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Excelentíssima Senhora Doutora Juíza de Direito da _____Vara Judicial da

Comarcada de Taquari - RS

IEDA MARIA DA SILVA MARTINS, brasileira, casada, enfermeira, portadora da


identidade civil n. 7034769062 SSP/RS, inscrita no cadastro de pessoas físicas sob
o n. 481.155.500/78, residente e domiciliada na Rua General Osório, 1972, Centro,
Taquari (RS), tel: 81401834, por seus advogados infra-assinado (docs. 01/02), vêm
propor a presente:

AÇÃO DECLARATÓRIA DE DIREITO cumulada com INDENIZAÇÃO POR DANOS


MORAIS – contra:

MUNICÍPIO DE TAQUARI, pessoa jurídica de direito público, com endereço na


Rua Osvaldo Aranha, 1790, Centro, Taquari (RS), , com o fim de postular sua
reintegração ao emprego, entre outros pedidos, tudo conforme expõe e
finalmente requer:
DOS FATOS

1. Do ato demissional da Autora.


A Autora trabalhou para o Município Requerido, desde o ano de 2010,
em sucessivos contratos administrativos (EMERGENCIAL), sendo que o último
vínculo iniciou no dia 05/01/2015 e terminou no dia 22/01/2015, quando foi
demitida do cargo de enfermeira (doc. 03).

Todavia, no dia 22/01/2015 a Autora se encontrava em atestado médico,


acometida de problemas na coluna, decorrentes de queda no Posto de Saúde
onde trabalhava. Informe-se que o Município contrariando a lei, não emitiu a CAT
(Comunicado de Acidente de Trabalho), pior demitiu a funcionária (docs. 04/5).

Queda em outubro meados caiu, foi plantão medicada dor, Dr. Paulo
Santa Cruz relatou, mais medicamentos e procurou Dr. Eliseu encaminhou para
um especialista que fez um exame ocasionado pelo tombo compressão na
coluna, não emitido CAT.

A Autora em consequência do referido tombo em serviço, apesar de


sentir fortes dores continuou trabalhando, sendo que ao não suportar mais a
dor, realizou um exame de Ressonância Magnética da Coluna Lombo-Sacra (doc.
06), que diagnosticou desidratação dos discos, bem como ruptura de anel
fibroso. Desta forma passou a fazer uso de medicação conforme demonstra
cópia da receita médica em anexo, (doc. 07).

O Dr. Paulo Oleksiuk fez um relato apurado do caso em seu atestado


médico, inclusive afirmando que o caso era de afastamento com Auxílio Doença
(doc. 08).

A Autora então entrou em benefício no dia 27 de janeiro de 2015 até 26


de abril de 2015, quando mais uma vez o INSS manteve a mesma em benefício,
em princípio, até 26 de junho de 2015 (docs. 09/10).

Novamente em abril deste ano, a Autora se submeteu a nova


Ressonância Magnética, com o seguinte resultado: Persiste abaulamento discal
assimétrico em L4-L5, com predomínio na região foraminal esquerda, reduzindo a
amplitude do mesmo, sem compressão radicular e desidratação discal parcial
difusa. (doc. 11)
Em consequência do tombo e dos fatos antes narrados a Autora no dia
11/05/2015, se submeterá a uma cirurgia para correção do problema, docs. 12/13.

Aqui cabe informa que a enfermeira responsável pelo Posto de Saúde onde
ocorreu o tombo da Autora, Sra. Andreia Oliveira foi comunicada no dia da queda,
e, mesmo assim deixou de emitir a CAT (Comunicado de Acidente de Trabalho)
que teria evitado todos os problemas enfrentados pela Requerente, daquele
momento em diante.

A Demandante para reforçar o fato que sua demissão foi ilegal, traz aos
autos o Atestado Médico e o Receituário Médico (docs. 14/15) do Dr. Eliseu de
Barros Coelho, onde há a informação clara e precisa que a mesma esta em gozo
de atestado no dia do final de seu contrato de trabalho, contrariando totalmente
as leis que regulam as relações trabalhistas e estatutárias.

Deve-se registrar que a Autora prestava seus serviços normalmente no


Posto de Saúde, mesmo após a queda, não havendo qualquer fato ou
acontecimento que justificasse a conduta do Município Requerido. E, inclusive
numa clara manifestação de vontade do ente público no dia 05 de janeiro de
2015, renovou o contrato da Enfermeira, para no dia 22 de janeiro de 2015, de
forma inexplicável resolveu demitir a funcionária que havia contratado há 17
(dezessete) dias.

Cumpre ainda ressaltar que a Autora procurou o Setor de Pessoal do


Município, no intuito de descobrir que estava havendo, solucionar a situação
pendente, mas não obteve êxito nesta empreitada, tão somente recebendo a
resposta de que somente receberia a rescisão e o pagamento das verbas devidas
pela Administração Pública.

Todavia, somente a título de informação, a Autora ficou sabendo


pela “rádio corredor” que sua rescisão se devia ao fato de ter curtido críticas à
Administração feitas através do Facebook de terceiro.

2. Do Acidente de Trabalho.

Cumpre registrar que a Autora encontra-se dentro do período de


estabilidade acidentária, senão vejamos:
A Demandante no mês outubro de 2014, sofreu grave queda, tendo em
vista acidente ocorrido dentro das dependências do Posto de Saúde onde presta
serviço, NÃO FOI EMITIDA A CAT, documento necessário para o caso em
questão.

Cumpre acrescentar que devido a este acidente de trabalho, a Autora


esteve de licença, afastada de suas funções conforme já narrado anteriormente.

3- Da conduta do Município

A Administração Pública, além de não emitir a CAT que era sua


obrigação, demitiu a Autora em atestado médico, bem como não respeitou o
período de estabilidade previsto na lei, no caso de Acidente de Trabalho.

Inclusive, orientou a Autora a “procurar seus direitos na Justiça”, pois


somente assim, quitaria estes direitos.

A Constituição Federal de 05.10.1988, em seu artigo 37, inciso II prevê


que o ingresso nos quadros dos entes públicos far-se-á através de concurso
público, e excepcionou essa regra nas hipóteses dos ocupantes dos cargos
públicos em comissão de livre nomeação e quando se tratar de contratação por
prazo certo, de acordo com a necessidade de excepcional interesse público.

Mesmo tratando-se de uma exceção, o certo é que a Administração


Pública no Brasil vem se utilizando desmedidamente do contrato por prazo
determinado do inciso IX, criando grande distorção na política de pessoal,
oportunizando-se uma espécie de concorrência entre o servidor funcionário e o
servidor contratado, quando o segundo não pode preterir o primeiro porque sua
contratação visa tão somente suprir a ausência de concursado. Muitas vezes, em
consequência de motivações políticas, remove-se o servidor concursado para
lugar distante da sede municipal, e seu lugar é preenchido por servidor
contratado.

Os contratos emergenciais devem assegurar ao trabalhador todos os


efeitos produzidos no tempo da execução da relação contratual.
DO DIREITO

1- Da garantia de emprego

Inicialmente, houve certa controvérsia no mundo jurídico acerca da


possibilidade de se aplicar no Direito do Trabalho, a estabilidade prevista no
artigo 118 da Lei 8213/91, da mesma forma que se aplica no Direito Previdenciário.

LEI N° 8.213, DE 24 DE JULHO DE 1991 –

Art. 118. O segurado que sofreu acidente do trabalho tem garantida, pelo prazo
mínimo de doze meses, a manutenção do seu contrato de trabalho na empresa,
após a cessação do auxílio-doença acidentário, independentemente de percepção
de auxílio-acidente.(grifos e destaques nossos)

Todavia, todas as controvérsias forma dirimidas, estando atualmente,


esta questão pacificada, a teor das Orientações Jurisprudenciais 105 e 230 da SDI-
1 do Colendo Tribunal Superior do Trabalho, senão vejamos:

Orientação Jurisprudencial - SDI-1 - 105. Estabilidade provisória. Acidente


de trabalho.
É constitucional o art. 118, da Lei nº 8213/1991.
(Inserido em 01.10.1997)

Orientação Jurisprudencial - SDI-1 - 230. Estabilidade.


Lei nº 8213/1991. Art. 118 c/c 59.
O afastamento do trabalho por prazo superior a 15 dias e a consequente
percepção do auxílio doença acidentário constituem pressupostos para o
direito à estabilidade prevista no art. 118 da Lei nº 8213/1991, assegurada
por período de 12 meses, após a cessação do auxílio-doença.
(Inserido em 20.06.2001)

Assim, resta absolutamente claro, data vênia, que os servidores que


afastados de suas funções por mais de 15 dias decorrente de acidente de
trabalho, fazem jus a estabilidade provisória prevista no artigo 118 da Lei 8213/91;
pelo prazo mínimo doze meses, contados do término do Auxílio Doença.
DO DANO MORAL

A - A NORMA CONSTITUCIONAL

Diz a CF/88, no inciso: X do artigo 5º, o seguinte:

"são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem


das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material
decorrente de sua violação."

Por esta norma, ressai que o sistema positivo concede a devida proteção
ao dano moral, decorrente também de lesão à honra e a dignidade das pessoas.

Em análise a esta norma, diz o constitucionalista JOSÉ AFONSO DA SILVA:

"A Constituição empresta muita importância à moral como valor ético-


social da pessoa e da família, que se impõe respeito dos meios de
comunicação social (art. 22). Ela, mais que as outras, realçou o valor da
moral individual, tornando-a mesmo um bem indenizável (art. 5º, V e X). A
moral individual sintetiza a honra da pessoa, o bom nome, a boa fama, a
reputação que integram vida humana como dimensão imaterial. Ela e seus
componentes são atributos sem os quais a pessoa fica reduzida a uma
condição de animal de pequena significação. Daí porque o respeito à
integridade moral do indivíduo assume feição fundamental. Por isso é que
o Direito Penal tutela a honra contra a calúnia, a difamação e a injúria."

Curso de Direito Constitucional Positivo, 9ª edição, 2ª tiragem. Editora


Malheiros. São Paulo, p. 184.

Isto finda a controvérsia jurídica antes existente acerca do fundamento


legal para que se concedesse indenização por ocasião de danos imateriais.

Põe a dispositiva proteção contra aqueles que provocam agressão na


dignidade das pessoas, o que faz elevar a honra a bem jurídico civilmente
amparado.

Entretanto, neste caso concreto, vislumbra-se alguma honra a ser


protegida? Houve dignidade vilipendiada? É possível a subjetivação tanto da
honra como da dignidade, para efeito de configurar o dano moral assacado
contra a Autora? Sim. Sim. Sim.

Na doutrina de ANÍBAL BRUNO se encontra o seguinte escólio:

"Injúria é a palavra ou gesto ultrajante com que o agente ofende o


sentimento de dignidade da vítima...

Na sua essência, é a injúria uma manifestação de desrespeito e desprezo,


um juízo depreciativo capaz de ofender a honra da vítima no seu aspecto
subjetivo. Pode referir-se a condições pessoais do ofendido, do seu corpo,
do seu espírito, da sua cultura, da sua moral, ou ainda da sua qualificação
profissional na sociedade ou da sua capacidade profissional." CRIMES
CONTRA A HONRA. 3ª edição, Editora Rio, Rio de Janeiro, 1975, p. 301.

O professor JOÃO CASILO, em monografia acerca do tema, expõe um


conceito pessoal de dano moral, bastante aplicável ao caso em tela:

"A verdade é que uma conceituação mais adequada aos nossos dias
exige que o dano seja entendido como resultado da ofensa por
terceiro a um direito, patrimonial ou não, que confere ao ofendido,
como conseqüência, a pretensão a uma indenização. Esta
abrangência do conceito de dano toma maior importância, se a
lesão é contra a pessoa humana, exigindo uma correspondente
compensação.
Para que haja a ofensa, basta que o direito titulado seja violado..."
DANO A PESSOA E SUA INDENIZAÇÃO. Editora Saraiva, São
Paulo, p. 29, 1987.

Por esta doutrina, infere-se que o conceito de dano também abrange o


dano moral.

O jurista ANTONIO CHAVES diz o seguinte:


"Dano moral é a dor resultante da violação de um bem
juridicamente tutelado sem repercussão patrimonial. Seja a dor
física - dor - sensação como denomina Carpenter - nascida de uma
lesão material; seja dor moral - dor - sensação - de causa material."
TRATADO DE DIREITO CIVIL. Vol. III, São Paulo, Revista dos
Tribunais, p. 573, 1985.

O Magistrado Clayton Reis, da Comarca de Curitiba, Estado do Paraná,


tem como escólio o seguinte:

"Todavia, há circunstâncias em que o ato lesivo afeta a personalidade do


indivíduo, sua honra, sua integridade psíquica, seu bem-estar íntimo, suas
virtudes, enfim, causando-lhe mal-estar ou uma indisposição de natureza
espiritual - pateme d'animo - na expressão dos tratadistas italianos." DANO
MORAL. Forense, Rio de Janeiro, 1991, p. 4.

Ele ainda diz:

"A constatação da existência de um patrimônio moral e a


consequente necessidade de sua reparação, na hipótese de dano,
constituem marco importante no processo evolutivo das civilizações.
Isto porque representa a defesa dos direitos do espírito humano e
dos valores que compõem a personalidade do homo sapiens." Obra
citada, p. 7.

Verifica-se, então, que a norma constitucional e doutrina fornecem o


amparo à existência do dano moral, e à sua reparabilidade.

B - DA CONFIGURAÇÃO DO DANO

Diante da exposição fática, observa-se que a Autora foi vilipendiada na


sua dignidade.
Foi demitida de seu cargo sob o auspício de acusação de criticas à
Administração Pública.

Não bastando isso, ainda no horário de trabalho e no exercício das suas


funções no Município Requerido, dolosamente divulgaram ao público estes
assaques.

Ainda, a Requerente sofreu a desmoralização por ter sido demitida por


justa causa sumariamente.

DA RESPONSABILIDADE OBJETIVA

O dano moral foi causado por pessoas que possuem vínculo de trabalho
com a requerida, e no exercício de atribuição funcional.

O evento, acidente de trabalho, ocorreu dentro do Posto de Saúde onde


a Autora prestava seus serviços.

Por isso, vem a dicção do artigo 186 do Código Civil:


“Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar
direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato
ilícito.”

Em complemento, expressa o inciso III, do artigo 1.521 do Código Civil:

Art. 944. A indenização mede-se pela extensão do dano.

Parágrafo único. Se houver excessiva desproporção entre a gravidade da culpa e o


dano, poderá o juiz reduzir, equitativamente, a indenização.

Infere-se, desse modo, que o Município Requerido é responsável pelos


atos praticados pelos seus prepostos. Devendo, então, responder pelos prejuízos
causados por eles.
DA INDENIZAÇÃO

O inciso X do artigo 5º da CF/88 garante aos ofendidos, o direito de


serem indenizados nos casos como o que aqui se discute.

Mencionando novamente o professor JOÃO CASILO, ele escreve:

"Entretanto, nem sempre a ofensa à honra acarreta repercussão patrimonial,


causando prejuízo material ao ofendido. Nem por isso deixou de ocorrer a lesão
do direito, o dano, no seu mais amplo e moderno entendimento. Havendo dano,
deve haver a correspondente indenização." Obra citada, p. 169.

ISTO POSTO, REQUER:

a) Reintegração no emprego, em razão da Estabilidade Provisória,


(Acidente de Trabalho); nele permanecendo pelo menos até o fim do contrato
administrativo;

b) Deferida a reintegração, o pagamento imediato das parcelas salariais


vencidas e seus consectários legais;

c) Todavia, não sendo acolhido o pedido de reintegração, em ordem


sucessiva conforme permite o artigo 289 do CPC, pleiteia:

I - o pagamento dos salários vencidos e indenização correspondente aos


vincendos, bem como os seus consectários legais, apurados de acordo com o
período de duração de sua estabilidade provisória (acidente de trabalho);

II – pagamento de indenização correspondente ao 13º salário, férias


acrescidos de 1/3 constitucional e férias proporcionais, apurados até o término
do período da estabilidade provisória;

III – pagamento de indenização por dano moral pela ocorrência do


acima exposto.

Tudo acrescido de juros e correção monetária respectiva, até a data do


efetivo pagamento.
Requer, ainda, se digne designar dia e hora para a audiência de tentativa
de conciliação, conforme consta do preâmbulo desta peça, para comparecer e,
querendo, produzir defesa, sob pena de revelia e confissão.

Requer, finalmente, que seja o Município intimado a apresentar em


juízo o histórico de pagamentos efetuados à Autora durante todo período
laboral; todos contratos entre as partes e cópia de sua ficha funcional,

Protestando provar o alegado mediante produção de prova pericial, se


necessário, ouvida de testemunhas, depoimento do preposto do Município e
juntada de documentos.

VALOR ESTIMATIVO DA CAUSA: R$ 1.000,00 (HUM MIL REAIS).

Nestes Termos,

Pede e Espera Deferimento.

Taquari (RS), 05 de maio de 2015.

João Marcelo Braga da Silva

OAB/RS 43,378

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