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Resenha do texto: Brasil e América do Sul: o desafio da inserção

internacional soberana, de José Luís Fiori.

O artigo foi elaborado para CEPAL – IPEA, A Comissão Econômica para


a América Latina e o Caribe e o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, e
publicado em 2011.
O autor visa explicar as relações interestatais do capitalismo do século
XVIII ao inicio do século XX onde identifica quatro momentos que denomina de
“explosão expansiva” que inicialmente traz uma pressão competitiva seguida
por uma expansão das fronteiras tanto internas quanto externas e como o
Brasil se insere nesta dinâmica.
Inicia explicando como o movimento de “virada a esquerda” no início do
século XXI nos países da América do Sul modificaram as relações com as
políticas neoliberais da década de 1990 ao tentar modificar suas estratégias
econômicas como a decisão dos governos de apoiar uma integração sul
americana com o objetivo de diminuir o intervencionismo norte-americano no
continente.
Explica que durante a primeira década do século o Brasil destacou-se
em relação a sua atuação política (no projeto de integração) e em relação a
econômica onde ele se propôs a aumentar suas relações comerciais e
financeiras com outras regiões do mundo. Porém, devido a crise financeira de
2008 houve uma interrupção do desenvolvimento destes processos.
Apresenta os fatos históricos e como se deu a mudança da estratégia e
da ordem americana a partir da crise de 1973, onde:
“o sistema monetário internacional que haviam criado, em
Bretton Woods, baseado na paridade fixa da sua moeda em
ouro e na regulamentação dos sistemas financeiros nacionais
provocou uma crise que se somou à alta dos preços do
petróleo e desembocou na primeira grande recessão da
economia mundial”(p11).

E esclarece que foi a partir deste momento que os Estados Unidos


modificaram suas relações políticas e econômicas onde passaram a atuar de
forma mais imperialista que hegemônica e ainda alterou a relação do dólar no
qual “passaram a arbitrar o valor de suas dívidas, por meio do manejo unilateral
do valor de sua própria moeda” (p.11).
Explica também que na década de 1990 com o fim da guerra fria, os
Estados Unidos aumentaram sua influencia global, junto com a Alemanha e a
China, e o poder do Japão e França diminuíram. Neste período destaca-se a
ideologia da “globalização liberal”.
Historicamente, também explica que América do Sul nunca sofreu com
disputas hegemônicas, e que no século XIX sua política estava em
consonância com a da Grã-Bretanha, e no século XX com os Estados Unidos.
Aponta que após o ataque do dia 11 de setembro de 2001 os Estado
Unidos muda sua política externa com o foco em combater o terrorismo, que se
mantém até a crise financeira de 2008.
Após 2008 o autor destaca dois novos momentos:
i) a crescente projeção da liderança diplomática e econômica
do Brasil, na Américado Sul; e ii) o aumento exponencial da
importância da China para o funcionamento e o crescimento da
economia regional (p. 17).

Sobre a projeção da liderança diplomática e econômica do Brasil o autor


destaca alguns pontos onde o Brasil atua na política de integração da América
Latina, e em missões de paz, porém ainda sem força para concorrer com o
poder dos Estados Unidos. E no ponto de vista econômico demonstra
entusiasmo com o crescimento comercial da região.
Sobre o aumento da participação econômica da China o resultado
impressiona visto que:
Entre 2003 e 2008, a China mais que dobrou sua participação
nas importações realizadas pelos países sul-americanos,
aumentando de 5,38% para 12,07%, e o valor bruto subiu mais
de 700%, passando de U$ 6,5 bilhões para U% 54,6 bilhões de
dólares (p.19).

E com estes resultados prevê que a volta da interferência dos Estados


Unidos na região e desaceleração no projeto de integração pós crise financeira
de 2008.
Como exemplo do aumento do ativismo militar e diplomático dos
Estados Unidos ele cita as críticas ao eixo bolivariano, o apoio ao “golpe
hondurenho” fundamentado em salvar a democracia da região.
E sobre a desaceleração do projeto de integração sul-americana explica que
pós crise de 2008 ficaram mais evidentes o quanto as economias sul
americanas são pouco integradas, as desigualdades de toda região, a falta de
infraestrutura e de objetivos capaz de unificar a visão estratégica do continente.
Explica que nunca houve uma política de Estado para a integração
ocorresse e que é acompanhada pela influencias da economia mundial e
mudanças de governos no continente. Também ressalta a importância do Brasil
neste aspecto.
Traz duas alternativas para América do Sul: a de periferia econômica
exportadora ou que os governos invistam em construções de infraestrutura de
comunicações e uma nova estrutura de produção integrada. E ressalta os
desafios da dependência: os países periféricos não tem capacidade de
comandar a própria política econômica e no ponto de vista da segurança e da
defesa continental.
Apresenta também um projeto de construção autônomo onde os países
sul-americanos participem como aliados estratégicos.
Ressalta a previsão da empresa Goldman Sachs que em 2001
denominou de BRICS - Brasil, Rússia, Índia e China, como referência às quatro
economias continentais que crescem rapidamente devendo produzir uma
mudança paralela no balanço de poder e na governança mundial e ainda:
do ponto de vista diplomático, os quatro países estiveram
juntos em várias iniciativas importantes ligadas à reorganização
da ordem econômica internacional, durante a primeira década
do século XX: como foi o caso da criação do G20, na reunião
de Cancun, nas negociações comerciais da Rodada de Doha e,
depois, na formação e na reunião do G20, criado como
resposta à crise financeira de 2008 (p.26).

Alega que além disso, os quatro países representam significativamente


parte do território e população mundial.
Esclarece que:
a Rússia ainda mantém seu arsenal atômico e seu potencial
militar e econômico, com uma decisão cada vez mais explícita
de retomar sua posição e sua importância no continente
eurasiano (p.26).

Assim demonstra que a Rússia possui condições necessárias para o


crescimento previsto.
Ressalta o conflito pelo domínio asiático entre China e Índia e explica
que:
a Índia nunca mostrou sinais de uma potência expansiva e
comporta-se como um estado que foi obrigado a se armar para
proteger e garantir sua segurança em uma região de alta
instabilidade, na qual sustenta uma disputa territorial e uma
competição atômica com o Paquistão, além da China (p. 27).

Demonstra então que a Índia possui os elementos necessários para o


crescimento previsto. E que a China teve forte influencia nas Guerras da Coreia
e do Vietnã e ainda que apresenta particularidades encontradas em grandes
potências.
Enfim, explica que o Brasil está em uma zona de baixa conflitividade,
que não tem a importância econômica da China e nem o poder militar da
Rússia, e que exerce grande influencia na América do Sul tendo como seu
maior competidor os Estados Unidos.

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