Você está na página 1de 7

UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES


DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA/CURSO DE HISTÓRIA
ÁREA DE HISTÓRIA GERAL
Disciplina: História da África Contemporânea/Período 2017.2

Segunda Avaliação – Com consulta de bibliografia (30 de abril de 2018)

Estudante: José Vilker Martins Marinho.................................................................................

Escolha um dos quatro temas abaixo e disserte


[Produção de texto científico]

Normas para a entrega da prova: no mínimo 6 laudas (incluindo a bibliografia); letra


New Times Roman 12, espaço 1,5, letra 12 no corpo do texto; letra 10, espaço simples
nas notas de rodapé; sistema autor, data, pagina nas citações (Exemplo: BOKOLO,
2017, p. 36); referências completas ao final.

Orientações para a escrita de texto científico: compreensão, interpretação, análise,


explicação. Procedimentos de escrita: definir conceitos e categorias (teoria); resenhar e
resumir processos/acontecimentos (historicidade); dialogar, parafrasear, citar e
contextualizar autor/autores (historiografia).

Índices de avaliação: Introdução: 2,0 - Desenvolvimento: 3,0 - Conclusão: 2,0 - Norma


culta (escrita): 1,5 - Norma ABNT (científica): 1,5

Tema 1: África e a primeira modernidade atlântica.


Subtemas: Teoria econômica. O tráfico e o desenvolvimento do capitalismo. Áreas atlânticas.
Escravidão.

Tema 2: A África no Oitocentos.


Subtemas: Tendências econômicas e políticas. O declínio da escravidão. Transformações
africanas.

Tema 3: A África e as revoluções africanas.


Subtemas: Pan-Africanismo. O reino do político. As independências africanas.

Tema 4: Economias africanas na perspectiva comparada


Subtemas: Regiões econômicas. Países. Neocolonialismo. Subdesenvolvimento.

BOA PROVA
Entrega: dia 07 de maio - segunda-feira, 19 h.
Nessa metodologia não haverá reposição da segunda avaliação.
O século XIX é sem dúvidas, um século que traz ao mundo moderno,
inúmeras novas tendências, sejam elas parte do mundo, econômico, ideológico,
industrial, social ou cultural. Na Europa temos a Inglaterra consolidando-se como a
maior potência mundial graças aos avanços tecnológicos e armamentistas
proporcionados pela Revolução Industrial. Na Ásia temos a Restauração Meiji,
responsável por transformar o Japão em uma potência industrializada. Por fim, nas
Américas temos os movimentos de independência bem como os movimentos
abolicionistas, ambos responsáveis por marcarem um momento de transição
político-ideológico nos três continentes americanos. No continente africano como um
todo, a situação não era diferente, e muito disso se deve pela relação estabelecida
principalmente entre Europa-Américas-África, relação a qual afeta diretamente todo
um contexto sócio-político africano, chegando a atingir também o âmbito cultural
desse continente.

No quesito religioso do continente africano, o tráfico negreiro, ou melhor, o


“fim” do tráfico negreiro causa um enorme impacto nos diversos povos que habitam
esse continente. Com a redução do número de africanos saindo do continente, há
um enorme crescimento demográfico africano, o que ocasiona um crescimento na
migração e na interação entre diferentes povos, proporcionando religiões como, por
exemplo, o islamismo, uma maior propagação no continente africano.

Junto a esse crescimento do islamismo, há também a propagação do


cristianismo, que, principalmente na primeira metade do século XIX conhece um
crescimento considerável no número de missões cristãs, as quais são em sua
maioria de grupos europeus, influenciados pelos ideais antiescravistas que ganham
força com a Revolução Francesa e também com a Revolução Norte-Americana.
Tanto o movimento islâmico como o movimento cristão propagam-se muito
fortemente na África, chegando ao ponto de mudarem e/ou exercerem uma imensa
influência nos âmbitos político e social desse continente, mudando completamente
as relações entre os próprios africanos que agora se vêem em meio a uma disputa
cultural envolvendo a si mesmos.

O islamismo traz consigo uma forte onda de formação de impérios regidos por
um ideal teocrático onde prevaleceriam as leis e práticas islamitas. (BOAHEN, 2010,
pg. 50) Esse crescimento do islamismo proporciona às sociedades que viviam sob a
bandeira desse ideal religioso um crescimento no número de africanos alfabetizados
até mesmo na zona rural de diversas regiões africanas. Educação também é um dos
focos trazidos pelas missões cristãs, as quais instalam escolas de ensino básico em
diversas regiões africanas, introduzindo nesse continente um modelo de educação
europeu ocidental.

Talvez pela diferença entre a cultura africana e a cultura européia, as missões


cristãs tenham causado um maior impacto dentro da África caso façamos uma
comparação entre o movimento cristão e o movimento islâmico. A introdução dos
valores morais do cristianismo causa nas sociedades africanas um enorme
distanciamento entre diferentes povos, como afirma Boahen ao mencionar que “ao
condenar a poligamia, as crenças de seus ancestrais e de seus deuses, e o
curandeirismo, os missionários enfraqueceram as bases tradicionais das sociedades
africanas e das suas relações familiares.” (BOAHEN, 2010, pg. 57)

O surgimento de uma elite africana instruída principalmente por uma


educação francesa e/ou inglesa também é um ponto que merece ser destacado ao
falarmos das missões cristãs na África, visto que o modelo de educação europeu
trouxe aos africanos uma vasta gama de profissões a serem seguidas, tais como as
profissões de carpinteiro, professor, jornalista, e principalmente as profissões de
advogado e médico. Esse processo de formação de uma elite letrada é similar em
alguns pontos à formação da elite letrada brasileira, caso tenhamos em mente a
interpretação de José Murilo de Carvalho em sua obra “A Construção da Obra –
Teatro das Sombras”, onde esse afirma ser a educação superior um poderoso
elemento de unificação das elites (CARVALHO, 2008) proporcionando aqueles com
acesso à educação européia uma ascensão econômica, mantendo a concentração
de status social e talvez até uma influência política na mão de poucos.
Esse contato crescente com a cultura européia gerou uma forte polimerização
entre a cultura européia e a cultura africana que recém adotara os ideais do
cristianismo. Podemos considerar essa mistura entre as culturas como sendo o fator
crucial para o surgimento e desenvolvimento de movimentos como o etiopianismo e
o pan-africanismo, ambos os movimentos fundamentais no desenvolvimento de uma
consciência africana que “defendeu a personalidade e a independência africanas
nas instâncias da Igreja e do Estado, mas também devolveu o seu orgulho e a sua
confiança a raça negra.” (BOAHEN, 2010, pg. 68)
Tanto o etiopianismo como o pan-africanismo não se resumem somente à
“discursos políticos”, mas aplicam-se também nas produções intelectuais, espaço
usado pela elite letrada africana para denunciar ideais e práticas racistas,
fortalecendo as ideias de personalidade e independência africanas. Um dos nomes
mais importantes nesse movimento é o de James Africanus Horton, que ataca
diversas vezes em suas obras a ideia de uma inferioridade racial inerente aos
negros e que também coloca a África como sendo uma futura protagonista da
história moderna ao afirmar que, “os africanos não são incapazes de progredir; com
a assistência de homens bons e capazes, eles estão, ao contrário, destinados a
figurar nos tempos futuros e a ter um papel proeminente na história do mundo
civilizado.” (HORTON, 1969 apud BOAHEN, 2010, pg. 64)
O imperialismo europeu transforma drasticamente a sociedade africana, em
todas as características as quais ele pode exercer influência. No âmbito político,
graças a uma educação no modelo europeu, os africanos passam cada vez mais a
ver no modelo centralizador de poder um caminho para o progresso, e é nesse
momento em que a África conhece uma grande formação de diferentes Estados-
Nações que impõem sua língua e sua cultura aos reinos subjugados por eles.
(BOAHEN, 2010)
As campanhas humanitárias, abolicionistas e racistas que marcaram esta
época fizeram surgir, na África Ocidental, dois Estados inteiramente novos,
Serra Leoa e Libéria, criados respectivamente em 1787 e em 1820, ao
passo que Libreville foi fundada na África Equatorial. Ao final do século, os
dois primeiros Estados tinham, do mesmo modo, conseguido não só
absorver um certo número de reinos independentes situados no longínquo
interior, mas também haviam formado verdadeiras nações tendo cada uma
a sua língua e cultura própria, o inglês‑liberiano e o crioulo. (BOAHEN,
2010, pg. 69)

Observando essa breve passagem de um dos trabalhos de um africanista


ganês chamado Albert Adu Boahen, podemos ver mais claramente dois exemplos
de formação de Estados-Nações africanos, e como similarmente a casos europeus,
há uma certa imposição de valores em cima dos povos unificados, como é o caso do
idioma que se torna único para facilitar a ideia de unidade dentro dessas novas
sociedades, e também da cultura, caso considerarmos como sendo o elemento
religioso parte desse elemento cultural. Algo que merece destaque é a não utilização
de valores puramente africanos ou puramente europeus, ou seja, não se
caracterizavam como sendo uma única e homogênea cultura dominante exercendo
essa dominação sob outras culturas nesse processo de unificação. Citando
exemplos como Serra Leoa, os valores aplicados sob a sociedade eram uma fusão
entre diversos elementos culturais, tanto de elementos da própria África, como de
elementos trazidos a África pelo colonizador britânico ou mesmo de negros que em
algum momento de suas vidas estiveram em território europeu e/ou americano, e
trazem para o continente africano ideais que transformados e adaptados podem ser
aplicados junto à sociedade africana.
Essa fusão entre a cultura africana e européia também proporcionam um
movimento de modernização do continente africano, ou um “Renascimento da
África” como consideram alguns historiadores. Nesse momento são construídas
indústrias têxteis, fábricas de vidro, fábricas de papel, entre outras, muitas delas com
financiamento europeu, o que futuramente, segundo Boahen (2010) abre espaço
para um imperialismo justificado da Europa sob a África.
Como já foi mencionado, há um enorme número de indústrias sendo
instaladas no território africano no século XIX, e, embora não seja o único fator
responsável por essa mudança no sistema econômico africano, a abolição da
escravidão foi sem dúvida um fator crucial tal. Como explica Boahen, até o início do
século XIX a economia africana se dava no comércio de escravos entre reis
africanos e comerciantes americanos e europeus, mantendo a economia centrada
na mão de apenas alguns indivíduos da sociedade africana, porém, essa
perspectiva tende a mudar com o fim do tráfico negreiro, abrindo espaço para o
comércio de produtos agrícolas e como a já mencionada industrialização do
continente. O sistema econômico que outrora favorecia apenas alguns poucos
membros da sociedade africana encontra seu fim dando espaço para um outro
sistema o qual, dá a oportunidade de pequenos agricultores e comerciantes
ascenderem economicamente graças à exportação de produtos agrícolas no caso
dos agricultores e pelas relações comerciais estabelecidas entre africanos e
europeus no caso dos comerciantes. Essas relações também abrem espaço para o
desenvolvimento e criação de rotas comercias na África, as quais ajudam a
estabelecer uma unificação econômica na África, como afirma Boahen:
Além de permitirem a unificação comercial do continente, a multiplicação
dos contatos entre as regiões africanas e um crescimento considerável de
empresários, de intermediários e de comerciantes africanos, estas
infraestruturas tiveram como efeito a abertura progressiva do interior
africano as influencias e aos produtos manufaturados europeus
árabes/suaílis [...]. (BOAHEN, 2010, pg. 74)
Tendo essas características em mente, podemos perceber como o século XIX
é fundamental para a formação do continente africano como o conhecemos hoje,
seja pelas relações estabelecidas com o colonizador europeu, seja pelas relações
entre diferentes povos africanos entre si devido ao fim do tráfico negreiro e o
crescente aumento da população ocasionando uma enorme onda de migração
dentro do continente. As mudanças ocorridas nos planos econômico e político são
sem dúvida as mais impactantes do período aqui trabalhado, principalmente por
mudarem toda uma perspectiva do modo de vida africano e também por afetarem
todos os outros aspectos de uma sociedade, idioma, religião, educação, entre
outros.
Também é possível percebermos os africanos como sujeitos ativos da
história, quebrando a ideia européia de uma raça inferior, ou até mesmo bárbara,
uma vez que há um processo não de adoção de costumes estrangeiros, mas sim de
uma adaptação de tais costumes, onde os próprios africanos que entram em contato
direto com a cultura, principalmente européia, trazem novas ideias que, aliadas aos
valores tradicionais africanos, dão complexidade ao modo como a sociedade
africana é organizada nos âmbitos sócio-político, econômico e cultural.
Bibliografia

BOAHEN, Albert Adu. Tendências e processos novos na África do século XIX. In:
AJAYI, J. F. A. (Editor). História Geral da África. Vol. VI (África do século XIX à
década de 1880). Brasília; São Carlos: UNESCO/MEC/SECAD; UFSCar, 2010, p.
47-75.

CARVALHO, José Murilo de. Unificação da elite: uma ilha de letrados. In: A
Construção da Ordem: a elite política imperial. 5. Ed. Rio de Janeiro: Civilização,
2010.

Você também pode gostar