havendo perfeita igualdade na população quando avaliada pelas três dimensões do IDH, temos que
IDH = IDHAD. Entretanto, quando há alguma desigualdade na população analisada, temos IDHAD < IDH.
Além das distorções relativas à desigualdade “entre” e ou “dentro” de índices de dimensão, o IDH enfrenta outros
desafios dos quais pode-se destacar as necessidade de: conhecer o nível de desenvolvimento humano em regiões
específicas de um país; analisar as dimensões com diferentes indicadores além dos utilizados aqui; desdobrar o
índice utilizando critérios como, por exemplo, gênero e raça.
Referências
www.abqualidade.org.br/estudos-destaque-abq.php?id=214 12/13
05/08/2019 ABQ - Academia Brasileira da Qualidade
ACADEMIA BRASILEIRA DA QUALIDADE, Manifesto à Sociedade Brasileira no Dia Mundial da Qualidade. São Paulo: 2014.
[www.abqualidade.org.br - Manifesto ABQ]
AKHRAS, F.N., A inclusão social como um projeto científico: uma ontologia, Inclusão Social, Brasília, v. 4 n. 2, p.25-37, jan./jun. 2011.
ALBUQUERQUE, R.C., Uma avaliação do atual processo de inclusão social no Brasil (Versão Preliminar), Instituto Nacional de Altos Estudos, Rio
de Janeiro, Estudos e Pesquisas nº 348, 2010.
ATKINSON, A.B., Desigualdade – O que pode ser feito? São Paulo: LeYa, 2015
ATKINSON, A.B. & MARLIER, E., Analyzing and measuring social inclusion in the global context, Department of Economic and Social Affairs
Publication, United Nation, New York, 2010.
BARROSO, A.V., Mapeando a inclusão social nas capitais do Brasil, Biblioteca do Fórum Brasileiro de Economia Solidária, Brasília, 2006.
COBIGO, V. et al., Shifting our Conceptualization of Social Inclusion, Stigma Research and Action, v.2, n. 2, p.75–84, 2012.
CROSBY,P.B., Quality is Free, New York: McGraw-Hill, 1979.
JURAN, J.M., Quality Control Handbook, New York: McGraw-Hill, USA, 1974
LEAL, G.F., A Noção de Exclusão Social em Debate: Aplicabilidade e Implicações para a Intervenção Prática, Anais do XIV Encontro Nacional de
Estudos Populacionais, ABEP, Caxambu, 2004.
LI, R.M. (rapporteur), The Importance of Common Metrics for Advancing Social Science Theory and Research – A Workshop Summary,
Committee on Advancing Social Science Theory, Washington, D.C.: National Academic Press, 2011 [www.nap.edu]
LIMA, E.C.P., Curso de Finanças Públicas – Uma Abordagem Contemporânea, São Paulo: Atlas, 2015.
MANKIW,N.G., Introdução à Economia, São Paulo: Cengage Learning, 2016.
NAÇÕES UNIDAS NO BRASIL, Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil, Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento no Brasil
(PNUD Brasil), Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e Fundação João Pinheiro, Brasília, 2013.
NAÇÕES UNIDAS NO BRASIL, Acompanhando a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, 2017.
[ https://nacoesunidas.org/pos2015/agenda2030/ ]
SICHE, R. & AGOSTINHO, F.. & ORTEGA, E. & ROMEIRO, A., Índices versus Indicadores: Precisões Conceituais da Sustentabilidade de Países,
Ambiente & Sociedade, Campinas, v.10, n.2, julho-dezembro, 2007.
THE WORLD BANK, World Development Indicators: Distribution of Income or Consumption (Table 1.3), Washington, D.C.: The World Bank, 2014.
UNITED NATIONS DEVELOPMENT PROGRAMME (1), Human Development Report 2016 – Technical notes [
http://hdr.undp.org/sites/default/files/hdr2016_technical_notes.pdf ]
UNITED NATIONS DEVELOPMENT PROGRAMME (2), Human Development Report 2016.
[http://hdr.undp.org/sites/default/files/2016_human_development_report.pdf ]
UNITED NATIONS DEVELOPMENT PROGRAMME, Training Material for Producing National Human Developments Reports, 2015 [
http://hdr.undp.org/sites/default/files/hdi_training.pdf ]
XIMENES, D.A. & AGATTE, J.P., A gestão das condicionalidades do Programa Bolsa Família: uma experiência intersetorial e federativa, Inclusão
Social, Brasília, DF, v. 5 n. 1, p.11-19, jul./dez. 2011.
[1] Relatório de Pesquisa, Distribuição Interna, Academia Brasileira da Qualidade, São Paulo, Outubro de 2017.
[2] Engenheiro Aeronáutico (ITA); Doutor em Engenharia e Professor Livre-Docente (EPUSP); Professor Titular Aposentado (FEM-UNICAMP); Membro
do CLE-UNICAMP; Membro da ABQ.
[3] Engenheiro Mecânico (FEM-UNICAMP); Diretor Presidente Aposentado da EATON-Hydraulics da América do Sul; Professor do Curso de Extensão
(FEM-UNICAMP); Membro da ABQ.
Por Dídio Art & Design | © Todos os direitos reservados | 2015
www.abqualidade.org.br/estudos-destaque-abq.php?id=214 13/13