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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO

DEPARTAMENTO EDUCAÇÃO E SOCIEDADE (DES)


DISCIPLINA
POLÍTICA E ORGANIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO I / 2018.1
Professor Dr. Rodrigo Lamosa

Nome: CHRISTOPHER ALVES GUIMARÃES

AVALIAÇÃO – Unidade II

Na disciplina POE I, durante a Unidade II, lemos e debatemos algumas das mais relevantes
referências bibliográficas do campo educacional em relação à política e organização da
educação no Brasil na conjuntura entre a década da “Educação Para Todos”, a difusão de
movimentos empresariais e a mais recente onda conservadora. Leia as questões abaixo
com atenção e responda com a consulta dos textos da disciplina:
01) Qual a relação entre as mudanças recentes no sistema Capitalista e as alterações
verificadas no interior do Estado Brasileiro e, particularmente, na educação pública
do país. Responda considerando a leitura dos textos da Unidade II e os dois filmes
que assistimos (“Privatizações: a distopia do Capital” e “Quanto vale ou é por Kg”):
02) No decorrer da última década movimentos da classe dominante têm tentado definir
e redefinir os rumos da educação no Brasil. Estes movimentos, embora não tenham
aparentemente as mesmas diretrizes proclamam maior controle sobre o trabalho
escolar, sobre o trabalho docente, maior participação das empresas, etc. Identifique
dois destes movimentos, suas propostas e como eles pretendem alterar a realidade
educacional brasileira:
QUESTÃO 01
O neoliberalismo é um projeto de organização do modo de produção
capitalista que começa a ser implementado a partir da década de 70. Tendo o
Chile de Pinochet como laboratório para as experiências do hemisfério norte,
este projeto preconiza que o Estado é uma instituição falha e incapaz de dar
conta das complexidades do mercado, que é visto como um espaço impossível
de ser compreendido pela racionalidade, sendo assim, o mercado só pode ser
compreendido através do preço que é resultado das ações humanas de
intercâmbio.
Com a implementação deste projeto ao longo das décadas de 70 e 80 há
um esgotamento da sua retórica, o que leva a necessidade de se reelaborar o
discurso para novamente legitimar o processo de desconstrução do estado
fordista. O Neoliberalismo de Terceira Via é na verdade uma resposta ao
esgotamento do projeto neoliberal clássico, os grupos responsáveis pela
redefinição do projeto neoliberal – Banco Mundial e FMI – repensam suas
estratégias e discurso ao adotarem objetivos como “alívio a pobreza” e
“crescimento sustentável” que vão refletir-se nas orientações internacionais para
as políticas públicas de educação. A terceira via, segundo seus próprios termos,
não é uma social-democracia ou um neoliberalismo e sim um posicionamento de
centro radical ou nova esquerda que precisaria se redefinir frente ao colapso das
experiências soviéticas. Pode-se pensar o neoliberalismo de terceira via através
da formulação de Anthony Giddens de social-liberalismo: social porque existe
uma preocupação com a pobreza e a exclusão social e liberal porque não há
contestação à propriedade privada dos meios de produção, o que existe é uma
defesa do livre mercado como um instrumento de garantia de justiça social.
Logo, as transformações pela qual a educação básica mundial vai passar
estão diretamente relacionadas ao contexto mundial da década de 90. A nível de
discurso, é necessário criar uma argumentação que conformem o indivíduo
nessa nova realidade e não apenas isso, mas que essa realidade seja a única
possível, já que as experiências socialistas fracassaram. Dessa forma, a única
solução é através da inclusão via mercado. Inclusão essa que será feita através
da educação básica e também através de políticas de alívio à pobreza ou de
ações filantrópicas das Fasfil – Fundações Privadas e Associações sem Fins
Lucrativos, o Estado, em meio a isso, não é mais um protagonista ou interventor
direto nessas questões, mas um parceiro, que deve agir conjuntamente com
essas ONGS para atingir os objetivos propostos pelo Banco Mundial.
A conferência do Educação para todos propõe a mundialização da
educação básica, principalmente em países periféricos. No Brasil, essa
expansão quantitativa da educação básica começa em 1993. Em 1996, o
relatório Delors, na esteira da conferência de 1990, avança e diz que a educação
deve ser feita de modo a ensinar o aluno para “aprender a aprender”. Ou seja, a
profissionalização constante para garantir empregabilidade – é algo que será
feito ao longo da vida para que o indivíduo seja dinâmico tal qual as
transformações que a sociedade sofre, assim, ele estará sempre se adaptando
e garantindo seu sucesso (sobrevivência) no mundo.
Já no início do milênio, os objetivos do bloco dominante se voltaram para
a reorientação para a formação de professores, de forma que o processo
chamado por Santos de mercantilização intrínseca da educação comece a tomar
forma, mas este só se consolida na segunda conjuntura do neoliberalismo de
terceira via. Por mercantilização intrínseca da educação Santos afirma que há
uma internalização da lógica burguesa por resultados e produtividade dentro do
ambiente escolar, de forma que o sucesso ou fracasso da prática docente possa
ser medido através de indicadores e avaliações que tanto medem a
produtividade dos alunos, como também servem como mecanismo de estímulo
(ou coerção) aos professores.
Nesse novo sistema econômico mundial, não é necessário que todos os
países tenham indústrias, mas sim que eles foquem nas atividades que fazem
de melhor, no caso do Brasil, essa atividade era a agroexportação. Na medida
em que o modo de produção se desenvolve, surge a necessidade de mudanças
na maneira como o trabalhador é formado. A educação é, dentro de um sistema
capitalista, uma necessidade tanto para a manutenção (conformação) das
relações de produção hegemônicas, como também um instrumento de
reprodução do modo de produção. A escola tem, nesse modo de produção, uma
função de formadora técnica – para o trabalho – como ética – para a
conformação.
Nesses termos, a educação básica na conjuntura neoliberal de terceira
via é uma tragédia anunciada pois por mais que ela almeje ser mundial e
acessível aos pobres e excluídos, ela os conforma dentro de uma ordem que os
diz que eles devem estar numa busca constante por cursos e diplomas de
profissionalização para garantir sua empregabilidade e que a única forma que
esses indivíduos têm de superar sua condição é através do mercado, que se
torna cada vez mais incerto e flutuante.
QUESTÃO 02
O golpe parlamentar de 2016 deu força e coesão a um bloco reacionário
que tem como objetivo a implementação de um projeto de neoliberalismo no
Brasil caracterizado pelo aprofundamento das tendências entreguistas –
privatizações de setores chaves da economia nacional – e moralistas da
sociedade. Argumenta-se que o país perdeu o rumo e que reformas e remédios
amargos serão necessários. Embora não seja um bloco homogêneo tanto em
discursos como em objetivos, o projeto de sociedade que as partes almejam é o
mesmo.
No campo da educação a principal bandeira é aquela que se diz contra a
doutrinação política e moral na escola. De certa forma, esta bandeira
educacional defendida pelo bloco reacionário pode ser pensada como um
aprofundamento do processo de mercantilização intrínseca chamado por Santos
de pedagogia do mercado. A escola da pedagogia do mercado desqualifica à
docência ao despolitizá-la e a reduz a um trabalho técnico que está
constantemente sob a vigilância de mecanismos de avaliação, mensuração e
indicadores do sucesso ou fracasso do professor dentro de sala de aula. Irei
tratar de dois movimentos conservadores que compõem esse bloco, são estes o
Movimento Brasil Livre e o Escola Sem Partido.
O Movimento Brasil Livre (MBL) é produto das jornadas de junho de 2013.
Fundado em 2014 o movimento se declara liberal republicano e hoje possui um
tímido quadro de parlamentares que fazem parte do movimento, dentre eles o
mais conhecido é Fernando Holiday. O movimento alinha-se com as bancadas
conservadores e apoiou o golpe parlamentar de 2016 e as reformas realizadas
por Temer.
No ano de 2015, seus militantes realizaram um congresso, no qual
definiram suas propostas para o país. O documento de sete páginas pode ser
encontrado no seu site oficial. No campo da educação, o movimento apoia o
aprofundamento da tendência privatista (Cunha). Por privatismo, entende-se que
é a prática de colocar a administração pública a serviço de grupos particulares,
sejam econômicos, religiosos ou político-partidários. Essa prática começa na
ditadura, através do financiamento da educação privada pelo estado através de
programas como bolsas de estudo e da atuação do FNDE.
Com quais propostas o MBL planeja aprofundar essas prática? Em
relação ao privatismo através da defesa da redução de impostos para escola
privada, da gestão privada de escolas públicas, pela implementação de vouchers
para o ensino básico, fundamental, médio e superior, extensão do Prouni para o
ensino básico, médio e infantil e da desburocratização do processo de abertura
de escolas, cursos e vagas para instituições de ensino privadas, benefícios
fiscais para pessoas físicas e jurídicas que custeiem a educação daqueles que
não podem pagar por escolas particulares – note o caráter social-liberal dessa
proposta.1
Enquanto o MBL busca aprofundar as práticas privatistas na educação, o
movimento Escola Sem Partido foca naquilo que Santos chama de pedagogia
do mercado. A escola, nessa pedagogia, é apolítica e seu ensino é voltado para
a formação técnica – para o trabalho simples – e ética – para a conformação ao
trabalho incerto e precarizado.
Fundado em 2004, este movimento só veio ganhar força a partir da
década de 2010. Sua principal bandeira é aquela contra a doutrinação política
nas escolas. Segundo o movimento, o professor é a parte mais forte entre a
relação discente/ docente, sendo assim, ele possui prerrogativas que podem ser
usadas em malefício dos alunos, que são a parte mais fraca, dentre essas
prerrogativas está a do professor promover seus próprios interesses políticos e
preferências ideológicas. Assim, o movimento argumenta proteger as convicções
da família do aluno. Vale lembrar que a LDB de 61 diz que é dever da família, o
de se encarregar pela educação dos filhos, em segundo lugar vem o Estado,
logo, podemos também pensar o ESP como um aprofundamento da tendência
liberal na educação brasileira.
A atuação do ESP se faz em dois âmbitos: na sociedade política e civil.
Parlamentares da bancada evangélica defendem projetos de leis inspirados pelo
movimento, inclusive, existem projetos de lei em votação nas esferas estaduais
e municipais em estados do Sudeste, Sul e alguns do Nordeste. Na sociedade

1
Todas essas propostas encontram-se no documento que consta no site oficial do MBL.
civil, o ESP encoraja pais e alunos a denunciarem o assim chamado assédio
ideológico, seja pela formação de comissões ou pela busca de deputados e
vereadores em seu estado que estejam comprometidos com a “liberdade,
educação e família”2
Podemos concluir que o bloco reacionário brasileiro não traz nada de novo
para a educação, em verdade, busca aprofundar tendências que vem se
manifestando nos últimos setenta anos na educação brasileira. O que difere, são
os argumentos usados e os atores envolvidos. Enquanto que o MBL preconiza
um aprofundamento das práticas privatistas na educação – através do
financiamento da educação privada pelo estado e pela desregulação da
expansão quantitativa das instituições privadas – o ESP busca aprofundar as
tendências da pedagogia do mercado, ao despolitizar o espaço da escola e criar
mecanismo de coerção e vigilância do trabalho docente não mais apenas
pautados na eficácia e produtividade do docente, mas na sua prática cotidiana.

2
Disponível em: https://www.programaescolasempartido.org/faca-sua-parte. Acesso Junho de
2018.

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