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Plano de Trabalho de Doutorado da Aluna Mila Correia Sampaio

Metodologia para determinação e correlação de velocidades críticas e de explosão


para peixes Neotropicais.

Plano de Pesquisa Resumido Apresentado ao Programa de Pós-graduação em


Engenharia Mecânica (UFMG), como requisito na seleção para o curso de Doutorado.

Candidato: Mila Correa Sampaio


Orientador: Prof. Carlos Barreira Martinez
Co-orientador: Edna Maria de Faria Viana
Linha de Pesquisa: Usinas Hidrelétricas e Sistemas Hidroenergéticos

Área de Concentração: Energia e sustentabilidade

1 – RESUMO

A proposta para este trabalho é desenvolver uma metodologia que permita que os
estudos sobre a capacidade natatória de peixes Neotropicais, desenvolvidos ao redor do
mundo, possam ser comparados entre si. Esses estudos são desenvolvidos a partir de
um procedimento que consiste em se fazer com que os peixes sejam submetidos a um
escoamento com velocidades crescentes com incrementos de velocidade e de tempo
pré-determinados. A literatura internacional mostra que se tem adotado um incremento
de 0,1 m/s para incrementos de velocidade. Entretanto os incrementos de tempo
podem variar entre 2 (dois) até 75 (setenta e cinco) minutos. Assim os resultados obtidos
são fortemente influenciados por esse incremento de tempo o que torna a interpretação
dos resultados obtidos difícil de ser comparada entre si. Pretende-se fazer um estudo
com individuos das Ordens Characiformes e Siluriformes que representam uma fatia
significativa dos individuos existentes nos rios Sul Americanos. A variação dos
incrementos de tempo pode permitir também a comparação dos resultados de testes
para determinação de velocidades críticas para baixos incrementos de tempo (menores
que 1 segundo) com as velocidades de explosão.

2 – OBJETIVOS

2.1 – Objetivo Geral


Propor uma metodologia de testes que permita comparar os resultados de testes de
velocidade crítica e de explosão de peixes de espécies representativas para o caso do
Brasil (das ordens Characiformes e Siluriformes), obtidos mediantes diversas
metodologias, de forma que os resultados existentes na literatura internacional possam
ser utilizados pelos diversos grupos de pesquisa ao redor do mundo.

2.2 – Objetivos Específicos


Os objetivos específicos serão alcançados por meio de testes de laboratório e de
comparação com dados de literatura nacional e internacional e focarão os seguintes
tópicos:
Para alcançar o objetivo geral a pesquisa conta com os seguintes objetivos específicos:
 Revisar procedimentos operacionais padrão (POP) para a captura, manutenção e
transporte de indivíduos de espécies das ordens Perciformes e Siluriformes (peixes)
em campo;
 Revisar procedimentos operacionais padrão (POP) para os ensaios de capacidade
natatória de peixes;
 Estudar a capacidade natatória de peixes de espécies representativas das ordens
Characiformes e Siluriformes para incrementos de tempos variando de 75 minutos
a 30 segundos de forma a se obter uma curva de variação de velocidade critica em
função do incremento de tempo.
 Fazer ensaios de velocidade de explosão para espécies representativas das ordens
Characiformes e Siluriformes.
 A partir dos dados obtidos nos itens anteriores fazer uma correlação entre os
resultados de velocidade critica para pequenos incrementos de tempo com a
velocidade de explosão dos peixes.
 Propor um conjunto de equações e ábacos que permitam fazer a correlação entre
os resultados de velocidade critica dos peixes para os vários incrementos de tempo
e a velocidade critica e de explosão para um tempo de ensaio adotado.

Os estudos serão realizados no Centro de Pesquisas Hidráulicas e de Recursos Hídricos


da UFMG (CPH) que já possui todos os aparatos de teste e infra-estrutura para o
desenvolvimento dessa tese.
É importante dizer que estão previstas, no mínimo, duas publicações em periódicos (Qualis CAPES) durante os trabalhos de tese.

3 – RELEVÂNCIA DA PESQUISA PROPOSTA

No Brasil existem milhares de usinas hidrelétricas (UHEs). Atualmente têm-se visto um


movimento indicando que existe uma urgente necessidade de grandes investimentos
para a expansão da capacidade instalada em hidrelétricas no Brasil. Sabe-se, entretanto
que o modelo de grandes barragens tem sido ao longo de décadas duramente criticado
por alguns setores da sociedade (WCD, 2000) e que os impactos ambientais são enormes
e irreversíveis (Freitas, 2009). Dessa forma, é necessário que se proceda a estudos
relativos aos impactos devido à implantação desse tipo de instalação. Considera-se, que
uma das principais causas da diminuição dos peixes em diversas partes do mundo se
deve a implantação de barragens nos rios (Bernacsek 1984, Pavlov 1989, Petts 1989,
Swales 1989, Welcomme 1989, Woynarovich 1991, Godinho 1993, Godinho & Godinho
1994, Swales 1994). Os peixes migradores conhecidos como de piracema, são um dos
mais afetados pelas barragens. A migração, na sua forma mais simples, é o
deslocamento do peixe da área de alimentação para a de desova e seu posterior retorno,
após a reprodução, para a área de alimentação. Para os peixes de piracema, o
barramento constitui-se num obstáculo que impede o seu livre deslocamento entre as
áreas de alimentação e de desova. Com o objetivo de se atenuar esse efeito negativo
têm-se implantado mecanismos de transposição de peixes (MTP´s) que permitam a
passagem dos peixes pelas barragens.
Para que o projeto dos MTPs seja eficiente é necessário saber a velocidade que os peixes
conseguem nadar de forma a se projetar os mecanismos com características
compatíveis com os organismos a serem transpostos. Mesmo com mecanismos de
transposição de peixes eficiente os peixes adentram nos sistemas de sucção das turbinas
hidrelétricas. Isso pode vir a causar eventos de mortandade desses indivíduos em
operações de manutenção das máquinas ou em operações de reversão do modo de
operação das máquinas de síncrono para geração (CEA, 2001 apud Junho, 2008).
Conhecer a capacidade de nado dos peixes é de vital importância para que o projeto e
operação de uma UHE seja o menos impactante possível. Esse conhecimento permite
que se adotem procedimentos operacionais e que se instalem mecanismos destinados
a proteger os peixes. Entretanto um questionamento que se observa ao se tratar de
testes de capacidade natatória, diz respeito ao incremento de tempo que deve ser
utilizado para os testes além da determinação da velocidade de explosão que muitas
vezes é utilizada em eventos de transposição de obstáculos constituídos por corredeiras
e quedas d’água. Brett propôs, em 1964, que os testes de capacidade natatória de peixes
fossem realizados utilizando-se um incremento de tempo de 10 minutos. Diversos
autores, entretanto propuseram e utilizaram tempos que variam de 2 a 75 minutos de
duração dos testes. Assim ao se somar o tempo gasto com os testes individuais, tem-se
um período muito longo. Se os ensaios forem expandidos para as demais (mais de 300)
espécies de interesse no Brasil, o resultado será um longo tempo de testes em
laboratório que deve ser superior a 30 anos.
Através do trabalho proposto, será possível determinar os limites possíveis de redução
dos incrementos de tempo nos ensaios. Também serão obtidas equações e ábacos que
permitam correlacionar os diversos resultados obtidos ao redor do mundo entre si.
Espera-se também obter uma metodologia que permita inferir a velocidade de explosão
a partir dos resultados obtidos com os testes de velocidade critica. Isso será muito útil
uma vez que os testes de velocidade de explosão são difíceis de serem conduzidos e
demandam um esforço cientifico muito elevado além de um aparato tecnológico
bastante sofisticado, tal como câmaras de alta velocidade e sistemas de impulso sonoro,
elétrico e luminoso.

Assim, essa pesquisa tem como mérito a possibilidade de gerar uma metodologia que
auxilie na execução dos ensaios para determinação da capacidade de nado de espécies
Neotropicais. Essa metodologia tem um cunho estratégico e apresenta características
inéditas, uma vez que esse tipo de correlação não foi abordado no mundo. Os trabalhos
a serem desenvolvidos poderão também ser utilizados para outras regiões do mundo,
com centenas de espécies de peixes já testados, tornando os resultados existentes
possíveis de serem cientificamente comparados. Isso permitirá um melhor
entendimento dos problemas relacionados com os impactos ambientais causados pelas
usinas hidrelétricas tornando os empreendimentos na área de energia sustentáveis do
ponto de vista econômico-energético e ambiental.
4 – METODOLOGIA

Para o desenvolvimento desta proposta de doutorado é necessário um levantamento


bibliográfico continuo de forma a acompanhar as recentes publicações na área.
O roteiro metodológico para este trabalho está descrito a seguir:

Etapa inicial .
 Levantamento bibliográfico complementar;
 Preparação dos aparatos experimentais existentes e re-calibração dos mesmos;
 Consolidação das informações existentes e tabulação do banco de dados obtido;
 Revisar procedimentos operacionais padrão (POP) para acptura, manutenção e
para ensaios de peixes;
 Seleção das espécies a serem contempladas nesse trabalho.

Etapa de desenvolvimento do trabalho


 Ensaios de velocidade critica e de explosão com as espécies contempladas nesse
trabalho;
 Tabulação dos resultados obtidos e geração de ábacos de capacidade natatória;
 Determinação de conjunto de equações de correção e correlação entre as
diversas metodologias de determinação de velocidade critica existentes;
 Correlação entre os ábacos de velocidade crítica, levantados nesse trabalho, e as
velocidades de explosão existentes e obtidas nesse trabalho.

Etapa de análise e de finalização do trabalho


 Avaliação das equações obtidas mediante um teste com espécies previamente
selecionadas para essa finalidade (espécies utilizadas para controle).
 Submissão de trabalhos em periódicos Nacionais e Internacionais;
 Confecção do corpo de tese.

5 – CRONOGRAMA APROXIMADO

O cronograma aproximado das diversas atividades a serem desenvolvidas ao longo do


curso de doutorado é apresentado adiante.

CRONOGRAMA APROXIMADO
ano X mês
ATIVIDADES 2013 2014 2015 2016
1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1
9 0 1 2 1 2 3 4 5 6 7 8 9 0 1 2 1 2 3 4 5 6 7 8 9 0 1 2 1 2 3 4 5 6 7 8 9 0 1 2

Créditos X X X X X X X X X X X X X X X X X

Etapa inicial X X X X X X X X X X X
Desenvolvime
nto do
trabalho X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X

Analise/finaliza
ção trabalho X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X

Publicação em
periódicos X X X X X X

Defesa de
tese X X X

6 – DISCIPLINAS A SEREM CURSADAS INICIALMENTE


 MECÂNICA DOS FLUIDOS (EMA - 805)
 MÉTODOS MATEMÁTICOS EM ENGENHARIA MECÂNICA (EMA - 859)
 TÉCNICAS DA PESQUISA EXPERIMENTAL (EMA - 863)
 TÓPICOS ESPECIAIS III– Usinas Hidrelétricas - (EMA - 867)
 TÓPICOS ESPECIAIS III – Seminários (EMA - 867)

7 – RECURSOS NECESSÁRIOS PARA O DESENVOLVIMENTO DOS TRABALHOS


A descrição sucinta dos recursos necessários para o desenvolvimento dos trabalhos é
apresentada na Tabela 1.

Tabela 1 - Recursos financeiros necessários para a execução dos trabalhos.


Item Unid. Total (R$)
Coleta de dados * vb 20.000,00
Material bibliográfico* vb 2.000,00
Outros materiais de consumo* vb 10.000,00
Bolsa de aluno dout. ** Vb (39) 70.200,00
Total 102.200,00
1. -
(*) Recurso oriundo de projetos já implementados dos orientadores.
(**) Bolsa a ser solicitada ao programa PPGMEC.

8 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BALANÇO ENERGÉTICO NACIONAL (BEN). Ministério de Minas e Energia., Empresa de


Pesquisa Energética, Esplanada dos Ministérios Bloco U - 70065-900 Brasília – DF,
2011.
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Dissertação de Mestrado em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos.
UFMG, 2007.
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