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Geografia da

América Latina
Profa. Leia de Andrade
Profa. Rosani Lidia Dahmer

2015
Copyright © UNIASSELVI 2015

Elaboração:
Profa. Leia de Andrade
Profa. Rosani Lidia Dahmer

Revisão, Diagramação e Produção:


Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri


UNIASSELVI – Indaial.

918.1
A553g Andrade, Leia de
Geografia da América Latina/ Leia de Andrade; Rosani
Lidia Dahmer. Indaial : UNIASSELVI, 2015.

259 p. : il.

ISBN 978-85-7830-935-0

1. Geografia Latino Americana.


I. Centro Universitário Leonardo Da Vinci.
Apresentação
Caro(a) acadêmico(a), seja bem-vindo(a) à disciplina de Geografia da
América Latina!

Certamente você já ouviu as expressões: América do Sul, América


do Norte, América Latina... o questionamento pertinente que se apresenta
para início de conversa, é: conhecemos o contexto de cada uma destas
macrorregiões?

O continente americano pode ser regionalizado (enquanto


metodologia para seu estudo), dividindo-o em partes ou agrupando os países,
de diferentes maneiras, dependo do objetivo para determinado recorte.
Algumas nomenclaturas são mais conhecidas e utilizadas no nosso cotidiano.
A expressão América Latina é uma delas. Mas o que realmente significa?

Nós brasileiros, também somos latino-americanos, mas questiono:


nós nos consideramos latino-americanos? Pretendemos neste Caderno de
Estudos, através de suas unidades e tópicos de estudos, apresentar conceitos,
conteúdos e informações que possam auxiliar nas reflexões e possíveis
respostas para estes questionamentos.

No espaço geográfico da América Latina se realizam as manifestações


da natureza, na concepção de tempo geológico, e atividades humanas, numa
concepção de tempo histórico. Assim, o espaço geográfico latino-americano
contemporâneo apresenta características econômicas, sociais, culturais,
políticas e ambientais semelhantes às demais áreas da superfície terrestre,
inserida nos processos de expansão capitalista através do colonialismo,
imperialismo, globalização e regionalização. Entretanto, cabe lembrar
que existem também diferenciações, peculiaridades caracterizadas pela
diversidade, heterogeneidade e identidades culturais particulares, resultados
de sua formação socioespacial e histórico cultural.

Pretendemos neste Caderno a partir dos conteúdos apresentados,


conduzir você acadêmico à reflexão, ao estudo e à análise de aspectos da
Geografia da América Latina, para que você possa compreender a organização
e as transformações sofridas por esse espaço geográfico latino-americano. Na
sala de aula, estes conteúdos e conceitos são essenciais para a formação de
cidadãos conscientes, sensibilizados e críticos dos problemas comuns desta
macrorregião.

Pensamos em contribuir na formação acadêmica do futuro professor


de Geografia, que em sua prática docente, atuará como agente influenciador
e mediador de práticas socioespaciais dentro de uma proposta educacional
que requer responsabilidade de todos, visando um mundo melhor, com
probabilidades futuras menos desanimadoras, com mais equidade e um
futuro possível.

III
Neste caderno, cada unidade está estruturada a partir de conceitos-
chaves, problematizações, reflexões e análises. Em cada unidade você
vai encontrar fragmentos literários, fatos atuais, sugestões de leituras
complementares, filmes, para promover uma aprendizagem significativa.
Cada tópico apresenta resumo e sugestões de autoatividades para pensar,
analisar e refletir sobre a geografia da América Latina a partir da observação
da realidade geográfica local e conteúdos e informações do Caderno de
Estudos. Durante o estudo deste caderno, sugerimos que você consulte os
cadernos que já utilizou nas outras disciplinas, para facilitar seu aprendizado.

Desejamos a você um ótimo estudo e que a partir dele você possa


construir o seu conhecimento sobre a América Latina.

Saudações!

Profa. Leia de Andrade


Profa. Rosani Lidia Dahmer

NOTA

Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para
você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há
novidades em nosso material.

Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é


o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura.

O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também
contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.

Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente,


apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade
de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador.
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto
em questão.

Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa
continuar seus estudos com um material de qualidade.

Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de


Desempenho de Estudantes – ENADE.
 
Bons estudos!

IV
V
VI
Sumário
UNIDADE 1 - AMÉRICA LATINA: CONTEXTUALIZAÇÃO,
REGIONALIZAÇÕES E VULNERABILIDADE AMBIENTAL.........................1

TÓPICO 1 - LOCALIZAÇÃO E REGIONALIZAÇÃO...................................................................3


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................3
2 A CONQUISTA DE REGIÕES NATURAIS COM O COLONIALISMO................................5
3 A FORMAÇÃO HISTÓRICA DO CONTINENTE AMERICANO...........................................5
3.1 A COLONIZAÇÃO DE POVOAMENTO..................................................................................6
3.2 A COLONIZAÇÃO DE EXPLORAÇÃO....................................................................................6
3.3 DO COLONIALISMO PORTUGUÊS E ESPANHOL AO IMPERIALISMO
BRITÂNICO E ESTADUNIDENSE.............................................................................................8
3.4 CARACTERÍSTICAS DOS PAÍSES LATINO-AMERICANOS E
RELAÇÃO CENTRO-PERIFERIA...............................................................................................9
RESUMO DO TÓPICO 1.....................................................................................................................13
AUTOATIVIDADE...............................................................................................................................15

TÓPICO 2 - AS POSSÍVEIS REGIONALIZAÇÕES DA AMÉRICA LATINA..........................17


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................17
2 APONTAMENTOS SOBRE OS ELEMENTOS FÍSICOS DENTRO DO
CONTEXTO DE UMA DIVISÃO REGIONAL GEOGRÁFICA - FÍSICA..............................17
2.1 A TECTÔNICA DE PLACAS NA AMÉRICA LATINA E RELEVO......................................18
2.2 BACIAS HIDROGRÁFICAS........................................................................................................26
2.3 CLIMAS E VEGETAÇÕES............................................................................................................29
RESUMO DO TÓPICO 2.....................................................................................................................33
AUTOATIVIDADE...............................................................................................................................35

TÓPICO 3 - APONTAMENTOS E CARACTERÍSTICAS SOCIOESPACIAIS


PARA UMA REGIONALIZAÇÃO ALTERNATIVA
HISTÓRICO-CULTURAL..............................................................................................37
1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................37
2 O POVOAMENTO PRÉ-COLOMBIANO.....................................................................................38
3 REMANESCENTES DE POVOS NATIVOS E MISCIGENAÇÃO...........................................40
4 ASPECTOS DA COLONIZAÇÃO E DA DEMOGRAFIA QUE
CORROBORAM PARA UMA REGIONALIZAÇÃO HISTÓRICO-CULTURAL.................41
4.1 AMÉRICA CENTRAL E MÉXICO..............................................................................................41
4.2 NAS GUIANAS, UMA COLONIZAÇÃO DIFERENTE .........................................................42
4.3 AMÉRICA ANDINA.....................................................................................................................43
5 AMÉRICA PLATINA ........................................................................................................................45
6 A REGIONALIZAÇÃO DO CONTINENTE AMERICANO POR CRITÉRIOS
SOCIOECONÔMICOS........................................................................................................................50
6.1 CONTRADIÇÕES SOCIOECONÔMICAS DENTRO DA AMÉRICA LATINA..................51
6.2 APONTAMENTOS ECONÔMICOS...........................................................................................53
6.3 AS TENTATIVAS DE ASSOCIAÇÃO E/OU DE INTEGRAÇÃO
DE PAÍSES LATINO-AMERICANOS.........................................................................................57

VII
LEITURA COMPLEMENTAR.............................................................................................................59
RESUMO DO TÓPICO 3.....................................................................................................................61
AUTOATIVIDADE...............................................................................................................................63

TÓPICO 4 - MUDANÇAS CLIMÁTICAS, EVENTOS EXTREMOS


E VULNERABILIDADE NA AMÉRICA LATINA E CARIBE...............................65
1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................65
2 MUDANÇAS CLIMÁTICAS E EVENTOS CLIMÁTICOS EXTREMOS................................65
3 CONCEITOS FUNDAMENTAIS PARA A GESTÃO DOS RISCOS
DE EVENTOS EXTREMOS E DESASTRES, PARA O AVANÇO NA
ADAPTAÇÃO ÀS ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS.......................................................................69
4 AMÉRICA LATINA E CARIBE: PROBABILIDADES FUTURAS............................................70
LEITURA COMPLEMENTAR.............................................................................................................74
RESUMO DO TÓPICO 4.....................................................................................................................77
AUTOATIVIDADE...............................................................................................................................79

UNIDADE 2 - AMÉRICA LATINA: OS PAÍSES QUE COMPÕEM


A DIVISÃO REGIONAL...........................................................................................81

TÓPICO 1 - MÉXICO............................................................................................................................83
1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................83
2 TERRITÓRIO E POPULAÇÃO........................................................................................................85
3 ENTRE PAÍSES RICOS E ENTRE PAÍSES POBRES...................................................................92
4 A MIGRAÇÃO DOS MEXICANOS PARA OS ESTADOS UNIDOS......................................94
LEITURA COMPLEMENTAR.............................................................................................................100
RESUMO DO TÓPICO 1.....................................................................................................................103
AUTOATIVIDADE...............................................................................................................................104

TÓPICO 2 - AMÉRICA LATINA: AMÉRICA CENTRAL..............................................................105


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................105
2 AMÉRICA CENTRAL CONTINENTAL: SEU TERRITÓRIO
E A SUA POPULAÇÃO.....................................................................................................................106
2.1 ECONOMIA E DESENVOLVIMENTO......................................................................................109
2.1.1 O caso do Panamá.................................................................................................................110
3 AMÉRICA CENTRAL INSULAR....................................................................................................117
3.1 TERRITÓRIO E POPULAÇÃO....................................................................................................118
3.2 ECONOMIA E DESENVOLVIMENTO......................................................................................119
3.2.1 O MCCA e Caricom.............................................................................................................120
3.2.2 O caso de Cuba......................................................................................................................121
3.2.3 A base de Guantánamo........................................................................................................123
3.2.4 Embargo econômico.............................................................................................................124
3.2.5 O caso do Haiti......................................................................................................................126
RESUMO DO TÓPICO 2.....................................................................................................................129
AUTOATIVIDADE...............................................................................................................................131

TÓPICO 3 - AMÉRICA LATINA: AMÉRICA PLATINA...............................................................133


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................133
2 TERRITÓRIO E POPULAÇÃO........................................................................................................133
3 O PARAGUAI......................................................................................................................................135
4 O URUGUAI........................................................................................................................................138
4.1 O GOLPE MILITAR NO URUGUAI E SUAS CONSEQUÊNCIAS........................................140
4.2 O GOVERNO DE MUJICA...........................................................................................................140

VIII
5 A ARGENTINA...................................................................................................................................143
RESUMO DO TÓPICO 3.....................................................................................................................147
AUTOATIVIDADE...............................................................................................................................149

UNIDADE 3 - O BRASIL E AS RELAÇÕES INTERNACIONAIS NA


AMÉRICA LATINA: DOS CONFLITOS FRONTEIRIÇOS
À COOPERAÇÃO, INTEGRAÇÃO E LIDERANÇA REGIONAIS..................151

TÓPICO 1 - DISPUTAS TERRITORIAIS E CONSOLIDAÇÃO


DAS FRONTEIRAS POLÍTICAS................................................................................153
1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................153
2 RIVALIDADES COLONIAIS...........................................................................................................153
2.1 A QUESTÃO CISPLATINA NO PERÍODO IMPERIAL BRASILEIRO..................................157
2.2 A ERA RIO BRANCO – 1902-1912..............................................................................................158
3 AS RELAÇÕES REGIONAIS NA BACIA DO PRATA NO
DECORRER DA HISTÓRIA............................................................................................................158
3.1 BRASIL E ARGENTINA: DA DESCONFIANÇA À APROXIMAÇÃO.................................158
3.2 BRASIL E ARGENTINA: COMPETIÇÃO GEOPOLÍTICA.....................................................160
3.3 A OPERAÇÃO PAN-AMERICANA (OPA) E OS ACORDOS DE URUGUAIANA............161
3.4 GOVERNOS MILITARES NO BRASIL E NA ARGENTINA..................................................161
3.5 O RETORNO À DEMOCRACIA E A APROXIMAÇÃO DE BRASIL
E ARGENTINA E OUTROS PAÍSES DA AMÉRICA DO SUL................................................163
3.6 O MERCOSUL E A CRISE DOS ANOS 1999-2001....................................................................164
4 A FAIXA DE FRONTEIRA BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA..............................................165
4.1 CIDADES-GÊMEAS .....................................................................................................................165
4.2 MARCOS DE FRONTEIRA, TENSÕES E QUESTÕES FRONTEIRIÇAS..............................167
4.3 TEXTO COMPLEMENTAR: ESTUDO DE CASO: CIDADES DE
TABATINGA (AM) E LETÍCIA (COL): USO DA ÁGUA SUBTERRÂNEA..........................171
4.4 O PAPEL ESTRATÉGICO DAS PONTES INTERNACIONAIS..............................................172
RESUMO DO TÓPICO 1.....................................................................................................................174
AUTOATIVIDADE...............................................................................................................................176

TÓPICO 2 - A APROXIMAÇÃO REGIONAL – O MERCOSUL..................................................179


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................179
2 O MERCOSUL.....................................................................................................................................179
2.1 O COMÉRCIO INTRABLOCO....................................................................................................181
2.2 ADESÃO DA VENEZUELA COMO ESTADO MEMBRO
OU ESTADO PARTE EM 2012.....................................................................................................184
2.3 A BOLÍVIA NO MERCOSUL COMO ESTADO ASSOCIADO
E COMO ESTADO MEMBRO OU ESTADO PARTE................................................................186
3 MERCOSUL - INTEGRAÇÃO FÍSICA E ENERGÉTICA...........................................................188
3.1 INTEGRAÇÃO DO SETOR ELÉTRICO.....................................................................................192
3.2 A POSIÇÃO DO PARAGUAI DIANTE DA HEGEMONIA BRASILEIRA...........................195
3.2.1 A questão de Itaipu: o preço da energia paraguaia.........................................................195
3.3 DESAFIOS PARA A GERAÇÃO DE ENERGIA E ABASTECIMENTO
DE ÁGUA NAS CIDADES...........................................................................................................196
3.4 INTEGRAÇÃO GÁS NATURAL.................................................................................................197
3.5 MERCOSUL: INFRAESTRUTURA DOS MEIOS DE TRANSPORTES.................................201
3.6 LIMITES E DESAFIOS..................................................................................................................205
LEITURA COMPLEMENTAR.............................................................................................................206
RESUMO DO TÓPICO 2.....................................................................................................................208
AUTOATIVIDADE...............................................................................................................................210

IX
TÓPICO 3 - DOS ESPAÇOS GEOGRÁFICOS REGIONAIS DE
ENTORNO PARA O ESPAÇO REGIONAL MAIS
AMPLO DA AMÉRICA DO SUL E DA AMÉRICA LATINA................................213
1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................213
2 COMISSÃO ECONÔMICA PARA A AMÉRICA LATINA – CEPAL.......................................213
3 DA ALALC À ALADI.........................................................................................................................214
4 DO PACTO ANDINO À COMUNIDADE ANDINA DE NAÇÕES – CAN...........................215
5 INICIATIVA PARA A INTEGRAÇÃO DA INFRAESTRUTURA
REGIONAL SUL-AMERICANA – IIRSA......................................................................................216
6 UNIÃO DAS NAÇÕES SUL-AMERICANAS – UNASUL.........................................................217
7 A COMUNIDADE DE ESTADOS LATINO-AMERICANOS
E DO CARIBE – CELAC....................................................................................................................221
LEITURA COMPLEMENTAR.............................................................................................................224
RESUMO DO TÓPICO 3.....................................................................................................................226
AUTOATIVIDADE...............................................................................................................................228

TÓPICO 4 - PROJEÇÃO INTERNACIONAL E POLÍTICA EXTERNA.....................................231


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................231
2 A INDUSTRIALIZAÇÃO TARDIA................................................................................................231
2.1 PERÍODOS DA INDUSTRIALIZAÇÃO LATINO-AMERICANA.........................................232
3 O BRASIL NO CONTEXTO INTERNACIONAL........................................................................234
4 A POLÍTICA EXTERNA BRASILEIRA..........................................................................................235
4.1 A LIDERANÇA REGIONAL NEM SEMPRE FOI BEM ACEITA...........................................236
4.2 SONHANDO COM MAIOR PRESENÇA INTERNACIONAL..............................................238
5 BRASIL: LIDERANÇA E TENSÕES NA INTEGRAÇÃO SUL-AMERICANA.....................241
5.1 A PRESENÇA DA PETROBRÁS NA BOLÍVIA E NO EQUADOR........................................242
LEITURA COMPLEMENTAR.............................................................................................................245
RESUMO DO TÓPICO 4.....................................................................................................................246
AUTOATIVIDADE...............................................................................................................................248
REFERÊNCIAS.......................................................................................................................................251

X
UNIDADE 1

AMÉRICA LATINA:
CONTEXTUALIZAÇÃO,
REGIONALIZAÇÕES E
VULNERABILIDADE AMBIENTAL

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Esta unidade tem por objetivos:

• compreender sob uma visão integrada (do ponto de vista geográfico,


histórico e sociológico) o espaço geográfico americano, desde sua forma-
ção até as atuais dinâmicas que o transformam continuamente;

• relacionar os conceitos de localização e regionalização da América Latina;

• perceber a relação exploração/povoamento de maneira geo-histórica;

• perceber a atual situação social e econômica da América Latina como


fruto de exploração durante séculos, e de dificuldades próprias de cada
estado-nação na contemporaneidade;

• analisar o espaço geográfico como palco de produção social.

• identificar características comuns aos países latino-americanos e ao mes-


mo tempo diferenciações que existem entre os mesmos;

• entender a regionalização natural ou física de acordo com o processo


natural de formação do espaço dos continentes e sua apropriação até os
momentos atuais, como uma das metodologias de estudo da geografia;

• diferenciar os tipos de regiões e/ou possíveis regionalizações da América


e da América Latina, seus países e principais semelhanças e diferenças;

• contextualizar a América Latina em relação ao espaço geográfico mundial;

• refletir sobre a questão dos povos pré-colombianos e indígena na Amé-


rica Latina para uma regionalização histórica cultural;

• entender a diversidade das condições climáticas, vegetais e sua relação


com a sociedade;

• relacionar aspectos econômicos comuns e diferentes dos países latino-a-


mericanos;

1
• refletir sobre a contemporaneidade do texto de Eduardo Galeano, em
que o autor apresenta aspectos do colonialismo e imperialismo sobre a
América Latina;

• correlacionar problemas e questões ambientais com mudanças climáti-


cas, eventos climáticos extremos, vulnerabilidade e desastres socionatu-
rais na América Latina.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em quatro tópicos, sendo que em cada um
deles você encontrará atividades visando à compreensão dos conteúdos
apresentados.

TÓPICO 1 – LOCALIZAÇÃO E REGIONALIZAÇÃO

TÓPICO 2 – AS POSSÍVEIS REGIONALIZAÇÕES DA AMÉRICA LATINA

TÓPICO 3 – APONTAMENTOS E CARACTERÍSTICAS SOCIOESPA-


CIAIS PARA UMA REGIONALIZAÇÃO ALTERNATIVA
HISTÓRICO-CULTURAL

TÓPICO 4 – MUDANÇAS CLIMÁTICAS, EVENTOS EXTREMOS E VUL-


NERABILIDADE NA AMÉRICA LATINA E CARIBE

2
UNIDADE 1
TÓPICO 1

LOCALIZAÇÃO E
REGIONALIZAÇÃO

1 INTRODUÇÃO
Nesta unidade você vai iniciar os estudos sobre o conjunto de países
situados ao Sul dos Estados Unidos e que recebe o nome de América Latina, em
virtude de, com exceção das Guianas e de algumas ilhas do Caribe, terem sido
ocupados e explorados do século XVI ao XIX, principalmente por portugueses
e espanhóis, povos de origem latina. Esse fato os diferencia do Canadá e dos
Estados Unidos, de influência inglesa e que compõe a América Anglo-saxônica.
(ALMEIDA, 2009).

Com a independência política das colônias americanas e funções na Divisão


Internacional do Trabalho, as diferenças entre América Latina e América Anglo-
Saxônica se acentuaram. Esta diferença entre o conjunto de países que atualmente
constitui a América Latina e Caribe (e se localizam ao sul do Rio Grande, fronteira
natural entre os Estados Unidos e o México), e os países situados ao norte deste
rio, Estados Unidos da América e Canadá, insere-os na divisão Norte-Sul, ou
seja, na oposição entre países ricos e países pobres. A separação entre América
Latina e América Anglo-saxônica como mostra o mapa a seguir, não corresponde
à clássica separação do continente em três partes: América do Norte, América
Central e América do Sul. Sendo o México situado geograficamente na América
do Norte, faz parte da América Latina do ponto de vista socioeconômico.

Apesar de enfrentar problemas econômicos e sociais parecidos, como


veremos adiante, encontramos muitas diferenças entre os integrantes da América
Latina. Podemos dividi-la em porções definidas geograficamente: México, América
Central e Guianas, América do Sul, onde podemos distinguir três conjuntos:
América Andina, América Platina e Brasil, como mostra a figura a seguir.

O continente americano é o segundo maior continente do mundo, suas


terras se localizam totalmente no Hemisfério Ocidental, isto é, estão a oeste do
Meridiano de Greenwich e limitam-se ao norte com o Oceano Glacial Ártico, a leste
com o Oceano Atlântico e a oeste com o Oceano Pacífico. O Continente é cortado
por quatro paralelos principais: Círculo Polar Ártico, Trópico de Câncer, Equador
e Trópico de Capricórnio. A grande extensão no sentido norte e sul confere ao
continente americano enorme variedade de climas, solos e formação vegetal.

FONTE: Disponível em: <http://geografianewtonalmeida.blogspot.com.br/2012/08/america-


localizacao-exercicios.html?view=snapshot&m=1>. Acesso em: 11 nov. 2015.

3
UNIDADE 1 | AMÉRICA LATINA: CONTEXTUALIZAÇÃO, REGIONALIZAÇÕES E VULNERABILIDADE AMBIENTAL

FIGURA 1 – MAPA DA AMÉRICA: DIVISÃO GEOGRÁFICA E SOCIOECONÔMICA

8
1 10 11

4 9
2
3 5
7
6 13
12
1 - México
2 - Guatemala 14
3 - El Salvador
15
4 - Honduras
5 - Nicaragua
6 - Costa Rica
7 - Panamá 16
8 - Cuba 17
9 - Haiti 18
10 - Rep. Dominicana
11 - Porto Rico
22 19
12 - Guianas
13 - Venezuela
21
14 - Colômbia
15 - Equador 20
Divisão geográfica 16 - Perú
América do Norte 17 - Brasil
América Central 18 - Bolívia
América do Sul 19 - Paraguai
20 - Argentina
Divisão sócioeconômica
21 - Uruguai
América Anglo-Saxônica 22 - Chile
América Latina

FONTE: Disponível em: <www.blogdoprofalexandre.blogspot.com> e <http://web.ua.es/


centrobenedetti-antigua/actividades_07_08.html>. Acesso em: 10 nov. 2015.

A América Latina e o Caribe constituem uma vasta região geográfica com


características socioeconômicas, culturais e históricas similares. Esta macrorregião
abrange cerca de 20.808.000 quilômetros quadrados, representando quase a
metade do continente americano e suas ilhas.

Sobre o nome América Latina, foi inicialmente pelo agrupamento


das sociedades em que a língua dominante tem origem no latim, como
é o caso do português e do espanhol, principais povos colonizadores da
América continental. Esse território compreende desde o México até o
extremo sul da América do Sul. A expressão América Latina, refere-se
também a países onde se fala inglês, como a Jamaica, ou holandês como o
Suriname. Isso acontece porque o critério passou a levar em conta outros
aspectos, tais como predominância da religião católica e desequilíbrio das
condições socioeconômicas da população, com muitos de seus habitantes
vivendo abaixo da linha de pobreza.

FONTE: Adaptado de: <http://geonaweb.blogspot.com.br/2010/05/localizacao-e-regionalizacao-


da-america.html>. Acesso em: 11 nov. 2015.

4
TÓPICO 1 | LOCALIZAÇÃO E REGIONALIZAÇÃO

2 A CONQUISTA DE REGIÕES NATURAIS


COM O COLONIALISMO
A condição socioeconômica e comercial em que os europeus estavam
inseridos na segunda metade do século XV os estimulou a buscar rotas comerciais
que os levassem diretamente às regiões fornecedoras das mercadorias mais
procuradas daquela época, às especiarias. Descobrir um caminho pelo mar seria a
solução mais viável, já que as rotas que ligavam a Europa ao Extremo Oriente da
Ásia já eram dominadas, em sua maioria por árabes. Foi em uma dessas tentativas
que Cristóvão Colombo, em 1492, se deparou com terras nunca antes conhecidas
da sociedade europeia.

Cristóvão Colombo era um navegador genovês, que se baseando na


ideia de esfericidade da terra, foi em busca de encontrar a Índia navegando pelo
Ocidente, obteve com os reis da Espanha uma frota composta por três navios,
com o qual partiu do Porto de Palos, na Espanha, em 3 de agosto de 1492. No
dia 12 de outubro atingiu a Ilha Guanaani e voltou para a Europa, assegurado de
que havia chegado a terras asiáticas. No entanto, a partir do momento em que o
território americano foi revelado ao mundo, iniciou-se o processo de colonização
das terras descobertas.

A regionalização da América enquanto continente pode ser feita a


partir da consideração de diversos critérios, entretanto, os aspectos geográficos,
histórico-culturais e socioculturais são os mais utilizados, os primeiros levam em
consideração os aspectos fisiográficos, enquanto o segundo considera a origem
dos povos colonizadores, formação sócio-histórica que resultou numa condição
socioespacial complexa e peculiar específica da América Latina.

3 A FORMAÇÃO HISTÓRICA DO
CONTINENTE AMERICANO
A história dos países que formam a América Latina tem seu início a partir
do século XVI com a chegada do elemento branco colonizador europeu. A América
Latina e a América Anglo-Saxônica sofreram tipos de ocupações totalmente
diferentes pelos colonizadores europeus. Enquanto a América Anglo-Saxônica,
formada pelos países Canadá e Estados Unidos, sofreu uma colonização de
povoamento, a América Latina sofreu uma colonização predadora de exploração.

5
UNIDADE 1 | AMÉRICA LATINA: CONTEXTUALIZAÇÃO, REGIONALIZAÇÕES E VULNERABILIDADE AMBIENTAL

3.1 A COLONIZAÇÃO DE POVOAMENTO


O Canadá e os Estados Unidos, situados na porção norte da América,
sofreram uma colonização cujos objetivos eram totalmente diferentes dos
objetivos europeus na América Latina. A conjuntura política, religiosa, e
econômica durante os séculos XVI e XVII fez com que grandes levas de europeus
saíssem de seus países de origem e se dirigissem para a América do Norte, com
interesses não mercantis ou de exploração, mas sim como pessoas que sonhavam
em construir um “novo lar”, ou uma Nova Europa. Os novos colonizadores,
ingleses e franceses, que fugiram de situações adversas (políticas, econômicas e
ou religiosas existentes em seus países de origem) tomaram posse das terras e as
exploraram em benefício próprio, independente do controle e/ou orientações de
suas metrópoles.

As atividades desenvolvidas pelas colônias do Norte e do Centro, de um


conjunto de 13, consistiram basicamente no aprimoramento de suas estruturas
básicas, na liberdade para criação das instituições políticas e religiosas, com
comércio interno e produção agrícola para autossubsistência. Este modelo de
colonização foi aplicado também nas Colônias Britânicas que deram origem a
outros países como Canadá, Nova Zelândia e Austrália. Ressalta-se, porém que
as colônias do sul do atual Estados Unidos da América – EUA foram colônias
de exploração, apoiadas no tripé: latifúndio, monocultura e escravidão, ou seja,
utilizou-se mão de obra escrava negra nas fazendas, cujo, modelo de plantation
era idêntico ao praticado nas colônias de exploração espanholas e portuguesas.
As populações indígenas foram dizimadas pelos colonizadores da mesma forma
como as da América Central e da América do Sul. A abolição da escravatura
ocorreu em meio às tensões da Guerra de Secessão, onde as colônias do Norte se
tornaram vitoriosas sobre as do sul.

3.2 A COLONIZAÇÃO DE EXPLORAÇÃO


A colonização de exploração que se deu no século XVI ao XVIII visava
exclusivamente o enriquecimento fácil das metrópoles europeias. Na América
Latina as colônias eram organizadas com a única finalidade de atender tais
anseios econômicos das metrópoles, aconteceu neste momento, na história da
humanidade, que começaram a surgir ao mesmo tempo o sistema capitalista,
e a consequente divisão internacional do trabalho, e a questão da dependência
econômica.

A colonização de exploração determinava que as colônias deveriam ser


grandes fornecedoras de produtos primários, minerais ou agrícolas, tais como
madeira, açúcar, ouro, prata entre outros, para tal exploração, os europeus
escravizavam indígenas e negros africanos com a finalidade de usarem mão de
obra escrava, o que remete ao custo de uma mercadoria.

6
TÓPICO 1 | LOCALIZAÇÃO E REGIONALIZAÇÃO

As colônias de exploração organizadas na América Latina a partir do século


XVI tornaram-se o grande quintal das metrópoles europeias e ficaram totalmente
subordinadas aos interesses do mercado europeu, inseridas numa Divisão
Internacional do Trabalho cujos pressupostos basearam-se na desigualdade,
traduzidas no Pacto Colonial e no mercantilismo que apenas favoreciam as
metrópoles. As atividades desenvolvidas nas colônias, como a agricultura
(cultivo de extensas monoculturas de produtos tropicais), o extrativismo mineral
e vegetal, a pecuária, tudo visava abastecer o comércio europeu. Os europeus que
para a América Latina se encaminharam tinham um único objetivo: enriquecer
o mais depressa possível e voltar correndo para suas metrópoles. Por mais de
300 anos essa exploração desenfreada se fez presente em terras latino-americanas
com grande evasão de riquezas e a destruição total de diversas culturas. Todos
os países latino-americanos carregam hoje consigo profundas marcas desta época
de exploração, a qual era baseada num modelo agroexportador cuja organização
do espaço era na forma de latifúndios, produzindo monoculturas (ou plantations)
com a utilização de mão de obra escrava. Os reflexos desta organização espacial
se refletem na atual estrutura fundiária, que continua organizada em grandes
propriedades rurais, no cultivo de monoculturas tropicais, utilizando-se de
mecanização agrícola, biotecnologias e técnicas de irrigação, com contraste,
porém, na utilização de mão de obra especializada e temporária.

UNI

Durante a fase do capitalismo comercial e necessidade de expandir o


seu mercantilismo, vários países europeus foram conquistando várias terras. A partir desse
momento, diversas partes do mundo foram submetidas à dinâmica de circulação e de
produção que era comandada pela Europa. A Divisão Internacional do Trabalho é a
especialização produtiva dos países e das regiões do globo na intensificação das trocas
comerciais. Entre o final do século XV e meados do século XVIII, o capitalismo se baseava na
distribuição e circulação das mercadorias entre as metrópoles e suas colônias. As diversas
regiões do mundo, principalmente a América Latina, passaram a desenvolver funções
diferentes, pois cada região passou a especializar-se ou no fornecimento de matéria-
prima, metais preciosos e produtos agrícolas (tropicais) e/ou na produção de produtos
manufaturados etc. Dessa maneira, a metrópole exportava manufaturas a preços altos e
as colônias produziam matéria-prima e exportavam para a metrópole, a preços baixos.
Conteúdo estudado na Geografia Econômica.

7
UNIDADE 1 | AMÉRICA LATINA: CONTEXTUALIZAÇÃO, REGIONALIZAÇÕES E VULNERABILIDADE AMBIENTAL

3.3 DO COLONIALISMO PORTUGUÊS E ESPANHOL AO


IMPERIALISMO BRITÂNICO E ESTADUNIDENSE
Apesar da independência política conseguida por muitos países
da América Latina durante o século XIX, suas economias continuavam
profundamente organizadas e direcionadas a abastecer o mercado europeu. Os
melhores solos visavam cultivar produtos de exportação, ficando somente os
piores solos para a agricultura de subsistência. As desiguais relações comerciais
entre as colônias e as metrópoles se refletem ultimamente em diferentes relações
comerciais estabelecidas ao longo do período em que os países latino-americanos
conquistaram suas independências políticas, mas não independência econômica.
A concentração de terras nas mãos de um pequeno grupo de indivíduos, a
dependência do mercado externo, o povoamento a partir do litoral e portos, sem
uma articulação e integração para o mercado interno são outras heranças desse
período de colonização exploratória.

A atual situação econômica apresentada pelos países da América Latina


nada mais é que um reflexo do tipo de colonização sofrida por esses países.
Mesmo com a independência política, os novos países surgidos continuaram
subordinados aos interesses econômicos das grandes potências. Do início do século
XVI até o início do século XIX, a maioria quase absoluta dos atuais países latino-
americanos estavam sob o domínio espanhol ou português. Com a declaração da
independência política ocorre apenas uma transferência de subordinação, pois
passam a ficar dependentes economicamente da Inglaterra, a grande potência
mundial durante os séculos XVIII e XIX, desempenhando as mesmas funções na
Divisão Internacional do Trabalho.

Ao longo do século XIX, a Inglaterra foi ocupando o lugar deixado


pelas antigas metrópoles, através do imperialismo, quando estas perderam
seus domínios coloniais na América Latina. A Inglaterra passou a ser a grande
compradora de produtos minerais e agrícolas dos países latino-americanos, sempre
a preços muito baixos e ao mesmo tempo, fornecia para esses países produtos
manufaturados a preços altíssimos. Esta Divisão Internacional do Trabalho com
domínio econômico que a Inglaterra exercia sobre a América Latina (imperialismo)
perdurou até a metade do século XX, quando então a sua participação na Segunda
Guerra Mundial fez com que sofresse um enfraquecimento e consequente
declínio econômico e militar. Assim os Estados Unidos assumiram o papel de
grande líder do continente americano, sedimentando seu domínio imperialista
sobre a América Latina. O capitalismo mundial passa por transformações, com a
internacionalização do capital e das empresas industriais. As principais indústrias
localizadas em países centrais se expandem e instalam filiais em vários países,
como Brasil, México, Argentina, Chile, organizando assim uma nova Divisão
Internacional do Trabalho.

8
TÓPICO 1 | LOCALIZAÇÃO E REGIONALIZAÇÃO

UNI

Na Unidade 3, haverá uma seção explicando a industrialização tardia dos países


emergentes da América Latina.

3.4 CARACTERÍSTICAS DOS PAÍSES LATINO-


AMERICANOS E RELAÇÃO CENTRO-PERIFERIA
Apesar de os países latino-americanos apresentarem diferenças quanto
ao espaço natural, características culturais e grau de desenvolvimento, todos
eles possuem em comum a questão do subdesenvolvimento. Essa situação se
manifesta claramente na qualidade de vida das populações caracterizada pelas
desigualdades sociais e economias frágeis e dependentes. Além destas duas
principais características gerais, podem ainda ser elencadas outras características
comuns aos países, embora com diferentes níveis, conforme o país. Estas são:

• Forte dependência científica e tecnológica em relação aos países desenvolvidos;


• Interferência de capital estrangeiro na vida econômica e política do país;
• Economias dependentes de empréstimos externos para aquecer o mercado
interno, o que resulta na dívida externa;
• O alto custo da dívida externa dos latino-americanos faz com que o dinheiro
que poderia ser aplicado em melhorias para o bem-estar da população seja
destinado ao pagamento da dívida;
• Relações comerciais muito desfavoráveis, pois exportam produtos primários e
importam produtos industrializados;
• Populações vivendo em péssimas condições de vida e que ainda lutam para
resolver suas necessidades básicas como alimentação, habitação, educação,
assistência médico-hospitalar e abastecimento de água tratada;
• Baixa renda per capita, elevadas taxas de natalidade, mortalidade infantil e
crescimento vegetativo;
• Índices de concentração de renda elevados, que se mantiveram ou aumentam,
nos últimos anos, que vêm agravar a pobreza da população;
• Crises econômicas, seguidas de períodos de recessão ou retração econômica,
o que causa desemprego, falências, agravando a concentração de renda e
aumentando a pobreza;
• Indicadores sociais contraditórios em relação ao conjunto das condições
econômicas. Alguns países, Brasil por exemplo, conseguiram reduzir a
porcentagem de pobreza absoluta. Isso quer dizer que, aproveitando os recursos
dos períodos favoráveis, como a década de 1990, algumas nações reduziram
índices de analfabetismo e mortalidade infantil, mas não conseguiram
melhorar a distribuição de renda entre toda a população;
9
UNIDADE 1 | AMÉRICA LATINA: CONTEXTUALIZAÇÃO, REGIONALIZAÇÕES E VULNERABILIDADE AMBIENTAL

• Risco em relação a investimentos estrangeiros altos, o que fez diminuir o fluxo


de capital estrangeiro para a América Latina, principalmente entre os anos de
2001 e 2002.

E
IMPORTANT

Os países emergentes, de industrialização tardia se inserem numa Divisão


Internacional do Trabalho em que, além de produzirem e exportarem produtos primários,
as commodities produzem e exportam produtos industrializados, principalmente, produtos
de indústrias da Segunda Revolução Industrial, e bens de consumo duráveis e não
duráveis. Continuam importando capitais, tecnologias e produtos das indústrias da Terceira
Revolução Industrial. Ressalta-se sobre a complexidade desta realidade, pois atualmente,
alguns países emergentes também industrializam produtos da Terceira Revolução Industrial,
principalmente na área da informática, telecomunicações, energias alternativas, eletrônica,
sem conseguirem superar problemas sociais, ou permitirem uma distribuição de renda
mais equitativa.

E
IMPORTANT

Commodities é uma palavra em inglês, é o plural de commodity que


significa mercadoria. Esta palavra é usada para descrever produtos de baixo valor agregado.
Assim, commodities são artigos de comércio internacional, bens que não sofrem processos
de alteração (ou que são pouco diferenciados), como frutas, legumes, cereais e alguns metais.
Como seguem um determinado padrão, produzidos em larga escala e comercializados
mundialmente, o preço das commodities é negociado na Bolsa de Valores Internacionais,
e depende de algumas circunstâncias do mercado, como a oferta e demanda. Muitas vezes
a palavra commodities pode ser sinônimo de “matéria-prima”, porque são produtos usados
na criação de outros bens.

O Brasil é um grande produtor de algumas commodities como café, laranjas, petróleo,


alumínio, minério de ferro etc.

Deste modo, os países latino-americanos compartilham um processo


histórico de colonização semelhante, e apresentam uma forte dependência
de capital externo, em suas relações comerciais e econômicas. Por outro lado,
apresentam grandes diferenças quanto ao grau de desenvolvimento econômico e
social. Países como o Brasil, a Argentina e o México se destacam na economia latino-
americana por apresentarem uma intensa e diversificada atividade industrial,
que os projeta a nível mundial, mas mantêm índices elevados de concentração
de renda, problemas sociais e atividades ilícitas como o contrabando e tráfico

10
TÓPICO 1 | LOCALIZAÇÃO E REGIONALIZAÇÃO

de drogas. Alguns setores da indústria e mesmo do comércio se equiparam e


até mesmo superam os países desenvolvidos europeus, embora convivam com
setores que mantêm atividades tradicionais. Por outro lado, se existem países
de economia forte, a exemplo do Brasil, existem também países primários de
fraquíssima industrialização e que vivem quase exclusivamente da produção e
exportação de commodities agrícolas.

Assim, essas diferenças econômicas e sociais se manifestam dentro de um


mesmo país, em cujas cidades podemos encontrar riqueza e pobreza vivendo lado
a lado. Uma minoria da população gozando de todos os prazeres que o dinheiro
e a tecnologia podem oferecer convive com a grande massa populacional que
muitas vezes não tem o que comer.

As conexões e intercâmbios entre os países capitalistas subdesenvolvidos


e desenvolvidos se inserem numa relação capitalista desigual recebem a
denominação de centro-periferia. Os países capitalistas subdesenvolvidos
são popularmente chamados países capitalistas periféricos ou da periferia por
desempenharem um papel de fornecedores de insumos como matérias-primas,
de energia, de lucros, de royalties para os países capitalistas desenvolvidos, que
compõem uma centralidade e polarização capitalista, por serem países centrais ou
avançados. Deste modo, o sistema capitalista possui estes dois setores, (centro e
periferia), onde a palavra sistema significa um conjunto de atividades articuladas,
complementares e articuladas entre si, na relação centro- periferia.

Os países capitalistas de industrialização clássica, desenvolvidos, ocupam


o centro, por assimilar o desenvolvimento técnico em seus estágios mais avançados,
possuindo estruturas diversificadas e integradas, especializadas em tecnologias
de ponta, em conhecimento científico altamente avançado e hiperespecializado.

Os países capitalistas centrais, representados principalmente pelo grupo


de países que compõem o G7 e organismos supranacionais (Fundo Monetário
Internacional e Banco Mundial) por vezes liderados pelos Estados Unidos,
dominam todo o sistema capitalista, em virtude do seu poderio econômico,
financeiro, científico tecnológico e militar. Desse modo os países capitalistas
subdesenvolvidos, também denominados países periféricos ocupam a periferia
do sistema, ou seja, a sua extremidade e são dominados ou giram ao redor dos
países centrais. Isso quer dizer que os países capitalistas subdesenvolvidos estão
numa posição de dependência e subordinação dentro do sistema capitalista, na
condição de fornecedores de matérias-primas, de mercados consumidores, de
mão de obra barata, com pequeno poder de decisão nas questões econômicas
e políticas mundiais e não se beneficiam da riqueza. Importante ressaltar que
existem países desenvolvidos que se situam numa periferia privilegiada do
sistema capitalista, como por exemplo, a Austrália e Nova Zelândia, pois estes
são considerados desenvolvidos.

11
UNIDADE 1 | AMÉRICA LATINA: CONTEXTUALIZAÇÃO, REGIONALIZAÇÕES E VULNERABILIDADE AMBIENTAL

FIGURA 2 – FLUXOS ENTRE CENTRO, SEMIPERIFERIA E PERIFERIA

FONTE: Disponível em: <http://pt.slideshare.net/guest87c201/globalizao-1416732>. Acesso em:


10 nov. 2015.

12
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico você viu que:

• O continente americano é dividido em América do Sul, América Central e


América do Norte, considerando a localização geográfica na superfície terrestre
decorrente da evolução e transformação geológica das terras e massas.

• O continente americano é dividido em América Latina e América Anglo-


Saxônica considerando num primeiro momento o tipo de colonização
implantado e povos colonizadores e num segundo momento as condições
socioeconômicas que diferenciam os dois conjuntos.

• A América Latina compreende um conjunto de 36 países, sendo eles o México,


da América do Norte, os países da América Central e os da América do Sul.

• Na América Latina, portugueses e espanhóis implantaram a colonização de


exploração, cujos objetivos eram explorar ao máximo as riquezas naturais
destas terras e retornar para Portugal e Espanha.

• A colonização de exploração foi incentivada e batizada pelas metrópoles


através do pacto colonial, orientado pelo mercantilismo.

• O tripé que sustentou a colonização de exploração implantada pelos


colonizadores era apoiado na apropriação de enormes extensões de terras
em nome das coroas portuguesas e espanhola, na monocultura de produtos
tropicais, e na utilização de mão de obra escrava (inicialmente dos nativos e
posteriormente dos negros africanos).

• Plantation era a denominação dada pelos espanhóis para a modalidade


agrícola desenvolvida em suas colônias baseada no latifúndio, monocultura
para exportação e utilização da mão de obra escrava.

• A 1ª Divisão Internacional do Trabalho, que é a especialização das regiões


e países para produção para o mercado internacional constitui na relação
Colônia – Metrópole. Colônias de exploração produzindo e exportando
para a Metrópole, matérias-primas (agrícolas e minerais) a preços baixos, e
comprando, importando produtos manufaturados a preços altos.

• Com a independência política dos países latino-americanos no decorrer do


século XIX, estes deixaram de ser subordinados às metrópoles Portugal e
Espanha, e passaram a ser área de influência da Grã-Bretanha, especificamente
da Inglaterra. Sua condição socioeconômica de dependência econômica e
disparidades sociais existentes desde o período colonial se perpetuou.

13
• A influência da Inglaterra, (principal potência econômica do século XIX),
ocorreu através do imperialismo, uma prática com exercício de supremacia
e hegemonia, com interferência e controle, às vezes mais direto e ousado,
outras vezes mais sutil e mascarado nos países latino-americanos recém-
independentes através de empréstimos de capitais e tecnologias, presença
de empresas, bancos, construção de infraestrutura e apoio a governantes
simpáticos às suas ações.

• No decorrer do século XX, o imperialismo britânico foi substituído pelo


estadunidense, visto que Reino Unido da Grã-Bretanha (da qual a Inglaterra
faz parte) saiu enfraquecida das Guerras Mundiais enquanto Estados Unidos
se fortaleceram.

• Dentre as características comuns aos países latino-americanos destacam-se a


desigualdade social e a dependência econômica. Citam-se ainda, a dependência
de capitais e tecnologias estrangeiros, os quais geram dívidas externas, cujos
juros exigem das economias endividadas, políticas que priorizem os interesses
do capital e dos organismos supranacionais (Fundo Monetário Internacional
e Banco mundial), em detrimento de políticas públicas de cunho social nas
áreas da educação, saúde, segurança, moradia e outras. Apesar das melhorias
em alguns países, principalmente no conjunto dos que fazem parte do BRICS
(Brasil e México), persistem índices de concentração de renda elevados. Parcela
significativa da população latina continua vivendo sem ter atendidas suas
necessidades básicas.

14
AUTOATIVIDADE

Leia o texto e responda:

Na América Latina prevaleceu a colonização cuja característica


principal foi a exploração do trabalho indígena e do escravo negro, trazido
da África. Já na América Anglo-Saxônica, o tipo de colonização privilegiou o
trabalho familiar livre e assalariado.

a) Que tipo de colonização ocorreu na América Latina? E na América Anglo-


Saxônica?

b) Quais países europeus colonizaram, predominantemente, cada porção da


América?

c) Que línguas predominaram como oficiais nos países americanos, devido à


colonização?

15
16
UNIDADE 1
TÓPICO 2

AS POSSÍVEIS REGIONALIZAÇÕES
DA AMÉRICA LATINA

1 INTRODUÇÃO
Estudar a diversidade das Américas é um grande desafio para a geografia.
Dependendo dos objetivos do geógrafo, ou do professor de geografia escolar
poder-se-á adotar diferentes critérios que permitirão dividir o continente de
diferentes maneiras, separando a América conforme as semelhanças e diferenças
geográficas existentes no seu território. Cada região possui características
diferentes das demais regiões, por isso são separadas. Existem diferentes formas
de dividir a América em regiões. Três divisões regionais são as mais conhecidas
e utilizadas pelos estudiosos: Física ou Geográfica, Socioeconômica e Histórico-
cultural.

Os países que compõem a América Latina formam uma “grande família”,


que vai desde o México na América do Norte, passa pela América Central e
termina no Extremo Sul da América do Sul. Para facilitar seu estudo, vamos
dividi-la inicialmente, observando critérios de localização geográfica, onde
se destacam elementos físicos: América Platina, países ligados à bacia Platina:
Paraguai, Argentina e Uruguai; a América Andina, Bolívia, Chile, Colômbia,
Equador, Peru e Venezuela; América Central, abrange o trecho do Istmo e as
Antilhas, Guianas, México e Brasil.

2 APONTAMENTOS SOBRE OS ELEMENTOS


FÍSICOS DENTRO DO CONTEXTO DE UMA DIVISÃO
REGIONAL GEOGRÁFICA - FÍSICA
A regionalização geográfica e física divide o continente americano
conforme as características naturais considerando o formato do continente. O
formato do continente americano e seus subcontinentes são resultado do tempo
geológico. Se observarmos a América, temos duas grandes porções de terras na
América do Norte e América do Sul, interligadas por uma terceira porção estreita
de terra na (ou da) América Central. Outro aspecto interessante dessa divisão
é que cada uma das três regiões está sobre uma placa tectônica diferente, como
mostra o mapa a seguir:

17
UNIDADE 1 | AMÉRICA LATINA: CONTEXTUALIZAÇÃO, REGIONALIZAÇÕES E VULNERABILIDADE AMBIENTAL

FIGURA 3 – MAPA IDENTIFICANDO AS PLACAS TECTÔNICAS DO MUNDO E O CONTINENTE


AMERICANO

FONTE: Disponível em: <www.curso-objetivo.br>. Acesso em: 10 nov. 2015.

2.1 A TECTÔNICA DE PLACAS NA


AMÉRICA LATINA E RELEVO
Se por um lado a regionalização do ponto de vista geográfico ou físico é
uma das mais utilizadas e conhecidas, o processo geológico responsável pela sua
fisionomia é um tanto desconhecido ou, pouco estudado na geografia escolar.
Alguns elementos geológicos, principalmente os localizados nas bordas das placas
tectônicas são responsáveis por eventos sísmicos e vulcânicos, que dependendo
da localização, modelam e orientam a relação sociedade-espaço, resultando num
ordenamento socioespacial que se adaptou a estes eventos geológicos, como se
observa no Chile. Os sismos, quando ocorrem em áreas de maior vulnerabilidade,
como foi o caso do Haiti, em 2010, poderá causar desastres socionaturais
dependendo da vulnerabilidade de suas populações, exigindo dos governantes
políticas públicas para mitigar possíveis catástrofes.

A América do Sul é a área que se estende do sul do istmo do Panamá ao cabo


Horn, perfazendo sete mil quilômetros de extensão norte e sul e apresentando um
formato triangular, suas terras atingem a maior largura na altura do Equador e se
afunilam em direção ao sul do continente americano, onde terminam nos mares
austrais. Atravessado pela linha do Equador ao norte do Brasil e do Equador no
sul da Colômbia. A América do Sul tem uma área de 17 815 000 Km² dos quais
cerca de três quartos estão localizados na zona intertropical, ou seja, entre os
trópicos de Câncer e Capricórnio.

18
TÓPICO 2 | AS POSSÍVEIS REGIONALIZAÇÕES DA AMÉRICA LATINA

A América Latina é uma extensão territorial de grande diversidade


geográfica, contando com extensas e elevadas cadeias montanhosas, cujos picos
elevados são cobertos de neve e geleiras, (onde podem se localizar vulcões ativos
e inativos), extensas planícies, vales, depressões e outras formas de relevo.

FIGURA 4 – ALTIPLANOS COLOMBIANOS E PERUANOS

FONTE: Disponível em: <https://c1.staticflickr.com/5/4092/5028508397_ff95487186_b.jpg> e


<http://www.wikiwand.com/es/Suri_(alpaca)>. Acesso em: 10 nov. 2015.

Devido à sua extensão latitudinal, possui ampla variedade de climas, e


alguns dos rios mais extensos do planeta, lagos, salinas, pântanos, cujas extensões
são cobertas por diferentes biomas. Seu litoral apresenta-se irregular, destacando-
se três grupos costeiros: o do Pacífico, do Atlântico, e do Caribe. As reentrâncias
possuem praias arenosas, recifes coralinos e mangues, todos em diferentes
estados de conservação.

19
UNIDADE 1 | AMÉRICA LATINA: CONTEXTUALIZAÇÃO, REGIONALIZAÇÕES E VULNERABILIDADE AMBIENTAL

FIGURA 5 – LOCALIZAÇÃO DE LAGOS NA CORDILHEIRA DOS ANDES, ARGENTINA PRÓXIMO À


FRONTEIRA CHILENA

FONTE: Disponível em: <http://www.villadeayora.com/blog/travel-and-adventure-in-la-


angostura-neuquen/>. Acesso em: 10 nov. 2015.

A geografia física da América Latina e do Caribe é muito complexa.


A vertente do lado Pacífico está delineada pelas serras centro-americanas e
mexicanas e pela grande extensão montanhosa na América do Sul, a Cordilheira
dos Andes, onde também se destacam áreas planas, os platôs, intercalados com
altiplanos da Bolívia, as terras altas do Peru, altiplanos na Colômbia, vales e
planícies pouco extensas na América Central e México.

20
TÓPICO 2 | AS POSSÍVEIS REGIONALIZAÇÕES DA AMÉRICA LATINA

Na área marítima leste entre as Américas do Sul e do Norte, se formou


um conjunto insular em forma de arco, as grandes e pequenas Antilhas do
Caribe. Observe no mapa a disposição das Grandes e Pequenas Antilhas.

FIGURA 6 – MAPA: AMÉRICA CENTRAL, ISTMO E ANTILHAS

FONTE: Disponível em: <http://www.infoescola.com/wp-content/uploads/2007/07/america-


central.jpg>. Acesso em: 10 nov. 2015.

E
IMPORTANT

O arquipélago das Bahamas é uma exceção do ponto de vista geomorfológico,


pois este se formou a partir da acumulação de corais. Os recifes de corais em franja são
formações simples e próximas aos continentes ou a ilhas. Este é o tipo mais comum de
recife. Diversas formações em franja ocorrem no Caribe, próximo à Florida e às Bahamas.
No passado geológico, em condições favoráveis, os recifes de corais transformaram-se
nas ilhas que constituem o arquipélago das Bahamas.

A formação dos recifes de corais deve ser entendida na extensão do tempo geológico:
há 500 milhões de anos, minúsculos animais sem esqueleto e flutuantes, associaram-se a
algas microscópicas e fixaram-se às rochas, formando colônias. Estes animais coloniais não
são mais do que os corais e a concentração destas colônias dão origem a áreas naturais

21
UNIDADE 1 | AMÉRICA LATINA: CONTEXTUALIZAÇÃO, REGIONALIZAÇÕES E VULNERABILIDADE AMBIENTAL

inigualáveis, pela sua cor, beleza, forma e grande variedade de vida – os recifes de coral. Os
recifes de coral, verdadeiros oásis de vida marinha, são dos mais produtivos ecossistemas
do planeta. Fruto de longas histórias evolutivas, estes sistemas são extremamente frágeis e
susceptíveis à perturbação natural e humana.

As viagens dos portugueses, no período dos descobrimentos, proporcionaram a descoberta


dos recifes de coral no oceano Índico. No Atlântico, a viagem de Colombo, em 1492,
permitiu a descoberta das Bahamas e de Cuba, onde se encontram recifes de coral típicos.
Em anos seguintes, ainda antes do fim do século XV, novas descobertas vieram enriquecer
os conhecimentos dos europeus referente às ilhas do Caribe.

FONTE: RIBEIRO, Susana. Disponível em: <http://naturlink.sapo.pt/Natureza-e-Ambiente/


Sistemas-Aquaticos/content/Recifes-de-Coral-sua-Historia-e-Evolucao?bl=1&viewall=-
true>. Acesso em: 30 out. 2015.

FIGURA 7 – MAPA ILHAS DAS BAHAMAS

FONTE: Disponível em: <http://www.atozmapsdata.com/zoomify.asp?name=Country/


Modern/Z_Bahama_Phys>. Acesso em: 10 nov. 2015.

22
TÓPICO 2 | AS POSSÍVEIS REGIONALIZAÇÕES DA AMÉRICA LATINA

A extensa vertente sul-americana do oceano Atlântico se localiza numa


estrutura geológica mais estável, se comparada à placa tectônica onde se localiza o
México, e a placa Caribenha, onde se localiza a América Central e ilhas do Caribe.

De modo geral, o interior da placa tectônica sul-americana, onde se


localiza o continente sul-americano é estável, possuindo poucas falhas geológicas
ativas, porém são registradas atividades sísmicas e vulcânicas em suas bordas,
tanto no Oceano Atlântico, como no oceano Pacífico, próximo da costa oeste
do continente. O processo tectônico que ocorre entre os limites da placa sul-
americana e africana, é divergente, ou seja, as placas estão formando em suas
bordas, no assoalho oceânico, cristas em expansão ou margens construtivas. O
magma aflorou e ainda pode aflorar próximo da superfície causando afastamento
das placas, e formando uma dorsal submarina. Por vezes estes movimentos são
sentidos no litoral brasileiro. Já na borda oeste da placa tectônica sul-americana,
no encontro com a placa de Nazca, o processo tectônico é muito diferente, pois é
um limite convergente, ou seja, as placas colidem, e a placa de Nazca submerge
e mergulha por debaixo da sul-americana, retornando à astenosfera ou manto
superior, se liquefazendo. No decorrer do tempo geológico, entre o final da era
mesozoica e no início da era cenozoica as transformações e pressão interna dos
materiais decorrentes destes processos de subducção, formaram a Cordilheira dos
Andes, considerados na estrutura geológica Dobramentos Modernos. No Oceano
Pacífico, próximo do litoral oeste da América do Sul, principalmente litoral
chileno e peruano, a convergência crosta oceânica – crosta continental formou
a fossa submarina abissal. Este processo geológico de subducção é responsável
pela atividade vulcânica que ocorre de tempos em tempos nos vulcões ativos
que se localizam na Cordilheira dos Andes, e atividades sísmicas que tanto em
terras continentais como no fundo do Oceano Pacífico, a exemplo dos terremotos
seguidos de tsunamis que afetaram principalmente o Chile. (ALMEIDA, 2005b).

UNI

A título de curiosidade, em 2010 o mundo foi surpreendido por três grandes


terremotos: o do Haiti, de magnitude 7, em 12 de janeiro, o do Chile, de magnitude 8,8, em
27 de fevereiro, e o do México, de magnitude 7,2, em 4 de abril.

23
UNIDADE 1 | AMÉRICA LATINA: CONTEXTUALIZAÇÃO, REGIONALIZAÇÕES E VULNERABILIDADE AMBIENTAL

A América Central, formada por uma parte continental, denominada de


ístmica, e Grandes e Pequenas Antilhas, localiza-se sob a placa Caribenha ou do
Caribe. Esta placa constitui o fundo do mar do Caribe, faz fronteira com as placas
norte-americana, sul-americana, Nazca e com a placa de Cocos. Estas fronteiras
são regiões de intensa atividade sísmica, incluindo terremotos, tsunamis,
ocasionais e erupções vulcânicas.

FIGURA 8 – MAPA PLACA TECTÔNICA DO CARIBE OU CARIBENHA E SUAS FRONTEIRAS

FONTE: By Alataristarion [CC BY-SA 4.0 (<http://creativecommons.org/licenses/by-sa/4.0>)], via


Wikimedia Commons disponível em: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Tectonic_plates_
boundaries_detailed-en.svg>. Acesso em: 10 nov. 2015.

Diferente da placa sul-americana, a do Caribe possui várias falhas


geológicas ativas ou instáveis (exemplo, falha de Motagua na Guatemala, das
ilhas Swan em Honduras, túmulo de Cayman, elevação divergente no fundo
do mar do Caribe, próximo de Cuba, o Trench de Puerto Rico, uma trincheira
marinha localizada na fronteira submarina entre o mar do Caribe e oceano
atlântico, sistema de falhas Setentrional e, Enrillo-Plaintain Garden, na ilha de
Hispaniola onde se localiza o Haiti e a República dominicana. O terremoto de
2010 no Haiti foi excepcional, porque a falha geológica do sistema Enriquillo-
Plaintain localizada ao sul se movimentou, cujo limite entre a placa do Caribe e
a da América do Norte é próximo e a falha está praticamente dentro da cidade
de Porto Príncipe, de população elevada e construções não preparadas para

24
TÓPICO 2 | AS POSSÍVEIS REGIONALIZAÇÕES DA AMÉRICA LATINA

suportar grandes vibrações (LIMA, 2010). No Haiti, a parte da falha que se


deslocou causando o terremoto, tinha aproximadamente 50 km de comprimento.
(LIMA, 2010).

FIGURA 9 – MAPA: FALHA ENRIPQILLO-PLAINTAIN GARDEN, SUL DO HAITI

FONTE: Disponível em: <https://geoazur.oca.eu/spip.php?rubrique424>. Acesso em: 14 nov. 2015.

UNI

Caro(a) acadêmico(a), é importante acompanhar diferentes informações


sobre o mesmo fenômeno geográfico. Leia notícia divulgada em outubro de 2010, no G1,
disponível em: <http://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/2010/10/dados-de-satelite-
indicam-verdadeira-causa-do-terremoto-no-haiti.html>. Segundo a notícia, o terremoto
de magnitude 7 que matou cerca de 200 mil haitianos no início de 2010, pode não ter sido
causado especificamente pelo deslocamento na falha geológica de Enriquillo-Plantain Garden,
como os cientistas imaginavam e explicada no parágrafo anterior. Segundo a notícia, cientistas
norte-americanos, baseados em imagens de satélite do período em que ocorreram os tremores
de janeiro de 2010, apresentaram como provável “verdadeira” causa um colapso de múltiplas
falhas, sendo que uma delas, mais profunda, nem é conhecida pelos geólogos. As conclusões
foram publicadas no site da revista especializada “Nature Geoscience”. A falha de Enriquillo é a
“fronteira” entre a placa tectônica do Caribe e a placa Norte-Americana.

25
UNIDADE 1 | AMÉRICA LATINA: CONTEXTUALIZAÇÃO, REGIONALIZAÇÕES E VULNERABILIDADE AMBIENTAL

DICAS

Leia também apenas a título de curiosidade estes dois textos, dos links a
seguir, que relacionam as causas do terremoto do Haiti a outras causas. Imagino que
você, caro(a) acadêmico(a), tenha ficado perplexo e surpreso! No entanto, ressaltamos que
podemos encontrar muitas informações equivocadas na internet, assim cabe lembrar que
o conhecimento científico deve sempre respaldar nossas práticas pedagógicas.

<https://franciscofalconi.wordpress.com/2010/02/03/militares-russos-acusam-eua-de-
causar-terremoto-no-haiti/>

<http://www.tecmundo.com.br/tecnologia-militar/8018-haarp-o-projeto-militar-dos-eua-
que-pode-ser-uma-arma-geofisica.htm>

2.2 BACIAS HIDROGRÁFICAS


De maneira geral, a formação do relevo da América Latina é o resultado
de processos geológicos e ação erosiva, decorrentes dos processos externos
do intemperismo. Destacam-se ao norte a Serra Madre Ocidental e o Planalto
Mexicano, a oeste a Cordilheira dos Andes, a Leste o Planalto Brasileiro, no norte
da América do Sul, o Planalto das Guianas e nas áreas centrais do continente a
planície de Orenoco, planície Amazônica e planície Platina. As diferentes formas
de relevo e localização das vertentes das bacias hidrográficas orientam por sua
vez a distribuição e drenagem dos cursos dos rios das vias fluviais. Relevo e
hidrografia estão amplamente integrados.

Em relação à distribuição das bacias hidrográficas, as principais são: Bacia


do Orenoco, Bacia Amazônica, Bacia Platina, bacias secundárias da vertente do
Atlântico, como por exemplo, a Bacia Amazônica, como mostra a figura a seguir.

26
TÓPICO 2 | AS POSSÍVEIS REGIONALIZAÇÕES DA AMÉRICA LATINA

FIGURA 10 – EXTENSÃO DA BACIA AMAZÔNICA

FONTE: Disponível em: <www2.ana.gov.br>. Acesso em: 10 nov. 2015.

Os limites entre as bacias hidrográficas encontram-se nas partes mais


altas do relevo e são denominados divisores de água, pois separam as águas de
diferentes bacias. A topografia do terreno é responsável pela drenagem da água
da precipitação pluviométrica, a chuva, para esse curso de água. A superfície
da Terra é drenada por um rio principal, seus afluentes e subafluentes. Entre
as bacias hidrográficas encontram-se as partes mais altas do relevo que são os
divisores de águas, uma vez que separam as águas de bacias. Entre o divisor de
água e o rio principal está o declive, por onde correm as águas dos afluentes está
a vertente. Deste modo, as águas são depositadas no leito do rio que em época de
cheia pode transbordar para as margens baixas e planas que o acompanham e que
constituem as várzeas. Como por exemplo, a Bacia Amazônica. O rio Amazonas
atravessa uma área plana e pouco profunda, o rio é largo e apresenta um elevado
volume de água. Essas são características também dos trechos de seus afluentes.

Observe o mapa do relevo da América do Sul, e principais bacias


hidrográficas (o mapa colorido pode ser observado no arquivo em PDF deste
Caderno de Estudos). Observe que os principais rios desaguam no oceano
Atlântico, em função da disposição do relevo. As cidades localizadas nos
altiplanos da Cordilheira dos Andes e as localizadas no litoral do oceano Pacífico,
utilizam os poucos rios da vertente do Pacífico para abastecimento de água como
para produção de eletricidade. Para complementar suas necessidades hídricas
muitos países e cidades dependem das geleiras.
27
UNIDADE 1 | AMÉRICA LATINA: CONTEXTUALIZAÇÃO, REGIONALIZAÇÕES E VULNERABILIDADE AMBIENTAL

TURO S
ESTUDOS FU

Sobre as geleiras, seu derretimento e desaparecimento e problemas para


abastecimento de água em cidades como La Paz, Sucre e Lima, veja texto sobre
vulnerabilidade.

FIGURA 11 – MAPA DO RELEVO DA AMÉRICA DO SUL

FONTE: Disponível em: <websites.listas.com.br>. Acesso em: 10 nov. 2015.

28
TÓPICO 2 | AS POSSÍVEIS REGIONALIZAÇÕES DA AMÉRICA LATINA

A Cordilheira dos Andes constitui-se num dos cinturões orogenéticos mais


ricos do mundo, por suas reservas de hidrocarbonetos e minas metalíferas. 95%
das reservas de petróleo e gás natural da América Latina e Caribe se encontram nas
bacias andinas que vão desde a costa caribenha até o sul da Venezuela e passando
pelo leste da Colômbia, Equador e norte do Peru. (PNUMA; CATHALAC, 2010).

2.3 CLIMAS E VEGETAÇÕES


Na extensão territorial da América Latina que se situa na zona
intertropical, predominaram climas quentes e úmidos, com exceção das terras
de altitude do Equador, Bolívia e Peru, onde os climas apresentam baixas
temperaturas e poucas chuvas. Já as terras localizadas nas áreas temperadas,
ao sul do trópico de Capricórnio, possuem climas mesotérmicos, temperados
ou subtropicais, com chuvas bem distribuídas durante o ano, a exemplo da
região Sul do Brasil. No extremo sul da Argentina e do Chile, bem como nas
áreas montanhosas dos Andes, os climas são mais rigorosos, uma vez que dois
fatores climáticos (altas latitudes e altitudes) atuam em conjunto, mantendo
temperaturas baixas, com ocorrência de neve e ausência de chuvas. O norte
do México que se localiza ao norte do trópico de Câncer, o clima apresenta
temperaturas mais amenas oscilando entre climas secos e semiúmidos em
função do relevo (altitude) e fatores de continentalidade e maritimidade.

Destacam-se as principais paisagens vegetais: Floresta Amazônica,


Cerrado, Caatinga, Pampa ou Estepes e desertos do México, Atacama e
Patagônia.

Na América do Sul suas principais planícies centrais são a Amazônica


e Platina, são pouco povoadas e nelas se destacam a pesca, o extrativismo e a
pecuária. Sobre a vegetação poucas áreas do continente americano apresentam
vegetação original ou primitiva que não tenham sofrido interferência humana. A
vegetação original é importante pois ela é interdependente de outros elementos
da natureza, como o relevo, a hidrografia, o clima e o solo. Isso quer dizer que a
derrubada das florestas, e construção de ferrovias, rodovias, e hidrelétricas para
extrair os recursos das florestas ou expandir cidades, provoca modificações nos
outros elementos naturais. Observe a figura a seguir do cerrado brasileiro e
para elencar elementos geográficos naturais deste bioma.

29
UNIDADE 1 | AMÉRICA LATINA: CONTEXTUALIZAÇÃO, REGIONALIZAÇÕES E VULNERABILIDADE AMBIENTAL

FIGURA 12 – CERRADO BRASILEIRO

FONTE: Disponível em: <http://www.estudopratico.com.br>. Acesso em: 10 nov. 2015.

Nas regiões de clima tropical semiúmido, com uma estação chuvosa e


outra seca, ocorrem formações vegetais que apresentam campos com arbustos,
plantas rasteiras e árvores esparsas de troncos retorcidos e casca grossa. É a
savana que recebe os nomes de cerrado no Brasil e lhanos na Venezuela.

As florestas pluviais são formações vegetais típicas das regiões do


continente americano localizadas em baixas latitudes. O calor constante e
a forte umidade são fatores fundamentais para a existência de uma grande
diversidade de espécies vegetais tanto nas Florestas Tropicais quanto nas
Equatoriais. Outro importante fator para o desenvolvimento da vegetação é o
solo, os solos de algumas florestas pluviais são pouco férteis, mas em sua parte
superior apresentam uma camada muito rica de material orgânico conhecida
como Húmus, esse é formado pela própria floresta, como folhas, galhos e micro-
organismos. As Florestas Pluviais são chamadas também de Latifoliadas porque
apresentam folhas grandes e largas, permanecem sempre verdes e exuberantes
graças à intensa umidade da atmosfera.

As raízes são superficiais e os troncos costumam ser largos perto da


base, de modo que fornecem fixação ampla e firme. Há numerosas trepadeiras
lenhosas, cipós e epífitas, plantas que usam tronco das árvores como superfície
de apoio. As epífitas podem obter água e minerais diretamente do ar úmido da
folhagem. Muitas possuem as folhas em forma de taça que capturam a umidade
e restos orgânicos, algumas possuem raízes esponjosas. Certas epífitas absorvem
nutrientes de organismos em decomposição nesses reservatórios. Muitos tipos

30
TÓPICO 2 | AS POSSÍVEIS REGIONALIZAÇÕES DA AMÉRICA LATINA

de plantas como samambaias, orquídeas, musgos e líquens, exploram esse tipo


de vida. Nas figuras a seguir é possível observar a localização das florestas
pluviais e o tipo de vegetação.

FIGURA 13 – LOCALIZAÇÃO E UM DOS TIPOS DA FLORESTA PLUVIAL

FONTE: Disponível em: <http://meioambiente.culturamix.com/ecologia/flora/floresta-tropical-


pluvial>. Acesso em: 10 nov. 2015.

A pradaria é formada basicamente por gramíneas, podendo ocorrer


alguns arbustos, é uma vegetação típica do clima temperado continental, que se
caracterizam por verões quentes, invernos frios e baixa pluviosidade. No Brasil a
pradaria recebe o nome campos, que ocorrem em sua maioria no estado do Rio
Grande do Sul, mas também pode ser encontrado como manchas menores em
outros estados. As áreas de pradarias foram muito utilizadas para a pecuária, o que
causou intensa devastação desse tipo de vegetação e desgaste dos solos. Nessas
áreas desgastadas predomina o cultivo de grãos, sobretudo, soja, milho e trigo.

Os estepes, outro tipo de vegetação da América Latina ocorre nas áreas


de clima semiárido do continente, onde as temperaturas são elevadas e as chuvas
escassas e mal distribuídas, como no México e na Argentina, a estepe é uma
vegetação rasteira dominada por pequenas plantas. No Brasil encontra-se no
Nordeste e recebe o nome de caatinga apresentando pequenas árvores, arbustos
espinhosos e cactos. Já os desertos são áreas marcadas por intensa aridez, isto é,
por pouca ocorrência de chuva. Na América, eles ocorrem no noroeste do México,
na costa do Peru, no norte do Chile e no sul da Argentina. As plantas existentes nas
áreas desérticas do continente americano são espinhosas ou com pequenas folhas
e possuem raízes profundas capazes de retirar água do subsolo, como mostra a
figura a seguir.

31
UNIDADE 1 | AMÉRICA LATINA: CONTEXTUALIZAÇÃO, REGIONALIZAÇÕES E VULNERABILIDADE AMBIENTAL

FIGURA 14 – VEGETAÇÃO DE ESTEPES E PRADARIAS E O DESERTO DO ATACAMA

FONTE: Disponível em: <http://www.estudopratico.com.br>. Acesso em: 10 nov. 2015.

DICAS

Sugestão de leitura: A expansão dos Desertos. Ewan Mcleish. São Paulo:


Scipione, 1992. O livro caracteriza o deserto e expõe os problemas ambientais que o faz
expandir-se pelo mundo.

Importante salientar que uma regionalização da América Latina do ponto


vista físico é apenas uma possibilidade metodológica simples para estudar e
analisar processos e elementos naturais, porém, talvez não indicada. As tendências
da ciência contemporânea e da geografia, apontam para análises socioespaciais,
pois mesmo que os fenômenos sejam naturais, estes de alguma forma, direta ou
indiretamente estão na interface da relação sociedade - natureza.

32
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico vimos que:

• Devido sua extensão e dificuldades para abarcar toda a complexidade e


peculiaridade da América Latina, é possível utilizar a regionalização como
metodologia para estudo e pesquisa. Assim, dependendo do objetivo do
professor, ou dos autores de livros didáticos e pesquisadores, existem diferentes
regionalizações do espaço geográfico latino-americano. O importante, é
sempre deixar claro aos seus leitores e alunos, quais os critérios utilizados para
a regionalização.

• Do ponto de vista geográfico ou físico os países da América Latina podem


ser agrupados em América Platina, América Andina, Guianas, Brasil, América
Central ístmica, Antilhas (Grandes e Pequenas) e México.

• Agrupamento de países latinos observando o formato do continente, resultado


do processo geológico e disposição das placas tectônicas. Cada porção
geográfica do continente da América (do Norte, Central e do Sul) se localiza
sobre uma placa tectônica diferente.

• A placa tectônica sul-americana sobre a qual se localiza a América do Sul é


relativamente estável, sendo que suas atividades sísmicas mais intensas
ocorrem nas bordas, no fundo do Oceano Atlântico e Cordilheira dos Andes e
litoral do oceano Pacífico.

• Na placa tectônica caribenha se localizam o istmo da América Central e as


Antilhas. Explicando de forma simples, esta placa possui em sua extensão
inúmeras falhas geológicas, como se fossem fissuras, que trabalham muito
lentamente, acumulando energia, e de forma abrupta pode ocorrer sua
liberação.

• A Placa Caribenha, cujas bordas fazem fronteira com as placas sul-americana,


norte-americana, Atlântica, de Cocos, Nazca, apresentaram no passado
geológico, intensa atividade sísmica e vulcânica, continuam de certa forma
instáveis sujeitas a processos tectônicos na atualidade.

• A vertente do oceano Pacífico é pouco extensa, porém com declividade


acentuada. Seus rios são pouco extensos, possuem, no entanto, corredeiras e
cachoeiras, aproveitados pelos países andinos para geração de eletricidade.
Alguns são intermitentes, pois dependem da formação e derretimento de neve
nos picos da Cordilheira.

33
• A vertente do oceano Atlântico é a mais extensa, com formas variadas de
relevo, e rios extensos e volumosos, tanto de planície e de planalto, com grande
potencial hidrelétrico, e possibilidade de navegação.

• A extensão latitudinal da América Latina (cujas terras se estendem desde


latitudes médias, próximas do Trópico de Câncer no hemisfério norte, até o
extremo sul próximo do Círculo Polar Ártico), disposição do relevo, altitudes,
maritimidade e continentalidade, atuação das massas de ar são os principais
fatores responsáveis pela variedade climática e diversidade de espécies
vegetais e animais que formam os biomas latino-americanos.

• Do ponto de vista geomorfológico a maior parte das Grandes e Pequenas ilhas


da América Central, conhecida por Caribe, é de formação geológica vulcânica
muito antiga. O arquipélago que constitui as Bahamas, é de formação orgânica,
ou seja, de origem coralígena.

• As principais bacias hidrográficas do norte para o sul são: rio Grande, na divisa
do México com os Estados Unidos, rio Orinoco, na divisa da Venezuela com
Colômbia, rio Amazonas, cujas nascentes se localizam no Peru, e afluentes
do curso superior descem das terras altas da Bolívia, Equador e Colômbia, e
demais afluentes drenam uma grande extensão do território brasileiro, rios da
bacia do Prata no cone sul da América do Sul e rio São Francisco no nordeste
brasileiro.

• Os rios das bacias principais como os das bacias secundárias, são amplamente
explorados ou utilizados pelas sociedades, para abastecimento, geração
de energia e/ou navegação, são ao mesmo tempo elementos geográficos
importantes para a manutenção, conservação e preservação do equilíbrio
ecológico dos biomas e ecossistemas de seus entornos.

34
AUTOATIVIDADE

1 A partir das características apresentadas sobre o relevo, o clima, a hidrografia


da América Latina, apresente como você observa e caracteriza a cidade
onde você mora, como está disposto o clima da sua região, procure por
um mapa do relevo da sua cidade e observe como este está disposto, se é
possível identificar alguma bacia hidrográfica, ou rios. Descreva as suas
observações, apresente mapas, imagens, gráficos, entre outros.

Relacione as suas observações com as características apresentadas


sobre a América Latina, apresente os pontos em comum, como a sua cidade
faz parte da América do Sul.

2 Os aspectos naturais de uma região são consequências da interação de


diversos fatores como o clima, solo, vegetação, relevo, entre outros. A
sociedade humana também interfere e usufrui deste ambiente. Diante do
assunto, sobre os aspectos físicos da América Latina, analise as sentenças:

I – Os principais rios da América do Sul desaguam no Oceano Atlântico, pois


o relevo auxilia para tal orientação.
II – A cordilheira dos Andes destaca-se na paisagem da América do Sul devido
sua altitude, além disso, apresenta reserva de importantes minerais.
III – Na América do Sul predominam diversos biomas, apresentando na
paisagem desde florestas pluviais até desertos.
IV – Os rios andinos são os mais importantes da América do Sul, pois são
extensos e volumosos.
V – A América Latina não sofre com terremotos ou sismos, pois encontra-se
totalmente acima de uma placa tectônica.

Assinale a alternativa CORRETA:

( ) As sentenças I, II e V estão corretas.


( ) As sentenças I, II e III estão corretas.
( ) As sentenças I, III e IV estão corretas.
( ) As sentenças II, III e V estão corretas.

35
36
UNIDADE 1
TÓPICO 3

APONTAMENTOS E CARACTERÍSTICAS
SOCIOESPACIAIS PARA UMA
REGIONALIZAÇÃO ALTERNATIVA
HISTÓRICO-CULTURAL

1 INTRODUÇÃO

Estudar a América a partir das características históricas, especialmente


as relacionadas à formação da população dos países americanos poderá ser uma
opção metodológica alternativa diante da complexidade e peculiaridades deste
grande conjunto que é a América Latina. Marcada pela miscigenação, a origem
da atual população americana se encontra na mistura ocorrida entre os povos
indígenas com europeus, africanos e asiáticos. Esse processo não se resume aos
aspectos físicos da população como cor da pele e dos olhos, mas a cultura dos
povos. Nosso continente se formou através da mistura entre as inúmeras culturas
que aqui se encontraram.

Porém, essa mistura não ocorreu de forma uniforme. Em cada região


temos o predomínio de características populacionais e culturais diferentes das
demais. A partir disso, dividimos a América em sete principais regiões culturais:
América Anglo-Saxônica, Região Centro-americana, Antilhas, Guianas,
América Andina, América Platina e América Portuguesa.

37
UNIDADE 1 | AMÉRICA LATINA: CONTEXTUALIZAÇÃO, REGIONALIZAÇÕES E VULNERABILIDADE AMBIENTAL

FIGURA 15 – MAPA: REGIÕES HISTÓRICO-CULTURAIS DO CONTINENTE AMERICANO

FONTE: Disponível em: <http://www.geografia.seed.pr.gov.br/modules/galeria/uploads/5/


america_regioes_culturais.jpg>. Acesso em: 10 nov. 2015.

2 O POVOAMENTO PRÉ-COLOMBIANO
A teoria mais aceita para o povoamento da América Latina indica que
grupos de caçadores vindos da Ásia pelo Estreito de Bering, ocupando terras da
América do Norte, com o tempo deslocaram-se para terras da América Central e
América do Sul, onde passaram a ocupar essas terras muito antes dos europeus

38
TÓPICO 3 | APONTAMENTOS E CARAC SOCIOESPACIAIS PARA UMA REGIONALIZAÇÃO ALTERNATIVA HIST-CULTURAL

chegarem aqui. Um dos indícios que dão base a essa tese são os sambaquis,
sítios arqueológicos formados por depósitos de conchas de mariscos, carcaças
de crustáceos e ossos de peixes. Encontram-se principalmente na costa do
Atlântico, mas existem também na do Pacífico. Esses indícios de que o feijão, a
abóbora, e o algodão já eram cultivados no litoral do Pacífico datam por volta
de 9000 a.C. Mas foi só por volta de 4000 a. C. que os indígenas deixaram o
nomadismo constante em busca de alimentos. Sua sedentarização deve-se ao
desenvolvimento das técnicas de cultivo e armazenamento do milho que gerou
estoques alimentares para a população. Na América Latina, desenvolveram-se
sofisticadas civilizações notadamente nos Andes.

A civilização maia pode ter se fixado na região onde hoje se localiza


o México e os países da América Central da Península de Yucatan por volta
de 1500 a.C. onde se fixaram e desenvolveram importante civilização. Outra
civilização ocupou as atuais terras mexicanas, onde desenvolveram sua cultura,
estendia-se pelo vale do México, o litoral do Golfo do México e do Pacífico, e
parte da Guatemala.

No seu apogeu a civilização Inca dominou toda a região dos Andes,


territórios que hoje fazem parte da Colômbia, do Equador, do Peru, da Bolívia,
do Chile e da Argentina. Esse vasto império abrigava mais de 10 milhões de
pessoas. Os Incas construíram uma grande rede de estradas na qual circulavam
continuamente mensageiros levando notícias e carregadores transportando
mercadorias. Apesar de só andarem a pé os incas transpunham rios por meio
de pontes pênseis tão sólidas que muitas delas ainda eram usadas em pleno
século XX.

Desse modo, foi vencido o isolamento natural das regiões montanhosas,


o que permitiu que essa extraordinária civilização se estendesse por mais de 4
mil quilômetros ao longo da cordilheira dos Andes. Os Incas desenvolveram
importantes técnicas de construção e suas cidades eram bem maiores do que
muitas das grandes cidades europeias na época da colonização espanhola.

A sociedade Inca fez grandes avanços nas ciências embora o império


fosse muito centralizado e bem estruturado pode-se dizer que eram burocráticos,
não havia um sistema de escrita. Para administrar o império eram utilizados os
quipos cordões de lã ou outro material onde eram codificadas mensagens.

Em relação ao povo maia e asteca, estima-se que hoje em dia cerca de 2


milhões de maias estão espalhados pela região, que compreende os territórios
do México, Guatemala, São Salvador e Honduras.

39
UNIDADE 1 | AMÉRICA LATINA: CONTEXTUALIZAÇÃO, REGIONALIZAÇÕES E VULNERABILIDADE AMBIENTAL

FIGURA 16 – SOCIEDADE INCA

FONTE: Disponível em: <www.klickeducacao.com.br>. Acesso em: 10 nov. 2015.

Para manter-se e investir no desenvolvimento, a sociedade inca criou um


sistema de impostos. É interessante notar que parte desses tributos destinavam-
se a amparar idosos e doentes. Os incas faziam regularmente o recenseamento
da população. Assim sabiam com precisão a quantidade de alimentos que seria
necessário produzir, quantos homens poderiam servir ao exército entre outras
atribuições. Esse planejamento não comprometia o cotidiano das pessoas. Para
infelicidade dos incas, o território do império dispunha de enormes jazidas
de metais valiosos, como cobre, ouro e prata, fato que despertou a cobiça dos
conquistadores.

3 REMANESCENTES DE POVOS NATIVOS


E MISCIGENAÇÃO
Submetida ao domínio espanhol, em 1533, a cultura inca foi praticamente
destruída. Na atualidade, restam apenas alguns grupos de descendentes
divididos em pequenas nações. São impressionantes as ruínas de seus grandiosos
monumentos, templos e palácios. Elas dão uma ideia do poder desse império.

Os principais descendentes dos incas na América do Sul são os quíchua,


vivem da pecuária e da agricultura, mas suas atividades e seu modo de vida já
foram profundamente alterados. Seu idioma foi mantido porque a Igreja Católica
escolheu estas línguas nativas como veículo para evangelizar os incas. Sem dinheiro
e sem proteção governamental ao longo dos séculos esses indígenas dirigiram-

40
TÓPICO 3 | APONTAMENTOS E CARAC SOCIOESPACIAIS PARA UMA REGIONALIZAÇÃO ALTERNATIVA HIST-CULTURAL

se para as cidades, onde trabalham em atividades de baixa remuneração. São


trabalhadores e trabalhadoras braçais, que vivem em estado de pobreza.

Neste contexto destacamos, o eleito presidente de seu país em dezembro


de 2005, o boliviano Evo Morales que foi o primeiro indígena aimará a governar
a Bolívia, filho de lavradores Morales participou ativamente da luta contra a
pressão dos Estados Unidos pelo fim do plantio de coca.

4 ASPECTOS DA COLONIZAÇÃO E DA DEMOGRAFIA


QUE CORROBORAM PARA UMA REGIONALIZAÇÃO
HISTÓRICO-CULTURAL

4.1 AMÉRICA CENTRAL E MÉXICO


De maneira geral, a composição étnica da população do México e da
América Central é resultante da miscigenação de populações nativas, astecas,
indígenas e espanhóis, os principais colonizadores da região e negros que eram
os escravos. A maior parte da população de El Salvador, Honduras, Nicarágua e
Panamá é de mestiços ou pardos. Na Guatemala, mais de metade da população é
constituída por indígenas. Em Belize e na Costa Rica predominam os indivíduos
brancos de origem europeia. Existe também uma pequena porcentagem de
descendentes dos africanos trazidos como escravos para trabalhar em plantations
da costa atlântica.

Em se tratando da América Central insular, as ilhas do Caribe foram


colonizadas por espanhóis, ingleses, franceses e holandeses, suas sociedades
formaram-se da miscigenação de diversas etnias e culturas. Além do branco de
origem europeia há uma minoria de indígenas e a presença marcante de negros.
A região contava com aproximadamente 38 milhões de habitantes em 2005, sendo
Cuba o país mais populoso, com cerca de 11 milhões de habitantes.

A população caribenha sofre com graves problemas sociais existentes


na maioria dos países: altas taxas de mortalidade infantil, baixa renda per
capita, elevados índices de analfabetismo e deficiência no atendimento médico-
hospitalar, como mostra a figura a seguir.

41
UNIDADE 1 | AMÉRICA LATINA: CONTEXTUALIZAÇÃO, REGIONALIZAÇÕES E VULNERABILIDADE AMBIENTAL

FIGURA 17 – POPULAÇÃO DO HAITI

FONTE: Disponível em: <www.agenciabrasil.ebc.com.br>. Acesso em: 10 nov. 2015.

Neste contexto esses problemas têm raízes nos séculos de dominação


colonial. A maior parte dos países caribenhos só obteve a independência política
no início do século XX, sendo que suas economias são frágeis. Ainda hoje várias
ilhas continuam politicamente dependentes de Estados europeus, ou Estados
Unidos como Aruba, que pertence aos Países Baixos, Porto Rico, (EUA), Martinica
e Guadalupe (França).

4.2 NAS GUIANAS, UMA


COLONIZAÇÃO DIFERENTE
No que se refere aos países da Guiana, Suriname e Guiana Francesa, esses
não foram colonizados por portugueses nem por espanhóis, as línguas faladas
nesses territórios e sua Geografia se diferem dos outros países do continente.
A palavra Guiana vem do vocabulário indígena guyana, que significa “terra de
muitas águas”. Essa era a maneira como os indígenas chamavam a área onde se
localizam atualmente a Guiana, o Suriname e a Guiana Francesa. Até a década
de 1960 as guianas ainda se mantinham como colônias dos países europeus. A
Guiana Inglesa tornou-se independente em 1966 adotando o nome de República
Cooperativa da Guiana. A Guiana Holandesa agora Suriname conquistou sua
independência em 1975, passando a chamar-se República do Suriname. A Guiana
Francesa continua vinculada à França. A população Guianense se caracteriza pela
diversidade étnica e cultural, sendo constituída por negros, indígenas, europeus,
chineses e por aqueles que se originaram da miscigenação desses grupos étnicos.
Também há uma grande participação de descendentes de indianos, trazidos do
sul da Ásia pelos colonizadores britânicos.

42
TÓPICO 3 | APONTAMENTOS E CARAC SOCIOESPACIAIS PARA UMA REGIONALIZAÇÃO ALTERNATIVA HIST-CULTURAL

O Suriname tem a maioria da população vivendo no litoral em Paramaribo,


principal cidade do país. É uma população muito heterogênea refletindo a forma
como os governantes das metrópoles europeias deslocavam os povos de uma
colônia para outra, a fim de obter mão de obra, como exemplifica a figura a seguir.

FIGURA 18 – APRESENTAÇÃO CULTURAL NO SURINAME

FONTE: Disponível em: <http://brandusblog.blogspot.com.br/>. Acesso em: 10 nov. 2015.

4.3 AMÉRICA ANDINA


A colonização da América Andina pela exploração não respeitava as
sociedades nem o meio ambiente dos lugares onde era imposta. No decorrer do
século XIX, o domínio europeu na América do Sul declinou pouco a pouco e no
século XX foi superado pelo poderio econômico e militar dos Estados Unidos,
que submeteram grande parte da América Latina aos seus próprios interesses.
É importante ressaltar que continua grande a influência econômica e política
dos Estados Unidos sobre a América, essa situação de transnacionais norte-
americanas, que são muito importantes para a economia do continente.

A América Andina é composta pelos países: Venezuela, Colômbia,


Equador, Peru, Bolívia e Chile. Esses países têm em comum entre outros aspectos
a presença da Cordilheira dos Andes em seu território. Quando os europeus

43
UNIDADE 1 | AMÉRICA LATINA: CONTEXTUALIZAÇÃO, REGIONALIZAÇÕES E VULNERABILIDADE AMBIENTAL

chegaram à América os Andes eram habitados por várias nações ameríndias,


como mostra a figura a seguir.

Atualmente seus descendentes habitam principalmente os altiplanos


andinos, que são as terras altas entre os picos das cordilheiras. Muitas
comunidades indígenas e de pequenos agricultores praticam a agricultura de
subsistência e pequenas propriedades, seus métodos de cultivos são tradicionais.
Praticam o pousio: plantam e depois da colheita deixam a terra descansar.
Também aproveitam como adubo o esterco das suas poucas cabeças de gado. Em
geral os indígenas são extremamente pobres e vivem em pequenas comunidades
isoladas. Mas, não se pode atribuir às altas montanhas o isolamento desses povos.
Os sucessivos governos das colônias e, depois, dos países independentes que
não se interessaram em construir estradas ou ferrovias que interligassem essas
regiões. Foram implantadas interligações somente onde havia interesse em escoar
mercadorias para os portos e o exterior.

FIGURA 19 – AMÉRICA ANDINA, CIDADE DE CUSCO, ANTIGA CAPITAL DO IMPÉRIO


INCA, AGRICULTURA DE SUBSISTÊNCIA E FAMÍLIA QUÍCHUA

FONTE: Disponível em: <www.brasilescola.com> e <https://joaquimnery.files.


wordpress.com/2013/08/dsc_0168.jpg>. Acesso em: 10 nov. 2015.

As comunidades empobrecidas não produziam nada para a exportação,


ficaram isoladas com isso provocou-se o isolamento para muitas localidades
na cordilheira, isso significou ficar sem saneamento básico, sem escolas, e sem
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TÓPICO 3 | APONTAMENTOS E CARAC SOCIOESPACIAIS PARA UMA REGIONALIZAÇÃO ALTERNATIVA HIST-CULTURAL

assistência médica. A precariedade em que se encontram as comunidades


indígenas contrasta com as condições favoráveis das enormes fazendas, que
ocupam os solos mais férteis e são controladas por uma poderosa elite. Essas
grandes propriedades rurais são acessíveis por boas estradas, pois sua produção
se destina à exportação desde os tempos coloniais. Utilizando há séculos o sistema
de plantation, elas cultivam e exportam os principais produtos tropicais.

No Equador, entre as cordilheiras Ocidental e Royale, os planaltos da


região de Quito se beneficiam do clima úmido que permite a cultura de cereais e
batatas. A agricultura é, essencialmente, de subsistência, empregando um milhão
de pessoas e contribuindo com 30% do PIB, é uma exceção e exemplo de que as
comunidades remanescentes dos povos nativos podem se integrar à economia do
país em que vivem.

NOTA

Plantation é uma grande propriedade agrícola (principalmente espanhola) na qual


se cultivam produtos tropicais, em sistema de monoculturas, em geral para a exportação,
utilizando até o século XIX, mão de obra escrava.

5 AMÉRICA PLATINA
A América Platina os territórios da Argentina, do Paraguai e do
Uruguai, no passado colonial integravam o Vice-Reino do Rio da Prata, que
abrangia uma extensa área subordinada à Espanha. Isso significa que os três
países platinos estiveram sobre uma administração única durante muitos
anos, nesta época o vice-reinado também incluía a Bolívia. O Rio da Prata
usado pelos espanhóis como porta de entrada para a ocupação do sul do
continente americano, recebeu esse nome porque os colonizadores europeus
transportavam minerais, dentre estes, prata, explorados no interior das
colônias que compunham o Vice-Reino da Espanha.

A população da Argentina e do Uruguai constitui-se predominantemente


de descendência de espanhóis e italianos, enquanto que o Paraguai apresenta
uma população em sua maioria formada pela miscigenação de diversos povos
com acentuada presença de indígenas, como mostra a figura a seguir.

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UNIDADE 1 | AMÉRICA LATINA: CONTEXTUALIZAÇÃO, REGIONALIZAÇÕES E VULNERABILIDADE AMBIENTAL

FIGURA 20 – CRIANÇAS PARAGUAIAS E DO NORTE DA ARGENTINA

FONTE: Disponível em: <www.guarani-campaign.eu>; <http://www.colegioweb.com.br/


america-do-sul/paises-platinos> e <htmlvhttp://www.viajenaviagem.com/2012/07/salta-
argentina-offroad-dicas>. Acesso em: 10 nov. 2015.

Os indicadores sociais da população paraguaia são típicos de países


subdesenvolvidos, as taxas de mortalidade infantil e de analfabetismo são elevadas,
e a expectativa de vida é baixa. Uma parcela significativa da população paraguaia
está empregada no setor primário da economia, isso reflete na urbanização do
país, pois é um dos países latino-americanos com menor taxa de urbanização.
As principais cidades do Paraguai são Assunção e Cidade Del Este, esta última
localizada na fronteira com Foz do Iguaçu, estado brasileiro do Paraná.

DICAS

Leia o livro A guerra do Paraguai, de Júlio José Chiavenato. São Paulo, Ática,
2003. O livro conta as razões que levaram à eclosão da guerra e analisa as profundas
consequências políticas e econômicas para os países envolvidos no conflito.
Assista ao documentário A Guerra do Brasil. Direção: Sylvio Back. Brasil: 1987. O
documentário mistura a realidade e a ficção no debate da Guerra do Paraguai, que vitimou
cerca de 1 milhão de pessoas. No filme entrelaçam a história oficial, o imaginário popular e
a crítica de militares, cronistas e historiadores.

46
TÓPICO 3 | APONTAMENTOS E CARAC SOCIOESPACIAIS PARA UMA REGIONALIZAÇÃO ALTERNATIVA HIST-CULTURAL

O Uruguai até a década de 1960 era conhecido como a Suíça Sul-


Americana, por apresentar perfil de país desenvolvido, com estabilidade
política e indicadores sociais elevados. A partir dos anos de 1970, com a
escassez de recursos minerais e energéticos, o país importa todo o petróleo que
consome, contribuindo para a desestabilização da economia. Em 1973 ocorreu
um golpe militar que gerou a prisão e a tortura de pessoas que se opunham
ao regime, censura da imprensa e às instituições de ensino entre outras graves
consequências. Os fatos favoreceram o surgimento de movimentos de oposição
a guerrilha, como o dos Tupamaros, nome em homenagem a Tupac Amaru,
rebelde inca que lutou contra a dominação espanhola.

A ditadura militar prolongou-se no Uruguai até 1984, e mesmo com o


reestabelecimento da democracia, os problemas econômicos continuaram. A
década de 1990 foi marcada por privatizações, diminuição dos gastos públicos,
aumento de desemprego e, diante desse cenário, por uma grande emigração de
jovens. Na tentativa de contornar a crise e diversificar as atividades econômicas
o governo adotou uma legislação favorável à implantação de instituições
financeiras, o que acabou atraindo diversas empresas do setor e transformando
o Uruguai em um país de destaque na área bancária, como ilustra a figura a
seguir da cidade de Montevidéu no Uruguai.

FIGURA 21 – CIDADE DE MONTEVIDÉU NO URUGUAI

FONTE: Disponível em: <www.montevideu.org>. Acesso em: 10 nov. 2015.

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UNIDADE 1 | AMÉRICA LATINA: CONTEXTUALIZAÇÃO, REGIONALIZAÇÕES E VULNERABILIDADE AMBIENTAL

FIGURA 22 – CIDADE DE BUENOS AIRES NA ARGENTINA

FONTE: Disponível em: <http://www.partiuviagens.com.br/destinos/argentina/buenos-aires.aspx> e


<http://www.neve.com.br/pacote/buenos-aires-a-pe#prettyPhoto[gal]/4/>. Acesso em: 10 nov. 2015.

A Argentina após a Segunda Guerra Mundial sobre o governo do Presidente


Juan Domingo Perón, viveu um período de intensa modernização e de melhorias no
atendimento às necessidades básicas da população. O país passou a atuar de forma
decisiva em vários setores, como transportes, serviços públicos e infraestrutura.
Em 1955 depois de entrar em atrito com parte do empresariado e das Forças
Armadas, Perón o então presidente, foi derrubado do poder por um golpe militar
que o obrigou a se exilar no Paraguai, e depois, na Espanha. De volta à Argentina
após um longo período no exílio, Perón candidatou-se novamente à presidência
em 1973 e foi eleito com enorme quantidade de votos. No entanto, faleceu logo em
seguida e Isabelita Perón, sua terceira esposa e então vice-presidente, tomou posse.
Em 1976 um golpe militar derrubou Isabelita e implantou na Argentina o regime
ditatorial que se estendeu até 1983. Esse período ficou marcado pela forte repressão
política imposta à população, com censura à imprensa, prisão, tortura e assassinato
daqueles que se posicionavam contra o governo.

As décadas de 1970 e 1980 foram marcadas por sucessivas crises


econômicas, que forçaram o governo argentino a diminuir os gastos com serviços
públicos e a programar um intenso programa de privatizações. O padrão de vida
da população argentina que era o mais alto da América Latina, caiu drasticamente.
O desemprego aumentou, altas taxas de inflação e da dívida externa, aumento da
pobreza e da concentração de renda foram as principais marcas deixadas no país
pelos governos militares. Com o término do regime militar e a consolidação da
democracia, a situação política e econômica tornou-se mais estável, a inflação
caiu e o crescimento econômico foi retomado.

No entanto, de 1999 a 2002 uma nova crise econômica foi provocada pela
queda das exportações, o peso, a moeda do país estava valorizada em relação ao
dólar, o que tornava os produtos argentinos muito caros no mercado internacional,
ainda neste contexto o Brasil que era parceiro comercial da Argentina promoveu
uma desvalorização do real em relação ao dólar e diminuíram as importações dos
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TÓPICO 3 | APONTAMENTOS E CARAC SOCIOESPACIAIS PARA UMA REGIONALIZAÇÃO ALTERNATIVA HIST-CULTURAL

produtos argentinos, tentando contornar a crise o governo argentino desvalorizou


o peso, contraiu empréstimos junto ao FMI e adotou um modelo econômico
similar ao brasileiro.

Outra ressaltante questão geopolítica envolvendo a Argentina refere-se


à disputa com o Chile pelas Ilhas Picton, Nueva e Lennox no Canal de Beagle,
extremo sul do continente. Com a interferência do Vaticano, um tratado de Paz
foi assinado por representantes dos dois países, o documento estabelecia que as
ilhas pertenciam ao Chile, mas assegurava aos argentinos direitos sobre recursos
minerais que pudessem ser encontrados na região.

Nesta situação, situada a cerca de 500 quilômetros do litoral sul do


território argentino, as Ilhas Malvinas ou Falklands, são objeto de outra disputa
territorial que envolve a Argentina, neste caso com o Reino Unido. Em 1982
as Forças Armadas do país sul-americano invadiram de surpresa as ilhas com
o objetivo de reaver as terras perdidas para os ingleses em 1883, em resposta
o governo do Reino Unido enviou tropas às Malvinas e, em junho, retomou as
ilhas, impondo uma rendição incondicional aos argentinos. Mesmo perdendo a
guerra das Malvinas os argentinos não desistiram das ilhas, em 1999 reiniciaram
as negociações com os ingleses para recuperar o território perdido.

FIGURA 23 – COMPOSIÇÃO SOBRE A POSSE, DISPUTA E LOCALIZAÇÃO GEOGRÁFICA


DAS ILHAS MALVINAS

FONTE: Disponível em: <http://sempreguerra.blogspot.com.br/2015_03_01_archive.


html>. Acesso em: 10 nov. 2015.

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UNIDADE 1 | AMÉRICA LATINA: CONTEXTUALIZAÇÃO, REGIONALIZAÇÕES E VULNERABILIDADE AMBIENTAL

DICAS

Assista ao documentário Malvinas: uma história alternativa. Produção


original: Discovery Channel. Estados Unidos, 2007. O documentário mostra as estratégias
de combate e detalhes operacionais para analisar quais decisões poderiam ter levado a
Argentina à vitória da Guerra das Malvinas.

6 A REGIONALIZAÇÃO DO CONTINENTE AMERICANO


POR CRITÉRIOS SOCIOECONÔMICOS
Divide a América conforme suas características históricas e econômicas.
De um lado, a América Anglo-saxônica, a região mais desenvolvida econômica e
socialmente. De outro, a América Latina, região com os piores níveis de
desenvolvimento. Essa diferença entre as regiões teria se iniciado ainda quando
o território americano eram colônias europeias. A América Anglo-Saxônica era,
predominantemente colônia de povoamento, enquanto a América Latina colônia
de exploração, como mostra a figura a seguir.

FIGURA 24 – AMÉRICA ANGLO-SAXÔNICA E AMÉRICA LATINA

FONTE: Disponível em: <www.brasilescola.com>. Acesso em: 10 jul. 2015.

50
TÓPICO 3 | APONTAMENTOS E CARAC SOCIOESPACIAIS PARA UMA REGIONALIZAÇÃO ALTERNATIVA HIST-CULTURAL

Uma curiosidade, a origem dos nomes, Anglo-Saxônica e Latina, esteve


inicialmente associada a uma divisão da América baseada na origem dos povos
europeus que colonizaram o continente. Os latinos seriam os povos que falam
línguas de origem latina, predominante no sul da Europa, como portugueses,
espanhóis, italianos e franceses. Os Anglo-saxões seriam povos de origem
saxônica, predominantes no norte da Europa, como na Inglaterra. Apesar de
utilizar essa nomenclatura, a divisão socioeconômica da América não se submete
mais a questões de origem linguística.

Na América Latina no período em que o número de habitantes da América


Anglo-Saxônica começava a diminuir nos países latino-americanos iniciava-se
uma explosão demográfica. Houve aumento nas taxas de natalidade e redução da
mortalidade como consequência de melhorias médico-sanitárias: campanhas de
vacinação; investimento em atendimento médico hospitalar; tratamento de água
e coleta de lixo e esgoto.

Para muitos especialistas da década de 1960 o acelerado crescimento


demográfico seria a principal causa do subdesenvolvimento da América Latina.
Com isso a partir da década de 1970 muitos países latino-americanos passaram
a adotar políticas de controle de natalidade como a esterilização masculina e
feminina e as campanhas de planejamento familiar.

Essa política resultou em um menor crescimento demográfico, mas os


problemas sociais, como a fome, o analfabetismo e a mortalidade infantil ainda
são motivos de preocupação. Nos países mais pobres da América isso demonstra
que o crescimento populacional não é a principal causa do subdesenvolvimento,
como se afirmava na década de 60. A razão fundamental dos problemas sociais
na América Latina é a distribuição desigual de riqueza.

NOTA

Taxa de mortalidade infantil: indica o número de crianças que morreram antes


de completar um ano de idade a cada mil nascimentos, quanto menores os cuidados
médicos e alimentares maior essa taxa.

6.1 CONTRADIÇÕES SOCIOECONÔMICAS


DENTRO DA AMÉRICA LATINA
Apesar dos avanços verificados nas últimas décadas, os problemas
sociais mais graves da América Latina estão relacionados à saúde pública. Em
grande parte dos países latino-americanos, o atendimento médico e hospitalar é
inadequado e insuficiente para a maioria da população. O elevado contingente de
pessoas vive na pobreza com renda insuficiente para obter alimentação adequada

51
UNIDADE 1 | AMÉRICA LATINA: CONTEXTUALIZAÇÃO, REGIONALIZAÇÕES E VULNERABILIDADE AMBIENTAL

ou ter acesso a medicamentos. Dois indicadores sociais ajudam a compreender as


diferenças nas condições de saúde: a taxa de mortalidade infantil e a expectativa
de vida.

Os países subdesenvolvidos do continente americano apresentam taxas


de natalidade mais altas e expectativa de vida mais baixas que as dos países mais
ricos. Deste modo, na América Latina é grande a participação de crianças e jovens
na estrutura etária da população. Na maioria dos países latino-americanos, a
pirâmide tem base larga, indicando altas taxas de natalidade e predomínio de
população jovem, o topo onde estão os idosos é estreito, pois a expectativa de
vida é baixa, como mostra a figura a seguir.

FIGURA 25 – PIRÂMIDE ETÁRIA DO EQUADOR E DA ARGENTINA 2010

FONTE: Disponível em: <http://populationpyramid.net/pt/argentina/> e <http://slideplayer.


com.br/slide/287420/>. Acesso em: 10 nov. 2015.

52
TÓPICO 3 | APONTAMENTOS E CARAC SOCIOESPACIAIS PARA UMA REGIONALIZAÇÃO ALTERNATIVA HIST-CULTURAL

6.2 APONTAMENTOS ECONÔMICOS


Neste cenário o território americano é rico em recursos naturais e
minerais, e essa diversidade costuma ser explorada pelo ser humano de várias
formas; o continente apresenta uma formação geológica propícia à exploração de
recursos minerais; a presença de dois oceanos que banham as costas leste e oeste
do continente favorecem a atividade pesqueira e a existência de uma extensa
rede hidrográfica que facilita a obtenção de energia elétrica, em conjunto com os
diversos tipos de clima, as variadas formas de relevo e os diferentes tipos de solos
contribuem para a prática agropecuária.

Muitos países latino-americanos como a Bolívia, a Jamaica, o Equador


e a Venezuela, dependem da extração e da exportação de minerais como fonte
de recursos para a sua economia. No entanto, apesar de possuir muitas jazidas
em seu território, a maior parte desses países não tem tecnologia para pesquisa,
extração e beneficiamento de forma que grande parte da extração de seus
recursos minerais é praticada pelas empresas transnacionais, sediadas nos países
desenvolvidos.

A produção agropecuária é bastante diversificada, variando muito


de um país para outro. Em vários países da América Latina, grande parte da
produção agropecuária está voltada para a exportação, sendo praticada em
extensas propriedades monocultoras. Países como a Colômbia, Paraguai, Cuba,
Guatemala, entre outros, têm economias dependentes da exportação de produtos
agropecuários, principalmente o café, a cana-de-açúcar e banana. Em geral,
esses países empregam técnicas rudimentares na produção agropecuária, o que
resulta em baixa produtividade, portanto seus investimentos em mecanização,
fertilização, drenagem e recuperação dos solos são escassos ou inexistentes.

Em contrapartida, países como o Brasil, Argentina, México e Chile


apresentam em seus territórios regiões onde a produção agropecuária emprega
máquinas e tecnologia, isso os leva a obter uma alta produtividade.

A industrialização na América Latina foi iniciada tardiamente em


comparação com a América Anglo-Saxônica, por isso caracterizam-se por uma
grande dependência do capital e da tecnologia, provenientes de empresas
transnacionais sediadas na América Anglo-Saxônica, na Europa e no Japão. Em
muitos países latino-americanos a atividade industrial é pouco significativa,
predominando as indústrias tradicionais de bebidas, alimentos e tecidos, que
empregam baixa tecnologia no processo produtivo e mão de obra barata e pouco
qualificada. Alguns países como o Brasil, a Argentina e o México, apresentam as
principais e mais modernas áreas industriais do território latino-americano com
variados tipos de indústrias e uma produção diversificada.

53
UNIDADE 1 | AMÉRICA LATINA: CONTEXTUALIZAÇÃO, REGIONALIZAÇÕES E VULNERABILIDADE AMBIENTAL

No entanto, a maior parte dos países latino-americanos não conta com a


tecnologia necessária para transformar matérias-primas em bens diversificados,
isso leva a exportá-los para nações com desenvolvimento tecnológico e a importar
desses países os produtos industrializados de que se necessita.

O desenvolvimento e a implantação de novas tecnologias na indústria


bem como a concentração de terras e a modernização do campo, favoreceram
a urbanização e o crescimento do setor terciário, a mão de obra dispensada
pelos setores primário e secundário migrou para o comércio e a prestação de
serviços. A partir de 1990 o maior emprego da tecnologia por parte do setor
terciário contribuiu para o desemprego, levando muitos trabalhadores dos
países subdesenvolvidos ao mercado informal. Nos países latino-americanos, a
participação do setor primário na economia ainda é relativamente alta, revelando
a importância da agropecuária e do extrativismo mineral e vegetal. A agricultura,
a pecuária e o extrativismo juntamente com as atividades do setor secundário,
compõem a maior parte do PIB de muitos países americanos.

As cidades são as principais áreas de concentração de atividades do setor


terciário, em quase todos os países latino-americanos industrializados ou não
elas não conseguiram absorver o grande contingente de mão de obra dispensada
pelos setores primário e secundário, esse fato agravou os problemas sociais nas
áreas urbanas, aumentando os índices de favelização, desemprego, subemprego,
criminalidade entre ouros problemas, como mostra a figura a seguir.

FIGURA 26 – A MAIOR FAVELA DA AMÉRICA LATINA, EM BRASÍLIA

FONTE: Disponível em: <http://www.soubrasilia.com/brasilia/a-maior-favela-da-america-latina-


esta-em-brasilia/>. Acesso em: 10 nov. 2015.

54
TÓPICO 3 | APONTAMENTOS E CARAC SOCIOESPACIAIS PARA UMA REGIONALIZAÇÃO ALTERNATIVA HIST-CULTURAL

NOTA

Na capital federal, a pouco mais de 40 quilômetros do Palácio da Alvorada,


residência oficial da Presidência da República, está a maior favela da América Latina, com
78.912 moradores. A região, conhecida como Aris (Área de Regularização de Interesse
Social) Sol Nascente, estava em segundo lugar até agosto de 2013, segundo o IBGE
(Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). De acordo com a Codeplan (Companhia de
Planejamento do DF), em setembro de 2013 o local desbancou a famosa “Rocinha”, no Rio
de Janeiro, que tem 69.161 habitantes, e passou a liderar o ranking.

FONTE: Disponível em: <http://noticias.r7.com/distrito-federal/fotos/favela-do-df-


passa-a-rocinha-e-se-torna-a-maior-da-america-latina-02122013#!/foto/1>; <http://
www.brasilnoticia.com.br/cidades/favela-do-df-passa-a-rocinha-e-se-torna-a-maior-da-
america-latina/55134>. Acesso em: 11 nov. 2015.

Na América Central as principais atividades econômicas da América


Central Continental estão relacionadas ao cultivo de produtos tropicais voltados
para o mercado externo, desde o período colonial o café e a banana são os
principais itens da pauta de exportação da região. A cana-de-açúcar e o cacau,
produtos tradicionais da agricultura centro-americana perderam importância
no mercado internacional com o surgimento e a consolidação de outras áreas
produtoras, tanto na América como na Ásia. Grande parte da produção agrícola
de exportação realiza em extensas propriedades monocultoras localizadas no
litoral do Pacífico. A maioria dessas propriedades agrícolas pertence à empresa
estrangeira sobretudo originárias dos países aos quais se destina a produção,
como os Estados Unidos, como mostra a figura a seguir.

FIGURA 27 – COLHEITA DE MELÃO NA COSTA RICA

FONTE: Disponível em: <www.cortesdecima.com>. Acesso em: 10 nov. 2015.

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UNIDADE 1 | AMÉRICA LATINA: CONTEXTUALIZAÇÃO, REGIONALIZAÇÕES E VULNERABILIDADE AMBIENTAL

Nos séculos XIX e XX os Estados Unidos transformaram a América


Central em um dos seus maiores fornecedores de alimentos. Nessa época os
interesses estadunidenses na América Central tornaram-se enormes, as empresas
alimentícias em especial empenharam-se em conquistar os mercados produtores
da região, para tanto implantaram fazendas, postos e transportadoras.

No litoral do Atlântico e nos altiplanos predominam as agriculturas de


subsistência, praticadas em pequenas propriedades com o emprego de técnicas
tradicionais e de mão de obra familiar, os principais produtos cultivados são o
milho e a batata. Na costa atlântica ocorre também intensa exploração de madeiras
de grande valor comercial, como a peroba, o pau-rosa, o cedro e a seringueira.

A atividade industrial e a extração mineral são praticamente inexistentes na


América Central, destacando-se apenas algumas indústrias de bens de consumo,
como calçados e têxteis. O país mais industrializado é o Panamá cuja produção
petrolífera alimenta as indústrias petroquímicas e lhe garante a exportação de
petróleo, a economia beneficia-se pela presença do Canal do Panamá que liga os
oceanos Atlântico e Pacífico.

Na América Central insular a principal atividade econômica do Caribe é a


agricultura com destaque para o cultivo da cana-de-açúcar, cujo maior produtor é
Cuba, também são cultivados banana, fumo, café e algodão. A produção agrícola
regional está voltada para o mercado externo, isso faz com que a dependência
ocasione oscilações dos preços internacionais, que tem um impacto direto na
economia caribenha e acaba tornando necessária a importação de alimentos
para o consumo. Os recursos minerais de destaque no Caribe são a produção de
bauxita, e a produção e exportação de petróleo. A atividade industrial é pouco
desenvolvida, permanecem restritas ao beneficiamento das matérias-primas
agrícolas, à confecção de roupas e ao artesanato local, principalmente de cestarias
e de cerâmica.

O Caribe é destaque pela rota de cruzeiros marítimos que são destino


de milhares de turistas que procuram suas praias e sua Floresta Tropical. Além
disso, a região possui conhecidos paraísos fiscais, como as Ilhas Cayman, As Ilhas
Virgens e as Bahamas, nesses países grandes somas podem ser depositadas sem
a necessidade de declarar a origem do dinheiro. Os maiores utilizadores desses
paraísos fiscais são pessoas envolvidas com o crime organizado e com o desvio
de dinheiro público.

Na América Andina as atividades econômicas dependem fortemente da


extração mineral, sobretudo do petróleo, carvão, cobre, estanho, ouro, prata e
ferro. A atividade industrial estimulada pela entrada do capital estrangeiro e de
algumas transnacionais apresenta crescimento em alguns países, mas ainda é
incipiente se comparada à de outras economias da América Andina. O Chile e
a Venezuela destacam-se como os países mais industrializados dessa região. Os
56
TÓPICO 3 | APONTAMENTOS E CARAC SOCIOESPACIAIS PARA UMA REGIONALIZAÇÃO ALTERNATIVA HIST-CULTURAL

principais produtos agrícolas da América Andina são o café, a banana, o cacau, a


cana-de-açúcar, o trigo e a aveia, voltados para o mercado externo. Já o milho, o
arroz e a batata constituem a base da alimentação das populações andinas. Uma
característica marcante dessa região é o cultivo ilegal de maconha e coca, fonte de
renda para poderosos grupos de traficantes e também para pequenos agricultores
que encontram nessa atividade sua única forma de sobrevivência.

Nos países da América Platina, as características do clima, da vegetação e


do relevo favorecem o desenvolvimento das atividades agropecuárias na região,
concentradas na criação de gado bovino e na agricultura de cereais. A Argentina
é o país mais industrializado da América Platina, com destaque para a produção
de automóveis, aço e produtos químicos.

6.3 AS TENTATIVAS DE ASSOCIAÇÃO E/OU DE


INTEGRAÇÃO DE PAÍSES LATINO-AMERICANOS
As tentativas de integração do continente sul-americano existem desde
o começo do século XX. Em 1915, o Brasil, Argentina e Chile assinaram acordos
que permitiam a comercialização de muitas mercadorias sem a cobrança de
impostos. Esses esforços de integração continuaram depois da Segunda Guerra
Mundial. Em fevereiro de 1960 surgiu a Alalc, Associação Latino-Americana de
Livre Comércio, que visava formar rapidamente um mercado regional integrado,
por meio da eliminação de impostos de importação e exportação entre os seus
membros. Em agosto de 1980, a Alalc foi substituída pela Aladi, Associação
Latino-Americana de Integração, que pretendia uma integração comercial mais
lenta e gradual dos países, para que houvesse tempo suficiente de preparar as
empresas nacionais para a chegada de mercadorias estrangeiras que pudessem
competir com seus produtos.

Em 1988, os governos brasileiro e argentino assinaram uma série de


acordos para aproximar os dois países. Brasil e Argentina acreditavam que era
possível criar interesses comuns na indústria, na agricultura e no comércio.
Com isso foi possível facilitar o comércio dentro da América do Sul, os quatro
países assinaram o Tratado de Assunção, em março de 1991, esse acordo criou o
Mercosul, Mercado Comum do Sul. Umas das metas principais do Mercosul era
promover a abertura econômica dos países-membros, estimulando maiores trocas
comerciais. Isso significou que os produtos dos países-membros não pagariam
impostos ou que estes seriam baixos, para entrar e para serem comercializados
nos países parceiros. Assim entrariam mais produtos estrangeiros em cada país-
membro, as empresas desses países precisam se preparar para essa competição. O
comércio entre os países-membros cresceu rapidamente. Isso chamou a atenção
do Chile, Peru e da Bolívia, que assinaram um acordo como membros associados.
Eles também buscavam beneficiar-se do crescimento acelerado da economia sul-
americana.

57
UNIDADE 1 | AMÉRICA LATINA: CONTEXTUALIZAÇÃO, REGIONALIZAÇÕES E VULNERABILIDADE AMBIENTAL

No entanto, existem alguns problemas dentro do bloco sul-americano,


um desses problemas é que cerca de 70% da economia do Mercosul é movida
pelo Brasil que tem vantagens em relação aos demais membros, os outros sócios
compram mais mercadorias brasileiras do que o inverso. Outro problema é que
os países do Mercosul têm produção econômica muito semelhante. É o caso dos
produtos da agricultura e da pecuária. Tanto o Brasil e a Argentina produzem
carros e produtos eletrodomésticos, isso cria rivalidades que acabam atrasando
a evolução do bloco. A integração total ainda é dificultada pela infraestrutura de
transportes entre os países-membros e associados é bastante precária. As rodovias
e ferrovias são escassas e malconservadas, e os atuais investimentos nesse setor
são muito modestos. Sem um sistema de transporte ágil e barato, os produtos
continuarão chegando com preço elevado aos consumidores, tanto dos países-
membros como dos associados do Mercosul.

Nos últimos 20 anos cresceram muito as diferenças sociais em grande parte


da América Latina, a favelização, a violência e a mendicância se espalharam pelos
países dessa região, levando grandes contingentes populacionais a questionar
o modelo econômico neoliberal, que foi difundido mundialmente a partir de
1989, com o fim da Guerra Fria. Nesse contexto, os países da América do Sul
assinaram em conjunto em 2004 o Tratado de Cuzco, criando a Comunidade Sul-
americana de Nações. Esse bloco trata-se de um projeto estratégico de integração
regional, encontrando-se ainda em estágio embrionário. Porém, destaca-se a
discussão sobre a integração energética, que de fato tornaria a América do Sul
menos vulnerável, em relação às oscilações dos preços do petróleo no mercado
internacional.

A ALBA, Alternativa Bolivariana para as Américas, também surgiu em


2004, nesse mesmo cenário geopolítico, trata-se de um bloco de países, Venezuela,
Cuba, Nicarágua que têm como principal característica uma contestação
mais contundente à ideologia neoliberal. Dentre suas propostas destaca-se a
integração cultural e social de todos os povos da América Latina, privilegiando
assim as relações humanas em detrimento das questões meramente econômicas
e financeiras.

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TÓPICO 3 | APONTAMENTOS E CARAC SOCIOESPACIAIS PARA UMA REGIONALIZAÇÃO ALTERNATIVA HIST-CULTURAL

LEITURA COMPLEMENTAR

Eduardo Galeano

Este volume oferece uma nova versão brasileira de As veias abertas da


América Latina.

Esta tradução, excelente trabalho de Sergio Faraco, melhora a não menos


excelente tradução anterior, de Galeno de Freitas. E graças ao talento e à boa
vontade destes dois amigos, meu texto original, escrito há quarenta anos, soa
melhor em português do que em espanhol.

O autor lamenta que o livro não tenha perdido atualidade. A história não
quer se repetir – o amanhã não quer ser outro nome do hoje –, mas a obrigamos
a se converter em destino fatal quando nos negamos a aprender as lições que ela,
senhora de muita paciência, nos ensina dia após dia.

Segundo a voz de quem manda, os países do sul do mundo devem


acreditar na liberdade de comércio (embora não exista), em honrar a dívida (embora
seja desonrosa), em atrair investimentos (embora sejam indignos) e em entrar no
mundo (embora pela porta de serviço). Entrar no mundo: o mundo é o mercado.
O mercado mundial, onde se compram países. Nada de novo. A América Latina
nasceu para obedecê-lo, quando o mercado mundial ainda não se chamava
assim, e aos trancos e barrancos continuamos atados ao dever de obediência. Essa
triste rotina dos séculos começou com o ouro e a prata, e seguiu com o açúcar,
o tabaco, o guano, o salitre, o cobre, o estanho, a borracha, o cacau, a banana,
o café, o petróleo... O que nos legaram esses esplendores? Nem herança nem
bonança. Jardins transformados em desertos, campos abandonados, montanhas
esburacadas, águas estagnadas, longas caravanas de infelizes condenados à morte
precoce e palácios vazios onde deambulam os fantasmas.

Agora é a vez da soja transgênica, dos falsos bosques da celulose e do


novo cardápio dos automóveis, que já não comem apenas petróleo ou gás, mas
também milho e cana-de-açúcar de imensas plantações. Dar de comer aos carros
é mais importante do que dar de comer às pessoas. E outra vez voltam as glórias
efêmeras, que ao som de suas trombetas nos anunciam grandes desgraças.

Nós nos negamos a escutar as vozes que nos advertem: os sonhos do


mercado mundial são os pesadelos dos países que se submetem aos seus caprichos.
Continuamos aplaudindo o sequestro dos bens naturais com que Deus, ou o
Diabo, nos distinguiu, e assim trabalhamos para a nossa perdição e contribuímos
para o extermínio da escassa natureza que nos resta.

Exportamos produtos ou exportamos solos e subsolos?

59
UNIDADE 1 | AMÉRICA LATINA: CONTEXTUALIZAÇÃO, REGIONALIZAÇÕES E VULNERABILIDADE AMBIENTAL

Salva-vidas de chumbo: em nome da modernização e do progresso, os


bosques industriais, as explorações mineiras e as plantações gigantescas arrasam
os bosques naturais, envenenam a terra, esgotam a água e aniquilam pequenos
plantios e as hortas familiares. Essas empresas todo-poderosas, altamente
modernizadas, prometem mil empregos, mas ocupam bem poucos braços.
Talvez elas bendigam as agências de publicidade e os meios de comunicação que
difundem suas mentiras, mas amaldiçoam os camponeses pobres. Os expulsos
da terra vegetam nos subúrbios das grandes cidades, tentando consumir o que
antes produziam. O êxodo rural é a agrária reforma; a reforma agrária ao contrário.
Terras que poderiam abastecer as necessidades essenciais do mercado interno são
destinadas a um só produto, a serviço da demanda estrangeira. Cresço para fora,
para dentro me esqueço. Quando cai o preço internacional desse único produto,
alimento ou matéria-prima, junto com o preço caem os países que de tal produto
dependem. E quando a cotação subitamente vai às nuvens, no louco sobe e desce
do mercado mundial, ocorre um trágico paradoxo: o aumento dos preços dos
alimentos, por exemplo, enche os bolsos dos gigantes do comércio agrícola e,
ao mesmo tempo, multiplica a fome das multidões que não podem pagar seu
encarecido pão de cada dia.

O passado é mudo? Ou continuamos sendo surdos?

As veias abertas da América Latina nasceram pretendendo difundir


informações desconhecidas. O livro compreende muitos temas, mas talvez
nenhum deles tenha tanta atualidade como esta obstinada rotina da desgraça: a
monocultura é uma prisão. A diversidade, ao contrário, liberta. A independência
se restringe ao hino e à bandeira se não se fundamenta na soberania alimentar. Tão
só a diversidade produtiva pode nos defender dos mortíferos golpes da cotação
internacional, que oferece pão para hoje e fome para amanhã. A autodeterminação
começa pela boca.

Em 27 de julho de 2001, o presidente dos Estados Unidos, George W.


Bush, perguntou aos seus compatriotas:

– Vocês já imaginaram um país incapaz de cultivar alimentos suficientes para


prover sua população? Seria uma nação exposta a pressões internacionais. Seria uma
nação vulnerável. Por isso, quando falamos de agricultura, estamos falando de uma
questão de segurança nacional.

Foi a única vez em que não mentiu.

Montevidéu, 2010

FONTE: GALEANO, E. As veias abertas da América Latina. Tradução de Galeno de Freitas. 39.
ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2000. 307p. Título original: Las venas abiertas de America Latina.
(Coleção Estudos Latino-Americanos, v.12).

60
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico vimos que:

• A partir da colonização e da miscigenação populacional no decorrer dos


séculos resultaram construções histórico-culturais que diferenciam culturas
dentro da América Latina.

• Do ponto de vista das culturas dos povos podemos agrupar as sociedades


dos países americanos em conjuntos, a saber: América anglo-Saxônica,
México e América Centro Americana, Caribe (Grandes e Pequenas Antilhas),
Guianas, América andina, América Platina e América portuguesa (atualmente
brasileira).

• Fontes históricas de sítios arqueológicos e sambaquis sugerem que o


povoamento pré-colombiano na América tenha ocorrido entre 9.000 a.C. a
1.500 a.C. Pressupõe-se que coexistiram tribos nômades, seminômades e
sedentárias denominadas indígenas ou nativos. Os povos que formaram
civilizações (ou que se aproximam deste conceito, pois o conceito europeu e
ocidental), foram os Maias, os Astecas e os Incas. Os remanescentes dos povos
nativos, sobreviventes do processo de dizimação, sofreram um processo
de aculturação, ou seja, além da miscigenação demográfica, ocorre uma
miscigenação cultural, onde alguns traços culturais são preservados, e outros
são incorporados, resultado do processo de imposição dos colonizadores.

• As populações do México e América Central são resultado da miscigenação


que ocorreu entre os povos colonizadores, predominantemente espanhóis, e
sobreviventes de indígenas e dos povos pré-colombianos (astecas e maias) que
habitavam a região. Cabe ressaltar que a população negra também contribuiu
na formação populacional e demográfica do povo mexicano, centro americano
e caribenho.

• Em tempos pré-colombianos na América andina se desenvolveu a civilização


Inca, constituindo um vasto império. Com a chegada dos espanhóis entraram
em decadência. O povo quíchua é descendente do povo Inca. Seu idioma foi
mantido porque a igreja católica espanhola, após um determinado tempo
da colonização, escolheu a língua nativa dos quíchua, como veículo para
sua evangelização. Assim como ocorreu com os outros povos nativos, os
sobreviventes deste povo foram marginalizados. Uma parte destas populações
remanescentes permaneceu nas áreas rurais praticando uma agropecuária de
subsistência, e outra parte se dirigiu para as cidades, onde desempenham
funções simples, vivendo em estado de pobreza.

61
• As Guianas foram colonizadas pela Grã-Bretanha (especificamente pela
Inglaterra), Holanda e França. A independência política ocorreu no decorrer
das décadas de 1960 e 1970, na Guiana (Inglesa) e Suriname, respectivamente.
A Guiana Francesa continua sendo um departamento ultramarino francês. A
população das Guianas se caracteriza pela diversidade étnica.

• Na América Andina, além da população quíchua, outras nações indígenas se


destacam na população, vivendo em condições deploráveis, se comparadas
com as classes mais abastadas proprietárias de latifúndios, os quais englobam
as melhores terras.

• Dos países platinos, no Uruguai e Argentina predomina uma população em


sua maioria, branca, descendentes de espanhóis e italianos.

• Sobre as contradições socioeconômicas se destaca de um lado a concentração


da renda na mão de pouquíssimas pessoas e do outro o aprofundamento da
pobreza, e expansão dos problemas sociais. A saúde pública, segurança e
educação são as áreas com a maior deficiência.

• Quanto à economia, os setores primários (agropecuária e extrativismo) são os


destaques nos países da América Central, Antilhas, países andinos e Guianas.
Brasil, México, Argentina, Chile, Colômbia, Venezuela apresentam parques
industriais significativos. A produção agropecuária, mineral e industrial
atende as demandas do mercado internacional.

• Os países latino-americanos realizam experiências de integração e cooperação,


os quais serão estudados na Unidade 3.

• No texto complementar “As veias abertas da América Latina”, o autor Eduardo


Galeano, apresenta críticas sobre alguns aspectos da exploração sofrida pela
América Latina no passado, sobre as ações do imperialismo britânico do
século XIX, e atual imperialismo imposto ora pelos estadunidenses, ora pelas
transnacionais e organismos supranacionais.

62
AUTOATIVIDADE

Com base na Leitura Complementar acima, elabore uma resposta


contextualizada, utilize da leitura do capítulo e discorra:

1 Os diferentes contextos políticos em que os textos foram escritos e a maneira


como cada um deles vê a aproximação entre os países latino-americanos.

2 O atual panorama das relações entre os países latino-americanos e os projetos


de integração regional.

3 Seguindo a atividade do capítulo anterior, faça um olhar geográfico sobre


a população da sua cidade. Destaque as características populacionais, se
são predominantemente brancos, se existe uma miscigenação em destaque,
com pardos, amarelos, negros. Busque na base de dados do IBGE o que
o último Censo populacional apresenta sobre a sua cidade. Se possível
apresente uma pirâmide etária da sua cidade e a análise.

4 O processo de independência da América Latina foi concluído na década


de 1820, neste contexto os jovens governos se viram diante dos desafios de
preservar a autonomia conquistada em meio ao intrincado jogo político e
diplomático da época. Simon Bolívar (1783 – 1830) não era simpático aos
Estados Unidos, que por sua vez, evitaram atritos com a Espanha para não
comprometer a compra da Flórida e o comércio com possessões espanholas
no Caribe.

Indique dois aspectos nos quais o processo que culminou com o


rompimento dos laços coloniais na América espanhola se diferenciou da
Independência do Brasil.

Cite uma diferença e uma semelhança entre o projeto pan-americanista


de Simon Bolívar.

63
64
UNIDADE 1
TÓPICO 4

MUDANÇAS CLIMÁTICAS, EVENTOS


EXTREMOS E VULNERABILIDADE NA
AMÉRICA LATINA E CARIBE

1 INTRODUÇÃO
A região latino-americana e caribenha representa uma das regiões com
maior riqueza, não só por causa de sua diversidade biológica e ecossistêmica,
mas também pela diversidade social e cultural. No entanto, compartilham muitos
problemas ambientais com a África e Ásia. Contudo, o modelo de desenvolvimento
atual vem colocando essa riqueza em risco; em toda região já aparecem sinais
preocupantes de uma grave degradação ambiental. As questões ambientais
incluem o sistema de posse de terras, o desmatamento e queimadas, a exploração
excessiva dos estoques pesqueiros, exploração mineral com impactos ambientais
e problemas urbanos dos mais diversos, assim como os desastres socionaturais
como furacões, terremotos e derramamento de substâncias perigosas que agravam
problemas já existentes.

2 MUDANÇAS CLIMÁTICAS E EVENTOS


CLIMÁTICOS EXTREMOS
A América Latina apresenta suscetibilidade às mudanças climáticas, e
deficiência política para enfrentar o fenômeno. A implementação de medidas
efetivas é urgente. Estudos indicam que em alguns países os custos econômicos
podem alcançar entre 1,5 e 5% do PIB regional em 2050, para enfrentamento e
remediação dos efeitos de mudanças climáticas e ocorrência de eventos extremos
do clima. A localização geográfica de contingentes populacionais em moradias
informais, e a alta sensibilidade das florestas e da biodiversidade para o clima, são
fatores que provavelmente irão exacerbar as consequências da mudança do clima
que afetará todo o mundo e já é um dos desafios do século XXI (LEÌDA, 2015).

Além das mudanças nas temperaturas, estudos estimam que os índices das
precipitações estejam sendo modificadas por causa da mudança climática, mas de
forma diferenciada conforme a região. Exemplo, nas últimas décadas tem havido um
aumento na precipitação anual na região sudeste da América do Sul, e diminuição

65
UNIDADE 1 | AMÉRICA LATINA: CONTEXTUALIZAÇÃO, REGIONALIZAÇÕES E VULNERABILIDADE AMBIENTAL

na região central e centro-sul do Chile. As camadas de gelo da Groenlândia e da


Antártida, têm diminuído consideravelmente nas últimas décadas, assim como a
área média anual de gelo do mar Ártico diminuiu nas décadas em que está sendo
monitorado, (período de 1979-2012) e diminui cada vez mais no período de verão.

As mudanças climáticas constituem um fenômeno de longo prazo,


cujos efeitos serão mais intensos na segunda metade século XXI, porém para
enfrentamento de seus impactos é necessário agir urgentemente. A redução das
emissões de gases de efeito estufa é uma das medidas mais abrangentes propostas
durante conferências mundiais sobre o meio ambiente e sobre o clima, pois estes
agem sobre o aquecimento global.

Contudo, há a necessidade de mudanças na matriz de produção e consumo


energéticos (baseados ainda na queima dos hidrocarbonetos, ou seja, dos derivados
dos combustíveis fósseis) e nos modelos de produção e consumo em massa, e
sistemas de mobilidade responsáveis pela atual produção de níveis perigosos de
CO2 e torna impossível para cumprir as metas sobre o clima, estabelecidos até
2050. Apesar de existirem diferenças entre os países da América Latina e Caribe a
contribuição nas emissões de poluentes globais representa 9% do total.

O transporte é um dos principais problemas para a América Latina e Caribe,


pois a baixa qualidade do transporte público faz com que os cidadãos priorizem
o veículo particular, o que aumenta o consumo dos derivados dos combustíveis
fósseis e causa problemas de congestionamento de trânsito nas grandes cidades.
Além do planejamento de longo prazo de um sistema sustentável, devem ser
estudadas as atuais vias de circulação, porque a infraestrutura atualmente em uso
terá uma vida útil até 2050 e, portanto, vai afetar as futuras emissões.

FIGURA 28 – CONGESTIONAMENTO EM SANTIAGO, CHILE, POR OCASIÃO DAS FESTAS PÁTRIAS


EM SETEMBRO E EM SÃO PAULO, NUM DIA FINAL DE UM FERIADÃO

FONTE: Disponível em: <http://blogs.diariodonordeste.com.br/automovel/mercado/brasil-


ja-tem-1-carro-para-cada-5-habitantes/attachment/congestionamentosp/> e <http://www.
sigalapista.cl/?p=3495>. Acesso em: 10 nov. 2015.

66
TÓPICO 4 | MUDANÇAS CLIMÁTICAS, EVENTOS EXTREMOS E VULNERABILIDADE NA AMÉRICA LATINA E CARIBE

Sem políticas e resposta mais eficazes é provável a continuidade de


ocorrência de desastres socionaturais, uma vez que a tendência atual é de piorar
as condições ambientais, o que contribui para uma maior vulnerabilidade humana
à mudança climática. O grupo de pesquisa em desastres naturais do Programa
de Pós-graduação em Geografia – PPGG da Universidade Federal de Santa
Catarina – UFSC, com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do
Estado de Santa Catarina – FAPESC e do Instituto Histórico Geográfico de Santa
Catarina elaboraram um conjunto de materiais, os atlas geográficos (do país e dos
estados), como ferramentas para todos aqueles que se preocupam com a temática.
O trabalho agrega de forma sintetizada, temas, quadros, tabelas, figuras e mapas,
disponibilizando um conjunto de informações resultado de um trabalho de campo
e de laboratório visando contribuir com a tomada de decisões tanto pela população
civil como pelos gestores. Bigarella (2005) no prefácio da primeira edição do Atlas
de desastres Naturais do Estado de Santa Catarina, escreveu: “No Brasil verifica-
se a cada ano um incremento no número de desastres naturais em virtude da
ocupação desordenada do território pela omissão do poder público na execução de
uma política ambiental que viesse reduzir a ocorrência de novas catástrofes”.

Corroborando, Jungles (2013) ao escrever a apresentação do Atlas Brasileiro


de Desastres Naturais: 1991 a 2012, UFSC (2013), afirma: “nas últimas décadas os
desastres naturais constituem um tema cada vez mais presente no cotidiano das
populações. Há um aumento considerável não só na frequência e intensidades, mas
também nos impactos gerados, com danos e prejuízos cada vez mais intensos”.
A análise dos eventos climáticos extremos, a partir de dados gerais, no Brasil e
com maior detalhamento, por Estado se apresenta como ferramenta para estudos,
sensibilização e percepção do risco e da vulnerabilidade para tomada de atitudes e
ações de mitigação.

Os dados analisados para a composição e organização do material (dos


Atlas do Brasil e dos Estados), sugerem que nos últimos trinta anos além da
continuidade, a amplitude e a frequência das catástrofes têm se ampliado. Como
exemplo ilustrativo destacam-se os eventos que ocorreram em Santa Catarina, com
destaque para o ano de 2008 em que ocorreu alto índice pluviométrico, o que gerou
centenas de deslizamentos no complexo do morro do Baú. Além disso, também
provocou inundações prolongadas no baixo Vale do Itajaí deixando milhares de
desabrigados e mais de uma centena de mortos (HERRMANN, 2014).

Deslizando da escala estadual e nacional para a global temos os alertas do


Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas conhecido pela sigla IPCC
- Intergovernmental Panel on Climate Change, é uma organização científico-política
criada em 1988 no âmbito das Nações Unidas (ONU) pela iniciativa do Programa das
Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e da Organização Meteorológica
Mundial (OMM).

O IPCC e seus grupos de trabalho apoiados pela Agência de Clima e Poluição


e pelo Ministério de Relações Exteriores da Noruega, organizaram, em 2012, o
Relatório Especial para a gestão dos riscos de eventos extremos e Desastres para
o Avanço na Adaptação às Alterações Climáticas, (Special Report for Managing the

67
UNIDADE 1 | AMÉRICA LATINA: CONTEXTUALIZAÇÃO, REGIONALIZAÇÕES E VULNERABILIDADE AMBIENTAL

Risks of Extreme Events and Disasters to Advance Climate Change Adaptation – Relatório
SREX-IPCC, 2012).

Segundo pesquisadores do Painel Intergovernamental sobre Mudança do


Clima (IPCC) já é possível observar alterações no fluxo e disponibilidade de água na
América do Sul, o que deverá afetar regiões já vulneráveis. No Brasil, a recente seca da
nascente do Rio São Francisco, na Serra da Canastra, em Minas Gerais, e a diminuição
do nível do Sistema Cantareira, em São Paulo, parecem apontar nessa direção. Os
períodos de seca deverão se tornar mais frequentes no mundo nos próximos anos.
Nas últimas décadas a Cordilheira dos Andes encolheu quase metade de sua camada
de gelo e isso tem a ver com a disponibilidade de água potável.

NOTA

O Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima, em inglês,


Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC), é um grupo científico da ONU,
fundado em 1988 pela WMO (World Meteorological Organisation) e pelo UNEP/PNUMA
(United Nations Environment Programme). Tem como objetivo principal sintetizar e
divulgar o conhecimento mais avançado sobre as mudanças climáticas que hoje afetam
o mundo, especificamente, o aquecimento global, apontando suas causas, efeitos e
riscos para a humanidade e o meio ambiente, e sugerindo maneiras de combater os
problemas. O IPCC não produz pesquisa original, mas reúne e resume o conhecimento
produzido por cientistas de alto nível (tanto independentes e/ou ligados a organizações e
governos). É um consenso que o IPCC representa a maior autoridade mundial a respeito
do aquecimento global, e tem sido a principal base para o estabelecimento de políticas
climáticas mundiais e nacionais.

Em 1990 emitiu um relatório afirmando que a ação do homem poderia estar causando o
efeito estufa. O estudo foi a base para as discussões durante a Rio-92, no Rio de Janeiro. O
IPCC faz relatórios anuais sobre o Estado da Arte científico da pesquisa do clima, examina
os efeitos das mudanças climáticas e desenvolve estratégias de combate, subsidiando as
Partes da Convenção.

FONTES: FINAL, RELATÓRIO. Apresentação de subsídios para o desenvolvimento de


sistema de observação e monitoramento dos impactos das mudanças climáticas a ser
implantado no Brasil. 2013

PAINEL INTERGOVERNAMENTAL SOBRE MUDANÇAS CLIMÁTICAS. Disponível em:


<https://pt.wikipedia.org/wiki/Painel_Intergovernamental_sobre_Mudan%C3%A7as_
Clim%C3%A1ticas> Acesso em: 20 set. 2015.

68
TÓPICO 4 | MUDANÇAS CLIMÁTICAS, EVENTOS EXTREMOS E VULNERABILIDADE NA AMÉRICA LATINA E CARIBE

3 CONCEITOS FUNDAMENTAIS PARA A GESTÃO DOS


RISCOS DE EVENTOS EXTREMOS E DESASTRES, PARA O
AVANÇO NA ADAPTAÇÃO ÀS ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS
A influência do clima e sua variabilidade natural sempre despertou interesse
de vários segmentos da sociedade, de governantes e da ciência. Nas últimas décadas,
com o avanço das tecnologias com desenvolvimento da meteorologia sinótica e
dos modelos de previsão do tempo, por exemplo, se vislumbra a possibilidade
de gerenciamento do território, na perspectiva de prevenção dos acidentes e da
minimização dos impactos decorrentes das possíveis alterações climáticas e eventos
climáticos extremos.

Sant’Anna Neto apud Hermann (2014) explica que mais de 80% dos tipos de
desastres naturais que ocorrem no planeta tem sua gênese derivada dos fenômenos
e processos climáticos. Dentre as adversidades climáticas citam-se: as secas, os
ciclones tropicais e tornados, os vendavais, as chuvas intensas, os episódios de
inundação, nevascas, geadas e outras. Estas além de provocarem enormes perdas
econômicas, são responsáveis por milhares de mortes todos os anos.

Em algumas regiões, a recorrência destes eventos, pode comprometer


o desenvolvimento local e submeter segmentos da sociedade a uma situação de
vulnerabilidade, ou seja, de maior segregação socioespacial. Hermann (2014) alerta
para o processo de expansão urbana que se verifica, muitas vezes, em áreas de risco
sujeitas à inundações e/ou encostas íngremes sujeitas a escorregamentos de massa.
A substituição da vegetação natural das encostas por uma vegetação secundária
rala, que não é uma eficaz proteção do solo, permite uma infiltração de água
pluvial (das chuvas), e propicia o escoamento superficial concentrado. Os leitos
de rios e córregos que percorrem áreas urbanizadas geralmente estão retilinizados
ou canalizados por tubulações subdimensionalizadas, obstruídas por entulhos,
dificultam a vazão normal da água junto à foz, ocasionando transbordamentos e
solapamento das margens.

Todas as razões citadas acentuam os efeitos adversos do clima, razão pela


qual os desastres não têm somente causas naturais, e sim socionaturais. O termo
socionatural marca uma nova fase do conhecimento científico e deriva dos desastres
se constituírem tanto por uma perspectiva natural, proveniente de processos
específicos da natureza, quanto por uma perspectiva social, antrópica, em que há
influência das ações humanas. Mata-Lima et al. (2013, p. 52) corroboram:

[...] os desastres naturais não são considerados como fenômenos


extremos provocados exclusivamente por forças naturais, pois o
modelo de desenvolvimento adotado pelo Homem também concorre
de forma significativa para a ocorrência dos desastres visto que a
vulnerabilidade é o fator determinante dos impactos dos desastres.

O grau de exposição de uma comunidade está relacionado ao potencial


de uma ameaça se transformar em desastre. Países pobres, cujas condições de
vida de grande parte da população são precárias, são mais vulneráveis aos

69
UNIDADE 1 | AMÉRICA LATINA: CONTEXTUALIZAÇÃO, REGIONALIZAÇÕES E VULNERABILIDADE AMBIENTAL

desastres socionaturais, por apresentarem respostas pouco expressivas diante


dos eventos, acentuados pela baixa capacidade de governança e baixos índices
de participação comunitária para redução dos riscos e para a resiliência. Desta
forma, as populações mais pobres parecem estar mais vulneráveis a inundações,
secas e à falta d’água.

Em relação aos fenômenos climáticos extremos, a vulnerabilidade é


elevada, quando a capacidade de adaptação dos sistemas humanos na América
Latina é deficiente, tanto pela falta de resistência da população, como pela
incapacidade de antecipação e dificuldade de enfrentamento.

Na América Latina, em alguns países, a exemplo do Haiti, a agenda


política dos legisladores e gestores públicos tem incorporado as temáticas de
percepção do risco, exposição e vulnerabilidade, muito lentamente, de forma
quase pontual. Em outros, Chile, por exemplo, e em alguns estados do Brasil,
apenas após a ocorrência de eventos extremos, são desenvolvidos processos
para a conscientização e sensibilização. Autoridades políticas, Organizações
Não Governamentais – ONGs, cientistas, Defesa Civil e setores privados têm
desenvolvido trabalhos metódicos e regulares em relação às temáticas em
questão. Alguns estão de forma mais lenta, enquanto outros contribuem para
a diminuição dos danos em situações onde a vulnerabilidade é crônica. Assim,
em muitas regiões já castigadas por eventos extremos, já foram implementadas
políticas públicas que promovem a adaptação às vulnerabilidades ambientais e
socioeconômicas. Contudo, resultados mais eficazes serão percebidos no futuro.

DICAS

Leia sobre os principais deslizamentos que ocorreram na América Latina e no


mundo no link: <http://g1.globo.com/mundo/noticia/2014/05/relembre-os-deslizamentos-
de-terra-mais-letais-no-mundo-desde-2010.html>.

4 AMÉRICA LATINA E CARIBE: PROBABILIDADES FUTURAS


O Relatório especial para gerenciamento dos riscos de eventos extremos
e desastres para promoção da adaptação à mudança do clima para a região
da América Latina e do Caribe -SREX–IPCC, 2012, inicia com a síntese de dez
mensagens, do tipo constatações, nada promissoras. A primeira mensagem
faz um alerta sobre a tendência do risco de desastres socionaturais continuar
aumentando em muitos países, uma vez que mais pessoas e ativos vulneráveis
estarão expostos a extremos climáticos, (sem levar em conta a mudança climática).
Por exemplo, os povoamentos informais em crescimento na Colômbia, Venezuela,
Peru, Brasil e outros países estão cada vez mais populosos, aumentando tanto a
exposição como a vulnerabilidade (CAMERON, 2012).
70
TÓPICO 4 | MUDANÇAS CLIMÁTICAS, EVENTOS EXTREMOS E VULNERABILIDADE NA AMÉRICA LATINA E CARIBE

FIGURA 29 – POVOAMENTOS INFORMAIS NA VENEZUELA E NA COLÔMBIA

Auto construção em áreas íngremes Auto construção em áreas íngremes na


na Venezuela Colômbia

FONTE: Disponível em: <http://rioonwatch.org.br/?p=9362#prettyPhoto/14/>. Acesso em: 10 nov. 2015.

Ao levar em conta aspectos socioeconômicos percebe-se que uma parcela


significativa da população se encontra em condições de extrema pobreza e que
há uma frágil gestão ambiental. Esse cenário deve ser agravado. Por exemplo,
as tendências populacionais dentro da região da América Central aumentaram
a vulnerabilidade com o aumento da exposição de pessoas e propriedades em
áreas afetadas por eventos extremos, como os furacões. A população das regiões
costeiras do Golfo do México aumentou 150% de 1960 a 2008. As populações
em crescimento e os ativos em risco são as principais razões para o aumento
dos impactos. Grande volume de chuvas e enchentes podem afetar, também, a
saúde pública em áreas urbanas porque a água acumulada na superfície pode
ser rapidamente contaminada por agentes patogênicos (infecciosos). Desta
forma, as populações urbanas pobres, em países de baixa e média renda, podem
sofrer altas taxas de doenças infecciosas depois de enchentes.

A segunda mensagem do relatório SREX–IPCC, 2012 é baseada em


dados a partir de 1950. As evidências sugerem que a mudança climática já
mudou a magnitude e a frequência de alguns eventos extremos de condições
meteorológicas e climáticas em algumas regiões globais. Embora continue ainda
muito difícil atribuir eventos individuais às mudanças climáticas, em julho de
2009 as enchentes no Brasil estabeleceram os mais altos recordes dos últimos
106 anos de registro de dados. O relatório SREX, de acordo com Cameron
(2012), supõe que nas próximas duas ou três décadas, o aumento esperado na
frequência de extremos climáticos será provavelmente relativamente pequeno
comparado às variações normais anuais de tais extremos.

No entanto, à medida que os impactos das mudanças climáticas se


tornam mais dramáticos, seus efeitos em uma faixa de extremos climáticos
na América Latina e no Caribe tornar-se-ão ainda mais importantes, e terão
71
UNIDADE 1 | AMÉRICA LATINA: CONTEXTUALIZAÇÃO, REGIONALIZAÇÕES E VULNERABILIDADE AMBIENTAL

um papel ainda mais significativo nos impactos dos desastres. Atualmente


existem melhores informações disponíveis sobre o que se espera em termos de
mudanças nos eventos extremos em várias regiões e sub-regiões, em vez de
apenas globalmente, embora permaneça alta a incerteza para algumas regiões
e eventos extremos (tendências de aridez e estiagem na América do Sul, por
exemplo). (CAMERON, 2012).

Dentre as ameaças socionaturais, o derretimento das geleiras das


montanhas andinas é emblemático. O fornecimento de água aos setores urbanos
e agrícolas, que depende desse sistema pode entrar em colapso. La Paz é uma
das cidades cujo abastecimento de água depende exclusivamente das geleiras.

Em outra situação o número grande de cidades situadas em zonas


costeiras também é um fator fundamental que coloca a América Latina em uma
posição de vulnerabilidade ao fenômeno devido à elevação do nível do mar.
Somam-se a estas problemáticas o branqueamento dos recifes de corais na costa
do Caribe e do risco de retração das florestas da bacia amazônica.

Outra mensagem do relatório SREX – IPCC (2012) diz respeito à


necessidade dos governantes e seus povos alcançar um novo equilíbrio entre
as medidas de redução de risco, a transferência de risco (através de seguro, por
exemplo) e se preparar efetivamente para gerenciar o impacto dos desastres em
um clima em mudança. Exemplos podem ser encontrados no México, Colômbia
e muitos países do Caribe, que incluem contingências nos seus processos
orçamentários. Este equilíbrio requererá uma ênfase mais forte na antecipação e
redução o risco. Além de melhorar as medidas já existentes para gerenciamento
do risco uma ampla faixa de medidas diferenciadas deve ser implementada,
como, por exemplo, sistemas de avisos antecipados, planejamento do uso da
terra, desenvolvimento e cumprimento de códigos de construção, melhorias
na vigilância sanitária, ou gerenciamento e restauração do ecossistema.
(CAMERON, 2012).

Podemos citar, por exemplo, as ações do Chile, por ocasião do terremoto


ocorrido no dia 16 de setembro de magnitude 8,3, segundo o Serviço Geológico
dos Estados Unidos. As ações implantadas nesse dia demonstraram a capacidade
dos chilenos diante da catástrofe, graças a uma operação de emergência e
evacuação bem realizada por seus habitantes. Houve aviso de sirenes para a
evacuação da população das áreas sujeitas ao Tsunami e todas as pessoas que se
encontravam na área de risco receberam mensagens pelos celulares alertando
sobre a evacuação. Os danos foram classificados como mínimos pela ONU.

A capacidade dos países em atender aos desafios das tendências de


risco de desastres observadas e projetadas é determinada pela eficiência
de seus sistemas nacionais de gerenciamento de risco (o sistema de Cuba,

72
TÓPICO 4 | MUDANÇAS CLIMÁTICAS, EVENTOS EXTREMOS E VULNERABILIDADE NA AMÉRICA LATINA E CARIBE

por exemplo, é bem estudado). Tais sistemas incluem governos nacionais e


subnacionais, o setor privado, órgãos de pesquisa, e a sociedade civil, inclusive
as organizações baseadas na comunidade. Assim, se muitos países não estão
suficientemente adaptados contra os eventos naturais que lhes oferecem um
risco, consequentemente, não estão preparados para o futuro. Ajustes rápidos
e eficazes para prevenir e minimizar perdas por desastres se fazem necessários.
Por exemplo, qualquer demora na diminuição dos gases de efeito estufa,
provavelmente levará a consequências, dentre as quais, mudanças climáticas,
que por sua vez, implicarão extremos climáticos mais graves e frequentes
acompanhados de mais perdas.

De acordo com Cameron et al. (2012), a vulnerabilidade, a exposição


e as mudanças nas condições meteorológicas com ocorrência de eventos
climáticos extremos podem contribuir, ao combinarem-se, para criar o risco
de desastres. Diante desta realidade, a necessidade de gerenciamento de risco
de desastres e de adaptação às mudanças climáticas, envolve processos de
conscientização e de sensibilização. A gestão de risco e adaptação à mudança
climática fazem parte do desenvolvimento de ações de mitigação e diminuição
das consequências dos desastres socionaturais. Observe o esquema da figura a
seguir para compreensão.

FIGURA 30 – AS INTERCONEXÕES ENTRE OS PRINCIPAIS CONCEITOS DO RELATÓRIO SREX-


IPCC (2012)

FONTE: Cameron et al. (2012)

A vulnerabilidade e exposição são aspectos dinâmicos e dependem


de fatores econômicos, sociais, demográficos, culturais, institucionais e
governamentais. Indivíduos e comunidades são também diferentemente
expostos com base em fatores como riqueza, educação, sexo, idade, classe/casta

73
UNIDADE 1 | AMÉRICA LATINA: CONTEXTUALIZAÇÃO, REGIONALIZAÇÕES E VULNERABILIDADE AMBIENTAL

e saúde. A falta de resistência e capacidade para antecipar, enfrentar e adaptar-


se a extremos são importantes fatores de vulnerabilidade. Por exemplo, um
ciclone tropical pode ter impactos muito diferentes, dependendo de onde e
quando ele atinge a terra. Similarmente, uma onda de calor pode ter impactos
muito diferentes em diferentes grupos populacionais, dependendo de sua
vulnerabilidade.

Mudanças climáticas e eventos extremos poderão causar impactos


em sistemas humanos, ecológicos ou físicos, resultando em catástrofes,
principalmente onde a exposição e a vulnerabilidade são altas. Altos níveis
de vulnerabilidade e exposição são geralmente o resultado de processos de
desenvolvimento assimétrico, como, por exemplo, gerenciamento ambiental
deficiente, mudança demográfica, urbanização rápida e não planejada, governo
falho e escassez de opções de sustento. Isso pode resultar em povoamentos em
áreas passíveis de risco, na criação de moradias inseguras, favelas e distritos
espalhados, pobreza e falta de percepção de riscos. Por exemplo, as pessoas
que têm percepção, meios de vida transferíveis, dinheiro e acesso a transporte,
podem afastar-se dos desastres e viver mais confortavelmente, fora do perigo.
As que não têm essas vantagens podem ser forçadas a fixar suas residências em
áreas passíveis de risco, onde ficarão mais vulneráveis e expostas aos extremos
climáticos. Elas também terão que arcar com os impactos dos desastres no solo,
incluindo falta de água, comida, saneamento ou abrigo. (CAMERON, 2012).

LEITURA COMPLEMENTAR

FURACÕES NA AMÉRICA CENTRAL

A América Central e México (Mesoamérica) são profundamente afetados


por fortes tempestades tropicais. Em outubro de 2005, o Furacão Stan, em uma
tempestade relativamente fraca que alcançou apenas momentaneamente a
classificação de furacão, afetou a costa Atlântica da América Central e a Península
de Yucatán, no México. A Guatemala relatou mais de 1500 fatalidades e milhares
de pessoas desaparecidas; em El salvador foram registradas 72 fatalidades e no
México, 98. O Furacão Wilma, uma semana mais tarde, causou 12 fatalidades no
Haiti e 8 no México.

O Furacão Stan afetou principalmente as regiões indígenas pobres da


Guatemala, El Salvador e Chiapas, enquanto que o Furacão Wilma afetou o ‘resort’
de praia internacional de Cancún. Os danos causados por Wilma foram estimados
em U$1,74 bilhões, sendo 25% em danos diretos e 75% em custos indiretos devido
ao turismo perdido. Um estudo conjunto da resposta do México aos furacões,
financiado pelo Banco Mundial, mostrou que o Stan causou danos de cerca de
US$2,2 bilhões no México, sendo 65% em perdas diretas e 35% devido a impactos

74
TÓPICO 4 | MUDANÇAS CLIMÁTICAS, EVENTOS EXTREMOS E VULNERABILIDADE NA AMÉRICA LATINA E CARIBE

futuros na produção agrícola. Cerca de 70% destes danos foram relatados no


estado de Chiapas, representando 5% do PIB do estado.

A comparação do gerenciamento dos dois furacões pelas autoridades


mexicanas destaca problemas importantes de gerenciamento de risco de desastres.
A evacuação das áreas atingidas pelo Stan começou apenas durante a fase
emergencial, quando as enchentes de 98 rios já haviam afetado 800 comunidades.
100.000 pessoas abandonaram as regiões montanhosas para abrigos improvisados
de última hora. Em comparação, seguindo o aviso antecipado do Wilma, as pessoas
foram adequadamente evacuadas, e grupos de emergência foram mobilizados
para restabelecer os serviços de água, eletricidade, comunicações e saúde. Todos
os ministérios foram envolvidos na reabertura de aeroportos e instalações de
turismo, tão rapidamente quanto possível.

FONTE: REDE DE CONHECIMENTO DE CLIMA E DESENVOLVIMENTO (2012). Gerenciando extremos


climáticos e desastres na América Latina e no Caribe: lições do relatório SREX. CDKN. Disponível
em: < http://www.ccst.inpe.br/wp-content/themes/ccst-2.0/pdf/SEX-Lessons-Portuguese-LAC.
pdf>. Acesso em: 13 nov. 2015.

Corroborando, outros dois relatórios, um da CEPAL e outro do Banco


Mundial, da primeira década do século XXI, classificam a América Latina e o Caribe
entre as regiões mais vulneráveis às mudanças climáticas, tanto por suas características
geográficas muito específicas, como por apresentarem uma capacidade política até
agora ineficaz no que se refere ao enfrentamento do fenômeno. O continente já sofre
e continuará sofrendo graves consequências da alteração do clima. O contexto da
região latino-americana e caribenha é único no planeta, se diferindo dos países do
Norte desenvolvido (principais responsáveis pelas emissões de carbono e com mais
recursos e políticas), quanto da condição vivida por nações em desenvolvimento de
outros continentes (que quase não contribuem com as emissões), serão, no entanto,
atingidas pelos impactos da alteração do clima.

As implicações para a região da América Latina e Caribe são:

• Os países precisam reavaliar sua vulnerabilidade e exposição, para gerenciar


melhor o risco de desastres. Essa reavaliação precisa ser plenamente integrada
no processo de planejamento.
• Há necessidade de novas avaliações de risco de desastres que levem em conta
a mudança climática, que podem exigir que países, empresas e pessoas de
modo geral reavaliem as expectativas sobre que níveis de risco querem e
podem aceitar. Será importante fortalecer novas e existentes parcerias para
redução de riscos.
• É necessário fortalecer a integração dos mecanismos financeiros e de
programação para apoiar a adaptação e o gerenciamento de riscos pelos
setores de desenvolvimento.

75
UNIDADE 1 | AMÉRICA LATINA: CONTEXTUALIZAÇÃO, REGIONALIZAÇÕES E VULNERABILIDADE AMBIENTAL

• Será importante realçar os riscos de desastre relacionados à mudança do clima


para os formuladores de políticas regionais que estejam trabalhando em outros
domínios.
• É necessário reafirmar a importância da mitigação global dos gases de efeito
estufa para evitar os piores extremos climáticos e os impactos associados, na
América Latina e no Caribe.
• Deve-se considerar que, em alguns casos atuais, os extremos climáticos tornar-
se-ão cada vez mais recorrentes no futuro. Os extremos climáticos do futuro
podem, portanto, ampliar nossa imaginação e desafiar nossa capacidade de
gerenciar mudanças como nunca.
• É necessário haver estratégias de desenvolvimento e políticas econômicas
muito mais inteligentes que considerem como o objetivo mais importante a
mudança do risco de desastres. Sem isso, é provável que um número cada
vez maior de pessoas e ativos sejam adversamente impactados por futuros
extremos climáticos e desastres.

Estudos sugerem que o clima em mudança combinado com a ocorrência


de extremos climáticos, ocorram de forma potencializada em relação à frequência,
intensidade e abrangência da extensão espacial. Assim, as implicações das
mudanças climáticas e dos extremos climáticos na América Latina e Caribe exigem
dos países uma reavaliação de sua vulnerabilidade e exposição, para um eficaz
e rápido gerenciamento dos riscos de desastres, contando com planejamento e
percepção eminente de possíveis desastres. Diante dos indícios de mudanças
climáticas, fazem-se necessárias novas avaliações de risco de desastres, exigindo
que governantes e populações reavaliem as expectativas sobre que níveis de
risco querem e podem aceitar. Parcerias para redução de riscos deverão ser
engendradas, realçando os riscos de desastre relacionados à mudança do clima
para os formuladores de políticas regionais que estejam trabalhando em outros
domínios.

76
RESUMO DO TÓPICO 4
Neste tópico vimos que:

• As regiões latino-americana e caribenha apresentam características


contrastando de um lado diversidade biológica, ecossistêmica, social e cultural
e por outro, problemas econômicos, sociais e ambientais.

• As questões ambientais incluem sistema de posse de terras, desmatamento e


queimadas, exploração excessiva dos estoques pesqueiros, exploração mineral
que deixa um rastro de impactos ambientais e sociais, e problemas urbanos
dos mais diversos.

• Paralelamente, vivemos num período da história geológica do planeta Terra


em que está em curso uma mudança climática, ao que tudo indica, acelerada
pelas ações humanas pressionando sobre os recursos naturais e elementos
atmosféricos, hídricos e possivelmente até geológicos.

• As mudanças climáticas constituem um fenômeno de longo prazo, cujos


efeitos serão mais intensos na segunda metade do século XXI, porém para
enfrentamento de seus impactos é necessário a sociedade civil, governantes e
setores econômicos agirem urgentemente.

• Dentre as medidas propostas a redução das emissões de gases de efeito estufa


é umas das proposições, pois estes agem sobre o aquecimento global que por
sua vez age sobre as alterações climáticas. Dentre os grandes vilões estão os
combustíveis fósseis, as queimadas e indústrias.

• Concomitantemente ocorrem extremos climáticos que se transformam em


desastres socionaturais por assolarem regiões densamente populosas e
povoadas, ocupadas de forma informal, caracterizadas pelas autoconstruções.

• A América Latina e Caribe apresentam suscetibilidades para as mudanças


climáticas, e deficiências políticas para enfrentar as crises decorrentes.

• Dados a partir de 1950 evidenciam e sugerem que a mudança climática já


mudou a magnitude e a frequência de alguns eventos extremos de condições
meteorológicas e climáticas em algumas regiões globais.

77
• O Relatório SREX-IPCC, 2012 é um Relatório especial para a gestão dos riscos
de eventos extremos e Desastres para o Avanço na Adaptação às Alterações
Climáticas, (Special Report for Managing the Risks of Extreme Events and
Disasters to Advance Climate Change Adaptation, apresentado em dados
baseados aos apresentados pelo Painel Intergovernamental sobre Mudança
Climática – IPCC (Intergovernmental Panel on Climate Change) , apoiados pela
Agência de Clima e Poluição e pelo Ministério de Relações Exteriores da
Noruega.

• A América Latina e o Caribe apresentam níveis de vulnerabilidade e


exposição o resultado de processos de desenvolvimento assimétrico, além
de gerenciamento ambiental deficiente, mudança demográfica, urbanização
rápida e não planejada, governo falho e escassez de opções de sustento.

• A vulnerabilidade e exposição são os principais impulsionadores do risco


e das perdas por desastres. Entender a natureza multifacetada tanto da
exposição, quanto à vulnerabilidade é importante para compreender o
quanto as condições meteorológicas e os eventos climáticos contribuem para
a ocorrência de desastres socionaturais, para o planejamento, organização e
implementação de ações estratégicas efetivas de adaptação e gerenciamento
de risco de desastres.

• As decisões, a elaboração de políticas e ações precisam se basear na natureza


da vulnerabilidade e da exposição da população ao risco, pois o risco não é
apenas natural, mas socionatural.

78
AUTOATIVIDADE

1 Nosso clima está em mudança, provavelmente decorrente de processos


naturais, agravados ou acelerados pela ação antrópica. As alterações de
um clima podem ocorrer na frequência, intensidade, extensão espacial e
duração de extremos das condições meteorológicas e climáticas, podendo
resultar em evento sem precedentes. Diante da contextualização analise as
seguintes afirmativas, e assinale V para verdadeiro e F para falso.

( ) Um evento extremo climático é geralmente definido como a ocorrência


de um valor de uma variável (precipitações, temperaturas, ventos) de
condição meteorológica ou clima, acima ou abaixo de um valor limite,
próximo das extremidades superiores ou inferiores, da faixa de valores
da variável normalmente observados.
( ) Enchentes, inundações, estresse pelo calor, descoloração de corais,
ciclones e elevação do nível do mar, geadas, nevascas, são exemplos de
eventos climáticos extremos.
( ) Eventos sísmicos, vulcões e tsunamis não se encaixam no conceito de
desastres socionaturais, nem quando atingem áreas cujas populações
são vulneráveis. A gravidade desses impactos dependerá da reação dos
governantes e da população diante dos eventos.
( ) Extremos climáticos podem resultar em volumosos impactos, tanto sobre
sistemas humanos, quanto ecossistemas, incluindo perdas econômicas,
impactos sobre setores como turismo e agricultura, em povoamentos
humanos e pequenos países-ilhas.

Agora, assinale a sequência CORRETA:

( ) V – V – F – V.
( ) F – F – V – V.
( ) V – V – F – F.
( ) V – F – V – F.

2 A mudança climática está alterando a distribuição, intensidade e


frequência geográficas de riscos relacionados às condições meteorológicas,
ameaçando exceder as capacidades de países mais pobres de absorver
perdas e recuperar-se dos impactos de desastres. Assim, o gerenciamento
de risco torna-se crítico. Analise as afirmativas a seguir:

I – As ações de remediação e adaptação aos desastres socionaturais envolvem


planejamento e políticas de percepção e atitudes diante dos eventos.
II – Lidar com o bem-estar social, qualidade de vida, infraestrutura e meios de
sustento, e incorporar uma abordagem multirrisco com responsabilidade,
deve ser preocupação apenas das lideranças políticas e comunitárias.

79
III – Os sistemas nacionais, provinciais e ou das comunidades locais devem
trabalhar de forma complementar e integrada em suas ações. A população
de maneira geral, no entanto, não possui responsabilidade de interagir
com as lideranças políticas, por falta de conhecimento, para planejamento
e proposição de políticas e medidas de mobilização diante de desastres
socionaturais.
IV – A forma como uma comunidade responde e sobrevive a desastres depende
dos recursos que podem ser usados para enfrentar tais desastres. Assim,
populações mais pobres têm dificuldades para enfrentar tais eventos.

Agora assinale a alternativa CORRETA:

a) As afirmativas I – II e III estão corretas.


b) As afirmativas I – III e IV estão corretas.
c) As afirmativas III e IV estão corretas.
d) As afirmativas I e II estão corretas.

80
UNIDADE 2

AMÉRICA LATINA: OS PAÍSES QUE


COMPÕEM A DIVISÃO REGIONAL

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Nessa unidade vamos:

• compreender a formação socioespacial da América Latina, destacando os prin-


cipais fatores que compõem as características dos países latino-americanos;

• relacionar as características e conceitos de localização e relação dos países


e suas integrações regionais;

• destacar as peculiaridades e inter-relações de países que participam da


América Latina;

• perceber a atual situação social e econômica a partir da formação histórica


e étnica, destacando o processo de colonização dos países;

• perceber as características dos países latino-americanos e ao mesmo tem-


po diferenciações que existem entre os mesmos;

• entender os conflitos que refletem as relações atuais e as dinâmicas territo-


riais dos países;

• relacionar aspectos econômicos comuns e diferentes dos países latino-a-


mericanos;

• refletir sobre a contemporaneidade dos problemas sociais apresentados por


alguns dos países, diante de conflitos de imigração, guerras, embargos.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos, sendo que em cada um deles, você
encontrará atividades visando à compreensão dos conteúdos apresentados.

TÓPICO 1 – MÉXICO

TÓPICO 2 – AMÉRICA LATINA: AMÉRICA CENTRAL

TÓPICO 3 – AMÉRICA LATINA: AMÉRICA PLATINA

81
82
UNIDADE 2
TÓPICO 1

MÉXICO

1 INTRODUÇÃO
O território do México ocupa a posição de quinto mais extenso país
da América com a terceira maior população do continente. Localizado no sul
da América do Norte faz fronteira ao norte com os Estados Unidos e ao sul
com Belize e Guatemala. É também banhado pelo Oceano Pacífico e o Oceano
Atlântico, através do Golfo do México a leste e do Mar do Caribe. O país é
classificado geograficamente como parte da América do Norte que é dividida
no mapa como América do Norte, América Central e América do Sul, e também
classificado como histórico-sociocultural, que separa os países entre América
Latina e América Anglo-saxônica.

FIGURA 31 – MAPA DO MÉXICO

FONTE: Disponível em: <https://encrypted-tbn1.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9G-


cSyCtR4ndrm10T80m3dXTCpyEBZRY0JXcBYUB9cc2X5pj_cswYBn6rQkA>. Acesso
em: 25 nov. 2015.

83
UNIDADE 2 | AMÉRICA LATINA: OS PAÍSES QUE COMPÕEM A DIVISÃO REGIONAL

O México distingue-se dos demais países da América do Norte por


apresentar graves problemas sociais. A miséria no campo, as periferias
empobrecidas nas cidades, o desemprego em massa e os baixos salários
empurram grande número de mexicanos para os Estados Unidos, onde
tentam entrar ilegalmente. Para compreender isso é fundamental entender
o espaço geográfico mexicano, que vem sendo construído, desde a
independência, em meio a disputas políticas e outras dificuldades.

FONTE: Disponível em: <http://larybispo.blogspot.com.br/2011/08/geografia.html>. Acesso em:


25 nov. 2015.

A parte norte do território mexicano é extremamente árida. As


dificuldades de povoamento impostas por esse clima adverso somam-se à falta
de investimentos em pesquisas e tecnologia, o que dificulta a expansão e a
modernização das práticas agrícolas. A agricultura nos territórios centrais e do
sul do país é desenvolvida em relevo extremamente acidentado.

Os indígenas praticam há séculos uma policultura itinerante de


autocontrole chamada conuco. Essa técnica consiste no plantio intercalado de uma
grande variedade de alimentos em pequenas áreas durante aproximadamente
cinco anos. Após esse período, eles ocuparão outras áreas, onde o conuco é
reiniciado após a remoção da vegetação original por meio da queimada. A
agricultura nessas áreas exige técnicas de produção caríssima para os padrões de
vida da maior parte dos agricultores, nesse caso, somente os ricos fazendeiros são
beneficiados (BRUMER; PINEIRO, 2005).

O predomínio de deserto no Norte, de montanhas no Centro e de florestas


no Sul restringe as áreas agrícolas do país, que não ocupam mais que 20% do
território mexicano. Apesar do pequeno espaço rural, o país tem uma economia
muito dependente das exortações de produtos agropecuários. Essas exportações
provêm de grandes fazendas, que ainda adotam o sistema de plantation, elas se
espalham por todo o país, ocupando terras que outrora pertenciam aos ejidos.
Antes da chegada dos colonizadores, os ameríndios tinham uma organização
econômica baseada em ejidos, terras comunitárias voltadas para o autoconsumo.
Mas esse tipo de exploração agrária praticamente desapareceu em meados do
século XIX, quando as ricas famílias brancas de origem europeia se apropriaram
da maioria das terras e as transformaram em latifúndios (PALÁCIOS, 2008).

Consequentemente, no começo do século XX, a situação dos camponeses


era tão dramática que muitos morriam de fome. Diante disso, no Norte e no Sul
do país surgiram grupos revoltosos liderados, respectivamente, por Pancho Villa
e Emiliano Zapata. Esses líderes conseguiram retomar muitas terras e reorganizar
os ejidos, mas acabaram assassinados.

84
TÓPICO 1 | MÉXICO

Os novos ejidos, em sua maioria foram criados em terras de baixa qualidade,


geralmente montanhosas, e não conseguiram competir com os latifundiários, quase
sempre localizados em terras planas e mais férteis. Além disso, os ricos fazendeiros
sempre tiveram à sua disposição financiamento barato, oferecido pelo governo.
Com esse dinheiro puderam comprar máquinas e aumentar a produtividade
de suas grandes propriedades, conhecidas como haciendas. A desvantagem em
relação às haciendas fez muitos camponeses abandonarem os ejidos, apesar das
tentativas do governo mexicano de incentivar também esse tipo de produção.
Afinal, ao contrário dos poderosos fazendeiros, os pequenos agricultores não
têm garantias para oferecer aos bancos em troca da liberação de financiamento.
Apesar dessas dificuldades, os ejidos têm grande importância para o México, pois
graças a essas propriedades coletivas, 25% da população economicamente ativa
– PEA, ainda atua no setor primário da economia, a agricultura. Boa parte dessa
mão de obra é formada por descendentes de indígenas, que produzem alimentos
para consumo próprio usando a técnica do conuco (PALÁCIOS, 2008).

2 TERRITÓRIO E POPULAÇÃO

Com cerca de 122,3 milhões de habitantes, segundo dados do Banco


Mundial, a população está localizada no território de 1.967.183 km². Os
mexicanos encontram-se distribuídos de forma irregular, cerca de 75% da
população vive no Planalto do México, que apresenta solos férteis de origem
vulcânica e climas que favorecem a ocupação humana. No planalto está
localizada a Cidade do México, capital do país. É o mais populoso centro
urbano da América e uma das mais problemáticas regiões metropolitanas
do mundo.

FONTE: Disponível em: <http://claudiatorales.blogspot.com.br/2012/11/mexico-entre-os-paises-


ricos-e-os.html>. Acesso em: 25 nov. 2015.

O Planalto do México é cercado por formações geológicas de maior altitude,


que são prolongamentos das Montanhas rochosas e recebem as denominações
de Serra Madre Oriental, a leste. O clima frio nos trechos mais elevados inibe a
ocupação humana. No Nordeste do país, a presença de desertos contribui para
as baixas densidades demográficas da região. Como mostra o mapa de relevo do
México (TAMDJIAM, 2012).

85
UNIDADE 2 | AMÉRICA LATINA: OS PAÍSES QUE COMPÕEM A DIVISÃO REGIONAL

FIGURA 32 – RELEVO DO MÉXICO

FONTE: Disponível em: <http://3.bp.blogspot.com/_WNDKb5khza8/ShC-bydJPMI/


AAAAAAAAAKk/b3iuDf4VEw8/s320/Imagem+024.jpg>. Acesso em: 25 nov. 2015.

A população do México é muito heterogênea, mas a herança dos


ameríndios é visível. Cerca de 60% dos mexicanos são mestiços de indígenas com
europeus. As nações indígenas estão concentradas principalmente no interior do
país. Elas representam 29% da população e falam mais de 60 idiomas. O processo
de concentração de terras nas mãos de poucos proprietários afetou duramente as
comunidades indígenas. Vítimas de violência e de exploração por parte de grandes
fazendeiros, muitos indígenas têm buscado moradia nas periferias das grandes
cidades, sobretudo na Cidade do México. A população de origem exclusivamente
europeia é minoria, corresponde a apenas 11% dos mexicanos. Observe o quadro
da população urbana e rural. Ele mostra o ritmo de urbanização que o México
apresentou nos últimos 200 anos.

86
TÓPICO 1 | MÉXICO

TABELA 1 – PROJEÇÃO DA POPULAÇÃO DO MÉXICO 2005-2050

Projeção da população do México 2005-2050

População Urbano Rural


Ano Taxa de crescimento (%)
(milhões) (%) (%)
1980 66,846 3,15 66,3 33,7
1990 81,246 2,43 71,3 28,7
2000 97,361 1,85 77,1 22,9
2005 103,947 1,45 77,8 22,2
2010 108,396 1,28 78,5 21,5
2015 112,310 1,14 79,1 20,9
2020 115,762 1,01 79,7 20,3
2030 120,928 0,69 80,3 19,7
2040 122,936 0,38 80,8 19,2
2050 121,855 0,12 81,2 18,8
FONTE: Proyección demográfica de México 1980-2050. Em Jan Bazant (Conapo, “Proyecciones
de Poblaciónde México 2005 – 2050”. Edición 2006, p. 21-22).

Como se pode notar, só na década de 1990 o êxodo rural passou a fazer


parte marcante da vida dos mexicanos. Atualmente, o processo de urbanização
está muito acelerado, à semelhança do que ocorreu há algumas décadas em outros
países, inclusive no Brasil. As cidades mexicanas estão crescendo rapidamente
pela oferta de empregos nas áreas industriais e em serviços, como no caso da
cidade de Tampico, Pozo Raso e Mérida, no litoral do Golfo do México, que
se expandiram em função das indústrias petrolíferas e alimentícia, que geram
milhares de empregos. Mas, certamente o que chama a atenção no país é a sua
capital, uma das maiores cidades do mundo. A área metropolitana da Cidade do
México abriga nada menos que 25% da população do país. Sua população total
ultrapassa a casa dos 20 milhões de habitantes (PALÁCIOS, 2008).

87
UNIDADE 2 | AMÉRICA LATINA: OS PAÍSES QUE COMPÕEM A DIVISÃO REGIONAL

FIGURA 33 – CIDADE DO MÉXICO

FONTE: Disponível em: <http://s2.glbimg.com/lpAhm1Wg4woncFgFJLYL0pHwjZY=/s.


glbimg.com/jo/g1/f/original/2013/06/11/foto5.jpg>. Acesso em: 25 nov. 2015.

UNI

Curiosidade: Uma grande cidade com grandes problemas

Os arquitetos Silvia Mejia e Juan Carlos Espinosa Cuock desenvolveram um interessante


trabalho sobre a Cidade do México. Eles estudaram os motivos para o crescimento tão
acelerado dessa gigantesca região metropolitana. O estudo constatou que a cidade se
expandiu à medida que se avolumaram os problemas no campo mexicano. O pequeno
agricultor empobrecia e abandonava o campo para buscar trabalho nas indústrias que
surgiam rapidamente na capital. Antigamente, a cidade do México era cercada por lagos e
pântanos. Por isso, ao se expandir, construíram-se aterros, sobre os quais se ergueu grande
parte das moradias, inclusive irregulares. Essas áreas aterradas formam hoje gigantescos
bairros periféricos. Esses aglomerados de casas e outras construções, em grande parte
desprovidas de infraestrutura, forma a maior periferia urbana do mundo.

O crescimento desenfreado da Cidade do México deparou-se com outra particularidade


geográfica na periferia, além dos terrenos pantanosos. Muitas montanhas e vulcões cercam
a cidade. Esse relevo montanhoso que pode superar os 2 mil metros de altitude, dificulta
bastante a dispersão da poluição. Por isso, a fuligem e a fumaça frequentemente ficam
acumuladas sobre a capital, degradando muito a qualidade do ar e da vida.

88
TÓPICO 1 | MÉXICO

FONTE: Disponível em: <http://top10mais.org/top-10-maiores-favelas-mundo/#ixz-


z3rHRhSbOH>. Acesso em: 25 nov. 2015.

A favela Neza cresceu em 1990, e atualmente é uma das maiores


favelas do mundo, possui dificuldade em atender ao aumento da quantidade
habitacional e despesas pelas mudanças. O governo mexicano se esforça
para criação de ambiente mais sustentável, em colaboração a organizações
como Infonavit, com habitação acessível em crescimento.

FONTE: Disponível em: <http://top10mais.org/top-10-maiores-favelas-mundo/#ixzz3rHRhSbOH>.


Acesso em: 25 nov. 2015.

Também conhecida pelo nome de Ciudad Perdida, Neza-Chalco-Izta


fica na Cidade do México e é uma mega favela com população estimada
em 4 milhões de habitantes. A comunidade começou a se formar a partir
dos anos 1900, quando novas zonas industriais foram se estabelecendo na
cidade, e hoje a maioria dos residentes tem acesso ao abastecimento de
água, energia e saneamento básico, embora a qualidade desses serviços seja
motivo de grande debate.

FONTE: Disponível em: <http://www.megacurioso.com.br/economia/46920-confira-alguns-


exemplos-de-mega-favelas-que-existem-pelo-mundo.htm>. Acesso em: 25 nov. 2015.

Mas, há outras grandes cidades mexicanas. Além de Monterrey,


Guadalajara e Puebla, que já eram centros importantes, observamos agora
o crescimento de cidades na fronteira com os Estados Unidos. Nessa região,
destacam-se Tijuana e Juárez. Cada uma dessas cidades tem cerca de dois milhões
de habitantes, e sua população cresceu após a instalação de maquiladoras.
89
UNIDADE 2 | AMÉRICA LATINA: OS PAÍSES QUE COMPÕEM A DIVISÃO REGIONAL

FIGURA 34 – MAPA LOCALIZAÇÃO DAS PRINCIPAIS CIDADES MEXICANAS

FONTE: Disponível em: <http://www.wissenladen.com/maps/map.php?Mexico&id=149&ln=en>.


Acesso em: 25 nov. 2015.

Na década de 1960, na região fronteiriça com os Estados Unidos, foi criada


uma zona franca para atrair capital estrangeiro. O objetivo era ampliar o parque
industrial mexicano, com apoio de uma legislação especial, o que garantiu menores
impostos e facilidades para exportar a produção para os Estados Unidos. Foi daí
a origem de um novo tipo de fábrica, conhecida como a indústria maquiladora,
elas recebem peças fabricadas nos Estados Unidos e montam o produto final.

As grandes cidades abrigam mais de 70% da população mexicana. As


maiores densidades demográficas ocorrem nas cidades do centro e do litoral
do país. Elas contrastam com o norte árido e o sul florestado, que são menos
povoados.

90
TÓPICO 1 | MÉXICO

FIGURA 35 – MAPA DA DENSIDADE DEMOGRÁFICA DO MÉXICO

FONTE: Disponível em: <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/4/40/Mexico_


estados_densidad.png/640px-Mexico_estados_densidad.png>. Acesso em: 25 nov. 2015.

A urbanização permitiu uma melhoria nas condições médico-sanitárias,


e promoveu uma queda acentuada das taxas de mortalidade, o que acelerou o
crescimento vegetativo do país. O rápido processo de urbanização não é o único
fator gerador de grandes necessidades de serviços básicos. Contribui para o
aumento dessa demanda a existência de um elevado percentual de jovens, que
evidentemente necessitam de escolas e universidades, entretanto, nem sempre
essas carências estruturais são sanadas. Apesar da urbanização acelerada,
persistem no México graves problemas sociais. No Sul, no estado de Chiapas, há
uma grande carência de serviços básicos, como rede elétrica e de água e esgoto,
coleta de lixo, asfaltamento de ruas, construção de escolas e hospitais.

Essa situação de atraso e de injustiça social que caracteriza algumas


comunidades gera conflitos. Existem grupos sociais, muitos dos quais, armados,
que lutam por seus direitos em muitas regiões do país. Um dos mais conhecidos
é o Exército Zapatista de Libertação Nacional – EZLN, que atua em Chiapas, um
dos estados mais pobres do México. O EZLN se mantém em constante prontidão
contra as injustiças cometidas pelo governo mexicano que atingem a população
indígena da região. Sem nenhuma infraestrutura e constantemente expulsos de
suas terras, os indígenas zapatistas enfrentam as tropas do exército mexicano
desde 1º de janeiro de 1994. Vivendo nas montanhas florestadas de Chiapas, o

91
UNIDADE 2 | AMÉRICA LATINA: OS PAÍSES QUE COMPÕEM A DIVISÃO REGIONAL

EZLN colabora com a população da região para superar a falta de saneamento


básico, saúde pública, educação, transporte e trabalho. Muitos zapatistas mantêm-
se no anonimato para evitar perseguições por parte do governo mexicano. Os
líderes andam encapuzados, evitando mostrar o rosto.

3 ENTRE PAÍSES RICOS E ENTRE PAÍSES POBRES


A economia mundial passou por profundas mudanças nas décadas de
1980 e 1990. A mais notável foi o colapso da União Soviética, que afetou quase
todos os países socialistas. Nessa época, a Rússia, a maior e mais importante das
ex-repúblicas soviéticas, iniciou uma rápida transição para o capitalismo. Chegava
ao fim a Guerra Fria, marcada pela bipolaridade mundial entre o capitalismo e o
socialismo. Ao mesmo tempo em que o bloco socialista se desintegrava, muitos
países asiáticos, especialmente o Japão, transformavam suas economias em
plataformas de exportação e inundavam o mundo com mercadorias baratas.

Muitos países tiveram de se preparar para essa nova situação, o


capitalismo havia se transformado num sistema econômico planetário e a
concorrência internacional era acirrada pelo bom desempenho da Ásia. Como
parte da preparação para enfrentar grandes disputas no comércio internacional,
vários países formalizaram parcerias entre Si. Os Estados Unidos e o Canadá,
por exemplo, iniciaram conversações para unificar seus mercados consumidores.
Isso permitiria que as mercadorias produzidas por suas empresas concorressem
livremente, porém num mercado consumidor menor, os dois países somam
mais de 330 milhões de habitantes e com alto poder aquisitivo, essa parceria foi
efetivada em 1988, quando norte-americanos e canadenses estabeleceram um
acordo de liberalização comercial. Foi o primeiro passo para a implementação do
Acordo de Livre Comércio da América do Norte – NAFTA, uma vez oficializado,
o Nafta permitiria a livre entrada de produtos canadenses nos Estados Unidos e
vice-versa. (CHALOUT, 2000)

Poucos anos depois de 1992, o Nafta recebeu a adesão do México. Em


1º de janeiro de 1994 passou a vigorar. Seu pleno funcionamento se daria num
prazo máximo de 15 anos, quando desapareceriam todas as barreiras comerciais
entre os três países-membros, ou seja, nesse estágio nenhum produto mexicano,
canadense ou dos EUA pagaria tarifas alfandegárias para ingressar nos outros
dois países e vice-versa.

Num primeiro momento, foram eliminadas as tarifas alfandegárias sobre


veículos, autopeças, computadores, tecidos e produtos agrícolas. Desse modo,
tais produtos ficaram mais baratos no interior do Nafta. Esse barateamento
aumentou as vendas dessas mercadorias, criando mais empregos e desenvolvendo
a economia em geral.

92
TÓPICO 1 | MÉXICO

Alguns especialistas acreditam que o Nafta ajudou as empreses de seus


países-membros a aprimorarem sua produção, ao intensificar o comércio regional,
afinal, essas empresas passaram a investir em tecnologia e na abertura de novos
pontos de venda para conquistar os consumidores de seus vizinhos-parceiros, as
empresas do Nafta também teriam se tornado mais capacitadas para enfrentar a
concorrência com os asiáticos.

Por outro lado, há análises que acusam o Nafta de rebaixar o México


e o Canadá a meros fornecedores e consumidores dos Estados Unidos, cujas
gigantescas e modernas corporações empresariais são imbatíveis como
concorrentes. De fato, os Estados Unidos têm grande interesse nos abundantes
recursos naturais do Canadá, mas, e quanto ao México?

Inicialmente no México ocorreu uma euforia devido à abertura do mercado


consumidor estadunidense aos produtos do país latino. Mas em poucos anos a
realidade mostrou-se outra. Uma parcela considerável das empresas mexicanas
foi comprada ou incorporada por gigantescas transnacionais norte-americanas,
muito mais ricas e detentoras de avançadas técnicas de produção. Isso fez
com que o desemprego aumentasse no México, apesar das maquiladoras, cujos
empregos geralmente são braçais e mal remunerados. Na agricultura, a situação
é ainda mais preocupante, o México passou de exportador de milho e algodão a
importador desses produtos. Ocorre que o milho e o algodão estadunidenses são
subsidiados (TAMDJIAN, 2012).

Desse modo, apesar de seus produtos entraram livremente nos


Estados Unidos, os agricultores mexicanos não conseguem competir com os
estadunidenses, cujos produtos agrícolas, além de melhores, ficam mais baratos
devido ao subsídio.

DICAS

O subsídio se trata de um benefício, um valor de dinheiro em circulação fixado


e concedido pelo Estado, ou outra corporação, para uma obra de interesse público ou que
beneficie este, e que represente papel importante para a economia do país.

93
UNIDADE 2 | AMÉRICA LATINA: OS PAÍSES QUE COMPÕEM A DIVISÃO REGIONAL

4 A MIGRAÇÃO DOS MEXICANOS


PARA OS ESTADOS UNIDOS
A migração está associada de maneira indissolúvel ao movimento e
ao deslocamento espacial e, nesse sentido, é uma característica nata nos seres
humanos. No entanto, sua organização implica a formação e reestruturação
constante de delimitações territoriais, formando processos de identidade social
no interior das mesmas e de diferenciação com relação aos espaços externos. Tais
delimitações podem ser cidades, regiões ou continentes, mas a divisão política em
países ou estados nacionais configurou espaços de reprodução social no interior
destes, de atração da população proveniente de outros espaços, de regulação para
a entrada e saída de pessoas de uma determinada população etc. Os fluxos são
estimulados ou repelidos em função das circunstâncias específicas das sociedades
e das políticas exercidas. (DIAS, 2007 )

Um problema social com reflexos diretos na queda do índice de


crescimento demográfico é a emigração, legal e ilegal para os Estados
Unidos. Na década de 1990, o número de migrantes para o país vizinho
cresceu 97% e durante os três primeiros anos do novo século 13%. As
estatísticas oficiais mostram que o México perde aproximadamente 300 mil
pessoas por ano, em sua maioria jovens em idade de ter filhos. Porém, as
pessoas que estão em condições de ilegalidade são consideradas a partir
das remessas de dinheiro que esses imigrantes enviam para as famílias que
permaneceram no país.

FONTE: Disponível em: <http://claudiatorales.blogspot.com.br/2012/11/mexico-entre-os-paises-


ricos-e-os.html>. Acesso em: 25 nov. 2015.

Para Mendes (2013) a migração internacional está ligada às enormes


desproporcionalidades existentes entre os países, que foram agravadas pelas
assimetrias e crises econômicas apresentadas por países de baixo desenvolvimento.
Se no país de origem as dificuldades econômicas fazem aumentar a pobreza e
a marginalização, então as correntes migratórias se orientam na direção de
países nos quais existam maiores oportunidades de emprego e investimentos.
Ainda assim, mesmo que haja crescimento econômico em determinado país, a
insuficiente geração de empregos contribui para a migração de pessoas em busca
de melhores condições de vida.

94
TÓPICO 1 | MÉXICO

Um imenso muro cobre boa parte da fronteira entre o México e os


Estados Unidos, é uma representação física das separações entre mundo
desenvolvido e o subdesenvolvido. Quem tenta entrar no país rico pode
ter um destino muito mais severo do que apreensão e posterior deportação.

FONTE: Disponível em: <http://docplayer.com.br/2693288-Imigracao-ilegal-nos-estados-unidos-


uma-analise-conjuntural-a-partir-de-uma-perspectiva-historica.html>. Acesso em: 25 nov. 2015.

Diante das deportações e do rigor do controle da fronteira, ao longo dos


anos revelou-se imparável a imigração ilegal provinda do México, dificultado a
entrada até mesmo de imigrantes legais, que passaram a ser dificultadas pelas
autoridades norte-americanas ao máximo quanto a concessão de vistos, e mesmo
de turistas, a cidadãos mexicanos (DIAS, 2007).

Outro fator da deportação são as condições de circulação que os imigrantes


vivem, num estado de permanente angústia, temendo as rusgas nos locais de
trabalho, ou o encontro de um agente de imigração em algum local, o que levará
ao transporte a um centro de detenção e a uma ordem de deportação. Esta situação
é em especial dolorosa para aqueles que têm família constituída e mesmo filhos
nascidos nos Estados Unidos.

Historicamente, devido à proximidade geográfica e às diferenças sociais


existentes entre os dois países, em 1848, quando os Estados Unidos ainda não se
preocupavam com a imigração ilegal, a anexação americana de parte do território
do México concedeu cidadania a 80.000 mexicanos. Isto ocorreu através do
Tratado de Guadalupe Hidalgo, que encerrava uma guerra entre os dois países
e destinava uma área de 1,36 milhões km² mexicanos para os Estados Unidos.
Outra leva de mexicanos migrou para os Estados Unidos em 1910, quando
aconteceu a Revolução Mexicana. O programa Bracero, instaurado na época da
Segunda Guerra Mundial, também foi responsável por levar imigrantes aos
Estados Unidos.

Em relação aos números em 1927 o Secretário do Trabalho americano


estimou que haveria, na época mais de 1 milhão de mexicanos ilegais no país.
O processo de entrada era facilitado pois não havia tanta proteção na fronteira.
Já em 1980 o valor estimado varia entre 1 e 2 milhões de migrantes. Os dados
apontam que em 2010, aproximadamente 62% dos 10,8 milhões de imigrantes
ilegais são mexicanos, isso representa 6.650.000 de migrantes do México. Como
exemplifica a imagem a seguir.

95
UNIDADE 2 | AMÉRICA LATINA: OS PAÍSES QUE COMPÕEM A DIVISÃO REGIONAL

FIGURA 36 – MIGRAÇÃO DE MEXICANOS PARA OS ESTADOS UNIDOS

FONTE: Disponível em: <http://www.elindependiente.mx/fotos_notas/Incrementa26_


notaw_291214.jpg>. Acesso em: 25 nov. 2015.

A fronteira dos Estados Unidos com o México possui mais de 3,1 mil km
de extensão, este território se estende por quatro estados americanos: Califórnia,
Novo México, Arizona e Texas, sendo esse último aquele com maior área de
fronteira e postos de entrada legal. Do lado mexicano, são seis estados: Baja
California, Sonora, Chihuahua, Coahuila, Nuevo León e Tamaulipas, esses estão
entre os mais desenvolvidos economicamente do México.

Cerca de um terço do total da fronteira entre os dois países possui


uma cerca dividindo as nações, entretanto, a cerca segue sendo construída. A
fronteira também apresenta uma grande quantidade de obstáculos geográficos
que dificultam a transição entre os países, como o Rio Grande, que atua como
fronteira natural entre o Texas e alguns estados mexicanos, e o Rio Colorado.
Além deles há o deserto Soronan que se estende pela Califórnia e Arizona, trata-
se de um dos desertos mais quentes do continente.

O migrante busca por uma melhor condição de vida que trará a ele
bem-estar social, bem como à sua família, em determinados casos,
sendo este um fator crucial na tomada de decisão. O IDH é um meio
de se compreender o que motiva a transposição da fronteira e neste
caso, de modo especial, demonstrar a existência de dois extremos: o
mundo desenvolvido, representado pelos Estados Unidos e o mundo
subdesenvolvido, representado pelo México [...].

96
TÓPICO 1 | MÉXICO

Tendo em vista o infográfico divulgado pelo Relatório de


Desenvolvimento Humano, do ano de 2009, observa-se uma nítida
diferença entre o desenvolvimento humano nas municipalidades que
fazem fronteira entre os Estados Unidos e o México. Em Starr (0,766
IDH), no Estado do Texas, o índice é maior do que o maior índice das
cidades mexicanas que fazem fronteira, sendo que o maior existente no
lado referente ao território mexicano, se encontra na capital do Estado
da Baixa Califórnia, Mexicali (0,757 IDH). (MIRANDA; ANDREOZZI,
2013, p. 916-917).

FIGURA 37 – DIFERENÇAS DO IDH MUNICIPAL NA FRONTEIRA ENTRE OS ESTADOS UNIDOS E


O MÉXICO
As fronteiras fazem a diferença
IDH em zonas fronteiriças dos Estados Unidos e do México, 2000

FONTE: UNDP (2009 apud MIRANDA; ANDREOZZI, 2013, p. 917).

No que diz respeito à plataforma salarial, o trabalhador mexicano


emigrante pode ganhar por hora o equivalente ao que antes ganhava por dia no
seu país. O salário mínimo no México varia de região para região, mas o mais alto
corresponde a dólares dos Estados Unidos USD 4,40 por dia. Quanto às áreas de
intensa concentração de mexicanos nos Estados Unidos, como no Arizona, não
existe legislação sobre salário mínimo, mas este é de USD 5,15 por hora no Texas
e no Novo México.

97
UNIDADE 2 | AMÉRICA LATINA: OS PAÍSES QUE COMPÕEM A DIVISÃO REGIONAL

Os mexicanos ocupam o primeiro lugar em incidência de pobreza


entre a população migrante nos Estados Unidos (22%); assim como em
proporção de população sem previdência social e, junto com os centro-
americanos, os únicos em que esta proporção é majoritária (Conapo, 2008).

FONTE: Disponível em: <http://www.kas.de/wf/doc/9234-1442-5-30.pdf>. Acesso em: 25 nov. 2015.

A população mexicana nos Estados Unidos tem por característica


dispor de níveis de instrução inferiores aos dos migrantes das demais
regiões da América Latina, que, por sua vez, são inferiores aos da população
nativa dos Estados Unidos. Segundo o Current Population Survey dos Estados
Unidos, de 2004 (citado pela CEPAL, 2006), encontra-se o seguinte perfil
no qual se observam especificamente as baixas proporções de migrantes
mexicanos com educação superior ao ensino médio ou curso universitário.

TABELA 2 – EUA: PERCENTUAL DE NASCIDOS NA AMÉRICA LATINA E CARIBE DE 25 ANOS


DE IDADE OU MAIS, POR REGIÃO DE NASCIMENTO E ÚLTIMO NÍVEL EDUCACIONAL
APROVADO 2004

CPS 2004
Educação secundária Educação superior
Região de nascimento
completa ou mais completa ou mais

América Latina 49,7 11,5


Caribe 69,5 19,5
América Central 38,8 6,1
México (2000) 29,8 4,3
América do Sul 80,6 29,7
Estados Unidos 88,3 27,8

FONTE: Censo Nacional de População 1990 e 2000. Current Population Survey, 2004.

Em 2005, o México apresentava-se sendo a região de menor


escolaridade entre os imigrantes dos Estados Unidos. 49% dispunha de
10 séries ou menos de estudos, 35% tinha 10 a 12 séries e somente 15,2%
contavam com estudos técnicos superiores, universitários ou de pós-
graduação (Conapo, 2008).

Apesar da maior parte dos mexicanos que emigram contar com


baixa escolaridade, o impacto relativo da migração é maior nos estratos
educacionais mais elevados. O Conselho Nacional de População (2008)

98
TÓPICO 1 | MÉXICO

assinala que, da população mexicana de 25 a 44 anos de idade, com 12 ou


mais anos de escolaridade, 22,5% reside nos Estados Unidos.

Para Escobar Latapí (2007), 19% dos homens mexicanos com


mestrado e 29% das mulheres com esse nível de escolaridade estão nos
Estados Unidos. No caso de mexicanos com doutorado, as proporções
respectivas são de 32 e 39%. Apesar de a baixa escolaridade ser característica
da migração mexicana para os Estados Unidos, o mesmo não acontece
com outros destinos. Por exemplo, 29,7% dos migrantes mexicanos para o
Canadá maiores de 15 anos conta com educação superior. (www.oecd.org).

Nesse sentido, os mexicanos têm seus salários 38% menores que


a média nacional, 6% menores que os salários dos trabalhadores centro-
americanos e menos da metade que os dos canadenses (51,7%). A migração
tem um componente econômico central. Dos emigrantes procedentes dos
estados com menor desenvolvimento, do sul e sudeste do país, 85% recebia
renda menor que três salários mínimos que em 2007 era em torno de 150
dólares mensais, enquanto que o limite superior do estrato de menor renda
nos Estados Unidos é em torno de onze vezes maior ao salário mínimo
mexicano.

De acordo com a União de Bancos Suíços, em 2006 o nível geral


de preços era 33,9% menor no México que em Los Angeles e em Chicago
(UBS, 2006). Desta maneira, um diferencial de renda de mais de 1100%
com relação ao salário mínimo, ou ainda de 367% em comparação com a
maioria dos mexicanos que ganha até três salários mínimos, resulta em um
incentivo enorme para se arriscar em um processo migratório, apesar de
todos os custos e riscos que isso representa.

Atualmente, 20% da força de trabalho mexicana nos Estados Unidos


trabalha no meio rural. Devido à mecanização agrícola e à redução do
uso de força de trabalho. No entanto, a agricultura daquele país tende a
empregar força de trabalho mais vulnerável e em condições de trabalho
mais precárias, o que facilitou o processo de indigenização mexicana da
força de trabalho na agricultura norte-americana. Apesar da redução do
setor agrícola como destino da migração mexicana, 77% dos trabalhadores
agrícolas nos Estados Unidos são mexicanos e outros 9% são de origem
méxico-americana (DURAND, 2003).

Neste contexto, Durand (2003) explica que esta concentração


mexicana no setor agrícola norte-americano acontece através de seis
características: baixo custo (renda inferior a 50% da dos trabalhadores
nativos), temporalidade (pelo tipo de migração utilizada), juventude (49,3%
menores de 25 anos e 20% entre 25 e 29 anos), capacitação (conhecimento
de terras, plantas e manejo manual das mesmas), mobilidade (aceitação

99
UNIDADE 2 | AMÉRICA LATINA: OS PAÍSES QUE COMPÕEM A DIVISÃO REGIONAL

de trabalhar como nômades em condições de aglomeração) e o fato de


não ter documentos, que faz com que aceitem condições de trabalho mais
arriscadas, precárias e mal pagas.

A mudança na estrutura de emprego no México, em detrimento


do setor agropecuário, favoreceu a mudança da origem territorial dos
migrantes, aumentando aqueles provenientes dos estados mais pobres
e agrícolas. Assim, a maior parte dos emigrantes mexicanos provinha
historicamente da zona central do país, mas recentemente intensificou-se
a migração a partir do sul e tende a se universalizar por todo o território
mexicano, em concomitância com a diversificação das atividades de destino.
De fato, o esgotamento da força de trabalho agropecuária do México
favoreceu o início de um auge na contratação de trabalhadores da América
Central nas grandes propriedades da fronteira sul do México, em especial
no estado de Chiapas.

FONTE: Disponível em: <http://www.kas.de/wf/doc/9234-1442-5-30.pdf>. Acesso em: 25 nov. 2015.

LEITURA COMPLEMENTAR

O QUE É A ‘INJEÇÃO ANTI-MÉXICO’, QUE IMIGRANTES CENTRO-


AMERICANAS TOMAM RUMO AOS EUA

Alberto Nájar
BBC Mundo, na Cidade do México

MULHERES SÃO ACONSELHADAS A TOMAREM PÍLULAS PARA EVITAR


GRAVIDEZ ORIUNDA DE VIOLÊNCIA SEXUAL NO TRAJETO PARA OS EUA

FONTE: BBC BRASIL

100
TÓPICO 1 | MÉXICO

O conselho passa boca a boca entre as imigrantes da América Central que


querem viajar para os Estados Unidos: antes de entrar no México, é recomendável
tomar um anticoncepcional de efeito prolongado. A medida é uma tentativa
desesperada para prevenir a gravidez indesejada depois das agressões sexuais
que muitas delas sofrem no caminho para o território americano.

Todo ano, cerca de 45 mil mulheres centro-americanas entram no México


sem documentos imigratórios. De todas elas, 70% sofre algum tipo de abuso
sexual, conforme denunciou a ONG Anistia Internacional. Tal estatística contrasta
com os números divulgados pelo governo mexicano. Segundo o secretário de
Governo, Miguel Osorio Chong, o número de agressões aos imigrantes "foi
reduzido significativamente".

Mas não é apenas a Anistia Internacional que discorda das informações


oficiais. Entidades como o Centro de Assistência a Imigrantes Retornados, em
Honduras, também afirmam que a violência sexual contra mulheres imigrantes
tem aumentado. "A violência não diminuiu; ao contrário, aumentaram as
agressões às mulheres", disse à BBC Valdette Willemann, uma das responsáveis
pela organização.

Por tudo isso, o conselho que circula entre as mulheres imigrantes é


sempre o de tomar a pílula antes de viajar. O método mais usado é a aplicação do
Depo-Provera, um anticoncepcional que as protege por três meses. Na América
Central, essa pílula é chamada de "injeção anti-México".

O uso de anticoncepcionais entre as imigrantes para "atenuar" de


alguma forma a violência sexual é uma prática comum não só entre mulheres
adultas, como também em adolescentes. Às vezes, são os próprios traficantes de
pessoas, conhecidos como "coiotes", que aconselham todas elas a tomarem esses
medicamentos. O aviso é repetido ao longo de toda a rota até o norte.

E desde o início, muitas mulheres assumem que as agressões sexuais


"fazem parte dos custos da viagem para o México". Recentemente, organizações
apresentaram um relatório sobre as mulheres em situação de imigração. O
documento destaca, entre outras coisas, que algumas imigrantes se veem
obrigadas a ter relações sexuais como um "requisito" para cruzar a fronteira do
sul do México. "Temos ouvido muitos depoimentos de mulheres imigrantes que
decidem, por elas próprias, pagar esse preço para não serem sujeitadas à violência
sexual durante o trajeto", disse Perseo Quiroz, diretor da Anistia Internacional do
México.

Frequentemente, os agressores são agentes do Instituto Nacional de


Migração (INM), que pertence ao governo mexicano – e também existem
denúncias de abusos de policiais e militares. Os "coiotes", membros de gangues e
moradores de aldeias por onde passam as centro-americanas no trajeto também
101
UNIDADE 2 | AMÉRICA LATINA: OS PAÍSES QUE COMPÕEM A DIVISÃO REGIONAL

cometem abusos, segundo as denúncias. Ataques ocorrem em praticamente


todo o país, ainda que organizações civis e autoridades tenham identificado
alguns pontos específicos que são mais perigosos. Um desses é o corredor entre
Huehuetenango, na Guatemala, e Comitán, em Chiapas, no México. Nesta zona,
abusos, roubos, extorsões e sequestros são frequentes. A área é uma das rotas que
recentemente voltou a ser utilizada depois de o governo mexicano ter aumentado
a vigilância nas regiões tradicionais do trajeto, como Tapachula e Ciudad Hidalgo,
em Chiapas. Todo mês, segundo Diana Damián Palencia, diretora da ONG Foca,
há registros de quatro ou cinco assassinatos de mulheres.

As vítimas são abandonadas em um fosso que conecta o município de


Frontera Comalapa, em Chiapas, com Huehuetenango. O caminho se chama,
paradoxalmente, "Gracias a Dios" (Graças a Deus).

Há mais de uma década existem denúncias sobre abusos sexuais a


mulheres imigrantes em território mexicano. As autoridades criaram programas
para combater os abusos a pessoas sem documentos imigratórios, como o "Plano
Fronteira Sul". Mas as agressões não pararam. Não se sabe o número exato de
ataques que ocorrem no país, pois a maioria das vítimas não presta queixa. Além
disso, outro problema é que a maioria dos casos que chega às autoridades fica
impune, segundo a Anistia Internacional. "É preciso que haja proteção efetiva e
punição aos responsáveis pelas violações dos direitos humanos, principalmente
para a violência contra as mulheres imigrantes no México", insiste Quiroz. Mas o
secretário Osorio Chong diz o contrário. Nos municípios onde se aplica o Plano
Fronteira Sul "as agressões diminuíram em 35%", ele garante. "Em menos de um
ano, temos resultados muito satisfatórios a favor dos direitos dos imigrantes que
nos visitam."

FONTE: BBC do Brasil. Disponível em: <http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/10/151023_


injecao_anti_mexico_rm>. Acesso em: 25 nov. 2015.

102
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico vimos que:

• O México guarda grandes semelhanças com o nosso país, sobretudo no tocante


a alguns traços socioeconômicos, destacando o espaço agrário que reflete as
desigualdades sociais, que são tão gritantes quanto na maioria dos países
latino-americanos.

• Cerca de 75% da população mexicana vive sobre região de planalto com solos
férteis de origem vulcânica.

• A população mexicana está concentrada, em sua maioria, nas cidades centrais


e litorâneas do país.

• Do ponto de vista dos sistemas de produção, caracterizamos os dois principais


sistemas de produção agrícola, os ejidos e as haciendas, relacionando-os com os
aspectos naturais dos países da América Latina, que podem ser agrupados em
América Platina, América Andina, Guianas, Brasil, América Central ístmica,
Antilhas (Grandes e Pequenas) e México.

• Estimativas demonstram que cerca de 300 mil pessoas migram do México em


direção aos Estados Unidos.

103
AUTOATIVIDADE

1 Observe a tabela a seguir.

Principais parceiros comerciais em 2010

Países México Canadá

Exportações Estados Unidos 73,5%


Estados Unidos 74,9%
% do valor total das Canadá 7,5%
Reino Unido 4,1%
transações em dólares

Importações Estados Unidos 60,6%


Estados Unidos 50,4%
% do valor total das China 6,6%
China 11%
transações em dólares

a) O que mostram os dados da tabela referentes aos principais parceiros


comerciais dos países em questão, inclusive do México?

b) Com base em seus conhecimentos e no tópico estudado, explique por que


isso ocorre, e a relação com o Nafta.

2 Durante boa parte da década de 1990, as maquiladoras representaram o


símbolo do suposto milagre econômico do México, sobretudo após a
implantação do Nafta. O pico da expansão das maquiladoras foi alcançado
em 2000, quando, no norte do México, ao longo da fronteira com os Estados
Unidos, chegaram a funcionar cerca de 3 600 fábricas desse tipo. Contando
com cerca de 1,3 milhão de funcionários, essas empresas exportaram o
equivalente a US$ 70 bilhões em mercadorias naquele ano.

Aponte algumas características favoráveis e desfavoráveis geradas


pela maquiladoras no México.

104
UNIDADE 2 TÓPICO 2

AMÉRICA LATINA: AMÉRICA CENTRAL

1 INTRODUÇÃO
A América Central possui aspectos naturais exclusivos, que a diferenciam
do restante do continente americano. Tem como principal característica o fato
de que se divide em duas porções, uma continental e outra insular.

A América Central Continental ou ístmica corresponde a uma estreita


faixa de terra que liga a América do Norte à América do Sul. É banhada pelos
oceanos Pacífico, a oeste, e Atlântico, a leste. O Atlântico forma um grande
mar interior denominado Mar das Antilhas ou do Caribe. A América Central
Continental é formada por sete países: Guatemala, Belize, Honduras, El
Salvador, Nicarágua, Costa Rica e Panamá. Abrigando no total uma população
de cerca de 40 milhões de habitantes. Como mostra a figura a seguir.

FIGURA 38 – MAPA DA AMÉRICA CENTRAL

FONTE: Disponível em: <http://8oanocemilie.blogspot.com.br/>. Acesso em: 25 nov. 2015.

105
UNIDADE 2 | AMÉRICA LATINA: OS PAÍSES QUE COMPÕEM A DIVISÃO REGIONAL

A América Central insular é um conjunto de grandes e pequenas ilhas


também chamadas de Antilhas ou Caribe. As inúmeras ilhas estão reunidas
em três grupos: Grandes Antilhas, que inclui Cuba, Jamaica, Porto Rico e a Ilha
Hispaniola, onde se localizam o Haiti e a República Dominicana. Pequenas
Antilhas, que inclui Antígua e Barbuda, Dominica, Granada, Santa Lúcia, São
Cristóvão e Nevis, São Vicente e Granadinas, Trinidad e Tobago, Barbados
e Guadalupe. Bahamas é um arquipélago com mais de 700 ilhas, situado ao
norte de Cuba.

FONTE: Disponível em: <http://geonaweb.blogspot.com.br/2010/09/america-central-insular.


html>. Acesso em: 25 nov. 2015.

2 AMÉRICA CENTRAL CONTINENTAL: SEU


TERRITÓRIO E A SUA POPULAÇÃO
Na porção norte do istmo, na Guatemala, o relevo montanhoso constitui
um prolongamento da Sierra Madre mexicana. A cordilheira é composta de
dobramentos modernos, resultantes do choque de placas tectônicas. O choque
constante entre as placas dá origem a uma intensa atividade tectônica, que se
manifesta principalmente sob a forma de constantes terremotos e erupções
vulcânicas. Existem cerca de 80 vulcões em atividade. Alguns desses vulcões
estão em atividade, e estão em elevadas altitudes, como por exemplo o Tajamulco
que tem 4220 metros, na Guatemala, e o Barú com 3475 metros, no Panamá. Esses
vulcões mostram que ainda estão ativas as forças geológicas que criaram o istmo.

FIGURA 39 – MAPA DAS PLACAS TECTÔNICAS

Direção das placas


Limites das placas tectônicas
Vulcões ativos

FONTE: Disponível em: <http://portaldoprofessor.mec.gov.br/storage/discovirtual/galerias/


imagem/0000001806/0000021652.jpg>. Acesso em: 25 nov. 2015.

106
TÓPICO 2 | AMÉRICA LATINA: AMÉRICA CENTRAL

Em sua porção centro sul, a América Central Continental apresenta as


montanhas e os vulcões aparecem intercalados com bacias sedimentares recobertas
de solos muito férteis. Essa extrema fertilidade resulta da composição de rochas
expelidas pelas atividades vulcânicas mais antigas. Indícios de erupções passadas
são encontrados em alguns sítios arqueológicos, cujos fósseis estão carbonizados.
Os solos férteis são mais abundantes nas costas voltadas para o Oceano Pacífico,
onde os derramamentos de lava vulcânica foram maiores. Os solos vulcânicos
permitem uma diversificada agricultura, entre os cultivos se destacam os de cana-
de-açúcar e banana. Nos planaltos do istmo, encontra-se uma importante área de
plantio de café. Nos litorais banhados pelo Mar do Caribe, encontram-se imensos
manguezais. Eles se formam em locais onde pequenos rios encontram o mar,
geralmente em praias de águas calmas. Ainda próximo aos litorais encontram-se
as florestas tropicais, com uma extraordinária diversidade biológica de formação
vegetal, favorecidas pelas chuvas constantes trazidas pelos ventos marítimos.

A rica diversidade vegetal causa a destruição para exploração de madeira,


muitas áreas de florestas são derrubadas ilegalmente para dar lugar a atividades
agropecuárias como ocorrem em outras partes do mundo. Para conter essa
devastação, que já comprometeu grande parte da vida natural da região, diversos
países do istmo criaram parques nacionais: as áreas preservadas somam 25% da
cobertura vegetal natural da América Central.

FIGURA 40 – IMAGEM DE SATÉLITE RESSALTANDO OS ASPECTOS FÍSICOS DO ISTMO DA AMÉRICA


CENTRAL

FONTE: Disponível em: <http://www.geografiaparatodos.com.br/img/mapas_fisicos/america_


central_fisico.jpg>. Acesso em: 25 nov. 2015.

107
UNIDADE 2 | AMÉRICA LATINA: OS PAÍSES QUE COMPÕEM A DIVISÃO REGIONAL

O país mais populoso é a Guatemala, com aproximadamente 15,47


milhões de habitantes, cerca de um terço da população da América Central.
A maior densidade demográfica ocorre na costa do Pacífico, onde a presença
de planaltos com solos férteis e clima tropical úmido favoreceu a concentração
populacional. Nessas áreas são encontradas as principais cidades da América
Central Continental, as capitais: Guatemala na Guatemala, São José na Costa
Rica, San Salvador em El Salvador, e Manágua na Nicarágua. No litoral do Mar
das Antilhas os reduzidos índices de densidade demográfica devem-se, em
parte, ao predomínio de florestas tropicais.

A composição étnica da população da América Central Continental é


resultante da miscigenação de indígenas e espanhóis, os principais colonizadores
da região. Isso pode ser observado na população de El Salvador, Honduras,
Nicarágua e Panamá. Por exemplo, na Guatemala, mais da metade da população
é constituída por indígenas. Em Belize e na Costa Rica predominam indivíduos
brancos de origem europeia. É significativa uma pequena porcentagem de
descendentes dos africanos, que foram trazidos como escravos para trabalhar
no sistema de plantations na conta atlântica.

Nesse sentido, cabe ressaltar o processo de colonização da América


Central, que tinha a função de proporcionar riqueza às metrópoles. Assim,
todas as terras eram colonizadas para exploração. Por volta dos séculos XVII
e XVIII predominavam em vastos trechos da América Central as plantations,
cuja produção agrícola era controlada pelas metrópoles europeias. As
propriedades agrícolas implantadas pelos colonizadores no continente
americano usavam mão de obra escrava e seus produtos abasteciam
exclusivamente o mercado europeu.

Para manter sua riqueza, os governantes das metrópoles firmaram


acordos comerciais com grandes fazendeiros das colônias. Os acordos
previam que as empresas europeias comprariam toda a produção. Os donos
das propriedades agrícolas coloniais não poderiam vender sua produção a
mais ninguém, nem poderiam desenvolver manufaturas, pois eram obrigados
a comprar as mercadorias produzidas nas metrópoles. Deste modo, suas
economias dependiam exclusivamente da exportação de produtos agrícolas e
de produtos do extrativismo vegetal e mineral. E por que as colônias aceitavam
acordos como esses, tão prejudiciais aos interesses de sua população?

Ocorria que os fazendeiros e os grandes comerciantes residentes nas


colônias tinham origem europeia e estavam interessados apenas em enriquecer.
Estavam inseridos no capitalismo comercial que se desenvolveu na Europa
desde o século XV e numa Divisão Internacional do Trabalho entre metrópoles
e colônias que pressupunha a existência das desigualdades, necessárias para
a reprodução ampliada do capital através do mercantilismo. Os negociantes
e fazendeiros representantes da coroa espanhola, não se preocupavam com a
108
TÓPICO 2 | AMÉRICA LATINA: AMÉRICA CENTRAL

maioria da população. Isso remete pensarmos se na atualidade esta prática em


que os interesses capitalistas das potências econômicas e transnacionais que
causam desfeitos com a população, pequenas empresas e países periféricos, não
está presente na sociedade. As práticas comerciais e os interesses capitalistas de
empresas estrangeiras não respeitam a natureza, nem regimes e condições de
trabalho, pois prezam somente o lucro.

Na América Central, a exploração não se limitou aos produtos agrícolas


das plantations, pois apesar de no final do século XIX vários países terem
conquistado sua independência política, continuaram fornecendo minérios às
potências europeias, que necessitavam dessas matérias-primas para sustentar
sua revolução industrial. Paralelamente, nos séculos XIX e XX, os Estados
Unidos transformaram a América Central em um de seus maiores fornecedores
de alimentos. Os interesses estadunidenses na América Central tornaram-se
mais visíveis, principalmente através da presença de empresas alimentícias, que
se empenharam em conquistar e controlar os mercados produtores da região.

A colonização de exploração em tempos coloniais e a prática do


imperialismo tanto europeu como estadunidense na América Central refletiu
na dependência econômica e na baixa qualidade de vida para a população,
expressa pelas altas taxas de mortalidade infantil e analfabetismo, assim como,
em grandes desníveis sociais e a elevada concentração de renda. Outro aspecto
marcante é o predomínio da população rural, apesar do rápido crescimento dos
habitantes das cidades verificado nas últimas décadas. Também cabe mencionar
a forte dependência da economia de outros países, em especial dos Estados
Unidos, o que levou a intervenções militares estadunidenses na segunda metade
do século XX, nas repúblicas centro-americanas, ampliando e potencializando a
influência que os Estados Unidos exercem na região.

2.1 ECONOMIA E DESENVOLVIMENTO


As primeiras atividades econômicas da América Central Continental
estão relacionadas ao cultivo de produtos tropicais voltados para o mercado
externo. Tem sido assim desde o período colonial. O café e a banana continuam
os principais itens da pauta de exportação da região. A cana-de-açúcar e
o cacau, produtos tradicionais da agricultura centro-americana, perderam
importância no mercado internacional com o surgimento e a consolidação de
outras áreas produtoras, tanto na América do Norte e do Sul, como na Ásia.
Grande parte da produção agrícola de exportação realiza-se em extensas
propriedades monocultoras, localizadas em áreas de clima quente e úmido
no litoral do Pacífico. A maioria dessas propriedades agrícolas pertencem a
empresas estrangeiras, sobretudo originárias dos países para os quais se destina
a produção, como os Estados Unidos, são as plantations contemporâneas.

109
UNIDADE 2 | AMÉRICA LATINA: OS PAÍSES QUE COMPÕEM A DIVISÃO REGIONAL

FIGURA 41 – CULTIVO DE BANANA NA COSTA RICA

FONTE: Disponível em: <http://www.msnoticias.com.br/img/c/620/350/dn_noticia/2014/09/


5005-img-2020-a.jpg>. Acesso em: 25 nov. 2015.

Na porção litoral do Atlântico e nos altiplanos predomina a


agricultura de subsistência, praticada em pequenas propriedades com o
emprego de técnicas tradicionais e de mão de obra familiar, os principais
produtos cultivados são o milho e a batata. Nesta área ocorre também uma
intensa exploração de madeiras de valor comercial, como a peroba, o pau-
rosa, o cedro e a seringueira.

FONTE: Disponível em: <http://geografianewtonalmeida.blogspot.com.br/2013/09/america-


central-continental-perguntas.html>. Acesso em: 26 nov. 2015.

Na atividade industrial e na extração mineral, práticas que estão também


ligadas à economia da América Central, destacam-se apenas algumas indústrias
de bens de consumo, como calçados e têxteis. O país mais industrializado é o
Panamá, em que sua produção petrolífera alimenta as indústrias petroquímicas
e lhe garante a exportação de petróleo, com isso a econômica local beneficia-se da
presença do Canal do Panamá que liga os Oceanos Atlântico e Pacífico gerando
com isso, 25% da renda do país pelos tributos sobre as cargas transportadas.

2.1.1 O caso do Panamá


O Panamá é um país com 75.000 km², esse território fazia parte da Colômbia.
Desde os tempos coloniais as metrópoles europeias cogitavam a construção de
um canal no istmo, que permitisse uma continuidade mais rápida da navegação
pelo oceano Pacífico e litoral americano como este oceano. Empresas francesas
depois da construção do Canal de Suez, no nordeste africano, na península do

110
TÓPICO 2 | AMÉRICA LATINA: AMÉRICA CENTRAL

Sinai, no final do século XIX, começaram a estudar alternativas para um canal


no istmo da América Central. Em 1880, iniciaram os trabalhos de escavação do
projeto francês. Ocorreu que a estrutura geológica, o tipo de rochas e o clima
da região eram totalmente diferentes da região onde fora construído o Canal de
Suez. Depois de muitas dificuldades e mortes (estimadas em 22 mil pessoas),
os franceses desistiram do projeto, decretando falência, e em um acordo com os
Estados Unidos, os franceses “venderam” o projeto aos estadunidenses por US$
40 milhões (REZENDE, 2012).

Consequentemente, desde o final do século XIX, os Estados Unidos e a


Colômbia mantinham conversações para a continuidade da construção desse
importante canal para ligar o Atlântico ao Pacífico. Esse canal, de interesse norte-
americano principalmente, permitiria a passagem interoceânica de grande porte,
aceleraria o comércio entre o oeste e o leste dos Estados Unidos. Sem o canal,
os grandes navios cargueiros dos Estados Unidos e de outros países tinham de
contornar o continente americano pelo sul, gastando mais tempo e dinheiro.
Observe no mapa a diferença entre as rotas sem o canal e após a sua construção.
A diferença com a construção do canal é de 12.530 km a menos no trajeto entre
Nova Iorque na costa leste e São Francisco na costa oeste dos Estados Unidos.

FIGURA 42 – ROTAS OCEÂNICAS ANTES E DEPOIS DA CONSTRUÇÃO DO


CANAL DO PANAMÁ

FONTE: Disponível em: <http://www.aquafluxus.com.br/canal-do-panama-um-


atalho-entre-dois-oceanos/>. Acesso em: 25 nov. 2015.

111
UNIDADE 2 | AMÉRICA LATINA: OS PAÍSES QUE COMPÕEM A DIVISÃO REGIONAL

No começo do século XX, o governo dos Estados Unidos ofereceu


um pagamento anual à Colômbia em troca da utilização do futuro canal. Os
governantes colombianos não aceitaram o valor e julgavam que estavam sendo
colocados de lado nas decisões referentes a essa importante obra. Diante da
resistência da Colômbia em assinar o acordo, os Estados Unidos passaram a
incentivar a separação do Panamá, que, como falamos pertencia a Colômbia.
Em 1903 o Panamá declarou sua independência. A Colômbia não aceitou essa
separação, mas navios de guerra estadunidenses protegem o litoral do Panamá.
As forças armadas da Colômbia evitaram o conflito e a retomada do território,
por temor de uma guerra com os Estados Unidos, que já eram uma potência.

Transformado em um país, o Panamá concedeu, por meio de um acordo,


o direito de construção, de administração e de uso do canal aos Estados Unidos
até 1999, ou seja, durante quase todo o século XX. As obras estenderam-se de 1903
a 1914, quando o canal foi inaugurado. Anos depois, em 1921, os EUA assinaram
um tratado especial de reconciliação com os colombianos pagando 25 milhões de
dólares como indenização.

FIGURA 43 – TRAVESSIA DO CANAL DO PANAMÁ

FONTE: Disponível em: < https://portogente.com.br/media/k2/items/cache/446e731027bed6418ae-


45223e74d8b01_L.jpg?t=-62169984000>. Acesso em: 26 nov. 2015.

112
TÓPICO 2 | AMÉRICA LATINA: AMÉRICA CENTRAL

O canal possui uma extensão de 82 km de comprimento, com largura


mínima no Estreito de Culebra de 90 metros e máxima no lago de Gatún de
350 metros. Como existe uma diferença quanto ao nível dos oceanos Pacífico e
Atlântico e pela disposição do relevo na área, a construção de diversas comportas
ou eclusas foi necessária.

UNI

Entenda o sistema de eclusas do Canal do Panamá, sua história e principais


características assistindo ao vídeo disponível em: <https://www.youtube.com/
watch?v=qf3H7jnFDE4>.

Sobre a duplicação do canal e outras informações complementares sobre os sistemas


de eclusas, assista ao documentário disponível em: <https://www.youtube.com/
watch?v=0QXZXj6U65Q>. Os dois vídeos podem ser utilizados em sala de aula, dependendo
da série ou ano em que os conteúdos estão sendo trabalhados. O segundo vídeo apresenta-
se numa perspectiva interdisciplinar.

Nos últimos anos, o canal perdeu parte da sua importância para a navegação
e o comércio. Os gigantescos navios cargueiros não podem atravessá-lo porque
alguns pontos são estreitos e outros são rasos. Outro problema apresentado pelo
canal é o assoreamento do canal, em virtude do frequente desmoronamento de
terras de suas margens. Em 2000, acabado o período de concessão, o governo dos
Estados Unidos devolveu o canal ao Panamá, que tem realizado constantes obras
de ampliação para que ele não se torne obsoleto.

NOTA

Assoreamento é a deposição de sedimentos no fundo de lagos, rios e represas.


As deposições de sedimentos deixam os corpos d´água mais rasos e prejudica tanto a
navegação quanto os ecossistemas aquáticos.

113
UNIDADE 2 | AMÉRICA LATINA: OS PAÍSES QUE COMPÕEM A DIVISÃO REGIONAL

Atualmente, o Canal do Panamá passa por uma reforma. A obra


de engenharia considerada a maior já realizada pelo homem até 1914,
ano em que as obras tiveram início, está ganhando uma faixa de tráfego
nova ao lado, adequada aos supercargueiros hoje dominantes no comércio
internacional. Até 2015, espera-se que a expansão transforme a travessia
entre os oceanos Atlântico e Pacífico.

FONTE: Disponível em: <http://www.engenhariacompartilhada.com.br/Noticia.aspx?id=750342>.


Acesso em: 26 nov. 2015.

Observe a imagem a seguir.

FIGURA 44 – IMAGEM PARCIAL DAS OBRAS DE AMPLIAÇÃO DO CANAL DO PANAMÁ

FONTE: Disponível em: <http://geografiaetal.blogspot.com.br/2013/05/expansao-do-canal-


do-panama.html>. Acesso em: 25 nov. 2015.

Esta obra de reforma foi proposta em 2006 pelo então presidente Martín
Torrijos, que defendia a obra para tornar o Panamá um “país de Primeiro Mundo”,
iniciado no ano seguinte, em 2007, o projeto era uma exigência natural para um
setor que evoluiu muito em cem anos.

114
TÓPICO 2 | AMÉRICA LATINA: AMÉRICA CENTRAL

FIGURA 45 – MAPA: FLUXOS DA NAVEGAÇÃO MARÍTIMA PELO CANAL DO PANAMÁ EM 2011

FONTE: Disponível em: <http://www.revistamilitar.pt/artigo.php?art_id=914>. Acesso em: 25 nov. 2015.

O atual Canal do Panamá recebe navios com até 295 metros de


comprimento, 32 metros de largura e 12 metros de calado (o espaço ocupado
pela embarcação dentro d’água), os chamados Panamax. A partir dos anos 1990,
porém, surgiram navios muito maiores, capazes de levar mais carga na mesma
viagem, e as dimensões do canal se tornaram um empecilho para eles. A presença
cada vez maior das embarcações Post-Panamax no comércio internacional expôs
a obsolescência da passagem panamenha. Em 2011, 37% da frota mundial de
cargueiros não podia trafegar ali. Um problema e tanto para um país que obtém
com os pedágios US$ 1,8 bilhão por ano, cerca de 26% de seu Produto Interno
Bruto (PIB). “O canal é o nosso petróleo”, afirmou Torrijos ao propor a expansão.
(ARAIA, 2014).

Mas a obra de expansão do canal não transcorreu como imaginado pelas


empresas que assumiram o consórcio. Um sinal da gravidade do atraso foi dado
quando o dinamarquês Soeren Skou, presidente da Maersk, a maior transportadora
de contêineres do mundo, anunciou em março de 2014 que, em abril, sua empresa
iria trocar o Canal do Panamá pelo de Suez para levar cargas da Ásia à costa leste
dos EUA. Segundo representante da empresa Maersk, a economia no transporte
é muito maior via Canal de Suez simplesmente porque se utiliza a metade do
número de navios transportando cargas com os supercargueiros (ARAIA, 2015).

Orçada em US$ 5,25 bilhões, a expansão do canal permitirá a passagem


de navios com até 366 metros de comprimento, 49 metros de largura
e 15,2 metros de calado, o que cobre 95% da atual frota de cargueiros
do mundo. Enquanto os Panamax levam no máximo 4.400 TEU (sigla
para “Twenty Foot Equivalent Unit”, tamanho padrão dos contêineres
da navegação comercial), os Post-Panamax podem transportar até
14.000 TEU.
[...]

115
UNIDADE 2 | AMÉRICA LATINA: OS PAÍSES QUE COMPÕEM A DIVISÃO REGIONAL

As obras envolvem quatro eixos principais. Em primeiro lugar, estão


sendo feitas escavações do leito marinho nas entradas do Atlântico
e do Pacífico e ao longo do trajeto destinado aos Post-Panamax. Um
canal de 6,1 quilômetros está sendo aberto para unir as comportas do
Pacífico ao Passo Culebra (vale escavado pelo homem, através de uma
serra). O Lago Gatún, criado entre 1907 e 1913 para facilitar a passagem
dos navios, hoje abastece cerca de 50% da população panamenha com
água potável. As obras estão elevando o nível operacional máximo do
lago de 26,7 metros para 27,1 metros, o que garante o trânsito dos Post-
Panamax sem prejudicar o fornecimento de água (ARAIA, 2014).

FIGURA 46 – PROJEÇÃO PARA O CANAL DO PANAMÁ EM 2016

FONTE: Disponível em: <http://www.revistaplaneta.com.br/wp-content/uploads/


sites/3/2015/08/img-357409-abram-comportas-405x420.png>. Acesso em: 25
nov. 2015.

DICAS

Observe as demais imagens e leia reportagens na íntegra disponíveis em:


<http://www.revistaplaneta.com.br/abram-as-comportas/> e <http://www.brasil247.com/
pt/247/revista_oasis/172745/Canal-do-Panam%C3%A1-O-passo-das-Am%C3%A9ricas-se-
alarga.htm>.

116
TÓPICO 2 | AMÉRICA LATINA: AMÉRICA CENTRAL

No canal atual, a água doce do trajeto impede naturalmente que


formas de vida transitem de um oceano para o outro. Charles Andrews,
sócio da empresa de consultoria Ergo, observa que, com a ampliação, “água
doce e salgada terão de correr através do canal, e isso terá um impacto
direto no Lago Gatún. Há preocupações sobre a capacidade de controlar a
quantidade de água do mar que flui através do lago”.

No entanto, estudos da Associação Nacional da Conservação


da Natureza (Ancon), uma das principais organizações ambientalistas
panamenhas, concluíram que a obra causará uma salinização insignificante
no Lago Gatún, garantindo a separação biológica entre o Atlântico e o
Pacífico e a biodiversidade e a qualidade da água potável.

Outras preocupações ambientais incluem as florestas, o patrimônio


arqueológico e as áreas agrícolas, industriais, turísticas e portuárias dos
trechos afetados pela obra. A Autoridad del Canal de Panamá (ACP), agência
governamental que opera e administra o canal, promete que o projeto vai
causar transtornos mínimos a comunidades do entorno, parques nacionais
e reservas florestais, e não afetará a qualidade do ar e da água. A capacidade
dos lagos Gatún e Alajuela (que serve de reservatório para o primeiro) será
maximizada e aumentará a eficiência no consumo de água, evitando a
necessidade de novos reservatórios e o deslocamento de comunidades.

Os críticos do projeto não veem o quadro de forma tão rósea.


Para eles, o ecossistema da região é complexo e, com isso, vários aspectos
devem ser avaliados, como as diferenças de chuvas na região causadas
por fenômenos como o El Niño, uma vez que o sistema do canal precisa
de precipitações suficientes para se manter operacional e abastecer a
população. A cada ano, há uma chance em 15 de que o nível da água caia a
ponto de limitar as operações no canal. De todo modo, a ACP garante que
qualquer dano constatado pode ser mitigado com a ajuda da tecnologia
moderna. “A cultura do pessoal que controla o canal é de que quaisquer
obstáculos à expansão podem ser removidos”, lamenta Eric Jones, editor do
jornal de língua inglesa Panama News.

FONTE: ARAIA, Eduardo. Canal do Panamá. O passo das Américas se alarga. Brasil 247, jornal digital. 11
de março de 2015. Disponível em: <http://www.brasil247.com/pt/247/revista_oasis/172745/Canal-do-
Panam%C3%A1-O-passo-das-Am%C3%A9ricas-se-alarga.htm>. Acesso em 12 de novembro de 2015.

3 AMÉRICA CENTRAL INSULAR


A região insular da América Central é mundialmente conhecida como
Caribe, esse nome retrata os grupos indígenas que viviam na região quando
chegaram os espanhóis. Essas ilhas e países insulares no Mar do Caribe são
também chamados de Antilhas ou Índias Ocidentais, devido à crença inicial
de que o continente americano fosse a Índia. As ilhas abrigam um rico mosaico
cultural, pois são habitadas por povos de diversas origens, sobretudo europeus,
africanos e asiáticos. Os índios formam um grupo reduzido.

117
UNIDADE 2 | AMÉRICA LATINA: OS PAÍSES QUE COMPÕEM A DIVISÃO REGIONAL

3.1 TERRITÓRIO E POPULAÇÃO


FIGURA 47 – MAPA POLÍTICO DA AMÉRICA CENTRAL INSULAR

FONTE: Disponível em: <comoestarenclase.blogspot.com>. Acesso em: 20 nov. 2015.

Os arquipélagos que compõe a América Central insular formam um arco


de ilhas que se estendem do sul da Flórida ao norte da Venezuela. As Bahamas
são formadas por ilhas coralíneas de enorme extensão, relativamente planas e
de baixa altitude. Essas características naturais favorecem a formação de lagos,
pântanos e manguezais, intercalados com florestas.

As grandes Antilhas são ilhas de origem sedimentar, essas ilhas eram um


prolongamento das planícies centrais dos Estados Unidos. Na fase de formação
do continente o nível dos oceanos oscilava muito, e há aproximadamente 1 bilhão
de anos o mar encobriu grande parte do sul da América do Norte, que hoje forma
o Golfo do México. Algumas terras ficaram acima do nível do mar, formando
algumas ilhas baixas e aplainadas, propícias à prática da agricultura.

As pequenas Antilhas, em sua maior parte, formam o topo de vulcões


submarinos, que se formaram com a colisão das placas tectônicas. São 18
vulcões, que deram origem a uma das mais paradisíacas regiões do mundo. O
clima dominante nas ilhas é o tropical, com longos períodos do ano marcados
por um calor intenso. As chuvas concentram-se no verão, o inverno é mais
seco, mas permanecem as altas temperaturas. A América Central Insular é de
colonização espanhola, francesa, inglesa e holandesa, tem a presença marcante
de negros, também índios e brancos descendentes do colonizador, no Haiti 90%
da população é negra. Suas sociedades formaram-se, portanto, da miscigenação
entre diversas etnias e culturas.

118
TÓPICO 2 | AMÉRICA LATINA: AMÉRICA CENTRAL

A região do Caribe é marcada pela instabilidade geológica, o que a


torna sujeita a atividade vulcânica e aos terremotos. Além das catástrofes
naturais, a população sofre com graves problemas sociais existentes na
maioria dos países: altas taxas de mortalidade infantil, baixa renda per
capita, elevados índices de analfabetismo e deficiência no atendimento
médico-hospitalar.

FONTE: Disponível em: <http://geonaweb.blogspot.com.br/2010/09/america-central-insular.


html>. Acesso em: 26 nov. 2015.

A região contava com pouco mais de 38 milhões de habitantes em 2005,


sendo Cuba o país mais populoso, com cerca de 11 milhões de habitantes. As
capitais dos países caribenhos, como Havana em Cuba, Kingston na Jamaica,
Porto Príncipe no Haiti, Santo Domingo na República Dominicana e San Juan em
Porto Rico são as principais cidades do Caribe, e nelas concentram-se a maioria
da população. (TAMDJIAN, 2012)

FIGURA 48 – CIDADE DE HAVANA, CAPITAL DE CUBA

FONTE: Disponível em: <http://www.diariodocentrodomundo.com.br/wp-content/


uploads/2013/03/cuba.jpg>. Acesso em: 26 nov. 2015.

3.2 ECONOMIA E DESENVOLVIMENTO


Uma das principais atividades econômicas do Caribe é o turismo, que
gera empregos em variados ramos, restaurantes, lojas, hotéis, shopping centers
e em atividades ligadas ao lazer. As empresas estrangeiras mantêm escritórios
comerciais nas ilhas caribenhas para evitar o pagamento de impostos de importação
ou exportação nos países produtores e compradores. A manobra acaba construindo
uma importante fonte de renda em Aruba e outras ilhas. Apesar de produzirem
uma renda importante, as operações financeiras e o turismo não foram capazes de
acabar com a pobreza, marcante em praticamente todas as ilhas caribenhas.

119
UNIDADE 2 | AMÉRICA LATINA: OS PAÍSES QUE COMPÕEM A DIVISÃO REGIONAL

Neste contexto, o Caribe é rota de cruzeiros marítimos e destino de milhares


de turistas que procuram suas praias e sua floresta tropical, a rede hoteleira e
a infraestrutura turística são controladas por transnacionais. Além dos paraísos
turísticos, a região é conhecida pelos paraísos fiscais, como as ilhas Cayman, as
Ilhas Virgens e as Bahamas. Nesses países, grandes somas podem ser depositadas
sem a necessidade de declarar a origem do dinheiro (TAMDJIAN, 2012).

UNI

O que são os paraísos fiscais?


Os paraísos fiscais são países que recebem grandes somas de dinheiro, são depositados
em bancos desses países e não necessitam de declaração sobre a origem desse dinheiro.
Os depósitos são protegidos por leis, e isso beneficia o sigilo bancário, além de oferecer
facilidades quanto aos trâmites documentais e baixos impostos.

No entanto, a agricultura também se destaca entre as atividades


econômicas, com relevância para o cultivo de cana-de-açúcar, em que o maior
produtor é Cuba. Também são cultivados banana, fumo, café e algodão. A
produção agrícola regional está voltada para o mercado externo, portanto, isso
a torna muito dependente das oscilações dos preços internacionais, que têm
impacto direto na economia desses países produtores, isso remete à consequência
de importação de alimentos para o consumo. A atividade industrial é pouco
desenvolvida, permanecendo-se restrita ao beneficiamento das matérias-primas
agrícolas, à confecção de roupas e ao artesanato local, principalmente a produção
de cestaria e de cerâmica.

Esta restrita industrialização aproveita as significativas jazidas de ferro,


gás e petróleo. Esses recursos naturais são particularmente abundantes em
Trinidad e Tobago, que pôde implantar empresas variadas, como refinarias de
petróleo e siderúrgicas. Outros país caribenho industrializado é a Jamaica, esse
país tem uma das maiores reservas mundiais de bauxita, matéria-prima da qual
produz o alumínio.

As ilhas ainda têm algumas carências e dificuldades estruturais. Neste


sentido, 95% das rodovias existentes nas ilhas do Caribe não são pavimentadas.

3.2.1 O MCCA e Caricom


O MCCA, Mercado Comum Centro-Americano foi criado em 1960 pela
Costa Rica, Guatemala, Honduras, Nicarágua e El Salvador, com o intuito de
juntos, superarem os problemas sociais e políticos. Para alcançar esses objetivos,
o MCCA criou no ano seguinte, em 1961, o Tratado de Integração Centro-
Americana, para promover um mercado comum na região. Atualmente planeja
criar a União Centro-Americana, à semelhança com da União Europeia. Desde
120
TÓPICO 2 | AMÉRICA LATINA: AMÉRICA CENTRAL

1993, os membros do MCCA têm ampliado a integração econômica, eliminando


as barreiras comerciais, representadas pelas tarifas alfandegárias, ao mesmo
tempo em que as regras comerciais dos países estão sendo unificadas.

Alguns países caribenhos tentam criar uma organização econômica, esses


países perceberam suas limitações e passaram a adotar algumas cooperações
para conquistar avanços na área socioeconômica. Foi assim que em 1973, criou-se
o Caricom, Comunidade e Mercado comum do Caribe. Diante da crise mundial
gerada pelo choque do petróleo, os países caribenhos são muito semelhantes
econômica e culturalmente. Essa grande associação comercial que hoje conta com
uma população de 15 milhões de habitantes chamada atualmente de comunidade
do Caribe. (AYERBE, 2007).

3.2.2 O caso de Cuba


Em Cuba, também podemos considerar a influência norte-americana,
pois a ilha foi mantida durante um século na condição de colônia espanhola e
conquistou sua independência em 1901, com o apoio de tropas estadunidenses. A
partir de então, cresceu a influência dos Estados Unidos sobre a sua economia e
a política cubana. Mas a presença de tropas estadunidenses nunca foi suportada
pelos dirigentes cubanos, nem pela população, que exigiram a retirada dessas
tropas da ilha. Os Estados Unidos impuseram uma condição para sair da ilha: o
direito de reocupá-la a qualquer momento. Esse direito foi garantido por meio de
uma lei incluída na Constituição cubana. Essa lei recebeu o nome de Emenda Platt.
Foi proposta pelo senador estadunidense Orville Platt, que era um renomado
advogado nacionalista, em parte a lei apresenta em seu artigo III (GOOT, 2004):

“O governo de Cuba concede aos EUA o exercício e o direito de intervir


para preservar a independência de Cuba e a manutenção de um governo adequado
à proteção da vida, da propriedade particular e das liberdades individuais...”.

Portanto, usando de seu poder econômico e militar, os Estados Unidos


conseguiram outros acordos vantajosos em Cuba. Um deles autorizou a
construção de uma base militar na baía de Guantánamo, onde tropas armadas
estadunidenses deveriam ficar estacionadas para intervir em possíveis distúrbios
e revoltas que pudessem comprometer os interesses dos Estados Unidos na ilha.

No que se refere à influência econômica, e às relações com os Estados


Unidos, as grandes propriedades como bancos, hotéis, importadoras de alimentos
e propriedades rurais se tornaram propriedades de empresas estadunidenses.
Essas corporações atuavam livremente no país, pagavam impostos baixos e
remetiam volumosos lucros para suas matrizes, instaladas nos Estados Unidos. Em
contrapartida, a população cubana vivia em péssimas condições. O saneamento
básico era precário, e pouquíssimos cubanos tinham acesso à educação e à saúde.
A mortalidade infantil era uma das maiores do continente americano e a miséria
era geral por todo o país.

121
UNIDADE 2 | AMÉRICA LATINA: OS PAÍSES QUE COMPÕEM A DIVISÃO REGIONAL

Com o passar do tempo esse precário quadro social foi se agravando mais
e mais e criou um ambiente propício a revoltas entre a população cubana. Na
década de 1950 multiplicaram-se os movimentos populares que protestavam
e exigiam melhores condições e vida. O maior líder desses protestos foi Fidel
Castro, que organizou um movimento guerrilheiro numa região montanhosa de
Cuba, conhecida como Sierra Maestra. Os revolucionários exigiam a queda do
presidente Fulgêncio Batista, aliado dos Estados Unidos, e o fim da exploração
dos trabalhadores cubanos. Ganharam a simpatia maciça da população e em 1º
de janeiro de 1959 ingressaram triunfantes em Havana, a capital do país. Logo
após sua vitória, o governo de Fidel Castro tomou medidas que descontentaram
muito os empresários estadunidenses, entre elas, decretou a nacionalização das
empresas estadunidenses que atuavam em Cuba.

FIGURA 49 – FIDEL CASTRO DISCURSA PARA CENTENAS DE MILHARES DE CUBANOS. A


POPULAÇÃO APOIAVA OS LÍDERES REVOLUCIONÁRIOS PORQUE ACREDITAVAM QUE DARIAM
FIM AOS PRIVILÉGIOS E ÀS INJUSTIÇAS SOCIAIS

FONTE: Disponível em: <https://historytellers.files.wordpress.com/2013/09/fidel-revolucao.jpg>.


Acesso em: 26 nov. 2015.

Nesse contexto, o governo dos Estados Unidos advertiu Fidel Castro de


que não aceitaria essa situação. Em resposta a essas ameaças, já em 1960 Cuba
se afastou da influência econômica estadunidense e aproximou-se do maior
rival dos Estados Unidos, a União Soviética, país socialista que disputava com a
superpotência capitalista a hegemonia mundial. Ao mesmo tempo Fidel assumiu
que seu governo adotaria a socialização dos meios de produção. Desde então foi
firmada uma aliança entre Cuba e a União Soviética. Os Estados Unidos foram
obrigados a conviver com um país socialista a poucos quilômetros da Flórida.
Reagindo à implantação do socialismo na ilha, em 1962 os Estados Unidos
decretaram um embargo, ou seja, um bloqueio de caráter econômico, contra
Cuba. Muitas restrições foram impostas à ilha, como a proibição da compra de
122
TÓPICO 2 | AMÉRICA LATINA: AMÉRICA CENTRAL

mercadorias cubanas e também a venda de quaisquer produtos norte-americanos


para o país caribenho (TAMDJIAN, 2012)

Essa medida isolou Cuba do comércio com o bloco capitalista, a economia


da ilha pode comercializar com países socialistas, bem como contar com o apoio
econômico e comercial soviético. A parceria baseou-se no fornecimento do petróleo
soviético em troca do açúcar cubano. Isso permitiu que a ilha obtivesse energia e
recursos financeiros para melhorar as áreas sociais. Foi praticamente eliminada
a miséria que há séculos afligia quase toda a população cubana. A prioridade
atribuída à educação e à saúde tornou Cuba reconhecida mundialmente, em
especial pelo elevado nível de suas pesquisas científicas na área da medicina.

Neste cenário a crise da União Soviética chegou ao auge na década de 1980 e


acabou atingindo a economia cubana. Diversos acordos comerciais e de cooperação
estabelecidos entre os dois países tiveram de ser cancelados pelo governo
Gorbatchev. Esse quadro dramático acentuou-se na década de 1990, quando
milhares de cubanos deixaram o país em busca de alternativas de sobrevivência nos
Estados Unidos. Esses cubanos empobrecidos ficaram conhecidos como balseiros,
pois viajavam para os Estados Unidos em embarcações precárias.

3.2.3 A base de Guantánamo


Na chegada do século XXI esse cenário já havia se transformado, muitos
países passaram a investir em Cuba, ignorando o embargo econômico imposto
pelos Estados Unidos. Uma significativa parte desses recursos tem se dirigido
ao setor do turismo. Aproveitando-se da posição geográfica privilegiada da ilha
caribenha. Essa renda crescente pelos negócios relacionados ao setor do turismo,
como hotéis, agências de turismo, restaurantes e companhias aéreas, soma-se
a entrada de dinheiro remetido por cubanos que foram morar e trabalhar nos
Estados Unidos. Além disso grupos empresariais chineses, canadenses, espanhóis
e franceses, entre outros, têm aberto novos negócios, com isso a economia cubana
apresenta crescimento na atualidade.

A Prisão de Guantánamo ganhou grande repercussão internacional por


causa das atrocidades cometidas em seu interior. A prisão militar composta
por três campos de detenção foi local de torturas durante muito tempo. Várias
reportagens denunciaram o abuso da força e o tratamento desumano. Além
de prisioneiros que supostamente seriam terroristas, a Prisão de Guantánamo
abrigou também detentos de forma clandestina e que não tinham razão justificável
para estarem detidos.

DICAS

Ouça a música, leia o texto e reflita sobre as observações feitas sobre a letra
da composição do grupo Engenheiros do Havaí: “Guantánamo”, disponível em: <https://
decifrandoletras.wordpress.com/2010/03/13/guantanamo/>.

123
UNIDADE 2 | AMÉRICA LATINA: OS PAÍSES QUE COMPÕEM A DIVISÃO REGIONAL

Com a pressão internacional, aos poucos o presidente dos Estados


Unidos George W. Bush foi reconhecendo as práticas ilegais na Prisão de
Guantánamo e tomando medidas para restringi-las. Muitos dos detentos
que foram para Guantánamo eram imigrantes ilegais nos Estados Unidos
que aguardavam a deportação.

FONTE: Disponível em: <http://diarioms.com.br/web-a-historia-da-prisao-de-guantanamo/>.


Acesso em: 26 nov. 2015.

FIGURA 50 – LOCALIZAÇÃO DA BASE NAVAL DE GUANTÁNAMO EM CUBA, CONTROLADA


PELOS ESTADOS UNIDOS E TRANSFORMADA EM COMPLEXO PRISIONAL MILITAR

FONTE: Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Ba%C3%ADa_de_Guant%C3%A1namo>.


Acesso em: 25 nov. 2015.

A eleição do presidente  Barack Obama  apontou um novo futuro


para a  Prisão de Guantánamo. Inicialmente, ele prometeu fechar ou
reestruturar o complexo penitenciário. Depois, acabou com as comissões
militares criadas pelo governo anterior e assinou um decreto para dar fim
às atividades na Prisão de Guantánamo.

FONTE: Disponível em: <http://diarioms.com.br/web-a-historia-da-prisao-de-guantanamo/>.


Acesso em: 26 nov. 2015.

3.2.4 Embargo econômico


O embargo econômico em Cuba, também conhecido como “el bloqueio”,
significou a interdição de caráter econômico, financeiro e comercial imposta
pelos Estados Unidos, desde 1962. Posteriormente nos anos 90, o bloqueio se
tornou lei e com isso aumentou a proibição de relações comerciais, limitando as
comercializações de filiais estrangeiras de empresas americanas com Cuba. No
entanto, devemos ressaltar que esse embargo não impede completamente que

124
TÓPICO 2 | AMÉRICA LATINA: AMÉRICA CENTRAL

os Estados Unidos se relacionem com a economia cubana. A partir do ano 2000


a exportação de alimentos para Cuba teve autorização com a condição de que o
pagamento acontecesse à vista. Sendo que os produtos deveriam ser pagos antes
de saírem dos Estados Unidos.

UNI

Os segredos da Medicina cubana

Após o restabelecimento das relações diplomáticas com Cuba, os Estados Unidos não
poderão mais ignorar que a ilha obteve durante os 52 anos de isolamento diplomático
e econômico resultados “espantosos” em matéria de saúde. “Espantosos” porque o
país, que não abriga nenhuma das grandes indústrias farmacêuticas mundiais, obtém os
melhores resultados do continente americano em matéria de saúde: a expectativa de
vida (76 anos para os homens, 81 anos para as mulheres) é a melhor do continente e a
mortalidade infantil é a mais reduzida: 4,8 mortes para cada 1.000 nascimentos em Cuba,
contra 12 no Brasil e 6 nos Estados Unidos. Durante uma visita a Havana em julho de
2014, Margaret Chan, diretora-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), se mostrou
muito impressionada pelas conquistas na área. “Desejamos ardentemente que todos os
habitantes do planeta possam ter acesso aos serviços médicos de qualidade, como em
Cuba”, declarou. E, com efeito, qual país pode se gabar hoje de oferecer gratuitamente
à sua população uma medicina alopática, claro, mas também a opção “medicina natural
e tradicional”? É preciso reconhecer… nenhum… e sobretudo seu poderoso vizinho, que
nessa área fracassou tremendamente.

Em 2011, durante o sexto congresso do Partido Comunista Cubano, uma diretiva indicava
“dar a máxima atenção ao desenvolvimento da medicina natural e tradicional”. “É a única
que recebeu essa menção de ‘máxima atenção’, o que dá uma ideia da importância
desse tema para o governo. Eu acho, porém, que seu desenvolvimento vai acontecer
principalmente graças à população. É uma tendência geral hoje procurar o natural. Eu
entendo que isso preocupe a indústria farmacêutica, pois é uma medicina muito eficiente”,
conclui com um sorriso Concepción Campa, ao mesmo tempo que lembra que o
desenvolvimento das vacinas homeopáticas foi efetivamente uma má operação financeira
para o Finlay, mas a saúde contou mais do que o aspecto financeiro. Cuba não realizou
estudos econômicos sobre a medicina natural, mas parece evidente que seu custo é bem
menos elevado do que o da medicina dita moderna: um chá de alho parece menos caro
do que um medicamento. Para o doutor Johan Pedromo, é evidente que essa medicina
previne um dos problemas que teria um custo para o sistema de saúde: “Tomem o exemplo
do qi gong, uma ginástica tradicional chinesa. Hoje sabemos que essa atividade melhora
o estado emocional, a coordenação e a estabilidade das pessoas idosas. Então, ao praticá-
lo vamos diminuir a taxa de suicídio e de depressão ligada à velhice, mas vamos também
melhorar a coordenação e o equilíbrio, diminuir o risco de quedas e, por consequência,
o número de fraturas da bacia. Mais amplamente, é reconhecido atualmente que essas
técnicas de medicina natural melhoram a qualidade de vida dos pacientes. E isso não tem
preço!” No mesmo bairro de Alamar, cerca de vinte pessoas idosas praticam duas vezes
por semana o qi gong. No final da prática, saúdam a professora com um “saúde e vida,
uma arma da Revolução”. Um dos praticantes tem 88 anos… mas parece ter 70. E é fato: a
saúde foi uma arma tão eficaz da Revolução Cubana que o país deve hoje cuidar de uma
população idosa. Como em um país rico…

Leia mais em: <http://www.pragmatismopolitico.com.br/2015/02/os-segredos-da-


medicina-cubana.html>.

125
UNIDADE 2 | AMÉRICA LATINA: OS PAÍSES QUE COMPÕEM A DIVISÃO REGIONAL

3.2.5 O caso do Haiti


O Haiti é um dos países mais pobres do mundo. Governado por
sucessivas ditaduras comandadas por poderosas famílias, a população ficou à
margem da vida política, econômica e social do país. O mais pernicioso desses
governos ditatoriais foi implantado pelo médico François Duvalier que assumiu
o poder em 1957. Em 1971, ao falecer, o governo passou para seu filho Jean
Claude Duvalier. Essa era Duvalier foi marcada pela opressão aos opositores,
que resultou no assassinato de milhares de pessoas inocentes. Essa situação
afetou a economia do país e manteve a população em profunda miséria. No final
da década de 1980 inúmeras revoltas populares encerraram a era Dulvalier. Foi
eleito presidente o ex-padre Jean Bertrand Aristide, que passou a sofrer uma
forte oposição dos aliados da família Duvalier.

Vários governos foram eleitos, desde então, e nenhum conseguiu pacificar


o país, a gravidade da situação é refletida no ato de que milhares de pessoas
preferem fugir do país em embarcações precárias, e centenas já morreram no
mar. Em 1999, a ONU aprovou uma intervenção militar internacional no Haiti
para pôr fim à guerra civil e promover a reorganização do país. Boa parte dos
militares que compõe esse grupo é brasileira.

Em janeiro de 2010, aconteceu um terremoto catastrófico que devastou o


país afetando cerca de 3 milhões de pessoas. Sistema de comunicação, transportes
aéreos, terrestres e aquáticos, hospitais e redes elétricas foram danificados, o que
dificultou os resgates. A ONU estima que o tremor provocou 220 mil mortes e
1,2 milhão de desabrigados. Foram confirmadas as mortes de 22 brasileiros na
catástrofe, inclusive de Zilda Arns, médica sanitarista e pediatra, fundadora e
coordenadora internacional da Pastoral da Criança.

O Haiti depende atualmente de uma enorme ajuda humanitária externa,


além de alimentos, remédios e roupas. Sem esse apoio, a população do país
estaria condenada a padecer em condições cada vez piores.

126
TÓPICO 2 | AMÉRICA LATINA: AMÉRICA CENTRAL

FIGURA 51 – PORTO PRINCÍPE CAPITAL DO HAITI, RUÍNAS NO BAIRRO DE BEL-AIR

FONTE: Disponível em: <http://agenciabrasil.ebc.com.br/sites/_agenciabrasil2013/files/haiti_


earthquake_porto_princepe-73.jpg>. Acesso em: 26 nov. 2015.

Passados cinco anos da tragédia, uma equipe de reportagem da EBC,


Empresa Brasil de Comunicação, voltou ao Haiti com o objetivo de verificar
como estão os esforços para a reconstrução do país. Há resquício do tremor
por diversas cidades. A Catedral Notre Dame, a principal de Porto Príncipe,
continua em ruínas. É possível ver apenas os escombros do que um dia foi
a principal igreja da capital haitiana. O prédio do governo haitiano também
aguarda reconstrução.

O país não tem coleta de lixo e o esgoto corre a céu aberto. Deste modo, é
comum encontrar pelas ruas de Porto Príncipe pilhas de lixo sendo incinerado,
o que faz com que a cidade fique constantemente cinza. Muitos haitianos ainda
sofrem as consequências do terremoto. As ruas destruídas, aos poucos, tornam-
se avenidas que começam a receber iluminação pública, semáforos. A maior
parte dos abrigos, os campos de deslocados como são chamados, já foram
desativados. Passados cinco anos os haitianos começam a reconstruir suas
casas, algumas de alvenaria, outras de lona, tudo para ter um “lar”.

127
UNIDADE 2 | AMÉRICA LATINA: OS PAÍSES QUE COMPÕEM A DIVISÃO REGIONAL

FIGURA 52 – PORTO PRINCÍPE COM O COMÉRCIO A CÉU ABERTO NO BAIRRO BEL-AIR A RUA
FOI ASFALTADA APÓS O TERREMOTO

FONTE: Disponível em: <http://conteudo.ebc.com.br/agencia/Haiti/img/slider/06.jpg>. Acesso


em: 26 nov. 2015.

128
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico vimos que:

• No istmo da América Central o relevo é montanhoso, resultante do movimento


local entre as placas tectônicas. Além disso, há inúmeros vulcões ativos na
região.

• Próximo ao litoral, há uma diversidade da flora e fauna das florestas tropicais,


no entanto, muitas das áreas florestadas são devastadas para produção
agropecuária ou extração da madeira.

• O café e a banana são os principais produtos de exportação da América


Central. A cana-de-açúcar e o cacau, produtos tradicionais da agricultura
centro-americana, perderam importância no mercado internacional com o
surgimento e a consolidação de outras áreas produtoras, tanto na América do
Norte e do Sul, como na Ásia.

• O país mais industrializado é o Panamá com produção petrolífera.

• O canal do Panamá, de interesse norte-americano, principalmente, permitia


a passagem interoceânica de grande porte, acelerava o comércio entre o oeste
e o leste dos Estados Unidos. Nos últimos anos, o canal perdeu parte da
sua importância para a navegação e o comércio, mas atualmente passa por
reformas a fim de não se tornar obsoleto.

• Uma das principais atividades econômicas do Caribe é o turismo, que gera


empregos em variados ramos, restaurantes, lojas, hotéis, shopping centers e em
atividades ligadas ao lazer.

• A agricultura também se destaca entre as atividades econômicas, da América


Central insular, com relevância para o cultivo de cana-de-açúcar, em que o
maior produtor é Cuba.

• O MCCA, Mercado Comum Centro-Americano foi criado em 1960 pela Costa


Rica, Guatemala, Honduras, Nicarágua e El Salvador, com o intuito de juntos,
superarem os problemas sociais e políticos.

• Em 1960, Cuba se afastou da influência econômica estadunidense e aproximou-


se do maior rival dos Estados Unidos, a União Soviética, país socialista que
disputava com a superpotência capitalista a hegemonia mundial na época.

129
• Na chegada do século XXI, muitos países começaram a investir financeiramente
em Cuba. Grupos empresariais chineses, canadenses, espanhóis e franceses,
entre outros, têm aberto novos negócios, com isso a economia cubana apresenta
crescimento na atualidade.

130
AUTOATIVIDADE

1 “Cuba já recebe os euros dos turistas. O euro começou a circular em


Varadero, o balneário turístico mais importante de Cuba, onde a empresa
Transtur anunciou que os serviços de táxi e aluguel de automóveis já
podem ser pagos com a moeda”. (Gazeta Mercantil, 12/5/2001).

A notícia acima revela uma atitude dos europeus em relação a Cuba


diferente da atitude dos americanos. Do lado dos europeus, há a valorização do
turismo e do comércio; do lado dos Estados Unidos, desconfiança e tentativa
de controle. Qual é a causa dessa atitude do governo dos Estados Unidos em
relação a Cuba ainda hoje?

2 Considerada de IDH médio, a América Central tem algumas exceções.


Cuba, Panamá e Costa Rica são considerados países de IDH alto. Explique
os motivos.

3 Até 1990 os problemas políticos eram constantes em diversos países do


istmo da América Central e sua economia recebia menor atenção. Na
década atual, há uma inversão da situação e os problemas econômicos
passam a ser o centro das discussões. Por que ocorreu essa mudança?

4 As exportações da América Central cresceram 20% em 2008. Esse fantástico


desempenho é atribuído à integração econômica dos países centro-
americanos. Quais os nomes dos blocos criados para promover essa
integração e qual a função deles?

131
132
UNIDADE 2 TÓPICO 3

AMÉRICA LATINA: AMÉRICA PLATINA

1 INTRODUÇÃO
A América Platina recebe esse nome porque corresponde aos países que
fazem parte da Bacia da Prata. Esta é formada pela junção das águas dos rios
Paraná, Paraguai e Uruguai. A maior parte do espaço geográfico desses países
sofre a influência de atividades que estão direta e indiretamente ligadas ao Rio
da Prata e seus afluentes. No entanto, os países que compõe a América Platina
apresentam espaços geográficos muito diferentes. Enquanto os países andinos têm
muitas semelhanças, os países platinos têm atividades econômicas e sociedades
muito diferentes uns dos outros.

Além dos aspectos físicos como a hidrografia, a Argentina, Paraguai


e Uruguai compartilham importantes características históricas. No passado
colonial integravam o Vice-Reino do Rio da Prata, que abrangiam uma extensa
área subordinada à Espanha. O que significa que os três países platinos foram
administrados pelos espanhóis durante muitos anos, nessa época o Vice-Reino
também incluía a Bolívia. O Rio da Prata era usado pelos espanhóis como porta
de entrada para ocupação do sul do continente americano, pois os colonizadores
europeus acreditavam existir metais preciosos na região.

2 TERRITÓRIO E POPULAÇÃO

O relevo da América Platina caracteriza-se basicamente pela


presença de extensas planícies e planaltos. Somente no oeste da Argentina
ocorrem as grandes cadeias de montanhas da Cordilheira do Andes, ainda
na Argentina se encontra a mais alta formação do relevo sul-americano, o
Pico Aconcágua, com 6.959 metros de altitude.

Predominam na América Platina grandes regiões climáticas, com


extensas áreas em que ocorre o mesmo tipo de clima. No Norte a região
do Chaco se caracteriza pelo clima seco, associado à vegetação xerófila de
plantas adaptadas a aridez, como os cactos. Ao Sul, a região do Pampa com
clima temperado, com uma típica vegetação rasteira. Encontramos também
uma parcela significativa do território do Paraguai marcada pelo clima
tropical, com a ocorrência de florestas.

FONTE: Disponível em: <https://br.answers.yahoo.com/question/index?qid=20150412162802A-


AfoGd6>. Acesso em: 26 nov. 2015.

133
UNIDADE 2 | AMÉRICA LATINA: OS PAÍSES QUE COMPÕEM A DIVISÃO REGIONAL

FIGURA 53 – MAPA FÍSICO DA AMÉRICA PLATINA

FONTE: geografandosm.blogspot.com

No que se trata da hidrografia da América Platina, a Bacia Platina ocupa


uma área de 4,3 milhões de km² e inclui porções do território da Argentina,
Paraguai, Uruguai, além da Bolívia e do Brasil. O Rio da Prata se origina do
encontro dos rios Paraná e Uruguai, na fronteira entre a Argentina e o Uruguai,
tem 210 quilômetros de extensão e termina formando um estuário junto ao
Oceano Atlântico.

134
TÓPICO 3 | AMÉRICA LATINA: AMÉRICA PLATINA

As populações da Argentina e do Uruguai constituíram-se de


descendentes de espanhóis e italianos, enquanto que o Paraguai apresenta
uma população em sua maioria formada pela miscigenação de diversos
povos, com uma acentuada presença de indígenas.

FONTE: Disponível em: <http://diodatoo.blogspot.com.br/2014/12/atividade-complementar-de-


geografia-02.html>. Acesso em: 26 nov. 2015.

Do ponto de vista econômico as características físicas favorecem o


desenvolvimento das atividades agropecuárias na região. Concentradas na
criação de gado bovino e na agricultura de cereais. A Argentina é o país mais
industrializado da América Platina com destaque para a produção de automóveis,
aço, produtos químicos e têxteis.

3 O PARAGUAI
O território paraguaio é dividido pelo Rio Paraguai, que cruza o país no
sentido norte-sul e origina duas regiões naturais muito distintas. A região maior
fica a oeste do rio Paraguai. Trata-se do Chaco, palavra quíchua que significa
território de caça. Essa vasta planície é muito quente. Na divisa com a Bolívia as
temperaturas podem chegar a 47º durante o verão. As poucas chuvas ocorrem
entre dezembro e março. Nessas regiões a vegetação mais comum são os cactos
e os arbustos de troncos ressecados e retorcidos. A água é muito escassa e
precisa ser retirada de poços artesianos. A agricultura de grãos, especialmente
da soja, somente é possível mediante a irrigação artificial. A grande maioria das
propriedades dedica-se a pecuária.

Ainda no Chaco há uma área diferenciada, a parte mais próxima ao rio


Paraguai, onde a vegetação é variada e existem muitos pequenos rios. Nessas
terras a principal atividade é a exploração do quebracho, árvore da qual se
aproveita a madeira, duríssima e se extrai o tanino, produto usado pelas indústrias
farmacêuticas. O leste do Paraguai é muito diferente do Chaco, a paisagem divide-
se em campos e florestas, que faz fronteira com o Brasil. Nessa região há manchas
de terra roxa, solo extremamente fértil que acarretou a expansão da agricultura,
especialmente dos cultivos de soja, milho, algodão e o cultivo de erva-mate. Essas
atividades agrícolas empregam cerca de 50% dos trabalhadores paraguaios.

135
UNIDADE 2 | AMÉRICA LATINA: OS PAÍSES QUE COMPÕEM A DIVISÃO REGIONAL

FIGURA 54 – MAPA DA LOCALIZAÇÃO DO PARAGUAI

FONTE: Disponível em: <http://4.bp.blogspot.com/_-ty77KHVCvA/SwGqu2E9JbI/AAAAA-


AAAABE/VXtV8A9SQHo/s1600/mapa-do-paraguai.gif>. Acesso em: 26 nov. 2015.

Outra atividade que cresceu nos últimos anos foi o cultivo de soja. Ocupa
cerca de dois milhões de hectares de terra e com isso especialistas alertam que
pode provocar inúmeros problemas para a sociedade e o meio ambiente. Como
todas as fases do cultivo são mecanizadas, não oferece ocupação para a mão de
obra. O cultivo de soja também gera a concentração de renda e de terras. Com
o poder financeiro de que dispõe os grandes proprietários acabam comprando
as terras dos pequenos agricultores que sem alternativas de trabalho e renda,
mudam-se para a vida em Assunção, a capital paraguaia.

Os imigrantes brasileiros, denominados também de brasiguaios


conseguiram ascender socialmente ao longo das últimas décadas, controlam
setores importantes da economia, da política e da cultura local em algumas cidades
paraguaias, como Santa Rita, Santa Rosa de Monday, Naranjal, San Alberto, entre
outras. A partir do final da década de 1970 e início dos anos 1980, ampliam-se
os processos de mecanização e de concentração da propriedade da terra nessa
faixa de fronteira. Uma família de agricultores podia aumentar o plantio sem
necessitar contratar mais mão de obra. Nesse contexto, aumentam as compras
de terra aos camponeses paraguaios e aos pequenos produtores brasileiros. A
pequena produção diversificada e de subsistência de milho e mandioca, por
exemplo, passa a ser substituída pelo plantio de soja. Nesse processo, começam
os deslocamentos de camponeses paraguaios e brasileiros para outras frentes

136
TÓPICO 3 | AMÉRICA LATINA: AMÉRICA PLATINA

agrícolas no interior do Paraguai e para as periferias das cidades de fronteira. O


forte poder econômico, político e cultural dos “brasiguaios” tem produzido uma
reação do movimento camponês e de políticos de oposição, intelectuais, jornalistas
e religiosos do Paraguai. Os confrontos entre empresários da soja e alguns setores
da sociedade paraguaia têm gerado vários conflitos e disputas de identificações e
representações variadas entre brasileiros e paraguaios (ALBUQUERQUE, 2009).

Assunção, a capital do Paraguai, localiza-se às margens do rio Paraguai,


é a maior cidade do país e abriga cerca de 1,5 milhão de habitantes na região
metropolitana. Concentra as principais atividades comerciais e de serviços, que
atendem uma parte da população e atraem muitos brasileiros e argentinos, devido
aos preços mais baixos dos bens importados sem cobrança de impostos. Na
capital Assunção também se encontram as indústrias têxteis e alimentícias, além
de curtumes que fornecem couro ao setor de produção de calçados, importante
fonte de renda do Paraguai.

FIGURA 55 – RUAS ALAGADAS NA CAPITAL ASSUNÇÃO NO PARAGUAI

FONTE: Disponível em: < http://midia.cmais.com.br/assets/image/image-4-b/0


f7379d2aba1899ebcc22509f5a3076bb2d4c720.jpg>. Acesso em: 26 nov. 2015.

Portanto, o consumo de energia no país é menor que a quantidade de


energia gerada, o que acontece principalmente na Hidrelétrica Binacional de
Itaipu, construída em sociedade com o Brasil, e na Hidrelétrica de  Yaciretá,
construída com a Argentina, assim o Paraguai vende o excedente de energia para
o Brasil e para outros países da América do Sul.

TURO S
ESTUDOS FU

Na Unidade 3, seção sobre integração energética no Mercosul há mais explicações


sobre este assunto.

137
UNIDADE 2 | AMÉRICA LATINA: OS PAÍSES QUE COMPÕEM A DIVISÃO REGIONAL

4 O URUGUAI
O Uruguai faz fronteira com o sul do Brasil e o leste da Argentina, seu
território é quase inteiramente caracterizado pelas coxilhas, baixas colinas
suavemente onduladas. As coxilhas uruguaias são recobertas por campos
naturais, mais conhecidos como pampas. São longas extensões de gramíneas e
arbustos de baixo porte que dominam a paisagem de todo o país. No final do
século XIX, as matas formadas por árvores de grande porte que se localizavam às
margens dos rios e no litoral, foram praticamente devastadas para aproveitar a
madeira e para dar espaço a agropecuária.

Com o predomínio de solos férteis, os fazendeiros uruguaios


desenvolveram a triticultura que é o cultivo de trigo, e a rizicultura que é o cultivo
de arroz que se adaptaram ao clima subtropical do país. Com verões quentes e
chuvosos e invernos frios e úmidos, esses cultivos se desenvolveram facilmente
em um solo sempre fértil.

FIGURA 56 – MAPA DA LOCALIZAÇÃO DO URUGUAI

FONTE: Disponível em: <https://megaarquivo.files.wordpress.com/2010/12/


uruguai.jpg>. Acesso em: 26 nov. 2015.

138
TÓPICO 3 | AMÉRICA LATINA: AMÉRICA PLATINA

As extensas pastagens naturais favoreceram a criação de bovinos e ovinos.


Nas primeiras décadas do século XX, o Uruguai foi um dos países principais
fornecedores de alimentos para a Europa, que passava por crises e guerras. A
produção de carne, couro, lã e arroz cresceu rapidamente. O país lucrou muito
com as exportações e esse enriquecimento atraiu milhares de imigrantes. Com
isso o governo uruguaio dispôs de recursos para proporcionar à sua crescente
população educação e saúde de qualidade. Tais investimentos explicam a posição
privilegiada do Uruguai no ranking do Índice de Desenvolvimento Humano –
IDH da ONU.

O país é um dos países mais urbanizados do mundo, com cerca de 93%


da população concentrados em cidades. No entanto, com exceção da região
metropolitana de Montevidéu, sua capital, onde vive cerca de 66% da população
uruguaia, as demais cidades do país não ultrapassam 100 mil habitantes.

A capital Montevidéu é o centro comercial, industrial e financeiro do


país, situada às margens do Rio da Prata, a cidade abriga balneários bastante
frequentados por turistas como é o caso de Punta del Este.

FIGURA 57 – BALNÉARIO DE PUNTA DEL ESTE

FONTE: Disponível em: <http://static.correiodeuberlandia.com.br/wp-content/


uploads/2014/07/515.jpg>. Acesso em: 26 nov. 2015.

Esse contexto populacional de urbanização em conjunto com a tradição


em educação e qualidade de vida, passou por diversas crises, sobretudo na
segunda metade do século XX. A rápida recuperação econômica da Europa,
após a Segunda Guerra, levou os antigos compradores dos produtos uruguaios
a produzir novamente seus próprios alimentos. Consequentemente a Europa
deixou de comprar parte considerável da produção uruguaia de carne, couro,
139
UNIDADE 2 | AMÉRICA LATINA: OS PAÍSES QUE COMPÕEM A DIVISÃO REGIONAL

trigo e lã, fato que enfraqueceu a economia do Uruguai. Nas décadas de 1970 e
1980, quando o país foi duramente atingido pelo choque do petróleo, os produtos
que o Uruguai comprava de outros países ficaram mais caros com a crise. Essa
situação levou muitos agricultores e indústrias à falência. E os recursos que até
então eram destinados às áreas sociais, como saúde e educação desapareceram.
Deste modo, milhares de uruguaios deixaram o país em busca de empregos
na Argentina, no Brasil, nos Estados Unidos, e na Espanha. Essa crise também
alterou o espaço geográfico do Uruguai, pois milhares de agricultores migraram
para a capital em busca de empregos.

4.1 O GOLPE MILITAR NO URUGUAI E


SUAS CONSEQUÊNCIAS
Em 1973 ocorreu um golpe militar no Uruguai que gerou a prisão e a tortura
de pessoas que se opunham ao regime, censura à imprensa e às instituições de
ensino, entre outras graves consequências. Tais fatos favoreceram o surgimento
de movimentos de oposição e de guerrilha, como o dos Tupamaros, nome em
homenagem a Tupac Amaru, rebelde inca que lutou contra a dominação espanhola.
A ditadura militar prolongou-se no país até 1984, mesmo com o restabelecimento
da democracia, os problemas econômicos continuaram. A década de 1990 foi
marcada pelos movimentos de privatizações, diminuição dos gastos públicos,
aumento do desemprego e diante desta situação uma grande emigração de jovens.
Em uma tentativa de superar essa crise e diversificar as atividades econômicas, o
governo uruguaio adotou uma legislação favorável à implantação de instituições
financeiras, o que gerou atração em diversas empresas do setor e transformação,
isso levou o Uruguai a um país de destaque na área bancária (TAMDJIAN, 2012).

4.2 O GOVERNO DE MUJICA


Atualmente quem governa o Uruguai é Tabaré Vázquez, pela
segunda vez. Vázquez já ocupou o cargo entre 2005 e 2010, sucedido por
José Mujica, que passou a faixa presidencial, ambos são da Frente Amplio,
coligação de partidos uruguaios de centro-esquerda e esquerda, parte do
Foro de São Paulo. Após os cinco anos do governo de Mujica, qual o balanço
que se pode fazer do governo do ex-guerrilheiro do grupo Tupamaro,
José Mujica, que prefere ser chamado pelo apelido Pepe e ficou marcado
como carismático e humilde? Em sua política interna e em suas relações
exteriores? Mais ainda, em tempos de ânimos acirrados e suspeitas de todos
os espectros políticos, o governo Mujica mostrou alguns dos caminhos que
a esquerda latino-americana pode, ou poderia tomar, com sucesso.

Na política interna do Uruguai, o mais evidente e mais falado foram


as novas medidas sociais do país. Desde dezembro de 2012, as mulheres
uruguaias podem interromper, legalmente e com respaldo, a gravidez, até a
décima segunda semana da gestação. Um balanço oficial do governo uruguaio
informou que, no período de um ano de vigência da lei, foram realizados

140
TÓPICO 3 | AMÉRICA LATINA: AMÉRICA PLATINA

6.676 abortos seguros. Em abril de 2013, o Uruguai aprovou o casamento


entre pessoas do mesmo sexo. Em maio de 2014, o Uruguai legalizou a
venda de maconha no país e, em fevereiro de 2015, regulamentou-se o uso
da droga para fins medicinais e pesquisas terapêuticas. Como a droga será
comercializada ainda está sendo debatido e não foi regulado, mas Mujica
deixou claro que seu objetivo é tirar o financiamento do narcotráfico.

A última medida social será parcialmente do governo de Mujica.


Em dezembro de 2014, o Legislativo uruguaio passou a Ley de Servicios de
Comunicación Audiovisual; a lei discute a reforma no setor de telecomunicações
no país. Após o apoio de Pepe, a iniciativa será regulamentada pelo governo
de Vázquez. O objetivo da lei é evitar a concentração econômica no setor
de telecomunicações e alavancar a concorrência e a pluralidade na oferta
de serviços e de conteúdos. Nas palavras de Pepe: “Eu não quero que o
Clarín ou a Globo sejam donos das comunicações no Uruguai”. Todas essas
medidas demonstram um elemento essencial para um governo democrático,
o prestígio e a aprovação popular de Mujica. Sem isso, não teria a maioria
no Parlamento e não conseguiria aprovar tais pautas. Pepe encerrou em
2014 com 64% de aprovação.

Sua política externa foi uma soma desses dois elementos, avanços
sociais e sua luta pessoal, com a tradição de neutralidade e de afirmação
do Uruguai. Seu foco foi a resolução e mediação de conflitos, parte de
uma meta maior, a integração latino-americana. Em março de 2013, Pepe
aceitou o pedido dos EUA para receber presos vindos de Guantánamo,
conhecida base dos EUA em Cuba que foi o cerne de muitas críticas
por violações de direitos humanos. Mujica declarou que os abrigaria na
condição de “refugiados” e, em dezembro de 2013, os EUA confirmaram
que seis indivíduos foram transferidos para o Uruguai. Em outubro de
2014, o Uruguai recebeu refugiados sírios, após oferta de Mujica; quarenta
e dois sírios, formando famílias inteiras, receberam asilo, acompanhamento
profissional, emprego e moradia.

Ainda em relação à Cuba, em dezembro de 2014, Barack Obama,


Presidente dos EUA, agradeceu Mujica pelo seu papel como um dos
mediadores do acordo de reaproximação entre EUA e Cuba; mesmo assim,
Mujica manteve parte de suas críticas ao governo dos EUA, pedindo o fim
do embargo e a libertação de presos cubanos e do líder porto-riquenho Oscar
López Rivera. Nas últimas semanas de seu governo, Pepe, reunido com Evo
Morales, Presidente da Bolívia, anunciou os planos da construção de um
porto de água profundas que será utilizado também pelo país andino, que
reivindica uma saída oceânica desde a derrota na Guerra do Pacífico, em
1883. A saída para o mar é a principal pauta da política externa boliviana
e o cerne de suas relações com o Chile, que é acusado, pela Bolívia, de
descumprir tratado internacional sobre o tema. Com a provisão negociada
por Mujica, espera-se que os ânimos se acalmem e uma solução definitiva
seja alcançada pelos vizinhos.

141
UNIDADE 2 | AMÉRICA LATINA: OS PAÍSES QUE COMPÕEM A DIVISÃO REGIONAL

Mesmo suas críticas eram guiadas pelos princípios citados; por


exemplo, Mujica é ferrenho crítico da atual política argentina, por considerar
que o país está retrocedendo a integração regional, com uma perspectiva
baseada em soberania dos anos 1960. No fórum internacional máximo, a
Assembleia Geral da ONU, avanços sociais e luta também foram o tom. Seu
pronunciamento de 2013 entrou para a História; quarenta e cinco minutos de
uma mensagem de solidariedade e construção, criticando individualismos e a
destruição ambiental. Após todo esse processo político, crítico e progressista,
seu governo é coroado, também, com avanços econômicos.

A economia do Uruguai, durante o governo Mujica, cresceu mais


que o dobro da média mundial. Segundo o Banco Mundial, de 2010 a 2013,
o crescimento da economia uruguaia foi de, respectivamente, 8.4%, 7.3%,
3.6% e 4.3%. Os anos do primeiro mandato de Vázquez também foram
de crescimento econômico. Um governo de esquerda, uma sucessão de
governos de esquerda, que realmente se engaje em novas medidas sociais, que
tenha respaldo popular, demonstrado por maioria legislativa, não implica
necessariamente em “populismos bolivarianos” ou em caos econômico;
o setor terciário da economia uruguaia é uma ótima demonstração disso.
Mais ainda, o governo Mujica recolocou o Uruguai no mapa internacional,
um dos líderes mundiais mais prestigiados do último quinquênio.

Ao seu modo de ser, imprimiu os mesmos valores que defende


domesticamente na política internacional, priorizando a integração, o
diálogo e a oferta de apoio aos elos mais fracos das correntes. Mujica, um ex-
líder guerrilheiro e membro de partido do Foro de São Paulo, famosíssimo
nas bocas e nos teclados conservadores brasileiros, ao aceitar presos de
Guantánamo, fez mais pelos EUA do que qualquer militar da Operação
Condor. É claro que seu governo, pelas características de Pepe e de seu país,
não é um modelo exato, que pode ser simplesmente copiado. O Uruguai é
geograficamente pequeno e sua sociedade é bem particular, mas, se não é
um modelo, é um exemplo.

Mujica certamente será mais lembrado pelas características quase


folclóricas de sua pessoa, como seu Fusca azul, que continuou a usar
como Presidente e recusou vender por ofertas absurdas. Ou o fato de dar
entrevistas e aparecer em eventos oficiais de sandálias, com grandes unhas
aparentes em seus pés. De ter doado 90% de seus salários, totalizando quase
meio milhão de dólares, e ter recusado o palacete oficial como residência.
Mujica foi maior que isso. Um exemplo de democracia, de sociedade, de
política e de como pode se fazer muito, mesmo dispondo de pouco. Um
exemplo para reflexão tanto na direita conservadora brasileira, que veria
nele um símbolo de tudo que ojeriza, tanto para a esquerda fragmentada no
Brasil, que tem nele alguns caminhos que perdeu de tomar.

FONTE: Disponível em: <http://xadrezverbal.com/2015/03/02/cinco-anos-de-governo-mujica-


licoes-para-a-direita-e-para-a-esquerda/>. Acesso em: 27 nov. 2015.

142
TÓPICO 3 | AMÉRICA LATINA: AMÉRICA PLATINA

FIGURA 58 – MUJICA E SUA ESPOSA, A SENADORA LUCIA TOPOLANSKY, NO FUSCA


AZUL DIRIGIDO POR “PEPE”

FONTE: Disponível em: <http://xadrezverbal.com/2015/03/02/cinco-anos-de-governo-


mujica-licoes-para-a-direita-e-para-a-esquerda/>. Acesso em: 25 nov. 2015.

5 A ARGENTINA
A Argentina é um dos maiores países da América do Sul. Seu território
está situado quase totalmente na região subtropical do planeta e pode ser divido
em diversas regiões naturais. Ao extremo sul argentino encontra-se a Patagônia,
cujas as paisagens naturais estão entre as mais interessantes do mundo.

A patagônia atlântica consiste em grandes extensões planas denominadas


por um clima extremamente frio durante todo o ano, em função de sua
proximidade com o polo sul. Na Patagônia Andina, que também se estende pelo
território chileno, existem muitos lagos de origem glacial, de beleza deslumbrante.
A vegetação da Patagônia varia em função da posição latitudinal e do relevo. Nas
proximidades da cordilheira dos Andes, divisa natural entre a Patagônia chilena
e a Patagônia argentina, crescem grandes bosques de coníferas. Já nas partes mais
planas da Patagônia Atlântica a vegetação é marcada pela presença de gramíneas
de baixo porte que aparecem em meio a pequenos arbustos. Essa vegetação
chamada de estepe, alimenta as poucas espécies de animais que vivem na região.
Um deles é o guanaco, um tipo de Ihama originário da região.

143
UNIDADE 2 | AMÉRICA LATINA: OS PAÍSES QUE COMPÕEM A DIVISÃO REGIONAL

FIGURA 59 – PATAGÔNIA ARGENTINA

FONTE: Disponível em: <https://zavedu.org/wp-content/uploads/2015/09/chili_mountains_lake_


nature_ultra_3840x2160_hd-wallpaper-3580481.jpg>. Acesso em: 27 nov. 2015.

As magníficas paisagens da Patagônia levaram à expansão do turismo.


Nos últimos anos foram instalados novos aeroportos e conjuntos hoteleiros,
elevados a presença de turistas na região. Outra importante característica da área
é a concentração de cerca de 60% do rebanho de ovinos no país que fornece grande
quantidade de lã para a indústria argentina. No entanto, não são apenas as lindas
paisagens e os rebanhos de ovelhas que compõe a Patagônia, se encontram lá os
80% das reservas de petróleo da Argentina. Essas jazidas levaram à implantação
de um complexo petroquímico importante em Comodoro Rivadavia.

Ao norte da Argentina se encontram as fazendas que desempenham a


fruticultura, especialmente o plantio de maçã, um dos itens de exportação da
economia argentina. Essa fruta é favorecida pelo predomínio de um clima frio
que domina a região durante quase todo o ano.

As províncias situadas na fronteira com o Chile, como Mendoza e San


Juan, ficam nos Andes Argentinos, também conhecidos como Cuyo, o relevo
montanhoso e o clima frio e seco propiciam condições naturais adequadas ao
desenvolvimento da vitivinicultura, que é o plantio de uvas e fabricação de
vinhos. Desde meados da década de 1990 essas terras constituem referência
para o mercado mundial de vinhos. Próximo a cidade de Mendonza sucedem as
videiras e as oliveiras que correspondem a uma grande produção de azeite, outro
produto de exportação argentino.

144
TÓPICO 3 | AMÉRICA LATINA: AMÉRICA PLATINA

FIGURA 60 – REGIÕES DA ARGENTINA

FONTE: Disponível em: <http://photos1.blogger.com/x/blogger2/7092/484


780536142989/1600/302463/mapa_regiones.gif>. Acesso em: 27 nov. 2015.

A região do chaco argentino, muito similar ao chaco paraguaio, é


dominada por verões escaldantes e invernos amenos, essa região era habitada por
várias nações indígenas, cujos membros foram chamados de chaqueños, pouco a
pouco eles foram expulsos ou acompanharam a expansão das atividades agrícolas
argentinas em direção ao norte, muitos foram trabalhar em fazendas de pecuária
bovina e de cultivo de algodão.

A região da Argentina chamada de Mesopotâmia corresponde ao território


situado entre os rios Paraná e Uruguai. Ao longo desses rios, existem grandes
plantações de arroz que prejudicam o meio ambiente devido ao uso intenso de
agrotóxicos, o território possui uma importante cobertura vegetal, composta de
florestas subtropicais de araucárias. A erva-mate também é muito explorada
nessa região.

A região mais povoada da Argentina é La Pampa, situada no centro-oeste,


é uma extensa planície recoberta por gramíneas e apresenta o maior dinamismo
econômico. Um dos destaques econômicos dessas terras é a agropecuária
favorecida pelos solos muito férteis. Essas condições tornaram a Argentina um

145
UNIDADE 2 | AMÉRICA LATINA: OS PAÍSES QUE COMPÕEM A DIVISÃO REGIONAL

dos maiores produtores mundiais de trigo. No início do século XX a Argentina


abasteceu a Europa, que se encontrava em guerras, tensões e problemas
econômicos. Nessa época o país era considerado o celeiro do mundo, ou seja, a
Argentina era como uma grande reserva de alimentos para os europeus.

Nessas terras os pampas favorecem a criação de gado bovino, os rebanhos


encontraram boas pastagens em terras planas e produzem carne de ótima
qualidade, exportada para muitos países. A natureza dos pampas também tornou
o leite argentino de excepcional qualidade. Seus derivados como a manteiga e o
queijo, são apreciados no mundo todo. O desenvolvimento da agropecuária nos
pampas transformou as cidades dessa região, Córdoba e Rosário se destacam, nos
mais importantes centros comerciais do país. Elas funcionam como entrepontos
de vendas dos produtos agrícolas, bem como sedes das fábricas que selecionavam,
preparavam e embalavam os alimentos vindos do campo.

Buenos Aires por sua vez, além de ser a capital do país, é o porto mais
importante da Argentina e um dos mais movimentados da América. A situação
favorável da agropecuária argentina resultou em um desempenho da economia
no início do século XX, a oferta de empregos crescia constantemente, o que atraiu
imigrantes.

A partir do final do século XIX a economia argentina cresceu


consideravelmente, a renda das empresas também cresceu, e o governo pode
recolher os impostos para promover uma base sólida na educação e na saúde. Essa
expansão continuou nos primeiros 50 anos do século XX, o país formou reservas
financeiras poderosas, fato que ajudou muito em períodos de crise. Nas primeiras
décadas após a Segunda Guerra Mundial, os produtos argentinos perderam valor
com a recuperação da Europa e valorização dos produtos industrializados. Mesmo
com a presença de grandes indústrias em seu território e com disponibilidade de
gás natural e petróleo, o país não conseguiu evitar o declínio.

Nos últimos anos a economia voltou a atrair investidores, empolgados


com o aumento do preço do petróleo e dos alimentos. Desde então se observa uma
lenta recuperação da Argentina, que ainda está longe de solucionar os problemas
que se acumularam ao longo de décadas.

146
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico vimos que:

• A América Platina é uma das regiões da América do Sul e da América Latina,


formada pelo Uruguai, Paraguai e Argentina. Estes países têm em comum uma
historicidade e formação socioespacial relacionada com os rios da bacia Patina:
rio Paraguai, rio Paraná e rio Uruguai. As atividades econômicas desenvolvidas
no passado e presente continuam direta ou indiretamente relacionadas aos
rios ou às terras planas que lhes são próximas.

• O relevo dos países Platinos abrange extensas planícies, denominadas de


Pampas e/ou grande planície Platina. Conforme seus territórios avançam do
litoral do Oceano Atlântico para o interior surgem os planaltos e as cordilheiras
Andinas. É na parte Argentina da Cordilheira dos Andes que se localiza o pico
Aconcágua, o mais alto da América do Sul.

• Os climas são diversos, determinados pelos fatores de latitude, altitude,


maritimidade e continentalidade, estando ainda a planície Platina, sob a
influência da massa de ar Polar, que se desloca da Antártida para o interior da
América do Sul.

• As vegetações características são as gramíneas, principalmente nos Pampas,


mas existem também formações arbustivas, florestas e vegetações xerófilas,
conforme a atuação dos climas e seus elementos de umidade e temperaturas.

• As populações do Uruguai e da Argentina são predominantemente brancas,


descendentes dos colonizadores espanhóis e de imigrantes, destacando-
se os italianos. A população do Paraguai se caracteriza pela miscigenação,
predominando pardos e remanescentes de povos indígenas.

• Dentre as atividades econômicas destacam-se as agropecuárias, favorecidas


pela existência das extensas planícies cobertas de gramíneas e indústrias para
transformação das matérias-primas produzidas nestas atividades.

• Do ponto de vista do desenvolvimento (visão ocidental), o Paraguai é dos países


da América Platina o mais problemático, pois os conceitos de desenvolvimento,
progresso e crescimento econômico, se apresentam abaixo do esperado para
o bem-estar das populações, ou seja, os indicadores sociais não apresentam
índices favoráveis.

147
• As melhores terras do Paraguai estão na mão de estrangeiros, se destacando
os brasiguaios. A produção de soja para a exportação em grandes latifúndios
altamente mecanizados, tem produzido tensões e conflitos sociais entre os
proprietários de terras e os campesinos, como são chamados os agricultores
de subsistência e/ou sem-terra paraguaios.

• Os brasiguaios residentes no Paraguai ascenderam socialmente nas últimas


décadas e passaram a controlar setores de prestação de serviços e de comércio
nas cidades do Paraguai, acentuando ainda mais hostilidades já conflituosas.

• O Uruguai apresenta seu território caracterizado pelas planícies, intercaladas


pela presença de coxilhas. A atividade agropecuária é responsável por uma
cadeia de atividades de beneficiamento de lã, couro e de carnes.

• O Uruguai é um dos países mais urbanizados do mundo, com 93% da


população residindo em pequenas e médias cidades, e/ou na capital.

• Assim como ocorreu em outros países da América Latina, o Uruguai também


sofreu um Golpe Militar e foi governado por uma ditadura militar entre 1973
e 1984.

• Nas eleições deste milênio, ascenderam ao poder partidos, cujos representantes


assumiram posicionamento e encaminhamento de esquerda, na tentativa de
superação ou diminuição das disparidades sociais.

• A Argentina, que outrora já foi um país com índices de qualidade de vida


bons, passou por crises financeiras que fizeram estes índices caírem. Sua
recuperação econômica continua a avançar lentamente.

• A Argentina possui paisagens bem diversificadas devido a sua localização


geográfica em relação a latitudes, altitudes e cone sul do continente sul-
americano.

• A Argentina, devido a sua extensão territorial, é dividida em regiões, sendo a


região Pampeana (La Pampa) a mais urbanizada, povoada e industrializada. A
região da Patagônia, com paisagens e condições para a prática de esportes de
inverno, além de outras atividades, se destaca pelo turismo.

148
AUTOATIVIDADE

1 O Paraguai utiliza somente 5% da cota de energia gerada pela Usina


Hidrelétrica de Itaipu. O restante da energia é comercializado para o
Brasil. A partir da informação, e do texto, por que podemos afirmar que o
Paraguai é uma potência hídrica se é um país tão pobre?

2 Recentemente a Argentina restringiu a entrada de pneus brasileiros


e derivados de alumínio produzidos no Brasil. Essas medidas são
consideradas protecionistas para o acordo do Mercosul. Por quê?

3 População da Argentina – 40,8 milhões, aproximadamente.


População de Buenos Aires – 12 milhões, aproximadamente, na região
metropolitana.
População do Uruguai – 3,4 milhões de habitantes.
População de Montevidéu – 1,6 milhões na região metropolitana. (Dados
de 2011, PNUD).

Apesar de números bem diferentes, Uruguai e Argentina têm algumas


características semelhantes. Qual é a característica apresentada pelos números
acima?

149
150
UNIDADE 3

O BRASIL E AS RELAÇÕES
INTERNACIONAIS NA AMÉRICA LATINA:
DOS CONFLITOS FRONTEIRIÇOS
À COOPERAÇÃO, INTEGRAÇÃO E
LIDERANÇA REGIONAIS
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Esta unidade tem por objetivos:

• localizar o Brasil no contexto mundial econômico e social da América do


Sul e da América Latina;

• entender a formação territorial do Brasil e dos países platinos;

• compreender a formação das fronteiras brasileiras em relação aos países


vizinhos;

• refletir sobre a realidade social e econômica do Brasil em relação aos países


vizinhos;

• identificar e analisar as transformações e o processo de aproximação entre


Brasil e Argentina;

• reconhecer conceitos aplicados às tentativas de regionalização, formação


dos blocos econômicos e integração comercial na América do Sul e na
América Latina;

• estudar as características e entender a dinâmica dos blocos econômicos e


das associações latino-americanas e sua formação;

• integrar o conhecimento de regionalização, formação dos blocos econômi-


cos e economias em desenvolvimento do México, Argentina, Brasil, Índia
e China;

• conhecer os principais blocos e/ou associações que se constituíram na


América do Sul e na América Latina, seus países e influência regional;

• diferenciar e associar esses blocos a seus objetivos, etapas, avanços e/ou


estagnação;

• entender a suposta soberania e supremacia brasileira na América do Sul;

151
• estudar fenômenos socioespaciais presentes nos países da América Latina;

• entender a dinâmica cada vez mais crescente e rápida de integração entre


serviços, transportes e energética no espaço latino-americano (tanto con-
flituosa, como de parceria).

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em quatro tópicos. Em cada um deles você en-
contrará atividades visando à compreensão dos conteúdos apresentados.

TÓPICO 1 – DISPUTAS TERRITORIAIS E CONSOLIDAÇÃO DAS FRON-


TEIRAS POLÍTICAS

TÓPICO 2 – A APROXIMAÇÃO REGIONAL – O MERCOSUL

TÓPICO 3 – DOS ESPAÇOS GEOGRÁFICOS REGIONAIS DE ENTORNO


PARA O ESPAÇO REGIONAL MAIS AMPLO DA AMÉRICA
DO SUL E DA AMÉRICA LATINA

TÓPICO 4 – PROJEÇÃO INTERNACIONAL E POLÍTICA EXTERNA

152
UNIDADE 3
TÓPICO 1

DISPUTAS TERRITORIAIS E CONSOLIDAÇÃO


DAS FRONTEIRAS POLÍTICAS

1 INTRODUÇÃO
Por sua grande extensão territorial, o Brasil divide fronteiras terrestres
com dez das 12 nações sul-americanas (incluindo a Guiana Francesa), no total,
15.719 quilômetros de extensão. Apesar de problemas a serem resolvidos, nas
últimas décadas os governantes brasileiros têm visto as fronteiras do país como
linhas de cooperação e não de separação com seus vizinhos. Mas nem sempre
foi assim. Durante o período colonial, portugueses e espanhóis disputaram as
terras da América do Sul. Na região conhecida como Bacia Platina, ou Bacia do
Prata, ocorreram os impasses mais tensos, que deixaram como herança histórica
desconfianças e, de acordo com Albuquerque (2005, p. 209), uma “precariedade
nas suas articulações culturais, políticas e econômicas em escala regional, a qual
se reflete na precariedade atual das infraestruturas físicas de integração, um
dos graves pontos de estrangulamento para uma maior ampliação das trocas
comerciais regionais”.

Caro(a) acadêmico(a), você sabe da tradicional rivalidade no futebol entre


brasileiros e argentinos. Mas a história que explica a rivalidade intensa entre Brasil
e Argentina começa muito antes de Pelé e Maradona, muito antes do futebol, e
antes até de Brasil e Argentina existirem. Entenda a seguir, em alguns motivos,
como começou e como evoluiu a rivalidade, que, graças ao Mercosul, diminuiu.
No decorrer do estudo desta unidade você, caro(a) acadêmico(a), poderá refletir
sobre esta rivalidade histórica.

2 RIVALIDADES COLONIAIS
No passado colonial, os atuais territórios da Argentina, Uruguai e Paraguai
integravam o Vice-Reino do Rio da Prata, subordinado à Espanha. Como parte
da América portuguesa, o Brasil teve uma história marcada por conflitos na
consolidação das fronteiras políticas com esses e outros países sul-americanos.
Por muitos anos, as relações entre o Brasil e seus vizinhos na América do Sul
foram tensas: único herdeiro da Coroa Portuguesa em um continente dominado
quase que inteiramente pela monarquia espanhola, suas fronteiras foram
construídas em grande parte desrespeitando o determinado pelo Tratado de
Tordesilhas (1494), fato que causou disputas fronteiriças com os Estados vizinhos.
Algumas das disputas foram resolvidas quase um século após a proclamação da
independência política, durante o período monárquico, assim como nos dias da
república. No entanto, desde a Guerra do Paraguai (1865-1870), as relações do
Brasil com os seus vizinhos, sem exceção, são pacíficas. (ADAS, 2011).

153
UNIDADE 3 | O BRASIL E AS REL. INTER. NA AMÉRICA LAT.: DOS CONFLITOS FRONT. À COOP., INTEG. E LID. REGIONAIS

Portugal e Espanha, por meio do Tratado de Tordesilhas, assinado em


1494, haviam definido os princípios gerais para a determinação dos limites de
seus territórios na América, porém não os haviam delimitado, ou seja, traçado
linhas divisórias sobre os mapas que permitissem definir marcos de fronteira.
Ao longo do período colonial, essa situação deu origem a disputas territoriais
expansionistas entre as duas potências coloniais ibéricas.

NOTA

Marcos de fronteira são marcações no espaço físico, colocados em pontos


notáveis do terreno, que identificam o limite de uma linha de fronteira terrestre.

Em 1676, por exemplo, em suas investidas para o sul, os portugueses


fundaram Laguna, no litoral do atual Estado de Santa Catarina, próximo à linha
do Tratado de Tordesilhas. Em seguida, em 1680, desejosos de controlar a entrada
do estuário platino, fundaram próximo a este local a Colônia de Sacramento. Na
mesma época, também realizaram incursões pelas terras que, mais tarde, formariam
o Estado do Rio Grande do Sul. Pelo Tratado de Tordesilhas, tanto essa área como a
Colônia de Sacramento localizavam-se em terras pertencentes à Espanha. Observe
no mapa a parte da América do Sul correspondente a Portugal e Espanha.

FIGURA 61 – LINHA DO TRATADO DE TORDESILHAS

Belem

TERRAS
TERRAS PERTENCENTES
PERTENCENTES A PORTUGAL
À ESPANHA

Laguna Linha divisória


segundo o
TERRAS Tratado de
PERTENCENTES Tordesilhas
A PORTUGAL

FONTE: Disponível em: <http://www.estudopratico.com.br/o-que-foi-o-tratado-de-tordesilhas/>.


Acesso em: 29 out. 2015.

154
TÓPICO 1 | DISPUTAS TERRITORIAIS E CONSOLIDAÇÃO

No noroeste do que hoje correspondem as terras do Estado do Rio Grande


do Sul, no início do século XVII, padres jesuítas espanhóis implantaram missões
ou reduções com o objetivo de converter os indígenas à fé cristã. Essas missões
(no decorrer dos séculos XVII e XVIII) foram invadidas por diversas vezes por
bandeirantes paulistas que buscavam escravizar os indígenas, fato que mais uma
vez infringia o tratado luso-espanhol.

A presença portuguesa em terras que pertenciam à Espanha pelo Tratado


de Tordesilhas provocou tensões na região. A Colônia Sacramento, por exemplo,
fundada pelos portugueses, foi invadida pelos espanhóis, mas reconquistada
pelos portugueses. Essa troca de domínio se repetiu por várias ocasiões.

Na tentativa de pôr fim às disputas territoriais, na segunda metade do


século XVIII, Portugal e Espanha assinaram tratados para a definição de limites
entre seus respectivos territórios. Dentre os tratados, o Tratado de Madri,
assinado em 1750, foi o mais importante. Preparado cuidadosamente a partir
do Mapa das Cortes, o tratado favoreceu as colônias portuguesas em prejuízo
aos direitos dos espanhóis. Os diplomatas portugueses eram muito espertos e
basearam-se no princípio do Uti Possidetis – direito de posse – para definir como
se daria a divisão territorial, trabalhando também para a vitória portuguesa.
Pelo Uti Possidetis a terra deveria ser ocupada por aqueles que já se encontravam
estabelecidos nela, com residência fixa e trabalho nas redondezas. Desta forma,
os portugueses se firmaram no grande território que hoje forma o Brasil. Foi o
Tratado de Madri que praticamente deu ao Brasil a extensão territorial que possui
hoje, com pequenas alterações na configuração das fronteiras, ainda decorrentes
das disputas territoriais entre portugueses e espanhóis em determinados locais
fronteiriços. (ADAS, 2011). Observe no mapa o quanto a extensão de terras do
Brasil se ampliou com o Tratado de Madri, a área dos Sete Povos das Missões
disputada com o Vice-Reino da Prata, e localização da vila da Colônia do
Sacramento, na margem esquerda do Estuário do Rio da Prata.

155
UNIDADE 3 | O BRASIL E AS REL. INTER. NA AMÉRICA LAT.: DOS CONFLITOS FRONT. À COOP., INTEG. E LID. REGIONAIS

FIGURA 62 – OS LIMITES DO BRASIL DO SÉCULO XV AO XVIII

FONTE: Disponível em: <http://www3.editorapositivo.com.br/pnld2015/atv/HCS_2_07/index.html>.


Acesso em: 29 out. 2015.

O primeiro Tratado de Santo Ildefonso foi um acordo assinado entre


Portugal e Espanha em 1777, e tinha como objetivo acabar com a disputa pela
posse da Colônia de Sacramento e outras regiões, na América do Sul, entre as
duas nações europeias. Não obteve êxito.

Apenas em 1801 (início do século XIX), pelo Tratado de Badajós, ficaram


estabelecidas as fronteiras do Amapá com a Guiana Francesa e do Rio Grande do
Sul com o Vice-Reinado Espanhol do Rio da Prata, que deu origem, posteriormente,
à Argentina, Uruguai e ao Paraguai. Por este tratado ficou assegurado para
Portugal o domínio sobre os Sete Povos das Missões, consolidado em acordo
posterior entre autoridades do Rio Grande do Sul e Vice-Rei do Prata.
156
TÓPICO 1 | DISPUTAS TERRITORIAIS E CONSOLIDAÇÃO

2.1 A QUESTÃO CISPLATINA NO PERÍODO


IMPERIAL BRASILEIRO
Em 1816, a mando de D. João (atendendo a uma das exigências de Carlota
Joaquina), luso-brasileiros ocuparam a banda oriental do Uruguai (nome dado na
época ao atual território uruguaio). Em 1821, essa região foi incorporada ao Brasil
com o nome de Província da Cisplatina.

FIGURA 63 – MAPA PROVÍNCIA DA CISPLATINA, ATUAL TERRITÓRIO DO URUGUAI

FONTE: Disponível em: <http://slideplayer.com.br/slide/352516/>. Acesso em: 29 out. 2015.

Os habitantes locais, descendentes de espanhóis (maioria), não aceitaram


que esse território pertencesse ao Brasil. Em 1825, liderados pelo general
Lavalleja, conquistaram a autonomia da Cisplatina em relação ao Império do
Brasil, passando a fazer parte da República das Províncias Unidas do Rio da
Prata. Em resposta ao ato de Lavalleja, no mesmo ano D. Pedro I declarou guerra
à Cisplatina, que só terminou em 1828, com a derrota brasileira. A província
da Cisplatina independente deu origem à República Oriental do Uruguai e
enfraqueceu a pretensão brasileira de ampliação do território. (ADAS, 2011).

157
UNIDADE 3 | O BRASIL E AS REL. INTER. NA AMÉRICA LAT.: DOS CONFLITOS FRONT. À COOP., INTEG. E LID. REGIONAIS

2.2 A ERA RIO BRANCO – 1902-1912


José Maria Paranhos Junior, conhecido como Barão do Rio Branco,
assumiu o cargo de Chanceler quando o Brasil se encontrava isolado na América
do Sul. Por essa época, as relações com o Chile praticamente inexistiam; com
a Bolívia, em relação ao Brasil as relações se encontravam delicadas devido
à questão do Acre; a Venezuela não concluía o trabalho de demarcação da
fronteira comum e, ainda, a Colômbia buscara, sem resultados, apoio brasileiro
frente à possibilidade de retalhamento de seu território, devido à construção do
Canal do Panamá. Rio Branco, porém, via o Brasil em posição de destaque na
América do Sul, não de modo impositivo, mas, sim, decorrente de sua própria
dimensão territorial, condição econômica e situação demográfica. Antes, porém,
o país devia superar aquele isolamento e outras questões limitadoras de sua
ação internacional, a saber: a definição de suas fronteiras; a restituição do valor
primitivo de sua ação internacional e a reconquista da credibilidade e do prestígio
do país, abalados por dez anos de conflitos internos, de desmoronamento
financeiro e de flutuação dos rumos seguidos para a consolidação da República.
Assim, enquanto foi ministro das Relações Exteriores do Brasil, obteve êxito na
negociação das fronteiras definitivas do país.

Considerado o pai da diplomacia contemporânea brasileira, o barão


consolidou uma relação diplomática baseada na negociação pacífica de conflitos,
o que ajuda a explicar por que, desde o fim da Guerra do Paraguai (1870), o
Brasil não se envolveu em outros conflitos interestatais.

3 AS RELAÇÕES REGIONAIS NA BACIA DO PRATA


NO DECORRER DA HISTÓRIA
Dentre as fronteiras do Brasil com os demais países da América do Sul,
as da Bacia do Prata foram as que mais foram contestadas, desde os tempos
coloniais. Isso conduziu o Brasil a certo isolamento na América do Sul. A formação
da identidade nacional e a territorialização destes países passaram pelo controle
dos rios da Bacia Platina. No Brasil, as nascentes e seus tributários correndo para
o interior e depois em direção ao Sul, em função das altitudes e disposição das
formas de relevo, foram os principais meios de controlar os grandes espaços e
riquezas do interior. (ALBUQUERQUE, 2005).

3.1 BRASIL E ARGENTINA: DA


DESCONFIANÇA À APROXIMAÇÃO
Relações políticas e econômicas entre Brasil e Argentina foram
influenciadas, na maior parte do século XX, pelos mais de três séculos de disputas
fronteiriças. Segundo Almeida (2010), o Brasil nem sempre foi um país influente

158
TÓPICO 1 | DISPUTAS TERRITORIAIS E CONSOLIDAÇÃO

por sua dimensão econômica. No entanto, há mais de cem anos a Argentina foi
o país mais rico da América Latina, com uma renda per capita mais do que o
dobro da brasileira, até então um dos países mais ricos do mundo. Albuquerque
(2005, p. 224) corrobora explicando que “em termos de projeção subcontinental,
a Argentina levaria vantagem em relação ao Brasil nas primeiras décadas do
século XX”. As exportações argentinas de trigo e carne foram responsáveis por
um crescimento econômico expressivo para os níveis regionais, permitindo à
Argentina renda per capita e qualidade de vida muito superiores às brasileiras.
A Argentina polarizava países platinos limítrofes como o Uruguai e Paraguai, a
ponto de, por exemplo, se configurar a malha ferroviária paraguaia de modo a
articulá-la ao Porto de Buenos Aires.

De lá para cá a situação alterou-se, enquanto a desigualdade social


diminuiu no Brasil, na Argentina aumentou. A razão é simples: mesmo
fornecendo indicadores econômicos e educacionais que são, em média, menos
de um terço dos da Argentina, os indicadores sociais no Brasil cresceram de
forma mais consistente e mais rápido em determinados momentos. Durante a
ditadura militar, de 1964-1985, apesar da liberdade de expressão e democracia
suprimidas, o Brasil consolidou-se como potência industrial emergente, e o país
foi dotado de um conjunto de instituições que apoiaram o crescimento durante
a fase decisiva da sua modernização econômica e tecnológica. A Argentina,
infelizmente, não conseguiu manter as condições favoráveis ​​disponíveis e
passou por governos catastróficos, tanto militares como civis. Tais governos, na
escala de desenvolvimento econômico e político, colocaram o país em situação
dramática. Albuquerque (2005) exemplifica a inversão do quadro econômico
e geopolítico sul-americano a favor do Brasil a partir de 1970, quando a área
geográfica de influência (hinterlândia) paraguaia passou a se articular com o
sistema rodoferroviário brasileiro com pontos terminais nos portos de Santos
(SP) e Paranaguá (PR).

Apesar de o Brasil ser produtor líder em várias commodities, especialmente


na agricultura, e possuir outros recursos primários, como minérios, o país ainda
sofre de disfunções graves no seu sistema de produção e em seus níveis de
competitividade internacional, estando fora de setores dinâmicos e sofisticados,
exceto no mercado da indústria da aviação. Os fatores que contribuem para
diminuir a sua produtividade são históricos e estão relacionados à baixa formação
técnica e pedagógica de sua força de trabalho. A infraestrutura poderia ser
melhor, o mercado de crédito é insuficiente para a magnitude do PIB, e os gastos
da burocracia do Estado são excessivos, sem contar com hábitos de corrupção
e subornos. O que é recolhido em impostos retorna muito pouco em termos de
investimentos diretamente produtivos. (ALMEIDA, 2010).

159
UNIDADE 3 | O BRASIL E AS REL. INTER. NA AMÉRICA LAT.: DOS CONFLITOS FRONT. À COOP., INTEG. E LID. REGIONAIS

E
IMPORTANT

Relembrando da Unidade 1: Commodities são artigos de comércio internacional,


bens que não sofrem processos de alteração (ou que são pouco diferenciados), como
frutas, legumes, cereais e alguns metais.

O crescimento econômico do Brasil se consolidou de forma lenta, e isso só


foi possível a partir da crise econômica entre as duas guerras, quando começou o
processo de industrialização. De todos os países da América do Sul, e também da
América Latina, o Brasil é, sem dúvida, o mais industrializado. No entanto, nas
primeiras décadas da segunda metade do século XX, o Brasil não desenvolveu
uma vocação de abertura econômica e integração regional com os países vizinhos.
Segundo Albuquerque (2005), a política externa brasileira, em especial desde o
regime militar instaurado em 1964, reservava aos países da região sul-americana
a condição de fornecedores de matérias-primas e energia, de corredores de
passagem para o Pacífico e Caribe. Albuquerque ressalta que com o processo
de globalização, passou a imperar uma “visão unificadora”, em detrimento da
unidade latino-americana, pois as elites dos países continuam tramando nos
bastidores diferentes maneiras para defender seus projetos nacionais, diferindo
dos discursos oficiais e da agenda internacional.

TURO S
ESTUDOS FU

No Tópico 2 este assunto será mais explorado, através das tentativas de integração
e/ou associação de países sul e latino-americanos.

3.2 BRASIL E ARGENTINA: COMPETIÇÃO GEOPOLÍTICA


Durante século XIX até a década de 1930 do século XX, militares,
estrategistas e geopolíticos argentinos e brasileiros mantiveram desconfiança e
competição mútuas. Do lado argentino considerava-se que o Brasil era o maior
rival na América do Sul e desejava-se contrabalançar o seu poder com base na
lembrança de que, durante a marcação das fronteiras brasileiras no período
colonial e imperial, ocorrera considerável expansão do território, do litoral para
o interior do continente. O governo da Argentina almejava, assim, tornar o país
núcleo de um poder regional, articulando-se com os demais países hispano-
americanos. Os geopolíticos brasileiros consideram que o principal objetivo da
Argentina era isolar o Brasil na América do Sul. Também temiam que o país
vizinho planejasse atacar os estados brasileiros da região Sul com o apoio do
Uruguai, do Paraguai e da Bolívia. (ADAS, 2011).
160
TÓPICO 1 | DISPUTAS TERRITORIAIS E CONSOLIDAÇÃO

3.3 A OPERAÇÃO PAN-AMERICANA (OPA) E


OS ACORDOS DE URUGUAIANA
Sinais de aproximação entre os dois países somente surgiram na década
de 1950, durante os governos do presidente brasileiro Juscelino Kubitschek
(1956-1961) e do argentino Arturo Frondizi (1958-1962). Através da Operação
Pan-Americana – OPA, Juscelino, em 1958, iniciou uma aproximação e
estreitamento das relações entre os países da América. Embora o objetivo
principal fosse pressionar os Estados Unidos para que tomassem iniciativas de
maior cooperação com o desenvolvimento continental, os governos brasileiro e
argentino instauraram um período de cooperação, levantando, ao mesmo tempo,
a necessidade de integração dos países da América do Sul. Assim, em 1960 foi
criada a Associação Latino-Americana de Livre Comércio – ALALC. A ALALC
era uma organização internacional, cujo objetivo principal era o incremento
do comércio entre os países membros por meio da redução de tarifas e outras
providências. (ADAS, 2011).

Em 20 de abril de 1961 os governos do Brasil, Jânio Quadros, e da Argentina,


Arturo Frondizi, realizaram um encontro histórico na cidade de Uruguaiana-RS,
na fronteira com a Argentina, onde concordaram em superar as desconfianças
históricas e intensificar um esforço comum de cooperação econômica, financeira,
judiciária e cultural, além do estabelecimento de uma ação comum na solução
de problemas internacionais. Discutiram alternativas de cooperação econômica
entre os países sul-americanos e repudiaram interferências extracontinentais nos
assuntos da América do Sul. (ADAS, 2011)

3.4 GOVERNOS MILITARES NO BRASIL E NA ARGENTINA


Após os acordos de Uruguaiana, o estreitamento dos laços de cooperação
entre Brasil e Argentina não avançou, pois militares assumiram os governos em
ambos os países, reavivando desconfianças mútuas. No Brasil, o regime militar
teve início em 1964 e estendeu-se até 1985, enquanto que na Argentina os militares
permaneceram no poder entre 1962 e 1983.

Do lado brasileiro, o governo militar buscava consolidar a hegemonia na


América do Sul. Para isso considerava necessário isolar a Argentina por meio
da articulação de um conjunto de iniciativas na Bacia Platina, região de maior
influência do país vizinho. Priorizou-se o fortalecimento de relações bilaterais
do Brasil, principalmente com a Bolívia e o Paraguai, países dependentes da
Argentina, para escoarem seus produtos para o exterior utilizando o Porto de
Buenos Aires.

Com o intuito de atrair o Paraguai para a órbita de influência brasileira,


em 1969 foi inaugurada a Rodovia BR-277, que liga o eixo econômico paraguaio,
Assunção-Cidade de Leste, ao litoral do Estado do Paraná, permitindo as
exportações paraguaias. Em 1966 assinou-se a Ata das Cataratas ou Ata de Iguaçu,

161
UNIDADE 3 | O BRASIL E AS REL. INTER. NA AMÉRICA LAT.: DOS CONFLITOS FRONT. À COOP., INTEG. E LID. REGIONAIS

que estabeleceu regras para o aproveitamento hidrelétrico do Médio Paraná. Anos


mais tarde, em 1973, foi assinado o Tratado de Itaipu, e à revelia dos protestos
argentinos foram iniciadas as obras para a construção da Hidrelétrica de Itaipu,
obra binacional paraguaio-brasileira que tornou o Paraguai autossuficiente na
produção de energia elétrica.

Albuquerque (2005) explica que o Brasil, ao construir uma sequência de


barragens na parte superior da bacia do Prata-Paraná, o governo e sua equipe
técnica, empregando uma estratégia de usos múltiplos dos rios, procurou
controlar a rede fluvial para inverter o fluxo econômico a seu favor. Visou facilitar
o escoamento da produção no interior da bacia para corredores de exportação
de sentido oeste-leste, em direção aos portos atlânticos do Sudeste brasileiro. A
condição natural da bacia favorece a Argentina ao facilitar a navegação sentido
norte-sul, rumo à foz do rio da Prata. As Cataratas do Iguaçu sempre foram
uma barreira natural aos interesses argentinos, e talvez essa tenha sido a razão
pela qual a barragem de Itaipu foi construída sem eclusa. A posição do Estado
brasileiro iria mudar na década de 1990, após o surgimento do Mercosul, com
a implementação da hidrovia Paraguai-Paraná. Observe no mapa o complexo
hidroviário Tietê-Paraná.

FIGURA 64 – MAPA: BACIA HIDROGRÁFICA DO TIETÊ PARANÁ, ONDE UM SISTEMA DE ECLUSAS


PERMITE A UTILIZAÇÃO DOS RIOS E SUAS BARRAGENS COMO HIDROVIA

FONTE: Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Hidrovia_Tiet%C3%AA-Paran%C3%A1>.


Acesso em: 29 out. 2015.

162
TÓPICO 1 | DISPUTAS TERRITORIAIS E CONSOLIDAÇÃO

A partir de meados da década de 1980, período em que no Brasil e na


Argentina ocorreu a transição do regime militar para governos democráticos, os
governos desses países deram início à superação da visão recíproca de que eram
“inimigos históricos”. Diante da percepção de que a economia mundial passava
por transformações importantes, começaram a se aproximar com objetivo de
cooperação e complementaridade de suas economias.

3.5 O RETORNO À DEMOCRACIA E A


APROXIMAÇÃO DE BRASIL E ARGENTINA E
OUTROS PAÍSES DA AMÉRICA DO SUL
O retorno à democracia tanto no Brasil como na Argentina favoreceu um
processo de aproximação política e reforçou a confiança mútua. Somente a partir
da década 1990, as relações internacionais do Brasil se voltaram para a região da
América do Sul e da América Latina para a construção de um espaço político,
estratégico e econômico preferencial. Nos últimos 25 anos, o Brasil ampliou sua
presença no mundo e na América Latina. O Brasil passou a desempenhar papel de
crescente importância em foros internacionais, com destacada atuação em questões
multilaterais, deixando para trás a noção de soberania fundada no isolamento.
(CARMO; PECEQUILO, 2015).

Essa aproximação permitiu acordos de cooperação (1986) e integração (1988).


Representantes dos governos do Brasil, Uruguai, Argentina e Paraguai iniciaram
conversações a fim de integrar comercialmente seus países, o que mais adiante
culminou com a assinatura do Tratado de Assunção, na cidade de Assunção, capital
do Paraguai, criando-se, em 1991, o Mercado Comum do Cone Sul – Mercosul.

O Mercosul, através dos acordos de parceria entre os países vizinhos,


monopolizou a articulação da maior parte da política externa regional brasileira,
embora em um período mais recente tenha havido uma série de iniciativas políticas
que tentam uma concepção brasileira de consolidar a América do Sul como uma
zona de integração econômica e cooperação política. Segundo Carmo e Pecequilo
(2015), os acordos do bloco sul-americano foram ações que demonstraram a busca
de autonomia dos países integrantes do grupo, com alinhamento às orientações
neoliberais do Consenso de Washington. Trajetória essa que trouxe, segundo os
autores, esperança e frustração, pois acreditou-se que a globalização e a organização
dos mercados regionais estivessem acompanhadas de benesses, enquanto se percebia
que a desregulamentação aprofundou as assimetrias sociais, conduzindo os países a
instabilidades e fragmentação.

TURO S
ESTUDOS FU

o Tópico 2 será dedicado à análise e reflexões sobre o Mercosul.

163
UNIDADE 3 | O BRASIL E AS REL. INTER. NA AMÉRICA LAT.: DOS CONFLITOS FRONT. À COOP., INTEG. E LID. REGIONAIS

O Mercosul permitiu ao Brasil consolidar uma agenda satisfatória com


a Argentina, depois de décadas de relativa indiferença ou mesmo hostilidade
escamoteada, pois os dois maiores países do continente, mesmo sem contestar
abertamente a hegemonia regional, entraram em confronto velado em vários
episódios ao longo do século XX. Entre outros, um dos motivos para a disputa
era a exploração dos recursos hídricos na bacia do rio da Prata, resolvido por um
acordo tripartite em 1979, em torno de Itaipu, conseguindo superar a disputa
absurda sobre o potencial energético do rio Paraná.

3.6 O MERCOSUL E A CRISE DOS ANOS 1999-2001


A partir de 1999, alguns problemas nas economias, principalmente do
Brasil e da Argentina, influíram na redução das trocas comerciais do Mercosul. A
desvalorização do real em relação ao dólar, em janeiro de 1999, causou a alta dos
preços dos produtos argentinos, paraguaios e uruguaios no mercado brasileiro
e, em consequência, a redução das importações brasileiras de produtos desses
países. Tal situação afetou profundamente a Argentina, pois somente o Brasil era
responsável pela compra de 31% do total de suas exportações. Em 2000 e 2001, o
quadro de recessão e desemprego, que já existia em 1999, agravou-se. Com isso, o
comércio entre os países do Mercosul declinou, mas manteve-se muito acima do
que era no início dos anos 1990. (ADAS, 2011).

Nos primeiros anos do século XXI a América do Sul encontrou uma


nova dinâmica, liderada pelas iniciativas brasileiras dos governos de Fernando
Henrique Cardoso (1995-2002) e Luís Inácio Lula da Silva (2003-2010), que lhe
permitiu destacar-se como líder nas relações internacionais regionais, como
protagonista de novas alianças multilaterais. Simultaneamente, na Venezuela, as
ações do governo de Hugo Chávez (que se elegeu pela primeira vez em 1998)
também contribuíram para uma projeção global e principalmente regional, tanto
da América do Sul e da América Latina. A imagem de crise, de encolhimento
e de isolamento foi sendo sobreposta gradativamente por ações centradas na
recuperação e renovação nas quais a América do Sul passou a olhar cada vez
mais para dentro de si mesma, ao mesmo tempo em que optou em abrir suas
fronteiras para o mundo. Em meio a dificuldades domésticas, a projeção externa
ganhou maturidade, processo permeado por disputas políticas, pressionado pela
necessidade contínua de progresso, de superação da fragmentação do passado e,
por vezes, contando com a persistência de riscos de estagnação e retrocessos nas
respectivas agendas. (CARMO; PECEQUILO, 2015).

Em 2015 o comércio bilateral entre Argentina e Brasil caiu drasticamente,


acumulando 23 meses consecutivos de queda, conforme notícia publicada em 1º
de setembro de 2015, jornal eletrônico EN10. O comércio bilateral caiu 16,8% ao
longo deste ano de 2015 e a comparação com 2011 mostra uma possível queda de
até 40%. A consultora privada Abeceb.com, com base nas estatísticas oficiais de
ambos os países, demonstrou que em 2015 acumula-se uma queda de 22,6% nas
exportações argentinas ao Brasil e de 11,3% nas compras. Dentre as explicações

164
TÓPICO 1 | DISPUTAS TERRITORIAIS E CONSOLIDAÇÃO

para os números, a recessão no Brasil é um dos fatores, juntamente com a restrição


de dólares pela Argentina, gerando dificuldades para o país manter o ritmo de
importações. (PRESSE, 2015).

4 A FAIXA DE FRONTEIRA BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA


O Brasil faz fronteira com 10 dos 12 países da América do Sul, incluindo
a Guiana Francesa. A fronteira é resultante de um processo histórico que tem por
base a preocupação do Estado com a garantia de sua soberania e independência
nacional. Historicamente, o país tem demonstrado interesse pela região que
envolve a fronteira, ao buscar identificá-la como faixa de fronteira e, como tal,
dotada de complexidade e peculiaridades que a tornam especial em relação ao
restante do país. Nos últimos anos, o governo brasileiro ampliou a atenção para a
ocupação e a utilização da chamada faixa de fronteira, reconhecendo a importância
territorial estratégica diante do processo de integração sul-americano. A principal
legislação que trata sobre a faixa da fronteira foi promulgada em 1979, atribui uma
importância diferenciada a este espaço territorial, considerado área de segurança
nacional desde o tempo do Segundo Império, meados do século XIX. Acontece
que com a globalização e organização dos blocos econômicos supranacionais, as
fronteiras passaram a ser ressignificadas.

A faixa de fronteira brasileira corresponde a uma região que se estende ao


longo de 15.719 quilômetros de fronteira terrestre do país. Com 150 quilômetros de
largura, esta longa faixa se estende por 11 unidades da federação e 588 municípios,
abrigando uma população próxima a 10 milhões de habitantes. A faixa de fronteira
de dois países forma a zona de fronteira, onde parte expressiva das relações
transfronteiriças se estabelece nas cidades gêmeas ou trigêmeas. Em linhas gerais,
a zona de fronteira é composta pelas faixas territoriais de cada lado do limite
internacional, caracterizado por interações internacionais que embora criem um
meio geográfico próprio de fronteira, apenas é perceptível na escala local-regional
das interações. Neste meio geográfico, as cidades-gêmeas são a manifestação das
relações locais num contexto complexo e peculiar. (ADAS, 2011).

4.1 CIDADES-GÊMEAS
Na escala local-regional, no meio geográfico as cidades gêmeas
correspondem a adensamentos populacionais que são cortados por linhas de
fronteiras (terrestre ou fluvial, articulada ou não por obra de infraestrutura),
ou, em outras palavras, são núcleos urbanos que se localizam de um lado e de
outro do limite internacional entre países vizinhos. Nos quase 16 mil quilômetros
de fronteira terrestre brasileira, existem 29 cidades-gêmeas. Estas cidades
contam com grande potencial de integração econômica e cultural. Há intensa
circulação (fluxos) de pessoas, mercadorias e capitais. Às vezes, estas cidades
são tão integradas que basta atravessar uma rua para ir de um país para outro.
(ANTUNES, 2013; CAMPOS, 2014). Observe no mapa cidades gêmeas e trigêmeas
na fronteira sul e sudoeste do Brasil e vizinhos.

165
UNIDADE 3 | O BRASIL E AS REL. INTER. NA AMÉRICA LAT.: DOS CONFLITOS FRONT. À COOP., INTEG. E LID. REGIONAIS

FIGURA 65 - CIDADES GÊMEAS E TRIGÊMEAS NA FRONTEIRA SUL E SUDOESTE DO BRASIL


COM PAÍSES VIZINHOS

FONTE: Disponível em: <http://seminariogelf.blogspot.com.br/p/linguistica-de-fronteira.html>.


Acesso em: 29 out. 2015.

O encontro de culturas através das pessoas de países diferentes fomenta


ações para potencializar o aprendizado de línguas, de respeito à diversidade de
dialetos e culturas. As escolas públicas da cidade de Santana de Livramento,
RS, por exemplo, ensinam espanhol, e crianças de Rivera (Uruguai) também
aprendem português. Por conviverem em um espaço comum, habitantes dessas
cidades mesclam as duas línguas e criaram novas palavras, falando o chamado
português do Uruguai.

Após uma série de negociações entre os governos do Brasil e da Argentina,


a exemplo da experiência Brasil-Uruguai, o Projeto Escolas Bilíngues de Fronteira
surge como uma estratégia de entendimento e de pacificação das fronteiras. A
implementação do projeto tem como propósito promover a construção de uma
identidade regional (de fronteira) bilíngue intercultural, de paz e cooperação.
De forma resumida, o projeto consiste em um modelo comum de ensino em
escolas de fronteira, a partir do desenvolvimento de um programa para educação
intercultural, com ênfase no ensino de português e espanhol, sobretudo nas
cidades gêmeas. (BRASIL, 2010).

166
TÓPICO 1 | DISPUTAS TERRITORIAIS E CONSOLIDAÇÃO

Por outro lado, existem também problemas ligados ao comércio ilegal


de mercadorias entre os dois ou três países (cidades trigêmeas), conhecido como
contrabando, tráfico de drogas, armas ou pessoas, entre outros. Nas cidades
gêmeas é comum uma prática comercial particular denominada “comércio
formiga”, que ocorre quando os habitantes de uma das cidades, ou mesmo de
outras localidades, deslocam-se para a cidade do país vizinho a fim de comprar
produtos para o consumo próprio ou para a revenda. Ocorre também a saída
de recursos naturais e minerais, explorados sem controle e ilegalmente, gerando
danos ao meio ambiente. (ADAS, 2011).

O Brasil não tem muitas cidades gêmeas, a maioria destas cidades está
concentrada na faixa de fronteira com o Uruguai, a Argentina e o Paraguai.
Com a Argentina o Brasil tem 16 cidades gêmeas, das quais oito estão situadas
na área limítrofe do Estado do Rio Grande do Sul com as províncias argentinas
de Corrientes e Missiones. A existência do número reduzido de cidades gêmeas
reflete a situação de marginalidade da zona de fronteira em relação às principais
correntes de povoamento da América do Sul, concentradas na orla atlântica e nos
altiplanos andinos. A localização geográfica das existentes decorre dos diversos
fatores, dentre eles, a disposição dos eixos de circulação terrestre sul-americanos,
a densidade do povoamento (caso da Amazônia), a presença de obstáculos físicos
(cordilheira dos Andes) e a histórica econômico-territorial da zona de fronteira.
(BRASIL, 2010).

Três aspectos se destacam na geografia das cidades gêmeas na fronteira


brasileira, sendo o primeiro o favorecimento da posição estratégica em relação a
linhas de comunicação terrestre e a existência de infraestrutura de articulação.
Embora estes fatores possam explicar o surgimento de muitas cidades gêmeas,
nem sempre garantem seu crescimento e simetria urbana. O segundo aspecto
é em parte resultante do primeiro, onde a disposição geográfica das cidades e
seu tamanho e organização urbana são dependentes da ação intencional dos
governos em atender suas prioridades políticas institucionais. O terceiro aspecto
a ser destacado na geografia das cidades gêmeas é a disjunção entre o tipo de
interação predominante na linha de fronteira e o tipo de interação que caracteriza
a cidade que nela se localiza. (BRASIL, 2010).

4.2 MARCOS DE FRONTEIRA, TENSÕES E


QUESTÕES FRONTEIRIÇAS
Em relação à geografia física, os locais de maior altitude do relevo
brasileiro se localizam no Planalto das Guianas. Os pontos mais altos do Brasil
estão localizados na Serra do Imeri, na divisa do Brasil com a Venezuela, que são
o Pico da Neblina (AM), com 2.993 metros de altitude, e o Pico 31 de Março (AM),
com 2.972 metros de altitude. (HUECK et al., 2013)

A fronteira com a Guiana Francesa possui em torno de 730 quilômetros


de extensão. Por muito tempo foi comum sua travessia por brasileiros que

167
UNIDADE 3 | O BRASIL E AS REL. INTER. NA AMÉRICA LAT.: DOS CONFLITOS FRONT. À COOP., INTEG. E LID. REGIONAIS

procuravam trabalho naquele país, que na realidade é um departamento


ultramarino da França. O objetivo dos brasileiros era receber em euros, e dali
tentar ingressar na França. O controle mais rígido das fronteiras está diminuindo
a entrada de estrangeiros neste território. (HUECK et al., 2013).

UNI

Além da Guiana Francesa, a França possui outros três Departamentos Ultramarinos:


Guadalupe e Martinica no Caribe, América Central, e as ilhas Réunion, a leste de Madagascar,
no Oceano Índico. Os Departamentos Ultramarinos são territórios franceses administrados
pela matriz, regidos pela mesma constituição e também com a mesma moeda, o Euro.
Pode-se afirmar que a Guiana Francesa é uma extensão da França na América do Sul.
No entanto, a Guiana Francesa não possui os mesmos níveis socioeconômicos da França
Europeia, pois apresenta uma longa história de pobreza, resultado da colonização, feita
por presos franceses da famosa prisão Papillon. A população da Guiana Francesa sempre
acreditou que um dia poderiam viver num território independente da matriz, fato que
ainda não se concretizou. A grande riqueza natural existente, o ouro, nunca beneficiou a
população francesa que reside numa “França” sul-americana. Hoje, com a implantação do
Euro e dos direitos garantidos pela Constituição da França, a população da Guiana Francesa
se permite ter melhores condições de vida, como também de trabalho, para todos os
nativos ou franceses que lá residam. A extensão do braço europeu na América possibilitou
o crescimento econômico com um desenvolvimento nunca antes visto naquele território.
(CONTE, 2010).

Segundo Conte (2010), o Brasil e a França assinaram, em 2001, um acordo


que prevê a construção de uma ponte sobre o Rio Oiapoque, com 370 km de
águas navegáveis, e é um dos marcos de fronteira entre Amapá, BRA, com a
Guiana Francesa, FRA. O então presidente Fernando Henrique Cardoso e o então
primeiro-ministro francês Jacques Chirac, após assinarem acordos bilaterais
visando, por exemplo, à proteção da Amazônia (1996), além de outros assuntos,
acordaram sobre a referida ponte entre a Guiana Francesa e o Amapá.

De acordo com Santiago (2015), a ponte está pronta desde junho de 2011,
mas ainda não foi inaugurada. A estrutura custou R$ 61 milhões e ainda depende
de obras de aduana no lado brasileiro. Falta de recursos impede previsão sobre
fim das obras no Amapá. As instalações do lado francês já estão prontas. A
construção da aduana foi orçada em R$ 13,6 milhões pelo Departamento Nacional
de Infraestrutura e Transportes - DNIT. No local serão instaladas a Anvisa, Polícia
Rodoviária Federal, Polícia Federal, Ibama, Receita Federal e Receita Estadual.
Cada órgão será responsável pela aquisição dos equipamentos e funcionalidade das
próprias estruturas. Até a inauguração da ponte, os brasileiros terão mudanças no
tráfego entre Amapá e Guiana Francesa. A partir de 2 de fevereiro, moradores de

168
TÓPICO 1 | DISPUTAS TERRITORIAIS E CONSOLIDAÇÃO

Oiapoque, a 590 quilômetros de Macapá, terão que entrar com pedido de expedição


de um novo documento para poder transitar em Saint-Georges, cidade na divisa
entre o Amapá e a Guiana Francesa.

Nas fronteiras do Pará com a Guiana e Suriname, há cerca de 35 mil


garimpeiros ilegais concentrados. Para produzir um quilo de ouro eles chegam
a usar um quilo de mercúrio, material altamente poluente e bioacumulável,
contribuindo para o desastre ambiental e deixando as populações nativas
vulneráveis. Em toda a Amazônia existe uma área descontínua de 1,6 milhão de
quilômetros quadrados que contém minérios exploráveis, o que contribui para a
cobiça dos mesmos por brasileiros e estrangeiros moradores da zona de fronteira
com o Brasil. (HUECK et al., 2013).

No Brasil, principalmente na Amazônia, há 618 terras indígenas


identificadas. Destas, 180 se localizam na faixa de fronteira e 45 tribos vivem
em mais de um país. Quando um território indígena se estende por mais de
um Estado Nação, seus habitantes podem passar de um país para outro sem
problemas, pois para eles isso não tem importância. As terras indígenas mais
populosas nas fronteiras são: Raposa Serra do Sol – RR, onde vivem os povos
Ingarikó, Makuxi e outros três, totalizando 19,9 mil indígenas. Terras do Alto Rio
Negro – AM: povos Hupde, Bara Nadeb e outros 17 povos, totalizando 19,7 mil
indígenas. Terras Yanomami – AM e RR, povos Yanomami, Ye e Kuana, em torno
de 19,3 mil indígenas. Terras Evare I, AM, povo Tucumã, com 18 mil indígenas.
(HUECK et al., 2013).

A Amazônia Internacional se estende pelo Brasil e países vizinhos, dentre


eles, Colômbia, Venezuela, Equador (que não faz fronteira com o Brasil), Bolívia,
Peru, Guiana, Suriname e Guiana Francesa. É um termo utilizado para fazer
referência à região norte da América do Sul, onde está localizado o bioma da
Amazônia, onde predomina a floresta tropical e equatorial, a Floresta Amazônica,
porém com áreas com cerrados, campos, vegetações de altitudes, vegetações de
transição com a caatinga e outras. A maior parte da Amazônia Internacional está
localizada em território brasileiro, compreendendo 60% do total, denominada
pelo governo brasileiro de Amazônia Legal.

A Amazônia Legal  é o nome atribuído pelo governo brasileiro a


uma determinada área da Floresta Amazônica, pertencente ao Brasil, e que abrange
nove Estados: Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia, Roraima e parte dos
estados de Mato Grosso, Tocantins e Maranhão. Nestes estados, 775 municípios
e 24 milhões de pessoas, entre elas 250 mil indígenas. A área corresponde a
aproximadamente 5.217.423 km², cerca de 61% do território brasileiro. Através da
Lei n° 1806, de 06 de janeiro de 1953, o governo de Getúlio Vargas decretou a criação
da Amazônia Legal com a finalidade de melhorar o planejamento e execução

169
UNIDADE 3 | O BRASIL E AS REL. INTER. NA AMÉRICA LAT.: DOS CONFLITOS FRONT. À COOP., INTEG. E LID. REGIONAIS

de projetos econômicos na região delimitada. Simultaneamente, foi criada uma


organização responsável pelas iniciativas de promoção dessa região, atualmente
designada Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (SUDAM). O
extrativismo vegetal é uma das principais atividades econômicas da Amazônia
Legal. Grandes empresas, nacionais e internacionais, utilizam as matérias-primas
provenientes dessa região na  fabricação dos seus produtos. Entre 2000 e 2010
a floresta perdeu 240 mil quilômetros quadrados. O principal responsável pela
degradação é o Brasil (até porque temos a maior parte da floresta). No Peru se
localizam 6% da Amazônia, na Colômbia 5%, e 9% da floresta se estendem por
outros países da Amazônia Internacional. (HUECK et al., 2013).

FIGURA 66 – MAPAS: AMAZÔNIA CONTINENTAL OU INTERNACIONAL E AMAZÔNIA LEGAL BRASILEIRA

FONTE: Disponível em: <http://wwwblogdoprofalexandre.blogspot.com.br/2011/11/diferencas-


entre-amazonia-legal.html> e <egioesbemfoco.blogspot.com.br/2014/07/a-amazonia-pode-ser-
dividida-em.html>. Acesso em: 29 out. 2015.

O Sistema de Vigilância da Amazônia – SIVAM, hoje denominado Sistema


de Proteção da Amazônia – SIPAM, não é eficiente o suficiente para evitar e/ou inibir
atividades ilegais que estão relacionadas às fronteiras. A região ainda é vulnerável,
há uma série de especulações sobre a região por conta da biodiversidade, reservas de
água, gás e petróleo que ainda não foram exploradas. A extração ilegal de recursos
naturais, como minerais preciosos, madeiras e concessão de patentes estrangeiras
de animais e plantas raras, também representa ameaças à região. Assim, a cobiça
internacional, o tráfico ilegal de animais, armas e de drogas são constantes. Na
fronteira do Estado do Amazonas com a Colômbia, conhecida como Cabeça do
Cachorro, o tráfico de cocaína e refúgio de militantes das Forças Revolucionárias da
Colômbia (FARCs) é constante. (MONTEIRO, 2009; BECKER, 2005).

Nas fronteiras dos Estados do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul com
a Bolívia e Paraguai, as atividades ilegais que têm se destacado são o tráfico de
170
TÓPICO 1 | DISPUTAS TERRITORIAIS E CONSOLIDAÇÃO

maconha, cocaína, e o sequestro de caminhões e carros brasileiros, que, levados


para os países vizinhos, são devolvidos mediante pagamento de resgate.

A vigilância das fronteiras brasileiras não é tarefa fácil. A extensão e a


dificuldade do país em efetivar a ocupação e exercer seu poder de Estado sobre
suas fronteiras facilitam as ações do crime organizado, o tráfico de pessoas e drogas.

4.3 TEXTO COMPLEMENTAR: ESTUDO DE CASO:


CIDADES DE TABATINGA (AM) E LETÍCIA (COL): USO
DA ÁGUA SUBTERRÂNEA
Segundo Azevedo (2006), a distribuição e a ocorrência da água subterrânea
no planeta não se limitam às fronteiras geopolíticas estabelecidas pelos países.
Um único manancial subterrâneo pode ser explorado por vários países.

O Aquífero Guarani, situado no sul da América do Sul, é um dos exemplos.


As águas subterrâneas, fontes de superfície e bacias hidrográficas constituem
frações dos recursos hídricos disponíveis na natureza. Sua distribuição e
ocorrência não se limitam às fronteiras geopolíticas, pois bacias hidrográficas
situadas em um determinado país podem alimentar aquíferos explorados em
outros. Em geral, a água subterrânea apresenta, em seu estado natural, boas
condições para os mais variados usos. Entretanto, a qualidade dessa água pode
ser modificada direta ou indiretamente por atividades antrópicas, onde se inclui
a construção de obras de captação inadequadas, via de regra através de poços
tubulares. (AZEVEDO, 2006).

Leia sobre o problema da água subterrânea e potável das cidades gêmeas


de Letícia (Colômbia) e Tabatinga (Amazonas, BRA).

Na região de fronteira entre Brasil e Colômbia, representada


respectivamente pelas cidades de Tabatinga e Letícia, o manancial
subterrâneo é explorado indiscriminadamente através de poços tubulares
rasos abastecendo boa parte das populações dessas cidades. Na cidade
colombiana de Letícia, em consequência da contaminação do manancial de
superfície que abastece a cidade e de vazamentos na rede de distribuição,
a qualidade da água distribuída não é boa. Dos 905 poços cadastrados em
2005, há pouca informação a respeito da qualidade da água, a não ser de
alguns poços públicos monitorados pela Secretaria de Saúde local.

Já na cidade de Tabatinga, os dados sociossanitários disponíveis no


Sistema de Informação de Atenção Básica (SIAB) levantados pelo Programa
de Agentes Comunitários de Saúde (PACS) e alimentados pela Secretaria
Municipal de Saúde de Tabatinga (2005), indicam que das 5.496 famílias

171
UNIDADE 3 | O BRASIL E AS REL. INTER. NA AMÉRICA LAT.: DOS CONFLITOS FRONT. À COOP., INTEG. E LID. REGIONAIS

cadastradas pelo programa, apenas 27,4% estão efetivamente conectadas ao


sistema de água e 57% delas se abastecem de nascentes e poços.

Em Letícia, 70% da população está conectada à rede coletora de


esgoto, que é lançado sem tratamento no porto de Letícia, contaminando
não somente o entorno, mas também as águas que servem de manancial
para o abastecimento da cidade de Tabatinga. O manejo do lixo também
é deficitário. Muito embora 80% da população seja atendida pelo
sistema de coleta, não há método de reciclagem, nem de aterro sanitário
adequado, o lixo é diariamente depositado a céu aberto num terreno de
solo semissaturado que se converteu num foco de proliferação de insetos e
roedores. Apenas, eventualmente, se adiciona cal ou se procede ao aterro
do lixo, procedimento que não evita a contaminação dos lençóis freáticos
e das águas superficiais que fluem para o sistema de drenagem do igarapé
que abastece de água a cidade.

Em relação aos outros aspectos do saneamento do lado brasileiro, as


informações não são nada animadoras, pois de acordo com o último censo do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE (2001), a coleta pública
de lixo atingia apenas 22,6% dos domicílios. Também não existe sistema de
esgotamento sanitário - o sistema de esgotamento sanitário da cidade foi
iniciado e paralisado -, sendo que mais de 80% dos dejetos são destinados
para sistema individual de fossa. A drenagem das águas servidas e pluviais
ainda ocorre em valas margeando as ruas e desembocando diretamente no
rio Solimões, sem qualquer tratamento.

Uma preocupação sempre latente é a possibilidade da disseminação


de doenças de veiculação hídrica através das águas dos poços tubulares,
principalmente da cólera. De acordo com a Organização Não Governamental
Água e Vida (1993), essa doença foi reintroduzida no país pela fronteira
com o Peru em 1991, justamente através da cidade de Tabatinga.

FONTE: AZEVEDO, Rainier Pedraça de et al. Aspectos sobre o uso da água subterrânea na fronteira
Brasil, Colômbia: o caso da cidade de Tabatinga no Estado do Amazonas. In: Rescatando antiguos
principios para los nuevos desafíos del milenio. AIDIS, 2006. p. 1-7.

4.4 O PAPEL ESTRATÉGICO DAS


PONTES INTERNACIONAIS
No contexto da integração sul-americana, pontes internacionais e o uso de
balsas em pontos das fronteiras entre os países adquirem importância estratégica.
De certo modo, permitem romper os limites à circulação de fluxos de comércio e
mercadorias entre países, impostos por barreiras físicas como os cursos de água.

172
TÓPICO 1 | DISPUTAS TERRITORIAIS E CONSOLIDAÇÃO

Entre os países do Mercosul, na fronteira entre Brasil e Paraguai existe a


Ponte da Amizade, além de pontes entre Uruguai-Brasil e Argentina-Brasil.

FIGURA 67 – PONTE DA AMIZADE SENTIDO BRASIL–PARAGUAI

FON­TE: Daniel M. Huertas (4 jan. 2010) apud HUERTAS, 2015.

Além do tráfego pesado na Ponte da Amizade no sentido Paraguai,


observa-se a passagem de pedestres, dentre os quais encontram-se turistas,
moradores das adjacências e muitos mochileiros - muambeiros que vão para o
lado paraguaio comprar mercadorias para serem vendidas nos camelódromos do
Brasil. É comum também a circulação de traficantes de drogas, armas e cigarros,
devido às dificuldades de vigilância e de controle sobre as multidões que
atravessam a ponte, principalmente em finais de semana e feriados prolongados.

Outras duas importantes pontes na fronteira Brasil-Argentina ligam


as cidades de São Borja a Santo Tomé e de Uruguaiana a Paso de Los Libres,
localizadas, respectivamente, no Estado do Rio Grande do Sul e na Província de
Corrientes. A ponte de passagem entre Uruguaiana e Paso de Los Libres é a mais
importante da América do Sul em transporte rodoviário, pois além de permitir
a passagem para a Argentina, é por meio dela que o Brasil realiza o comércio
terrestre com o Chile.

173
RESUMO DO TÓPICO 1

Neste tópico vimos que:

• O Brasil, país de grande extensão territorial, possui fronteiras terrestres com


quase todos os países da América do Sul, exceto com Chile e Equador. A
formação sócio-histórica do Brasil explica a ocupação e conquista territorial.

• No passado colonial, as primeiras fronteiras da América foram estabelecidas


pelo Tratado de Tordesilhas, assinado em 1494, entre Portugal e Espanha.
Com a colonização de exploração, implantada pelos portugueses e espanhóis,
os limites estabelecidos pelo Tratado de Tordesilhas foram desrespeitados,
principalmente pelos portugueses, que ampliaram seus domínios em dois
terços do tamanho original.

• A expansão do território luso-brasileiro se deu através das Entradas,


Bandeiras e outras expedições, e provocaram conflitos, principalmente na
região da Bacia do Prata.

• No século XVIII Portugal e Espanha reuniram-se para estabelecer novos


acordos sobre as fronteiras na América do Sul, em terras sob seus domínios.
O Tratado de Madrid, 1750, deu ao Brasil uma configuração parecida com a
atual, aumentando o tamanho da colônia portuguesa em quase dois terços.
O direito de posse (Uti Possidettis) foi o principal argumento dos diplomatas
portugueses para sustentar a ampliação das posses da Coroa Portuguesa.

• As disputas no Sul persistiram em torno da região denominada Sete Povos


das Missões, encerradas com a assinatura do Tratado de Badajós (1801), que,
além de estabelecer as fronteiras do Brasil com a Guiana Francesa, confirmou
a posse portuguesa sobre a região em disputa. Em 1804, autoridades políticas
do Rio Grande do Sul e do Vice-Reino da Argentina formalizaram o acordo
com marcos na fronteira.

• Durante o século XIX, com a independência do Brasil, ocorreram apenas


conflitos pontuais, como, por exemplo, a questão da Cisplatina.

• Desde o início do século XX, as relações diplomáticas com países vizinhos


têm se baseado em negociações pacíficas. Brasil e Argentina, os dois países
mais influentes do continente, porém, continuaram à sombra dos resquícios
históricos de disputas e desconfianças mútuas, de mais de três séculos. A
aproximação dos dois países foi lenta, gradual, com períodos de avanços e
inércia.

174
• Acordos bilaterais assinados entre Argentina e Brasil, no decorrer da segunda
metade do século XX, principalmente na década de 1980, aproximaram os
dois países. Acordos que na década de 1990 se estenderam para os países
vizinhos Uruguai e Paraguai, quando foi constituído o Mercado Comum do
Sul da América do Sul - Mercosul.

• No final da década de 1990, o comércio que aproximou os países através


do Mercosul teve uma queda, acompanhado de recessão econômica e
desemprego.

• Na primeira década do novo milênio, por iniciativa dos governos brasileiros,


novas alianças multilaterais foram assinadas. A região Sul da América do
Sul, junto à Venezuela, projetou-se no continente e no cenário mundial.

• O comércio entre a Argentina e o Brasil é significativo para ambos os países,


porém em 2015 há uma possível queda em até 40% no comércio se comparado
com 2011.

• No contexto de integração regional entre países, as fronteiras não desaparecem,


continuam existindo, porém ressignificadas, com peculiaridades e
complexidades contemporâneas.

• O Brasil tem identificado a fronteira como faixa de fronteira, numa largura


até 150 km. A segurança na faixa de fronteira brasileira com os outros países
é mantida por meio de ações próprias das Forças Armadas e dos órgãos de
segurança, conforme determinação constitucional.

• As cidades gêmeas localizadas nas zonas de fronteira de dois países


desempenham funções diferenciadas para a integração (comercial e cultural)
com os países fronteiriços, e, ao mesmo tempo, se constituem num espaço
visado e perigoso, com comércio ilegal, tráfico e violência.

• As escolas bilíngues são escolas localizadas na faixa de fronteira do Brasil


com o Uruguai e Argentina, pincipalmente nas cidades gêmeas, cuja ênfase
no ensino das línguas portuguesa e espanhola tem como objetivo promover
a construção de uma identidade regional bilíngue e intercultural, marco de
uma cultura de paz e cooperação fronteiriça.

• Apesar dos rios serem utilizados como marcos de fronteira indicando


os limites territoriais, e limite para o exercício da soberania e segurança
nacionais, as pontes são elementos geográficos, símbolo de integração física,
política e cultural.

175
AUTOATIVIDADE

1 A integração sul-americana, de modo geral, não é diferente de outras


experiências semelhantes em curso pelo mundo. Processos de globalização
e regionalização vêm ressignificando as fronteiras, antes vistas como
fator de separação, agora vistas como fator de cooperação. As principais
características da integração sul-americana apresentam similaridades
que predominam sobre as diferenças. Analise as afirmativas sobre as
similaridades da integração sul-americana:

I – Existem situações similares entre os países sul-americanos que os


aproximam e ao mesmo tempo afastam, do ponto de vista territorial e da
formação socioeconômica.
II – Historicamente, as relações de vizinhança foram marcadas por sucessivos
estágios de rivalidades, conflitos, competição e cooperação.
III – Prática de uma política interestatal com vistas a uma estratégia de mútua
proteção diante de potenciais ameaças externas.
IV – Edificação de um sistema regional de comércio que promove a eliminação
gradual das barreiras internas, aliada a uma política de bloco que permite
a estes países atuar em melhores condições num ambiente de crescente
competição internacional.

Agora assinale a alternativa correta:

a) As afirmativas I, II e III estão corretas.


b) As afirmativas II, III e IV estão corretas.
c) As afirmativas III e IV estão corretas.
d) As afirmativas I e II estão corretas.

2 Leia com atenção o texto que segue:

Ciência Hoje: E a Amazônia? Resposta da professora e geógrafa Bertha


Becker: Porque é uma fronteira: do povoamento no Brasil, da economia-
mundo e, sobretudo, porque constitui o novo. A fronteira é um espaço não
plenamente estruturado, potencialmente gerador de novas realidades [...]. E
nos últimos 50 anos muitas novas realidades têm sido geradas na Amazônia.
Trecho da entrevista da geógrafa Bertha Becker à Revista Ciência Hoje. Rio de
Janeiro: SBPC, outubro de 2010. Vol. 46, p. 64.

O conceito de fronteira tem sido ressignificado nos últimos anos,


deixando de ser um conceito exclusivamente político e territorial. Sobre as
novas realidades que foram geradas na Amazônia, é correto afirmar:

I – Houve incentivo do governo, através de políticas públicas para ações


preservacionistas (criando parques e estações ecológicas, por exemplo)
que protegeram (e protegem) formações vegetais, mananciais hídricos e os
povos indígenas, pois limitaram e inibiram (ao menos parcialmente) a ação
devastadora que vinha se impondo sobre a região.

176
II – Os investimentos em produção agropecuária foram bem-sucedidos, do
ponto de vista produtiva e ambiental, e fizeram da região grande produtora
de carne bovina e de soja do mundo.
III – Várias ações visando explorar o potencial de recursos naturais da região
foram empreendidos, (legais e ilegais), uma vez que o potencial mineral da
região é diversificado e amplo.
IV – A partir da década de 1970, com o intuito de ocupar a Amazônia,
um conjunto de ações visando povoar aquelas áreas, vistas como
“desocupadas”, fez com que a região sofresse nas duas últimas décadas
as consequências desses empreendimentos: conflitos de terras, degradação
ambiental e represálias internacionais.

Agora assinale a alternativa correta:

a) As afirmativas I – II e III estão corretas.


b) As afirmativas II – III e IV estão corretas.
c) As afirmativas I – III e IV estão corretas.

3 Observe o mapa abaixo:

FONTE: Disponível em: <http://confins.revues.org/docannexe/image/6107/img-5-small480.


png>. Acesso em: 30 out. 2015.

177
A Amazônia Legal destacada no mapa é uma vasta região que extrapola
os limites da região Norte. Sua delimitação foi baseada em análises estruturais
e conjunturais e necessidades de desenvolvimento identificadas na região.
Seus limites têm um viés sociopolítico e não geográfico, não se restringindo
apenas ao bioma Amazônico, mas também se estende ao bioma do Cerrado,
Pantanal mato-grossense e parte da Mata dos Cocais do Maranhão. Sobre
outras características problemáticas da Amazônia Legal, analise as seguintes
afirmativas:

I – A campanha iniciada na década de 1970 para integrar a região à economia


nacional teve impactos ao meio ambiente que ainda são sentidos e
combatidos.
II – A região contém uma das últimas grandes reservas de madeira tropical do
mundo, em processo de degradação, resultado da exploração predatória e
ilegal do produto.
III – A expansão agropecuária extensiva que requer grandes extensões de
terras para sua prática tem contribuído para a problemática ambiental
local, regional e global.
IV – Os projetos de desenvolvimento, que possuem o aval do governo brasileiro,
avançam pelos rios, na forma de hidrelétricas, o que não tem provocado
reações de movimentos ambientalistas nacionais e internacionais.

Agora assinale a alternativa correta:

a) As afirmativas I, II e III estão corretas.


b) As afirmativas II, III e IV estão corretas.
c) As afirmativas I, III e IV estão corretas.
d) As afirmativas II e III estão corretas.

178
UNIDADE 3
TÓPICO 2

A APROXIMAÇÃO REGIONAL –
O MERCOSUL

1 INTRODUÇÃO
O Mercosul, resultado inicialmente da aproximação política e
econômica dos países do Cone Sul da América do Sul, possui como Estados
Partes: Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai (1991), Venezuela (2012) e Bolívia
(2015) em processo de adesão. Os Estados associados (Chile, Colômbia,
Equador, Peru, Guiana e Suriname - os dois últimos desde 2013) participam
da zona de livre comércio, mas não da Tarifa Externa Comum. México é um
país observador. Atualmente, através dos acordos de livre comércio que o
Mercosul já mantém com todos os países da América do Sul, constitui-se na
prática uma área de livre comércio do continente sul-americano. Assim, com
exceção da Guiana Francesa, o Mercosul estabelece a união aduaneira entre os
membros plenos e acordos com todos os países associados. A Guina Francesa
é apenas observadora do Mercosul, por ela ser um Departamento Ultramarino
da França na América do Sul.

2 O MERCOSUL
A aproximação de Brasil e Argentina, no decorrer da década de 1980,
com a assinatura de acordos bilaterais, marcou o final de um período de
disputa pela hegemonia regional. O processo de globalização e a organização
dos blocos econômicos supranacionais conduziram os países do sul da América
do Sul, da Bacia do rio da Prata, ao Mercosul. Pode-se afirmar que do ponto
de vista geográfico é grande a relação entre a bacia hidrográfica dos rios do
Prata, Paraná e Paraguai e os quatro países membros do Mercosul, pois a rede
hídrica superficial e as formações aquíferas subterrâneas foram elementos
que favoreceram a consolidação do bloco regional. Embora com limitações,
o Mercosul representa, dentre as tentativas de integração na América do Sul,
a mais bem-sucedida. Experiências idênticas, porém, sem muito destaque
no cenário internacional, foram as da Associação Latino-Americana de Livre
Comércio (ALALC), fundada em 1960, e da Associação Latino-Americana de
Integração (ALADI), estabelecida em 1980 substituindo a ALALC, e que existe
até hoje. A ALADI reúne Argentina, Bolívia, Chile, Colômbia, Cuba, Equador,
México, Paraguai, Peru, Venezuela e Uruguai. Como se pode observar, são
países da América Latina e do Caribe. Estas experiências contribuíram para
o Mercosul afastar-se das linhas rígidas dos grandes projetos do passado. Os
179
UNIDADE 3 | O BRASIL E AS REL. INTER. NA AMÉRICA LAT.: DOS CONFLITOS FRONT. À COOP., INTEG. E LID. REGIONAIS

países associados voltaram-se para esquemas mais graduais e flexíveis, com uma
abordagem setorial equilibrada dos principais eixos da integração. (ALMEIDA,
2006; ALBUQUERQUE, 2005).

Os esforços brasileiros foram imprescindíveis para a crescente


importância do Mercosul, já que como bloco econômico regional, este é um
dos principais instrumentos de negociação política e econômica dos países
da América do Sul no cenário internacional. (VEDOVATE, 2010). Dentre
os objetivos e etapas alcançadas pelo Mercosul estão o estabelecimento de
um mercado comum, mediante a livre circulação de bens, serviços e fatores
produtivos entre os países, bem como o estabelecimento de uma política e
uma tarifa externa comum.

Com mais de duas décadas de existência, o Mercosul é a mais abrangente


iniciativa de integração regional já implementada na América Latina. No
entanto, fatores históricos, políticos e econômicos explicam a frágil integração
física, e explicam também, em parte, por que os países latino-americanos e
caribenhos apresentam índices de comércio intra-regional (apesar dos avanços)
muito inferior ao de outras regiões do mundo. Enquanto o comércio entre
os países do Mercosul é de aproximadamente 25% do total de suas trocas e a
Comunidade Andina – CAN comercializa entre seus membros cerca de 10%, o
comércio intra-regional entre os países do Nafta atinge 55%, entre os países da
União Europeia e Ásia, 60% e 68%, respectivamente. (ADAS, 2011).

Nos seus primeiros anos, o Mercosul funcionou como uma área de livre
comércio, transformando-se a partir de 1995 em uma união aduaneira. Apesar
dessa evolução, o Mercosul não atingiu seu principal objetivo: tornar-se um
mercado comum plenamente constituído, o que permitiria o aprofundamento
da associação comercial entre países emergentes.

Os países membros do Mercosul abrangem, aproximadamente, 72%


do território da América do Sul (12,8 milhões de km², equivalente a três vezes
a área da União Europeia); 70% da população sul-americana (275 milhões de
habitantes) e 77% do PIB da América do Sul em 2012, algo em torno de US$
3,18 trilhões de um total de US$ US$ 4,13 trilhões, segundo dados do Banco
Mundial. (ITAMARATY, 2015).

Segundo Itamaraty (2015), além dos quatro países fundadores (também


chamados Estados parte), a Venezuela, que estava desde 2006 em processo de
adesão, tornou-se Estado parte em 2012, e a Bolívia protocolou seu processo
de adesão como membro pleno desde 2012. Já Chile, Peru, Colômbia, Equador,
Suriname e Guiana são países associados ao Mercosul. Todos os países da
América do Sul, com exceção da Guiana Francesa, estão vinculados ao Mercosul,
seja como Estados Parte, seja como Associados.

180
TÓPICO 2 | A APROXIMAÇÃO REGIONAL – O MERCOSUL

UNI

O Mercosul atualmente tem três categorias de países participantes:

• Estados Participantes ou membros plenos: São os países que efetivamente participam


do Mercosul e se beneficiam diretamente de suas vantagens comerciais e diplomáticas
dentro das relações internacionais. A Tarifa Externa Comum (TEC), que consiste em uma
mesma tarifação sobre produtos exportados para países de fora do bloco, evitando a
concorrência e privilegiando os parceiros comerciais existentes dentro do próprio acordo,
é adotada apenas pelos membros efetivos, que são também aqueles responsáveis pelas
principais decisões, incluindo a aprovação do ingresso de novos países-membros. Os
Estados Parte incorporam as normas do Mercosul nas suas legislações nacionais por meio
do Poder Executivo ou seus Parlamentos. Esse processo tem um tempo diferente em
cada país membro. Portanto, para saber se as normas estão vigentes, ou seja, se estão
incorporadas pelos quatro Estados Parte, é necessário consultar o acompanhamento que
faz a Secretaria do Mercosul.
• Estados Associados:  São os países que não fazem parte do Mercosul, mas que têm
prioridade nas relações internacionais com os países associados, sendo realizados diversos
acordos comerciais. A admissão de novos Estados Associados no Mercosul exige a
assinatura prévia de Acordos de Complementação Econômica. Sua existência justifica-
se em função do compromisso do Mercosul com o aprofundamento do processo de
integração regional e pela importância de desenvolver e intensificar as relações com os
países membros da Associação Latino-Americana de Integração – ALADI. Nesse sentido, a
prioridade é para os países que integram a ALADI se associarem ao Mercosul, desde que
participem aderindo a acordos de livre comércio com o bloco.
• Estados Observadores: Os países observadores têm como função fiscalizar as relações
internacionais entre os estados participantes e associados. Em caso de alguma dúvida ou
disputa, sua opinião será consultada. Atualmente, o México é o país observador do Mercosul.

A diferença entre os membros efetivos e os associados ao Mercosul


está na adesão da Tarifa Externa Comum (TEC), que consiste em uma mesma
tarifação sobre produtos exportados para países de fora do bloco, evitando
a concorrência e privilegiando os parceiros comerciais existentes dentro do
próprio acordo. A TEC é adotada apenas pelos membros efetivos, que são
também aqueles responsáveis pelas principais decisões, incluindo a aprovação
do ingresso de novos países-membros.

2.1 O COMÉRCIO INTRABLOCO


Desde a criação do Mercosul, em 1991, o volume de comércio entre
países-membros tem crescido. Em 2006, impulsionados pelo aumento do
comércio bilateral do Brasil com a Argentina, as exportações no interior do bloco
aumentaram mais de 20%.

Segundo o Itamaraty (2015), em pouco mais de 20 anos, o Mercosul obteve


sucesso em termos econômico-comerciais, uma vez que o comércio intrabloco
181
UNIDADE 3 | O BRASIL E AS REL. INTER. NA AMÉRICA LAT.: DOS CONFLITOS FRONT. À COOP., INTEG. E LID. REGIONAIS

multiplicou-se mais de dez vezes, saltando de US$ 5,1 bilhões (1991) para US$
58,2 bilhões (2012). No mesmo período, o comércio mundial cresceu apenas cinco
vezes. O comércio do Brasil com o Mercosul cresceu, multiplicando-se por dez.
O comércio intrabloco corresponde a cerca de 15% do total global do Mercosul e
reduziram-se quase totalmente as tarifas para comércio entre os países do bloco.

Se tomado em conjunto, o Mercosul seria a quinta maior economia do


mundo, com um PIB de US$ 3,32 trilhões. O Mercosul é o principal receptor de
investimentos estrangeiros diretos (IED) na região. Em 2012, o bloco recebeu
47,6% de todo o fluxo de IED direcionado à América do Sul, América Central e
ao México. O bloco constitui espaço privilegiado para investimentos, por meio
de compra, controle acionário e associação de empresas dos Estados Partes. A
ampliação da agenda econômica da integração, na última década, contribuiu
para incremento significativo dos investimentos diretos destinados pelos Estados
Partes aos demais sócios do bloco. (ITAMARATY, 2015).

Ainda segundo Itamaraty (2015):

Em pouco mais de 20 anos, o Mercosul provou ser um grande sucesso


em termos econômico-comerciais. O comércio intrabloco multiplicou-
se mais de dez vezes, saltando de US$ 5,1 bilhões (1991) para US$ 58,2
bilhões (2012). No mesmo período, o comércio mundial cresceu apenas
cinco vezes. O comércio do Brasil com o Mercosul quase multiplicou-
se por dez – ao passo que, com o resto do mundo, o aumento foi de
oito vezes. O comércio intrabloco corresponde a cerca de 15% do total
global do Mercosul e reduziram-se quase totalmente as tarifas para
comércio entre os países do bloco.

No entanto, Almeida (2006; 2011), em estudo realizado sobre os anos de


existência do Mercosul, não concorda com o sucesso apresentado pelo Itamaraty
(2015), explicando outra realidade a respeito do projeto Mercosul:

Não é preciso dizer que, a despeito dos avanços logrados no comércio


intra-regional, nunca se chegou a estabelecer o prometido “mercado
comum”, assim como a união aduaneira, virtualmente existente a
partir de 1995, comportava inúmeras exceções à Tarifa Externa Comum,
sem mencionar os produtos ainda fora da zona de livre comércio sub-
regional, como o açúcar e a importante indústria automotiva, base,
aliás, de grande parte do comércio bilateral entre o Brasil e a Argentina
(que incluía ainda certo volume de fluxos administrados, como trigo
e petróleo). Tampouco foi possível lograr a coordenação de políticas
macroeconômicas e cambiais, inclusive porque a manutenção da
paridade fixa do peso no caso argentino impedia qualquer exercício
de fixação de alguma banda de flutuação com o novo real do Brasil.
(ALMEIDA, 2006, p. 3).

Mesmo considerando-se apenas a fase inicial de integração econômica


– qual seja, a constituição de uma zona de livre comércio, seguida
da definição técnica de uma tarifa externa comum, o que redundaria
numa união aduaneira – e seu desdobramento lógico na criação de um
mercado comum (aliás, determinado “constitucionalmente”), pode-
se dizer que tais objetivos – que já eram os do processo bilateral de
cooperação e de integração, iniciado em 1986 por Brasil e Argentina
– não foram alcançados. (ALMEIDA, 2011, p. 1).

182
TÓPICO 2 | A APROXIMAÇÃO REGIONAL – O MERCOSUL

Dez anos depois de firmado o bloco, o Brasil assumiu a liderança entre os


parceiros comerciais regionais, e, entre 2004 e 2010, manteve-se numa situação
comercial favorável no relacionamento com os demais integrantes. A Argentina,
por sua vez, voltou a acreditar que o Brasil pretendia reduzi-la a um mero papel
de fornecedor de produtos primários, reservando para si todas as cadeias de
maior valor agregado, fato aparentemente confirmado em várias áreas, devido
ao esforço de adaptação produtiva conduzida pela indústria brasileira no curso
do processo de liberalização comercial dos anos 90 e, depois, em virtude dos
novos ganhos de competitividade adquiridos a partir da desvalorização de 1999,
resultando no crescimento positivo do comércio exterior brasileiro entre 1995 e
2005. O Brasil conseguiu expandir seu comércio para outros países do Mercosul,
enquanto para a Argentina, o peso do Brasil continuava determinante, o que
configurava motivos de preocupação para seus industriais. (ALMEIDA, 2006).

A partir de 2006 novos protocolos setoriais e negociações de


complementaridade recíproca foram negociados. A Argentina propôs um
mecanismo de salvaguardas setoriais, recebido positivamente pelos argentinos
e negativamente pelos empresários industriais brasileiros. No plano político,
diversos outros projetos não comerciais foram impulsionados, com apoio do
governo brasileiro, na tentativa de correção de assimetrias estruturais, e a instituição
de um parlamento do Mercosul, considerado um aperfeiçoamento institucional.
Não se voltou, segundo Almeida (2006, p. 6), a falar em “moeda comum”,
mas permanecem vivas outras demandas, como as políticas macroeconômicas
comuns, estabelecimento de cadeias produtivas setoriais conjuntas. Voltou-se a
dar ênfase, sob impulso político do governo brasileiro, aos projetos de integração
física continental. Mesmo as tentativas de relançamento comercial do Mercosul
não logrando êxito total, as iniciativas políticas de integração física continental,
em especial no setor energético, avançaram.

Segundo Almeida (2011, p. 2),

As dificuldades para a consolidação ou avanço do Mercosul podem ser


creditadas a dois fatores de amplo escopo: de um lado, instabilidades
conjunturais no plano econômico (em diferentes formatos segundo os
países), com planos parciais ou insuficientes de ajustes; de outro, o
recuo conceitual dos projetos de construção de um espaço econômico
integrado na região, com abandono relativo da liberalização comercial
recíproca e ênfase subsequente nos aspectos puramente políticos ou
sociais da “integração”.

O Itamaraty (2015) continua a apresentar sua versão positiva em relação


aos aspectos econômicos e comerciais do Mercosul, reconhecendo, no entanto,
também os aspectos políticos e sociais.

O Mercosul é fundamental para a atividade industrial dos Estados


Partes. Em 2012, 92% das exportações brasileiras ao Mercosul foram
bens industrializados (manufaturados e semimanufaturados). Um dos
setores que mais se beneficia do Mercosul é o automotivo, pois o bloco
possibilitou a Brasil e Argentina integrar suas cadeias produtivas de
automóveis. Brasil e Argentina juntos são o terceiro maior mercado
global de automóveis (depois de China e Estados Unidos). Em 2013,
47% da produção de automóveis argentinos foram exportados para
o Brasil. O mercado brasileiro foi o destino de 85% das exportações

183
UNIDADE 3 | O BRASIL E AS REL. INTER. NA AMÉRICA LAT.: DOS CONFLITOS FRONT. À COOP., INTEG. E LID. REGIONAIS

argentinas de veículos no ano passado. As exportações para a


Argentina representaram, em 2013, 16% da produção brasileira de
automóveis e 80% das exportações de veículos do Brasil. 

Em resumo, o Mercosul não se limita à dimensão econômica e comercial,


contando com iniciativas comuns que abrangem da infraestrutura às
telecomunicações; da ciência e tecnologia à educação; da agricultura
familiar ao meio ambiente; da cooperação fronteiriça ao combate aos
ilícitos transnacionais; das políticas de gênero à promoção integral dos
direitos humanos. Isso é o que faz do Mercosul um dos projetos de
integração mais amplos do mundo. (ITAMARATY, 2015).

No dia 14 de dezembro de 2006, na cidade de Brasília, foi constituído em


sessão solene no Congresso Nacional o Parlamento do Mercosul, com objetivos
de minimizar as diferenças entre os Estados, harmonizar as legislações nacionais,
agilizar a incorporação das normativas do Mercosul e fomentar a cooperação
interparlamentar, cujo Protocolo Constitutivo do Parlamento do Mercosul já
havia sido assinado no ano anterior, 2005. É considerado um novo marco do
movimento de integração, e o sistema de representação a ser adotado no âmbito
do Parlamento do Mercosul, bem como suas competências, princípios regentes,
atribuições dos parlamentares e forma de eleição de seus membros foram
acordados em conjunto e documentados. O Parlamento do Mercosul é o órgão
de representação de seus povos, independente e autônomo, que integrará a
estrutura institucional do Mercosul. Estará integrado por representantes eleitos
por sufrágio universal, direto e secreto, conforme a legislação interna de cada
Estado Parte e as disposições do Protocolo. (LIMA et al., 2012).

Constata-se que o Mercosul, apesar de seus problemas, transformou-se


num curto espaço de tempo em uma integração complexa, que transcende as
metas comerciais para alcançar o entendimento permanente dos países sul-
americanos em diversos campos, visando promover o desenvolvimento de seus
povos e construir uma prosperidade compartilhada.

2.2 ADESÃO DA VENEZUELA COMO ESTADO


MEMBRO OU ESTADO PARTE EM 2012
A entrada da Venezuela ao Mercosul fortalece os ideais norteadores do
Tratado de Assunção e amplia os objetivos descritos na Constituição Brasileira
de 1988. Atualmente, todos os países independentes do continente participam
do processo de integração. Com a entrada da Venezuela, em 2012, o Mercosul
ampliou sua dimensão geopolítica, estendeu-se ao Caribe e passou a representar
mais de 70% da população, do território e do PIB da América do Sul. O bloco
afirmou-se como potência política, energética e econômica, configurando um dos
centros de poder de uma ordem mundial multipolar. O processo com o pedido de
integração como Estado parte ou membro pleno foi documentado e protocolado
em julho de 2006, e entrou em vigor em agosto de 2012. Foram previstos etapas

184
TÓPICO 2 | A APROXIMAÇÃO REGIONAL – O MERCOSUL

e prazos para a plena incorporação do normativo do Mercosul pelo país, assim


como para a adoção da Tarifa Externa Comum (TEC) e da Nomenclatura Comum
do Mercosul (NCM) pela Venezuela; e como resultado, alcançar o livre comércio
no bloco. (SLOBODA, 2015).

Deu-se início no Mercosul ao processo de expansão do bloco regional.


A Bolívia foi aceita como Estado parte em 2015. O governo paraguaio, porém,
mais especificamente o Senado desse país, sempre se opôs à entrada dos
venezuelanos no bloco, principalmente em função das divergências políticas
para com o governo do então presidente Hugo Chávez, que foi sucedido pelo
seu seguidor Nicolás Maduro. Ocorreu que, em 2012, o então presidente do
Paraguai, Fernando Lugo, foi alvo de uma espécie de golpe de Estado, quando
em apenas dois dias o Congresso paraguaio destituiu-o de seu cargo através do
processo de impeachment. Tal episódio gerou uma repercussão negativa por parte
dos governos sul-americanos, que excluíram temporariamente o Paraguai do
Mercosul até que um processo eleitoral verdadeiramente democrático ocorresse
no país. Durante esse meio tempo, sem a oposição paraguaia podendo atuar, a
Venezuela, com ajuda da diplomacia brasileira, teve aprovado o seu ingresso
como membro efetivo do Mercosul, gerando críticas por parte dos setores que
enxergam de forma cética o crescimento da influência do chavismo na América
do Sul. (PENA, 2015).

A diplomacia brasileira foi duramente criticada, por ter se aproveitado do


momento para legalizar e ratificar a entrada da Venezuela no Mercosul, enquanto
o Paraguai estava suspenso temporariamente por desrespeitar acordos do bloco
em relação à democracia. Apesar das críticas, todos os dispositivos legais da
instituição do bloco foram seguidos.

Em relação à Venezuela, em linhas gerais, há que se considerar que


sua entrada no Mercosul possui mais motivações políticas do que econômicas,
pois aproxima os governos de centro-esquerda que atuam em todos os países
desse bloco, exceto no Paraguai. Por outro lado, pensadores mais conservadores
acusavam os governos de Chávez e Maduro de serem antidemocráticos. Em
termos econômicos, a entrada da Venezuela aumenta o potencial energético
do Mercosul, haja vista que os venezuelanos estão entre os maiores produtores
e exportadores de petróleo do mundo; no entanto, existem dúvidas sobre a
aceitação por parte da Venezuela da Tarifa Externa Comum. Como importadora
de alimentos e produtos industrializados, pode, de certa forma, propiciar uma
oportunidade para o mercado exportador dos demais países do Cone Sul. Os
pontos negativos apontados envolvem, sobretudo, a política externa acirrada da
Venezuela e suas relações com os Estados Unidos, o que gera incertezas, haja vista
que os norte-americanos possuem amplas relações de exportação e importação
com o Mercosul. (PENA, 2015).

185
UNIDADE 3 | O BRASIL E AS REL. INTER. NA AMÉRICA LAT.: DOS CONFLITOS FRONT. À COOP., INTEG. E LID. REGIONAIS

UNI

Após a plena restituição da democracia no Paraguai, com a posse do


presidente Horácio Cartes, em 15 de agosto de 2013, eleito em pleito que contou com o
acompanhamento do Mercosul e da Unasul, e cumpridos os requisitos democráticos, o
Paraguai teve sua suspensão revogada. (SLOBODA, 2015).

2.3 A BOLÍVIA NO MERCOSUL COMO ESTADO


ASSOCIADO E COMO ESTADO MEMBRO OU
ESTADO PARTE
A relação da Bolívia com organizações regionais ocorre desde 1969, quando
o país tornou-se membro pleno da CAN (Comunidade Andina de Nações), desde
a sua fundação naquele ano. Em 1992 o país firmou o Acordo sobre Transportes
Fluviais pela Hidrovia Paraguai–Paraná. Em 1995 a Bolívia assinou o Acordo de
Complementação Econômica com o Mercosul, tornando-se o primeiro país latino-
americano a realizar acordo de tal teor com o bloco. Os acordos de Livre Comércio
entre o Mercosul e a Bolívia como país associado foram assinados em junho de
1996 e entraram em vigor em 28 de fevereiro de 1997. Em 2003 foi concedida
ao país a participação em reuniões do Mercosul a fim de acelerar o processo
integrativo. Em 21 de dezembro de 2006, o Presidente Evo Morales dirigiu-se em
carta à Presidência Pro Tempore do Mercosul, na época brasileira, manifestando
sua predisposição de iniciar os trabalhos para a incorporação do país como Estado
Parte do Mercosul. No dia 18 de janeiro de 2007, durante a 32ª Reunião Ordinária
do CMC (Conselho do Mercado Comum), foi aprovada a criação de um grupo ad
hoc para a Incorporação do Estado Plurinacional da Bolívia como Estado Parte do
Mercosul. No entanto, devido a problemas internos do país, o processo de adesão
não foi acelerado. Em outubro de 2009 entrou em vigência para o país o Acordo
sobre residência para nacionais dos Estados Partes do Mercosul, Bolívia e Chile.
Em 2011 foi realizado um convite formal à Bolívia para integrar o bloco como
membro pleno, cuja tramitação processual concretizou-se em 2012.

Em 17 de julho de 2015, segundo Alejandro Rebossio, durante a 48ª


Cúpula de Chefes de Estado do Mercosul, realizada em julho de 2015 em
Brasília, os presidentes dos cinco países membros do bloco (Argentina, Brasil,
Paraguai, Uruguai e Venezuela) assinaram o protocolo de adesão da Bolívia à
união aduaneira. Agora só falta os congressos do Paraguai e do Brasil ratificarem
o ingresso do sexto membro do bloco. A assinatura deu início às negociações
formais para o ingresso. Exigências burocráticas, para validade oficial, exigem
a aprovação da adesão efetiva pelo Congresso Nacional do Brasil e também do
Paraguai, uma vez que os parlamentos de Argentina, Uruguai e Venezuela já

186
TÓPICO 2 | A APROXIMAÇÃO REGIONAL – O MERCOSUL

ratificaram o ingresso da Bolívia no bloco. Assim, a Bolívia é país-associado em


processo de inclusão como Estado Parte e membro pleno.

A demorada incorporação da Bolívia, as barreiras ao intercâmbio dentro


da zona de livre comércio e a falta de acordos com outros blocos levaram analistas
a concluírem que o Mercosul está em crise. (REBOSSIO, 2015).

Sob os ângulos geográfico e econômico, a entrada da Bolívia deverá permitir


a ampliação da integração energética do bloco, que poderá desempenhar um
papel agregador, pois a produção de energia é um fator ainda pouco explorado no
Mercosul. O Brasil e a Argentina já são os principais parceiros comerciais do novo
integrante, principalmente por causa da compra de gás boliviano. Atualmente,
o governo brasileiro negocia com o Presidente Evo Morales a construção de
hidrelétricas em território boliviano para abastecer os dois países. Apesar da
retórica anticapitalista, na prática o governo de Evo Morales tem seguido uma
política macroeconômica ortodoxa, com manutenção da inflação em patamares
baixos e controle dos gastos públicos. (SCHREIBER, 2015).

Dessa forma, nota-se a natureza integrativa das negociações, para a


adesão do país ao bloco não são impostas condicionantes especiais senão aquelas
já previstas no Tratado fundador do bloco. Apesar da barganha em algumas
questões, a adesão da Bolívia ao Mercosul possibilita a criação de maior comércio
regional, complementaridade econômica e possibilidades de ganho de escala na
economia dos países membros, aumento de mercado potencial, aprofundamento
político e social entre os países e fortalecimento da democracia na região.

Para o Mercosul, é de interesse a adesão da Bolívia como membro


pleno, pelas seguintes justificativas: o país é um grande exportador de produtos
primários, entre eles o gás natural, principal produto de sua pauta de exportações,
tendo como principais parceiros comerciais deste insumo o Brasil e a Argentina,
as duas maiores economias do Mercosul. O país também apresenta grandes
oportunidades para investimentos que podem ser aprofundados via Mercosul.
Além disso, a adesão da Bolívia no bloco abriria sua rota para o Oceano Atlântico.

O México, desde 2004, é um país observador do Mercosul, ou seja, um


país que não é membro, mas que poderá vir a sê-lo em breve, tanto como país
associado, ou como Estado Parte. Em 2011 foram assinados acordos, intermediados
pela Associação Latino-Americana de Integração – ALADI entre representantes
do Mercosul e autoridades mexicanas, permitindo o livre comércio no setor
automotivo entre ambas as partes, complementando o comércio já existente.
Durante a Cúpula do Mercosul realizada no mês de julho de 2015, este acordo
foi ampliado para outros setores, de serviços agrícolas, serviços e compras
governamentais.

187
UNIDADE 3 | O BRASIL E AS REL. INTER. NA AMÉRICA LAT.: DOS CONFLITOS FRONT. À COOP., INTEG. E LID. REGIONAIS

UNI

O processo de negociação para adesão da Bolívia avançou lentamente, pois


algumas questões permaneciam pendentes, como é o caso do pedido de tratamento
preferencial feito pelo Presidente Evo Morales, sob o argumento de que o país está
em desvantagem por não ter acesso ao mar (em 1879 a Bolívia perdeu para o Chile
aproximadamente 400 km de costa), o que dificulta o escoamento de suas exportações. Em
janeiro de 2013, em discurso para empresários da região de Santa Cruz, Morales disse que
desejava que os países-membros do Mercosul concedessem à Bolívia “muitas preferências”
em tarifas e exportações porque, em primeiro lugar, o país é “uma nação sem saída ao mar,
por enquanto”.

3 MERCOSUL - INTEGRAÇÃO FÍSICA E ENERGÉTICA


Segundo Castro, Rosental e Gomes (2009), a América do Sul é uma
região autossuficiente em insumos energéticos, detendo importantes reservas de
petróleo, gás natural e recursos hídricos. A exploração de fontes alternativas de
energia mostra-se promissora, pelo fato do continente sul-americano possuir larga
faixa territorial situada entre os trópicos. A possibilidade de geração de biodiesel
a partir da biomassa como fonte energética já é uma realidade no Brasil e no
Paraguai. A integração energética tem assim um grande potencial em função de
um fator concreto e objetivo: complementaridade de insumos energéticos entre os
países da região. Esse fator já possibilitou a construção de linhas de transmissão,
usinas hidrelétricas e gasodutos.

188
TÓPICO 2 | A APROXIMAÇÃO REGIONAL – O MERCOSUL

FIGURA 68 – INTEGRAÇÃO ENERGÉTICA (GÁS NATURAL E ELETRICIDADE)

Tipo de Integração
Argentina - Brasil Elétrica y Gasífera
Argentina - Chile Elétrica y Gasífera
Argentina - Uruguai Elétrica y Gasífera
Argentina - Paraguai Elétrica
Argentina -Bolívia Gasífera
Brasil - Bolívia Gasífera
Brasil - Paraguai Elétrica
Brasil - Uruguai Elétrica y Gasífera
Brasil - Venezuela Elétrica
Perú - Equador Elétrica
Venezuela - Colômbia Elétrica / Gasífera
Colômbia - Equador Elétrica / Gasífera

FONTE: UDAETA, 2006.

Entre os países da América Latina, um Eixo de Integração Energética foi


analisado, pois, no campo energético, a América Latina possui bioenergia, carvão,
gás natural, hidroeletricidade e petróleo suficientes para as suas necessidades.
Um plano regional de integração energética permitiria racionalizar vultosos
investimentos e promover uma maior sinergia nos campos tecnológico, industrial
e comercial.

As experiências de integração em relação às fontes de energia em


funcionamento no Mercosul são:

a) Hidrelétrica de Itaipu entre Brasil e Paraguai, Rio Paraná.


b) Hidrelétrica de Yacireta entre Argentina e Paraguai, também no rio Paraná.

189
UNIDADE 3 | O BRASIL E AS REL. INTER. NA AMÉRICA LAT.: DOS CONFLITOS FRONT. À COOP., INTEG. E LID. REGIONAIS

FIGURA 69 - PARAGUAI: LOCALIZAÇÃO DAS HIDRELÉTRICAS BINACIONAIS DE


ITAIPU E YACIRETÁ, AMBAS NO RIO PARANÁ

FONTE: Disponível em: <http://www.monografias.com/trabajos59/represa-itaipu/


represa-itaipu2.shtml>. Acesso em: 29 out. 2015.

190
TÓPICO 2 | A APROXIMAÇÃO REGIONAL – O MERCOSUL

FIGURA 70 – USINA BINACIONAL DE YACIRETÁ, ARGENTINA E PARAGUAI

FONTE: Disponível em: <http://www.oni.escuelas.edu.ar/2002/corrientes/energia/yacyendatos.


htm>. Acesso em: 29 out. 2015.

c) Hidrelétrica de Salto Grande entre Argentina e Uruguai;

FIGURA 71 - USINA HIDRELÉTRICA BINACIONAL SALTO GRANDE NO RIO URUGUAI -


ARGENTINA E URUGUAI

FONTE: Disponível em: <http://go.hrw.com/atlas/span_htm/uruguay.htm>. Acesso em: 29 out. 2015.

191
UNIDADE 3 | O BRASIL E AS REL. INTER. NA AMÉRICA LAT.: DOS CONFLITOS FRONT. À COOP., INTEG. E LID. REGIONAIS

d) Gasoduto da Argentina com o Brasil, Chile e Uruguai; Revista Brasileira


c) Gasoduto da Bolívia com Argentina, Brasil e Chile. Vo
Ponderação analítica para da
energética na Am
FIGURA 72 - AMÉRICA LATINA INTEGRAÇÃO ENERGÉTICA EM OPERAÇÃO E PROJETOS EM ESTUDO

Fonte: ARPEL, 2004 
FONTE: UDAETA, 2006.
Figura 2. Integração Energética Gasífera (Atual e Perspectiva) 

3.1 INTEGRAÇÃO DO SETOR ELÉTRICO


Um dos grandes desafios do Mercosul é a extensão a outros países da região, assim
elação com o resto do mundo. Até o momento, foram firmados Acordos de Complementação
Marcovitch (1991), na introdução de seu texto sobre integração energética
om a Bolívia (1995) e com o Chile (1996), e um Acordo de Cooperação com a União Euro
na América Latina, escreveu
Ademais,  têm­se  realizado  que na hemisféricas 
negociações  América Latina as democracias
para  emergentes
a  criação  da  Associação  de  Livr
se debatem nos seus problemas internos. Já observava em 1991 que o intercâmbio
as  Américas  (ALCA). Más  recentemente  e  com  a incorporação  como membro  associado  a
comercial era reduzido e desequilibrado. Observou que a maioria dos países
o Peru (2003), em 2004 todos os paises da CAN tem esta mesma condição no Mercosul. 
convive com seus impasses econômicos e sociais internos, onde problemas
sociopolítico-econômicos, denominados por ele de cancros malignos (narcóticos,
.2 Integração Energética na Região da CAN 
violência urbana, guerrilha etc.), seriam de difícil extração ou resolução. Alertava
para a necessidade de uma nova postura estratégica regional, e para a importância
O  mapa  energético  dos  países  participantes  da  CAN  (Comunidade  Andina  d
de se incluir no planejamento energético a realidade geográfica. Critica a ideia de
Venezuela,  Colômbia,  Equador,  Peru  e  Bolívia,  apresenta  três  mercados  com  oportu
ntegração:  petroleiro,  gasífero  e  elétrico.  No  mercado  petroleiro,  Venezuela,  Colômbia  e  E
192
onte de abastecimento a alguns países da região, como é o caso do Chile, Peru e Brasil. E
TÓPICO 2 | A APROXIMAÇÃO REGIONAL – O MERCOSUL

se transportar energia elétrica por 3.000 km de distância, da Amazônia para o


Centro-Sul do Brasil, antes de exaurir as alternativas, mais econômicas, de países
vizinhos. Uma utopia nacional de autossuficiência energética (ultrapassada)
continua prevalecendo. Diante desta realidade, questionava (em 1991): Qual a
viabilidade da integração energética contribuir para aliviar a crise energética?
Como ela pode irrigar o comércio regional e contribuir para a constituição de um
novo polo geoeconômico?

Ao tentar responder, Marcovitch explica que temas como iluminação,


calor, força motriz, transporte são temas centrais a serem abordados, convergindo
para a necessidade de uma estratégia global. Um planejamento que depende
de: (a) redescobrir a realidade das tarifas; (b) recuperar o profissionalismo
nas concessionárias; (c) escolher prioridades viáveis e econômicas. Enfim, um
planejamento difícil e complexo, no entanto necessário, em especial para as
gerações do futuro.

Castro, Rosental e Gomes (2009) explicam que esta integração foi


acompanhada de alguns entraves, cujos contratempos (poucos) foram
contornados politicamente ao longo do tempo. O aumento por demandas por
eletricidade poderia levar à estruturação de um polo energético, envolvendo
Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai e Bolívia. As matrizes energéticas do
Brasil e do Uruguai são predominantemente hidráulicas e complementares às
da Argentina (56% térmicas). O Paraguai, por ser um pequeno consumidor, é
um exportador de energia, assim como a Bolívia, cuja maior contribuição é no
suprimento de gás natural, mas tem também potencial hidrelétrico inventariado
em mais de 30 GW.

Uma efetiva integração do setor elétrico na região tende a contribuir


significativamente para dinamizar o crescimento econômico e reduzir
disparidades regionais. Investimentos públicos e privados, bem como construção
de instituições e marcos regulatórios uniformes e claros, são fundamentais na
consolidação deste processo. (CASTRO; ROSENTAL; GOMES, 2009).

O exemplo do Paraguai é o mais paradoxal, por ter excedente de


eletricidade, proveniente de duas hidrelétricas binacionais e uma nacional
(Acaray), a ponto de exportá-la. O que ocorre para que haja este excedente é
simplesmente uma falta de infraestrutura para um aproveitamento integral
desta energia. No entanto, quando o assunto é combustível, em especial, diesel,
necessita importar, uma vez que 70% da frota de veículos de carga e de uso
pessoal são movidos por derivados de combustíveis fósseis importados. O
desencontro na matriz energética, entre o que se produz e o que se consome, a
falta de infraestrutura para utilizar a eletricidade que se produz, esbarram na falta
de vontade política de governos passados para desenvolver fontes de energias
alternativas localmente. Parte dos derivados de combustíveis fósseis importados
poderia ser substituída por agrocombustíveis, os quais já existem no Paraguai, de
excelente qualidade, produzidos em reduzida quantidade por falta de incentivos
e/ou subsídios.

193
UNIDADE 3 | O BRASIL E AS REL. INTER. NA AMÉRICA LAT.: DOS CONFLITOS FRONT. À COOP., INTEG. E LID. REGIONAIS

Nos últimos anos, Argentina, Brasil e Chile enfrentaram crises energéticas


de diversos portes. “O cenário para América do Sul e Caribe no ano de 2015 de
consumo líquido de eletricidade será de 1.353 GWh contra 772 GWh consumidos
em 2003. Isso representará um crescimento no período de 75%” (CASTRO;
ROSENTAL; GOMES, 2009, p. 11). Esperavam-se políticas de investimento que
estimulassem a ampliação da capacidade instalada e o desenvolvimento no setor
elétrico integrado, o que ocorreu apenas em parte, devido:

Os principais problemas da falta de um maior desenvolvimento da


integração energética não foram a carência de recursos ou de redes,
mas sim a dificuldade de articular regras e políticas congruentes
com o estímulo ao investimento e à interdependência energética
da sub-região. As tentativas de criação de regras supranacionais ou
acordos multilaterais com harmonização regulatória não foram bem-
sucedidas. As experiências mais bem-sucedidas foram aquelas que se
deram em âmbito bilateral, oriundas de empreendimentos com forte
participação dos Estados Nacionais, e relacionadas mais diretamente
a empreendimentos nas fronteiras (Itaipu) e linhas de transmissão.
(CASTRO; ROSENTAL; GOMES, 2009).

Neste sentido, para discutir e articular a integração dos mercados


de energia, foi realizado no mês de setembro de 2015, no Rio de Janeiro,
seminário sobre o tema, coordenado pelo Comitê Brasileiro da Comissão de
Integração Energética Regional – Bracier. Os consumidores finais também
poderão ser beneficiados com a interconexão das redes de eletricidade de
diferentes países, decorrente da concorrência no mercado, na área de geração
de energia. Outros benefícios seriam o adiamento de investimentos de geração
(a partir do aproveitamento máximo da energia gerada em diferentes países),
diversificação da matriz energética dos países, além de maior segurança
energética. (GANDRA, 2015).

Na América Central já existem projetos de interconexão energética,


onde Costa Rica, Honduras, Nicarágua, El Salvador e a Guatemala possuem
um sistema integrado. A reduzida extensão territorial, inexistência de rios
extensos e volumosos são fatores que facilitaram a integração. Na América
Andina, o sistema ainda não está tão evoluído, mas já existem vários projetos
em implementação, unindo Colômbia, Bolívia, Equador, Peru e a Venezuela.

Um estudo de 2010, a ser atualizado, mostra que a gestão integrada de


energia poderá gerar uma economia de aproximadamente US$ 1 bilhão em
tarifas de energia. O levantamento se baseia em 12 planos de viabilidade de
projetos de integração. Um deles vai começar a operar este ano (2015) e se refere
à interligação de grande porte entre o Brasil, representado pela Eletrobrás, e
a Administración Nacional de Usinas e Transmisiones Eléctricas do Uruguai, com
capacidade de transferência de potência nos dois sentidos, de 500 megawatts
(MW). (GANDRA, 2015).

194
TÓPICO 2 | A APROXIMAÇÃO REGIONAL – O MERCOSUL

3.2 A POSIÇÃO DO PARAGUAI DIANTE


DA HEGEMONIA BRASILEIRA
Muitas atividades econômicas no Paraguai contam com grande
participação de empresas brasileiras, como a distribuição de combustíveis, bancos,
frigoríficos e transporte aéreo. Além disso, calcula-se que 500 mil “brasiguaios”
vivam no Paraguai, o que corresponde a quase 10% da população total do país.
Entre eles, os que são proprietários de terras respondem por mais de 80% da safra
nacional de soja do país.

Esses e outros fatores, como cidades paraguaias com maioria de habitantes


brasileiros, são vistos por uma parcela da população paraguaia como sinal de
influência exagerada do Brasil em seu país.

No campo, a presença de fazendeiros brasileiros produtores de soja tem


gerado mobilizações sociais, como a dos trabalhadores sem-terra paraguaios, os
campesinos. Segundo eles, a posse brasileira de grandes extensões de terras vem
causando destruição ambiental e provocando a expulsão dos trabalhadores rurais
e camponeses paraguaios para cinturões de pobreza das cidades. Esse é um dos
motivos pelos quais reivindicam a reforma agrária.

Cobrado por uma resposta a essas dificuldades, em 2008 o presidente


paraguaio, Fernando Lugo, proibiu a venda de terras cultiváveis a estrangeiros
que, até aquele ano, já respondiam por cerca de 70% das terras agrícolas do país.

Uma semana depois da medida tomada pelo presidente paraguaio, o


Exército Brasileiro mobilizou 11 mil homens para realizar exercícios militares
numa operação chamada de “Fronteira Sul II”, nas fronteiras entre Brasil e
Paraguai. Autoridades brasileiras explicaram que a iniciativa foi tomada devido
ao fato de o Brasil compartilhar com o Paraguai uma fronteira de 1.300 km, na
qual deve combater diversos tipos de atividades ilegais.

Entretanto, alguns estudiosos interpretaram esse fato como uma


“demonstração de força”, ou resposta do governo brasileiro para um conjunto
de tensões diplomáticas que vem marcando as relações entre os dois países –
incluindo aí a questão da energia elétrica de Itaipu.

3.2.1 A questão de Itaipu: o preço


da energia paraguaia
O Tratado de Itaipu, firmado em 1973 e com vigência até 2023, estabelece
que a energia gerada pelas turbinas da Usina Binacional de Itaipu, no rio Paraná
(marco físico de uma parte da fronteira entre Brasil e Paraguai), cujo reservatório
de água inundou terras dos dois países, deve ser dividida igualmente entre os
dois países, sócios que a construíram.

195
UNIDADE 3 | O BRASIL E AS REL. INTER. NA AMÉRICA LAT.: DOS CONFLITOS FRONT. À COOP., INTEG. E LID. REGIONAIS

No entanto, o Paraguai utiliza apenas 6% da energia gerada (ou seja, o


que corresponde a apenas uma das 20 turbinas instaladas), quantidade suficiente
para suprir 95% de suas necessidades, conforme já explicado no texto sobre a
integração energética, devido à falta de infraestrutura para distribuição desta
energia pelo território paraguaio. Assim, a energia excedente ou não utilizada
pelo Paraguai é vendida para o Brasil, a preço de custo. Lembramos que, do total
de eletricidade consumida no Brasil, 20% vêm da usina de Itaipu, ou seja, sem
esta “importação” de energia o Brasil teria um grande déficit.

O presidente Fernando Lugo, logo que assumiu o governo do país em


2008, tentou renegociar o acordo sobre a venda de energia com o Brasil. O
governo alegou que a tarifa paga pelo Brasil era baixa e que não correspondia
aos valores de mercado, fazendo-se necessário rever seus valores. Do lado do
governo brasileiro alegou-se que não havia motivos para rediscutir a questão,
pois, além do Brasil ter financiado a construção da usina, todos os detalhes do
acordo foram respeitados ao longo do tempo. A insistência do governo paraguaio
sobre a revisão do Tratado de Itaipu transformou-se em tensão diplomática e
quase ameaçou afetar a cooperação energética firmada entre os dois países.
A revisão foi negociada em 2009, entre o presidente Fernando Lugo e o então
presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva. Contudo, apenas em maio de
2011, sob o governo da presidente Dilma Rousseff, o reajuste do valor pago pelo
Brasil foi aprovado na Câmara e no Senado: o país passou a comprar a energia
excedente do Paraguai pelo triplo do valor pago anteriormente, passando de 120
para 360 milhões de dólares (R$ 729,612 milhões) por ano. Os rendimentos que
o Paraguai recebe de Itaipu em royalties, remuneração de capital, encargos de
administração e venda da energia excedente representam cerca de 20% da receita
fiscal paraguaia. (ADAS, 2011).

3.3 DESAFIOS PARA A GERAÇÃO DE ENERGIA E


ABASTECIMENTO DE ÁGUA NAS CIDADES
Os países da América do Sul, com exceção do Chile, possuem diversas
fontes de geração de energia hidrelétrica, mas terão que lidar com as mudanças
climáticas que afetam a disponibilidade de água. Segundo pesquisadores do
Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática – IPCC, já é possível
observar alterações no fluxo de disponibilidade de água na América do Sul, o que
deve afetar regiões já vulneráveis.

No Brasil, a diminuição dos níveis de água do complexo do Cantareira em


São Paulo, e a seca registrada na Serra da Canastra em MG, local da nascente do
Rio São Francisco, são indícios de situações que poderão se acentuar, uma vez que
as previsões meteorológicas apontam para uma maior frequência e amplitude
das estiagens que vêm afetando diversas regiões do globo.

196
TÓPICO 2 | A APROXIMAÇÃO REGIONAL – O MERCOSUL

A Cordilheira dos Andes, por exemplo, encolheu quase a metade de


sua camada de gelo, consequência das alterações climáticas que diminuíram a
ocorrência de chuvas e neves, e isso tem reflexos diretos na disponibilidade de
água potável para cidades dos países andinos. As políticas públicas dos países
em relação à geração de energia, assim como em relação à distribuição de água
potável, devem levar em conta possíveis alterações climáticas, uma vez que as
probabilidades mostram que a diminuição das chuvas e da vazão nas bacias
hidrográficas é iminente. Mesmo nas bacias em que isso não ocorrer, o padrão
sazonal mudou, pois ocorrem episódios de secas mais prolongadas e picos de
cheias mais intensos. (MANINI, 2015).

Nem todas as obras de infraestrutura construídas para geração de energia


elétrica, abastecer as áreas urbanas e/ou para controlar enchentes, foi planejada
de acordo com os padrões climáticos, mudanças e eventos climáticos extremos
imprevisíveis observados nos últimos anos.

De acordo com analistas, os países latino-americanos deveriam investir em


pesquisas e obras que complementem a geração de energia hidrelétrica e termelétrica.
Estas últimas também poderão ser afetadas pelas mudanças climáticas, pois
utilizam a água dos rios para o resfriamento de suas turbinas. Se esta água, retirada
de um rio, já estiver mais quente do que o normal, irá retornar ao rio mais quente
ainda, o que causará impactos negativos e desastrosos em todo o ecossistema. A
solução viável seria a interrupção da produção de energia, o que, sabemos, também
seria desastroso em termos econômicos e sociais. Assim, investimentos na geração
de energia térmica baseada em fontes mais alternativas, como lixo ou biomassa,
energia eólica e solar, criando matrizes energéticas diversificadas, com prévia
análise de suas vantagens e desvantagens, conforme a realidade geográfica de
cada país. A diminuição da emissão dos gases que impactam diretamente no efeito
estufa e contribuem para o aquecimento global deve ser objetivo de todos os setores
econômicos, inclusive na geração de energia. O Brasil já vem dando exemplos neste
sentido, com investimentos na geração de energia eólica e solar. Em 2014 foram
realizados leilões nesta área. (MANINI, 2015).

3.4 INTEGRAÇÃO GÁS NATURAL


O gás natural é um combustível recente, incluso na matriz energética
de alguns países que, embora muitos o possuam em seu subsolo, poucos têm
infraestrutura para explorá-lo. A Bolívia, considerado o país mais pobre da
América do Sul, na década de 1990, quando tomou conhecimento da extensão
da reserva de gás natural, não tinha, na época, nem dinheiro, nem tecnologia
e conhecimentos técnico-científicos para sozinha explorar este recurso natural.
Procurou parceiros externos, como a Enron, a Shell, a francesa Total, a espanhola
Repson e a brasileira Petrobrás. Em 2006, o Presidente Evo Morales nacionalizou as
reservas de gás natural, e através de decreto transfere a propriedade das reservas

197
UNIDADE 3 | O BRASIL E AS REL. INTER. NA AMÉRICA LAT.: DOS CONFLITOS FRONT. À COOP., INTEG. E LID. REGIONAIS

para a Bolívia e aumenta os impostos sobre a produção de 50% para 82%, entre
outros tópicos. As empresas estrangeiras tiveram seus lucros reduzidos. Para
transportar o gás da Bolívia para o Brasil (principal consumidor), foi construído
um gasoduto. Sua construção iniciou-se em 1997, sendo que a primeira etapa
entrou em funcionamento em 1999. A obra foi finalizada em 2010, interligando os
sistemas de abastecimento que vêm da Bolívia, com os sistemas de distribuição de
empresas exploradoras do produto também em território brasileiro.

O GasBol – Gasoduto Bolívia-Brasil possui 3.150 km em todo seu percurso,


sendo 557 km dentro da Bolívia e 2.593 km em solo brasileiro. A obra integra-se
num vasto projeto energético que favorece a exploração e a exportação do gás
natural da Bolívia. O custo total dessa obra foi de 2 bilhões de dólares, financiada
em grande parte pelo Brasil. O GasBol foi inaugurado em 1999 (em seu primeiro
trecho) e foi uma aposta na estabilidade da Bolívia. Como a Bolívia não possui
litoral, a ideia que prevaleceu no início era a de que, se não vendesse o gás para
o Brasil, não teria para quem vender. O Gasoduto começa em Santa Cruz de La
Sierra (Bolívia) até Canoas (Rio Grande do Sul - Brasil), percorrendo os Estados
de Mato Grosso do Sul, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul,
cortando diversos municípios.

O gás natural é combustível fóssil como o petróleo, com características


diferentes. Seu principal componente é o metano, que na atmosfera se transforma
em dióxido de carbono e água. Polui menos que os combustíveis derivados
do petróleo e xisto. Era, porém, até há pouco tempo, de difícil transporte, não
atravessando oceanos. Técnicas de liquefação (redução da temperatura do gás a
170ºC negativos) e equipamentos específicos para transporte e armazenamento
caríssimos permitem a exportação deste recurso além-mar. Os gasodutos
continuam sendo a opção mais prática.

Atualmente, o gás natural já é a base da matriz energética da Argentina,


Bolívia e Chile. Venezuela e Bolívia são os países que possuem as maiores reservas
de gás natural da região. Com a construção do gasoduto que faz interconexão
entre Bolívia e Brasil (Gasbol), e do gasoduto que faz interconexão entre Argentina
e Bolívia, a Bolívia se tornou grande exportador deste insumo, ganhando uma
posição determinante na oferta na região. Observe o mapa.

198
TÓPICO 2 | A APROXIMAÇÃO REGIONAL – O MERCOSUL

FIGURA 73 – MAPA – PRINCIPAIS GASODUTOS DO BRASIL E DA AMÉRICA DO SUL, 2012.

FONTE: ABEGÁS, maio, 2012. Disponível em: <http://www.abegas.org.br/Site/?page_id=842f>.


Acesso em 04 out. 2015.

O gás natural é a terceira fonte de energia mais consumida entre os


países latino-americanos, depois da produção hídrica e do petróleo. Com
o desenvolvimento da região, a tendência será o aumento dessa demanda.
Argentina, Chile, Venezuela e Brasil são os principais consumidores.

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UNIDADE 3 | O BRASIL E AS REL. INTER. NA AMÉRICA LAT.: DOS CONFLITOS FRONT. À COOP., INTEG. E LID. REGIONAIS

UNI

Gasodutos em Operação

• Gasoduto Urucu–Coari: capacidade de transporte de 5,5 milhões de m³/dia e extensão de


280 Km. Concluído em 1998.
• Gasoduto Coari–Manaus: capacidade de transporte de 5,5 milhões de m³/dia e extensão
de 383 Km.
• GASFOR (Gasoduto Guamaré–Pecém): capacidade de transporte de 292 milhões de
m³/dia, extensão de 383 Km. Abastece os municípios cearenses de Icapuí, Horizonte e
Maracanaú com o Gás Natural de Guamaré (RN).
• NORDESTÃO I (Gasoduto Guamaré–Cabo): capacidade de transporte de 313 milhões
de m³/ano, extensão de 424 Km. Abastece um total de 11 municípios dos Estados do Rio
Grande do Norte, Paraíba e Pernambuco com o Gás Natural processado em Guamaré (RN).
• GASALP (Gasoduto Alagoas–Pernambuco): capacidade de transporte de 2 milhões de
m³/dia, extensão de 204 Km. Em atividades desde 1999, abastece o município de Cabo (PE)
com o Gás Natural de Pilar (Alagoas).
• Gasoduto Lagoa Parda–Vitória: capacidade de transporte de 365 milhões de m³/ano,
extensão de 100 Km. Em atividades desde 1984, abastece os municípios de Aracruz, Serra e
Vitória com o Gás Natural de Lagoa Parda.
• GASENE (Gasoduto Sudeste–Nordeste): capacidade de transporte de 20 milhões de m³/
dia, extensão de 1.200 Km, interligando da estação de processamento de gás de Cabiúnas
(RJ) a Vitória (ES), de Vitória a Cacimbas (ES) e de Cacimbas a Catu (BA).

Gasodutos em Implantação
• Gasoduto Campinas–Rio: capacidade de transporte de 8,6 milhões de m³/dia, extensão
de 500 Km. Integrante do Projeto Malhas, interligará as regiões Sudeste, Nordeste, Centro e
Sul do país, permitindo também o escoamento do gás produzido na Bacia de Campos aos
municípios atendidos hoje somente pelo GASBOL.
• NORDESTÃO II: extensão de 554,3 Km. O gasoduto sairá de Mossoró e alcançará o
município de Marechal Deodoro (Al), passando por quatro Estados do Nordeste.

Gasoduto Bolívia–Brasil
• GASBOL – Mato Grosso do Sul: extensão de 717 Km.
• GASBOL – São Paulo: extensão de 1.042 Km.
• GASBOL – Paraná: extensão de 207 Km.
• GASBOL – Santa Catarina: extensão de 447 Km.
• GASBOL – Rio Grande do Sul: extensão de 184 Km.

FONTE: ABEGÁS - Associação Brasileira das Empresas Distribuidoras de Gás Canalizado;


Gasodutos. Disponível em: <http://www.abegas.org.br/Site/?page_id=842>. Acesso em:
4 out. 2015.

200
TÓPICO 2 | A APROXIMAÇÃO REGIONAL – O MERCOSUL

3.5 MERCOSUL: INFRAESTRUTURA DOS


MEIOS DE TRANSPORTES
A infraestrutura de transportes através das rodovias, pontes, ferrovias,
portos, aeroportos, hidrovias e outros é um elemento-chave para a integração
econômica e comercial entre as regiões de um mesmo país e destas com as de
outros países. Juntamente com as infraestruturas energéticas (sistemas de geração
e distribuição de eletricidade) e a de telecomunicações, permitem organizar e
transportar matérias-primas de áreas de extração para os centros de produção e,
posteriormente, distribuir o que neles foi produzido para os centros de consumo
nacionais e internacionais.

A economia brasileira representa cerca de 70% do total do bloco. Tanto


para o Brasil quanto para os outros membros plenos, o Mercosul marcou uma
mudança significativa nas relações entre os países sul-americanos. Suas relações
comerciais são promissoras (apesar das críticas que afirmam o contrário), e
representam porcentagem considerável das importações e das exportações dos
quatro países. Em 1991 (ano da assinatura do Tratado de Assunção), o comércio
do Brasil com os demais sócios fundadores totalizava aproximadamente 4,5
bilhões de dólares por ano. Em 2000 chegou a 15,5 bilhões e, em 2010, a cifra
esteve acima da casa dos 39 bilhões de dólares anuais. (VEDOVATE, 2010).

O Brasil, em virtude de sua localização geográfica, mantém acordos de


transporte internacional terrestre, principalmente rodoviário, com quase todos
os países da América do Sul. No entanto, os acordos com Colômbia, Equador,
Suriname e Guiana Francesa continuam em negociação. O Acordo sobre
Transporte Internacional Terrestre entre os países do Cone Sul, que contempla
os transportes ferroviário e rodoviário, inclui a Argentina, Bolívia, Brasil, Chile,
Peru, Paraguai e Uruguai. Entre Brasil e Venezuela o acordo limita-se apenas ao
transporte rodoviário, assim como ocorrerá com o acordo em negociação com
a Guiana. (ANTT, 2015). O Mercosul, por ser um tratado de amplitude maior,
incorporou este tratado sobre os transportes, porém ainda não está sendo colocado
em prática em todas as suas premissas. Os acordos sobre os transportes terrestres
buscam facilitar e incrementar o comércio, turismo e cultura entre os países,
facilitando o transporte de bens e pessoas, permitindo que veículos e condutores
de um país circulem com segurança, trâmites fronteiriços simplificados nos
territórios dos demais. No caso do Mercosul já se atingiu estágio mais avançado,
com a negociação e adoção de normas técnicas comunitárias. (ANTT, 2015).

No que diz respeito ao espaço geográfico, Huertas (2015) ressalta que


o processo de integração do transporte rodoviário (cargas e passageiros) entre
diferentes países da América do Sul foi iniciado na década de 1960, com acordos
específicos entre autoridades dos países vizinhos e brasileiras. A Agência
Nacional dos Transportes Terrestres – ANTT vem reorganizando e ampliando

201
UNIDADE 3 | O BRASIL E AS REL. INTER. NA AMÉRICA LAT.: DOS CONFLITOS FRONT. À COOP., INTEG. E LID. REGIONAIS

desde a década de 1990 estes acordos, com ajuda dos avanços institucionais do
Mercosul. Os transportes terrestres, principalmente rodoviários, funcionaram
como indutores do comércio entrar-regional no continente, orientado pelo
princípio da redução da taxa tarifária progressiva, linear e automática.

No uso do território (tanto nacional como do bloco), a logística, que é


um ramo da gestão cujas atividades estão voltadas para o planejamento da
armazenagem, circulação (terra, ar e mar) e distribuição de produtos, apresenta-
se como versão atual da circulação corporativa, caracterizada por um conjunto
de competências operacionais, materiais e normativas, acarretando mudanças
estruturais e conjunturais em todas as instâncias produtivas e no seu enlace com
a circulação. A fluidez da produção, significando a produção em movimento,
ocorre a partir de determinados fixos (nós, ou seja, cidades e portos e fluxos - os
nodais, as principais vias de circulação). Huertas (2015, p.151) explica:

Em análise estruturada a partir da teoria do espaço geográfico, o uso


do território pode ser evidenciado por um processo de seletividade
espacial que privilegiou certos pontos e áreas em detrimento de
outros. [...]. As solidariedades organizacionais geradas estimulam
e facilitam a localização dos agentes em pontos privilegiados do
território, geralmente nodais situados em tramos estratégicos da rede
rodoviária e da rede urbana.

NOTA

Mudanças estruturais são aquelas provocadas por deficiências ou por alterações


no cerne do sistema econômico. As mudanças estruturais não permitem a volta a
situações anteriores, por justamente alterarem as estruturas básicas de uma economia, de
um setor produtivo. Exemplo: os acordos do Mercosul conduziram o Brasil a uma crescente
especialização industrial, e a Argentina a uma ênfase nas indústrias ligadas ao setor primário
de sua economia. No Brasil, o setor pecuário foi o que mais sofreu com esta mudança
estrutural, a princípio sem reversibilidade.

UNI

As mudanças conjunturais são decorrentes de problemas temporários, que


poderão ser resolvidos com a possibilidade de retorno à situação anterior. Exemplo: crises
cambiais e surtos inflacionários.

202
TÓPICO 2 | A APROXIMAÇÃO REGIONAL – O MERCOSUL

Os acordos para integração da infraestrutura de transportes para o sul


da América do Sul adquiriram uma caracterização específica, cuja configuração
territorial é composta por linhas e nodais que em seu conjunto modelam uma
rede geográfica capaz de expressar a sua organização e estruturação na formação
socioespacial com peculiaridades e dinâmicas territoriais baseadas no eixo
nodal Uruguaiana-São Borja (RS) e do ponto nodal de Foz do Iguaçu (PR) como
centralidades da rede em questão. Assim, Uruguaiana e Foz do Iguaçu são as
principais entradas e saídas rodoviárias do Brasil no Mercosul.

Considerando a estrutura rodoviária brasileira, os exemplos citados


anteriormente, segundo pesquisa de Huertas (2015), são nodais secundários
monofuncionais, diretamente atrelados à situação geográfica de acesso fronteiriço
ao Mercosul, que em seu conjunto registram matrizes de empresas transportadoras
e filiais espalhadas pelas cidades fronteiriças. Eixos rodoviários, tais como a BR-
472 (Uruguaiana-São Borja) e a BR-277 (a leste de Foz do Iguaçu, sentido Curitiba
e Paranaguá), podem ser considerados centrais.

NOTA

“O nodal denota a capacidade de produzir, coletar, armazenar e distribuir das


áreas sob sua influência e se torna uma arena territorial privilegiada aos agentes por causa
da cadeia de subcontratações, que aí encontra as maiores probabilidades de realização pelo
encontro entre oferta e demanda por serviço de transporte. No embate entre arena e área,
proposto por Milton Santos (2005), os nodais são arenas que proporcionam o alargamento
de atuação territorial dos agentes dos circuitos inferior e superior, ou seja, de suas áreas
de operação – que podem ser rotas programadas ou de acordo com a conveniência do
cliente”. (HUERTAS, 2015, p. 155).

Segundo Huertas (2015), a Agência Nacional de Transportes Terrestres -


ANTT afirma que quase dois terços de toda a corrente de comércio do Brasil com
Argentina, Paraguai, Uruguai, Chile, Bolívia, Peru e Venezuela são realizados
por tráfego rodoviário. Este tráfego rodoviário é marcado e orientado por
normas diferenciadas em relação à atividade circunscrita aos limites do território
nacional. Os documentos legais que precisam ser expedidos pelas empresas
transportadoras são o Manifesto Internacional de Carga e Declaração de Trânsito
Aduaneiro (MIC/DTA), além do Conhecimento Internacional de Transporte
Rodoviário (CRT).

Em 2010, Clésio Andrade, presidente da Confederação Nacional dos


Transportes, lamentava o fato de que, 20 anos após a criação do Mercosul, a
integração do transporte entre os países membros tinha avançado muito pouco
(até aquele momento), a ponto de um caminhoneiro permanecer na fronteira por
até seis dias à espera de liberação de autorização para seguir viagem. Todo o

203
UNIDADE 3 | O BRASIL E AS REL. INTER. NA AMÉRICA LAT.: DOS CONFLITOS FRONT. À COOP., INTEG. E LID. REGIONAIS

projeto de aumento das exportações para as nações vizinhas esbarra em excesso


de burocracia no transporte. Do lado brasileiro da fronteira, o problema havia se
tornado um gargalo, com graves consequências para a sociedade e especialmente
para o transportador.

Ainda conforme Huertas (2015, p. 159), nas regiões Norte e Centro-Oeste,


as dinâmicas territoriais que envolvem o transporte internacional de cargas com
países do Mercosul ocorrem em cinco postos de fronteira:

Pacaraíma/BR-174 (Brasil/Roraima↔Venezuela); Porto Murtinho/BR-


267, Bela Vista/BR-60, Ponta Porã/BR-463+MS-164 e Mundo Novo/
BR-163 (Brasil/Mato Grosso do Sul↔Paraguai). Os principais fluxos,
entretanto, são registrados na Região Sul, sobretudo nos nodais
fronteiriços de Foz do Iguaçu (PR) e eixo São Borja-Uruguaiana,
particularidade explicada pela corrente de comércio com Chile,
Uruguai e Argentina.

Andrade (2010) explicava que à falta de integração aduaneira e de


uniformização da legislação entre os países juntavam-se, do nosso lado da fronteira,
a falta de estrutura, de pessoal e de clareza nos procedimentos e exigências
adotados pelos órgãos responsáveis. Somado a esse problema burocrático, a
segurança dos caminhoneiros era outro drama vivido na fronteira. A insegurança
nas fronteiras se concretiza na frequência dos registros de assalto a motoristas.
E nas rodovias (principalmente naquelas sem manutenção), há insegurança
quanto a roubos de carga e do próprio veículo. Dessa forma, o transporte de
carga no Mercosul é um desafio para os transportadores. O número de empresas
brasileiras do setor que abandonaram até 2010 o transporte internacional por
dificuldades na fronteira se tornou expressivo. Anualmente, 5% das 600 empresas
que atuavam nessa atividade têm fechado as portas, o que representou menos
emprego e menos divisas para o país.

FIGURA 74 – PORTO SECO DE URUGUAIANA, RS

FONTE: Disponível em: <http://www.eloglogistica. com.br/Unidades/Uruguaiana>. Acesso em: 3


nov. 2012. Apud HUERTAS, 2015.

Andrade (2010) alerta que a ausência de cooperação entre as autoridades


aduaneiras dos países interessados deve ser resolvida com ações diretas dos
governos e com medidas legisladoras comuns aos países, medidas essas que
precisam ser engendradas, urgentemente, interna e individualmente em cada
país, com o respaldo do Parlasul (Parlamento do Mercosul). Uma das soluções
204
TÓPICO 2 | A APROXIMAÇÃO REGIONAL – O MERCOSUL

propostas pelos transportadores é a liberação antecipada da carga na origem,


permitindo que o transporte se inicie com todas as autorizações. Assim, a
fronteira passa a ser um ponto de controle de passagem da carga, sem retenções
para fiscalização e nem filas absurdas de espera das autorizações.

Da parte do Executivo brasileiro, houve um inquestionável e positivo


aquecimento das relações com os demais países. Como resultado, há um
incremento econômico que, em tese, justificaria a expansão das atividades das
empresas que fazem esse tipo de transporte. Porém, a melhora das relações
políticas e econômicas não representou menos dificuldades na fronteira, e sim o
paradoxo de desistência de se atuar no ramo. A Central Nacional dos Transportes
– CNT (uma associação de empresas transportadoras) entende que o tema deve
ser tratado como prioridade pelo novo governo brasileiro, na pauta do Mercosul,
em tratativas exclusivas com os demais governos dos países participantes. A
CNT considera o assunto de urgência máxima para a adoção de soluções. Para
os transportadores, o Mercosul somente passa a existir quando atravessar as
fronteiras dos países membros não representar retenção por além do tempo
máximo razoável. (ANDRADE, 2010).

Espera-se que com a entrada da Venezuela como membro pleno, haja um


impulso no desenvolvimento da infraestrutura dos transportes e comunicação da
porção setentrional da América do Sul e contribuirá para o aprofundamento da
integração econômica, comercial e produtiva na região.

Diferentemente dos parceiros do Nafta, os parceiros do Mercosul ainda


não contam com infraestruturas modernas e integradas de transporte, energia
e telecomunicações, o que dificulta a circulação de mercadorias e de pessoas em
seus territórios.

Huertas (2015) explica que em dezembro de 2011 a Delegacia da Receita


Federal de Uruguaiana comunicou a uniformização de procedimentos aduaneiros
realizados no âmbito do porto seco da cidade e do Centro Unificado de Fronteira
(CUF), que fica em São Borja. As alterações normativas permitem à concessionária
dos portos secos manter controle de todas as solicitações realizadas, baixas
deferidas e indeferidas e a motivação do indeferimento para eventual checagem
da Receita Federal.

3.6 LIMITES E DESAFIOS


A criação do Mercosul foi um marco de aproximação política e econômica
entre Brasil e Argentina e demais países sul-americanos; entretanto, não eliminou
disputas relacionadas à liderança no bloco econômico, à atração de investimentos
estrangeiros e à obtenção de maior influência política na ONU.

Apesar desses acordos, ambos os países acreditam que o bloco econômico


é o principal meio pelo qual os países da América do Sul podem negociar em
âmbito mundial seus interesses políticos e econômicos. Porém, no Uruguai e
205
UNIDADE 3 | O BRASIL E AS REL. INTER. NA AMÉRICA LAT.: DOS CONFLITOS FRONT. À COOP., INTEG. E LID. REGIONAIS

no Paraguai essa visão é menos compartilhada; esses países acreditam que o


Mercosul lhes trouxe poucos benefícios. Em perspectiva histórica, o Mercosul
mudou definitivamente as relações entre os países platinos e deles em relação aos
demais sul-americanos, colocando-os diante do desafio da integração regional.

Na primeira fase do Mercosul (quando a onda neoliberal era hegemônica),


os setores hegemônicos ganharam muito dinheiro com a integração comercial,
mas hoje não estão mais tão interessados. Possuem opção clara pela associação
com grupos transnacionais, especialmente dos Estados Unidos e Europa.
(SCHREIBER, 2015).

LEITURA COMPLEMENTAR

UNIÃO EUROPEIA E MERCOSUL

Durante a realização da cúpula da UE-CELAC em junho de 2015, a UE


tentou abrir caminho para acordo com o Mercosul. Aproveitando o momento de
desaceleração econômica nos países sul-americanos, a União Europeia planeja
consolidar um acordo de livre comércio com o Mercosul. As negociações entre
os dois blocos foram lançadas em 1999, mas ficaram paralisadas durante anos
devido a diferenças a respeito da abertura dos setores agrícola e industrial. Desde
sua retomada, em 2010, as duas partes ainda não realizaram nenhum intercâmbio
de ofertas tarifárias.

Na tentativa de avançar, a comissária europeia de Comércio, Cecília


Malmström, convocou os ministros da pasta no Mercosul para uma reunião, às
margens da cúpula UE-Celac. O encontro será o primeiro em nível ministerial
desde janeiro de 2013. Por existir uma série de encontros para a aproximação
entre os dois blocos econômicos para a negociação, existe entendimento dos
interesses de cada bloco, e das dificuldades que poderão surgir adiante.

Segundo um alto funcionário europeu envolvido nas negociações, o clima


agora é mais favorável para a UE, que começa a superar a crise, enquanto que
os países do Mercosul enfrentam o fim de um período de pujança, com o Brasil
enfrentando uma possível retração de 1,2% no PIB deste ano de 2015, segundo
previsões do próprio governo. Além disso, nos últimos dois anos o bloco europeu
assinou novos acordos de livre comércio em várias partes do mundo. Com
exceção de Bolívia e Cuba, os países do Mercosul são os únicos latino-americanos
que não possuem um tratado desse tipo com a UE. A comissária não descartou
a possibilidade de uma negociação a duas velocidades, que permitiria ao Brasil
avançar mais rapidamente que seus sócios na abertura de mercados. A prioridade
da UE, no entanto, é um processo birregional.

206
TÓPICO 2 | A APROXIMAÇÃO REGIONAL – O MERCOSUL

Segundo a comissária europeia de comércio, se o Mercosul propuser


mudar o formato das negociações, a UE deverá considerá-lo com atenção. A UE
preza por um Mercosul forte e unido, pois, por definição, a EU é uma grande
defensora da integração e por isto encoraja o Mercosul a seguir o mesmo caminho.

A cúpula UE-Celac reuniu representantes de 61 países em Bruxelas, dentre


chefes de Estado e de governo. Entre os ausentes se destacam os presidentes
cubano, Raúl Castro; venezuelano, Nicolás Maduro; argentina, Cristina Kirchner;
e uruguaio, Tabaré Vázquez. A presidente Dilma Rousseff participou do evento.

Ao mesmo tempo em que tratou de avançar no acordo comercial com o


Mercosul, a UE também lançou durante o evento os processos de modernização
dos acordos de associação de livre comércio assinados com Chile e México há 13
e 15 anos, respectivamente. A intenção, além de atualizar os itens referentes ao
comércio, foi também colocar um foco mais forte na cooperação em temas como
pesquisa e inovação, investimentos, conectividade transatlântica em banda larga,
desenvolvimento urbano sustentável e mobilidade estudantil e acadêmica. Pois
países como Brasil, Chile e Uruguai não estariam emergindo: já emergiram há
muito tempo. Assim, não tem sentido manter o mesmo modelo de cooperação ao
desenvolvimento baseado numa realidade de 10 ou 15 anos atrás. Para aproveitar
o potencial em outras áreas, é necessário atualizar os termos dos acordos, os quais
refletem uma versão atualizada do “plano de ação conjunta” que a UE e a Celac
assinaram durante a cúpula de Bruxelas e em um memorando de entendimento
para a instalação do primeiro cabo submarino de fibra ótica entre a Europa e a
América do Sul.

FONTE: BIZZOTTO, Márcia. 9 de junho de 2015. Disponível em: <http://www.bbc.com/portuguese/


noticias/2015/06/150609_ue_acordo_mercosul_pai_mb>. Acesso em: 29 out. 2015.

207
RESUMO DO TÓPICO 2

Neste tópico vimos que:

• O Mercosul se constituiu como bloco econômico regional, reunindo países do


Cone Sul da América do Sul em 1991. Foi o resultado da aproximação de Brasil
e Argentina no decorrer da segunda metade do século XX e em especial da
evolução dos acordos bilaterais implementados pelos dois países na década
de 1980, os quais foram estendidos para Uruguai e Paraguai, pelo Tratado de
Assunção.

• O Mercosul nasceu como resposta às demandas da nova conjuntura internacional


no que diz respeito à formação de espaços econômicos e padrões comerciais
inseridos no contexto da globalização, neoliberalismo (desregulamentação dos
mercados) e regionalização. Processos ora antagônicos, ora complementares.

• Atualmente o bloco aglutina quase todos os países da América do Sul, com


exceção da Guiana Francesa, quer como Estados parte ou membro pleno, quer
como Estado Associado.

• Apesar do Mercosul ser a iniciativa mais promissora de integração regional


implementada na América Latina, continua frágil sua integração física e seu
comércio intra-regional é inferior ao de outras regiões do mundo.

• Dados apresentados pelo Ministério das Relações Exteriores mostram os


avanços, benesses e sucesso comercial do Mercosul em seus mais de 20 anos de
existência. Pesquisadores e teóricos mais críticos afirmam que o tão almejado
mercado comum não foi consolidado. A União Aduaneira possui muitas
exceções à Tarifa Externa Comum. As políticas econômicas cambiais previstas
não foram implementadas.

• A criação do Parlamento do Mercosul apresenta-se como uma das propostas


para concretizar a institucionalização do bloco, a exemplo da União Europeia.

• Percebe-se certa evolução com mudança de enfoque do Mercosul, do foco


econômico e comercial para campos e funções políticas e sociais. A integração
física e complementaridade de infraestruturas têm se mostrado promissoras.

• Projetos e obras de integração física continental (no setor energético e transportes


rodoviários) têm logrado êxitos, mas poderão avançar mais. A América do Sul
é praticamente autossuficiente em insumos energéticos (petróleo, gás natural
e recursos hídricos). Uma infraestrutura regional que possibilite a integração
208
plena permitirá racionalizar investimentos, potencializar a produção de
eletricidade nas usinas hidrelétricas já existentes, promover sinergia nos
campos tecnológicos, industrial e comercial e complementaridade de insumos
energéticos entre os países da região.

• Pressupõe-se que uma efetiva integração energética, principalmente do setor


elétrico, tenderia a contribuir para dinamizar o comércio, reduzir disparidades
regionais e reduzir as tarifas para consumidores.

• A inclusão da realidade geográfica e o planejamento energético integrado


permitiria a preservação dos mananciais hídricos da Amazônia, por exemplo,
ao maximizar o aproveitamento da vazão de usinas já existentes. Por exemplo,
a usina de Itaipu, que não aproveita ao máximo seu potencial. Quando os
vertedouros de Itaipu são abertos e permitem um espetáculo ao turista, é água
indo embora, sem ser aproveitada para produção de eletricidade.

• Dentre os grandes desafios para a geração de energia elétrica nos países


sul-americanos está a alteração climática, e a frequência e amplitude (que
aumentou nos últimos anos) de ocorrência dos extremos climáticos que afetam
a disponibilidade de água. Políticas públicas em relação ao tema devem levar
em consideração estas variáveis.

• O gás natural é um combustível fóssil abundante no subsolo da Bolívia.


É explorado desde o início da década de 1990 por empresas estrangeiras,
dentre elas, a brasileira Petrobrás; o gás boliviano passou a ser exportado. O
pagamento de impostos até 2006 era baixo, com a nacionalização das reservas,
as taxas aumentaram.

• O transporte do gás boliviano para o Brasil (principal comprador) e para a


Argentina é feito por gasodutos. O GasBol, principal gasoduto, construído e
financiado pelo Brasil, abastece os mercados brasileiros dos estados de MS, SP,
PR, SC e RS.

• Mesmo estando aquém do esperado, o comércio entre os países do Mercosul


cresceu consideravelmente. O Brasil o lidera por diversos fatores, como, por
exemplo, diversificação de seu parque industrial, localização geográfica,
extensão territorial. Em consequência, o Brasil mantém acordos para o
transporte rodoviário internacional, principalmente, com todos os países da
América do Sul, apesar de persistirem alguns entraves burocráticos.

209
AUTOATIVIDADE

1 Durante o período em que esteve à frente do governo, entre 1999 e 2013,


o presidente Hugo Chávez, da Venezuela, impulsionado por ideologias
bolivarianas, empreendeu reformas constitucionais e promoveu programas
de assistência social que modificaram o contexto interno do país. O
presidente buscou, no plano externo, articular um conjunto de estratégias
para diminuir a dependência do setor petrolífero e, no plano interno,
impulsionar o desenvolvimento agrícola e industrial em seu país. Dentre
as estratégias para as relações internacionais estava:

a) Intensificar as negociações com a União Europeia - UE.


b) Aderir como membro pleno ao Mercado do Cone Sul - Mercosul.
c) Tornar-se membro oficial da Organização dos Estados Americanos – OEA.
d) Passar a ser membro integrante da Área de Livre Comércio das Américas
– ALCA.
e) Associar-se como membro oficial do Tratado Norte-Americano de Livre
Comércio – NAFTA.

2 “O advento do Mercosul ampliou bastante as relações comerciais e


financeiras do Brasil com seus vizinhos do sul e sudoeste. Até os anos 1980,
esses países sul-americanos não eram parceiros comerciais importantes,
principalmente em relação a investimentos, porém, nos anos 1990, passou
a figurar notadamente a Argentina entre os mais importantes para o
comércio exterior brasileiro. Um crescente número de empresas do Brasil
já abriu filiais na Argentina (e vice-versa), e muitas indústrias estrangeiras
se instalaram em um desses países a fim de produzir para todo o mercado
consumidor do Mercosul”.

FONTE: VESENTINI, José William. Geografia: o mundo em transição. São Paulo: Editora Ática,
2012. p. 333.

Em relação ao excerto acima, analise as afirmativas:

I – O Mercosul, depois de mais de 20 anos, ainda não é considerado um bloco


econômico constituído por uma União Aduaneira.
II – A criação do Mercosul em 1991 seguiu uma tendência então em voga,
onde grupos de países se reuniam para criar blocos econômicos regionais,
com mercados comuns, para fazer frente ao processo de globalização,
estabelecendo e em alguns casos eliminando taxas alfandegárias para
facilitar a circulação de produtos entre países membros.
III – O México, país latino-americano do ponto de vista histórico-cultural,
e socioeconômico, se localiza geograficamente na América do Norte, faz
parte do Acordo de Live Comércio da América do Norte – NAFTA, faz
parte do Mercosul como membro observador, tendo já assinado alguns
acordos comerciais.

210
IV – O Mercosul foi criado com o objetivo de ampliar o comércio entre os
países-membros através da redução ou eliminação de tarifas alfandegárias,
porém atualmente seu foco mudou para integração de infraestruturas
físicas de energia e transportes e programas sociais.

Agora assinale a alternativa correta.

a) As afirmativas I, II e III estão corretas.


b) As afirmativas I, III e IV estão corretas.
c) As afirmativas II, III e IV estão corretas.
d) As afirmativas III e IV estão corretas.

211
212
UNIDADE 3
TÓPICO 3

DOS ESPAÇOS GEOGRÁFICOS REGIONAIS DE


ENTORNO PARA O ESPAÇO REGIONAL MAIS
AMPLO DA AMÉRICA DO SUL E DA AMÉRICA LATINA

1 INTRODUÇÃO
A geografia política recente da América Latina demonstra que os ideais
de uma América Latina unida e forte fomentaram e influenciaram diferentes
propostas de cooperação e integração, adaptadas aos novos tempos, complexas,
peculiares e imbuídas de tensões entre diferentes projetos e pontos de vista de
líderes políticos profissionais gestores. A busca por uma maior cooperação e
integração entre países sul-americanos e latino-americanos realiza-se atualmente
também por meio de organizações regionais, que tratam de assuntos de diversas
ordens, não apenas econômicos.

2 COMISSÃO ECONÔMICA PARA A


AMÉRICA LATINA – CEPAL
Devido a pressões exercidas por países latino-americanos, em 1948
foi criada pela ONU a Comissão Econômica para a América Latina – CEPAL,
considerada um marco para o desenvolvimento das nações latino-americanas.
Voltada para os problemas econômicos, estudiosos importantes (dentre eles
o argentino Raúl Prebisch e o brasileiro Celso Furtado) reuniram-se para
defender a integração regional. De modo geral, estes estudiosos analisaram as
relações comerciais estabelecidas entre os países da América Latina e o restante
do mundo, defendendo a ideia de que somente conseguiriam impulsionar o
desenvolvimento industrial se superassem as heranças coloniais que os haviam
colocado na posição de exportadores de produtos agrícolas e minerais. Como
o valor destes produtos no mercado internacional sofre grande oscilação, os
estudiosos defendiam a implantação de indústrias de base e de bens de consumo
por meio de investimentos públicos e privados nos países latino-americanos.
(ADAS, 2011).
 
A CEPAL é uma das cinco comissões regionais da ONU e sua sede está em
Santiago do Chile. Foi fundada para contribuir ao desenvolvimento econômico
da América Latina, coordenar as ações encaminhadas à sua promoção e reforçar
as relações econômicas dos países entre si e com as outras nações do mundo.
Posteriormente, seu trabalho foi ampliado aos países do Caribe e se incorporou o
objetivo de promover o desenvolvimento social. A CEPAL desenvolveu-se como

213
UNIDADE 3 | O BRASIL E AS REL. INTER. NA AMÉRICA LAT.: DOS CONFLITOS FRONT. À COOP., INTEG. E LID. REGIONAIS

uma escola de pensamento especializada no exame das tendências econômicas e


sociais de médio e longo prazo dos países latino-americanos e caribenhos.

O escritório da CEPAL em Brasília desenvolve trabalhos de pesquisa e


cooperação técnica, mediante diversos acordos com órgãos federais, analisando
transformações econômicas brasileiras e prestando assistência técnica, realizando
projetos em temas do desenvolvimento e atuando no treinamento de recursos
humanos, na organização de seminários, intercâmbios técnicos, bem como no
apoio a estados, municípios, entidades de classe e universidades.

No final de 2014, a Comissão Econômica para América Latina e Caribe


(Cepal) divulgou o mais recente relatório ‘Panorama Social da América
Latina’. Seu objetivo é medir a pobreza por rendimentos e de uma perspectiva
multidimensional, a partir da criação de um Índice Multidimensional de Pobreza,
para diversos países da América Latina, inclusive o Brasil. Este estudo técnico tem
o objetivo de apresentar a construção e os resultados encontrados para o Índice
Multidimensional de Pobreza. Além disso, apresenta uma adaptação, e seus
respectivos resultados, deste Índice da CEPAL aos moldes do Índice de Pobreza
Multidimensional adotado pelo Banco Mundial, concretizando a ideia de escola
do pensamento especializado em questões econômicas e sociais. Os resultados
permitiram visualizar uma redução da pobreza em geral, no período analisado
(2004-2013), especialmente no grupo de pobres crônicos, e identificar alguns dos
principais gargalos no enfrentamento da pobreza, em suas múltiplas dimensões,
quais sejam: as carências de saneamento, educação e acesso ao mercado de
trabalho. (CEPAL, 2015).

Com apoio da CEPAL e outros organismos supranacionais, os governos


dos países sul-americanos passaram a criar meios para ampliar a integração física
e o desenvolvimento das infraestruturas essenciais na organização do espaço sul-
americano e no seu crescimento econômico.

3 DA ALALC À ALADI
Criada pelo Tratado de Montevidéu, em 1980, e com sede na capital do
Uruguai, a Associação Latino-Americana de Integração – ALADI é composta por
11 países. Essa organização substituiu a Associação Latino-Americana de Livre
Comércio – ALALC, criada em 1960. Articulada entre as maiores economias latino-
americanas (Brasil, México e Argentina), foi a primeira iniciativa de integração
regional, mas não obteve resultados satisfatórios.

A ALADI continuou o processo de integração econômica da antiga


ALALC, com o objetivo de implantar um mercado comum e adotar preferências
tarifárias entre países membros. No entanto, os resultados práticos até o momento
resumem-se a acordos econômicos bilaterais ou sub-regionais entre membros da
associação.

214
TÓPICO 3 | DOS ESP. GEO. REG. DE ENTORNO P/ O ESP. REG. MAIS AMPLO DA AMÉRICA DO SUL E DA AMÉRICA LATINA

4 DO PACTO ANDINO À COMUNIDADE


ANDINA DE NAÇÕES – CAN
Em 1969, insatisfeitos com o péssimo desempenho da ALALC, mas
defendendo os mesmos objetivos, os países da região andina (Chile, Bolívia,
Peru, Colômbia e Equador) formaram um bloco menor para facilitar a integração
econômica entre eles. Surgiu então o Pacto Andino, criado pelo acordo de
Cartagena.

Contudo, foi apenas a partir de 1996 que teve início uma atividade mais
intensa de cooperação política entre os países membros do Pacto Andino, que
passou a se chamar Comunidade Andina de Nações – CAN. Atualmente, a CAN é
composta por Bolívia, Peru, Colômbia e Equador, conforme observa-se no mapa.

FIGURA 75 – MAPA: COMUNIDADE ANDINA DE NAÇÕES - CAN

FONTE: Disponível em: <http://www.fao.org/agronoticias/agro-noticias/


detalle/es/c/170481/>. Acesso em: 29 out. 2015.

215
UNIDADE 3 | O BRASIL E AS REL. INTER. NA AMÉRICA LAT.: DOS CONFLITOS FRONT. À COOP., INTEG. E LID. REGIONAIS

5 INICIATIVA PARA A INTEGRAÇÃO DA INFRAESTRUTURA


REGIONAL SUL-AMERICANA – IIRSA
Em 2000, durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, foi lançada
a Iniciativa para a Integração da Infraestrutura Regional Sul-Americana. O
contexto era singular, por estarem em pauta discussões geoeconômicas tais como
a formação da Área de Livre Comércio das Américas – ALCA, o neoliberalismo,
a desregulamentação, mundialização dos mercados, livre circulação de capitais
e a globalização do pensamento único... A possibilidade de estabelecer uma área
de livre comércio à imagem e interesses norte-americanos, mais especificamente
estadunidenses, foi a base propulsora desse fórum de diálogo, ou seja, a IIRSA
era uma parte de um projeto expansionista e integracionista maior, subordinado
aos interesses do grande capital.

Desde o lançamento até hoje, sob influência de governantes representando


as camadas populares, a IIRSA passou por vários momentos e redefinições, em
particular determinados pela derrota da ALCA em 2005 e posições políticas e
econômicas adotadas pelas lideranças políticas dos países sul-americanos. No
entanto, são inegáveis os impactos socioambientais e a dramática intervenção
do território, fomentadas pela implementação progressiva da IIRSA, que tem se
decantado pelas grandes obras de infraestrutura para os transportes, a energia e
as telecomunicações (em detrimento de infraestruturas sociais de maior impacto
para a população), evidenciando o caráter centrípeto destas infraestruturas,
voltadas em sua maior parte para o comércio internacional de commodities, hoje
em dia a principal vinculação sul-americana com o mercado global.

O Programa de Aceleração Econômica – PAC do governo brasileiro


se insere no marco da IIRSA e grande parte de seus projetos são semelhantes
quanto aos danos socioambientais, a exemplo das Usinas Hidrelétricas - UHEs
de Belo Monte (PA), Jirau e Santo Antônio (RO), o Porto de Açu (RJ), o Complexo
Petroquímico do Rio de Janeiro - Comperj e outros.

DICAS

Leia a reportagem sobre o Porto de Açu-RJ, disponível em: <http://economia.


estadao.com.br/noticias/geral,apos-7-anos-porto-do-acu-fica-pronto-em-abril-mas-so-
10-da-area-esta-ocupada,1628234>.

Segundo Almeida (2010), o presidente Fernando Henrique Cardoso


coordenou a Iniciativa de Integração Regional Sul-Americana (2000), e o
presidente Lula, dando continuidade, multiplicou iniciativas de consultorias e
de coordenações políticas que levaram, por sua vez, à criação da Comunidade

216
TÓPICO 3 | DOS ESP. GEO. REG. DE ENTORNO P/ O ESP. REG. MAIS AMPLO DA AMÉRICA DO SUL E DA AMÉRICA LATINA

Sul-Americana de Nações (Cuzco, 2004), substituída devido ao forte impulso do


presidente venezuelano Hugo Chávez, pela União das Nações Sul-Americanas
– UNASUL, 2007, seguido pelo Conselho de Defesa Sul-americano. Entre 2008
e 2010, o Brasil participou ativamente na criação de uma Cúpula da América
Latina e do Caribe (CALC); em seguida, para o fortalecimento destas iniciativas
foi criada a Cúpula da Unidade (Cancun, fevereiro de 2010), onde a criação da
Comunidade de Estados Latino-Americanos e do Caribe – CELAC como espaço
regional reúne todos os países da América do Sul e Caribe.

Carmo e Pecequilo (2015) corroboram ressaltando que, nos primeiros anos


do século XXI, a América do Sul viveu uma dinâmica liderada por iniciativas
brasileiras, principalmente do governo de Luís Inácio Lula da Silva de 2003 a 2010,
fatos que lhe permitiram destacar-se como líder nas relações internacionais, dando
às relações internacionais brasileiras um caráter protagonista. Simultaneamente,
na Venezuela, as ações do governo Hugo Chávez também contribuíram para uma
projeção global da região (da América do Sul e da América Latina). A imagem
de crise, encolhimento, isolamento, foi sobreposta gradativamente por ações
centradas na recuperação e renovação, nas quais a América do Sul passou a
olhar cada vez mais para dentro de si mesma, ao mesmo tempo em que optou
em abrir suas fronteiras para o mundo. Em meio a dificuldades domésticas, a
projeção externa ganhou maturidade, processo permeado por disputas políticas,
pressionado pela necessidade contínua de progresso, com a superação de ranços
e resquícios do passado marcados por emergências, as quais acompanhadas de
riscos de retrocessos nas agendas.

DICAS

Leia a previsão da CEPAL para a economia latino-americana e brasileira em


2015. Disponível em: <http://g1.globo.com/economia/noticia/2015/07/cepal-ve-brasil-
encolhendo-15-neste-ano.html>.

6 UNIÃO DAS NAÇÕES SUL-AMERICANAS – UNASUL


Martinez (2013) explica que, apesar dos avanços já alcançados, o processo
de integração e fortalecimento das relações entre os países do Mercosul é
problemático, pois uma série de obstáculos e dificuldades tem impedido avanços
mais concretos e eficazes. As assimetrias observadas em indicadores como taxas
de desemprego, inflação, renda per capita, endividamento externo, e disparidades
socioeconômicas entre os países membros do bloco, são fatores que dificultam
uma integração mais efetiva. Problemas dessa ordem emperram o avanço das
negociações e dificultam o estreitamento das relações comerciais e diplomáticas
necessárias para a plena integração entre os parceiros.

217
UNIDADE 3 | O BRASIL E AS REL. INTER. NA AMÉRICA LAT.: DOS CONFLITOS FRONT. À COOP., INTEG. E LID. REGIONAIS

Em 2008 surgiu a União das Nações Sul-Americanas – UNASUL. É outro


grupo sem a pretensão de se constituir um bloco econômico, apresenta-se como
mais uma alternativa para a integração regional. A tendência de esta vir a substituir
o Mercosul é remota, mas, se ocorrer, será pelo fato de a UNASUL ser mais ampla,
tanto geograficamente como nos princípios da organização. Para estudiosos do
tema, este novo grupo unifica iniciativas sul-americanas de integração, como as do
Mercosul, da Comunidade Andina das Nações, e da Iniciativa para a Integração
Regional Sul-Americana - IIRSA. Suas características se propõem a resolver alguns
problemas de integração mais efetiva. A UNASUL é uma entidade com propostas
mais abrangentes na área da geopolítica. Ela tem metas políticas e estratégicas,
que incluem a criação de um parlamento, de conselhos, dentre eles o Conselho de
Defesa Sul-americano, e um banco continental. (SILVA, 2013).

NOTA

A União das Nações Sul-americanas – UNASUL, criada em 2008, é um grupo


intergovernamental que reúne todos os países da América do Sul (exceto a Guiana
Francesa, por ser um Departamento Ultramarino da França, esta integra indiretamente
a União Europeia), cujo objetivo principal é o fortalecimento da democracia, integração
e cooperação. O Mercosul também possui como objetivo a integração, com foco no
comércio e em outras trocas econômicas.

Apesar dos esforços de integração, desde sua criação e da adesão de novos


países como membros-parte (a Venezuela em 2012 e a Bolívia em 2015), o futuro
do Mercosul foi colocado em xeque, por diversos fatores econômicos e financeiros
dos países-membros, em função da baixa quantidade de trocas comerciais que
ocorrerem, principalmente em momentos de turbulência política em um dos
países. Nesses momentos os Estados tomam medidas unilaterais, com vistas a
proteger suas economias nacionais, principalmente as indústrias (muitas delas
transnacionais). Alguns analistas indicam que o destacado caráter comercialista
do bloco é responsável por esta dinâmica.

Segundo o Ministério das Relações Exteriores (ITAMARATY, 2015), a


integração regional é prioridade para a diplomacia brasileira. O Brasil incentiva o
projeto da UNASUL não apenas por estar convicto dos benefícios para a inserção e a
projeção do país e da região em um mundo cada vez mais multipolar, mas também
porque se trata de objetivo determinado pela Constituição Federal à nossa política
externa. Em seu artigo 4º, parágrafo único, estabelece que "a República Federativa
do Brasil buscará a integração econômica, política, social e cultural dos povos da
América Latina, visando à formação de uma comunidade latino-americana de
nações". A construção participativa e consensual de um espaço de articulação entre
os países membros no que diz respeito a assuntos culturais, sociais, políticos e
econômicos entre os povos sul-americanos é um de seus objetivos.

218
TÓPICO 3 | DOS ESP. GEO. REG. DE ENTORNO P/ O ESP. REG. MAIS AMPLO DA AMÉRICA DO SUL E DA AMÉRICA LATINA

Até 2008, a América do Sul se relacionava com o resto do mundo por


meio de um modelo do tipo "arquipélago": cada país atuava de maneira isolada
e desintegrada, dialogando primordialmente com os países desenvolvidos
de fora da região. Quando do estabelecimento da UNASUL, os países da
região passaram a articular-se em torno de áreas estruturantes, como energia
e infraestrutura, e a coordenar posições políticas. A UNASUL privilegia um
modelo de "desenvolvimento para dentro" na América do Sul – complementando,
dessa forma, o antigo modelo de "desenvolvimento para fora". A organização
tem demonstrado que é possível fortalecer a integração e identificar consensos,
respeitando a pluralidade. (ITAMARATY, 2015).

A estrutura institucional da UNASUL é estruturada por três Conselhos:


o primeiro formado por chefes de Estado; o segundo formado por chanceleres
e/ou ministros das Relações Exteriores, e o terceiro Conselho é composto
por delegados; e ainda por uma Secretaria Geral – que passa por uma fase de
consolidação e fortalecimento – e por Conselhos Ministeriais Setoriais, que
tratam de temas específicos, tais como: energia; defesa; saúde; desenvolvimento
social; infraestrutura; problema mundial das drogas; economia e finanças;
eleições; educação; cultura; ciência, tecnologia e inovação; segurança cidadã,
justiça e coordenação de ações contra a delinquência organizada transnacional.
Para Silva (2013), a possibilidade de governabilidade compartilhada através de
uma Secretaria Geral e Presidência, ocupados rotativamente por representantes
dos países, e a organização em Conselhos, representam avanços. No entanto,
cabe lembrar que talvez lá na frente, em um futuro ainda distante, estes acordos
resultem na formação de uma grande zona de livre comércio.

O compromisso da UNASUL com o fortalecimento da democracia tem


atingido avanços importantes na mediação de tensões regionais – a exemplo da
crise separatista do Pando (Bolívia, 2008), da crise entre Colômbia e Venezuela
(2010), do apoio à ordem constitucional e democrática do Equador quando da
sublevação de sua Polícia Nacional (2010) e da elaboração de medidas de fomento
à confiança e segurança pelo Conselho de Defesa Sul-Americano. Com o objetivo
de desestimular aventuras antidemocráticas na região, os chefes de Estado da
UNASUL decidiram inserir uma cláusula democrática na organização – o que foi
feito por meio do Protocolo Adicional ao Tratado Constitutivo assinado na Cúpula
de Georgetown (2010). A UNASUL teve atuação destacada na crise desencadeada
pela deposição do presidente paraguaio Fernando Lugo (junho de 2012), realizada
sem respeito às garantias democráticas como o devido processo legal e o direito
à ampla defesa. O Paraguai foi suspenso da UNASUL até que houvesse pleno
restabelecimento da ordem democrática no país – o que se deu com a posse do
novo presidente democraticamente eleito (agosto de 2013). (ITAMARATY, 2015).

Nos primeiros meses de 2014, no contexto da crise desencadeada por


protestos na Venezuela, a UNASUL voltou a demonstrar unidade e capacidade de
atuar como elemento de estabilização da situação política na região, ao catalisar
o processo de diálogo promovido pelo governo venezuelano com a oposição
naquele país.

219
UNIDADE 3 | O BRASIL E AS REL. INTER. NA AMÉRICA LAT.: DOS CONFLITOS FRONT. À COOP., INTEG. E LID. REGIONAIS

Do ponto de vista desenvolvimentista, não há integração regional sem


integração da infraestrutura física, necessária para reduzir as distâncias entre os
povos e para aumentar a competitividade das economias da região. O Conselho
de Infraestrutura e Planejamento da UNASUL (COSIPLAN) é o principal foro de
condução do processo de integração da infraestrutura física sul-americana, tendo
como objetivo prover apoio político de alto nível para a concretização dos projetos.
O COSIPLAN incorporou a Iniciativa para a Integração da Infraestrutura Regional
Sul-Americana (IIRSA) como seu “Foro Técnico”, aproveitando o acervo de trabalho
acumulado entre 2000 e 2010 no que diz respeito ao planejamento territorial e à
identificação dos projetos mais relevantes para a integração da infraestrutura
regional. Dentre os resultados já alcançados pelo COSIPLAN está a elaboração de
um Plano de Ação Estratégico para dez anos (2012-2022), que estabelece um conjunto
de ações para cada objetivo específico do COSIPLAN, e a definição de uma Agenda
Prioritária de Projetos, composta por 31 iniciativas de caráter estratégico e de alto
impacto para a integração física e desenvolvimento socioeconômico regional, com
investimentos estimados em mais de US$ 16,7 bilhões e, consequentemente, com
graves danos socioambientais. (ITAMARATY, 2015)

Ainda segundo o Itamaraty (2015), tem-se discutido, na UNASUL, o


desenvolvimento de uma estratégia sul-americana de aproveitamento dos
recursos naturais – uma das principais vantagens comparativas da América do
Sul. No continente está a maior reserva de petróleo do mundo e cerca de um terço
de todos os recursos hídricos do planeta. A América do Sul concentra quase 40%
da reserva biogenética mundial e é a 3ª maior produtora mundial das principais
culturas agrícolas (trigo, milho, soja, açúcar e arroz). Projeta-se que, até 2050, a
América do Sul será responsável por 30% da produção agrícola do mundo.

Surge da percepção que, em um mundo multipolar, a articulação e União


dos Estados em âmbito regional resultam em ganho de soberania, frente a atores
muito mais poderosos, utilizando-se da proximidade cultural, da afinidade
histórica e geográfica para atingir tais objetivos. Contudo, segundo Gerdas
(2015), resistências continuam existindo e por vezes de maneira explosiva vêm à
superfície, evidenciando a prática do subimperialismo brasileiro ou estrangeiro,
como os casos do TIPNIS (Bolívia) com movimentos em relação à rodovia
intercontinental, ou dos trabalhadores e populações atingidas pelas barragens
de Santo Antônio e Jirau (Brasil) e do Parque Nacional de Yasuní (Equador). Não
obstante, o grande desafio para as resistências continua sendo o de superar sua
fragmentação e caráter local, avançando para frentes mais amplas e de alcance
nacional/regional.

220
TÓPICO 3 | DOS ESP. GEO. REG. DE ENTORNO P/ O ESP. REG. MAIS AMPLO DA AMÉRICA DO SUL E DA AMÉRICA LATINA

FIGURA 76 – COMPOSIÇÃO DO MAPA DA AMÉRICA DO SUL COM AS BANDEIRAS DOS


ESTADOS NAÇÕES SUL-AMERICANAS

FONTE: Disponível em: <fabioregiobento.blogspot.com>. Acesso em: 29 out. 2015.

7 A COMUNIDADE DE ESTADOS LATINO-


AMERICANOS E DO CARIBE – CELAC
Em dezembro de 2008 o Brasil tomou a iniciativa de convocar a I
Cúpula de Chefes de Estado e de Governo da América Latina e Caribe para o
Desenvolvimento e a Cooperação (CALC), que se realizou na Costa do Sauípe,
Bahia. O objetivo foi estabelecer um processo de cooperação que abrangesse toda
a região latino-americana e caribenha.

221
UNIDADE 3 | O BRASIL E AS REL. INTER. NA AMÉRICA LAT.: DOS CONFLITOS FRONT. À COOP., INTEG. E LID. REGIONAIS

A principal virtude da CALC foi reunir, pela primeira vez, todos os


33 países da região, que não se encontravam juntos sem a interferência de um
país desenvolvido em outros mecanismos. A CALC foi, portanto, a primeira
oportunidade que os países da região tiveram para se reunir e refletir sobre o
desenvolvimento e a integração a partir de uma agenda própria, moldada de
acordo com os interesses das sociedades latino-americanas e caribenhas.

Em fevereiro de 2010, o México sediou a Cúpula da Unidade, reunindo


países de organizações anteriores que não haviam obtido êxito em suas
trajetórias, onde foi aprovada a ideia de se reunirem progressivamente num
único foro, intitulado a Comunidade dos Estados Latino-Americanos e
Caribenhos (CELAC). Com a Cúpula de Caracas, em dezembro de 2011, ocorreu
a primeira reunião da CELAC, que assume duas vocações: a cooperação para o
desenvolvimento e a concertação política. Na vertente da cooperação, a CELAC
tem promovido reuniões ministeriais ou de alto nível sobre temas como educação,
desenvolvimento social, cultura, transportes, infraestrutura e energia.

Em 2013, o Brasil teve a oportunidade de sediar a I Reunião de Altos


Funcionários da CELAC sobre Agricultura Familiar, que analisou estratégias
de desenvolvimento rural, com vistas à promoção da segurança alimentar e
nutricional e à erradicação da pobreza rural. O país também sediou a I Reunião
de Altos Funcionários sobre Ciência e Tecnologia da CELAC, ocasião em que se
debateram políticas públicas relacionadas à formação e capacitação de recursos
humanos, infraestrutura de pesquisa e desenvolvimento e serviços tecnológicos
de apoio à inovação empresarial. A organização conta com um Plano de Ação
que, para 2014, definiu as prioridades de cooperação em torno de vários eixos:
segurança alimentar e nutricional e erradicação da fome e da pobreza; agricultura
familiar; educação; cultura; ciência, tecnologia e inovação; desenvolvimento
produtivo e industrial; infraestrutura; finanças; preferência tarifária latino-
americana e caribenha; energia; meio ambiente; agenda de desenvolvimento pós-
2015; assistência humanitária internacional; migrações; problema mundial das
drogas; prevenção e luta contra a corrupção; cooperação; mecanismos regionais e
sub-regionais de integração; e política internacional.

Na vertente da concertação política, a CELAC tem demonstrado


capacidade de emitir pronunciamentos sobre temas relevantes da agenda
internacional e regional, como o desarmamento nuclear, a questão da Síria, o caso
das Ilhas Malvinas e o bloqueio norte-americano a Cuba, dentre outros. O diálogo
e a concertação política promovidos por meio da CELAC têm se manifestado
inclusive por meio de intervenções conjuntas no âmbito da Assembleia Geral das
Nações Unidas e de suas comissões.

222
TÓPICO 3 | DOS ESP. GEO. REG. DE ENTORNO P/ O ESP. REG. MAIS AMPLO DA AMÉRICA DO SUL E DA AMÉRICA LATINA

NOTA

Podemos chamar de concertação política toda a atuação ou atitude de


mediação que nos possa levar a realizar um trabalho ou um acordo, resultando daí o
objetivo pretendido.

Além disso, a CELAC tornou-se ferramenta valiosa para o diálogo da


América Latina com o resto do mundo e tem proporcionado à região manter
posições coesas nas relações com outros blocos regionais e países emergentes.
Hoje, a CELAC mantém mecanismos de intercâmbio de informações com a União
Europeia, China, Rússia, Índia, Conselho de Cooperação do Golfo, entre outros.
Dessa forma, a CELAC está facilitando a conformação de uma identidade própria
regional. As consultas políticas são feitas, em geral, à margem do debate geral da
Assembleia Geral das Nações Unidas e permitem o intercâmbio de informações
sobre temas de interesse global e a cooperação desenvolvida entre a América
Latina e o Caribe e atores relevantes do sistema internacional.

A CELAC assumiu, igualmente, a interlocução regional no mecanismo de


diálogo e cooperação entre a América Latina e Caribe e a União Europeia (UE).
A cooperação CELAC-UE inclui temas como ciência e tecnologia, migrações,
investimentos, gênero e problema mundial das drogas, entre outros. Desde 2012,
o mecanismo conta com o apoio da Fundação EU-LAC, com sede em Hamburgo,
que tem por missão estimular a reflexão sobre temas de interesse das duas regiões,
apoiar a execução dos objetivos acordados e promover diálogos com a sociedade
civil, academia e setor privado. Apesar da grande diversidade de perspectivas,
natural em um foro que reúne 61 países, o diálogo entre as duas regiões possui
base de sustentação sólida nos estreitos laços culturais, migratórios existentes
entre as duas regiões, bem como em valores comuns, como a democracia e a
promoção dos direitos humanos. (ITAMARATY, 2015)

A CELAC funciona com base em reuniões políticas, reuniões ministeriais


especializadas e grupos de trabalho setoriais. Na definição da ordem de países
que ocuparão a presidência pro tempore do mecanismo, atenta-se para uma
distribuição equitativa entre as sub-regiões da América Latina e do Caribe.

UNI

Pro tempore é uma expressão de origem latina que se pode traduzir por
temporariamente ou por enquanto. É utilizada na linguagem comum para indicar uma
situação transitória. Como termo jurídico e burocrático, significa a vigência de um cargo
ou função.

223
UNIDADE 3 | O BRASIL E AS REL. INTER. NA AMÉRICA LAT.: DOS CONFLITOS FRONT. À COOP., INTEG. E LID. REGIONAIS

A CELAC tem reforçado a unidade e a insubordinação à hegemonia dos


EUA e Europa, já iniciadas com UNASUL, Mercosul e ampliadas com o BRICS,
conseguindo da China um respaldo de 250 milhões de dólares. A China firmou com
a Argentina um acordo bilateral e investirá 287 milhões de dólares na construção
de duas hidroelétricas; o presidente da Venezuela, em recente viagem à China,
também firmou acordos que reforçam os precedentes já em marcha no campo
da construção habitacional (na Venezuela já construíram 700 mil casas populares
com ajuda da China, Irã, Rússia e Brasil); ao mesmo tempo, a Rússia apoiará, com
tecnologia de ponta, a construção de refinarias de petróleo no Orinoco.

UNI

BRIC é uma sigla formada pelas letras iniciais de Brasil, Rússia, Índia e China,
criada em 2001 pelo economista Jim O’Neill, analista de mercado do grupo Goldman
Sachs (um dos maiores bancos de investimento do mundo), no relatório intitulado Building
Better Global Economic, traduzido como “Construindo uma economia global melhor”. Nos
últimos anos, com a entrada da África do Sul no grupo, foi acrescentado o S maiúsculo de
South África – então deve-se utilizar BRICS.

LEITURA COMPLEMENTAR

AMÉRICA LATINA E CARIBE QUEREM ZONA LIVRE DE POBREZA E FIM


DO EMBARGO A CUBA

Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC)


encerra a 3ª Cúpula de Chefes de Estado na Costa Rica. Na Rádio Brasil Atual,
o entrevistado sobre o assunto, Emir Sader, ressalta o aprofundamento da
integração.

Para o cientista político e sociólogo Emir Sader, a reunião da Comunidade


de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC), que encerra hoje sua
3ª Cúpula de Chefes de Estado, em San José, na Costa Rica, representa uma
atualização das relações entre os países do continente, que anteriormente se
baseava em um modelo de integração que remonta à Guerra Fria, ou ainda à
época da Doutrina Monroe, cujo lema, “América para os americanos”, denotava a
influência dos EUA sobre os demais países.

Sader: “A Organização dos Estados Americanos (OEA), que representava essa


integração, tem a presença determinante dos Estados Unidos, além do Canadá. Qualquer
questão, conflito ou problema do continente passava pela OEA e aí a hegemonia norte-
americana pesava fortemente. A CELAC é uma instância alternativa à OEA.”

224
TÓPICO 3 | DOS ESP. GEO. REG. DE ENTORNO P/ O ESP. REG. MAIS AMPLO DA AMÉRICA DO SUL E DA AMÉRICA LATINA

Segundo Sader (2015), o tema central da reunião foi a luta contra a


pobreza, com o compromisso proposto pelo Equador, que ocupa a presidência
rotativa da Comunidade, em estabelecer na região uma “zona livre de pobreza”,
após a terem declarado “zona livre de conflitos violentos”, com a continuidade
das negociações de paz entre o governo colombiano e as Forças Armadas
Revolucionárias da Colômbia, as FARC. Outro assunto relevante abordado na
reunião foi o reatamento das relações entre Cuba e os Estados Unidos. Durante
a reunião, Raúl Castro fez uma intervenção, explicando que existem condições
para Cuba se normalizar, mas falta um caminho longo, a começar pelo fim do
bloqueio. A presidente Dilma Rousseff também fez pronunciamento no sentido
de autonomia para decisões políticas e econômicas dos países. A CELAC fez
pressão diplomática em prol do entendimento Cuba-EUA.

O sociólogo ressalta que o fortalecimento da CELAC é também uma vitória


da diplomacia brasileira, que possui uma participação ativa na organização.
Segundo Sader: “É mais um espaço em que o país exterioriza e concretiza as boas relações
que tem com os países do continente.”

Sader (2015) comenta o estreitamento da CELAC com a China, que


anunciou um “imenso pacote de investimentos” para a região e concretiza
acordos bilaterais com países do bloco. Tal situação, inclusive, teria colaborado
para a reaproximação Cuba-EUA, como forma de contornar certo isolamento.

“Os grandes interlocutores e parceiros dos países do continente acabam


sendo China, Rússia e, dentro do continente, o Brasil. Os Estados Unidos correm
atrás para não ficar tão fora desse novo panorama de intercâmbios econômicos
internacionais”.

DICAS

Ouça entrevista na íntegra publicada em <http://www.redebrasilatual.com.


br/mundo/2015/01/pela-primeira-vez-paises-da-america-latina-e-do-caribe-se-reunem-
sem-a-presenca-dos-eua-8468.html

225
RESUMO DO TÓPICO 3

Neste tópico vimos que:

• A Comissão Econômica para América Latina e Caribe – Cepal é uma das cinco
comissões da Organização das Nações Unidas, criada em 1948, para contribuir
com o desenvolvimento econômico da América Latina e reforçar as relações
econômicas dos países da região em si, e com as demais nações do mundo.
Com o tempo seu trabalho se ampliou para os países do Caribe e incorporou o
objetivo de promover o desenvolvimento social.

• Em 1996, quando da atualização da missão institucional da Cepal, estabeleceu-


se que esta comissão da ONU iria funcionar como centro de excelência na
análise de processos de desenvolvimento, acompanhando, avaliando políticas
públicas, além de prestar serviços operativos nas áreas de informação
especializada, assessoramento, capacitação, apoio à cooperação e coordenação
regional e internacional.

• A Iniciativa para a Integração das Infraestruturas Regional Sul-Americana –


IIRSA se constitui num processo ou fórum de diálogo que busca a promoção
de políticas comuns e essenciais para os países integrantes nas áreas do
transporte, infraestrutura, energia, comunicação. Abordando tais questões
numa perspectiva regional, buscou encorajar as lideranças políticas a
desenvolver iniciativas que respondessem às carências da América do Sul.

• A IIRSA, em nome do desenvolvimento, tem fomentado grandes projetos


e obras, tais como a rodovia transcontinental, hidrelétricas e portos, dentre
outras, os quais têm causado impactos e degradação socioambiental.

• A partir das dificuldades do Mercosul, e da percepção da América do Sul como


horizonte geográfico, o Brasil procurou desviar o foco da integração através de
bloco econômico eminentemente comercial, passando a investir em ações de
coordenação e cooperação política, integração geofísica e de infraestruturas ao
que correspondem a criação da IIRSA e da UNASUL.

• A UNASUL é uma comunidade formada pelos países sul-americanos, com


exceção da Guiana Francesa, que vem se constituindo desde 2004, sob outras
denominações. Em 2007 e 2008 surgiu com o nome de UNASUL e passou a
figurar como organismo internacional. Seus principais objetivos são: construção,
de forma participativa e consensual, de um espaço de integração e de união
nas áreas cultural, social, econômica e política entre os povos, priorizando o

226
diálogo político, as políticas sociais, a educação, a energia, a infraestrutura, o
financiamento e o meio ambiente, entre outros, visando eliminar a desigualdade
socioeconômica, atingir a inclusão social e a participação cidadã, fortalecer a
democracia e reduzir as assimetrias no âmbito do fortalecimento da soberania
e da independência dos Estados.

• A Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos – CELAC surgiu


em 2010, como resultado das decisões e encaminhamentos das Cúpulas de
chefes de Estado, que vinham se reunindo desde 2008. O fato dos países latinos
e caribenhos estarem se reunindo independentemente da intermediação
e supervisão de um Estado do Norte desenvolvido. Os países associados
esperam conformar uma identidade regional própria, ou seja, uma identidade
de uma América Latina e do Caribe, com países que apresentam diversidades
e complexidades, com objetivos em comum.

• A CELAC defende para os países associados o fortalecimento da soberania, do


respeito à legalidade dos vários governos de esquerda eleitos democraticamente
nos últimos anos, os quais, em sua maioria, constituem uma frente anti-
imperialista. Uma das metas mais ousadas da CELAC é a erradicação da
miséria e pobreza que têm assolado os países latinos e caribenhos por séculos.

• A CELAC e a União Europeia já realizaram cúpula para aproximação e


cooperação entre mercados comuns e/ou blocos econômicos. As assimetrias
entre os grupos, e internamente, principalmente na CELAC, são fatores que
tendem a se agravar se os acordos beneficiarem apenas a União Europeia, que
possui maior poder de barganha no comércio internacional.

227
AUTOATIVIDADE

1 A América Latina ocupa posição periférica na economia mundial. Os


países latinos e caribenhos, ora adotam políticas que reforçam esta sua
posição periférica e dependente, ora defendem propostas alternativas para
fazer frente em relação às economias centrais, dependendo muito do grupo
de políticos que está no poder. Diante do contexto apresentado, analise as
afirmativas e escreva V para verdadeiro e F para falso.

( ) O Mercosul e outros blocos econômicos com ênfase no comércio, como


o Pacto Andino, o Mercado Comum Centro-Americano, o Caricom
(Comunidade do Caribe) e o Acordo de Livre Comércio das Américas
- ALCA, constituem iniciativas de integração de alguns países latino-
americanos para promover os seus interesses diante do comércio
internacional.
( ) A aproximação entre o Mercosul e a União Europeia não é relevante para
os EUA, visto que, em 1990, houve um aumento de trocas comerciais
entre esse país e o Mercosul.
( ) O Produto Nacional Bruto (PNB) do Mercosul, entre 1999 e 2001, sofreu
considerável redução, devido à desvalorização da moeda brasileira, o
real, em relação à moeda da Argentina, o que causou a alta dos preços
dos produtos argentinos, paraguaios e uruguaios no mercado brasileiro
e, em consequência, a redução das importações brasileiras de produtos
destes países.
( ) Os subsídios agrícolas, fornecidos pela União Europeia aos seus
agricultores, aumentam a possibilidade de competitividade dos
produtores rurais do Mercosul.

Agora assinale a alternativa com a sequência correta:

a) V – F – V – F
b) F – F – V – V
c) V – V – F – F
d) F – V – F – V

2 Uma das políticas das economias centrais ou do Norte desenvolvido


para manter a posição periférica dos demais países, a política neoliberal,
acompanhada de processos de desregulamentação e privatizações, foi muito
forte na década de 1990 e início da década de 2000. Diante deste contexto, os
países da América do Sul organizaram blocos econômicos, fóruns de diálogo
e associações entre países, e que no decorrer dos anos evoluíram para novas
realidades. Diante do contexto, analise as seguintes afirmativas:

I – O Mercosul e outros blocos econômicos com ênfase no comércio, como


o Pacto Andino, o Mercado Comum Centro-Americano, o Caricom
(Comunidade do Caribe) e o Acordo de Livre Comércio das Américas
228
– ALCA, constituem iniciativas de integração de alguns países latino-
americanos para promover os seus interesses diante do comércio
internacional.
II – A recente aproximação para integração, políticas de alianças e pactos
econômicos entre o Mercosul e União Europeia representam, de um lado,
uma saída para as recentes crises do mundo capitalista e, por outro, uma
alternativa frente ao poderio econômico internacional norte-americano,
incapaz de ser rivalizado por nações de forma individual.
III – A IIRSA, Iniciativa para Integração das Infraestruturas Regionais Sul-
Americanas é um exemplo de associação ou fórum de diálogo agrupando
países para discutir e implementar projetos para grandes obras integrando
diversos setores, como transportes, energia e telecomunicações no
continente sul-americano. Esta instituição surgiu no início da década de
2000, quando a formação de um amplo mercado livre comandado pelos
EUA, a ALCA, estava na pauta de discussões.
IV – Foi Fernando Henrique Cardoso, no ano de 2000, que coordenou a
criação da IIRSA, expressando as ideias defendidas pela política externa
brasileira de integração das infraestruturas da América do Sul se
adequando a uma visão de desenvolvimento sustentável com equidade
de oportunidades para todos os países do subcontinente.

Agora assinale a alternativa correta.

a) As afirmativas I, II e III estão corretas.


b) As afirmativas II, III e IV estão corretas.
c) As afirmativas I, II e IV estão corretas.
d) As afirmativas II e III estão corretas.

3 O final dos anos 50 e o início dos anos 60 viram aumentar a identidade


regional dos países da América Latina e América do Sul. Exemplo deste
movimento foi a iniciativa brasileira de busca de recursos financeiros
estadunidenses para o desenvolvimento econômico local na iniciativa
chamada Operação Pan-Americana (OPA) durante o governo de Juscelino
Kubitschek. Por conta desta iniciativa surgiu, em 1960, o primeiro grupo
de países que buscava a integração dos países sul e latino-americanos.
Assinale a alternativa que mostra a entidade criada:

a) ALCA – Área de Livre Comércio das Américas


b) CEPAL – Comissão Econômica para a América Latina e países Caribenhos
c) ALALC – Associação Latino-Americana de Livre Comércio, mais tarde,
ALADI – Associação Latino-Americana de Integração.
d) Mercosul – Mercado Comum do Cone Sul.

229
230
UNIDADE 3
TÓPICO 4

PROJEÇÃO INTERNACIONAL E
POLÍTICA EXTERNA

1 INTRODUÇÃO
As maiores economias da América Latina são: México, Argentina e Brasil,
que juntos formam um grupo à parte, denominado de economias emergentes.
Suas economias, juntamente com a da Venezuela, representam cerca de 72% do
Produto Interno Bruto - PIB da América Latina e do Caribe, estando entre as
maiores do continente americano ao sul dos Estados Unidos. Apenas a economia
do México supera a soma do PIB das economias da América Central e da América
Andina. Em 2010, o PIB brasileiro foi de aproximadamente 2 trilhões de dólares,
o do México, de 1 trilhão, e o da Argentina, de 368 bilhões. São denominadas de
economias emergentes, por estes países terem iniciado sua projeção no cenário
mundial conforme foram se industrializando no decorrer da segunda metade
do século XX. Esta industrialização, em relação aos países centrais ou do Norte
desenvolvido, está ocorrendo de forma tardia, com características diferentes da
industrialização clássica.

2 A INDUSTRIALIZAÇÃO TARDIA
A diversificação econômica atual do Brasil, México e Argentina se deve,
entre outros fatores, ao fato de terem assumido a dianteira na industrialização de
suas economias em relação a outros países latino-americanos, e pela inserção na
Divisão Internacional do Trabalho – DIT, após a II Guerra Mundial. Com África
do Sul, Índia e China, esses países são denominados países de industrialização
tardia ou retardatária, pois se industrializaram cerca de um século depois dos
países de industrialização clássica ou original. Os países centrais iniciaram suas
revoluções industriais nos séculos XVIII e XIX, e atualmente formam o conjunto
dos países do Norte Industrializado e desenvolvido.

231
UNIDADE 3 | O BRASIL E AS REL. INTER. NA AMÉRICA LAT.: DOS CONFLITOS FRONT. À COOP., INTEG. E LID. REGIONAIS

2.1 PERÍODOS DA INDUSTRIALIZAÇÃO


LATINO-AMERICANA
Ao longo do século XX, alguns acontecimentos favoreceram o
desenvolvimento industrial na América Latina, particularmente no Brasil, no
México e na Argentina. Conheça a seguir alguns deles:

• A Primeira Guerra Mundial – 1914-1918

Durante a Primeira Guerra Mundial, Inglaterra, França, Alemanha e


Estados Unidos, tradicionais fornecedores de produtos industrializados para
a América Latina, diminuíram suas exportações para a região, pois precisaram
direcionar seus recursos e produção industrial para a guerra. Isso estimulou o
desenvolvimento industrial do México, do Brasil, da Argentina e de outros países
da América Latina, que passaram a produzir alguns artigos industriais para
abastecer seus mercados internos, substituindo as importações.

UNI

Enquanto os países em guerra usavam o desenvolvimento econômico e


tecnológico que haviam alcançado para fabricar armamentos, a América Latina começava
a se desenvolver em setores industriais de bens de consumo.

• A Crise de 1929

Para compreender a Crise de 1929 e sua relação com a industrialização


dos atuais países emergentes da América Latina é preciso lembrar que, durante
a Primeira Guerra Mundial, a economia dos Estados Unidos apresentou grande
desenvolvimento: o país abasteceu muitos países europeus de matérias-primas,
alimentos, produtos industrializados e capitais (empréstimo de dinheiro). Dessa
forma, após a Primeira Grande Guerra, quase toda a Europa passou a dever para
os Estados Unidos, que, ainda antes da guerra, era uma grande potência industrial
do mundo e já apresentava grande desenvolvimento econômico.

Entretanto, em 1929, a Europa, praticamente recuperada dos desastres e


prejuízos causados pelo conflito entre 1914 e 1918, diminuiu suas importações
dos Estados Unidos, o que gerou um grande impacto na economia estadunidense.
Houve uma superprodução de produtos agrícolas e industriais, e muitas empresas
começaram a demitir funcionários. As falências se multiplicaram e os setores
da economia mergulharam em uma profunda crise, aumentando o número de
pessoas desempregadas no campo e na cidade.

232
TÓPICO 4 | PROJEÇÃO INTERNACIONAL E POLÍTICA EXTERNA

A crise, além de afetar a economia estadunidense, atingiu muitos outros


países que dependiam das importações feitas pelos Estados Unidos. O Brasil,
por exemplo, era um grande exportador de café para aquele país. Como a
economia brasileira na época dependia quase que exclusivamente da exportação
do café, a diminuição das vendas fez com que muitos cafeicultores fossem à
falência, e o próprio governo, que garantia a compra dos excedentes do café,
consequentemente, entrou em crise. O Brasil sofreu as consequências da crise de
1929 nos setores econômico, social e político.

Com o declínio das suas exportações agrícolas, minerais e demais matérias-


primas, México, Brasil e Argentina, com menos capital, deixaram de ter condições
de importar produtos industrializados para atender suas próprias necessidades.

Diante dessa situação, homens de negócios que haviam enriquecido com


as exportações agropecuárias e de matérias-primas, aproveitando o conhecimento
de técnicas trazidas pelos imigrantes europeus, passaram a investir no setor
industrial com o apoio do governo de seus países. Isso favoreceu o surgimento
das fábricas nacionais e permitiu a substituição das importações de diversos
produtos.

• A Segunda Guerra Mundial – 1939-1945

A Segunda Guerra Mundial estimulou a expansão industrial de alguns


países da América Latina por razões semelhantes às da Primeira Grande Guerra.
Diante da impossibilidade de importar produtos industriais, se retomou o
processo de industrialização por meio da substituição de importações na América
Latina. Várias indústrias de capitais nacionais, aproveitando-se desse cenário
favorável, consolidaram-se, sobretudo no Brasil, no México e na Argentina.

Durante a guerra, por exemplo, a frota de veículos do Brasil, importados


principalmente dos Estados Unidos, ficou ameaçada de paralisação por falta
de peças para reposição. Diante disso, muitos torneiros-mecânicos passaram a
fabricá-las. E foi assim que surgiu no Brasil a Fábrica Nacional de Motores - FNM.
Quando a guerra chegou ao fim, as chamadas “fábricas de porão” já tinham se
transformado em indústrias de autopeças. Isso também ocorreu em outros ramos
industriais.

• De 1950 aos dias atuais

No início do período pós-guerra, grandes empresas industriais e de


serviços transnacionais estadunidenses e europeias intensificaram a instalação
de filiais em países da América Latina, África e Ásia, visando a ampliação de
capital e poder econômico no contexto do processo da globalização da produção,
da economia e das finanças. Para isso, passaram a contar com a publicidade e
propaganda a fim de divulgar seus produtos pelos meios de comunicação, como o
rádio, o jornal e a televisão, atingindo grande número de pessoas e influenciando
seus hábitos de consumo.

233
UNIDADE 3 | O BRASIL E AS REL. INTER. NA AMÉRICA LAT.: DOS CONFLITOS FRONT. À COOP., INTEG. E LID. REGIONAIS

Desse modo, a partir de 1950 ocorreu uma intensa internacionalização da


economia da América Latina, estimulada pela participação crescente de poderosas
empresas transnacionais em vários setores da economia.

Na década de 1990, com a abertura da economia mundial (com a


implantação das políticas neoliberais), resultando consequentemente no aumento
de facilidades para a exportação e importação, somada à aceleração do processo
de globalização, a concorrência entre as empresas nacionais e estatais latino-
americanas com as transnacionais se acirrou. Para se manterem competitivas,
muitas empresas nacionais foram obrigadas a passar por um processo de
modernização tecnológica e de gerenciamento de seus negócios, enquanto muitas
empresas estatais foram privatizadas.

• Diversificação econômica e inserção global

As maiores economias da América Latina são distintas entre si, e cada


uma delas trilhou diferentes caminhos de desenvolvimento para enfrentar as
incertezas e oportunidades da economia global. Enquanto o México, em 1992, se
aliou aos Estados Unidos e ao Canadá, aderindo ao Tratado de Livre Comércio
da América do Norte – NAFTA, o Brasil e a Argentina passaram a integrar o
Mercado Comum do Sul – Mercosul.

Nos últimos anos, Brasil, Argentina e México aprofundaram sua integração


comercial com outros países e regiões do globo. Isso se deve, entre outros motivos,
à sua diversificação econômica e ao desenvolvimento de parques industriais com
emprego de tecnologia, que se destacam no contexto regional.

Brasil e Argentina, além do Chile, destacam-se por terem diversificado


mais intensamente o destino de suas exportações, sobretudo no mercado asiático,
principalmente Índia e China. O México, por sua vez, manteve o predomínio das
relações comerciais com os Estados Unidos (em torno de 80%) e diversificou o
destino das demais exportações.

3 O BRASIL NO CONTEXTO INTERNACIONAL


O Brasil sempre foi um país grande em termos absolutos. Está entre os cinco
maiores do mundo em termos de população e território, e entre as dez maiores
em peso econômico. É o maior da América do Sul e da América Latina, com quase
metade do território, população, produção e recursos. Ele é considerado uma das
potências médias emergentes, um dos principais países do continente e, para os
mais otimistas, uma das maiores potências no futuro previsível, no contexto do
BRICS, com Rússia, Índia, China e África do Sul ou em sua própria dimensão.
Assim, o Brasil enquanto potência regional tanto na América do Sul quanto na
América Latina e Caribe, busca ampliar sua participação na política e na economia
mundial pelas práticas da diplomacia e da cooperação. (VEDOVATE, 2010).

234
TÓPICO 4 | PROJEÇÃO INTERNACIONAL E POLÍTICA EXTERNA

A sua importância econômica e política, especialmente diplomática,


cresceu ainda mais nos últimos tempos, tornando-se um jogador-chave em
várias negociações multilaterais, como na reunião da Organização Mundial do
Comércio (OMC) em Doha, destacando-se tanto no G-20 comercial como em
fóruns multilaterais ou no G-20 financeiro, por exemplo.

NOTA

O grupo G-20 financeiro agrega 19 Estados mais a UE. Os Estados são: EUA,
Canadá, Alemanha, Reino Unido, Itália, França, União Europeia, Rússia, Japão, Turquia, Arábia
Saudita, China, Índia, Coreia do Sul, Indonésia, Austrália, África do Sul, Brasil, Argentina e
México. A representatividade do G-20 financeiro é muito grande, pois, somados os países
membros, eles possuem aproximadamente 90% do produto nacional bruto mundial, 80%
do comércio internacional e cerca de 65% da população do planeta.

O grupo denominado G-20 comercial reúne os países emergentes que buscam também
se fortalecer entre si e países menos desenvolvidos, se preocupando principalmente com
relações comerciais entre países ricos e emergentes. Este grupo, que já agrega mais de 20
países, nasceu em 2003, em uma reunião ministerial da Organização Mundial do Comércio
– OMC realizada na cidade de Cancún, no México. Liderado pelo Brasil, o grupo procura
defender os interesses agrícolas dos países em desenvolvimento perante as nações ricas,
que fazem uso de subsídios para sustentar sua produção. O G-20 Comercial é integrado
por países de três continentes: África do Sul, Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, China, Cuba,
Egito, Equador, Filipinas, Guatemala, Índia, Indonésia, México, Nigéria, Paquistão, Paraguai,
Peru, Tailândia, Tanzânia, Uruguai, Venezuela e Zimbábue (são 23 ao total). O agrupamento
representa 60% da população rural, 21% da produção agrícola, 26% das exportações e 18%
das importações mundiais de grãos.

4 A POLÍTICA EXTERNA BRASILEIRA


O conceito de geopolítica criado com base no trabalho do geógrafo
alemão Friedrich Ratzel, no final do século XIX, remete à noção de instrumento
da política externa de um país, baseado na valorização de seu espaço ou território
como forma de exercer a hegemonia mundial. Ratzel defendia a ideia de que
para ser uma potência e conquistar hegemonia mundial era preciso conhecer a
fundo a geografia dos outros países. Vantagens geoestratégicas (disponibilidade
de recursos energéticos e minerais) justificariam sua anexação. Conhecida como
geopolítica clássica, a teoria de Ratzel ainda hoje é usada pelas potências mundiais
para desenvolver suas políticas externas. No entanto, existem outras teorias, mais
contemporâneas, sobre a geopolítica, nas quais se destaca a ideia de ciência, cuja
sistematização e prática de estratégias do Estado para melhor administrar seu
território com vistas à sobrevivência de seu povo e sua melhor inserção no plano
internacional constitui a essência da mesma. No entanto, Vedovate (2010, p.196)
ressalta que há exceções:

235
UNIDADE 3 | O BRASIL E AS REL. INTER. NA AMÉRICA LAT.: DOS CONFLITOS FRONT. À COOP., INTEG. E LID. REGIONAIS

Alguns Estados agem de modo que essas estratégias garantam a


integração de seu território, usufruindo as possíveis riquezas nele
existentes. O Brasil é um desses Estados. Por outro lado, há os que,
além de pensar em estratégias do ponto de vista de seu território,
visam a expansão militar de seus domínios. É o caso dos Estados
Unidos.

Após a Segunda Guerra Mundial, a política externa brasileira se


intensificou e se voltou para o fortalecimento da liderança do Brasil na América
do Sul, para uma participação mais ativa no mundo, num contexto marcado pela
ordem bipolar e Guerra Fria. Foi necessário investir na formação de profissionais
qualificados para representar o país no exterior. A criação do Instituto Rio
Branco, em 1945, teve papel preponderante na formação de diplomatas que
representassem e defendessem os interesses do Brasil em outros países.

A atual política externa brasileira não se baseia na anexação de territórios


alheios ou no poderio militar para ampliar sua participação e influência no
mundo. O enfoque da geopolítica brasileira é contemporâneo: fundamenta-se na
cooperação e no estabelecimento de parcerias que ofereçam vantagens comerciais
ao país. Assim, a política externa brasileira não pretende impor seus interesses
por meio da força, assim como não aceita coação ou pressão por parte de outros
países ou organizações internacionais. A diplomacia parte do princípio de que
não há, em relação ao Brasil, inimigos ou desafetos. Todos os países são potenciais
parceiros comerciais. Em Brasília, o Palácio do Itamaraty é a sede do Ministério
das Relações Exteriores, ou seja, o Itamaraty é a casa da política externa brasileira.
Desde 1990, as estratégias de parceria e de cooperação possibilitaram acordos
com vários países do mundo.

4.1 A LIDERANÇA REGIONAL NEM


SEMPRE FOI BEM ACEITA
O Brasil assumiu uma liderança regional informal pelo peso de sua
economia, potencial do mercado consumidor e pela atitude de seus dirigentes de
estarem sempre prontos para a cooperação, empreendendo esforços conjuntos
para a união física, pela abolição das barreiras comerciais e de investimento, bem
como, na adoção de uma política diplomática profissional, respeitadora, com
seriedade e constância de propósitos.

O fato do Brasil ser um país extenso territorialmente, mesmo sem


considerar o peso de um passado expansionista, é relevante. A projeção externa
do Brasil cresceu e consolidou-se nos últimos 15 anos, com a natural ampliação
de sua agenda externa, tanto econômica como política, e com uma atuação
mais desinibida. Apesar do Brasil apoiar uma união aduaneira vinculativa
para a formação e implementação de políticas econômicas com impacto no
exterior, tem tomado atitudes questionáveis que nem sempre levam em conta
os interesses dos países vizinhos que integram o Mercosul. Algumas medidas

236
TÓPICO 4 | PROJEÇÃO INTERNACIONAL E POLÍTICA EXTERNA

permanecem relativamente protecionistas quando as disposições em matéria


de acesso ao mercado e normas regulamentares afetam o comércio regional.
De fato, a burocracia do Estado brasileiro é enorme, e nem sempre está atenta
às peculiaridades do ambiente regional na definição das políticas setoriais que
impedem ou limitam, em vez de facilitar a integração. (ALMEIDA, 2010).

Da mesma maneira, neste cenário nebuloso e contraditório da liderança


do Brasil na região, ou possível prática de subimperialismo (MIYAMOTO, 2009),
as orientações da diplomacia profissional do Itamaraty no governo de Fernando
Henrique Cardoso eram para não utilizar precisamente a palavra liderança,
sabendo que a simples menção da ideia traria impacto negativo sobre a região.
A diplomacia do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no entanto, foi diferente.
A região estava passando por uma fase de eleição de líderes progressistas ou de
esquerda, e a reorientação parcial das políticas externas dos países era no sentido
de um maior distanciamento de Washington, motivada pela pouca empatia que o
presidente George Bush havia despertado no subcontinente. Diante do contexto,
seria possível reunir um maior número de países sul-americanos parceiros, os
quais reuniram-se em torno de uma plataforma comum de iniciativas algumas
mais simples, como a rejeição da Associação do Livre Comércio das Américas
- ALCA, projeto estadunidense de uma zona americana de livre comércio
hemisférica, e outras mais ousadas e até utópicas, como, por exemplo, uma
integração econômica e política aos moldes da União Europeia. (AMARAL, 2014).

Nos últimos anos, durante os quatro anos do primeiro governo de Dilma


Rousseff, entre 2011 e 2014, no entanto, as relações internacionais do Brasil
atravessam um período caracterizado pelo declínio relativo, se comparado aos
períodos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

UNI

Adas (2011) utiliza a expressão subcontinente para se referir à América do Sul,


ou à América Latina, como uma parte do continente americano e não no sentido de
subdesenvolvimento.

237
UNIDADE 3 | O BRASIL E AS REL. INTER. NA AMÉRICA LAT.: DOS CONFLITOS FRONT. À COOP., INTEG. E LID. REGIONAIS

FIGURA 77 – SUBCONTINENTES DA AMÉRICA

FONTE: Disponível em: <http://clikaki.com.br/caracteristicas-do-continente-


americano/>. Acesso em: 29 out. 2015.

O afastamento do projeto estadunidense contou com a ajuda dos


presidentes da Venezuela, Hugo Chávez, e da Argentina, Cristina Kirchner.
As lideranças sul-americanas optaram em construir um programa de trabalho
conjunto que juntasse todos os países da região, sem a intermediação e/ou
interferência de um país central ou do Norte industrializado. Dentre os resultados,
apesar de limitados, está o projeto originalmente concebido por Fernando
Henrique Cardoso, Iniciativa para Integração das Infraestruturas Regionais
Sul-Americanas – IIRSA, a União das Nações Sul-Americanas – UNASUL e a
Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos. No entanto, como
era de se esperar no mundo de negócios, o descarte adequado da ALCA não
impediu que alguns países tivessem sucesso, de forma individual, em alcançar
acordos sobre livre comércio com os EUA, a exemplo do Chile, Colômbia e Peru,
para não mencionar toda a América Central, que já haviam sido contemplados
por programas dos EUA mediante associação própria.

O Brasil tem praticado, durante o governo Lula, uma diplomacia


cujo diferencial contou com o desenvolvimento de vários projetos para o
continente que contaram com financiamento com recursos do Banco Nacional
de Desenvolvimento (BNDES). No Mercosul, foi o principal defensor de uma
correção das "assimetrias" de fundo, onde 70% do financiamento foram destinados
principalmente para parceiros menores. O Brasil também criou um programa
de "substituição de importações" especificamente concebido para aumentar as
compras de produtos na região, apesar dos saldos comerciais bilaterais, que se
mantêm persistentemente em seu favor.

4.2 SONHANDO COM MAIOR


PRESENÇA INTERNACIONAL
O Brasil continua as tentativas para obter maior prestígio e influência nas
instâncias internacionais e no campo da política mundial. Desde os governos

238
TÓPICO 4 | PROJEÇÃO INTERNACIONAL E POLÍTICA EXTERNA

de Lula, a diplomacia brasileira tem como objetivo um assento permanente no


Conselho de Segurança das Nações Unidas. Esta era uma das principais metas,
talvez a primeira, dentre três prioridades da política de relações exteriores. Os
dois outros objetivos da política externa brasileira foram: o fortalecimento e
ampliação do Mercosul e a conclusão de negociações comerciais multilaterais.
Nenhum destes objetivos foi alcançado e, segundo especialistas, ainda é pouco
provável sua obtenção, mesmo em médio prazo. Os primeiros passos para
alcançar o primeiro objetivo foram dados por propor um plano de combate à
fome através de programas existentes no mundo - e uma participação ativa na
operação de estabilização do Haiti, considerado uma espécie de cartão de entrada
para o Conselho de Segurança. Especificamente para apoiar a aspiração do Brasil
a um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU, empréstimos
foram concedidos e dívidas bilaterais de alguns países em desenvolvimento
foram toleradas. (ALMEIDA, 2010).

Com base nestes objetivos, foram realizadas pelo presidente Lula


inúmeras viagens e visitas presidenciais para diferentes países. Foram também
sugeridos e implementados programas de cooperação internacional, através da
rede de embaixadas no exterior, como, por exemplo, foram lançados acordos em
nível Sul-Sul, como os que já vinham se concretizando com a criação do grupo
diplomático IBAS - Índia, Brasil e a África do Sul (ou G-3), cujos esforços visam a
realização de duas reuniões regulares de cúpulas, onde se propõe juntar países da
América do Sul, por um lado, e o máximo de países africanos, árabes e asiáticos,
por outro. Desde cerca de 1990, Índia, Brasil e África do Sul procuram elevar seu
perfil internacional, pois são potências intermediárias e atores de destaque em
suas regiões, além de serem democracias consolidadas e economias em ascensão,
enfrentando dificuldades e desafios internos semelhantes, destacando-se a grande
desigualdade social interna dos três países.

O ativismo da diplomacia brasileira também foi exercido em outras


direções, sempre com um grande reforço para publicidade em torno da figura
do presidente Lula, que recebeu muitos prêmios internacionais, incluindo
na Espanha, onde foi galardoado com o Prêmio Príncipe Astúrias. Além de
seus próprios atributos, intimamente ligada ao seu carisma, o presidente Lula
reforçava a sua capacidade de diálogo, através das articulações entre partidos
opostos. E esta habilidade de dialogar, de articular e de negociar o conduziram no
plano internacional, vinculando sua diplomacia com questões difíceis de resolver
na arena internacional. Assim, aventurara-se em discutir possíveis decisões em
relação aos conflitos no Oriente Médio, especialmente a questão palestina e sobre
pesquisa em energia nuclear pelo Irã. Outros aspectos menos destacados na
imprensa internacional são a inversão do Brasil no campo dos direitos humanos,
com as ditaduras abertas ou veladas no terceiro mundo e baixo compromisso
com a defesa do apoio à democracia na própria região, especialmente em casos
de Venezuela e Cuba. (ALMEIDA, 2010; BANDEIRA 2008).

239
UNIDADE 3 | O BRASIL E AS REL. INTER. NA AMÉRICA LAT.: DOS CONFLITOS FRONT. À COOP., INTEG. E LID. REGIONAIS

FIGURA 78 – EX-PRESIDENTE LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA COM DIFERENTES AUTORIDADES


POLÍTICAS MUNDIAIS

O ex-presidente cubano Fidel Castro Hugo Chaves com o então presidende


e o ex-presidente brasileiro Lula Luiz Inácio Lula da Silva durante
conversando em setembro de 2003. uma cerimônia em Recife, em 2005.

Em Ramallah, Lula diz que aceita


conversar com o Hamas e sugere
que crise entre EUA e Isrrael...

O presidente Luiz Inácio Lula da


A chanceler alemã Angela Merkel,
Silva usa lenço palestino durante
o presidente Lula e o presidente
inauguração da Rua Brasil junto com
americano Barack Obama conversam
o primeiro-ministro da Autoridade
durante cúpula dos líderes do G20,
Nacional Palestina, Salam Fayyad,
realizada em Pittsburgh.
em Ramallah, na Cisjordânia - AFP.

FONTE: Disponível em: <http://oglobo.globo.com/mundo/lula-tenho-orgulho-de-ter-convivido-trabalhado-


com-chavez-7751566> e <http://blog.planalto.gov.br/2009/09/page/3/>. Acesso em: 29 out. 2015.

As credenciais para o Brasil chegar a assumir um papel mais importante


no cenário internacional baseiam-se na estabilidade política do seu regime
democrático, na continuação de políticas econômicas responsáveis e​ relativa
abertura ao investimento internacional. As aproximações diplomáticas,
especialmente no contexto Sul-Sul e no âmbito do BRIC, também serviram para

240
TÓPICO 4 | PROJEÇÃO INTERNACIONAL E POLÍTICA EXTERNA

obter destaque na mídia. No entanto, nos últimos meses, dos quatro BRICS, o
Brasil é o país com o menor crescimento relativo, embora possuindo estruturas de
mercado mais consolidadas e a capacidade de projeção militar menor. Ele estava
fazendo um grande esforço no sentido de acumulação de reservas internacionais,
mas os principais pontos fracos do Brasil estão localizados, de fato, internamente,
não em suas conexões internacionais. Eles são, acima de tudo, a excessiva carga
tributária e investimento produtivo insuficiente, não esquecendo as deficiências
educacionais da sua população, o que limita as possibilidades de maior
crescimento e inovação tecnológica com uma qualidade competitiva em nível
mundial. (ALMEIDA, 2010)

Finalmente, tanto dentro da América do Sul, como na América Latina,


o Brasil é o maior país em termos econômicos, demográficos e físico-espacial,
tende a assumir naturalmente a liderança e a hegemonia num processo de
integração que beneficiará todos os países envolvidos. No entanto, o Brasil terá
que fazer um enorme esforço para implementar reformas de modernização, com
vista à organização do sistema de produção, melhorar a sua criação científica
e tecnológica, e preparar as suas forças armadas para levar a cabo iniciativas e
propostas para realmente aumentar a sua influência e prestígio internacional,
sem necessariamente exercer subimperialismo. (MIYAMOTO, 2009). Desprovido
de quaisquer ameaças ou potenciais conflitos na arena geopolítica, o Brasil tem
pelo menos a vantagem de que nenhuma das reformas que têm de ser realizadas
no futuro imediato depende, em nenhum grau, de circunstâncias externas. Elas
só dependem, única e exclusivamente, da vontade nacional e da visão de sua
liderança política.

5 BRASIL: LIDERANÇA E TENSÕES NA


INTEGRAÇÃO SUL-AMERICANA
Nos últimos anos, o Brasil consolidou a liderança no processo de integração
regional entre os países da América do Sul. Embora esse fato seja reconhecido
pelos países vizinhos, por vezes surgem acusações de que o governo brasileiro
promove uma política de expansão econômica e cultural no subcontinente, uma
espécie de subimperialismo. (ADAS, 2011).

No entanto, a principal crítica dirigida ao governo brasileiro está


relacionada à forma pela qual o país vem promovendo a política de integração na
posição de potência regional. Nos últimos anos, o governo do país vem defendendo
os interesses das empresas estatais e do empresariado brasileiro, ajudando-os a
expandir seus negócios na América do Sul. Para agravar as críticas, essa política
de apoiar os agentes econômicos brasileiros a ampliar o comércio e a venda de
serviços no espaço regional também tem sido acompanhada pela aquisição de
empresas e propriedades nos países sul-americanos vizinhos. A Petrobrás, por
exemplo, empresa brasileira estatal do setor petrolífero e gás natural, atua em
quatro continentes (América, Europa, África e Ásia) e em todos os países sul-
americanos, ilustrando a dimensão assumida pela presença brasileira na economia
do subcontinente. (ADAS, 2011).
241
UNIDADE 3 | O BRASIL E AS REL. INTER. NA AMÉRICA LAT.: DOS CONFLITOS FRONT. À COOP., INTEG. E LID. REGIONAIS

5.1 A PRESENÇA DA PETROBRÁS NA


BOLÍVIA E NO EQUADOR
A hegemonia econômica do Brasil tem gerado, nos últimos anos, alguns
impasses diplomáticos, ligados, principalmente, a questões de ordem energética.
Veja a seguir alguns destes casos.

Após submeterem a questão do Acre ao arbitramento internacional,


no decorrer do século XX, um conjunto de eventos colabora para uma maior
aproximação do Brasil e Bolívia e, sob a ótica brasileira, a Bolívia passou a figurar
na zona de influência brasileira. Nesta década e meia do novo milênio em que as
fronteiras estão sendo ressignificadas, a segurança na fronteira passa por novos
arranjos diante de novas realidades; o avanço da fronteira agrícola com cultivo
de soja pelo Cerrado do Brasil chega ao Paraguai e à Bolívia; as migrações de via
dupla crescem cada vez mais; a importação de gás natural boliviano pelo Brasil
forma a pauta de temas tratados entre as chancelarias dos dois países.

Entre 1996 e 2006, a Petrobrás conquistou uma grande participação na


economia boliviana. Em 2006 era responsável por 20% dos investimentos diretos
estrangeiros na Bolívia, representava 18% do PIB total do país e respondia por
24% da arrecadação dos impostos.

Em 2007, a Petrobrás vendeu para a empresa estatal boliviana Yacimientos


Petrolíferos Fiscales Bolivianos – YPFB as duas maiores refinarias do país, a de
Guilhermo Elder Bell, localizada em Santa Cruz de La Sierra, e a de Guadalberto
Villarroel, em Cochabamba. Isso ocorreu depois de manifestações com repercussão
internacional que sucederam a posse de Evo Morales, em 2006 – como a ocupação
das refinarias da Petrobrás pelo Exército boliviano em decorrência da política
de nacionalização das empresas estrangeiras em atividade no país, adotada pelo
governo de Morales. Depois desses eventos, houve ainda negociações tensas
entre o governo boliviano e as empresas brasileiras.

Ao assumir o governo da Bolívia, considerado o país mais pobre da


América do Sul, Evo Morales implementou um programa de ação, onde declarou
a nacionalização dos hidrocarbonetos, refinarias, distribuidores e postos de
combustíveis. Com a medida, o Estado boliviano passou a ser sócio majoritário
dessas empresas, controlando 50% mais 1 das ações. Assim, as reservas de gás, antes
exploradas livremente por empresas estrangeiras, passaram para propriedade do
Estado, que sob novas regras “controla” a exploração. Os impostos passaram de
50% para 82%.

242
TÓPICO 4 | PROJEÇÃO INTERNACIONAL E POLÍTICA EXTERNA

UNI

Caro acadêmico, vamos à reflexão: Como, na época, o presidente do Brasil era


Luís Inácio Lula da Silva, representante do Partido dos Trabalhadores, este optou por não
fazer nenhuma retaliação ao governo vizinho. Se estivesse no poder central de Brasília um
representante de um partido de direita, qual teria sido o desfecho deste impasse com a Bolívia?

Apesar das perdas econômicas da Petrobrás na Bolívia, o governo


brasileiro procurou manter boas relações com esse país, contornando a crise
diplomática por considerar importante a participação do país vizinho na
realização da integração física sul-americana. Essa avaliação tem seus motivos.

No setor energético, e por sua condição geográfica, a Bolívia é o


único país do continente que integra ao mesmo tempo os sistemas Andino,
Amazônico e do rio da Prata. Os eixos da interligação continental da
Integração da Infraestrutura Regional Sul-Americana – IIRSA atravessam
o território boliviano, permitindo acesso ao Oceano Pacífico. Desse modo,
a construção de corredores de exportação e de importação previstos pelo
Eixo Interoceânico Continental, vitais para o acesso facilitado do Brasil ao
dinâmico mercado asiático – depende de boas relações com a Bolívia.

DICAS

Para saber mais sobre a Petrobrás, apesar da crise, pesquise no site <www.
petrobras.com.br>.

UNI

É importante saber que o IDE - Investimento Direto Estrangeiro é o investimento


de capital (dinheiro) de um país em outro na criação de novas empresas ou na participação
acionária de empresas já existentes.

Nacionalização: processo de encampação ou tomada de posse (com ou sem indenização)


pelo Estado de uma empresa estrangeira.

243
UNIDADE 3 | O BRASIL E AS REL. INTER. NA AMÉRICA LAT.: DOS CONFLITOS FRONT. À COOP., INTEG. E LID. REGIONAIS

Em 2008, as relações diplomáticas de Brasil e Equador tornaram-se tensas


devido a uma série de medidas tomadas pelo governo do presidente equatoriano
Rafael Correia, envolvendo empresas brasileiras que atuam no país. As tensões
se originaram dos problemas técnicos ocorridos com a Usina Hidrelétrica San
Francisco, cujo funcionamento foi paralisado em 6 de junho de 2008, em virtude
de rachaduras nos túneis condutores de água. O governo equatoriano acusou a
empresa construtora responsável pela obra (presente no país há mais de 20 anos)
de ter cometido erros de fiscalização, além de ter utilizado materiais de qualidade
inferior nas obras.

O fato adquiriu gravidade política quando o governo do Equador


publicou um decreto presidencial determinando o embargo de todos os bens
da construtora no país, a ocupação militar das obras onde atuava e a proibição
de que quatro representantes da empresa saíssem do país. Chamou a atenção
internacional quando o presidente equatoriano estava estudando a possibilidade
de não pagar o empréstimo de 243 milhões de dólares concedido pelo Brasil, por
meio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social – BNDES. Esse
problema acabou afetando outros projetos realizados por empresas no Equador.
Além desse fato, o Brasil teve que lidar com a ameaça do governo equatoriano em
nacionalizar as jazidas de petróleo do país, exploradas pela Petrobrás. Em razão
desses impasses, houve a firme atuação do Ministério das Relações Exteriores do
Brasil, perante o governo equatoriano, na busca de soluções.

É importante ressaltar que apesar destes fatos tensos, a cooperação entre


o Brasil e os demais países sul-americanos não poderá ser somente econômico-
comercial, mas sim em diversas áreas, como a de pesquisa e desenvolvimento,
em educação, científico-espacial e nuclear, socioambiental e gerenciamento de
riscos, a fim de que as assimetrias entre os países diminuam, tornando-os mais
homogêneos. As tendências mostram que o debate se aprofundará com o passar
dos anos, pois o processo de integração sul-americana continua em curso, tendo
em vista a expansão geográfica do Mercosul - entrada da Venezuela e da Bolívia
como membros plenos, e a implementação de organizações de abrangência sul-
americana, como a UNASUL e abrangência latino-americana, como a CELAC -
Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos.

DICAS

Assista à sinopse sobre o assunto na reportagem: <https://www.youtube.com/


watch?v=ArmRPAUd99I>.

244
TÓPICO 4 | PROJEÇÃO INTERNACIONAL E POLÍTICA EXTERNA

LEITURA COMPLEMENTAR

AS CONCLUSÕES DE DANIEL HUERTAS (2015) SOBRE A INTEGRAÇÃO


DOS TRANSPORTES RODOVIÁRIOS NA AMÉRICA DO SUL

A pesquisa de Huertas (2015) demonstra nitidamente o papel proeminente


do eixo Uruguaiana-São Borja e de Foz do Iguaçu como nodais secundários
monofuncionais por causa de sua situa­ção geográfica de acesso ao Mercosul.
O intenso fluxo de comércio Brasil-Argentina e o considerável movimento
de importação realizado pelo Paraguai a partir do Porto de Paranaguá para
abastecer os mercados de Ciudad del Este, Pedro Juan Caballero e Salto del
Guaíra acabam justificando os números expostos.

O recente ingresso da Venezuela no Mercosul poderá incrementar o


fluxo rodoviário na BR-174 entre Manaus e Pacaraíma, assim como a iminente
entrada da Bolívia no bloco – a transportadora gaúcha La Asuncena e a boliviana
Transfepaje anunciaram no início de 2012 a implantação de uma rota semanal
de carga fracionada entre Guarulhos e Santa Cruz de La Sierra, com duração de
seis dias.

No caso do país caribenho, a capital amazonense exerce um papel


de centro redistri­buidor, que neste caso ainda oferece possibilidades para o
comércio com a Guiana por Bonfim (RR) e Lethem, pela BR-401 e travessia do
Rio Tacutu em ponte já inaugurada. Esta obra, assim como a construção da
ponte sobre o Rio Oiapoque, na fronteira com a Guiana Francesa, faz parte de
um amplo portfólio de projetos (muitos deles bastante criticados) desenvolvido
pela Iniciativa para a Integração da Infraestrutura Regional Sul-Americana
(IIRSA), que em 2011 foi absorvida como uma espécie de “braço logístico” da
União das Nações Sul-Americanas (UNASUL), no âmbito do Conselho Sul-
Americano de Infraestrutura e Planejamento.

Fora do âmbito do Mercosul, mas na esfera sul-americana, é provável


ainda que o tráfego seja gradativamente ampliado em Assis Brasil (AC), fronteira
com a peruana Iñapari, na medida em que a recém-inaugurada “Rodovia do
Pacífico” for sendo des­coberta e mais utilizada, já que garante acesso aos portos
peruanos e chilenos. Neste caso, Porto Velho vive a expectativa de se tornar um
importante entreposto logístico na saída para os portos do Oceano Pacífico. Da
capital rondoniense a Assis Brasil são 778 km pelas BRs 364 e 317, passando
por Rio Branco. A estrada segue por Puerto Maldonado, na Amazônia peruana,
antes de subir os Andes em direção a Juliaca, de onde se abrem os caminhos
para os portos de Ilo, Arica e Matarani.

FONTE: Disponível em: <http://dialnet.unirioja.es/descarga/articulo/5113987.pdf>. Acesso em: 3


nov. 2015.

245
RESUMO DO TÓPICO 4

Neste tópico vimos que:

• O Brasil é uma economia emergente, uma potência regional no continente


sul-americano, apesar de continuar apresentando grandes disparidades e
desigualdades sociais internas.

• Além do Brasil, México e Argentina também são considerados emergentes, e


juntamente com a Venezuela, os quatro países respondem por cerca de 70% do
Produto Interno Bruto – PIB, produzido na América Latina.

• A industrialização tardia dos países emergentes ocorreu como resultado de


um conjunto de transformações (internas e externas), nas quais se destacaram
alguns eventos de repercussão internacional, a saber: Primeira Guerra Mundial,
Crise na Bolsa de Valores em 1929, Segunda Guerra Mundial, a expansão das
filiais das empresas multinacionais e transnacionais após 1950.

• Na América do Sul e na América Latina o Brasil tem sido líder e articulador de


várias iniciativas, a exemplo da IIRSA, UNASUL e CELAC.

• Contudo, algumas situações dentro da América do Sul podem ter sido


interpretadas pelos países vizinhos como ações subimperialistas, as quais se
manifestam em pontos de atrito e de tensões.

• As diferenças entre as exportações e importações entre o Brasil e o restante dos


países sul-americanos são consideradas pelos demais países entraves para uma
integração plena, simétrica e com equidade. O mercado consumidor brasileiro
é cobiçado pelos países vizinhos, porém o mercado interno brasileiro continua
protegido. O Brasil exporta muito mais do que importa.

• Apesar da estagnação e limitações do Mercosul, ocorreram avanços. O Brasil


utilizou a criação do Mercosul como caminho estratégico para consolidação
de sua imagem no cenário internacional como líder regional, como potência
mundial média, e para um relativo exercício de poder opinando sobre questões
mundiais.

• O Brasil, sozinho e com o Mercosul, tem se destacado no cenário internacional,


principalmente na área econômica, como grande exportador de commodities e
de diversos produtos industrializados, atingindo superávits em sua balança
comercial.

246
• A política externa e a diplomacia brasileira também têm projetado o país e
seus líderes políticos no cenário internacional, os quais participaram em várias
negociações multilaterais.

• O Brasil tem adotado nos últimos anos uma postura geopolítica de valorização
de seu território, com vistas à sobrevivência de seu povo, para obter uma melhor
projeção e inserção no plano internacional. Sua geopolítica fundamenta-se na
cooperação entre as nações e no estabelecimento de parcerias que ofereçam
vantagens ao país, mas também aos parceiros, numa postura de que todos os
países são potenciais parceiros comerciais.

• Assim, o presidente Lula oficializou uma política externa para o continente


sul-americano onde a concepção abrangeu diversos valores que a permearam:
caráter não hegemônico da liderança; a solidariedade e generosidade; e a
ênfase nos objetivos comuns da região.

• Pelo peso de sua economia emergente, pelo potencial de seu mercado


consumidor e dimensão territorial, o Brasil assumiu uma liderança regional
informal, uma vez que nem sempre são levados em consideração os interesses
dos países vizinhos parceiros no Mercosul, UNASUL ou CELAC. Esta
liderança relativa e informal pode ser confundida com uma possível prática
de hegemonia ou supremacia no subcontinente.

• O desmantelamento do projeto da Área de Livre comércio das Américas -


ALCA também contribui para o exercício da liderança regional brasileira, para
a organização de fóruns de diálogos e associações de países como os que se
agruparam em torno da CELAC. No entanto, entraves burocráticos limitam a
definição de políticas setoriais que poderiam facilitar a integração.

247
AUTOATIVIDADE

1 O Brasil, por sua dimensão territorial, demográfica e econômica, tem se


projetado como liderança regional, fazendo com que, nos últimos anos,
se formasse uma equipe de embaixadores e outros profissionais para
responder pela política externa brasileira, juntamente com a equipe
presidencial, uma vez que o presidente no Brasil é Chefe de Governo e
Chefe de Estado. Observa-se a continuidade na formulação e execução de
programas e ações, por exemplo, no que concerne à prioridade atribuída
à América do Sul e à aproximação de países em desenvolvimento. Diante
deste contexto, assinale a resposta correta:

a) No início da segunda metade do século XX o Brasil e a Argentina deram os


primeiros passos para uma aproximação, depois de séculos de conflitos,
desconfianças e tensões.
b) O Brasil e a Argentina se aproximaram apenas na década de 1980, com a
assinatura dos acordos comerciais bilaterais.
c) Durante os governos militares na Argentina e Brasil ocorreram várias
reuniões entre lideranças políticas e embaixadores dos dois países,
consolidando uma aproximação, depois de séculos de rivalidades e tensões.
d) Foi na década de 1990 que o Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai se
aproximaram diplomaticamente depois de séculos de conflitos, rivalidades
e tensões.

2 No início da década de 2000, em um contexto de ordem mundial multipolar


e de redução do engajamento estadunidense na América do Sul, o Brasil
encontra espaço para exercer um papel cada vez maior de liderança
regional, condizente com o seu crescente peso econômico no subcontinente
e no mundo. A partir de então, o país assume gradativamente a função
de articulador regional, buscando garantir a confiança dos vizinhos que o
veem mudar de status no cenário global. Diante deste contexto, analise as
afirmativas e escreva V para verdadeiro e F para falso.

( ) O presidente Fernando Henrique Cardoso e sua equipe do Ministério das


Relações Exteriores foram mais cautelosos e sutis no exercício da liderança
na América do Sul, uma vez que o projeto da ALCA e aproximação dos
Estados Unidos com o Brasil e América Latina ainda eram fortes.
( ) O presidente Luiz Inácio da Silva (Lula), ao mesmo tempo em que
percebe que os Estados Unidos, no decorrer dos anos que se seguiram
ao atentado de 11 de setembro de 2001, voltaram suas atenções para o
Oriente Médio, inicia o exercício da liderança na América do Sul.

248
( ) A concepção apresentada pelo presidente Lula abrangeu diversos
valores que permearam oficialmente a ação externa brasileira no período.
O caráter não hegemônico da liderança, a solidariedade e generosidade, e
a ênfase nos objetivos comuns da região, nortearam as relações do Brasil
com seu entorno geográfico.
( ) A aspiração de liderança brasileira na América do Sul não encontra
obstáculos internos, apenas externos. As mazelas de vários países da
América do Sul geram margem para contestações. Internamente, as
disparidades e desigualdades sociais não são empecilho para o exercício
de liderança, nem para o desenvolvimento de projetos intercontinentais.

Assinale agora a alternativa correta:

a) ( ) F–V–V–F
b) ( ) V–V–F–V
c) ( ) V–F–V–F
d) ( ) V–V–V–F

249
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