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Babilônia
5 anos ago
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by Católico Porque...
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Recentemente, eu estava debatendo com um pastor evangélico (Fernando
García Sotomayor, reitor do Seminário Teológico Rhema Internacional, da
Colômbia) e o tema acabou se bifurcando na típica apologia fundamentalista
que acusa a Igreja Católica (e as igrejas evangélicas que participam do
movimento ecumênico) de ser a “prostituta da Babilônia”. Entre os comentários
que o meu amigo pastor suscitou é que tal fato era reconhecido, inclusive,
pelos Padres da Igreja, entre eles Santo Agostinho. Quanto a este
[personagem], informou:
Muito bem: Santo Agostinho realmente enxergava na Roma pagã (não na Roma
cristã) uma segunda Babilônia, como cheguei a observar ao pastor. Em razão
disso, enfatizei a questão e pedi para que ele me dissesse se acreditava mesmo
que, quando Santo Agostinho falava de Roma, estaria se referindo à Igreja
Católica. Entre outras coisas, me respondeu:
– “Quem faz diferença entre Roma pagã e Roma cristã é você, não estes
insígnes homens da fé”.
Apontou, ainda, a seguinte fonte: “Franck M Boyd. ‘A Bíblia ao seu Alcance’. Ed.
Vida, pp. 200-229”.
Neste estudo, farei uma breve análise da obra de Santo Agostinho, “A Cidade
de Deus”, assim como de algumas outras de suas obras, para demonstrar se é
mesmo “coisa minha” e não do insígne Santo Agostinho a diferenciação entre
Roma pagã e Igreja Católica Romana. Isto permitirá conhecer melhor o
pensamento agostiniano e evitará que, futuramente, volte a ser
descontextualizado.
Os texto da obra “A Cidade de Deus” serão tomados a partir do espanhol,
conforme veiculado pelo site protestante
http://www.iglesiareformada.com/Agustin_Ciudad.html
– “Estes vis impugnadores deveriam, pelo mesmo motivo, atribuir aos tempos
em que florescia o dogma católico a graça particular de os bárbaros ter-lhes
feito a mercê de suas vidas e agirem de modo contrário ao estilo observado
durante a guerra – ao que tudo indica, por sua submissão e reverência a Jesus
Cristo – concedendo-lhes este singular favor em qualquer lugar que fossem
encontrados e, em especial, aos que foram acolhidos pelos templos sagrados,
dedicados ao augusto Nome de nosso Deus” (Livro I, capítulo 1).
– “…porque, muitos destes que vês que com tanta liberdade e desacato
escarnecem dos servos de Jesus Cristo só escaparam de sua ruína e morte
porque fingiram ser católicos. Agora, com ingratidão, soberba e sacrílega
demência, com o coração destruído, se opõem àquele Santo Nome que, no
tempo de suas infelicidades, lhes serviu de antemuro. Irritam, deste modo, a
justiça divina e dão razão para que sua ingratidão seja castigada com aquele
abismo de males e dores, que foi preparado perpetuamente para os maus, pois
sua confissão, crença e gratidão não foram de coração, mas só de boca, para
que pudessem desfrutar por mais algum tempo das felicidades momentâneas e
caducas desta vida”.
– “Por outro lado, tampouco estes – que sabem muito bem que não se deve
comer o Corpo de Cristo quando não se está no Corpo de Cristo – prometem
erroneamente aos que da unidade daquele Corpo caíram em heresia ou na
superstição dos gentios, a libertação do fogo eterno. Primeiramente, porque
devem considerar quão intolerável seja tal coisa e quão extremamente
afastasta e desviada da sã doutrina estão a maioria ou quase todos aqueles que
saíram do grêmio da Igreja Católica, fazendo-se autores de heresias e
tornando-se heresiarcas. Estes não são melhores do que aqueles que nunca
foram católicos ou que caíram sob os seus laços. Pensam tais heresiarcas que
se livrarão do tormento eterno porque foram batizados na Igreja Católica,
tendo sido por ela recepcionados no princípio, estando em união com o
verdadeiro Corpo de Cristo: o sacramento do sacrossanto Corpo de Cristo.
Contudo, não há dúvidas de que é pior aquele que apostatou e abandonou a fé,
e que de apóstata torna-se cruel combatedor da fé, do que aquele que não
deixou ou abandonou o que nunca teve. Em segundo lugar, porque também a
estes apontou o Apóstolo, após ter apresentado as obras da carne, ameaçando-
os com a mesma verdade: ‘os que praticam semelhantes coisas não possuirão o
Reino de Deus'” (Livro XXI, capítulo 25).
Aqui, [Santo Agostinho] fala que esses hereges que abandonam a Igreja
Católica e rejeitam de forma pertinaz a correção, perseverando na heresia, são
causa de descrédito para o nome ‘cristão’. Ainda que se auto-intitulem cristãos
– comenta – e contem com a Escritura e os sacramentos, com suas contínuas
divisões e dissensões são causadores de blasfêmia para o nome de Cristo.
– “Resta-nos, pois, três Profetas, dos Doze Menores, que profetizaram nos
últimos anos do cativeiro: Ageu, Zacarias e Malaquias. Entre estes, Ageu, com
toda a clareza, nos vaticina sobre Cristo e sua Igreja nestas breves e
compendiosas palavras: ‘Isto diz o Senhor dos exércitos: dentro de pouco
tempo moverei o céu e a terra, o mar e a terra firme; moverei todas as nações
e virá o que é desejado por todas as gentes’. Esta profecia a vemos cumprida
em parte; e o que falta para cumprir, esperamos que ocorra no fim do mundo,
pois o céu já foi movido com o testemunho dos anjos e estrelas quando Cristo
encarnou; moveu a terra com o estupendo milagre do parto da Virgem; moveu
o mar e a terra firme já que nas ilhas e em todo o mundo já é pregado o nome
de Jesus Cristo; e, assim, vemos que todas as gentes estão vindo se acolher
sob a proteção da fé católica” (Livro XVIII, capítulo 35).
Veja também Conversando com amigos evangélicos sobre o tema
“ Salvação”
– “Na Ásia prevaleceu o império e domínio da cidade ímpia, cuja cabeça era
Babilônia, nome muito apropriado para esta cidade terrena, pois Babilônia
significa ‘confusão’. Nela reinava Nino após a morte de seu pai, Belo, que foi o
primeiro que reinou ali por 65 anos. E seu filho Nino, falecido o pai, sucedeu no
reino e reinou 52 anos. Corria o 43º ano de seu reinado quando nasceu Abraão,
por volta do ano 1200, antes da fundação de Roma, que FOI como que uma
segunda Babilônia, mas no Ocidente” (Livro XVI, capítulo 17).
Nestas três ocasiões, Santo Agostinho nada fala da Igreja [romana], mas da
cidade que logo após a sua fundação chegou a ser uma segunda Babilônia. Em
todos estes textos faz referência à Roma pagã e não à Roma cristã. Isto
concorda perfeitamente com a interpretação tradicional católica, de que a Roma
pagã perseguidora e opressora dos cristãos representava o mesmo que em
outros tempos a [antiga] Babilônia representou para o povo judeu. Nós,
católicos, cremos inclusive que, quando São Pedro em sua Epístola saúda a
partir da “Babilônia”, o faz em código para indicar que se achava em Roma.
Maior absurdo seria crer que a Igreja de Roma fosse “a prostituta”, sendo que
o próprio São Paulo não economiza elogios [para esta igreja] em suas Epístolas.
– “Não é possivel crer que guardais a fé católica se não ensinais que se deve
guardar a fé romana” (Serm.120,13).
– “…viram que Ceciliano estava unido por cartas de comunhão à Igreja romana,
na qual sempre residiu a primazia da cátedra apostólica…” (Ep 43,3,7).
Além disto, não devemos deixar passar em branco que nos conflitos com os
pelagianos, Santo Agostinho recorre à autoridade da Sé Apostólica (Roma) para
confirmar os Concílios de Cartago e Milevi (411, 412 e 416), condenando o
Pelagianismo. Eis um extrato da carta enviada por 61 bispos – inclusive Santo
Agostinho – ao papa Inocêncio:
– “Visto que Deus, por um dom especial de Sua graça, vos colocou na Sé
Apostólica e nos deu, em nossos tempos, alguém como vós, para que melhor
seja imputada a nós como falta de negliência se falhamos em mostrar a Vossa
Reverência o que se sugere à Igreja, porque podeis receber as mesmas com
desprezo ou negligência, rogamo-vos que envolvas vossa diligência pastoral
neste grande perigo para os membros débeis de Cristo (…) Ao insinuarmos
estas coisas ao vosso peito apostólico, não precisamos dizer muito e amontoar
palavras acerca desta impiedade, já que sem dúvida vos movereis com tal
sabedoria que não podereis vos abster de corrigí-las, para que não possam se
infiltrar ainda mais (…) Dizem que os autores desta perniciosa heresia são
Pelágio e Celestino que, na verdade, deveriam preferir ser curados com a Igreja
ao invés de serem desnecessariamente separados da Igreja. Dizem que um
deles, Celestino, inclusive alcançou o sacerdócio na Ásia. Sua Santidade foi
melhor informada pelo Concílio de Cartago acerca do que foi feito contra ele há
alguns anos. Pelágio – nos informam as cartas de alguns de nossos irmãos –
encontra-se em Jerusalém e dizem que vem enganando a muitos ali. Porém,
muitos mais, que puderam examinar melhor os seus pontos de vista, o estão
combatendo em nome da Fé Católica, em especial vosso santo filho, nosso
irmão e companheiro sacerdote, Jerônimo. Contudo, consideramos que com a
ajuda da misericórdia de nosso Deus, a quem rezamos para que vos aconselhe
e escute vossas preces, aqueles que mantêm estas perversas e banais opiniões
cederão mais facilmente diante da autoridade de Sua Santidade, que
recebestes a autoridade a partir das Santas Escrituras (auctoritati sanctitatis
tuae, de sanctarum scripturarum auctoritate depromptae facilius….esse
cessuros), para que possamos nos regozijar com sua correção ao invés de nos
entristecermos pela sua destruição. Porém, escolhendo eles mesmos o que
quiserem, Vossa Reverência deve considerar ao menos a necessidade de se
cuidar destes muitos que podem ser enredados por suas redes, caso não se
submetam honradamente. Escrevemos isto a Sua Santidade a partir do Concílio
da Numídia, imitando nossos companheiros bispos da Igreja e província de
Cartago, que escreveram acerca desta questão à Sé Apostólica que Sua Graça
adorna” (Epístola do Concílio de Milevi ao papa Inocêncio I).
Santo Agostinho então escreveu para dar por finalizada a questão, já que a “Sé
Apostólica” havia se pronunciado:
– “Iam de hac causa duo concilia missa sunt ad sedem apostolicam: inde etiam
rescripta venerunt. Causa finita est, utinam aliquando finiatur error”
– “Por este motivo foram enviadas duas cartas à Sé Apostólica e dali vieram
dois rescritos. A causa foi encerrada, para que finalmente o erro seja encerrado”
(Sermo 131,10,10; Ep 150,7).
CONCLUSÃO
Por que logo depois que os decretos da Igreja de Roma sobre os pelagianos
foram emitidos Santo Agostinho não perdia a oportunidade de relembrar aos
pelagianos e aos fiéis os decretos emanados por essa autoridade?
– “Se a minha resposta sobre Santo Agostinho e sua obra não te satisfez,
desculpe-me. Por isso é que sou especializado em Bíblia e não em Patrística,
porque não baseio a minha fé no que outros eminentes cristãos disseram”.
Com isto, não há como resistir à tentação de perguntar: “ENTÃO, POR QUE
QUISESTE ABRIR A BOCA???”