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SERVIÇO PORTUARIO - MULTA - COMPETENCIA

- Ineficiência de autuação fiscal, posto que não compete à


Sunamam, mas sim à Capitania dos Portos, por força dos arts. 314
e 315 do Regulamento do Tráfego Marítimo, baixado pelo Decreto
n.O 87.648/82, fiscalizar reboque e atracação de navios nos portos,
e, pelas irregularidades, aplicar a penalidade cabível.
- Segurança concedida por sentença que se confirma.

TRIBUNAL FEDERAL DE RECURSOS

Apelação em Mandado de Segurança n Q 103.582


Apelante: União Federal
Apelado: Transportes Marítimos Julião Ltda.
Relator: Sr. Ministro AMÉRICO Luz

ACÓRDÃO multas nos casos de irregularidades na atra-


cação, reboque e desatracação de navios,
Vistos e relatados estes autos em que são no interior dos portos.
partes as acima indicadas, decide a Sexta
No principal, assim se expressa a recor-
Turma do Tribunal Federal de Recursos,
rente às fls. 109-10:
por unanimidade, confirmar a sentença re-
metida e negar provimento à apelação, na 'In casu, o juízo a quo julgou procedente
forma do relatório e notas taquigráficas o pedido mandamental, com base no fato
constantes dos autos, que ficam fazendo da impetrante (extinta Sunamam) não ter
parte integrante do presente julgado. atribuição para regular serviços portuários,
ao tempo em que reconheceu expressamente
Custas, como de lei.
a incontroversa atribuição para os serviços
Brasília, 25 de setembro de 1985 (data do de navegação, como sendo aqueles destina-
julgamento). - Jarbas Nobre. Presidente. dos a viabilização de transporte de passa-
Américo Luz, Relator. gieros e cargas de um lugar para o outro.
Ora, é faticamente lógico que a possibi-
RELATÓRIO
lidade de se regular o mais, a fortiori, inclui-
se a virtual possibilidade de se regular o
o Sr. Ministro Américo Luz: O parecer
menos, já que o continente abrange o con-
da ilustrada Subprocuradoria-Geral da Re-
teúdo.
pública resume a espécie, in verbis (fls.
119·20): Assim se a Sunamam podia regulamentar
o transporte de carga e passageiro, é media-
"Trata-se de apelação apresentada pela
namente intuitivo que podia, e até devia,
União Federal, com vistas a obter a refor·
regular e fiscalizar as atividades marítimas
ma do r. decisum de fls. 100-6, no qual o
destinadas ao atingimento do contexto final."
r. juiz singular entendeu que falece com-
petência à Superintendência Nacional da A impetrante contra-arrazoou a fls. 113-
Marinha Mercante (Sunamam) para fixar 16.

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o órgão do Ministério Público nesta ins- 7. Interior:
tânda opina pela manutenção do julgamento
( ... )
de primeiro grau.
c) de porto - a realizada dentro das
n o relatório. áreas portuárias nacionais, baías, enseadas,
angras, canais, rios e lagoas em atendimento
VOTO
às atividades específicas do porto.'
o Sr. Ministro Américo Luz (Relator): Com base na anterior regulação, a própria
A fundamentação sentencial reporta-se ao Sunamam, atenta à distinção conceitual alu-
art. 11 do Regulamento do Tráfego Marí- dida, editou a Resolução n Q 4.383, de 28 de
timo, baixado pelo Decreto nQ 87.648/82, novembro de 1973, acostada, à fls. 83, ob-
no que conceme aos serviços de navegação, jetivando normatizar o conceito de navega-
que não se confundem com os serviços por- ção:
tuários, estes regidos pelos arts. 13 e segs.
do Decreto nQ 24.508/34. '( ... )

São argumentos do ilustre magistrado de 3 . Definir como navegação interior aque-


primeira instância (fls. 103-5): la realizada no tráfego mercantil entre( ... ):
"Por outro lado, os serviços portuários 1 . Portos de rios, lagoas, enseadas e
não estão abrangidos pelo conceito daque- baías do território brasileiro.
les de navegação interior de porto. Este
2. Portos de rios, lagoas, enseadas e
conceito estava especificado, à época em que
baías do território brasileiro e dos portos
foi editada a autorização à impetrante (re-
dos demais países vizinhos, quando esses
solução nQ 6.412/80, da Sunamam), no tex-
portos integrarem hidrovias interiores c0-
to do art. 180, letra e, inc. 1I1, do então
muns. Excetua-se a navegação realizada por
Regulamento do Tráfego Marítimo, aprova-
embarcação em operação de apoio portuá-
do pelo Decreto nQ 76.401/76, que esta-
tuía: rio e de apoio às construções portuárias.'

'( ... )
Via de conseqüência, considerando que
não houve inovação conceitual do signifi-
de porto - a realizada dentro da área por- cado de navegação interior de porto, vê-se
tuária nos portos, baías, enseadas, angras, que a resolução citada da Sunamam conti-
canais, rios e lagoas em atendimento às ati-
nua em vigor, por isso que, sendo esta ato
vidades específicas do porto e em trechos
administrativo normativo, obriga os admi-
nunca excedentes aos limites dos portos ma-
nistrados, dentre eles a impetrante, mas vin-
rítimos e interiores;
cula, também, o administrador, na hipótese,
( ... ) a autoridade impetrada. Ora, em assim sen-
Com a superveniência do Decreto nQ do, não há como validar a autuação, visto
87.648/82, aquele diploma legal foi revo- como à Sunamam falece competência legal
gado, sendo que o conceito de navegação para regular as atividades de atracação e
interior de porto não sofreu alterações, sal- desatracação de navios, no interior do porto.
vo quanto à expressão lingüística empregada, Sua competência legal está fixada no art. 6Q,
para veiculação da mens legis: inc. V, do Decreto nQ 88.420/83, que, ex-
cluindo os serviços portuários, dá-lhe pode-
'Art. 18. A navegação mercante brasi- res tão-só, para 'outorgar autorização para
leira, . para efeito deste regulamento, é clas-
o funcionamento das empresas nacionais de
sificada de:
navegação interior, de cabotagem e de longo
( ... ) curso'.

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De resto, data venia, inteiramente irrele- dos seus registros contábeis, coletar e divul-
vante afigura-se-me o fato de, na Resolução gar os elementos estatísticos da sua opera-
n9 6.412/80, fls. 46, não constar autoriza- ção.'
ção para que a impetrante preste serviços
E no intuito de regular ou esclarecer o
de reboque, atracação e desatracação de
que seja navegação de interior, cabotagem
navios. Além da outorga de dita autoriza-
e longo curso, baixou ela (Sunamam) a Re-
ção não fazer parte dos parâmetros legais
solução n 9 4.383, de 28.11.73 (vide fls. 83),
da competência da Sunamam, conforme re-
na qual exclui da extensão do Decreto n9
troespecificado, os serviços em questão po-
67.992/70, 'a navegação realizada para em-
dem ser realizados, livremente (art. 20, barcação em operação de apoio portuário e
caput, do Decreto n9 24.508/34), carecen- de apoio às construções portuárias.'
do, tão-somente, do registro das embarca-
ções no Tribunal Marítimo e da inscrição e o caso dos autos. A atividade praticada
na Capitania dos Portos, o que, na hipótese, pela recorrida, e que teria sido ilegal, não
restou atendido, como se constata de fls. pode ser, pois, apurada pela Sunamam, mas
41-4 e 47-63. Daí resulta a ineficácia jurídi- sim pela Capitania dos Portos, ex-vi do
ca da autuação constante de fls. 35, por art. 314, do 'Regulamento para o Tráfego
vício de competência, até mesmo porque a Marítimo', Decreto n9 87.648, de 24 de
'entidade da administração federal compe- setembro de 1982.
tente', na hipótese, não é a Sunamam, mas Aliás, a redação do art. 314, citado, que
a Capitania dos Portos (arts. 314-15, do tomamos a liberdade de transcrever, espanca
Regulamento do Tráfego Marítimo, baixado dúvidas:
pelo Decreto n9 87.648/82)."
'Art. 314. Pode ser efetuado o reboque
Considero relevante o que assevera o Dr. de uma ou mais embarcações, a juízo da
Wagner Gonçalves, digno Procurador da Re- Capitania dos Portos ou órgãos subordina-
pública, ao opinar sobre o caso sub examine, dos, levando em consideração as condições
em parecer aprovado pelo eminente Sub- das embarcações rebocadas e a segurança
procurador-Geral, Dr. José Arnaldo da Fon- dos balizamentos dos portos, rios ou ca-
seca, e que ora transcrevo (fls. 120-21): nais ( ... ).'
"A extinta Sunamam (Decreto-Iei n9 Compete conseqüentemente à Capitania
2.055, de 17 de agosto de 1983), órgão que dos Portos fiscalizar reboque e atracação
coordenava, controlava e fiscalizava o trans- de navios, e, pelas irregularidades, aplicar a
porte da marinha mercante, não tinha com- penalidade cabível."
petência para aplicar multas quando se tra-
Por compreender a espécie segundo o ra-
tasse de fatos irregulares cometidos por re-
ciocínio acima explicitado, reputo incensu-
bocadores, quando da atracação ou desatra-
rável em sua conclusão a sentença remetida,
cação de navios nos portos, como no caso.
a qual confirmo.
Quando a competência da Sunamam era
Nego provimento à apelação.
determinada pelo Decreto n9 67.992, de 30
de dezembro de 1970, assim estava expli- EXTRATO DA ATA
citada sua atuação na área e interesse da
navegação nacional.
AMS n9 103. 582-RJ (Reg. 5432723) -
'a) conceder e cancelar autorização para Relator: Sr. Ministro Américo Luz. Remte.:
o funcionamento de empresas nacionais de Juízo Federal da 3. Vara-RJ. Apte.: União
navegação interior, de cabotagem e longo Federal. Apdo.: Transportes Marítimos Ju-
curso, organizar o seu cadastro físico e fi- lião Ltda. Advs .: Dr. Mario Caldeira de
nanceiro, fixar normas para a padronização Andrada e outro.

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Decisão: a Turma, por unanimidade, con- Participaram do julgamento os Srs. Mi-
firmou a sentença remetida e negou provi- nistros Eduardo Ribeiro e Jarbas Nobre .
mento à apelação (Em 25.9.85 - Sexta Presidiu a sessão o Exmo. Sr. Ministro
Turma). Jarbas Nobre.

RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO - MINISTERIO POBLICO -


ATO OPINATIVO

- Responsabilidade civil da Fazenda Pública por ato opina-


tivo do representante do Ministério Público no exercício de suas
funções em procedimento de jurisdição voluntária (alvará). Parecer
não vinculativo da atividade do juiz. Não incidência dos arts. 107
da Constituição Federal e 85 do Código de Processo Civil. Recurso
extraordinário indeferido. Agravo de instrumento com seguimento
negado. Agravo regimental improvido.
1 - Não responde civilmente a Fazenda Pública por ato
opinativo do Ministério Público no procedimento judicial que não
vincula o Poder Judiciário (art. 107 da ConstituiçãQ Federal).
2 - O art. 85 do Código de Processo Civil refere-se à res-
ponsabilidade pessoal do representante do Ministério Público por
dolo ou fraude e não à responsabilidade do Poder Público por atos
daquele.

SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

Agravo de Instrumento nQ 102.251


Agravantes: Fernando Frugoli e outros
Agravado: Estado de São Paulo
Relator: Sr. Ministro SIDNEY SANCHES

ACÓRDÃO RELATÓRIO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, o Sr. Ministro Sydney Sanches: 1. O


acordam os ministros da Primeira Turma do ilustre Procurador da República, Dr. Gil-
Supremo Tribunal Federal, na conformidade mar Ferreira Mendes, em parecer aprovado
da ata do julgamento e das notas taquigrá- pelo eminente Subprocurador-Geral, Dr.
ficas, por unanimidade de votos, em negar Mauro Leite Soares, assim resumiu a hipó-
provimento ao agravo regimental. tese e opinou nestes autos de Agravo de
Brasília, 20 de agosto de 1985. - Rafael Instrumento:
Mayer, Presidente. Sydney Sanches, Rela- "Os ora agravantes propuseram ação ordi-
tor. nária de responsabilidade civil contra a Fa-

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