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PREMISSAS DO PSICODIAGNÓSTICO

Salienta-se que, antes do pronto início do processo de psicodiagnóstico, algumas questões elementares
devem ser edificadas para que, assim sendo, o processo possa seguir uma estrutura coerente para a inves-
tigação e levantamento de informações do processo bi-pessoal (psicólogo-cliente/família).

O psicodiagnóstico é um processo que visa elencar potências e fraquezas do funcionamento psicoló-


gico de uma pessoa, que investiga a existência ou não de psicopatologia (Cunha 200) e se estabelece em
uma quantidade limitada de encontros, busca orientar um encaminhamento aprimorado e, além dessas
finalidades, pode ser utilizado com muitas outras finalidades como, por exemplo, obter diagnóstico dife-
rencial e etc.

Por ter de atender uma demanda, utilizando protocolos específicos de esfera teórica, ética e com uma
finalidade específica, entende-se que o processo de psicodiagnóstico deve seguir um processo estruturado
e, por conta do dinamismo do processo, a estrutura atende a coerência do processo.

LAUDO PSICOLÓGICO

Nome da Propósito: Marie Anne; RG: 01.014.010-10; CPF: 051.012.133-01; Data de nascimento:
02/08/2004; Naturalidade: Brasileira; Filiação: Anne Marie e Mário Antônio; Estado civil: Solteira; Pro-
fissão: Jovem Aprendiz; Endereço: Rua do Faz de Conta, nº 03 – Casa: 1 – Bairro: Imaginação – São Paulo
– SP; CEP: 05.521-022 - Tel.: (11) 2121-2323.

Marie Anne (Propósito) foi encaminhada para avaliação psicológica pela professora de sua escola en-
quanto a mesma cursava o 7º ano do ensino fundamental que observou necessidade de investigação de
uma possível dificuldade de aprendizagem e de atenção para com os assuntos escolares. Assim sendo, os
pais procuraram o serviço de psicologia aplicada do Centro Universitário Celso Lisboa (SPA). No SPA, a
equipe de triagem entendeu necessidade de avaliação psicológica e encaminhou o serviço para o setor de
psicodiagnóstico que entendeu que a demanda de elaboração de psicodiagnóstico pode ser atendida e que
esse trabalho de investigação psicológica pode ajustar a proporcionar conforto psíquico para a propósito
(PR) e sua família.

A PR mora com os pais e com seus dois irmãos, Alexander, 16 anos e Yago, 9 anos. A maior parte da
convivência é com a família nuclear e pouco há convivência com a família extensa. Os pais também são
primos de segundo grau. Os pais a descreveram como uma adolescente inocente com relação as suas rela-
ções sociais e manipulável nas relações familiares e que isso se estende para queixas associadas com a
falta de atenção e conflitos nas relações familiares.

Em relação ao seu desenvolvimento inicial, observou-se que os pais não planejaram a gravidez, mas a
desejaram e que a mãe realizou pré-natal durante todo o período da gestação. Uma crise nos rins acompa-
nhou a mãe durante o período da gravidez, não tendo utilizado medicação nem substâncias psicoativas
durante a gestação. O parto foi normal e, durante o desenvolvimento, observou-se que a PR chupava os
dedos durante o início do seu desenvolvimento. Comportamento que praticou até a adolescência e, por
conta disso, realizou tratamento com fonoaudióloga para que houvesse suporte no desenvolvimento da
fala. Engatinhou por volta de 1 ano e caminhou por volta de 1 ano e meio. O controle dos esfíncteres deu-
se entre 1 ano e meio e 3 anos. No que concerne à linguagem, balbuciou as primeiras palavras por volta
de 1 ano.

Em relação aos antecedentes sociais e acadêmicos, a PR iniciou a jornada escolar na creche aos 4 anos
e o primeiro ano escolar com 7 anos. Estudou em duas escolas diferentes em função da busca por um
ambiente escolar mais estável. Ele reprovou duas vezes no 1º ano. Desde pequena, era muito querida pelos
funcionários(as) da creche, mas na adolescência, relata ter poucos amigos(as) próximos, mas demonstrava
interesse e capacidade de estabelecer relações de amizade de maneira seletiva. Quanto a relacionamentos
romântico-sexuais, relatou que nunca havia namorado.

O contrato de trabalho com o propósito psicodiagnóstico foi estabelecido esclarecendo a quantidade


de 10 atendimentos que iriam estruturar o levantamento de informações através de anamnese, técnicas
psicológicas (primárias), avaliação dos processos atencionais, da inteligência total e suas derivações, da
afetividade e do contato com a realidade. A hipótese é a de que, com o levantamento e correlação das
informações obtidas, seja possível um melhor entendimento sobre as dificuldades com aprendizagem, com
o convívio social informado pelos pais e a possível correlação dessas informações com a percepção da PR
sobre a sua forma particular de lidar com a realidade.

Embora haja o entendimento de que os intrumentos psicológicos primários sejam de fundamental im-
portância, salientou-se a necessidade de não ter os resultados embasados somente em scores de avaliações
mas sim em uma síntese desses resultados com a escuta psicológica visando, assim, compreender aspectos
mais particulares que possam estar se relacionando com a forma da PR lidar com o meio.

Após o processo de levantamento de informações através da anamnese e interevençções durante a após


administração dos instrumentos psicológicos (Pirâmides coloridas de Pfister, teste HTP, Bateria psicoló-
gica para avaliação da atenção e a bteria Wisc-IV). Optou-se por não realizar a correção dos instrumentos
após todo o processo de psicodiagnóstico, mas sim de maneira gradativa (durante o processo). Durante
este processo, as hipóteses estavam sendo formuladas, questionadas e articuladas com a história de vida e
particularidades psíquicas da PR. Dessa forma, todos os elementos e etapas do processo caminharam de
forma integrativa.

A integração das informações obtidas através do psicodiagnóstico fortaleceu a hipótese de uma difi-
culdade associada com aspectos cognitvos (deficiência intelectual leve) – QIT = 68. No entanto, a integra-
ção desses scores com a escuta psicológica possibilitou a elaboração de um diagnóstico diferencial. Mesmo
que um determinado valor do QIT esteja associado com uma classificação, entende-se que o meio (e suas
respectivas composições), neste caso, propiciaram uma situação de hipoestimulação de aspectos cogniti-
vos, afetivos e sociais.
Na CID-10, o retardo mental leve é caracterizado por dificuldades na aprendizagem escolar e possibi-
lidade, na idade adulta, de trabalhar e se desempenhar bem socialmente.

A segunda parte da CIF (12) se refere aos Fatores Contextuais, que englobam Fatores Ambientais e
Pessoais. Os Fatores Ambientais se referem ao “ambiente físico, social e de atitudes nas quais as pessoas
vivem e conduzem sua vida” (p.28). Esses podem exercer uma influência positiva ou negativa sobre o
desempenho e a capacidade do indivíduo, como também sobre as funções e as estruturas do corpo, atuando
como facilitadores ou obstáculos ao desempenho do indivíduo. Os Fatores Pessoais se referem “ao histó-
rico particular da vida e do estilo de vida de um indivíduo e englobam as características do indivíduo que
não são parte de uma condição de saúde ou de estados de saúde”; como, por exemplo, idade, hábitos, nível
de instrução, entre outros (p. 29). Esses não são classificados na CIF, embora sejam incluídos “para mos-
trar a sua contribuição, que pode ter um impacto sobre o resultado de várias intervenções” (p. 29).

A deficiência intelectual não é necessariamente um transtorno vitalício. Indivíduos que tiveram Defi-
ciência Intelectual Leve em um momento anterior de suas vidas, manifestado por fracasso em tarefas de
aprendizagem na escola, desenvolvem, com treinamento e oportunidades apropriadas, boas habilidades
adaptativas em outros domínios, podendo não mais apresentar nível de comprometimento necessário para
um diagnóstico de deficiência intelectual (p.78).

Deve-se destacar, nos parágrafos anteriores, a menção à influência do ambiente no prognóstico de


desenvolvimento dos indivíduos com deficiência intelectual. Também é mencionada sua contribuição fa-
cilitadora, uma vez que um ambiente rico traz oportunidades e estímulos, enquanto um ambiente com
poucos recursos traz limitações. Assim, de acordo com essa definição, o “retardo mental” não apresenta
um caráter irreversível e é modulado pelas influências do ambiente.

Tendo em vista o que foi destacado nos parágrafos anteriores e realizando uma correlação com a bi-
bliografia e teorias científicas, entende-se que, neste caso, a deficiência intelectual não está presente de
forma cristalizada e irreversível por conta das potências encontradas durante a avaliação da inteligência,
das potências em esferas afetivas e entende-se que a percepção particular da PR pode estar afetando dire-
tamente o seu desempenho intelectivo. Novamente, com base na teoria científica, entende-se que uma
apresentação de novos contextos ambientais como esportes, música, jogo de xadrez, bibliottecas, festivais
culturais, museus e prática da leitura auxiliarão com as dificuldades que a PR apresentou. No entanto,
orienta-se e apresenta-se que, somente essas atividades podem não ser suficientes mas que podem auxiliar
no encaminhamento que prescrevo: Atendimento psicoterapêutico visando, não somente, reabilitação das
questões intelectivas mencionadas anteriormente mas que, também, possam oferecer melhor esclareci-
mento e conforto psíquico para a PR acompanhado da necessidade de uma re-avaliação após o prazo não
maior que um ano e meio para que seja realizada a verificação comparativa das avaliações psicológicas.

Por este motivo, foi agendado um dia com a reserva de 2 (duas) horas para realizar a comunicação dos
resultados utilizando a entrevista devolutiva como meio deste processo de conclusão do laudo psicológico.
Dessa forma, o processo foi realizado, encerrado com as devidas orientações, esclarecimentos e indicações
terapêuticas para a PR e sua família.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1) GUIOTI, Tiago Del Tedesco; TOLEDO, Eliana de; SCAGLIA, Alcides José. Esportes de raquete
para deficientes intelectuais leves: uma proposta fundamentada na pedagogia do esporte. Rev. bras.
educ. espec., Marília, v. 20, n. 3, p. 357-370, Sept. 2014.
2) NUNES, Cíntia Eduardo, PEREIRA, Deyliane Almeida. A Influência da Atividade Física Regular
na Qualidade de Vida de Pessoas com Deficiência Intelectual Leve. Revista Diálogos e Perspecti-
vas em Educação Especial, v.3, n.1, p. 36-47, jan.-jun., 2016
3) COLOCAR O RESTANTE DAS REFERÊNCIAS

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