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Pereira PrincípiosDaRestauraçãoDeAmbientesAquáticosContinentais PDF
Pereira PrincípiosDaRestauraçãoDeAmbientesAquáticosContinentais PDF
Universidade Federal do Paraná (UFPR) – Laboratório de Ecologia, Pesca e Ictiologia (LEPI) – Rua
Pioneiro, 2153. CEP 85950-000. Palotina, PR. E-mail: alpereira@ufpr.br
Resumo
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Introdução
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Tabela 1. Estimativa e distribuição da água na Terra (Gleick, 1996).
Localização Porcentagem do total
Lagos de água doce, rios, umidade do solo e água subterrânea 0,62
Lagos salinos e mares interiores 0,008
Atmosfera 0,001
Gelo 2,1
Oceanos 97,25
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Figura 1. Interação entre os seis principais serviços dos ecossistemas aquáticos e
as potenciais ameaças e fatores impactantes (Fonte: Giller, 2005).
O que é a restauração?
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aquáticas após um distúrbio e relacionam características físicas, químicas e
biológicas”(Cairns, 1988; Lewis, 1989). Em suma, a restauração ecológica é um
processo holístico não alcançável através da manipulação isolada de elementos
individuais, na prática a restauração raramente significa o retorno do ecossistema a sua
condição original (Clark e Frid, 1999).
A restauração de ecossistemas aquáticos tem como objetivo recriar ou simular
um sistema natural e auto-regulado ecologicamente integrado com a paisagem. Na
maioria das vezes, para atingir esse objetivo é preciso seguir um ou mais passos, tais
como a reconstrução das condições físicas; ajuste químico do solo e da água; e
manipulação biológica, incluindo a reintrodução de espécies da flora e fauna nativas
(Usepa, 2000).
A Sociedade para Restauração Ecológica (Ser, 2000) inclui no conceito de
restauração a sustentabilidade para atividades culturais, como as práticas por povos
indígenas ou caiçaras, definindo a restauração como o processo de auxiliar a
recuperação e o manejo da integridade ecológica, que inclui, além da biodiversidade e
processos ecológicos, as práticas culturais (Ser, 2007).
Palmer et al. (2005) concordam que na restauração de ambientes aquáticos,
como rios, os objetivos devem ser aumentar os bens e serviços e converter ecossistemas
ameaçados em ambientes sustentáveis protegendo assim o rio a montante e ecossistemas
costeiros, para esses autores a restauração ou pode ser passiva quando se permite que as
forças hidráulicas naturais atuem vagarosamente e restaure a heterogeneidade natural,
ou mais específica e ativa quando modificamos a forma e estrutura do leito ou
reintroduza elementos que possibilitem a variações no fluxo da água.
Desta forma, o principal desafio da restauração de ecossistemas aquáticos é
integrar o conhecimento científico na dinâmica do ecossistema atendendo a pressão
econômica e social com seus impactos diretos sobre os sistemas. Por exemplo, a
eutrofização de lagoas sempre acarreta na entrada de nutrientes que geralmente se
origina de longas distancias do ambiente original (como florestas ou de atividades
agrícolas no entorno). Assim, a análise deste problema requer estudos nas práticas
agrícolas e industriais, bem como no uso paraturismo e recreação (Clark e Frid, 1999).
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Como fazer?
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restauração de recursos aquáticos. Esses princípios são cientificamente e tecnicamente
embasados, o interesse e apoio do público também são muito importantes, a presença ou
ausência deste apoio pode ser a diferença entre o sucesso e a falha de um projeto, a
coordenação conjunta com a população local e organizações que são afetadas pelo
projeto poderá dar suporte e assegurar que o ambiente seja protegido e restauradopor
um longo período.
Os princípios propostosa serem seguidos são:
a) Preservação e proteção os recursos aquáticos: A existência de ecossistemas
relativamente intactos é a chave para a conservação da biodiversidade, eles ajudam
na recuperação de ecossistemas degradados. Assim, a restauração passa a ser uma
atividade complementar que quando combinada com a proteção e a restauração
poderá ajudar a alcançar resultados mais abrangentes em toda a bacia. Até mesmo
para corpos d’água onde a restauração é implantada, o primeiro objetivo deve ser a
prevenção de futura degradação.
b) Restauração da integridade ecológica: A restauração deve restabelecer a integridade
ecológica dos ecossistemas aquáticos tanto quanto for possível, sendo que a
integridade ecológica refere-se às condições de um ecossistema, particularmente a
estrutura, composição e processos naturais das comunidades bióticas e ambiente
físico. Um ecossistema íntegro é resiliente e auto-sustentável capaz de resistir às
perturbações. Alguns processos a serem restaurados nos ambientes aquáticos são a
ciclagem de nutrientes, sucessão, nível da água, padrões de fluxos, dinâmica da
erosão e deposição.
c) Restauração da estrutura física natural: Muitos ecossistemas que precisam de
restauração têm problemas que se originaram com a alteração do canal ou outras
características físicas, que por sua vez levaram a problemas como degradação do
habitat, alterações nos fluxos e assoreamento. Canalização, drenagem de áreas
alagáveis, desconexão dos ecossistemas adjacentes e modificações de zonas
litorâneas são exemplos de alterações estruturais que precisam ser enfocadas na
restauração. Em muitos casos, restaurar a morfologia do local e atributos físicos é
essencial para o sucesso dos outros aspectos da restauração, como a qualidade da
água e a volta das espécies nativas.
d) Restauração da função: Estrutura e função estão intimamente ligadas em rios, lagos,
áreas alagáveis e outros ambientes aquáticos. Restabelecer a estrutura apropriada
pode trazer novamente as funções do ecossistema. Por exemplo, restaurando a
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elevação do solo em um pântano pode ser fundamental para restabelecer o regime
hidrológico, ciclo dos distúrbios naturais e o fluxo de nutrientes.
e) Trabalhar a restauração no contexto da bacia hidrográfica e da paisagem:Atividades
ao longo da bacia podem ter efeitos adversos sobre os recursos aquáticos que estão
sendo restaurados. Um projeto de restauração localizado pode não ser capaz de
mudar o que está acontecendo na bacia hidrográfica. Um empreendimento
imobiliário, por exemplo, pode aumentar o volume das águas superficiais,
diminuindo a infiltração; aumentar o assoreamento e erosão das margens e entrada
de nutrientes. Assim, restauradores devem planejar e aumentar esforços na
recuperação de florestas ripárias, redução das inundações, visando melhoria na
qualidade da água a montante.
f) Apontar continuamente causas de degradação: Os esforços de restauração
provavelmente irão falhar se as causas de degradação persistirem. Portanto, é
essencial identificar as causas da degradação e eliminá-las ou remediá-las o mais
rápido possível.
g) Uso de um local de referência: Locaisde referência são áreas que são comparáveis
com a estrutura e função com a área a ser restaurada antes de ser degradada.
h) Uso, quando possível, da restauração passiva: “o tempo cura qualquer ferida”
aplica-se a muitos locais a serem restaurados. Antes de modificar o local com a
restauração determine quando é possível uma restauração passiva (ex. reduzindo ou
eliminando as fontes de degradação ou permitindo a regeneração natural).
i) Uso de espécies nativas e cuidado com as exóticas.
j) Uso da bioengenharia quando possível: Bioengenharia é um método de construção
que combina o uso de plantas vivas com mortas e outros materiais, prevenindo a
erosão, controle da sedimentação e poluição, e fornecimento de habitat.
k) Monitoramento e adaptação: Cada combinação das características da bacia, fontes
de degradação e técnicas de restauração é única, portanto, ações de restauração
podem acontecer não exatamente como planejadas. Mudanças no projeto original
devem ser consideradas normais. O monitoramento antes e durante o a implantação
do projeto é crucial para descobrir se os objetivos estão sento atingidos, caso
contrário, alguns ajustes no projeto devem ser feitos. O processo de monitoramento
e ajuste e conhecido como manejo adaptativo.
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Em países mais desenvolvidos, como os Estados Unidos, projetos de restauração
ecológica em rios têm aumentado a cada ano (Figura 2), isso é uma resposta a um
aumento na consciência do estado de degradação destes ecossistemas e o impacto disso
nas pessoas (Bernhardt et al., 2005).
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Erradição de plantas exóticas e invasoras
Bancos de contenção
Ocorrências
Ocorrências Ocorrências
Figura 3. Principais objetivos nos projetos de restauração de rios nos Estado Unidos e
Criação/manutenção de zonas ripárias
sucesso destes projetos, os autores revelam que a aparência positiva e a opinião pública
Diques laterais de madeira
Rochas
são comumente usados pelos executores dos projetos como medida de avaliação do
Ocorrências
sucesso e mais da metade dos projetos de restauração não apresentam variáveis
mensuráveis como forma de avaliação.
Já a restauração e recuperação de lagos se dão principalmente por problemas
relacionados à eutrofização, tais como aumento da turbidez da água, supercrescimento
de cianobactérias e perda da biodiversidade. Essa preocupação é ainda maior na Europa,
onde a União Européia determinou que todos os lagos europeus tenham boa qualidade
biológica até 2015 (European Union, 2000).
Muitas vezes a tentativa de recuperação desses ecossistemas acaba falhando ou
tendo baixa eficiência, isso dá principalmente porque muitos destes lagos possuem uma
reserva interna de fósforo no sedimento ou apresentam uma grande biomassa de peixes
zooplanctívoros e/ou invertívoros impedindo a possibilidade to controle top-down do
zooplâncton sobre o fitoplâncton (Meijer et al., 1999). Desta forma, a restauração de
lagos em países como Holanda e Dinamarca tem sido feita principalmente aplicando-se
a biomanipulação, essa técnica consiste na remoção dos peixes zooplanctívoros, levando
a um acréscimo na comunidade zooplanctônica e diminuição da biomassa de
fitoplâncton, e a um decréscimo nos níveis de fósforo e nitrogênio total, essa técnica
visa principalmente à melhoria na qualidade da água (Sondergaard et al., 2007).
Outras técnicas na recuperação de lagos também têm sido empregadas na
recuperação e restauração destes ecossistemas, além da remoção de peixes
zooplanctívoros, tem-se empregado ainda a estocagem de piscívoros, a oxigenação do
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hipolímnio, tratamento do alume (sulfatos metálicos) e dragagem do sedimento (Tabela
2).
Tabela 2. Medidas de restauração e número de lagos (>10ha) que
receberam medidas de combate à eutrofização na Dinamarca e
Holanda (Sondergaard et al., 2007).
Dinamarca Holanda
Remoção dos peixes (zoo/invert) 42 14
Estocagem de piscívoros 34 4
Oxigenação do hipolímnio 6 3
Tratamento do alume 2 0
Dragagem do sedimento 1 7
Total 85 28
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reserva interna de fósforo no sedimento do lago ou até mesmo a falta de macrófitas
aquáticas submersas, fazendo com que os lagos retornem ao processo de eutrofização,
tais autores também sugerem que o manejo destes ambientes seja feito a longo prazo e
com o uso ou combinação de diferentes técnicas de restauração.
Para riachos existem uma série de medidas locais que podem ser tomadas para
reabilitar a comunidade de peixes, tais alterações podem ser feitas principalmente para
melhorar a estruturação do habitat (Cowx e Welcomme, 1998).Dentre essas melhorias
estão:
a) Melhoria na velocidade da correnteza com a instalação de pequenos tipos de represa:
São rápidas e fáceis de construir e podem ser feitas com diversos tipos de materiais,
como restos de pedras e pedregulhos, madeira ou concreto e dispostas em numerosas
formas e desenhos, como em diferentes ângulos nas margens do rio ou abaixo do canal
do rio, ou até mesmo dispostas em V na direção da correnteza ou contrário a ela. Esse
tipo de construção é usado para criar ou melhorar micro-habitats para peixes e
invertebrados (Figura 4, 5A, 5B, 5C, 6).
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A B
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Figura 6. Exemplos de inclinações e obstáculos em forma de V no canal do rio,
promovendo alterações no fluxo, heterogeneidade ambiental, local para desova, área de
alimentação de pássaros e retenção de substrato para invertebrados. Fonte: Coux &
Welcomme (1998).
b) Proteção artificial das margens: As margens podem ser protegidas da erosão com
auxílio de estruturas construídas a partir de restos e pedaços de troncas e raízes,
recobrindo totalmente ou parcialmente o canal do rio. Posteriormente o
desenvolvimento completo da vegetação dará proteção permanente aos bancos
marginais. Essa técnica aumenta a quantidade de matéria orgânica autóctone e a
produção de invertebrados (Figura7).
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Figura7. Proteção dos bancos marginais usando troncos e ramos, diminuindo o aporte
de sedimentos durante as chuvas e proporcionando condições para recuperação natural
da mata ciliar (cima). Planejamento da proteção dos diques marginais em locais onde a
correnteza do rio é mais forte e plantio de vegetação nativa (em baixo). Fonte: Coux &
Welcomme (1998).
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Figura 8. Cobertura artificial de Pinus (esq.) e construída com troncos de árvores
ou redes de arame (dir.), estrutura artificial de concreto e sua instalação (em baixo),
proporcionando desenvolvimento e abrigo para peixes e outros organismos. Fonte:
Coux & Welcomme (1998).
d) Criação de baías artificiais: Baías são abrigos no canal principal do rio, baías rasas
proporcionam aumento na diversidade de habitat. Em rios naturais, as baías surgem
quando o nível da água diminui, nessas baías, o fluxo da água é menor e a vegetação
pode desenvolver-se mais facilmente, além disso, a temperatura da água é mais elevada
nestes locais, proporcionando o crescimento de algas, plâncton e invertebrados,
beneficiando assim os peixes jovens, especialmente em períodos de cheia (Figura 9).
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Figura 9. Criação artificial de baías rasas, proporcionando crescimento rápido da
vegetação aquática e o desenvolvimento de organismos. Fonte: Coux & Welcomme
(1998).
Considerações finais
Apesar dos impactos evidentes no meio aquático, fica claro que devido ao
caráter recente da ecologia da restauração e seus fundamentos muitos dos assuntos
referentesà restauração destes ecossistemas estão no campo empírico. Nos projetos
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apresentados, poucos são os que realmente apresentam variáveis e critérios claros sobre
a recuperação. Assim, a publicação de dados sobre o que tem sido feito é necessária
para que a ecologia da restauração se estabeleça definitivamente como ciência. Outro
fator importantíssimo a ser considerado é o papel do cidadão na restauração, em muitos
casos o sucesso de um projeto depende diretamente da opinião pública, sendo
necessário agregar em todos os projetos a educação ambiental como ferramenta da
manutenção e manejo dos ecossistemas restaurados. Finalmente, é evidente que a
restauração de ecossistemas aquáticos só gerará resultados positivos caso haja um
monitoramente e acompanhamento do projeto a longo prazo, fazendo alterações do
mesmo quando necessário.
Agradecimentos
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