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Áreas propensas a escorregamentos


no talude continental

Ricardo Garske Borges, Alexsandre Cavalcante de Lima e Renato Oscar Kowsmann

Palavras-chave

Estabilidade de taludes submarinos; sistema de informação geográfica; fator de segurança; Bacia de


Campos

Resumo

Realizou-se uma avaliação regional das áreas suscetíveis à ocorrência de movimentos de massa sub-
marinos no talude continental e no Platô de São Paulo da Bacia de Campos. Para essa avaliação, foi uti-
lizada uma ferramenta de análise espacial disponível em um sistema de informação geográfica (SIG), em
conjunto com a aplicação de um modelo matemático desenvolvido para a previsão de áreas propensas a
deslizamentos, baseado em uma formulação de leis físicas.
A análise de estabilidade de taludes foi feita sob condições não drenadas, em termos de tensões totais,
considerando um solo argiloso normalmente adensado, e baseou-se no método determinístico para o
cálculo de fatores de segurança através da abordagem de equilíbrio limite – formulação de talude infinito-
-unidimensional para a condição submersa. Dessa forma, foi possível levar em consideração, no cálculo
dos fatores de segurança, o dado referente à geometria do fundo do mar (declividade) e as propriedades
mecânicas do solo marinho (resistência ao cisalhamento não drenada e peso específico submerso).
O resultado foi a obtenção de mapas regionais de fatores de segurança estáticos para avaliação de
propensão a deslizamentos submarinos translacionais rasos no talude e no Platô de São Paulo da Bacia de
Campos, considerando dois perfis de resistência ao cisalhamento não drenada do solo: um corresponden-
te a um limite inferior de resistência, e o outro referente a um valor de resistência intermediário.

Borges, R.G., Lima, A.C., Kowsmann, R.O. 2014. Áreas propensas a escorregamentos no talude continental. Kowsmann, R.O., editor.
Geologia e Geomorfologia. Rio de Janeiro: Elsevier. Habitats, v. 1. p. 99-136.
100 Áreas propensas a escorregamentos no talude cont inental

1. Introdução ruptura é paralela à inclinação do talude, e que a


A cartografia geotécnica vem se beneficiando profundidade da superfície de ruptura é pequena
com os avanços da Informática, principalmente quando comparada com a altura do talude.
pelo uso conjunto com o sistema de informação Em função do exposto, fez-se uma avaliação
geográfica. Esses sistemas têm como finalidade ar- regional das áreas suscetíveis à ocorrência de mo-
mazenar, recuperar e analisar dados que estejam vimentos de massa submarinos rasos no talude
relacionados ao espaço geográfico. continental e no Platô de São Paulo da Bacia de
O sistema de informação geográfica é uma fer- Campos. Para essa avaliação, utilizou-se uma ferra-
ramenta que permite a manipulação de diferentes menta de análise espacial disponível em um siste-
fontes de dados e também a incorporação de mo- ma de informação geográfica, em conjunto com a
delos matemáticos que auxiliem na avaliação de aplicação de um modelo matemático desenvolvido
áreas propensas a deslizamentos. para a previsão de áreas propensas a deslizamen-
Muitas das metodologias que têm sido desen- tos, com base em uma formulação de leis físicas.
volvidas para a previsão de movimentos de massa Nesse contexto, objetiva-se especificamente aqui
utilizam modelos, os quais podem ser subdividi- a aplicação de uma formulação matemática para
dos em modelos empíricos e modelos que se ba- obter um mapa contendo áreas potenciais a des-
seiam em leis físicas. Dentre os modelos empíricos, lizamentos submarinos translacionais rasos na re-
têm-se aqueles fundamentados em inventários de gião do talude e no Platô de São Paulo da Bacia
deslizamentos, aqueles que fazem uso de análises de Campos.
estatísticas e os que combinam diversos planos de Para o desenvolvimento deste trabalho, se-
informação (províncias de solos, declividades etc.). guiu-se o roteiro metodológico apresentado na
Os que utilizam modelos estruturados em leis físi- Figura 1.
cas permitem que hipóteses bem específicas sejam Foram utilizadas informações obtidas pelas
testadas tanto na escala do talude como na escala campanhas de investigação geológica e geotécnica
da área de estudo (Gomes et al., 2005). realizadas na Bacia de Campos, e a base cartográfica
As implementações de um sistema de infor- digital elaborada pela Gerência de Geologia Mari-
mação geográfica baseadas em modelos físicos, nha (Petrobras/E&P-SERV/US-SUB/GM). O Centro
tipo SHALSTAB (Shallow Slope Stability Model) de Pesquisas e Desenvolvimento Leopoldo Améri-
(Guimarães, 2000) e SINMAP (Stability INdex co Miguez de Mello (Cenpes/Petrobras) contribuiu
MAPping) (Pack et al., 1998), têm como princípio com a disponibilização de um banco de dados geo­
o método do equilíbrio limite e utilizam a equa- técnicos (BDG), contendo informações provenientes
ção de talude infinito para avaliar áreas potenciais dos ensaios in situ realizados na bacia.
a deslizamentos. Da base cartográfica, foram extraídas as infor-
A análise de equilíbrio limite considera que as mações referentes à caracterização física da área,
forças que tendem a induzir a ruptura são balan- cobrindo os temas referentes a batimetria, declivi-
ceadas exatamente pelos esforços de resistência. dade e faciologia.
A fim de comparar a estabilidade de taludes em No início da primeira etapa, foi desenvolvida
diferentes condições de equilíbrio limite, define- uma revisão bibliográfica em que se destacaram os
-se o fator de segurança (FS) como a razão entre a trabalhos de Campos (1984), Savage et al. (2004) e
ação das forças que desestabilizam e as forças que Guimarães (2000). Essa revisão possibilitou a defi-
resistem ao escorregamento (Guidicine e Nieble, nição da formulação física a ser aplicada e a defi-
1976). Segundo Massad (2010), os taludes infinitos nição da metodologia para se elaborar o Modelo
são encostas naturais que se caracterizam por sua Digital de Terreno (MDT) da área. A segunda e últi-
grande extensão e sua reduzida espessura de solo. ma etapa consistiu na avaliação do mapa das áreas
Eles se baseiam no princípio de que a superfície de suscetíveis a movimentos de massa submarinos.
Geolog ia e G eomorfolog i a 101

Dados Geotécnicos Base Cartográfica


Georreferenciados
Dados Disponíveis
Amostras Sondagens
BASE DE DADOS

Modelagem Matemática Modelagem Numérica


Formulação Física de Terreno 1ª Etapa

SIG

Avaliação de Áreas Suscetíveis ao Deslizamento 2ª Etapa

Figura 1. Metodologia usada para a obtenção de mapas regionais de suscetibilidade a deslizamentos.

2. Estabilidade do fundo do mar Deslizamentos submarinos ocorrem com fre­


quência tanto em margens continentais ativas como
2.1. Características dos deslizamentos
passivas, especialmente nos taludes continentais. A
submarinos
despeito de ângulos de talude geralmente baixos,
Deslizamentos submarinos são mecanismos essas áreas de estratigrafia em talude frequente-
comuns e muito eficazes de transferência de se- mente apresentam processos geológicos mais ati-
dimentos da plataforma continental e do talude vos e vigorosos que aqueles encontrados em áreas
superior para bacias oceânicas profundas. Durante rasas da plataforma continental, sub-horizontal.
um único evento, enormes volumes de sedimentos A borda da plataforma e a área de talude contêm
podem ser transportados em taludes suaves com os materiais mais recentemente depositados e, em
inclinações de 0,5 a 3 graus, cobrindo distâncias de áreas com alta taxa de sedimentação, pode existir
centenas de quilômetros. Tipicamente, esses even- subadensamento/excesso de poropressão. A poro-
tos duram de menos de uma hora a vários dias, pressão em excesso da hidrostática frequentemen-
e podem danificar severamente plataformas fixas, te desempenha papel relevante na desestabilização
dutos, cabos submarinos e outras instalações no dos taludes submarinos. Os investimentos para se
piso marinho. A partir do ano 2000, foi intensifi- encontrar e desenvolver a produção de campos de
cada a pesquisa para a compreensão dos meca- águas profundas são muito elevados, e isso aumen-
nismos subjacentes e dos riscos envolvidos nos ta significativamente a parcela das consequências
deslizamentos submarinos, principalmente pe- econômicas do aspecto do risco vinculado a des-
lo crescente número de campos de petróleo em lizamentos submarinos no ambiente da margem
águas profundas que têm sido descobertos e, em continental.
alguns casos, com a explotação desenvolvida, em Sabe-se também que escorregamentos subma-
fase de produção. A produção de campos offshore rinos deram origem a tsunamis com efeitos devas-
em áreas com atividade de deslizamento anterior tadores em áreas costeiras adjacentes (Nowacki et
está acontecendo na margem norueguesa, no Gol- al., 2003). Isso porque, em geral, os escorregamen-
fo do México, na parte marítima do Brasil, no Mar tos ocorrem em larga escala, mobilizando grandes
Cáspio e na costa Oeste da África. volumes de material, podendo chegar a 20.000
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km³, como ocorreu na África do Sul (Dingle, 1977). ativos de rios na margem continental, regiões de
Kvalstad et al. (2001) citam ainda que a extensão cânion, no talude continental e em ilhas oceâni-
em área e os volumes envolvidos em um cenário cas vulcânicas. A Figura 3 apresenta os percen-
de ruptura de talude submarino podem variar de tuais de casos de escorregamentos ocorridos na
escorregamentos locais, ou rastejos (creep), a enor- margem atlântica dos EUA de acordo com o am-
mes movimentos de massa submarinos envolven- biente submarino.
do milhares de metros cúbicos de solo. A Figura Grandes movimentos de massa foram observa-
2 relaciona a extensão em área com o número dos em taludes de baixa inclinação (Kvalstad et al.,
de casos de deslizamentos ocorridos na margem 2001). Esse aspecto pode ser observado na Figura
atlântica dos EUA, onde é possível notar predomi- 4, que apresenta a distribuição de deslizamentos
nância nos tamanhos entre 1 e 50 km². No Brasil, submarinos conforme a inclinação do talude. Um
Figueiredo Jr. et al. (1993) pesquisaram a região estudo baseado na teoria do talude infinito reali-
de Cabo Frio/RJ e, contrariando antigas pesquisas zado por Costa et al. (1994), no talude do Campo
realizadas na área, detectaram que cicatrizes de de Marlim (Bacia de Campos), mostrou que os fa-
pequenos escorregamentos são as feições domi- tores de segurança estáticos diminuem considera-
nantes na região. velmente com o aumento da poropressão e que
Segundo Hampton et al. (1996), escorrega- a influência da poropressão no valor do fator de
mentos são bastante comuns em cinco diferen- segurança é mais pronunciada em taludes de bai-
tes tipos de ambientes submarinos: fjords, deltas xas inclinações.

25

20
Número de Casos (%)

15

10

0
< 0,1

0,1 – 0,5

0,5 – 1

1–5

5 – 10

10 – 50

50 – 100

100 – 500

500 – 1.000

> 1.000

Extensão dos Escorregamentos (km2)

Figura 2. Extensão em área versus número de casos de escorregamentos submarinos ocorridos na margem
atlântica dos EUA. Adaptada de Lee (2004) por Silva (2005).
Geolog ia e G eomorfolog i a 103

50

40
Número de Casos (%)

30

20

10

0
Talude Cânions Cordilheiras Outros
Continental

Ambientes Submarinos
Figura 3. Ocorrência de movimentos de massa em diferentes tipos de ambientes submarinos na margem atlân-
tica dos EUA. Adaptada de Lee (2004) por Silva (2005).

15
399 Eventos
14

13

12
Densidade de Frequência (% / Graus)

11

10

0
<1

1–2

2–3

3–4

4–5

5–6

6–7

7–8

8–9

9 – 10

10 – 11

11 – 12

12 – 13

13 – 14

14 – 15

15 – 16

16 – 17

17 – 18

18 – 19

19 – 20

20 – 25

25 – 45

Ângulo do Talude (Graus)

Figura 4. Distribuição da densidade de frequência do ângulo médio do talude relacionados aos deslizamentos
submarinos. Adaptada de Hance (2003).
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2.2. Fatores que influenciam a diversos estudos têm sido desenvolvidos por espe-
estabilidade do fundo do mar cialistas do mundo todo com o objetivo de enten-
Os deslizamentos submarinos resultam de uma der melhor as condições geológicas e geotécnicas,
interação complexa entre vários fatores diferen- bem como a dinâmica dos sedimentos submarinos
tes que atuam simultaneamente, com intensida- desses locais. Instabilidades geologicamente re-
des e escalas de tempo distintas, de acordo com o centes de taludes devem ser encaradas como um
ambiente geológico em que a área está inserida. risco potencial para as facilidades de exploração e
O ambiente geológico-tectônico-oceanográfico é produção de óleo ou gás.
o que regula a ação de cada fator que influencia a
estabilidade do solo marinho e cria, ou não, uma Estudos qualitativos
instabilidade potencial no local. Muitos tipos de escorregamentos de taludes
Hampton et al. (1996) resumiram as causas dos submarinos foram identificados no talude conti-
escorregamentos de taludes na Tabela 1: nental do Golfo do México. Alguns grandes movi-
mentos se iniciaram na quebra da plataforma con-
Tabela 1. Causas de movimentos de massa submari- tinental e se estenderam por grandes distâncias a
nos (Hampton et al., 1996). jusante do talude (Hooper e Prior, 1989). Muitos
desses escorregamentos provavelmente foram dis-
Fatores que influenciam Fatores que influenciam
a redução da resistência o aumento de tensões parados em períodos de nível de mar baixo, quan-
do solo no talude do sedimentos na borda da plataforma avançaram
Terremotos Terremotos
sobre a porção superior do talude (Suter e Berryhill,
Carregamento por ondas Carregamento por ondas 1985).
Mudanças de maré Mudanças de maré Campbell et al. (1986) estudaram o talude con-
Intemperismo Diapirismo tinental dos estados norte-americanos do Texas e
Sedimentação Sedimentação da Louisiana (a nordeste do Golfo do México), com
Gás Erosão o intuito de avaliar as condições geológicas e geo­
técnicas do solo marinho para fins de projeto de
Segundo Costa et al. (1994), taludes natural- fundações. Eles verificaram que algumas regiões
mente estáveis podem tornar-se instáveis sob a apresentaram feições geológicas complexas, resul-
ação de um ou mais mecanismos de diversas na- tantes de atividades diapíricas de sal, falhamentos,
turezas, tais como: mudanças na morfologia que deslizamentos e outros tipos de movimentos de
alterem o equilíbrio de forças atuantes, como pro- sedimentos. Concluíram que a maioria dos movi-
cessos de erosão ou sedimentação; ação de for- mentos em larga escala parecia ter ocorrido em
ças externas, como atividade sísmica e efeitos de um passado geológico relativamente distante, mas
ondas; aumento da poropressão no solo causado a possibilidade de deslizamentos em menor escala
por carregamento ou deformação; diminuição das foi aventada. Assim, foram sugeridos levantamen-
tensões efetivas devido ao aprisionamento de po- tos geofísicos e geotécnicos mais detalhados, de
ropressão por variações no nível do mar e decrésci- forma que toda a região pudesse ser devidamente
mo progressivo da resistência ao cisalhamento do conhecida.
material, tanto por intemperismo ou degradação Estudos realizados por Caddah et al. (1998) e
quanto por acúmulo de deformações resultante de Kowsmann et al. (2002) também associaram a pe-
processos de creep ou de carregamentos cíclicos. ríodos de nível de mar baixo alguns depósitos de
movimentos de massa e camadas de debris flow
2.3. Trabalhos anteriores observados no talude continental e em regiões de
Desde que começaram as descobertas de cam- cânions na Bacia de Campos. No Platô de São Pau-
pos petrolíferos na região do talude continental, lo, foram notadas feições de movimentos de massa
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ocorridos em períodos interglaciais, acionados pe- de rupturas em depósitos de sedimentos em várias


lo movimento do sal (diapirismo), que ainda é ativo regiões sismicamente ativas. Baraza et al. (1992)
nos dias atuais. fizeram um estudo preliminar de estabilidade do
sedimento próximo à superfície do talude conti-
Estudos quantitativos nental do Mar de Alboran, no Mediterrâneo, levan-
Uma análise da estabilidade dos taludes em ní- do em consideração a solicitação dinâmica. Os re-
vel regional foi realizada no Golfo do México por sultados de vários ensaios geotécnicos in situ e de
Hooper e Prior (1989). Naquela ocasião, foram ma- laboratório possibilitaram estimar a resistência ao
peados, além de feições como hidratos de gás e fa- cisalhamento do solo e a tensão cisalhante máxima
lhamentos, deslizamentos regionais translacionais estática ou dinâmica-reduzida a que o sedimento
rasos de solo em flancos de diápiros de sal e em poderia ser submetido sem romper. A análise de
blocos basculados, e em locais onde havia a ocor- estabilidade sob carregamento estático mostrou
rência de gradientes mais íngremes do fundo do que os sedimentos da região apresentavam baixa
mar. Um dos deslizamentos envolvia a descida de probabilidade de ruptura drenada sob carga gra-
sedimento sobre uma superfície de cisalhamento vitacional. Assim, foram considerados estáveis. Já
na base da camada, que coincidia com um plano na análise sob carregamento dinâmico, mostrou-
estratigráfico próximo à superfície. Com base nas -se que a probabilidade de ruptura de talude con-
evidências reveladas pelas investigações geofísicas sequente a um terremoto deveria ser considerada.
e geotécnicas, um método baseado no equilíbrio Um estudo semelhante, realizado por Ayres
limite foi desenvolvido para se estimarem as condi- Neto (1994) na região do delta submarino do Rio
ções regionais de estabilidade dos taludes. Os pa- Amazonas, constatou que os mecanismos dispa-
râmetros geotécnicos de resistência utilizados nas radores de movimentos de massa variam de lo-
análises foram medidos in situ mediante ensaios cal para local. Realizou-se uma análise qualitativa
de palheta. A geometria rasa e alongada do movi- de estabilidade mediante a superposição de to-
mento de massa do tipo translacional com contro- dos os fatores e/ou mecanismos disparadores de
le na base (ou seja, sobre um plano estratigráfico movimentos de massa submarinos observados na
bem definido) caracterizou um problema de esta- região, e o resultado foi a definição de duas áreas
bilidade que pôde ser resolvido por equilíbrio limi- geográficas distintas: uma na qual os fatores dis-
te, com base ora na teoria do talude infinito, ora paradores de movimentos de massa ocorrem com
nos métodos do arco circular (Lambe e Whitman, maior intensidade e outra com maior número de
1969), dependendo da inclinação do talude. Am- fatores disparadores ocorrendo concomitante-
bas as análises foram realizadas para a região e, mente. Na análise quantitativa, a metodologia
dessa forma, foram encontrados valores de fatores adotada foi a de Booth et al. (1985). Foram reali-
de segurança que avaliaram as condições de esta- zadas ainda retroanálises para avaliar a aceleração
bilidade do local, apesar das limitações encontra- horizontal gerada por um terremoto e a altura mí-
das, tais como: variáveis geológicas e geotécnicas nima de onda que poderia desestabilizar as áreas.
que não foram medidas com os métodos usados Ambos os resultados levaram à conclusão de que
e dados de resistência do sedimento provenientes as áreas eram estáveis.
de um furo executado a 5 km do local onde se ob- Rizzo et al. (1994) estudaram movimentos de
servaram as evidências de deslizamentos. massa e fluxos gravitacionais nos campos de Mar-
Há ampla evidência histórica e geológica de lim e Albacora na Bacia de Campos, coletando da-
que instabilidades de taludes geradas por terre- dos geológicos, geotécnicos e sísmicos de alta re-
motos são comuns no ambiente marinho. Sabe-se solução da porção mais rasa da coluna sedimentar
que tremores de terra são mecanismos disparado- de áreas do talude continental. Foram verificadas
res de escorregamentos submarinos e causadores feições de movimentos de massa sob a forma de
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cicatrizes (remoção de sedimentos) ou de depósi- drenada ou não drenada, fornece o fator de segu-
tos sedimentares, resultado de escorregamentos rança mais adequado a cada caso.
ou de fluxo de detritos. As feições de remoção de Na análise probabilística, também realizada no
sedimentos foram identificadas a partir da análise Golfo do México, proposta por Nadim et al. (2003),
dos perfis sísmicos de alta resolução, em que os foi estabelecido um modelo de frequência de es-
refletores se apresentaram truncados, ou por meio corregamentos (ou seja, probabilidade anual de
de mapa fisiográfico, pelas alterações nos contor- ruptura) para avaliar os riscos inerentes às estru-
nos batimétricos. Essas feições foram comprovadas turas de engenharia submarinas. Esses autores de-
mediante a aquisição de testemunhos geológicos, fendem que a análise probabilística oferece maior
nos quais foram observadas discordâncias e ausên- precisão, pois o problema é conduzido de modo a
cia de biozonas, e de dados geotécnicos, median- lidar com as imprecisões comuns em análises de-
te o perfil descontínuo de resistência não drena- terminísticas, em que muitos parâmetros de resis-
da Su versus profundidade, evidenciando ausência tência do solo são incertos, fazendo com que os
de seção. No estudo, estabeleceu-se uma relação engenheiros utilizem valores conservativos. Foram
bastante clara entre os rebaixamentos do nível do definidos fatores de sensibilidade que quantifi-
mar e a iniciação de movimentos de massa. Nesse cam a contribuição de cada variável aleatória na
sentido, visto que a situação atual é de mar alto análise global de estabilidade. O estudo mostrou
e o tempo necessário para ocorrer uma mudan- grande relação entre altas taxas de sedimentação
ça nesse cenário é em muito superior ao tempo e escorregamentos rasos de solo. No Escarpamen-
de duração dos projetos de produção na Bacia de to San Pedro, a sudoeste da cidade de Long Beach
Campos, os autores concluíram que, atualmente, (Califórnia), onde feições morfológicas típicas de
não se esperaria a ocorrência de movimentos de grandes escorregamentos submarinos foram de-
massa em larga escala como os registrados na co- tectadas, Bohannon e Gardner (2004) desenvol-
luna sedimentar do talude de Marlim. Este traba- veram uma pesquisa com o objetivo de avaliar a
lho incorporou o estudo realizado por Costa et al. provável ocorrência de tsunamis. As cicatrizes de
(1994), que efetuou uma análise estática da estabi- escorregamentos e os depósitos de detritos ma-
lidade do talude fundamentada na teoria do talude peados e estudados constituem amplas evidências
infinito. de que a região foi fonte de pequenas e grandes
Um amplo estudo da estabilidade de taludes rupturas de taludes submarinos. Apesar de não se
foi realizado no escarpamento Sigsbee, junto aos poder afirmar que os escorregamentos resultaram
campos de Mad Dog e Atlantis, no Golfo do Mé- realmente em tsunamis, suas escalas sugerem a
xico. Nowacki et al. (2003) propuseram uma análi- possibilidade de ocorrência de tais eventos. Uma
se determinística de estabilidade de taludes com o razão teórica para essa afirmação foi obtida atra-
objetivo de obter uma estimativa do fator de se- vés de formulações em que a energia potencial da
gurança, estabelecer resultados de referência pa- massa de solo é transformada em energia cinética,
ra análises probabilísticas e, em combinação com uma vez detonado o movimento. A altura de onda
as análises probabilísticas, fornecer melhor com­ estimada foi de 12 m, mas os cálculos não levaram
preensão de como o fator de segurança aumen- em consideração a atenuação de acordo com a dis-
ta à medida que a superfície de cisalhamento se tância da fonte.
afasta da borda do escarpamento. Análises drena- Biscontin et al. (2004) utilizaram elementos fi-
da e não drenada indicaram taludes relativamente nitos para analisar o comportamento de taludes
estáveis, a não ser que um mecanismo disparador submarinos (depósitos de argila mole), quando
venha a rompê-los. Porém, o estudo não avaliou o dinamicamente solicitados (variação das relações
comportamento do solo em relação ao mecanismo tensão-deformação-resistência, assim como a ge-
disparador, não estabelecendo qual das análises, ração de poropressão). Concluíram que, além de
Geolog ia e G eomorfolog i a 107

gerar excesso de poropressão significante para de- foram comparadas com os resultados encontrados
sestabilizar um talude submarino durante o even- a partir da formulação clássica de talude infinito. A
to, um carregamento dinâmico também pode in- integração de dados geotécnicos e geofísicos foi
fluenciar sua estabilidade após o ocorrido, devido necessária para que todos os parâmetros utilizados
a redistribuição/processo de dissipação da poro- na metodologia pudessem ser obtidos. Os resul-
pressão no perfil de solo. tados indicaram dois pontos críticos ao longo da
Silva et al. (2004) apresentaram uma metodo- rota, ambos associados aos flancos do Cânion Ita-
logia de investigação de instabilidade de taludes pemirim, por apresentarem declividades elevadas.
submarinos fundamentada na integração de ferra- Foram realizados breves estudos com o objetivo de
mentas e métodos geofísicos e geotécnicos, além se avaliar o potencial destes pontos críticos sofre-
de avançadas técnicas de datação de sedimentos, rem instabilidades por meio de terremotos e ondas
e aplicaram-na em uma área localizada no talude de tempestade oceânica. Os resultados obtidos, no
continental do Texas-Louisiana, no Golfo do Méxi- entanto, descartaram tais mecanismos como fon-
co. Os estudos mostraram a ocorrência de várias tes de instabilidade.
rupturas de taludes na Bacia de Beaumont, situada
no centro da área de estudo. A altura desses talu-
des varia de 600 a 900 m, e há declividades localiza- 3. Aplicação de sistema de
das superiores a 25 graus. Análises realizadas atra- informação geográfica à
vés de equilíbrio limite, utilizando-se a geometria avaliação de suscetibilidade
conhecida dos taludes e os dados de resistência e a escorregamentos
densidade dos solos obtidos mediante sondagens Sistemas de informações geográficas têm si-
com um amostrador a pistão de grande diâmetro, do utilizados para a avaliação da suscetibilidade à
sugeriram que vários taludes se encontram em ocorrência de movimentos de massa subaéreos e
estado de ruptura incipiente sob condições dre- submarinos, tanto em abordagens regionais quan-
nadas. Já na Bacia de Calcasieu, localizada a no- to locais.
roeste da Bacia de Beaumont, a presença de um Os métodos para a avaliação de suscetibilida-
sedimento holocênico e de um pico de densidade de a movimentos gravitacionais de massa variam
foi observada nas amostragens no talude superior de puramente empíricos a modelos empíricos pro-
(norte), mas não nas amostragens realizadas ao sul. babilísticos e modelos puramente analíticos. Esses
Dessa forma, o pico de densidade foi interpretado modelos utilizam o mapeamento geológico, dados
como material proveniente de uma deposição de de pluviosidade (no caso de taludes subaéreos),
material escorregado, e a ausência do sedimento dados geotécnicos e dados do Modelo Digital do
holocênico sugeriu que o evento ocorreu em um Terreno associados a um sistema de informação
passado geológico recente (< 12.600 anos A.P.). geográfica, a fim de estimar espacialmente e de
Silva (2005) avaliou as condições de estabilida- forma temporal distribuições referentes à avaliação
de do solo marinho ao longo da rota de um duto de suscetibilidade a movimentos gravitacionais de
metálico de 10 polegadas de diâmetro revestido massa em um talude.
com concreto, localizado na Bacia de Campos. Os De acordo com Fernandes et al. (2001), os prin-
dados geológicos e geotécnicos foram adquiridos cipais procedimentos usados para a previsão de
por meio de um amplo levantamento geofísico e escorregamentos podem ser divididos em quatro
geotécnico realizado na diretriz do duto. As análi- grandes grupos:
ses de estabilidade se fundamentaram na teoria do
talude infinito, em metodologia aplicada por No- yy Análises a partir da distribuição dos escorrega-
wacki et al. (2003) nos campos de águas profun- mentos no campo: a distribuição de cicatrizes
das de Mad Dog e Atlantis, no Golfo do México, e e depósitos recentes, ou mesmo atuais, pode
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controlar futuros padrões de distribuição de são feitas na Engenharia Geotécnica, usam parâ-
instabilidade de taludes. Essas metodologias metros como a inclinação do talude, a coesão do
fazem uso de mapas que refletem a densidade solo, o ângulo de atrito, a poropressão, etc. O cál-
dos escorregamentos no campo (mapas feitos culo resulta em um fator de segurança contra des-
a partir de inventários de deslizamentos), seja lizamentos, o qual pode ser usado diretamente por
para um único evento, seja para uma série tem- engenheiros em projetos de infraestrutura ou em
poral. Entretanto, as informações geradas por trabalhos de remediação.
esse tipo de metodologia se limitam às áreas Neste trabalho, através de um sistema de infor-
onde ocorreram deslizamentos catalogados. mação geográfica, utilizou-se o modelo determi-
yy Análises a partir de mapeamentos geomorfoló- nístico para a avaliação regional de suscetibilidade
gicos e/ou geotécnicos: utilizam a combinação a movimentos de massa submarinos translacionais
de planos de informação em que se atribuem rasos no talude continental e no Platô de São Paulo
“notas” e “pesos” aos diversos planos, a partir da Bacia de Campos, tendo sido usado o método
da experiência do especialista. Apresenta gran- do equilíbrio limite – formulação de talude infinito
de limitação devido à enorme subjetividade submerso.
envolvida na caracterização de pesos e notas.
yy Modelos com bases estatísticas: utilizam o
4. Caracterização regional
princípio da existência de relações funcionais
da área de estudo
entre os fatores condicionantes e a distribui-
ção dos escorregamentos, ou seja, os fatores 4.1. Fisiografia
que causam a instabilização em certo local no A Bacia de Campos situa-se na margem Su-
passado serão os mesmos que gerarão futuros deste, em frente aos estados do Rio de Janeiro e
escorregamentos. Em sua maioria, esses mode- do Espírito Santo. Abrange uma área de cerca de
los utilizam análises estatísticas de correlação 100.000 km² até a cota batimétrica de -3.400 m,
entre as variáveis. sendo que apenas 500 km² encontram-se emersos
yy Modelos determinísticos: alguns desses proce- (Gonzaga, 2005).
dimentos utilizam modelagem matemática em Sua geologia regional é apresentada em Castro
bases físicas, com base em processos e leis fí- e Picolini (Capítulo 1, deste volume, e referências
sicas naturais. nele contidas). É uma bacia de margem divergente,
resultante da tectônica distensional relacionada à
Modelos determinísticos para estabilidade de quebra do continente Gondwana no Cretáceo In-
taludes têm sido usados desde o início do século ferior (Dias et al., 1990). O arcabouço da bacia foi
passado para o cálculo de estabilidade de taludes condicionado pelas estruturas do embasamento,
individuais (Nash, 1987). Apenas recentemente vá- mas o piso marinho foi particularmente afetado
rios pesquisadores começaram a adotar esse mode- pela tectônica salífera, que gerou falhas de caráter
lo para elaborar mapas de estabilidade de taludes extensional nas porções mais proximais e diapiris-
para grandes áreas, tais como barragens (Ward et mo salino e estruturas compressionais nas porções
al., 1981; 1982; Okimura e Kawatani, 1987; Brass et mais distais (Dias et al., 1990).
al., 1989; Benda e Zhang, 1990; Van Asch et al., 1992; A fisiografia da bacia foi descrita por Viana et
1993; Van Westen et al., 1994; Terlien et al., 1995; al. (1998) e pode ser subdividida em plataforma
Terlien, 1996) e rodovias (Hammond et al., 1992). continental, talude e Platô de São Paulo, esta úl-
A vantagem da aplicação dos modelos deter- tima uma província modificada pela tectônica salí-
minísticos em estudos de estabilidade de taludes fera. Recentemente, uma imagem detalhada da fi-
se deve a seu embasamento em leis da Física. Aná- siografia da bacia foi apresentada por Schreiner et
lises de estabilidade de taludes, como aquelas que al. (2007/2008), com base em dados de sísmica 3D.
Geolog ia e G eomorfolog i a 109

A plataforma continental possui relevo suave e lamosos, sob forma de depósitos de escorrega-
monótono, sem desníveis de grande expressão, e mento (slumps) dobrados e deformados (Caddah
declividade média em torno de 0,5 grau. Seu limi- et al., 1998) e depósitos de fluxo de detritos con-
te externo é definido pela quebra da plataforma, glomeráticos (Machado, 2001). Areias siliciclásticas
que se encontra a aproximadamente 180 metros ocorrem de forma limitada e são oriundas da pla-
de profundidade. taforma continental. Apresentam a forma de franja
Já o talude continental apresenta variações em no talude superior (Viana e Faugères, 1998) e tam-
sua morfologia e uma declividade média de cerca bém estão associadas aos cânions submarinos ma-
de 4 graus. As variações morfológicas decorrem da duros (Machado et al., 2004).
presença de cânions, ravinas e sulcos, cujas escar-
pas podem atingir declividades acima de 30 graus.
O limite externo do talude pode chegar a 2.300 m 5. Modelagem matemática e
de lâmina d’água. cálculo do fator de segurança
O Platô de São Paulo é caracterizado por rele- Devido à natureza complexa dos movimentos
vo irregular ocasionado pela movimentação de ca- de massa, é difícil prever a configuração exata do
madas de sal em subsuperfície (halocinese). Nele, mecanismo de ruptura e do volume de solo a ser
ocorrem grandes desníveis, que podem variar de deslocado. Entretanto, dependendo das condições
0,5 grau a valores acima de 20 graus, com média do terreno e de algumas suposições analíticas, mo-
de 1 grau. Seu limite externo coincide com uma delos matemáticos teóricos adequados podem ser
grande escarpa que ocorre em uma profundidade produzidos para esse tipo de análise (Bhattarai et
aproximada de 3.000 m. al., 2004).
A Figura 5 apresenta o mapa de batimetria pa- Modelos matemáticos têm origem nas formu-
ra a região do talude continental e Platô de São lações relacionadas à análise de estabilidade de ta-
Paulo da Bacia de Campos, extraído de Almeida e ludes. As análises baseadas no equilíbrio limite, tais
Kowsmann (Capítulo 3 deste volume). Nela, é pos- como: talude infinito, Bishop, Fellenius, Spencer, en-
sível ver que o talude apresenta um perfil côncavo tre outros, são as mais utilizadas atualmente para a
ao Sul e ao Norte da bacia, e é fortemente esculpi- análise individualizada de um talude. Essas análises
do por cânions e ravinas. Já o talude central, onde consideram que as forças que tendem a induzir à
se situam os principais campos de águas profun- ruptura são balanceadas pelos esforços resistentes.
das, é bem mais suave, embora marcado por inú- A fim de se comparar a estabilidade de taludes em
meras cicatrizes (Caddah et al., 1998, Kowsmann et condições diferentes de equilíbrio limite, define-se o
al., 2002). Sua forma convexa é herdada da cunha fator de segurança (FS) como a resultante das forças
progradante do Mioceno subjacente (Kowsmann e solicitantes e resistentes ao escorregamento (Guidi-
Viana, 1992). cine e Nieble, 1976; Laird, 2001).
Segundo Guidicine e Nieble (1976), a estabi-
4.2. Composição do solo lidade de taludes se baseia na relação entre dois
No talude continental e no Platô de São Paulo, tipos de forças: as estabilizantes (resistentes) e as
o fundo do mar é composto dominantemente por desestabilizantes. A razão entre essas duas forças é
lama hemipelágica de espessura variável, cerca de denominada fator de segurança. O fator de segu-
alguns metros (Caddah et al., 1998). A lama hemi- rança pode ser calculado aplicando-se a equação
pelágica, depositada por suspensão, é composta 1 para avaliar áreas suscetíveis a movimentos de
por silte e argila siliciclásticos, com teores variáveis massa:
de carbonato de cálcio oriundo de carapaças de
seres planctônicos mortos. Essa lama geralmen- Esforçosestabilizantes
FS = (1)
te recobre depósitos de movimento de massa Esforçosdesestabilizantes
110 Áreas propensas a escorregamentos no talude cont inental

41° O 40° O 39° O

ES

0
20
–1
00

21° S
–1
–50

–220
–100

0
–2300

–2100
–2200

0
70
–2
00
–2600
-1

–26
00
–40

0m
0 –3
–6
00
00

–21 –25
00 00

–25
–2600

00
RJ –2200

22° S
–3000
–2600
–2
0

00

60 0
–5 –2000

–2
00

–2900–25

0
–1500

70
–23
–100
–29
0

00 –2
00

90
40
–1

00 0
–1

–9
0
00
–1

00
–2
00
0
90

–8 10
0
–2
00

–1
–5

–2700
20 0

–28
–2 160

00
0

0
50m

0
0–0
00

0
00

10 –2600
-5
–1

–3

0 –2
90
–100
0
–2
00m

0
80
–200

–2

23° S
-2

0
80
–1

0
0m

40
–2 0
00

0
-2

5
–2
0
80
–2
0
70

00 0
0

–300
–2

90

–2
–2
0
30
–1

00

CONTORNO BATIMÉTRICO
–2300

N
–25

0
–1800 00
–1700 –2
0

24° S
50
–2

0 12,5 25 50
km
DATUM: SIRGAS 2000

Figura 5. Batimetria detalhada da Bacia de Campos apresentada em Almeida e Kowsmann (Capítulo 3, neste
volume).
Geolog ia e G eomorfolog i a 111

Um fator de segurança menor ou igual a 1 in- extensão ilimitada que possui condições e pro-
dica a ruptura dos maciços, sendo considerado se- priedades do solo constantes em qualquer dada
guro o talude quando apresenta um fator de segu- distância abaixo da superfície do talude. Por sim-
rança maior do que 1,50 (ABNT NBR 11682:2009). plificação, o solo pode ser considerado homogê-
Para taludes subaéreos, a maioria dos modelos neo, mas um talude infinito consiste em várias ca-
matemáticos inclui fatores como ângulo de decli- madas de diferentes tipos de solo dispostas umas
vidade, distribuição espacial das camadas com os sobre as outras, desde que paralelas à superfície
parâmetros do solo (peso específico, coesão e ân- do terreno. Dessa forma, qualquer coluna vertical
gulo de atrito) e a posição do nível de água no so- de solo dentro de um talude infinito é, por defi-
lo. A influência de um possível acréscimo de resis- nição, igual a qualquer outra dentro do mesmo
tência pela presença de raízes de plantas pode ser talude. Segundo Massad (2010), taludes infinitos
acrescida de forma independente em alguns mo- consistem em taludes de encostas naturais que se
delos, ou por um simples ajuste no valor da coesão caracterizam por sua grande extensão, centenas
do solo (Laird, 2001). de metros, e pela reduzida espessura do manto de
Em muitas verificações de estabilidade de talu- solo, de alguns metros. A ruptura, quando ocor-
des, o desenvolvimento das equações estruturadas re, é do tipo planar, com linha crítica situada na
no conceito de talude infinito é bastante frequen- interface entre duas camadas com características
te, e isso se deve à sua relativa simplicidade e por físicas distintas.
permitir o cálculo automático de índices de esta-
bilidade em áreas extensas (Bhattarai et al., 2004). Formulação de talude infinito submerso
Modelos desse tipo se baseiam em leis físicas que No equilíbrio do paralelepípedo oblíquo de
refletem o fenômeno estudado e possibilitam que seção ABCD da Figura 6, serão consideradas as
hipóteses específicas sejam testadas, diminuindo, forças de pressão hidrostática P1 e P2, atuando,
assim, sua subjetividade (Gomes et al., 2005). respectivamente, nas faces verticais AD e BC, e Q1
Uma formulação matemática para o cálculo de e Q2, atuando, respectivamente, nas faces inferior e
FS, baseada em talude infinito na situação submer- superior do paralelepípedo prismático, cuja seção
sa para material de Mohr-Coulomb e solo coesivo, transversal é o paralelogramo ABCD. As compo-
foi apresentada por Paganelli e Borges (2005), a nentes horizontal E e vertical X, da força interlame-
qual é descrita a seguir. lar, são iguais em magnitude e de sentido contrário
nas faces verticais AD e BC. Entretanto, as resul-
5.1. Conceito de talude infinito tantes das forças de pressão hidrostática P1 e P2,
Apesar de os escorregamentos submarinos atuando, respectivamente, nas faces verticais AD e
acontecerem normalmente em larga escala, mobi- BC, são diferentes.
lizando volumes de massa significativos, a análise Seja p a pressão d’água atuante ao longo da
de estabilidade do fundo do mar foi realizada em horizontal pelo centro da face superior, em perfil
pequena escala, considerando apenas a camada representada pelo segmento CD. As resultantes da
superficial do perfil de solo na área analisada. pressão hidrostática nas faces inferior, AB, e supe-
A análise de estabilidade foi feita a partir da rior, CD, do paralelepípedo são perpendiculares ao
teoria do talude infinito, em metodologia simpli- plano potencial de escorregamento AB e, portanto,
ficada em relação à descrita por Mackenzie et al. não contribuem para a resultante na direção pa-
(2010), para projetos de desenvolvimento da pro- ralela ao plano de cisalhamento. Resta considerar
dução de óleo e gás de águas profundas com mais as resultantes das pressões hidrostáticas nas faces
de 1.000 km² de área. verticais AD e BC.
Segundo Taylor (1948), o termo talude infinito O empuxo horizontal da pressão hidrostática,
é usado para designar um talude constante com P1, sobre a face AD é dado pela equação 2, onde gw
112 Áreas propensas a escorregamentos no talude cont inental

é o peso específico da água e ue é o eventual ex- paralelepípedo de seção vertical ABCD é o produto
cesso de poropressão atuando na face vertical AD, do empuxo horizontal P pelo cosseno de a, expres-
devido à vibração sísmica ou à consolidação parcial so pela equação 5:
do sedimento, quando for o caso de material não
consolidado: Tw = P cos α = γw b H sen α (5)

 1 1  O peso próprio do bloco prismático ABCD, por


P1 =  p + γw H + γ w b tg α + u e H (2)
 2 2  unidade de largura na direção perpendicular ao
plano da seção, é igual à área do paralelogramo
O empuxo horizontal da pressão hidrostática ABCD, multiplicada pelo peso específico total do
P2 sobre a face BC é dado pela equação 3: material gt, dado pela equação 6:

 1 1  W = γt b H (6)
P2 =  p + γw H − γ w b tg α + u e H (3)
 2 2 
A soma TG das componentes na direção tan-
Consequentemente, a resultante das forças de gencial ao plano do escorregamento do peso pró-
pressão hidrostática nas faces verticais AD e BC do prio saturado e da força de inércia, WG = k.W, é
paralelepípedo ABCD é a força horizontal P, dada dada pela equação 7:
pela equação 4:
TG = γt (sen α + k cos α) b H (7)
P = P1 – P2 = γw b H tg α (4)
Considere-se também a contribuição das for-
Portanto, a projeção Tw, na direção tangencial, ças de pressão hidrostática para a força tangencial
da resultante das forças de pressão hidrostática no mobilizada. As forças de pressão atuando nas faces

Q2
C
H

P2
E’
WG
G
X
D
B
X
P1
T
E’ A α

W
Q 1 N’

Figura 6. Equilíbrio de forças atuantes no bloco prismático submerso ABCD.


Geolog ia e G eomorfolog i a 113

inferior e superior, sendo perpendiculares ao pla- segmento CD no leito marinho, a força Q2, decorren-
no potencial de escorregamento, não têm compo- te da pressão hidrostática, resulta na equação 11:
nente na direção tangencial. Consequentemente, a
componente tangencial da resultante T das forças Q2 = p b / cos α (11)
atuantes no bloco de seção ABCD, que inclui o pe-
so próprio saturado, forças de pressão hidrostática A força de pressão Q1 atuante na face inferior
atuantes nas faces do paralelepípedo e eventuais AB, na superfície potencial de escorregamento, é
forças de inércia na direção horizontal, é expressa dada pela equação 12:
pela equação 8:
Q1 = (p + γw H) b / cos α (12)
T = TG – Tw = γt b H (sen α + k cos α) – γw b H
Considerando o equilíbrio de forças na direção
sen α = (γt – γw) b H sen α + k γt b H cos α (8) normal, levando em conta o excesso de poropres-
são (ue) produzido no caso de excitação dinâmi-
Portanto, podemos escrever que a força tan- ca, obtém-se a força normal efetiva N’ através da
gencial mobilizada T é dada pela equação 9: equação 13:

T = y′ b H sen α + k γt b H cos α= y′ b H N′ = W cos α – k W sen α + P1 sen α – P2


γ
( sen α + t k cos α ) (9) sen α – Q1 + Q2 – ue b / cos α
γ'
= γt b H (sen α – k sen α) + γw b H tg α
Onde y′ = γt – γw.
A tensão de cisalhamento t, mobilizada ao – sen α – γw b H / cos α – ue b / cos
longo da face inferior AB, do paralelepípedo AB-
= γt b H (cos α – k sen α) – γw b H
CD, é obtida dividindo-se a componente tangen-
cial da força de reação T pela área da base apoia- (1 – sen2 α) / cos α – ue b / cos α
da na superfície potencial de comprimento, igual
ao comprimento AB e igual a b/cos α, multipli-  γt 
= ( γ t − γ w ) b H cos α − k sen α  − u e b / cos α
cado pela largura unitária. Portanto, a tensão de  ( γ t − γ w) 
cisalhamento mobilizada ao longo de AB resulta
na equação 10:  γ 
= γ ' b H cos α − k t sen α  − u e b / cos α
 γ'  (13)
γt
τ = γ ' H (sen α + k cos α ) cos α (10)
γ'
Simplificando a equação 13, a força normal re-
Se o modelo de Mohr-Coulomb for o aplicável sulta na equação 14:
ao tipo de solo em questão, será preciso calcular
a força normal efetiva N, atuando na face apoia- γ ue
N ' = γ ' b H cos α ( 1 − k tg α − ) (14)
da sobre a superfície potencial de escorregamento γ' γ ' H cos2 α
considerada, para se obter a pressão efetiva. Esta A tensão normal efetiva s’ é obtida dividindo-se
será calculada a partir da equação de equilíbrio de a força normal efetiva N’, por unidade de compri-
forças do bloco ABCD na direção perpendicular ao mento na direção transversal ao plano da seção, pelo
plano de escorregamento. Nessa equação de equi- comprimento AB, que é igual a b/cos α. Desse modo,
líbrio, deverão ser consideradas as forças de pres- a tensão normal resultante é dada pela equação 15:
são Q1 e Q2 atuantes nas faces AB e CD.
Sendo p a pressão atuante no centro da face γ ue
N ' = γ ' b H cos α ( 1 − k tg α − ) (15)
superior do bloco CD, representada em seção pelo γ' γ ' H cos2 α
114 Áreas propensas a escorregamentos no talude cont inental

A equação 15 pode ser expressa de modo γ


S = c ' + γ ' H cos2 α ( 1 − k tg α − ru) tg α' (20)
conciso, usando o parâmetro adimensional de ra- γ'
zão de poropressão normalizada, ru, definido pela
Aplicando-se a definição de fator de segurança
equação 16:
para um material não puramente coesivo, de parâ-
ue metros de resistência c’ e f’, resulta a equação 21:
ru = (16)
γ 'H cos2 α
γ
c'+ γ ' H cos2 α (1 − k ' tg α − ru ) tg ϕ'
S γ
O parâmetro ru deve ser determinado experi- FS = = (21)
τ γ
mentalmente e depende do número de ciclos do γ ' H ( sen α + t k cos α ) cos α
γ'
terremoto característico, que é função da frequên-
cia e da duração do registro temporal da acelera- Efetuando-se reduções na equação 21, chega-se
ção que for usado para a análise de verificação de à forma dada pela equação 22, onde os adimensio-
estabilidade. Depende também da amplitude da nais estão agrupados:
variação de tensão cisalhante. Lee e Albaisa (1974)
e Dealba et al. (1975) descobriram que a relação c' γ
+( 1 − k tg α − ru ) tg ϕ'
de poropressão pode ser descrita pela equação 17: γ' 2
H cos α γ'
FS = (22)
γ
tg α + k t
1 /α0 γ'
1 1   n 
ru = + 2   − 1 (17)
2  
π   nL   Para depósitos sedimentares coesivos normal-
 
mente adensados, a resistência ao cisalhamento não
onde n é o número de ciclos acumulados durante drenada do material Su é dada pela equação 23:
a excitação sísmica e nL é o número de ciclos ne-
cessários para o material do solo iniciar sua lique- Su = Su0 + ζ H (23)
fação, determinado em ensaio com 65% da tensão
de pico tpeak. A constante a0 é um parâmetro expe- Por definição, o fator de segurança FS é dado
rimental. pela equação 24:
Portanto, a equação 15 pode ser escrita na for- Su
FS = (24)
ma dada pela equação 18: τ

γ Substituindo-se na equação 24 as expressões


σ' = γ ' H cos2 α ( 1 − k tg α − ru ) (18)
γ' da resistência ao cisalhamento, Su, dada pela equa-
ção 23, e da tensão de cisalhamento na superfí-
Relembrando o modelo de Mohr-Coulomb cie de escorregamento, t, dada pela equação 10,
(equação 19), aplicável a materiais não puramente resulta a expressão 25 para o fator de segurança,
coesivos, a resistência disponível S ao longo da su- considerando o peso específico do solo constante:
perfície de contato AB é função da tensão efetiva
s’, dada pela equação 18: Su0 / H + ζ
FS = (25)
γ
γ ' cos α ( sen α + k cos α )
S = c′ + σ′ tg ϕ′ (19) γ'

Reescrevendo a equação 25 de outra forma, o


onde c’ é a coesão e f’ é o ângulo de atrito interno
fator de segurança resulta na equação 26:
do material submerso.
Substituindo na equação 19 a expressão da [S u0 / ( γ ' H) + ζ / γ ' ] (1 + tg2 α )
FS = (26)
tensão efetiva ao longo da superfície de contato γ
tg α + k
AB, dada pela equação 18, obtém-se a equação 20: γ'
Geolog ia e G eomorfolog i a 115

No caso estático, onde k = 0 e ru = 0, as equa- Na Figura 7, estão contidos os nomes das princi-
ções 22 e 26, respectivamente para material de pais feições geomorfológicas (Schreiner et al., 2008),
Mohr-Coulomb e material coesivo, ficam reduzidas tanto as mais consagradas, como o Sistema Turbidí-
às equações 27 e 28, respectivamente: tico Almirante Câmara e os cânions do Grupo Sudes-
c' te (Hercos et al., 2008; Machado et al., 2004; Viana
+ tg ϕ' et al., 1999), quanto aquelas estudadas mais recen-
γ' H cos2 α
FS = (27)
tg α temente, como o Sistema Turbidítico Itabapoana, o
Sistema Turbidítico Marataízes (Hercos et al., 2005) e
( S u0 / H ) + ζ as paleolinhas da costa (Della Giustina, 2006).
FS = (28)
γ ' ⋅ sen α ⋅ cos α
Mapa de declividade
5.2. Análise de estabilidade A batimetria utilizada para se criar o mapa de
A modelagem matemática (análise de estabili- geomorfologia da Figura 7 foi a base para que pu-
dade de taludes submarinos) realizada teve como desse ser gerada a declividade do piso marinho, já
base a formulação de talude infinito submerso. O que a declividade é obtida aplicando-se a primeira
cálculo do fator de segurança estático contra desli- derivada à batimetria. Para cada cela do mapa de
zamentos foi executado mediante a ferramenta de declividade, o valor do ângulo de inclinação a do
álgebra matricial da aplicação do sistema de infor- piso marinho está armazenado.
mação geográfica, apresentando como resultado a O mapa de declividade da Figura 8 mostra que
variação espacial do fator de segurança para toda grande parte da bacia apresenta uma declividade
a área, e não somente para um talude específico. muito baixa (0 a 2 graus). Destacam-se, pelas ele-
vadas inclinações relativas, as regiões de cânions e
Modelo digital da geomorfologia ravinas no talude ao norte e ao sul da bacia (10 a
Para elaborar a imagem de edge detection da Ba- 25 graus) e, na parte central da bacia, as paredes
cia de Campos (Figura 7), Schreiner et al. (2007/2008) dos cânions (15 a 30 graus) e a inclinação do talude
elaboraram um mosaico batimétrico do fundo do inferior (8 a 15 graus) com suas inúmeras cicatrizes;
mar. Para isso, foi reunido o fundo do mar de 37 di- no platô adjacente, ressaltam-se as escarpas cria-
ferentes projetos sísmicos, além de 12 levantamentos das pelas cadeias de sal (10 a 20 graus) e as mar-
de multibeam com o complemento da batimetria de gens dos canais turbidíticos.
varredura por interferometria de sonar.
Segundo Schreiner et al. (2007/2008), esses Cálculo do fator de segurança
projetos sísmicos perfizeram 54.010 km². Nas áreas No mapa de declividade da Figura 8, que é a
sem cobertura de sísmica 3D ou onde havia dis- base para a geração do mapa de fatores de segu-
ponibilidade de dados de melhor resolução, foi rança, os valores de declividade maiores ou iguais
usada batimetria multibeam. Esses levantamentos a 45 graus foram classificados como 45 graus, en-
multibeam totalizaram 2.300 km² de 12 campanhas quanto os valores iguais a 0 grau foram transforma-
distintas. No extremo leste da área, onde havia au- dos para 0,1 grau. A utilização de valores maiores
sência de 3D ou multibeam, somaram-se 6.000 km² que 45 graus e iguais a 0 grau invalidaria a fórmula
de batimetria de varredura por interferometria de utilizada para o cálculo do fator de segurança. Nes-
sonar. se mapa, apresenta-se declividade máxima em cada
Edge detection é um algoritmo que detecta a cela, expressa em graus, constituindo-se no pior ca-
coerência entre valores de uma matriz. No caso da so para a estabilidade de taludes.
batimetria, essa coerência é medida entre os valo- Foram utilizados os programas de geoproces-
res de profundidade de lâmina d’água da região samento da Intergraph denominados GeoMedia®
em estudo. Professional e GeoMedia® Grid, versões 6.01.
116 Áreas propensas a escorregamentos no talude cont inental

300 400 500


7700

7700
0
Rio

–20
Ita

em
p

irim

ES Sistema Turbidítico
Marataízes

00
Debritos

–20
Rio Itab
a poana Leque Arenoso
Sistema Turbidítico Turbidítico
Itabapoana
Barreira de Sal

RJ

São João da Barra Depósitos


Platô de São Paulo
ul

S
7600

7600
do Contorníticos
íba Almirante Câmara
Rio Para

Campos Sistema Turbidítico Tabajara


Almirante Câmara Curumim Cadeias de Nappes
Diapirismo
Grussaí
Debritos Salino
Cânions Maduros
do Grupo Central
L. Feia Cabo de São Tomé Itapemirim Leque Arenoso
Terraço Erosivo Turbidítico Minibacias

Quissamã

Salio da
na
osta
de C

vín tern
n has tica São Tomé Debritos
o li á

Pro ite Ex
cia
on Expostos por
Plataforma Pa
le
Ca
rb Halocinese
a

Lim
m
Continental or Cicatrizes de
af

Deslizamento
at
Pl

Calha Distal do
7500

7500
Almirante Câmara
Talude
Mound Contornítico
Depósitos Lençol Arenoso
Contorníticos Contornítico Cadeias de Diapirismo
Salino

Zona de Desabamento –3000

Goitacá
Tupinambá
Temiminó
Tamoio Grupo de Cânions SE
Cânions do Grupo Tupiniquim Imaturos
Sul-Sudeste
os
rit
eb
D
de
al
nt
e
Bacia de Campos
00

Av
–2
7400

7400

Ondas de Sedimento
00

de o
es nt
–20

t riz me N
ca iza
Ci esl
D
0 10 20 30 40 50
km

300 400 500

Figura 7. Modelo digital da geomorfologia indicando as principais feições geomorfológicas do fundo do mar da
Bacia de Campos (Schreiner et al., 2007/2008).
Geolog ia e Geomorfolog i a 117

41° O 40° O 39° O

ES
21° S

21° S
RJ
22° S

22° S
23° S

23° S
DECLIVIDADE (°)

0–2

2–4
4–6

6–8
8 – 10

10 – 12
12 – 14

14 – 16
16 – 18
N 18 – 20
20 – 22
0 12,5 25 50 22 – 24
24° S

24° S

km
DATUM: SIRGAS 2000 24 – 60

41° O 40° O 39° O

Figura 8. Declividade do fundo do mar da Bacia de Campos; baseado no Modelo Digital do Terreno de Schreiner
et al. (2007/2008).
118 Áreas propensas a escorregamentos no talude cont inental

Para avaliar a suscetibilidade a deslizamentos angular da equação Su = Su0 + z.H, um amplo con-
submarinos, após a modelagem numérica do ter- junto de perfis de resistência ao cisalhamento não
reno e a determinação do valor de declividade a drenada em função da profundidade foi interpre-
ser utilizado em cada cela, aplicou-se a formulação tado, de modo a encontrar, num primeiro momen-
matemática de talude infinito para a condição sub- to, aquele que representaria a pior situação para
mersa, considerando o talude como constituído um estudo de estabilidade de taludes submarinos,
por solo coesivo normalmente adensado. qual seja, quando o parâmetro z da razão incre-
Assim, a equação 28 apresentada anteriormen- mental de variação da resistência com a profundi-
te, descrita em Paganelli e Borges (2005), foi apli- dade é mínimo. Posteriormente, um valor médio
cada por meio de uma ferramenta de álgebra ma- para o parâmetro z foi pesquisado para represen-
tricial do programa GeoMedia®. Essa ferramenta tar um solo coesivo de resistência intermediária
possibilitou que fossem realizadas operações ma- para o talude da bacia.
temáticas para toda a área de estudo. A Figura 9 ilustra as locações dos furos geotéc-
nicos constantes no banco de dados geotécnicos
( S u0 / H ) + ζ
FS = (28) do Cenpes/Petrobras.
γ ' ⋅ sen α ⋅ cos α
Por se tratar de uma área com um número es-
Onde: tatisticamente significativo de ensaios de resistên-
FS = fator de segurança estático contra desliza- cia in situ calibrados por ensaios de laboratório, foi
mentos, para material coesivo; possível estimar os valores de resistência mínima e
Su0 = resistência ao cisalhamento não drenada na média para a área de estudo. Dessa pesquisa, re-
superfície do terreno, kPa; sultou que o furo geotécnico com o perfil de Su
H = espessura da camada de solo analisada, m; correspondendo a um limite inferior de resistência
z = taxa de crescimento da resistência Su com a é o do GT-212, e o referente a uma resistência mé-
profundidade vertical H abaixo do piso marinho, dia, o perfil do furo GT-500.
kPa/m; As Figuras 10 e 11 apresentam os perfis de Su
g’ = peso específico submerso do solo, kN/m³; obtidos para os furos GT-212 e GT-500, respecti-
a = declividade do fundo do mar, em graus. vamente:
O furo GT-212 foi executado pela embarcação
Informações geotécnicas Peregrine II em 1998, no Campo de Espadarte, nas
Para a confecção dos mapas de fatores de se- coordenadas UTM E 354.370 m e N 7.483.541 m
gurança estáticos contra deslizamentos transla- (Datum Aratu-BC, MC 39°O), em uma lâmina
cionais rasos no talude continental e Platô de São d’água de 963,39 m. A profundidade final do fu-
Paulo da Bacia de Campos, foram selecionados ro foi de 20,67 m. O furo GT-500 foi executado na
dois perfis geotécnicos de resistência ao cisalha- campanha de investigação geológica e geotécni-
mento não drenada dos sedimentos superficiais do ca de 2003, realizada pelo navio MV Bucentaur, no
talude da bacia, quais sejam: um correspondendo a Campo de Marlim Sul. Suas coordenadas UTM são
um limite inferior de resistência e outro referente a as seguintes: E 376.414 m e N 7.473.150 m (Datum
um perfil de resistência média para o solo. Aratu-BC, MC 39°O). A profundidade de água nes-
As propriedades do solo necessárias à aplica- sa locação é de 1.624,50 m. A profundidade final
ção da equação 28 são a resistência ao cisalhamen- do ensaio foi de 40,41 m.
to não drenada Su e o peso específico submerso do No caso do furo geotécnico GT-212 (Figura 10),
solo g’, os quais foram pesquisados através de con- na camada superficial a equação de resistência obti-
sulta ao banco de dados geotécnicos do Cenpes/ da a partir de tensões totais é dada pela equação 29:
Petrobras (BDG). Para se obterem os valores míni-
mo e médio do parâmetro z, que é o coeficiente Su = 1,424 H + 3,000 (29)
Geolog ia e Geomorfolog i a 119

41° O 40° O 39° O

ES
21° S

21° S
22° S

22° S
RJ
23° S

23° S

RING-FENCE

FURO GEOTÉCNICO (PCPT)


24° S

24° S

0 12,5 25 50
km
DATUM: SIRGAS 2000

41° O 40° O 39° O

Figura 9. Locações dos ensaios de cravação de piezocone plotados sobre a imagem da morfologia do fundo do
mar da Bacia de Campos (Figura 7), de Schreiner et al. (2007/2008). Em verde, contorno de ring-fence dos campos
da Petrobras na Bacia de Campos.
120 Áreas propensas a escorregamentos no talude cont inental

Resistência Não Drenada, su (kPa)


su = su0 + ζ . H
0 10 20 30 40 50
0

10
Profundidade, H (m)

15

20

Tensões Totais (H’ = H – hn–1, hn = Prof. Base da N-ésima Camada)

Su = 1,424 • H’ +3,000 para 0,00 <H< 20,67

Tensões Efetivas (H’ = H – hn–1, hn = Prof. Base N-ésima Camada)

Su = 1,670 • H’ +2,429 para 0,00 <H< 20,67

25

TENSÕES TOTAIS TENSÕES EFETIVAS


REGR. TENSÕES TOTAIS REGR. TENSÕES EFETIVAS

Figura 10. Perfil de resistência ao cisalhamento não drenada do furo GT-212.


Geolog ia e G eomorfolog i a 121

Resistência Não Drenada, su (kPa)


su = su0 + ζ . H
0 20 40 60 80 100
0

Tensões Totais (H’ = H – hn–1, hn = Prof. Base da N-ésima Camada)

Su = 1,728 • H’ +0,157 para 0,00 <H< 40,41

5 Tensões Efetivas (H’ = H – hn–1, hn = Prof. Base N-ésima Camada)


Su = 1,939 • H’ +0,629 para 0,00 <H< 40,41

10

15
Profundidade, H (m)

20

25

30

35

40

45

TENSÕES TOTAIS TENSÕES EFETIVAS


REGR. TENSÕES TOTAIS REGR. TENSÕES EFETIVAS

Figura 11. Perfil de resistência ao cisalhamento não drenada do furo GT-500.


122 Áreas propensas a escorregamentos no talude cont inental

A equação de resistência em termos de tensões desfavorável para a estabilidade de taludes. Obvia-


efetivas é dada pela equação 30: mente, se o peso específico submerso for tomado
como máximo, assim também deve-se proceder
Su = 1,670 H + 2,429 (30) em relação ao peso específico natural g (g = g’ + gw),
onde gw é o peso específico da água. Observou-se
Entre as equações 29 e 30, selecionou-se a que os valores máximos de peso específico sub-
equação 29 em termos de tensões totais. Dessa merso g’ para a Bacia de Campos estão em torno
equação, resultaram os seguintes valores para o de 7,50 kN/m³. Esse foi o valor de peso específico
cálculo do fator de segurança pela formulação de submerso usado no cálculo de fator de segurança
talude infinito dada pela equação 28 para o furo para o mapa com os dados do furo GT-212. Con-
GT-212: sequentemente, o peso específico natural g resulta
em 17,31 kN/m³, considerando o peso específico
Su0 = 3,000 kPa; da água gw = 9,81 kN/m³.
H = 20,67 m; e Para a confecção do mapa de fatores de segu-
z = 1,424 kPa/m. rança referentes aos dados de penetração de um
piezocone (PCPT) do GT-500, adotou-se como ba-
No caso do furo geotécnico GT-500 (Figura 11), se a amostragem do tipo JPC (Jumbo Piston Core)
na camada superficial do solo, a equação de resis- realizada acompanhando esse furo (JPC-500), sele-
tência obtida a partir de tensões totais é dada pela cionando-se o valor médio de peso específico sub-
equação de regressão linear 31: merso obtido nesse ensaio, isto é, g’ = 5,4375 kN/m³
(Figura 12). O furo JPC-500 foi executado pelo navio
Su = 1,728 + 0,157 (31)
MV Bucentaur em Marlim Sul, em 2003, nas coor-
denadas UTM E 376.415 m e N 7.473.159 m (Datum
A equação de resistência para tensões efetivas
Aratu-BC, Esferoide Hayford, Zona 24°S, MC 39°O).
é dada pela equação 32:
A lâmina d’água na locação é de 1.621,17 m.
Como resultado da aplicação da equação 28,
Su = 1,939 H + 0,629 (32)
obteve-se uma matriz em que cada cela armazena
um valor de fator de segurança. Com isso, é possí-
Entre as equações 31 e 32, selecionou-se a
vel observar a variação geográfica do fator de se-
equação 31 em termos de tensões totais. Dessa
gurança para toda a área, nas duas situações de
equação, resultaram os seguintes valores para o
resistência do solo analisadas.
cálculo do fator de segurança pela formulação de
talude infinito dada pela equação 28 para o furo
Mapeamento de áreas suscetíveis
GT-500:
a movimentos de massa
Su0 = 0,157 kPa; Não há uma regra geral sobre como o fator de
H = 40,41 m; e segurança deva ser classificado. Por exemplo, Van
z = 1,728 kPa/m. Westen e Terlien (1996) categorizaram o fator de
segurança em três classes: abaixo de 1, que sig-
Para a elaboração do mapa de fatores de se- nifica talude instável; entre 1 e 1,50, que significa
gurança considerando o perfil de Su do furo geo- moderadamente estável; e acima de 1,50, indican-
técnico GT-212, através de consulta ao banco de do um talude estável. O SINMAP (Stability INdex
dados geotécnicos do Cenpes/Petrobras (BDG), foi MAPping), uma extensão para a modelagem com-
adotada uma postura conservadora, escolhendo putacional de estabilidade de taludes no programa
um valor considerado máximo para o peso espe- ArcView, usa seis classes para o fator de segurança,
cífico submerso g’, o que representaria o caso mais incluindo divisões para valores abaixo de 1.
Geolog ia e G eomorfolog i a 123

Peso Específico Submerso, γ' (kN/m3)


γ'médio = 5,4375 kN/m3

0 2 4 6 8
0

8
Profundidade, H (m)

10

12

14

16

18

20

Figura 12. Resultados de peso específico submerso do furo JPC-500.


124 Áreas propensas a escorregamentos no talude cont inental

Na análise de estabilidade de taludes, o fator condição crítica, onde as forças resistentes e atuan-
de segurança com relação à resistência ao cisalha- tes no talude estão equilibradas.
mento do material tem, tradicionalmente, as se- Tendo em vista os riscos envolvidos em proje-
guintes funções: tos de desenvolvimento da produção de óleo e/ou
gás offshore, é necessário levar em consideração
yy Levar em consideração as incertezas nos parâ- um nível de segurança alto para o talude da Bacia
metros de resistência ao cisalhamento devido à de Campos, tanto contra a perda de vidas humanas
variabilidade do solo e a relação entre a resis- quanto contra danos materiais e ambientais. Dessa
tência medida no laboratório e aquela obtida forma, o fator de segurança considerado mínimo,
nos ensaios de campo. requerido para garantir a segurança do piso mari-
yy Contabilizar as incertezas quanto aos carrega- nho da área, é de 1,50, de acordo com padrões re-
mentos atuantes no talude, tais como: cargas comendáveis de Engenharia, encontrando suporte
superficiais, peso específico, poropressões etc. nas diretrizes da ABNT NBR 11682:2009.
yy Considerar as incertezas na forma como o mo- O fator mínimo aceitável de 1,50, de acordo
delo representa as condições reais no talude, com a norma citada, tem a finalidade de cobrir as
incluindo: a possibilidade de que o mecanismo incertezas referidas anteriormente. Entretanto, es-
de ruptura crítico seja um pouco diferente da- sa norma se refere ao estudo e ao controle da es-
quele que foi identificado, e que o modelo não tabilidade de encostas e de taludes resultantes de
seja conservativo. cortes e aterros realizados em encostas, diferindo
yy Assegurar que as deformações no corpo do ta- do caso aqui analisado, qual seja, a estabilidade de
lude sejam aceitáveis. taludes naturais submarinos. Tal referência foi usa-
da em razão da ausência de normas quanto à se-
O fator de segurança igual a 1 não indica que gurança de taludes contra deslizamentos na con-
a ruptura de um talude seja necessariamente imi- dição offshore.
nente. O fator de segurança real é fortemente in- O resultado do cálculo do fator de seguran-
fluenciado por detalhes geológicos, como proprie- ça estimado para cada cela foi um mapa temático
dades tensão-deformação do solo, distribuição apresentando a distribuição espacial dos valores
real de poropressões, estado de tensões inicial, dos fatores de segurança. Esses resultados passa-
ruptura progressiva e inúmeros outros fatores. En- ram por uma etapa de agrupamento automático
tretanto, na prática, é conveniente assumir que um em intervalos previamente definidos, em que o fa-
fator de segurança de nível 1 seja definido como a tor de segurança foi classificado em quatro classes

Tabela 2. Definição das classes de estabilidade do piso marinho com base nos valores de fatores de segurança.

Critério Classe Suscetibilidade a deslizamentos Comentários

FS > 1,50 4 Suscetibilidade baixa a deslizamentos. Carregamentos externos significativos são


necessários para se promover instabilidade.
1,30 < FS ≤ 1,50 3 Suscetibilidade moderada a Carregamentos externos moderados são
deslizamentos. necessários para se promover instabilidade.
1,00 < FS ≤ 1,30 2 Suscetibilidade alta a deslizamentos. Carregamentos externos de pequena
magnitude são suficientes para a
instabilidade.
FS ≤ 1,00 1 Suscetibilidade muito alta a Carregamentos externos não são necessários
deslizamentos. para a instabilidade (talude na iminência de
deslizamento).
Geolog ia e G eomorfolog i a 125

diferentes, como mostra a Tabela 2. Essa classifi- mais resistentes do que os perfis geotécnicos de
cação define as áreas potenciais a deslizamentos. resistência das camadas superficiais de solo ado-
Outras classificações poderiam ser adotadas a tados. Esse fato evidencia que a declividade a é
partir da matriz de variação de fator de segurança o parâmetro de maior peso na relação dada pela
obtida como resultado da modelagem matemáti- equação 28.
ca. Como a matriz armazena os valores brutos dos As áreas coloridas em azul nos mapas de fa-
fatores de segurança, qualquer nova classificação tores de segurança estáticos contra deslizamentos
(condição) pode ser adotada. apresentados nas Figuras 13 e 14, por serem de
Considera-se que o valor do fator de seguran- baixas declividades, resultaram em valores de fato-
ça tem relação direta com a resistência ao cisalha- res de segurança acima do mínimo de 1,50. Essas
mento do material do fundo do mar. Admite-se, áreas são consideradas pouco suscetíveis à ocor-
portanto, que um maior valor do fator de segurança rência de escorregamentos translacionais rasos, na
corresponda a uma segurança maior contra ruptura. ausência de mecanismos de disparo identificados e
Os cálculos de fatores de segurança estáticos de anormalidades localizadas.
contra deslizamentos foram feitos utilizando-se o Embora o talude da Bacia de Campos apresen-
sistema de informação geográfica, aplicando-se o te intenso histórico de instabilidade no passado
método do equilíbrio limite – formulação de talu- geológico recente, exemplificado por cânions, ra-
de infinito submerso unidimensional, obtendo-se vinas e cicatrizes, depósitos de escorregamento e
o fator de segurança para cada cela individual e de fluxo de detritos, discordâncias e afloramentos,
ignorando-se a influência das celas vizinhas. Atra- cerca de 300 testemunhos a pistão que amostra-
vés desse modelo, foi possível incorporar o dado ram as feições de instabilidade do talude confirma-
relativo à geometria do fundo do mar (declivida- ram que os eventos causadores ocorreram maciça-
de) e às propriedades mecânicas do solo. O pro- mente em períodos de rebaixamento do nível do
duto deste trabalho são os mapas das Figuras 13 mar e cessaram há pelo menos 11.000 anos, quan-
e 14, que, por meio das diferentes condições de do o nível do mar reocupou a plataforma conti-
fatores de segurança, definem áreas potenciais a nental (Kowsmann et al., neste volume). Na parte
movimentos de massa submarinos translacionais central da bacia, onde se localizam os principais
rasos no talude continental e no Platô de São Pau- ativos da Petrobras, os eventos cessaram há pelo
lo da Bacia de Campos, considerando-se perfis de menos 42.000 anos. Exceção são as escarpas das
resistência ao cisalhamento não drenada mínimo cadeias de sal, localizadas na porção distal da ba-
e médio, respectivamente. O solo do talude foi ti- cia, em lâminas d’água superiores a 2.500 m, onde
do como constituído inteiramente por lama nor- afloram sedimentos antigos sem cobertura hemi-
malmente adensada. Para a geração desses mapas, pelágica, devido à tectônica salífera ativa até hoje
aplicou-se apenas a carga estática gravitacional. (Kowsmann et al., 2002).
Forças adicionais ou cargas sísmicas não foram Aparece também, embora com maior fator de
consideradas. segurança, a área de declividade mais acentuada
Os mapas de fatores de segurança apresenta- do talude inferior na parte central da bacia. Essa
dos nas Figuras 13 e 14 mostram, em tese, as áreas faixa situada entre as isóbatas de 1.200 e 1.800 m
mais suscetíveis à instabilidade no talude continen- é conhecida como Tobogã (Kowsmann e Viana,
tal e no Platô de São Paulo da Bacia de Campos. 1992), por apresentar uma forma sigmoide e pro-
Destacaram-se as paredes de cânions e ravinas e pensão a deslizamentos, que deixaram cicatrizes e
os flancos das cadeias de sal e, em menor grau, o expuseram sedimentos mais antigos junto ao fun-
Tobogã na parte central da bacia, que são áreas do do mar (Figura 15).
com declividades elevadas, mas que, na realidade, A partir dos dados obtidos pela campanha
são constituídas de afloramentos consolidados, de investigação geológica e geotécnica, realizada
126 Áreas propensas a escorregamentos no talude cont inental

41° O 40° O 39° O

ES

21° S
RJ

22° S
23° S
FS < OU = 1,00

1,00 < FS < OU = 1,30

1,30 < FS < OU = 1,50

FS > 1,50

Parâmetros – GT212:
N
Su0 = 3 kPa
24° S

Taxa de crescimento de Su = 1,424 kPa/m


0 12,5 25 50 Peso específico submerso γ’ = 7,50 kN/m3
km
DATUM: SIRGAS 2000 H = 20,67 m

Figura 13. Cenário de suscetibilidade a deslizamentos obtido da modelagem matemática, considerando um


limite inferior de resistência (dados do furo GT-212).
Geolog ia e Geomorfolog i a 127

41° O 40° O 39° O

ES

21° S
RJ

22° S
23° S
FS < OU = 1,00

1,00 < FS < OU = 1,30

1,30 < FS < OU = 1,50

FS > 1,50

Parâmetros – GT/JPC-500:
N
Su0 = 0,157 kPa
24° S

Taxa de crescimento de Su = 1,728 kPa/m


0 12,5 25 50 Peso específico submerso g’ = 5,44 kN/m3
km
DATUM: SIRGAS 2000 H = 40,41 m

Figura 14. Cenário de suscetibilidade a deslizamentos obtido da modelagem matemática, considerando uma
resistência média (dados dos furos GT/JPC-500).
128 Áreas propensas a escorregamentos no talude cont inental

1.000 Cabo de São Tomé


sec.

NO

MTD

00
1.500

–2
Pleis
tocen
o
MTD

0
00
N

–2
2.000
Miocen
o

2.500

SE
MTD

2 km
3.000

Figura 15. Seção sísmica através do talude inferior propenso a deslizamentos e conhecido como Tobogã.

pelo navio MV Bucentaur em 2003, Borges (2009) de cada camada fornecidas pelos furos geotécni-
analisou a estabilidade geotécnica de quatro se- cos, levando em consideração suas discordâncias
ções geológicas provenientes da área do Tobogã e os saltos em resistência. O método de avalia-
no talude inferior da Bacia de Campos. O software ção escolhido para a estabilidade do talude foi o
utilizado foi o Slope/W 2007 (Geo-Slope, 2008), de Morgenstern e Price, (1965). O perfil através
versão 7.15, produzido pela empresa canadense do Tobogã com o fator de segurança calculado
Geo-Slope/W International Ltd. (Calgary, Canadá). considerando uma superfície potencial de ruptura
Na modelagem dessas quatro seções, foi utili- do tipo rotacional profunda apresentou um valor
zada a metodologia de análise de estabilidade de de fator de segurança mais realista, superior ao
taludes proposta no Relatório Técnico do Projeto das Figuras 13 e 14, mostrando que, ao honrar a
de P&D 600.234 da Petrobras: Modelagem Compu- geo­metria das camadas e suas propriedades geo­
tacional de Taludes Submarinos pela Aplicação do técnicas medidas, o fator de segurança aumenta
Programa SLOPE/W (Paganelli e Costa, 2003). consideravelmente.
Uma das seções geológicas modeladas através Na Figura 17 é apresentado o resultado da
do Tobogã é apresentada na Figura 16. análise de estabilidade por equilíbrio limite do
Para a análise de estabilidade do talude da talude da seção da Figura 16. O mapeamento da
seção da Figura 16, foram atribuídas, a essa se- superfície de ruptura crítica foi feito utilizando-se
ção estratigráfica, as propriedades geotécnicas a técnica Entry and Exit disponível no Slope/W,
Geolog ia e G eomorfolog i a 129

encontrando o fator de segurança mínimo, o qual Como mencionado, os fatores de seguran-


será o fator de segurança do talude. ça foram obtidos considerando-se condições não
O fator de segurança estático associado à su- drenadas para o comportamento do solo. É im-
perfície de ruptura crítica para o talude da seção portante salientar que um mecanismo de disparo
estratigráfica resultou em 3,909 pelo método de é pré-requisito para a ruptura de um talude. Se na-
cálculo de Morgenstern-Price, com a superfície crí- da ocorrer no talude ou próximo a ele, não have-
tica representada em cor amarela. Os resultados rá deslizamento. A análise não drenada expressa a
dessa análise estão resumidos na Tabela 3: margem de segurança de um talude contra rup-
tura, considerando que um mecanismo de disparo
Tabela 3. Resultados da análise de estabilidade do seja rápido o suficiente, de tal forma que os efei-
talude da seção AB do Tobogã. tos de drenagem no solo sejam insignificantes. A
questão-chave é estimar o grau de drenagem que
Parâmetro Valor
pode ocorrer para o mecanismo de disparo que es-
Fator de Segurança 3,909
teja sendo analisado.
Volume Total 1,4571 × 105 m³/m
De acordo com Lee (2004), os eventos ou pro-
Peso Total 1,0186 × 106 kN/m
cessos de disparo de movimentos de massa sub-
Momento Resistente Total 1,2727 × 108 kN/m
Momento Atuante Total 3,2557 × 107 kN/m
marinos são iniciados pelo aumento das tensões
Força Resistente Total 3,9397 × 105 kN atuantes, decréscimo da resistência ao cisalhamen-
Força Atuante Total 1,0078 × 105 kN to do solo ou pela combinação de ambos. Esses
efeitos podem modificar os fatores de segurança
calculados e a localização das áreas críticas quanto
A estabilidade atual do Tobogã, apesar do pas- à estabilidade. Lee (2004) citou os seguintes me-
sado geológico catastrófico, também é atestada canismos disparadores: acúmulo de sedimentação,
por testemunhos a pistão geminados aos furos erosão, terremotos, vulcões, ondas, presença de
geotécnicos. Estes revelam a presença de uma co- gás e hidratos de gás, percolação de fluidos, diapi-
bertura de sedimentos hemipelágicos recobrindo rismo e atividades humanas.
os depósitos de movimentos de massa, cicatrizes No talude da Bacia de Campos, a ação de on-
e afloramentos. A datação dessa cobertura, atra- das de tempestade oceânica sobre a estabilidade
vés do biozoneamento de foraminíferos planctôni- do fundo é insignificante, em função de ser um
cos, indicou que a cicatrização se deu há cerca de ambiente de águas profundas. A presença de gás
50.000 anos (Kowsmann et al., 2002, Kowsmann et e de hidratos de gás não é conhecida na bacia no
al., neste volume, Figura 11). Presente, ou seja, não são esperadas flutuações rá-
pidas na poropressão em função da dissociação de
Discussão hidratos, por exemplo. Além disso, a taxa de acu-
Os mapas regionais de fatores de segurança mulação do Holoceno é muito baixa, da ordem de
apresentados nas Figuras 13 e 14 mostraram que 6 cm/1.000 anos (Kowsmann et al., neste volume),
grandes áreas de baixas declividades do talude o que descarta o mecanismo drenado da ruptura
continental e do Platô de São Paulo da Bacia de do talude. A instabilidade de taludes poderia ser
Campos apresentam fatores de segurança está- atribuída a acelerações associadas a terremotos,
ticos acima do mínimo de 1,50, indicando baixa mas outras condições de contorno parecem neces-
suscetibilidade à ocorrência de deslizamentos cau- sárias para justificar a preponderância de eventos
sados pela ação da gravidade, contrariando, des- de instabilidade nos períodos glaciais do Pleisto-
sa forma, a literatura (Figura 4), que mostra maior ceno, uma vez que terremotos são considerados
frequência de deslizamentos em áreas de pequena eventos aleatórios. O nível de mar baixo dos pe-
inclinação. ríodos glaciais propiciaria taxas de sedimentação
130 Áreas propensas a escorregamentos no talude cont inental

mais elevadas e a dissociação de hidratos de gás, 6. Considerações sobre sismos


gerando excesso de poropressão nos sedimentos Sabe-se que existe alguma atividade sísmica na
e propiciando as condições necessárias para ocor- região da Bacia de Campos. Embora relativamen-
rência de ruptura do talude. te baixa, tal atividade pode ser significativa para a
Terremotos têm sido reportados por vários pes- estabilidade de taludes em cânions de paredes ín-
quisadores como o fenômeno ambiental mais des- gremes atravessados por linhas de escoamento de
trutivo. Durante um terremoto, o estremecimento produção, contendo ancoragens, poços etc. Con-
súbito do terreno provoca um rápido desequilíbrio sequentemente, a sismicidade regional é uma fon-
de forças na massa de solo, de tal forma que ocor- te potencial de riscos.
re redução nas tensões normais e, consequente- Análises sísmicas de estruturas em zonas de baixa
mente, também na resistência ao cisalhamento do sismicidade deveriam ser consideradas uma conse-
material. Uma análise realista de estabilidade pseu- quência natural de uma boa prática de projeto, em
doestática ou dinâmica, levando em consideração particular de instalações com características especiais,
a sismicidade da área, requer dados sismológicos seja do ponto de vista socioeconômico, ambiental ou
e de comportamento do solo, hoje inexistentes. A de segurança da comunidade. A questão, no entanto,
instalação e a operação da Rede Sismográfica do é como e a que níveis essas considerações devem ser
Sul e do Sudeste do Brasil (RSIS/SE), com a fixação incorporadas em projeto, tendo em mente as possí-
de sismômetros de fundo oceânico (OBSs) no piso veis magnitudes e probabilidades de ocorrência de
marinho, além da medição do módulo elástico do tais eventos (Almeida, 1997).
solo baseado na velocidade de ondas S e ensaios Por essa razão, tais taludes devem ter suas se-
dinâmicos de laboratório, deverão auxiliar na reali- guranças avaliadas, considerando-se nas análises
zação desse tipo de análise. de estabilidade a carga sísmica máxima provável,

–1,0
GT-300 DEPÓSITO DE FLUXO DE DETRITOS

DEPÓSITO DE ESCORREGAMENTO (SLUMP)


GT-380A LAMA MOLE
GT-381A
–1,5 LAMA RIJA
Elevação (m) (x 1000)

GT-382

GT-383
GT-384

–2,0

–2,5

–3,0
–1 4 9 14 19 24 29
Distância (m) (x 1000)

Figura 16. Seção geológica através do Tobogã utilizada para a modelagem através do programa Slope/W (adap-
tada de Borges, 2009). Furos com testes de PCPT e amostragem dos sedimentos forneceram os parâmetros
geotécnicos necessários.
Geolog ia e G eomorfolog i a 131

pois sismos naturais são considerados, em geral, a geográficas 22,67°S e 40,52°O; em 24 de outubro
causa provável de deslizamentos de taludes sub- de 1972, um sismo de magnitude mb = 4,8 e coor-
marinos, que, de outro modo, seriam estáveis na denadas epicentrais 21,72°S e 40,53°O; e, em 5 de
condição estática. maio de 1917, outro sismo, de magnitude mb = 4,5,
Em 1o de julho de 2010, foi registrado um sismo com coordenadas epicentrais 21,60°S e 41,50°O
de magnitude aproximada de 4,1 mb, cujos dados (Berrocal et al., 1984).
foram coletados através das estações sismográficas Deve-se considerar que grande quantidade
ESAR (Angra dos Reis/RJ), Valinhos (USP/SP), RCLB dos sismos de magnitude acima do mínimo detec-
(UNESP/SP) e SFA1 (UnB/DF). As coordenadas epi- tável ocorrem com frequência nas Bacias de Cam-
centrais aproximadas desse sismo foram 22,30°S e pos e de Santos, sendo a sismicidade da Bacia da
40,37°O. Não foi possível determinar a profundi- Santos maior do que a de Campos. Para caracte-
dade focal. A localização do epicentro tem uma in- rizar quantitativamente a sismicidade de uma re-
certeza muito grande (± 100 km), pois as estações gião, é necessário obter a relação frequência ver-
estão distantes, e os registros, muito fracos (ESAR, sus magnitude dessa região, onde os sismos são
a mais próxima, está a 430 km), e todas estão de observados e contabilizados. Essa é a chamada
um mesmo lado do epicentro. Esse sismo provocou curva frequência versus magnitude excedida em
ruídos na área epicentral onde estão localizados gráfico monolog, onde a escala de frequência é
os campos de Enchova e Pampo, com duração de logarítmica e a escala de magnitudes excedidas é
aproximadamente 2 minutos. li­near. De acordo com a lei de Gutenberg-Richter,
Anteriormente já foram registrados sismos a função resultante registrada nesse tipo de escala
nessa região: em 26 de outubro de 1996, um sismo deve ser uma linha reta. Quanto menor a magnitu-
de magnitude mb = 4,0 ocorreu nas coordenadas de excedida, maior será a frequência dos eventos

3.909
SUPERFÍCIE DE RUPTURA
–1,0
GT-300 DEPÓSITO DE FLUXO DE DETRITOS

DEPÓSITO DE ESCORREGAMENTO (SLUMP)


GT-380A
LAMA MOLE
GT-381A
–1,5 LAMA RIJA
GT-382
Elevação (m) (x 1000)

GT-383
GT-384

–2,0

–2,5

–3,0
–1 4 9 14 19 24 29
Distância (m) (x 1000)

Figura 17. Resultado da análise de estabilidade através do programa Slope/W para o talude da seção da Figura
16. O fator de segurança estático associado à superfície de ruptura crítica em amarelo foi de 3,909.
132 Áreas propensas a escorregamentos no talude cont inental

de magnitude excedida, e os eventos sísmicos de submetido a uma solicitação dinâmica de certa du-
magnitude superior a valores mais altos, como os ração e intensidade, pode escoar pelo vale do câ-
anteriormente exemplificados, serão mais raros. nion, representando um perigo real para os dutos
É importante instalar estações sismográficas que ligam os poços à unidade de produção. Esse
próximas à costa e mais próximas umas das outras, risco deve ser avaliado através de análises compu-
sendo que a rede atual é rarefeita e com poucas tacionais específicas, utilizando ensaios cíclicos pa-
estações costeiras. Além disso, para planejamento, ra a obtenção do comportamento do solo e usan-
projeto, gestão e mitigação de risco sísmico, faz- do como carregamento sísmico um acelerograma
-se necessária a instalação de estações submarinas de projeto criteriosamente definido. Entretanto,
acelerográficas ou sismográficas com capacidade tais análises ainda não podem ser feitas também
de alta taxa de amostragem (número de valores em função da ausência de dados.
medidos amostrados por segundo).
A realização de análises de estabilidade pseu-
doestáticas ou dinâmicas, levando em conside- 7. Conclusões
ração a ação de sismos, forneceria períodos de Foi avaliada a suscetibilidade regional a movi-
retorno e probabilidades de ocorrência de desli- mentos de massa submarinos rasos no talude con-
zamentos na Bacia de Campos, embasando melhor tinental e no Platô de São Paulo da Bacia de Cam-
o processo de decisão. Entretanto, isso ainda não pos, considerando-se, para a verificação, apenas a
é possível, em função da carência desse tipo de condição de aplicação da carga estática gravitacio-
dado. Para contornar esse problema, uma rede nal. Forças adicionais ou cargas sísmicas não foram
de monitoração de sismos offshore para a região consideradas. Utilizando um sistema de informa-
das Bacias de Campos, Santos e Espírito Santo es- ção geográfica (SIG), técnicas de análise espacial
tá em fase de planejamento e compra de equipa- foram adotadas para aplicar um método determi-
mentos, sendo definidos os locais para as estações nístico de estabilidade de taludes para mapear
sismográficas. áreas suscetíveis a movimentos de massa submari-
Em 2008, a Petrobras e o Observatório Nacio- nos rasos no talude da bacia.
nal firmaram um convênio para implantar a Rede A análise de estabilidade de taludes foi feita
de Monitoração Sismográfica. Após iniciar as duas sob condições não drenadas em termos de tensões
primeiras etapas do projeto, que preveem a insta- totais considerando um solo argiloso normalmente
lação de 11 estações nas Regiões Sul e Sudeste pa- adensado e se baseou no cálculo do fator de segu-
ra monitorar, principalmente, as Bacias de Campos, rança do piso marinho pelo método do equilíbrio
de Santos e do Espírito Santo, e a instalação de 30 limite – formulação de talude infinito submerso
estações para o monitoramento no Nordeste, a unidimensional. Dessa forma, foi possível levar em
Petrobras firmou convênio com a Universidade de conta no cálculo dos fatores de segurança o dado
São Paulo para a instalação de outras 30 estações relativo à geometria do fundo do mar (declivida-
sismológicas na Região Centro-Oeste. Essa rede de de) e as propriedades mecânicas do solo marinho
monitoração será importante para determinar com (resistência ao cisalhamento não drenada e peso
maior precisão os epicentros de abalos sísmicos. específico submerso).
Além da avaliação da estabilidade de taludes, A adoção de um modelo matemático funda-
seria aconselhável verificar a possibilidade de li- mentado em fenômenos físicos possibilitou que se
quefação dos sedimentos da base dos cânions e calculasse a variabilidade espacial dos valores de
vizinhanças de suas desembocaduras, onde a de- fatores de segurança estáticos contra deslizamen-
clividade do piso marinho é baixa. Dependendo tos submarinos para toda a área do talude conti-
do comportamento reológico do solo não aden- nental e do Platô de São Paulo da Bacia de Cam-
sado na base dos cânions, quando esse solo for pos, através do uso de um sistema de informação
Geolog ia e G eomorfolog i a 133

geográfica, e não apenas ao longo de um talude mecanismos de disparo identificados e de anorma-


específico. Como resultado, foram obtidos dois lidades localizadas.
mapas regionais com áreas propensas a desliza- O modelo matemático implementado para o
mentos rasos no talude e no Platô de São Paulo cálculo do fator de segurança permitiu que diver-
da bacia, considerando dois perfis de resistência sas simulações preliminares fossem efetuadas. Isso
ao cisalhamento do solo: um correspondente a um ocorreu em função de sua implementação estar re-
limite inferior de resistência e o outro referente a lacionada com uma equação que procura represen-
um valor de resistência intermediário. tar as condições de instabilidade geotécnica. Essa
Os mapas de fatores de segurança apresenta- flexibilidade é uma característica importante que o
dos mostraram as áreas mais suscetíveis à instabili- difere dos modelos menos flexíveis para a avaliação
dade no talude continental e no Platô de São Pau- de áreas suscetíveis a movimentos de massa.
lo. Destacaram-se as paredes de cânions e ravinas
e os flancos das cadeias de sal e, em menor grau,
o Tobogã da parte central da bacia, que são áreas Agradecimentos
com declividades maiores, mas que, na verdade, Os autores agradecem aos revisores pelos im-
são constituídas de afloramentos consolidados, portantes comentários objetivos e pontuais, com-
mais resistentes do que os perfis de resistência do partilhando sua experiência e conhecimento técnico.
solo adotados. As áreas de baixas declividades re- Também deve-se destacar a inestimável contribui-
sultaram em fatores de segurança elevados, sendo ção do engenheiro Leopoldo Machado Paganelli
consideradas pouco suscetíveis à ocorrência de es- (Cenpes/Petrobras) na modelagem analítica e numé-
corregamentos translacionais rasos, na ausência de rica de estabilidade de taludes naturais submarinos.

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