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Análise multitemporal do desenvolvimento urbano do Distrito

Federal∗

Frederico dos Santos Soares♣


Fabrício Alves♦

Palavras-chave: multitemporal, adensamento urbano e uso do solo.

Resumo
Com apenas 45 anos Brasília já possui os mesmos problemas das grandes metrópoles
brasileiras. Com uma forma muito diferente daquela planejada por Lucio Costa, o Plano-Piloto é
hoje um dos metros quadrados mais caro do país, o alto valor de seus imóveis gera um sistema
que afasta cada vez mais a população de baixa renda para lugares mais afastados da cidade. Este
sistema alimenta-se a partir da especulação imobiliária que é um dos fatores responsáveis pela
gritante segregação sócio-espacial vivida no DF.
O Distrito Federal localiza-se numa área ambientalmente muito frágil, aqui estão
nascentes muito importantes para as principais bacias hidrográficas brasileiras; como a bacia do
São Francisco, a do Tocantins e a bacia do Paraná. Diante de um cenário tão conturbado o
presente trabalho tem como objetivo entender e demonstrar, como e onde a população do DF se
fixou no território ao longo do tempo. Para tanto a metodologia adotada parte da utilização de
imagens de satélites que datam desde 1973 até 2001 que servem de apoio e comparação com os
dados do anuário estatístico do DF.
A comparação dos dados estatísticos com os dados espaciais, em diferentes datas, aliada a
uma breve pesquisa sobre o histórico do crescimento da cidade possibilitou não apenas uma
caracterização quanto a morfologia urbana atual, mas também quanto a forma e ao padrão de
crescimento da cidade ao longo do tempo. Outro ponto importante é a possibilidade de se
explorar uma ferramenta, como o sensoriamento remoto, na espacialização e constatação de
dados estatísticos, bem como sugerir a melhoria na aquisição destes dados e a sugestão de novas
pesquisas.


Trabalho apresentado no XIV Encontro Nacional de Estudos Populacionais, ABEP, realizado em Caxambú- MG –
Brasil, de 20- 24 de Setembro de 2004.

Estudante de graduação do curso de Geografia da Universidade de Brasília (UnB)

Estudante de graduação do curso de Geografia da Universidade de Brasília (UnB)

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Análise multitemporal do desenvolvimento urbano do Distrito
Federal∗

Frederico dos Santos Soares♣


Fabrício Alves♦

Introdução
Em linhas gerais, a demografia estuda a variação do tamanho de dado agrupamento
humano localizado em uma determinada porção do espaço ou território, os dados oferecidos por
este estudo são cruciais para o conhecimento deste agrupamento, seja de um município, estado ou
país. Alem de ser uma ferramenta crucial para o planejamento, do futuro da população, bem
como a sua forma de ocupação do espaço.
Infelizmente nem sempre é possível planejar a ocupação do espaço assim como nem
sempre é possível manter determinados planos previamente estipulados. Brasília é um ótimo
exemplo de um espaço planejado, mas devido a uma série de fatores (como seu alto crescimento
demográfico) vê seu plano urbanístico alterado.
Em 1960, Brasília foi inaugurada a partir de uma decisão governamental, apoiando-se em
planos elaborados para uma cidade que possuiria um crescimento populacional “controlado”.
Entretanto, devido ao porte da obra, sua implantação gerou um cenário que acabou jogando por
terra esse “controle”. A crescente demanda por serviços acaba por abrir o mercado de trabalho,
atraindo mão de obra vinda de todo o país.
As levas de migrantes que se deslocaram para a nova capital, ocupavam habitações
“provisórias” (acampamentos, assentamentos e favelas). Em contraposição ao caráter
“provisório” dessas habitações, a cidade era construída a partir de um plano arquitetônico pré-
determinado com a função de abrigar a Capital da República e a população que trabalharia na
maquina pública. Medidas que visavam a preservação do plano levaram a transferência de parte
dessa população para fora de seus limites (Paviani 1974). Essa transferência (inúmeras vezes
conflituosa) foi responsável pela atual configuração urbana de Brasília.
A escolha de um modelo urbano “fechado” e de núcleos múltiplos, como base para
edificação da cidade faz de Brasília um espaço com características muito singulares e é a partir
desse contexto que o presente trabalho tem por objetivo fazer um histórico do adensamento
urbano e populacional do DF. Infelizmente alguns pontos não serão aprofundados, como o
nascimento e o desenvolvimento de cada região administrativa de Brasília, no entanto o objeto de
estudo parte da análise multitemporal da formação dos aglomerados urbanos dentro do DF a


Trabalho apresentado no XIV Encontro Nacional de Estudos Populacionais, ABEP, realizado em Caxambú- MG –
Brasil, de 20- 24 de Setembro de 2004.

Estudante de graduação do curso de Geografia da Universidade de Brasília (UnB)

Estudante de graduação do curso de Geografia da Universidade de Brasília (UnB)

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partir da década de 70 relacionando as características, sócio-ambientais desse adensamento
urbano-populacional.
A análise multitemporal foi feita a partir dos dados demográficos publicados nos anuários
estatísticos do DF dos anos 1980, 1992 e 2001. Foram utilizadas também, imagens dos satélites
Landsat dos anos 1973, 1989 e 2001. O critério de escolha das datas a serem pesquisadas foi
assim estipulado pela dificuldade de aquisição das imagens, optou-se por fazer um recorte
histórico em três diferentes décadas visando melhor demonstrar a expansão urbana.
O trabalho se divide em duas partes principais. A primeira parte constrói um histórico das
causas e conseqüências do adensamento demográfico e urbano no DF A segunda parte mostra
através dos dados demográficos e espaciais como aconteceu a ocupação de Brasília e onde estão
posicionados os vetores de crescimento da capital.
Para fins conceituais definimos aqui que a área referente a Brasília abrange todo o
território da unidade federativa do Distrito Federal, e Plano-Piloto compreende a área concebida
por Lucio Costa referente as asas sul e norte e também os lagos sul e norte. Esta conceituação se
faz necessária, pois as pesquisas utilizadas até 1988 estão assim divididas. A partir de 1988
Brasília passa a compreender apenas o que antes era definido como Plano-Piloto, sendo este
último não sendo mais utilizado para definir a Região Administrativa I.

Caracterização Geográfica do Distrito Federal


O Distrito Federal, cravado na região Centro Oeste brasileira, dentro do estado de Goiás é
a unidade administrativa onde se localiza a capital do Brasil, Brasília foi fundada em 21 de abril
de 1960 e foi construída por meio de um projeto de mudança da capital nacional liderado pelo
então presidente Juscelino Kubtscheck do município do rio para o interir do país.
O Distrito federal, apesar de ser a menor unidade administrativa do país (cerca de 26% da
área de Sergipe, menor estado brasileiro) com área de 5.789,16 km² apresenta uma certa pujança
econômica, graças, sobretudo, ao setor terciário e a forte influência do funcionalismo, o DF
possui o 9º maior PIB entre as unidades administrativas do Brasil.

O Distrito Federal é constituído pela cidade de Brasília ou Plano Piloto por ser o projeto
original da cidade elaborado por Lúcio Costa e pelas demais Regiões Administrativas (RAs), tais
como, Sobradinho, Taguatinga, Cruzeiro dentre outras.

Todavia, o Distrito federal, por limitação constitucional, não pode ser dividida em
municípios, portanto as RAs não possuem prefeitos eleitos e sim os denominados
administradores, indicados pelo governador.

O DF rege-se por lei Orgânica, peculiar aos municípios e não por uma constituição
estadual. O poder legislativo local é exercido pela Câmara legislativa, com 24 deputados distritais
eleitos.

A vegetação característica da região do DF é o cerrado, intercalando-se com campos


(limpos e sujos), cerradões e por frondosas matas de galeria. Na região do DF encontra-se
nascentes de tributários de alguns dos principais rios brasileiros como o rio Maranhão (bacia
hidrográfica do Tocantins) e o rio São Bartolomeu (bacia hidrográfica do Paraná).

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Regiões Administrativas do Distrito Federal

RA VI - PLANALTINA
RA V - SOBRADINHO
RA IV - BRAZLANDIA
RA I - BRASILIA
RA XVIII - LAGO NORTE
RA VII - PARANOA
RA III - TAGUATINGA
RA IX - CEILANDIA
RA X - GUARA
RA XI - CRUZEIRO
RA XVI - LAGO SUL
RA VIII - N. BANDEIRANTE
RA XIX - CANDANGOLANDIA
RA XIV - SAO SEBASTIAO
RA XII - SAMAMBAIA
RA XVII - RIACHO FUNDO
RA XV - RECANTO DAS EMAS
RA XIII - SANTA MARIA
RA II - GAMA

Figura1: Mapa das RAs do DF, produzido pelo Laboratório de Sistemas de Informações
Espaciais (LSIE) da UnB

Processos determinantes na expansão urbana do Distrito Federal

Brasília, apesar de seus poucos quarenta e seis anos de fundação, já apresenta, assim
como as centenárias metrópoles brasileiras, um processo de saturação urbano-populacional que
dissociado de políticas públicas intervencionistas é causador de uma série de problemas tais
como: grilagem de terras, impermeabilização do solo, sobrecarga dos sistemas públicos básicos
(transporte, educação, saúde) e os conseqüentes impactos ambientais correlacionados. O
crescimento contínuo de sua população urbana coloca de maneira aguda, o problema de espaço
para habitação e de sua planificação.
Existem autores que não reconhecem Brasília como uma cidade planejada, pelo fato de
não ter sido feito um planejamento que regulasse o seu processo de crescimento “Brasília é tida
como planejada isto porque para muitos urbanistas, esse é um espaço, urbano projetado que tem
como premissa um desenho rígido e que não teve a capacidade de antever os problemas que
fatalmente afligiriam a cidade em seu processo de crescimento, justamente por isso, não pode ser
considerada como planejada”.(Anjos, 1991, pág.01).
Os idealizadores da nova capital, ingenuamente, esperavam que ao menos, grande parte
dos trabalhadores emigrados (vindos, sobretudo, da região nordeste) iria retornar às suas regiões
de origem logo depois de inaugurada a obra, como confirma o depoimento do responsável pelo
projeto urbanístico de Brasília, o urbanista Lúcio Costa em um debate no congresso nacional “a
população não quis voltar, apesar de todas as previsões da época estabelecidas e planejadas para
que pelo menos um terço da população regressa-se” (costa, 1976, pág. 21,).

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Porém, as previsões foram lentamente sendo refutadas pelo desenrolar histórico, os
candangos vieram pra Brasília na esperança de vida nova, com a clara intenção de constituir um
novo futuro em suas vidas, em um lugar onde haveria emprego e oportunidades para todos,
diferentemente das precárias situações que encontravam em suas regiões de origem. Portanto,
seria pouco provável que findada a obra eles voltassem para a miséria em que viviam.
Os depoimentos transcritos abaixo, retirados do roteiro do documentário Conterrâneos
velhos de guerra retratam as aspirações vividas pelos operários que vieram construir a nova
capital:
“Quando eu ouvi falar em Brasília a primeira vez, todo mundo chegava lá dizia:
Brasília é um céus abertos. Quem quiser ir, quem tiver passando dificuldade...O
governo lá é muito humano, ajuda a pobreza lá. Ta precisando de gente pra
construir Brasília” (Depoimento de um candango in Carvalho,1997, pág. 177).

“Por que o pessoal comentava que aqui agente tinha como ganhar dinheiro mais
fácil e lá onde eu morava era muito difícil. Não ganhava dinheiro. E eu sempre
tive vontade de ter alguma coisa melhor pra não a ida que passei lá quando era
criança” (Depoimento de um candango in Carvalho, 1997, pág. 178).

“Eu venho das asperezas


da Capital do Sinistro.
Sou aquele nordestino
Chegando um dia ao cerrado
Rumo a terra prometida”
(Versos de repentista candango in Carvalho, 1997, pág. 181).
O Plano Piloto, porém, não reservava lugar aos “candangos”, pois a população existente
seria basicamente composta por um corpo tecno-burocrático e as diferenças sociais apresentadas
pela cidade ficariam dentro de um mercado bastante restrito. A única exceção seria os muitos
ricos que habitariam mansões individuais localizadas às margens do Lago Paraná.

A criação de Brasília, partindo da decisão governamental, apoiou-se em planos elaborados


para uma população pré-definida, entretanto, devido ao porte da obra, a implantação gerou
necessidades e conseqüências: de um lado, a considerável demanda de operariado, de outro, o
mercado de trabalho então aberto atraindo mão de obra livre de todo o país. Era impraticável o
não concebimento de novos núcleos urbanos voltados, sobretudo, ao operariado, caso contrário,
as favelas e invasões continuariam a se alastrar por toda a capital.

Brasília, estimada para ter uma população máxima na faixa de 500.000 a 600.000
habitantes, previa a construção de cidades satélites, mas só depois que atingisse sua quantidade
máxima populacional, porém, as satélites passaram a abrigar os excedentes do Plano Piloto antes
mesmo que ele fosse inaugurado.

O primeiro núcleo urbano, periférico ao Plano Piloto foi a cidade Livre, atual Núcleo
Bandeirante, que foi criado para abrigar os candangos, mas que seria demolida, logo após o
término das obras, fato que não foi consumado devido à forte pressão popular exercida pelo
trabalhadores que ali residiam.

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As primeiras cidades-satélites instaladas foram a de Taguatinga, Sobradinho, Gama, além
de Planaltina e Brazlândia que já existiam como localidades goianas e foram anexados ao
território do DF.

Em meados da década de 70 é consolidada como cidade a Ceilândia, que era até então o
chamado Núcleo de Erradicação de Invasões (CEI), e abrigava as pessoas retiradas das favelas e
invasões do Plano Piloto, posteriormente, veio o estabelecimento de outras cidades como
Cruzeiro, Guará, Candangolândia e Paranoá. Essas primeiras cidades podem ser percebidas na
imagem de satélite de 1973 apresentada anteriormente.
Porém, o verdadeiro “boom” urbano-populacional no DF, deu-se a partir do início da
década de 90, por meio de iniciativas do governo local e de agentes imobiliários (legais e ilegais)
que especulavam sobre a terra pública.
A contribuição do governo se deu por meio da proliferação de assentamentos humanos
organizados, na versão oficial, com intuito de erradicar as favelas e invasões dentro e nas
adjacências do Plano Piloto, e na versão extra-oficial, com a intenção de formar um imenso
“curral eleitoral” dentro de bolsões de pobreza que foram estabelecidos o mais longe possível da
cidade planejada.

Essa oferta de lotes se deu de maneira desregrada, gerando um fluxo migratório que não
era visto desde a inauguração da capital, e era composto de pessoas carentes, com baixos níveis
educacionais e que viam a possibilidade de realizar o sonho da casa própria dentro dos limites do
Distrito Federal.

Dentre esses assentamentos podemos destacar, Sobradinho II, Santa Maria e o maior
deles, Samambaia, que com seu crescimento ao longo da última década, conurba-se com
Ceilândia e Taguatinga tornando praticamente um só núcleo urbano.

Graças ao tombamento do Plano Piloto como patrimônio da humanidade, houve um


engessamento de seu crescimento, tornando carente de opções de moradia a classe média
brasiliense que se apropriou de terras, sobretudo públicas, na forma de condomínios horizontais
fronteiriços ao Plano Piloto, como uma forma de manter-se próximo ao “core” urbano, esses
condomínios localizam-se, sobretudo, à margem oeste do Lago Paranoá, indo longitudinalmente
da região do jardim Botânico de Brasília até o relevo escarpado e impróprio á urbanização da
chapada da Contagem, que se localiza na RA. de Sobradinho (imagem 3). Esse tipo de ocupação
foi a mais agressiva do ponto de vista ambiental, em virtude da velocidade em que se processou,
do porte das estruturas urbanas e da sua ilegalidade.

A ocupação desordenada e ilegal eclodiu nos anos 70 e 80, em um período em que a


TERRACAP – Companhia Imobiliária de Brasília – deixou de ofertar lotes para a classe média.
Os últimos lotes foram vendidos em 1985 no Lago Sul, no final do governo do presidente João
Figueiredo. Em 1985 existiam aproximadamente 150 parcelamentos irregulares de solo no DF. A
oferta de lotes continuou suspensa no governo do José Aparecido, nomeado pelo então presidente
José Sarney. Os loteadores alegando que o governo local não indenizara os proprietários das
terras desapropriadas, insistindo em criar condomínios.

Os condomínios se multiplicaram, em 1995 contabilizaram-se 529 parcelamentos


irregulares. Em aproximadamente 10 anos foram formados quase 400 condomínios irregulares,

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totalizando mais de 200.000 lotes. Os compradores transformaram terras nuas em áreas
habitáveis e com recursos próprios, abriam ruas, implantavam redes de energia, água, esgoto tudo
isso á revelia do estado. Tais condomínios irregulares constituíram-se em um mercado ilegal,
explorado pela esperteza de uns, mas acessível a grande parcela das pessoas cuja necessidade
atendiam.Os loteamentos cresceram às margens das principais vias e dos principais pólos de
desenvolvimento do DF, no fenômeno, se identificam duas particularidades do Distrito Federal: a
rapidez com que se proliferaram e a adesão da classe média.

Além de todas as implicações de ordem legal, a ocupação desordenada do solo promovida


pelos parcelamentos ilegais tem colocado o DF sobre sérios riscos de danos ambientais, mais da
metade dos loteamentos irregulares da capital está situada em áreas de proteção ambiental que
são áreas instituídas por decreto com a finalidade de proteger a diversidade biológica, disciplinar
a ocupação local, e preservar os recursos naturais, para tanto nessas áreas deve haver baixa
densidade populacional.

A ausência de planejamento para a instalação dos condomínios, aliado a falta de cuidados


ambientais e a conivência do governo local, tem colocado em risco as questões ambientais no
Distrito Federal e em alguns casos os dados já são concretos.

A contaminação da água é um deles. As fossas sépticas construídas pelos condomínios


que se encontram dentro da APA da Cafuringa na RA. de sobradinho, contaminaram o lençol
freático de onde os moradores retiram a água que consomem.

Os postos artesianos construídos pelas comunidades, muitas vezes sem a autorização dos
órgãos ambientais, estão reduzindo substancialmente os níveis do lençol freático em vários
pontos do DF. Na região de São Sebastião, onde há dezenas de condomínios, em cinco anos o
lençol freático baixou quase quatro metros.

O Governo local a fim de agradar a classe média e os agentes imobiliários que detém
grande influência na cidade resolveu criar novas opções à classe média, tentando afastá-la da
irregularidade fundiária, para isso, vários projetos de novos núcleos urbanos estão sendo
implementados e outros ainda estão à espera de regularização ambiental expedida pelo Ibama.
Como exemplo de núcleos já efetivados, temos Águas Claras, Setor Sudoeste, Octogonal, e
dentre os que ainda estão à espera de regularização destaca-se o Setor Noroeste e o Catetinho.

Vale destacar também uma outra forma de ocupação da terra pública, só que esta não se
configura com mansões e guaritas, mas com terra batida e barracos, são as invasões de baixa
renda, que muitas vezes, são incentivadas por políticos inescrupulosos que vendem a esperança
da regularização em troca de votos. Como exemplo desse tipo de invasão de áreas públicas, pode-
se destacar a vila estrutural às margens do parque nacional de Brasília que nasceu e se se
desenvolve em volta do lixão de mesmo nome e localiza-se acima de um oleoduto da Petrobrás,
gerando riscos a esta comunidade.Um outro exemplo de invasão de baixa renda no DF é a
invasão de Itapoá ao lado do Paranoá.

O processo de adensamento urbano do DF tem também como característica, a mudança


nos padrões do uso da terra, de agrícola/agrário para urbano, Como exemplo de áreas que tiveram
mudanças em seus padrões de ocupação do solo, pode-se destacar a agrovila São Sebastião que se
localiza na bacia hidrográfica do rio São Bartolomeu e em área imprópria à ocupação urbana por

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se tratar de um vale que apresenta uma grande convergência drenal, a prova disso, são as
constantes ocorrências de dengue em virtude das enchentes comuns à região.

Outros exemplos de áreas agrícolas que se transformaram em urbanas, são o núcleo rural
Vicente Pires que faz parte da área conurbada de Taguatinga e a região do Lago oeste, uma
região ambiental muito sensível por se encontrar às margens do Parque nacional e por estar
localizado em uma área de relevo bastante movimentado, que apresenta várias nascentes que vão
abastecer o lago de Santa Maria dentro do parque nacional e também o lago Paranoá.

Essas transformações da paisagem, marcadas pelo intenso processo de urbanização,


ocorrem em velocidade inversamente proporcional à capacidade natural de renovação dos
ecossistemas.

È indispensável, porém, que seja mencionado neste estudo, as estruturas geográficas que
inibem e estabilizam esse crescimento e adensamento urbano-populacional:
1 - Bacia do rio Preto, na porção leste do DF, área eminentemente agrícola ocupada, sobretudo
por hortifrutigranjeiros e por grandes culturas principalmente a soja.
2- Estrutura espacial composta pelo acidentado relevo da porção noroeste do DF, que devido as
suas condições fisiográficas (relevo escarpado e grande densidade de nascentes) constitui-se
também em um inibidor natural à expansão urbana.

3- As unidades de preservação permanentes constituídas por Águas Emendadas, Parque nacional


de Brasília, estação ecológica do IBGE e pela fazenda Água limpa da Universidade de Brasília
que exercem a função de evitar que se feche um anel urbano sobre o plano piloto de Brasília.

Distribuição demográfica

Brasília possui um padrão polinucleado de ocupação urbana, ou seja, seus centros urbanos
estão espalhados de forma não contígua pelo território. Com uma população de aproximadamente
2.051.146 e um território de 5.789,16 km² (anuário estatístico – 2001), o DF tem
aproximadamente 40% de toda sua população residente na zona de conurbação de Taguatinga,
Ceilândia e Samambaia.

Durante o final dos anos 80 e inicio da década de 90, o Distrito Federal viu sua população
crescer vertiginosamente, em 1989 Paranoá e Samambaia passaram a ser regiões administrativas;
em 1993 foram criadas as regiões administrativas de São Sebastião, Santa Maria, Riacho Fundo e
Recanto das Emas, aumentando para 17 o número de regiões administrativas. Em 1994 atendendo
a pressões fundiárias e devido ao alto crescimento da região, foram criadas as regiões
administrativas do Lago Sul e Lago Norte. Anterior a 1989, as Regiões Administrativas eram:
Planaltina, Brazlândia, Ceilândia, Plano Piloto (posteriormente intitulada por Brasília, RA I),
Guará, Cruzeiro, Sobradinho, Candangolândia, Núcleo Bandeirante e Gama. Não foi encontrado
o motivo pelo qual levou e a RA I a mudar de nome, no entanto, esta mudança foi registrada nos
dados estatísticos a partir de 1988.

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A seguir são apresentados os dados demográficos retirados do Anuário Estatístico do
Distrito Federal dos anos de 1980, 1992 e 2001; e as cartas imagens dos anos de 1973, 1989 e
2001.

População do DF por Regiões Adm inistrativas - 1979

Br azlândia 1.81%

Planlt ina 3.93%

Sobr adinho 5.58%

Gama 12.55%

Ceilândia 19.06%

Taguat inga 18.16%

N. Bandeir ant e 2.04%

Guar á 8.39%

Cr uzeir o 3.82%

Plano Pilot o 21.16%

Fonte: Anuário Estatístico do Distrito Federal - 1980

População do DF por Regiões Adm inistrativas - 1989

Samambaia 0.36%

Cr uzeir o 3.60%

Guar a 6.46%

Ceilândia 24.87%

N. Bandeir ant e 6.62%

Par anoá 1.84%

Planalt ina 4.12%

Sobr adinho 4.46%

Br azlândia 1.98%

Taguat inga 1.66%

Gama 9.46%

Brasí lia 17.86%

0.00% 5.00% 10.00% 15.00% 20.00% 25.00% 30.00%

Fonte: Anuário Estatístico do Distrito Federal - 1992

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População do DF por Regiões Adm inistrativas (RA) - 2000

Candangolândia 0.76%
Lago Norte 1.43%

Riacho Fundo 2.01%


Lago Sul 1.37%

Rec. Das Emas 4.54%


S. Sebastião 3.13%

S. M aria 4.81%
Samambaia 8.01%

Cruzeiro 3.11%
Guará 5.47%
Ceilândia 16.77%
N. Bandeirante 1.77%

Paranoá 2.67%
Planaltina 7%

Sobradinho 6.27%
Brazlândia 3%

Taguatinga 12%
Gama 6%

Brasí lia 10%

Fonte: Anuário Estatístico do Distrito Federal – 2001

É interessante constatarmos o aumento das cidades satélites, em 30 anos o numero de


Satélites passou de 10 para 19 enquanto a população, neste intervalo de tempo, passou de
1.510.222 para 2.051.146 (fonte Anuário Estatístico do DF – 2001).

A análise multitemporal permite a observação de uma área em diferentes períodos que


aliada a ferramenta do sensoriamento remoto (técnica de observação do espaço sem a presença
direta do homem) é imprescindível para o entendimento da forma e da intensidade da expansão
urbana.
As seguintes imagens passaram por um processamento digital no software ENVI 4.0, e
obedecem a um padrão de cores diferenciado entre si, visando um melhor entendimento por parte
do leitor. Na imagem 1, os centros urbanos são identificados pela cor branca e a vegetação nativa
em tons de verde e vermelho. Na imagem 2 os centros urbanos estão representados pelos tons de
azul claro e escuro, a vegetação nativa encontra-se em tons de verde e vermelho. Em tons de
laranja estão as lavouras e ares de reflorestamento. Na imagem 3 a vegetação se encontra em tons
de verde escuro e vermelho. Em tons de verde claro encontram-se as lavouras e áreas de solo
exposto, em tons de roxo são definidos os centros urbanos (quanto mais claros mais densos
quanto mais escuros menos densos).
A imagem 3 possui uma peculiaridade muito interessante. Esta é a imagem com o padrão
de cores de tons mais claros, isso acontece devido a forma que o alvo (no caso o território do DF)
responde, refletindo muito a insolação solar. Isso acontece por vários motivos dentre eles a época
do ano em que a imagem foi coletada (período de seca) e a grande quantidade de áreas com o

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solo exposto. Esse padrão de reflexão é o que dificulta a visualização e identificação de certas
feições. Outra curiosidade a respeito dessa imagem é a presença de algumas “manchas” escuras
na porção norte do DF, estas são áreas onde estão ocorrendo queimadas.

Imagem 1: Imagem coletada pelo sensor MSS no dia 01 de agosto de 1973.

Fica claro nesta imagem o padrão polinucleado de ocupação urbana, visando a


preservação do Plano Piloto. Podemos visualizar as primeiras cidades satélites: Gama,
Taguatinga, Ceilândia, Núcleo Bandeirante, Planaltina, Sobradinho, Brazlândia, Cruzeiro e
Guará. Neste período, ainda podemos perceber uma relativa distância entre os núcleos urbanos e
bons níveis de preservação da vegetação nativa.

Observa-se (na imagem 2) um processo de rápido adensamento das cidades satélites, a


distância entre elas começa a diminuir. Verifica-se também o começo de novos núcleos urbanos
como o Park Way e o processo de urbanização da então colônia agrícola Vicente Pires. Destaque
para o grande crescimento populacional da porção oeste sul (criação de Samambaia e formação
do eixo Plano Piloto, Taguatinga, Gama previsto no Plano Estrutural de Organização Territorial –
1978). Crescimento também na porção norte leste do território (Sobradinho e Planaltina).

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Imagem 2: Imagem coletada pelo sensor TM do satélite Landsat5, no dia 06 de abril de 1989.

Imagem 3: Imagem coletada pelo sensor TM+ do satélite Landsat7, 06 de setembro de 2001.

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Verifica-se, na imagem 3, a intensificação dos processos iniciados na imagem anterior,
entre eles, podemos citar: A mudança no padrão de ocupação do solo em algumas regiões
agrícolas que após sucessivos parcelamentos, configura-se atualmente como novas áreas urbanas
como a colônia agrícola Vicente Pires, a agrovila São Sebastião e a região do Lago Oeste.

Os antigos assentamentos com Santa Maria, Sobradinho II, Samambaia, Recanto das
Emas, iniciados, sobretudo ao final da década de 80, já se configuram, como verdadeiras cidades
apresentando grandes estruturas espaciais e alta densidade de povoamento.

Os condomínios irregulares que se dispersaram sobre o território do DF durante a década


de 90, também já apresentam aspectos de bairros bem consolidados, entretanto, a grande maioria
continua ainda sem regularização fundiária e um número significativo destes encontra-se em
áreas ambientalmente muito frágeis, como os condomínios da região de Sobradinho por
localizarem-se em borda de chapada, assim como os condomínios do Jardim Botânico que se
localizam em uma área de recarga de aqüíferos.

Destaque também para a primeira zona de conurbação, Taguatinga, Ceilândia e


Samambaia, região com a maior população urbana do Distrito Federal.

Considerações Finais
Com apenas 45 anos Brasília já possui os mesmos problemas das grandes metrópoles
brasileiras (falta de emprego, altos índices de criminalidade, problemas quanto a infra-estrutura
urbana e etc). Com uma forma muito diferente daquela planejada por Lucio Costa o Plano-Piloto
é hoje um dos metros quadrados mais caros do país, o alto valor de seus imóveis empurra a classe
média para as cidades de sua periferia. Por sua vez as classes de baixa renda se vêem obrigadas a
se direcionarem aos municípios vizinhos ao DF.
A especulação imobiliária é um dos principais fatores responsável pela gritante
segregação sócio-espacial vivida no DF.
Esta segregação é confirmada quando percebemos os vetores de crescimento urbano, orientados
principalmente no sentido sul oeste, se afastando cada vez mais do Plano Piloto e no sentido
contrario aos bairros da elite econômica. Outro ponto importante a ser observado corresponde as
futuras áreas de adensamento e possível conurbação. São elas as regiões entre as cidades de
Planaltina e Sobradinho, Sobradinho e Plano Piloto, e também a continuação do atual vetor de
crescimento que tende a crescer orientado cada vez mais para o sul. No entanto esse crescimento
segue cada vez mais interesses econômicos e políticos, sem um planejamento geográfico de um
crescimento sustentável numa região tão importante.
A falta de um planejamento adequado, por parte do governo local, sobre as ocupações e
uso do solo, gera um tremendo impacto ambiental. O DF localiza-se numa área ambientalmente
muito frágil, aqui estão nascentes importantes das principais bacias hidrográficas brasileiras;
como a nascente do Rio Preto pertencente a bacia do Rio São Francisco, o Rio Maranhão
pertencente a bacia do Tocantins e o Rio São Bartolomeu pertencente a bacia do Paraná. Como
pode ser visto nas imagens todo o DF possui varias nascentes que se encontram ameaçadas tanto
pela expansão urbana sejam pelas intensas atividades agrícolas desenvolvidas no DF.

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BIBLIOGRAFIA:

- Anjos,Rafael Sanzio Araújo dos. Monitoramento da expansão urbana no DF e sua região do


entorno imediato (1964-1990). Textos Universitários, Brasília. Editora Universidade de
Brasília,1996

- Mello, Neli Aparecida de. Políticas públicas e consumo do meio ambiente urbano. In Paviani,
Aldo(org.). Brasília: Controvérsias ambientais. Brasília. Editora Universidade de Brasília,2003

- Costa, Lúcio. Considerações em torno do Plano Piloto de Brasília. In “apresentado no I


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- Paviani, Aldo (org.). Urbanização e Metropolização – A gestão dos conflitos urbanos em


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- Paviani, Aldo (org.). Brasília – Gestão urbana: conflitos e cidadania. Brasília. Editora
Universidade de Brasília, 1999

- Carvalho, Vladimir Conterrâneos velhos de guerra/Vladimir Carvalho. Brasília. GDF/Secretaria


de Cultura e Esporte/Fundação Cultural do DF, 1997.

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