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Disciplina: Diagnóstico: jogos, testes e provas

Autores: Esp. Simone Micos dos Santos

Revisão de Conteúdos: Esp. Angelica Czocher

Revisão Ortográfica: M.e Jacqueline Morissugui Cardoso

Ano: 2017

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Faculdade São Braz (FSB). O não cumprimento destas solicitações poderá acarretar em cobrança de direitos
autorais.

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Simone Micos dos Santos

Diagnóstico: jogos, testes e provas


1ª Edição

2017
Curitiba, PR
Editora São Braz
2
FICHA CATALOGRÁFICA

SANTOS, Simone Micos dos.


Diagnóstico: jogos, testes e provas / Simone Micos dos Santos –
Curitiba, 2017.
48 p.
Revisão de Conteúdos: Angelica Czocher.

Revisão Ortográfica: Jacqueline Morissugui Cardoso.

Material didático da disciplina de Diagnóstico: jogos, testes e provas –


Faculdade São Braz (FSB), 2017.
ISBN: 978-85-94439-94-9

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PALAVRA DA INSTITUIÇÃO

Caro(a) aluno(a),
Seja bem-vindo(a) à Faculdade São Braz!

Nossa faculdade está localizada em Curitiba, na Rua Cláudio Chatagnier, nº


112, no Bairro Bacacheri, criada e credenciada pela Portaria nº 299 de 27 de
dezembro 2012, oferece cursos de Graduação, Pós-Graduação e Extensão
Universitária.
A Faculdade assume o compromisso com seus alunos, professores e
comunidade de estar sempre sintonizada no objetivo de participar do desenvolvimento
do País e de formar não somente bons profissionais, mas também brasileiros
conscientes de sua cidadania.
Nossos cursos são desenvolvidos por uma equipe multidisciplinar
comprometida com a qualidade do conteúdo oferecido, assim como com as
ferramentas de aprendizagem: interatividades pedagógicas, avaliações, plantão de
dúvidas via telefone, atendimento via internet, emprego de redes sociais e grupos de
estudos o que proporciona excelente integração entre professores e estudantes.

Bons estudos e conte sempre conosco!


Faculdade São Braz

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Apresentação da disciplina

Esta disciplina tem como objetivo compreender a forma correta de utilizar


instrumentos de avaliação neuropsicopedagógica a fim de realizar um trabalho sério
e comprometido. Para isso serão esclarecidas questões referentes ao processo de
anamnese, incluindo modelos que podem ser utilizados, explicando como proceder
nesta fase da avaliação, quais cuidados devem ser tomados, além dos pontos
essenciais que devem ser avaliados. Também serão trazidos aspectos da avaliação
psicopedagógica dinâmica, que traz importante base para o processo de avaliação. É
importante ressaltar que a anamnese é o momento mais importante da avaliação, e
com os dados obtidos nesta etapa, é possível chegar a um diagnóstico correto.
Serão trazidas as principais funções psíquicas do ser humano como a
consciência, atenção, linguagem, orientação, juízo de realidade, tempo e espaço,
sensopercepção, memória, afetividade e vontade. E as alterações de cada uma
dessas funções e algumas de suas consequências. Será também apresentada as
alterações de linguagem que são as mais presentes na clínica psicopedagógicas. E
por fim serão apresentados os instrumentos para realizar um diagnóstico
neuropsicopedagógico.

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Aula 1 - Diagnóstico: jogos, testes e provas

Apresentação da aula 1

Nesta aula serão esclarecidas questões referentes ao processo de anamnese,


incluindo modelos que podem ser utilizados, explicando como proceder nesta fase da
avaliação, quais cuidados devem ser tomados, além dos pontos essenciais que
devem ser avaliados. Também serão trazidos aspectos da avaliação psicopedagógica
dinâmica, pois fornece bases importantes para o processo de avaliação, em que o
indivíduo é considerado de acordo com um plano geral, permitindo compreendê-lo
para além dos resultados de testes.

1. Avaliação psicopedagógica dinâmica e anamnese

A relação feita entre fenômenos mentais e comportamento é antiga, mas


ganhou novo impulso com o ressurgimento da neuropsiquiatria no século XIX e mais
tarde com os estudos sobre indivíduos que sofreram lesões durante as guerras e
indivíduos com o mesmo distúrbio que permitiram o mapeamento de lesões e
disfunções cerebrais.
Luria (1966) ofereceu uma das maiores contribuições para a área, pois
examinou minuciosamente pacientes com lesões cerebrais adquiridas após a
Segunda Guerra Mundial e abriu o caminho para que a avaliação neuropsicológica se
tornasse parte do instrumental diagnóstico e planejamento cirúrgico para pacientes
com questões neurológicas e neuropsiquiátricas.
A primeira etapa do processo de avaliação psicopedagógica é a anamnese.
Esse momento da avaliação pode ser considerado o mais importante, pois uma boa
entrevista inicial e anamnese fornecerão dados de extrema importância para o
processo diagnóstico. Ao tomar os devidos cuidados, a anamnese poderá servir como
guia principal no processo de avaliação.

1.1 Avaliação Psicopedagógica Dinâmica

Vitor da Fonseca que propôs a avaliação psicopedagógica dinâmica, para ele


a avaliação precisa ser vinculada com o processo de ensino e aprendizagem, dessa
forma, não avaliando somente o estudante e o que ele sabe, mas também o contexto
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em que ele está inserido e a proposta pedagógica. O autor acredita que o sujeito sofre
ação de elementos internos e externos e esses elementos ajudam a modelar seu
processo de aprendizagem.

Esta avaliação centra-se num processo de interação mediatizada que visa


estimar, encorajar e promover a capacidade de aprendizagem dos alunos e
não avaliar o seu potencial intelectual retrospectivo, habitualmente
inadequado para as DA, por dar informações limitadas para o processo de
decisão sobre a intervenção que se lhe deve seguir.
A avaliação psicopedagógica dinâmica, de acordo com o ensino clínico,
implica um programa educacional individualizado (PEI), dado que aponta
para a modificação cognitiva dos alunos e para um processo de avaliação-
intervenção mais complexo, que agrega aspectos de análise comportamental
e funcional, de competência lingüística e de seleção de serviços e
equipamentos. (FONSECA 2007, p. 145)

Dessa forma, a avaliação deve ser realizada priorizando as relações do sujeito


que aprende e o processo em si, não o mero produto, como algumas avaliações se
propõe a fazer. Essa avaliação pode ser dita como diferente da tradicional, por contar
com um olhar abrangente que considera todo o contexto educacional e suas
interações e não somente uma nota ou critério, já que esta noção, pode ser entendida
pelo sujeito como uma noção de fracasso e desajustamento.
A avaliação psicopedagógica dinâmica propõe um plano de intervenção após
a realização do diagnóstico.

Vídeo
Caso deseje ampliar seus estudos, recomenda-se o filme A
Educação proibida que procura enfatizar de forma clara e delicada a
importância dos pais e da escola no processo de aprendizagem do
aluno.
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=BCVkRA69THI

Mostra-se importante a observação contextual e o auxílio do professor na


avaliação, pois essa estratégia não só permite a coleta de dados importantes como
facilita a adoção de estratégias de intervenções. A avaliação psicopedagógica
dinâmica não se trata de uma ação pontual, mas sim um processo que tem
continuidade.
De acordo com o conceito de Vygotsky da zona de desenvolvimento proximal,
é na relação de observador e observado que ela nasce. O observador deve considerar
os conhecimentos prévios do estudante e traçar um plano que estimule os observados
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a participarem da aprendizagem de maneira ativa. Quando surge o fracasso escolar
é apontado para os profissionais que a criança não conseguiu aprender o suficiente
para o nível esperado e é a partir daí que pode pensar as dificuldades de
aprendizagem.
A dificuldade de aprendizagem é um termo usado para classificar as
dificuldades na aquisição e utilização da audição, fala, leitura, escrita e raciocínio
matemático. Essas desordens, por serem devidas a uma disfunção do sistema
nervoso central, podem ocorrer durante toda a vida e são um tema interdisciplinar por
tratar de um sujeito, que em frente à determinada tarefa apresenta uma combinação
particular de talentos e vulnerabilidades, ou seja, áreas fortes e fracas de
aprendizagem. O conjunto dessas áreas é chamado de perfil de aprendizagem. O
que caracteriza o perfil de aprendizagem é o conjunto de potencialidades e
dificuldades do aluno.

Para Refletir
“Você acha que é possível detectar um perfil de aprendizagem
através de instrumentos quantitativos? Não, correto?” Essa é a
proposta da avaliação psicopedagógica dinâmica, pois é possível
avaliarmos, por exemplo, indivíduos superdotados com QI
altíssimos, mas com dislexias, disgrafia, discalculias, etc, mas os
exames de QI não serão suficientes para identificar essas
dificuldades.

O termo avaliação carrega o sentido de medição, neste caso, medição do


rendimento escolar dos estudantes, atribuindo-lhes então, valores. Mas hoje, alguns
profissionais compreendem que não basta somente identificar um problema, é preciso
apresentar propostas e tomar providências concretas sobre que atitudes devem ser
tomadas. É dessa forma que a avaliação se torna um processo inclusivo.
A avaliação, portanto, deverá ser multiprofissional, não recorrendo somente a
testes e provas padronizados, mas em uma avaliação e observação conjunta e que
conte com a estimulação e encorajamento da aprendizagem.
Reunindo a avaliação psicopedagógica dinâmica com a avaliação do professor
em sala de aula, deve então, ser desenvolvido um conjunto de estratégias de apoio
para o aluno. Essas estratégias serão variáveis em cada caso.

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Amplie Seus Estudos
SUGESTÃO DE LEITURA

Caso deseje ampliar seus estudos,


recomenda-se a leitura do livro Interatividade
na aprendizagem, do autor Vitor da Fonseca,
que traz nessa obra a defesa da prática da
avaliação psicopedagógica dinâmica.

1.1. Anamnese

A anamnese é o processo realizado na entrevista inicial do paciente com


queixas neuropsicopedagógicas e consiste em compreender os sinais, sintomas e
antecedentes do paciente, além de seus antecedentes pessoais e familiares e a forma
como se relaciona com seu meio. É o principal instrumento da entrevista inicial e ao
ser utilizada a técnica adequada pode reunir informações valiosas para o diagnóstico
diferencial.
O profissional que realiza a anamnese deve se preocupar em extrair
informações importantes e ao mesmo tempo agir com sutilidade e criatividade.
Profissionais que trabalham nesse ramo, devem contar com algo além de seu
conhecimento, precisam também ter certo “Feeling” em relação ao paciente, ou seja,
é preciso ter cuidado com comentários muito rígidos, ou que provoquem
constrangimento/ recusa/ defesa. É preciso saber a hora de falar e a hora de calar.
Além da anamnese é importante também realizar o exame psíquico, que
consiste no exame do estado mental atual do paciente. É importante que o profissional
se atenha também na avaliação física, pois dependendo do diagnóstico, esta pode ser
uma área atingida, e não se esqueça também da avaliação neurológica.
A avaliação neurológica é importante porque alguns sinais e reflexos
neurológicos primitivos são indicadores de lesão cerebral e/ou frontal difusa e
encefalopatias, e podem não estar acompanhados de outros sinais visíveis. Alguns
exemplos desses sinais são:

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➢ Reflexo de preensão: é a resposta de flexão de dedos após contato
rápido com determinado objeto. Por exemplo, quando esse reflexo é
bilateral, é sugestivo de lesão/ disfunção frontal ou encefalopatias. É o
reflexo primitivo mais importante.
➢ Reflexo palmomentual: caracterizado pela excitação cutânea da
eminência tenar (porção muscular na palma da mão humana logo abaixo
do polegar). Em caso de contração do mento ipsilateral (queixo) e
eventualmente, do lábio inferior ipsilateral há indícios de lesões
piramidais ou quadros encefalopáticos difusos (Este reflexo é mais
comumente encontrado em idosos)
➢ Reflexo de sucção: é a resposta a estimulação da região perioral em que
há protusão dos lábios com desvio para o lado estimulado e movimento
de sucção. Esse reflexo pode indicar lesões frontais.
➢ Reflexo orbicular dos lábios: quando é feita a percusão da área acima
do lábio superior e ocorre a protusão do lábio. Pode ser indicativo de
dano cerebral difuso.

Vocabulario
Ipsilateral – que se encontra do mesmo lado.
Perioral – Em volta da boca.
Protusão- Protuberância, Saliência.
Sucção – Ação de aspirar ou sugar.
Percusão - Choque resultante da ação de um corpo sobre outro.

Vídeo
Assista ao vídeo de como ocorre o reflexo palmomentual, é possível
notar quadro patológico no reflexo palmomentual.
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=Y3Ebk5Yv1Ns

Podem se mostrar importantes exames complementares, como exames


laboratoriais, neurofisiológicos e neuroimagem. Dessa forma é possível realizar uma

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avaliação completa e fiel. O encaminhamento para este tipo de exames é geralmente,
feito pelo médico, psiquiatra ou neurologista.

1.1.1. A entrevista com o paciente

A habilidade de entrevista com o paciente é aprendida, mas também é intuitiva,


ou seja, já deve fazer parte da personalidade do profissional, é importante que o
indivíduo que escolhe essa profissão seja portador de uma habilidade interpessoal
satisfatória. É parte essencial da habilidade do entrevistador: as perguntas que
formula, as perguntas que não formula e a decisão de quando e como perguntar ou
não, pois o profissional deve contar com sua intuição (ou feeling), já que se uma
intervenção é realizada em um momento ruim pode prejudicar toda a relação
transferencial do paciente com o profissional e gerar uma resistência ao tratamento,
podendo levar até mesmo ao abandono do processo.
A relação profissional-paciente deve ser empática e humana, mas não pode
deixar de ser profissional, evitando que o paciente se aprofunde na vida pessoal de
quem o atende. É importante acolher o sofrimento do paciente, escutando-o sem
julgamentos e também estar preparado para pacientes possivelmente agressivos ou
invasivos. É comum que alguns pacientes demonstrem certo interesse na vida pessoal
do profissional e esse tipo de comentário deve ser contornado, mostrando que o tema
principal da consulta é o próprio paciente ou no caso de entrevista inicial com os
responsáveis de uma criança, mostrar que ela é o foco.
Quando a entrevista realizada é com a criança, esse ponto se torna mais
flexível, pois é comum que ela queira saber coisas como: para qual time você torce,
qual sua idade, entre outras coisas. Nesses casos, é possível que ao responder
algumas perguntas, a criança se sinta mais segura e isso ajude na relação
transferencial entre paciente e profissional, trata-se de um ponto que deve ser sempre
repensado em cada caso.
Posturas rígidas, inflexíveis e estereotipadas não são aconselháveis nesse tipo
de atendimento, assim como atitudes extremamente frias ou emotivas. Se o paciente
não se sentir confortável e seguro, não será capaz de se abrir, o que prejudicará muito
o tratamento. Comentários valorativos, julgamentos, reações de pena, comentários
hostis e entrevistas prolixas devem ser evitados também. Outro conselho importante

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é evitar fazer demasiadas anotações enquanto o paciente fala, não dispensando um
tempo para manter contato visual com o mesmo.

A chave do sucesso da entrevista ou anamnese é a paciência, ou


seja, compreender que cada pessoa será diferente e terá um ritmo
particular, é preciso estar preparado para isso, compreendendo o
sujeito para além de suas queixas.

É impossível estabelecer de antemão o número de entrevistas que serão


necessárias para cada paciente, pois cada um reagirá de forma diferente ao
tratamento. Entre todas as consultas, a primeira entrevista é crucial para que o
paciente se sinta seguro com o profissional, fator imprescindível para que o trabalho
seja realizado com sucesso. Durante a entrevista com o paciente, é importante que o
profissional crie um ambiente acolhedor e confortável para seu paciente.
No primeiro contato, o profissional deverá se apresentar e perguntar ao
paciente, seja adulto, adolescente ou criança, o motivo de sua visita, nesse ponto, já
é possível avaliar qual o grau de clareza que o paciente tem em relação a queixa
apresentada (muitas vezes pelos pais ou escola). Caso o paciente não saiba explicar
o que o levou até o consultório, é importante deixar claro a importância da consulta,
explicitando claramente os objetivos propostos. Ele deve ficar ciente do sigilo e ética
profissional, dessa forma, saberá que pode confiar naquele que o atende. Outros
pontos importantes da anamnese são:
➢ Oferecer ambiente privado e confortável ao paciente (setting
terapêutico);
➢ Questionar qual a dificuldade que o traz ao consultório, e aos adultos e
adolescentes perguntar também quando ela se iniciou e de onde o
paciente intui que esse problema se originou;
➢ Observar postura, atitudes, aparência e comportamentos não verbais
do paciente;
➢ Usar linguagem compatível com o nível intelectual e idade do paciente,
cuidando para não gerar dúvidas no mesmo;
➢ Realizar perguntas mais abertas para pacientes com bom nível
intelectual e perguntas mais fechadas para pacientes com nível
intelectual afetado.

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O paciente deverá ficar livre para falar, mas é importante que o profissional
tenha a entrevista estruturada em sua cabeça, para que não se perca ou deixe de
coletar informações importantes.
Enquanto que as entrevistas com jovens, geralmente, são proposta no estilo de
conversas e aplicações de testes, a da criança é proposta com testes e atividades
lúdicas, como jogos, desenhos, entre outros, pois ela ainda não tem seu discurso
completamente formado para passar as informações devidas e por isso, passa as
informações de forma simbólica. Nada impede que essa proposta seja estendida aos
adolescentes, dependendo de sua maturidade ou preferências.

1.2 Aspecto global do paciente

Ao receber um paciente, um dos primeiros passos é perceber a aparência,


postura e atitude do paciente, não como um julgamento, mas como um instrumento
de avaliação. A aparência não dá a resposta, mas pode dar indicadores. Segue abaixo
tabela para auxiliar o uso de termos a serem utilizados na anamnese, no quesito
aparência física:

Tabela - Termos descritivos relativo a aparência do paciente.


Aspecto Corporal Termos e Possibilidades
Neutra, pálida, cansada, bronzeada, corada, rosada,
magra, ossuda, redonda, sem maquiagem, com
Face
maquiagem, suja, ensebada, triste, alegre,
assustada, desanimada, sem expressão.
Limpos, bem penteados, emaranhados, sujos,
Cabelos oleosos, sebosos, com caspa, despenteados,
raspado, curto, longo, alisado, pintado.
Bem cortadas, longas, limpas, sujas, esmaltadas,
Unhas
com esmalte descascado ou cuidado.
Feita cuidadosamente, longa ou curta, descuidada,
Barba
por fazer, suja, tingida, rala, com corte excêntrico.
Arregalados, lacrimejantes, avermelhados,
Olhos
inchados, pálpebras caídas (sonolência).

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Limpos, sujos, apodrecidos, com falhas, prótese,
Dentes
uso de aparelho ortodôntico.
Agradável, desagradável, perfumado em excesso,
Odor
fétido, odor de fezes, mau hálito.
Limpas, sujas, descuidadas, velhas, manchadas,
Roupas impecáveis, extravagantes, provocantes, apertadas,
folgadas.
Trêmulo, pernas inquietas, tiques, espasmos, mãos
Movimentos e gestos inquietas, rígido, largado, curvado, movimentos
bizarros.
Magro, extremamente magro, acima do peso,
Corpo musculoso, robusto, disforme, obeso, marcas
corporais, tatuagens, piercing.
Fonte: Baseado em Dalgalarrondo (2008) com contribuições e cortes da professora-autora.

Perceber se o paciente tem atitude mais passiva ou ativa também é importante


para a aproximação diagnóstica, assim como a identificação de: confusão, arrogância,
indiferença, ironia, inibição, manipulação, falta de cooperação, desinibição,
contenção, perplexidade, oposição, entre outros. Por exemplo, se recebemos uma
criança com suspeita de TDAH, mas notamos que a criança mostra atenção,
cooperação, entre outras características, é possível que a hipótese diagnóstica
precise ser revista.

1.3 Modelo de anamnese

Segue abaixo um modelo de anamnese (dividido em tópicos) a ser aplicado


aos pais, no caso de crianças. Lembrando sempre que a entrevista inicial é com os
pais, mas a criança precisa ser o foco do processo, portanto, após a entrevista com
os pais, é importante deixar a criança falar e se expressar também.
Quando a anamnese precisar ser aplicada com adolescentes, os pontos de
observação serão muito parecidos, mas contará com o bom senso do aplicador para
adaptar um pouco este material (que pode precisar excluir ou acrescentar tópicos). É
comum que o adolescente não saiba responder sobre sua gestação e nascimento,

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mas caso saiba, pode ser um dado importante. Perguntas como “você sabe amarrar
seus sapatos? ” E similares devem ser excluídas, no caso de jovens que demonstram
maior maturidade.

Data:
Profissional responsável:
Identificação
Nome:
Idade:
Sexo:
Local e data de nascimento:
Cidade:
Telefone:
Escolaridade:
Escola:
Período escolar:
Observações:

Dados familiares
Nome do pai:
Idade:
Escolaridade:
Profissão:
Estado civil:
Naturalidade:
Religião:
Nome da mãe:
Idade:
Escolaridade:
Profissão:
Estado civil:
Naturalidade:
Religião:
Outros filhos?
Observações:

Queixa ou motivo da consulta


Qual a queixa?
Desde quando há o problema?
Já procurou outros especialistas? Quais?
Está fazendo algum tipo de tratamento médico, psicológico, psiquiátrico ou
neurológico?
Observações:

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Gestação
Como foi a gestação?
A gravidez era desejada?
Doenças durante a gestação:
Condições de saúde durante a gestação:
Condições emocionais:
Houve algum episódio marcante na gestação?
Observações:

Nascimento
Como foi o parto?
Ocorreu tudo como o planejado?
Algum episódio marcante durante o nascimento?
Observações:

Saúde da criança
A criança teve alguma doença grave?
Possui alguma alergia?
Problemas respiratórios?
Sofreu algum acidente?
Passou por cirurgia?
Problemas de visão? Audição?
Dores de cabeça?
Já sofreu desmaio? Quando? Como foi?
Teve ou tem convulsões?
Há alguém na família com antecedentes de desmaios, convulsões ou outros?
Observações:

Alimentação
A criança foi amamentada? Até quando?
Como é sua alimentação?
Alguma restrição alimentar ou alergia alimentar?
É forçada a se alimentar?
Recebe ajuda ao se alimentar?
Observações:

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Sono
A criança dorme bem?
Sono agitado ou tranquilo?
Fala enquanto dorme?
É sonâmbulo?
Range os dentes?
Com quem dorme?
A criança acorda e vai para a cama com os pais?
Observações:

Desenvolvimento Psicomotor
Com que idade começou a andar?
Como era quando bebê?
Apresenta lentidão em alguma tarefa?
Veste-se e calça-se sozinho?
Toma banho sozinho?
Sabe dar nó nos calçados?
É desastrado?
Pratica esportes? Quais? Gosta de praticar?
Rói unhas?
Chupa o dedo?
Tem alguma mania ou tique? Qual?
Precisa de ajuda em alguma tarefa do dia-a-dia? Quais?
Observações:

Escolaridade
Gosta de ir à escola?
É bem aceita ou é isolada?
Já repetiu de série alguma vez? Qual? Por quê?
Gosta de estudar? Quais são seus maiores interesses?
Tem hábito de leitura?
Faz as lições passadas pelo professor?
Os pais estudam com a criança?
Mudou de escola? Quantas vezes? Por quê? Se adaptou?
Tem maior dificuldade em alguma matéria?
Consegue focar a atenção em sala de aula?
Quais as principais dificuldades na escola?
O que os professores falam sobre ela?
Observações:

Linguagem
Quando começou a falar?
Como é a comunicação atual?
Observações:

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Sexualidade
Recebeu educação sexual? De quem?
Como foi?
Tem curiosidade sexual?
Os pais conversam sobre sexualidade com a criança?
Observações:

Ambiente
Brinca sozinha ou com amigos?
Prefere brincar com crianças de sua idade, maiores ou menores?
Tem facilidade para fazer amigos?
Adapta-se facilmente a novos ambientes?
Como é o relacionamento com os responsáveis? E irmãos?
Quais as medidas disciplinares utilizadas com a criança?
Quem as aplica? Qual a reação da criança frente a elas?
Observações:

Características pessoais e afetivas


Como é a criança sob o ponto de vista emocional?
Dentre as características abaixo, em quais ela se enquadra mais?
Agressiva( )
Passiva ( )
Dependente( )
Irrequieta ( )
Medrosa ( )
Retraída ( )
Excitada ( )
Desligada ( )
Outras:
Como reage quando contrariada?
Atividades preferidas:
Observações:

Rotina da criança
Descreva a rotina da criança desde quando acorda até a hora de dormir:

A avaliação psicopedagógica dinâmica propõe uma nova forma de pensar o


indivíduo com dificuldades de aprendizagem e realmente poder fazer algo por ele,
planejado intervenções e planos específicos para cada um. Uma etapa muito
importante desse processo, senão a mais importante, é a anamnese, em que é

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possível obter dados que guiarão o processo diagnóstico. É preciso estar atento ao
que o sujeito fala e como fala, de qual forma ele se mostra e como suas funções
psíquicas podem ou não estar relacionadas com suas dificuldades de aprendizagem.

Resumo da aula 1

Nesta aula foram abordados conceitos sobre a avaliação psicopedagógica


dinâmica que é um processo que busca compreender o sujeito em seu contexto
escolar e familiar, por acreditar em uma visão mais abrangente do ser humano. Além
do diagnóstico, procura também elaborar um plano de intervenções efetivo para o
aluno, juntamente com a equipe escolar. Um dos principais processos da avaliação é
a anamnese, nessa etapa é importante investigar os sinais e sintomas do indivíduo,
além de seus antecedentes familiares e a maneira como se relaciona com o meio.
Quando realizado com cuidado, pode fornecer informações essenciais para o
processo diagnóstico.

Atividade de Aprendizagem
Disserte sobre qual é a proposta da psicopedagogia dinâmica
e dê sua opinião sobre a prática.

Aula 2 - Anamnese: as funções psíquicas

Apresentação da aula 2

Nesta aula serão trazidas as principais funções psíquicas do ser humano como
a consciência, atenção, linguagem, orientação, juízo de realidade, tempo e espaço,
sensopercepção, memória, afetividade e vontade. E também serão citadas as
alterações de cada uma dessas funções e algumas de suas consequências.

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2. As funções psíquicas

As diferentes funções psíquicas devem ser avaliadas uma a uma e também em


correlação umas com as outras. É importante lembrar que muitas vezes que consegue
perceber alterações das funções psíquicas (ou não) já no discurso de seu paciente,
portanto as avaliações destas funções não precisam ser aplicadas como uma bateria
de testes. Além do que, alguns testes já fazem a avaliação de algumas dessas
funções.
Para que você entenda a importância das funções psíquicas, cita-se um
exemplo para ler, é preciso ter desenvolvido atenção, concentração, discriminação,
análise e síntese de letras e sons, compreensão de sentido, entre tantas outras
funções. Não existem funções psíquicas isoladas, portanto quando um ser humano
adoece, adoece em totalidade. A seguir, serão listadas as funções psíquicas que
devem ser analisadas na anamnese e quais as possíveis alterações em diferentes
quadros.

2.1 Consciência

A consciência permite o conhecimento do próprio eu, do mundo exterior, da


existência, da personalidade e do ambiente que nos circunda. A consciência na
neurociência, tem sentido de estado de vigília. Dificilmente, se notará um quadro de
alteração de consciência dentro da neuropsicopedagogia, pois esta se volta mais aos
distúrbios de aprendizagem. Essas alterações são mais comuns em quadros
neuropsicológicos e neuropsiquiátricos, mas por ser uma função psíquica importante,
é interessante que a conheçamos. Pode-se listar como alterações normais da
consciência:
➢ Sono normal: é um estado especial de consciência, que ocorre de
forma cíclica e recorrente. Fase fisiológica normal e necessária do
organismo.
➢ Sonho: o sonho é um fenômeno psicológico revelador de desejos
inconscientes, de forma indireta e disfarçada. É também uma alteração
normal da consciência.

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A consciência pode se alterar devido a processos fisiológicos normais e
também por processos patológicos. Serão listadas a seguir as alterações patológicas
da consciência.
Alterações patológicas quantitativas da consciência
Rebaixamento da consciência em grau leve a moderado.
Obnubilação Caracteriza-se por diminuição do grau de clareza, lentidão na
compreensão e dificuldade na concentração.
Estado em que o paciente pode ser despertado somente mediante
Sopor a estímulo enérgico e de natureza dolorosa. Caracterizado pela
incapacidade das reações de defesa e ações espontâneas.
Coma Estado em que não há qualquer indício de consciência e o paciente
não é capaz de realizar nenhuma atividade voluntária consciente.

Síndromes psicopatológicas associadas ao rebaixamento do nível de


consciência
Delirium Aspecto confuso do pensamento e discurso do paciente. Diz
respeito aos quadros com rebaixamento leve á moderado de
(síndromes
consciência, acompanhado de desorientação temporoespacial,
confusionais dificuldade de concentração, perplexidade, ansiedade, agitação ou
lentificação psicomotora, discurso confuso e ilógico, ilusões e/ou
agudas)
alucinações, geralmente visuais.
Alteração da consciência combinada com estado semelhante ao de
um sonho vivido. Geralmente, caracteriza-se por visualização de
Estado cenas fantásticas, com grande carga emocional, seguidas por
amnesia referente ao estado onírico. Ocorre em psicoses,
onírico síndromes de abstinência a substancias e quadros febris tóxico-
infecciosos.

Alterações qualitativas da consciência


Estado transitório no qual a obnubilação da consciência é
Estados
acompanhada de atividade motora coordenada, em que há
crepusculares estreitamento da consciência. É comum a ocorrência de atos
explosivos e violentos.
Estado Semelhante ao estado crepuscular, mas neste a atividade
motora permanece estranha ao indivíduo. Geralmente produzido
segundo
por fatores emocionais.
Dissociação Fragmentação da consciência, geralmente utilizada como
estratégia defensiva inconsciente para lidar com ansiedade muito
da
intensa, o indivíduo se deliga da realidade para parar de sofrer.
consciência Comum em quadros histéricos.
Dissociação da consciência que se assemelha ao sonhar
Transe acordado, mas contando com atividade motora automática e
estereotipada acompanhada de suspensão temporária de
movimentos voluntários.
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Estado Consciência reduzida e estreitada e ocorre devido a indução do
hipnotizador. É semelhante ao transe por haver alta ocorrência
hipnótico
de sugestionabilidade através do indutor.
Experiência Experiências rápidas em que um estado de consciência
particular é vivenciado e registrado pelo indivíduo, em situações
de quase-
de ameaça de morte.
morte

Amplie Seus Estudos


SUGESTÃO DE LEITURA

Caso deseje ampliar seus estudos,


recomenda-se a leitura do livro A interpretação
dos sonhos, que segundo Freud, desvela,
sobretudo, os conteúdos mentais reprimidos ou
excluídos da consciência pelas atividades de
defesa do ego e justifica inquestionavelmente
sua posição dentro da psicanálise, já que a
parte do id cujo acesso à consciência foi
impedido é exatamente a que se encontra
envolvida na origem das neuroses. O interesse
de Freud pelos sonhos teve origem no fato de
constituírem eles processos normais, com os
quais todos estão familiarizados, mas que
exemplificam processos atuantes na formação
dos sintomas neurótico.

2.1.1 Atenção

A atenção pode ser definida como a direção da consciência. É o estado da


atividade mental em determinado objeto. As alterações que podem ser observadas,
são:
➢ Aprosexia: Abolição da capacidade de atenção.
➢ Hipoprosexia: Diminuição global da atenção, acompanhada de
diminuição na concentração, compreensão e percepção e aumento na
fadiga.
➢ Hiperprosexia: Atenção exacerbada, em que o indivíduo se detém em
alguns objetos.
22
➢ Distração: É um sinal e não um déficit. Superconcentração em algo e
inibição de todo o resto.
➢ Distraibilidade: O contrário da distração, é um estado patológico em que
há dificuldade para deter-se em qualquer coisa que envolva esforço
produtivo.

Os transtornos que mais sofrem alterações de atenção, são:


➢ Transtornos de humor (depressão, bipolaridade): Quando há aumento
da atenção involuntária e diminuição da atenção voluntária. Quando a
pessoa está em depressão há a diminuição geral da atenção.
➢ Esquizofrenia: Caracterizada pela dificuldade de atenção constante,
além da dificuldade em anular os estímulos visuais e auditivos externos.
➢ Transtorno de déficit de atenção/hiperatividade (TDAH): Dificuldade em
filtrar estímulos irrelevantes (distraibilidade).
➢ Transtorno obsessivo-compulsivo (TOC): Atenção aumentada e
excesso de vigilância.

2.1.2 Memória

Memória é a capacidade de registrar, manter e evocar fatos e experiências já


ocorridos. Relaciona-se intimamente com a consciência, atenção e interesse afetivo.
As alterações de memória podem ser quantitativas ou qualitativas.
Alterações quantitativas

Hipermnésias As representações afluem rapidamente, mas perdem a


precisão.
Perda de memória, seja da capacidade de fixar ou da
Amnésia capacidade de manter e evocar conteúdo. Pode ser
psicogênica (perda de elementos focais com valor
psicológico específico) ou orgânica (não é seletiva).
Amnésia O sujeito não consegue mais fixar elementos mnêmicos a
partir do evento que lhe causou dano cerebral.
anterógrada

Amnésia retrógrada O indivíduo não consegue lembrar fatos ocorridos antes


do trauma.

23
Alterações qualitativas (lembrança deformada)

Ilusões mnêmicas Acréscimo de elementos falsos a um núcleo verdadeiro de


memória.
Alucinações Criações imaginativas que se apresentam como
lembranças.
mnêmicas

Fabulações Invenções que preenchem vazios na memória. O indivíduo


não é capaz de perceber que são falsas memórias.

2.1.3 Orientação

Orientação é a capacidade de situar-se quanto a si mesmo e ao ambiente.


Envolve as capacidades de atenção, percepção e memória. As alterações possíveis
da orientação são:
➢ Desorientação por redução do nível de consciência: É a forma mais
comum de alteração de orientação e é causada por alteração do nível
de consciência, produzindo então, rebaixamento na atenção,
concentração, percepção e retenção de estímulos.
➢ Desorientação por déficit de memória imediata e recente: o indivíduo não
consegue reter informações ambientais básicas na memória, ficando
desorientado temporoespacialmente.
➢ Desorientação apática ou abúlica: A desorientação é decorrente da falta
de interesse (comum em casos depressivos)
➢ Desorientação delirante: Ocorre com sujeitos que se encontram em
estado delirante e possuem então, dupla orientação: uma falsa (delírio)
e a outra correta (realidade).
➢ Desorientação por déficit intelectual: Decorrente da incapacidade e
dificuldade em compreender e reconhecer o ambiente.
➢ Desorientação por dissociação: Alterações da identidade pessoal
(desdobramento de personalidade).
➢ Desorientação por desagregação: Acomete pacientes psicóticos ou
esquizofrênicos e impede que se orientem quanto a si mesmo e ao
ambiente.

24
2.1.4 Tempo e espaço

Kant (apud Dalgalarrondo 2008) diria que não é possível conhecer nada fora
do espaço e do tempo, e classifica estes dois conceitos como “entidades potenciais
ou ocas”, pois embora sejam essenciais para o conhecimento, só adquirem plena
realidade quando preenchidas por objetos do conhecimento.

[...] Kant (1724-1804) defende que o espaço e o tempo são dimensões


básicas, que possibilitam todo e qualquer conhecimento, intrínsecas ao ser
humano como ser cognoscente. Segundo ele, não se pode conhecer
realmente nada que exista fora do tempo e do espaço. Para esse filósofo,
entidades que pairam fora do tempo e do espaço, como Deus, a liberdade ou
a alma humana, não são passíveis de ser propriamente conhecidas. Pode-se
pensar sobre elas, mas nunca conhecê-las objetivamente. (Dalgalarrondo
2008 p. 114)

A dimensão temporal da humanidade se relaciona com os chamados ritmos


biológicos. Como: o ritmo circadiano (as 24h dos dias e noites), o ritmo mensal, as
variações sazonais (estações do ano) e as grandes fases da vida. Muitos desses
ritmos se associam com flutuações hormonais e bioquímicas como símbolos culturais.
Podemos separar o tempo em objetivo (cronológico, exterior, mensurável) e
subjetivo (interior e pessoal). É possível que ocorram descompassos entre os dois,
causados por alterações da consciência do tempo, memória, pensamento, etc. é
comum haver desaceleração do tempo na depressão e aceleração na mania.

2.1.5 Sensopercepção

Sensação é o fenômeno gerado por estímulos físicos, químicos e biológicos


variados, produzindo alterações nos órgãos receptores, estimulando-os. Enquanto
que, imaginação é a atividade psíquica, geralmente voluntária, que evoca imagens
percebidas no passado (mnêmicas) ou cria novas imagens.
As alterações da sensopercepção podem ser quantitativas ou qualitativas.

25
Alterações quantitativas
(as imagens perceptivas tem intensidade anormal)

Hiperestesia Percepções com intensidade aumentada (comum no uso de


substâncias tóxicas).
Hiperpatia Sensação desagradável produzida após leve estímulo da
pele.
Hipoestesia Cores parecem mais pálidas, alimentos sem sabor, odores
perdem intensidade (comum em casos depressivos).
Anestesias táteis Perda de sensação tátil em determinada área da pele.

Analgesias Perda de sensações dolorosas em determinadas áreas da


pele ou partes do corpo.
Sensações táteis desagradáveis, como: adormecimentos,
Parestesias picadas, agulhadas, etc. Ao contrário das distesias, são
espontâneas.

Alterações qualitativas

Ilusão Percepção deformada de um objeto real e presente. Pode


ser visuais e auditivas.
Alucinação Percepção de um objeto, sem que ele esteja presente. Pode
ser auditiva, visual, tátil ou olfativa.
Alucinose Quando o indivíduo percebe a alucinação como estranha a
sua pessoa. Ele não crê em sua alucinação.

Curiosidade
Existem ainda alucinações cenestésicas, cinestésicas,
funcionais, combinadas, extracampinas, autoscópicas,
hipnagógicas e hipnopômpicas.
2.1.6 Afetividade

A afetividade é um termo genérico que compreende vivências afetivas, como


o humor (estado de ânimo em determinado momento), as emoções (estado afetivo
intenso de curta duração) e os sentimentos (menos intensos e mais duradouros que
as emoções).

26
Alterações da afetividade

Distimia Alteração básica do humor, tanto na inibição (distimia


hipotímica) quanto na exaltação (hipertímica).
Disforia Distimia acompanhada de uma tonalidade afetiva
desagradável, mau humorada.
Euforia Humor exagerado, desproporcional as circunstâncias.
Puerilidade Caracterizada por aspecto infantil, simplório e regredido
(indivíduo ri ou chora por motivos banais).
Irritabilidade
Hostilidade desagradável e por vezes, agressiva.
patológica

Ainda existem alterações de emoções e sentimentos, como apatia,


inadequação do afeto, anedonia (não sente prazer sexual), labilidade afetiva, fobias,
etc.

Vocabulario
Apatia – estado de alma não suscetível de comoção ou interesse;
insensibilidade, indiferença.
Labilidade – variável ou adaptável; instável.

2.1.7 Vontade

É difícil definir o que se chama de vontade, mas é possível dizer que esta é
uma dimensão da vida mental do ser humano que contempla o instinto, o desejo e a
afetividade. As alterações de vontade, são:
➢ Hipobulia: diminuição ou abolição da atividade volitiva. Geralmente
vem acompanhado da apatia.
➢ Abulia: indiferença volitiva e afetiva desejada e buscado por alguns
indivíduos, como os místicos, por exemplo.

27
Vocabulario
Volitiva - é o processo cognitivo pelo qual um indivíduo se decide
a praticar uma ação em particular. É definida como um esforço
deliberado e é uma das principais funções psicológicas humanas.

Dentro das atividades volitivas, é possível ainda fazer uma separação entre
atos impulsivos (não passa pela intenção e decisão) e atos compulsivos (é
reconhecido pelo indivíduo como indesejado e inadequado e por vezes, há tentativa
de refreá-lo. Os atos impulsivos são patológicos quando há ocorrência de ações
psicomotoras automáticas, sem reflexo ou decisão prévia, como a automutilação ou
tricotilomania (impulso de arrancar os cabelos), por exemplo. Exemplos de
compulsões, podem ser compulsões alimentares, entre outras.

2.1.8 Juízo de realidade

O juízo de realidade pode ser traduzido como o julgamento de realidade, ou


seja, a capacidade de distinguir a realidade de outros estados. O estado de alteração
de juízo de realidade mais comum é o delírio, que pode ser definido como um juízo
falso, motivado por fatores patológicos (o delírio é a alteração do juízo de realidade).
Existem três indícios externos do delírio a convicção absoluta nas ideias, a
impossibilidade de sua modificação e o seu conteúdo impossível ou falso.

Pesquise
Foram trazidas as funções psíquicas básicas, mas é
interessante que você possa estudar também as funções
psíquicas compostas, como: Inteligência, Personalidade e
Valoração do Eu.

Cada dificuldade de aprendizagem nada mais é do que a vulnerabilidade do


conjunto de determinadas funções psíquicas. Pensando globalmente, é importante
quais capacidades psíquicas dos pacientes estão deficitárias, pois somente assim
será possível fazer um bom diagnóstico e um bom plano de intervenção.
28
Resumo da aula 2

Nesta aula foram destacadas as principais funções psíquicas do ser humano


como a consciência, atenção, linguagem, orientação, juízo de realidade, tempo e
espaço, sensopercepção, memória, afetividade e vontade. Também foram citadas as
alterações de cada uma dessas funções e algumas de suas consequências. Faz parte
de uma boa anamnese e avaliação psicopedagogica estar atento a todas as
alterações psíquicas do sujeito, para assim compreender quais são suas
potencialidades e dificuldades.

Atividade de Aprendizagem
Faça um breve texto explicando a importância de observar as
possíveis alterações psíquicas em indivíduos que passam pelo
processo de avaliação neuropsicopedagógica.

Aula 3 - O Diagnóstico

Apresentação da aula 3

Nesta aula serão trazidos aspectos sobre algumas funções psíquicas e suas
alterações. E como essas alterações podem ajudar a elaborar os diagnósticos. Serão
também apresentadas as alterações de linguagem que são as mais presentes na
clínica psicopedagógicas. E por fim serão explicados brevemente alguns transtornos
de personalidade, além de discutidos os graus de retardo mental e suas
características.

3. Diagnóstico

Os indivíduos que possuem dificuldades de aprendizagem podem revelar


dificuldades inesperadas em diversos tipos de aprendizagem, como:
➢ Simbólica ou verbal (aprender a ler, escrever e a contar), de origem,
geralmente, escolar e/ou acadêmica.

29
➢ Não simbólica ou não verbal (andar de bicicleta, orientar-se no espaço,
desenhar, pintar, interagir, etc.), de origem, geralmente, psicossocial ou
psicomotora.

As dificuldades de aprendizagem podem criar obstáculos para aprender a falar,


ouvir, ler, escrever, raciocinar, resolver problemas matemáticos, entre outros, e podem
prolongar-se ao longo da vida. Possuem uma diversidade enorme, embora os
diagnósticos de dislexia e disgrafia sejam os mais frequentes. Também podem ocorrer
em diferentes níveis de QI e diferentes níveis socioeconômicos.
“Ao longo das entrevistas com o paciente, coletará muitas informações
importantes, e o que fará com elas?”
Ao perceber as alterações de alguma função psíquica ou mesmo algum sinal
ou sintoma, é importante que o profissional elabore o diagnóstico diferencial.
Primeiramente, quando uma queixa é trazida, devem ser checados os aspectos
orgânicos, por exemplo, quando uma criança que não se comunica com os outros
chega ao consultório é importante checar se não há algum problema auditivo. Caso
nenhum problema dessa ordem seja constatado, é necessário partir para outras
causas.

3.1 O diagnóstico precoce

É possível detectar sinais de algum tipo de perturbação desde os primeiros


anos de vida. Detectar algum tipo de transtorno ou alteração nesta fase, mostra-se
muito produtivo, pois quanto antes os sintomas são percebidos e trabalhados, menos
resquícios e problemas restam no psiquismo da criança.
Os profissionais, em conjunto com a escola e os pais precisam estar atentos a
sinais de risco, ou seja, tudo aquilo que não faz parte do desenvolvimento normal da
criança.
Quando identificamos traços de autismo em uma criança antes dos 5 anos, por
exemplo, temos tempo para realizar com ela um trabalho a fim de que o diagnóstico
não se feche (já que ela está em um momento de constituição), possibilitando a não
cristalização desses traços. É preciso começar a atuar quando “algo não vai bem”,
sem precisar que o quadro se configure para iniciar o tratamento. Então o diagnóstico
precoce é tão importante para que a intervenção seja iniciada o quanto antes, a fim
de que o quadro não se cristalize.
30
3.2 O diagnóstico diferencial

O diagnóstico diferencial é um método utilizado para identificar determinadas


doenças ou transtornos, sendo feito pelo processo de eliminação. São elaboradas
hipóteses, levando em conta a sintomatologia de cada doença/transtorno/alteração.
Diagnósticos possíveis são elencados de acordo com a sintomatologia apresentada
pelo paciente e a partir disso, são realizados testes e observações para realizar o
diagnóstico diferencial.
Desta forma, é importante estar atento para quadros que possuam
sintomatologia parecidas, pois isto aumenta a possibilidade de confusão no momento
do diagnóstico. Como cada quadro tem uma causa e/ou uma intervenção diferente, é
importante que esse processo seja feito com cuidado.

3.3 Alguns diagnósticos possíveis na psicopedagogia

Como dito anteriormente, existe muitos diagnósticos possíveis no âmbito da


psicopedagogia. Aqui, teremos contato com os mais comuns. Dessa forma, é
importante que você continue pesquisando e estudando para aprofundar-se cada vez
mais no tema.

3.4 Alterações da Linguagem

As alterações da linguagem ocorrem, geralmente, por estarem associadas a


acidentes vasculares cerebrais, tumores cerebrais, etc. na maioria dos casos, essas
lesões ocorrem no hemisfério esquerdo, na região cerebral da linguagem (frontal
póstero-inferior, temporal póstero-superior, etc).

3.4.1 Linguagem

A linguagem é o principal instrumento de comunicação dos seres humanos, é


fundamental na elaboração e expressão do pensamento.

31
Alterações de linguagem
É a perda da linguagem, falada e escrita, pela incapacidade de
compreender os símbolos verbais. É sempre a perda de algo que
antes fora adquirido e se deve a lesões no sistema nervoso
central, portanto, é um distúrbio orgânico. Os principais tipos de
afasia são:
➢ Afasia de expressão ou de Broca: o indivíduo tem o órgão
fonador preservado, mas não consegue falar ou fala com
dificuldade. A compreensão está relativamente preservada e
Afasia as lesões são, geralmente, de origem vascular.
➢ Afasia de compreensão ou de Wernicke: o indivíduo continua
falando, mas de forma defeituosa e por vezes,
incompreensível ocorre por lesões das áreas temporais
esquerdas e a compreensão está dificultada.
➢ Afasia global: é grave e acompanhada de hemiparesia
direita, mas acentuada no braço.
Existem ainda outros tipos de afasias: transcortical sensorial,
talâmica, de condução, anômica, transcortical motora e
transcortical mista.
São deformação de determinadas palavras, que aparecem de
Parafasias forma mais discretas de déficits de linguagem. Por exemplo,
trocar livro por “ibro”. Ocorrem, algumas vezes, no início de
síndromes demenciais.
Perda, por lesão orgânica, da linguagem escrita, sem que haja
Agrafia perda cognitiva ou motora. Pode ocorrer associada, ou não, as
afasias.
Alexia Perda, por origem neurológica, da capacidade já previamente
adquirida de leitura. Associa-se as afasias e agrafias.
Incapacidade de articular corretamente as palavras devido a
Disartria alterações neuronais. Há dificuldade na articulação das
consoantes verbais e dentais. Ocorrem em patologias neuronais
psiquiátricas e neurológicas.
Disfonia Alteração da fala produzida pela mudança na sonoridade das
palavras.
Forma acentuada da disfonia, em que não é possível emitir
Afonia qualquer palavra, na qual o indivíduo não emite nenhum som ou
palavra.
Deformação, omissão ou substituição de fonemas. As dislalias
orgânicas resultam de defeitos na língua, dos lábios, da abóbada
Dislalia palatina ou outros componentes do aparelho fonador. As dislalias
funcionais não possuem alterações orgânicas e tem origem
psicogênicas, devido a conflitos interpessoais ou imitações.
Na logorréia existe a produção aumentada e acelerada da
linguagem verbal, que é chamada de taquifasia, e pode
Logorréia acompanhar perda da lógica do discurso. Já a loquacidade é o
aumento da fluência verbal sem qualquer prejuízo da lógica no
discurso.

32
Fala lenta e difícil. Se opõe a taquifasia. Nesses casos, o
Bradifasia paciente fala de maneira vagarosa e em geral, associa-se com
quadros depressivos, demências e esquizofrenia.
Ausência de resposta oral do paciente, quando o paciente
apresenta possibilidade de fazê-lo. Os fatores que o
desencadeiam são muito variáveis, podendo ser de natureza
neurobiológica, psicótica ou psicológica. Geralmente, é uma
Mutismo forma de se opor as solicitações do ambiente. Esse quadro é
muito observado em quadros esquizofrênicos, depressões
graves e vários tipos de estupor. É frequente em crianças, o
mutismo seletivo, forma de origem psicológica do mutismo
ocasionada por conflitos interpessoais, dificuldades de relaciona-
mento, frustrações, medos, ansiedade, etc.
Estereotipia Repetição de palavras e frases de modo estereotipado, mecâ-
nico e sem muito sentido. Geralmente tem lesão orgânica das
verbal
áreas cerebrais pré-frontais.
Repetição da (s) última(s) palavra que o interlocutor falou. Ocorre
Ecolalia de forma automática e involuntária. Esta alteração é encontrada
principalmente na esquizofrenia e em quadros psico-orgânicos.
Parecida com a ecolalia, a palilalia é a repetição das últimas
Palilalia palavras que o próprio sujeito emitiu. Também acontece de forma
involuntária e está presente em quadros demênciais.
Logoclonia Repetição das últimas sílabas da frase que o próprio sujeito
emitiu.
Glossolalia Fala gutural, pouco compreensiva.
Emissão involuntária e repetitiva de palavras obscenas, vulgares
Cropolalia e relativas a excrementos. Junto com os tiques verbais, a
cropolalia é muito característica do Transtorno de Tourrete.
Repetição de palavras ou frases de forma monótona e sem
sentido aparente. A mussitação é um fenômeno muito próximo
a verbigeração e se apresenta como uma repetição de palavras
Verbigeração em um tom muito baixo e murmurado, é como se o paciente
falasse “para si mesmo” apenas mexendo discretamente os
lábios. A mussitação e verbigeração são frequentemente
encontradas na esquizofrenia.

Vocabulario
Hemiparesia - paralisia branda de uma das metades do corpo.

33
3.5 Transtornos decorrentes de alterações de personalidade

Segundo o manual diagnóstico CID-10, é possível separar os transtornos de


personalidade, de forma resumida, em:

34
Fonte: Elaborado pelo autor adaptado pelo DI (2017)

Pesquise
Os transtornos de personalidade foram citados de maneira
extremamente resumida, o ideal é que você possa realizar
novas pesquisas sobre o tema e se aprofundar.

3.5.1 Retardo Mental

O retardo mental é uma condição de desenvolvimento interrompido ou


incompleto das capacidades mentais e habilidades cognitivas. Inclui perturbações
nas aptidões intelectuais, de linguagem e adaptação social. Ele possui 5 graus,
sendo eles:
➢ Retardo mental leve – QI de 50 a 69; corresponde à idade mental de
uma criança de aproximadamente 9 a 12 anos, segundo estatísticas
seu nível escolar segue razoável até a 6ª ou 7ª série do fundamental.
85% dos indivíduos com retardo mental estão nesse nível. Transtornos
associados é o de conduta e o autismo.
35
➢ Retardo mental moderado – QI de 35 a 49; corresponde à idade mental
de uma criança de aproximadamente 6 a 9 anos, segundo estatísticas
seu nível escolar segue razoável até a 2ª série do fundamental. 10%
dos indivíduos com retardo mental estão nesse nível. Transtornos
associados é o de conduta e o autismo.
➢ Retardo mental grave – QI de 20 a 34; corresponde à idade mental de
uma criança de aproximadamente 3 a 6 anos, segundo estatísticas não
consegue frequentar a escola muitas vezes. 3 a 4% dos indivíduos
com retardo mental estão nesse nível. Transtornos associados são os
Déficits motores sensoriais, epilepsia.
➢ Retardo mental leve – QI de abaixo de 20; corresponde à idade mental
de uma criança de aproximadamente menos de 3 anos, segundo
estatísticas não consegue frequentar a escola. 1 a 2% dos indivíduos
com retardo mental estão nesse nível. Transtornos associados são os
Déficits motores sensoriais, epilepsia.

3.5.2 Outros diagnósticos comuns na clínica psicopedagógica

Além dos diagnósticos citados, segue lista de alguns diagnósticos frequentes:


➢ Distimia: depressão crônica, geralmente de intensidade leve, mas
duradoura. Inclui diminuição da autoestima, fadiga, dificuldade em se
concentrar e tomar decisões. Os sintomas devem estar presentes de
maneira ininterrupta durante pelo menos 2 anos.
➢ Esquizofrenia: principal forma da psicose, entre seus sintomas mais
importantes estão a percepção delirante, eco do pensamento ou
sonorização do pensamento, alucinações auditivas, difusão do
pensamento, entre outros.
➢ Transtorno de déficit de atenção: caracterizado por forte distraibilidade,
principalmente em situações que envolvam algum tipo de esforço
produtivo.
➢ Autismo: indivíduo com incapacidade de formar relacionamentos
sociais. Entre outros sinais estão uma pobre habilidade de comunicação

36
e a incapacidade de compreender relação de reciprocidade e qualquer
tipo de troca.

Amplie Seus Estudos


SUGESTÃO DE LEITURA
Leia a obra Psicopatologia e semiologia dos
transtornos mentais (Paulo Dalgalarrondo)
para ampliar seus conhecimentos em relação
aos diagnósticos aqui citados de forma breve e
resumida.

Existe uma grande variedade de possibilidades diagnósticas. É importante


conhecer cada um desses quadros (buscar informações, como: causas,
prognósticos, tratamentos, critérios diagnósticos, entre outros) para um diagnóstico
bem feito e a partir disto, buscar planos de intervenções efetivos.

Resumo da aula 3

Nesta aula abordou-se sobre algumas funções psíquicas e suas alterações.


Nesta aula foi possível pensar em como essas alterações podem ajudar a elaborar os
diagnósticos. As alterações de linguagem são as mais presentes na clínica
psicopedagógicas, sendo elas Afasia, Parafasias, Agrafia, Alexia, Disartria, Disfonia,
Afonia, Dislalia, Logorréia, Bradifasia, Mutismo, Estereotipia verbal, Ecolalia, Palilalia
e Glossolalia.
Foram explicados brevemente alguns transtornos de personalidade, além de
discutidos os graus de retardo mental e suas características. Também foi demarcada
a importância do diagnóstico precoce (realizar o diagnóstico mais cedo possível,
quando percebe que “algo não vai bem”) e do diagnóstico diferencial (processo de
comparação e eliminação de diagnósticos).

37
Atividade de Aprendizagem
Escolha um dos diagnósticos expostos nesta aula, pesquise
sobre ele de forma mais aprofundada e faça um breve texto,
contendo pelo menos três destas informações: causa, trata-
mento, prognóstico, fatores de risco, comorbidades, inter-
venções possíveis, frequência de ocorrência, dificuldades
diagnósticas, critérios diagnósticos no CID-10 ou DSM V.

Aula 4 - Testes, jogos e provas

Apresentação da aula 4

Nesta aula serão apresentados os aspectos sobre os instrumentos para realizar


um diagnóstico neuropsicopedagógico, como o teste TDE, Metropolitano, Provas
piagetianas, Provas pedagógicas, etc. Também como importante instrumento é o jogo,
pois possuem regras e desafios nos possibilitam compreender o pensamento do
sujeito e como ele reage diante das dificuldades, e os desenhos podem passar
inúmeras informações sobre o indivíduo.

4. Qual instrumento utilizar?

O neuropsicopedagogo tem a opção de formar uma equipe multidisciplinar e, por


exemplo, o psicólogo fará os testes de inteligência, o fonoaudiólogo os testes de
audição e linguagem e por aí vai. Os pedagogos formados em psicopedagogia podem
usar alguns testes como TDE, Metropolitano, Provas piagetianas, Provas
pedagógicas, etc. Além desses testes e provas, o profissional poderá contar com sua
criatividade e formular suas próprias atividades, além de utilizar recursos como jogos
e desenhos. Quanto ao processo de avaliação diagnóstica o profissional deverá
escolher quais os melhores instrumentos a serem aplicados.

4.1 Jogos e desenhos

No atendimento de crianças e jovens menos maduros também é recomendado


o uso de jogos, pois através das manifestações da criança ou adolescente durante a
38
brincadeira é possível notar certos mecanismos de defesas e desejos inconscientes.
O profissional deve ter a escuta aguçada para realizar esse tipo de avaliação, pois ao
perceber algum tipo de comportamento, poderá realizar alguma intervenção ou
questionamento.
Os jogos também representam situações-problemas e é sempre interessante
avaliar qual forma o paciente escolhe para resolvê-las. Nas situações-problemas
mostra-se eficaz apontar para o paciente o modo como ele resolveu a situação (para
que ele ouça a partir da percepção do outro e possa se perceber) e, quem sabe,
mostrar novas formas de resolver o mesmo problema. Além de um método de
observação e coleta de dados, esse pode ser também um método de intervenção.

Importante
Jogos que possuem regras e desafios nos possibilitam
compreender o pensamento do sujeito e como ele reage diante
das dificuldades. Você poderá decidir, frente a suas
possibilidades, quais jogos são adequados (pois cada paciente
terá um perfil diferente). Por exemplo, jogos de Combate, Perfil,
Cara a cara, Detetive, Jogos da memória, entre outros. Mas a
escolha dos jogos dependerá de sua escolha e preferência.

As sessões mais lúdicas contarão com uso de desenhos, pinturas, colagens,


jogos, etc. e através delas será possível compreender como o sujeito compreende
processos cognitivos, afetivos e sociais. Winnicott diria que “é no brincar, e somente
no brincar, que o indivíduo, criança ou adulto, pode ser criativo e utilizar sua
personalidade integral: e é somente sendo criativo que o indivíduo descobre o eu”
(1975, p. 80).
O desenho da criança pode passar inúmeras informações, por exemplo, como
está a situação em casa, quais suas dificuldades, seus modos de relação, além é claro
de sua capacidade de pensamento e organização coerente. Você pode deixar que a
criança desenhe e então perguntar sobre o que é o desenho ou se ela pode contar
uma história baseada naquele desenho. Vamos imaginar que ela desenhe uma casa
“e uma família composta por três pessoas, você pode perguntar a ela quem são
aquelas pessoas, como elas são, se elas gostam umas das outras, onde elas moram,
etc”. Qualquer produção lúdica é permeada pelo inconsciente, portanto, há sempre
algo do sujeito naquilo que ele produz.
39
Quando adultos, mascaramos muito mais nossa marca naquilo que
produzimos, mas a criança ou adolescente costuma “escancarar” suas questões. É
bem possível que a criança se identifique com algum personagem de seu desenho ou
que o desenho represente alguma situação importante para ela. Em crianças que
sofreram abuso sexual, é muito comum a identificação de objetos fálicos nos
desenhos.
Caso você queira investir em materiais lúdicos, poderá ter instrumentos como:
➢ Família lúdica terapêutica: existe uma grande variedade desses
bonecos de pano que permitem a criança expressar suas relações
familiares e sociais no geral, através da brincadeira lúdica.
➢ Kit miniescolinha: a proposta é parecida com a da família lúdica e
permite que a criança reproduza o espaço escolar e faça encenações.
➢ Jogo das profissões: no caso de adolescentes, pode auxiliar em
processos de escolha profissional, além de ser também um jogo que
permitirá a observação de comportamentos do sujeito.
➢ Casinhas e espaços sociais gerais para que o paciente explore
diferentes narrativas, juntamente com a utilização de bonecos, animais
de brinquedo, carros, entre outros.
➢ Jogos: para adolescentes é mais proveitoso o uso de jogos como
Combate, Detetive, Cara a cara, Xadrez, Damas, etc.

4.2 Testes e provas

Ao contrário do que alguns imaginam, o uso de testes e provas não é algo


indispensável em um diagnóstico, apesar de ser de grande valia quando utilizado. É
importante ressaltar que o maior indicador do diagnóstico deve ser aquilo que é
observado e percebido, e que o teste é simplesmente uma complementação e
verificação disso.
Existem diversos testes possíveis, cabe ao profissional avaliar qual será mais
produtivo em cada caso e se você está apto a aplicá-lo. Procure simular uma aplicação
antes de efetivamente utilizar o teste, não é raro profissionais que não estudam o teste
antes e se mostram confusos e despreparados no momento da aplicação. Alguns dos
testes mais importantes, são:

40
➢ WISC (é o mais conhecido e exclusivo para psicólogos), CIA e RAVEN-
estas são as provas de inteligência.
➢ Provas Piagetianas – conjunto de provas que fornece dados referentes ao
nível de pensamento do indivíduo. É baseado na teoria de Jean Piaget.

Figura 1.1. Provas Piagetianas


Fonte: ©Click Books
Fonte: http://www.piramidepedagogica.com.br/productimage.php?product_id=204

➢ EOCA (Entrevista Operatória Centrada na Aprendizagem) – avalia o


nível pedagógico do aluno.
➢ Teste de Bender – é um dos testes de avaliação perceptomotora e avalia
o grau de maturidade visomotora do paciente (também é exclusivo para
uso de psicólogos).
➢ CAT (Children Aperception Test), TAT (Thematic Aperception Test) E
HTP (House, Tree, Person) – testes projetivos que avaliam questões da
personalidade do sujeito (por envolverem grande estudo de base
psicológica para a correção, também é de uso exclusivo do psicólogo).

É importante conhecer alguns outros testes, menos conhecidos, mas que


podem ser utilizados:
➢ TDE (Teste de Desempenho Escolar) – avalia as capacidades
fundamentais para o desempenho escolar, focando na escrita, aritmética

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e leitura. Indica quais áreas estão preservadas e quais estão
prejudicadas.
➢ EAME-IJ (Escala para avaliação da motivação escolar infanto-juvenil) –
avalia a motivação escolar intrínseca, extrínseca e geral da pessoa. É
recomendável para indivíduos de 8 a 11 anos.
➢ APET (Análise da produção escrita de textos) – através do discurso
escrito, verifica o nível de independência, domínio e eficácia do
aprendente com a palavra escrita.
➢ PROLEC – explora processos que interferem na leitura.
➢ EAVAP-EF (escala de avaliação das estratégias de aprendizagem para
o ensino fundamental) – identifica quais as estratégias cognitivas
utilizadas por alunos no ensino fundamental.
➢ ETDAH-AD coleção – auxilia no processo diagnostico de TDAH.

4.3 A avaliação das funções psíquicas

Foram apresentadas as funções psíquicas agora chegou uma parte muito


importante que é como avaliá-las. Serão listadas perguntas ou atividades que podem
ser feitas a fim de analisar se há, ou não, alteração das funções.

4.3.1 Avaliação da Consciência

Primeiramente, lembre-se de que a alteração na consciência repercute na atitude


global do paciente. Esse é o primeiro ponto a ser notado. Note também se está
sonolento, com dificuldade em se integrar aos estímulos ambientais. Em caso de
pacientes com rebaixamento de nível de consciência e possibilidade de alucinação,
um bom teste é pedir para que ele olhe para uma parede branca e diga o que vê.
Não se esqueça de checar se o paciente tem dificuldade de oferecer uma resposta
rápida em nível verbal, motor e de abertura dos olhos.

4.3.2 Avaliação da Atenção

Pergunte ao paciente, ou quem o acompanha, se ele tem dificuldades em se


concentrar, se distraísse com facilidade, não escuta quando lhe falam, tem problemas
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para finalizar tarefas, não consegue se organizar com suas tarefas ou perde coisas
necessárias para realizar a tarefa.
Uma sugestão é pedir para que o paciente olhe os objetos da sala e depois feche
os olhos repetindo o que viu, ou pedir para que ele repita uma sequência de dígitos
em voz alta, em tom pausado, começando com dois dígitos e aumentando um em
cada tentativa.

4.3.3 Avaliação da Orientação

Questões para avaliar a orientação temporal: “Que dia é hoje? Qual o dia da
semana? Qual é a época do ano? Aproximadamente que horas são agora? Qual o dia
do mês? Em que mês estamos? ” (Indivíduos menores de 8 anos podem não ter
adquirido ainda este tipo de orientação, o que é normal).
Questões para avaliar a orientação espacial: “Onde estamos? Como é o nome da
nossa cidade? E o bairro? Quanto tempo leva da sua casa até aqui? Em que andar
estamos? ”
Questões para avaliar a orientação autopsíquica: “Quem é você? Qual o seu
nome? Quem são seus pais? Qual a sua idade? ”

4.3.4 Avaliação da Sensopercepção

É possível realizar perguntas como: “Tem visto algo estranho que lhe chamou a
atenção? Quando essas coisas aparecem? Tem notado sabores ou cheiros
diferentes, na comida, por exemplo? Sente algo estranho em seu corpo? Tem
escutado vozes de pessoas estranhas ou desconhecidas? Tem feito movimentos
contra sua vontade?”. Entre outras possibilidades de perguntas.

4.3.5 Avaliação da Memória

Perguntas relativas à memória recente: “Onde estava ontem? E há uma semana?


O que comeu hoje? E ontem? Estudou ontem? Que horas? Quem sou eu e qual meu
nome?”

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Perguntas relativas à memória remota: “Como se chamam seus pais? Que idade
eles tem? Onde estudava ano passado? Lembra o nome de sua professora?”
Outro teste é simples é dizer quatro palavras aleatórias e pedir para que o paciente
repita logo depois, esperar um tempo, enquanto realiza outra atividade, e perguntar
novamente quais eram as palavras. No caso da memória visual, pode-se também
poderá esconder quatro objetos na frente do paciente e ao final da sessão perguntar
se ele lembra onde estão escondidos.

4.3.6 Avaliação da Afetividade

É importante perguntar ao paciente como ele se sente, se tem sentido uma


angústia interna, medos ou temores, tensão, irritação, desânimo, etc. Também é
interessante questionar como esta mudança de sentimentos tem alterado sua vida.

4.3.7 Avaliação da vontade

Avaliar se a atitude do paciente é passiva ou ativa, se seus movimentos são


espontâneos, qual o tom de voz, se ele fala espontaneamente ou somente quando é
solicitado, etc. É possível perguntar ao paciente o que ele tem feito nos últimos dias,
como estão os estudos, se ele tem dificuldade em terminar o que começa e o que faz
para se divertir.

4.3.8 Avaliação do juízo de realidade

Tentar compreender de maneira delicada se o paciente tem algum tipo de delírio


de perseguição, ou acha que alguém o está espiando/falando sobre ele, se tem
ciúmes excessivo, se ele se sente grandemente especial ou privilegiado, etc. É
importante que estas verificações sejam feitas de maneira cuidadosa e indireta.

4.3.9 Avaliação da linguagem

Observar se a fala do paciente é espontânea, se é correta do ponto de vista


gramatical concernente a sua idade, se apresenta linguagem rica ou pobre, etc. Você

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também poderá testar sua fluência verbal (peça para que ele lhe diga o maior número
de animais que conseguir em um minuto) e verificar a capacidade dele em escrever
uma frase ou determinadas palavras. Verifique se o paciente é capaz de responder
perguntas como “O que é um barco?” E também se sua audição e compreensão verbal
estão normais, pedindo que ele repita algumas palavras de nível mais difícil.

4.4 Use sua criatividade!

Se existe uma função da criança que o profissional quer avaliar, porém não
encontrou um teste ou uma prova, ele pode criá-la, então utilize seu conhecimento e
criatividade. Lembre-se estes instrumentos devem oferecer indicadores
complementares para o seu diagnóstico, mas o que conta mesmo no final é sua
avaliação crítica e profissional.
Se trabalha com avaliações neuropsicopedagógicas ou as estuda, com certeza
deve ter uma base de quais comportamentos são normais para cada idade.
Considerando isso, elabore provas pedagógicas para avaliar o grau de dificuldade ou
facilidade em determinadas áreas do conhecimento. Dessa forma, você estará
avaliando seu paciente da forma mais efetiva e personalizada.
Existem vários recursos possíveis para avaliar cada sujeito, cabe a você
determinar qual instrumento será mais interessante para cada caso. Use o
conhecimento e criatividade de forma que possa realizar sessões práticas e eficientes.
Caso perceba que determinado paciente não reagirá bem a alguma
intervenção, não é necessário suscitar. Procure as atividades que o deixarão mais
confortável. Pode contar com o uso de jogos, dramatizações e desenhos, em
momentos que priorizará o lúdico e a interpretação. Nessas atividades, converse com
a criança e a escute com atenção e cuidado.
Caso opte por testes e provas para analisar quesitos como: inteligência,
personalidade, desempenho escolar, entre outros, fique atento com a capacitação
para aplicar tais recursos e lembrem-se: eles não dão o resultado final e sim nos
ajudam a chegar lá.
Você poderá também avaliar se há, ou não, alguma alteração nas funções
psíquicas de seu paciente. Dessa forma, o diagnóstico será muito mais “certeiro” e
confiável.

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Resumo da aula 4

Nesta aula foram trazidos aspectos sobre os instrumentos para realizar um


diagnóstico neuropsicopedagógico, a escolha sobre como irá colocar isto em prática
será sua, ao traçar um perfil de cada paciente e suas necessidades de avaliação.
Foram apresentados aspectos sobre os instrumentos para realizar um diagnóstico
neuropsicopedagógico, como o teste TDE, Metropolitano, Provas Piagetianas, Provas
pedagógicas, etc. Também foram apresentados como realizar a avaliação das
funções psíquicas.

Atividade de Aprendizagem
Imagine a seguinte situação: Chega até seu consultório um
paciente de 10 anos, menino, muito agitado e comunicativo,
com dificuldades de concentração e visíveis problemas de
convivência familiar. Elabore ao menos 3 estratégias que você
utilizaria para avaliar este paciente, além da anamnese.

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Resumo da disciplina

Nesta disciplina foram apresentados aspectos da avaliação psicopedagógica


dinâmica, que traz a importância de se olhar o sujeito para além de suas queixas. É
preciso enxergar não só suas dificuldades, mas também suas potencialidades e traçar
um plano de intervenção para que esse aluno possa alcançar tudo àquilo que é capaz.
No processo de anamnese a parte mais importante de uma avaliação é a
escuta, escutar aquele que senta à frente sem nem saber explicar qual é sua
dificuldade ou angústia é um grande desafio e espero que você esteja pronto para
vencê-lo.
Foram trazidos aspectos sobre os instrumentos para realizar um diagnóstico
neuropsicopedagógico, a escolha sobre como irá colocar isto em prática será sua, ao
traçar um perfil de cada paciente e suas necessidades de avaliação. Sobre o
diagnóstico ele não é o mais importante, como alguns profissionais acreditam, mas
que ele é necessário para traçar uma rota e uma intervenção e jamais para rotular o
paciente. Há uma variedade grande de possibilidade de diagnósticos e entre uns e
outros há somente uma linha tênue, por isso é tão importante realizar o diagnóstico
diferencial.
E para finalizar, o uso de instrumentos de avaliação deve priorizar o sujeito,
seu estilo e seu ritmo. Utilizar-se testes, provas, jogos, desenhos, brincadeiras, ou
outros instrumentos válidos, mas o mais importante ainda será a forma como o
profissional escuta o sujeito e o aprendizado de quando fazer ou não uma intervenção.

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Referências

BEE, Helen. A criança em desenvolvimento. Porto Alegre: Artmed, 2003.

DALGALARRONDO, Paulo. Psicopatologia e semiologia dos transtornos


mentais. Porto Alegre: Artmed, 2008.

FONSECA, Vitor. Interatividade na Aprendizagem: Avaliação Psicopedagógica


Dinâmica. São Paulo: Salesiana, 2002.

FONSECA, Vitor. Dificuldades de Aprendizagem: na Busca de Alguns Axiomas.


São Paulo, 2007. Disponível em: www.revistapsicopedagogia.com.br/exportar-
pdf/343/v24n74a05.pdf

KAMERS, M.; MARIOTTO, R.; VOLTOLINI, R (org). Por uma (nova)


psicopatologia da infância e da adolescência. São Paulo: Escuta, 2015.

LEFRANÇOIS, Guy. Teorias da aprendizagem. Rio de Janeiro: Cengage, 2008.

PIAGET, Jean. Psicologia e pedagogia. Rio de Janeiro: Forense, 1970.

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