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Logística Reversa de Resíduos de Medicamentos

ESTRADA, Ismael Garcia


Phd Educação, Mestre e Bacharel em Administração – Unicarioca
ismael.estrada@outlook.com.br

OLIVEIRA, Daiana Lucia


Graduada em Administração – Unicarioca
daiana.luciam@gmail.com

Resumo - Este artigo apresenta um levantamento bibliográfico relacionado ao tema a ser


estudado, onde as fontes de pesquisa foram legislações e artigos, por meio dos descritores:
Logística Reversa, Logística Reversa de Medicamentos, Resíduo de Medicamento e Descarte
de Medicamento. O consumidor final apresenta grande participação quando se trata do
descarte inadequado de medicamentos, pois a maior parte da população desconhece este
assunto, por falta de divulgação dos órgãos públicos mesmos diante das diversas legislações
existentes que tem como um dos princípios o oferecimento de educação ambiental para
população. Este trabalho aborda questões relacionadas à geração e descarte de resíduos de
medicamentos, o qual deve ser analisado e discutido pelas autoridades em nível de saúde
pública, para que sejam elaboradas medidas colaborativas para a implantação da logística
reversa, que visa promover que o descarte correto seja realizado por parte dos consumidores
de medicamentos.
Palavras-chave: logística reversa, medicamentos, meio ambiente, saúde pública.

Abstract – This article presents a bibliographical survey related to the subject to be studied,
where the sources of research were legislation and articles, through the descriptors: Reverse
Logistics, Reverse Logistics of Medications, Residue of Medication and Disposal of
Medication. The final consumer has a great participation when it comes to the inappropriate
disposal of medicines, since most of the population is unaware of this subject, due to the lack
of disclosure of the public bodies themselves in the face of the various existing laws that have
as one of the principles the offer of environmental education for population. This work
addressed issues related to the generation and disposal of medicines residues, which should be
analyzed and discussed by public health authorities, so that collaborative measures are
developed for the implementation of reverse logistics, which aims to promote the correct
disposal by consumers of medicines.
Keywords: reverse logistics, medicines, environment, and public health.
1. INTRODUÇÃO
Em nenhuma fase do desenvolvimento humano se produziu tanto “lixo” como no século XX.
A grande quantidade está associada com a diversidade de componentes destes resíduos, que
incluem uma vasta variabilidade de substâncias químicas tóxicas e de microrganismos
patogênicos, trazendo sérias consequências à saúde da população e ao meio ambiente
(SISINNO; OLIVEIRA, 2006). O consumo de medicamentos vem aumentando com o passar
dos anos, e em conjunto a quantidade de resíduos, gerando uma preocupação com a saúde
pública e com o meio ambiente, uma vez que o modo de descarte é desconhecido.
A logística reversa pode ser definida como um segmento especializado da logística, focado na
movimentação e gestão de recursos pós-venda e pós-consumo, ou ainda como um processo de
retorno de produtos ou resíduos do seu ponto de consumo até o seu ponto de origem
(LACERDA, 2002; LEITE, 2003), entretanto para aplicação correta da mesma, é necessário
um trabalho conjunto com dos órgãos responsáveis da área em questão, neste caso a Agência
Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA).
Segundo a ANVISA, “medicamentos são produtos farmacêuticos, tecnicamente obtido ou
elaborado, utilizado na prevenção e cura de doenças, no alívio da dor ou para fins de
diagnóstico”.
Apesar da grande importância do uso de medicamentos é necessário atentar-se para o uso
racional do mesmo, uma vez que quando o tratamento termina ou é interrompido, o usuário
pode descartar este medicamento de forma inadequada, ou fornecer para sem prescrição
médica. O descarte inadequado pode acarretar na contaminação do solo, de águas
subterrâneas, contaminação de animais e expor a vida humana em risco.
Uma forma estratégica de minimizar ou erradicar as ocorrências de descarte em local
inadequado é a dispensação fracionada de medicamentos por parte dos órgãos públicos e
privados, pois este ato acaba com as sobras de medicamentos após tratamentos e a
transferências de medicamentos para terceiro, ou mesmo o descarte inadequado. A segunda
alternativa é a criação de postos de recolhimento de medicamentos em desuso, fora da
validade ou avariado.
A população normalmente realiza o descarte indevido dos medicamentos em desuso, vencidos
ou deteriorados, em aterros e lixões, associados ao resíduo domiciliar comum, contaminando
as águas superficiais e profundas (ZAPPAROLI; CAMARA; BECK, 2011).
O assunto a ser discutido neste trabalho, é resíduo de medicamentos pós-consumo ou sem uso,
que são classificados pela Resolução da Diretoria Colegiada da ANVISA no 222/18 e
Resolução Conselho Nacional do Meio Ambiente-CONAMA no 358/05 como substâncias
químicas que podem apresentar risco à saúde pública ou ao meio ambiente, dependendo de
suas características de inflamabilidade, corrosividade, reatividade e toxicidade (CONAMA,
2005).
2. DESENVOLVIMENTO
A administração de materiais é um departamento especializado que tem como objetivo
providenciar o material correto, para a necessidade certa, no momento exato que for
requisitado. Para fazer com que isto ocorra, torna-se fundamental gerar informações
adequadas. Durante a obtenção das informações é importante planejar controlar e organizar as
necessidades, pois, em geral os materiais devem estar disponíveis em níveis adequados,
evitando faltas ou excessos que comprometam o capital de giro. Segundo Fogaça (2006),
citado por Rodrigues (2009), nos casos de empresas voltadas para a área de saúde, o cuidado
deverá ser ainda maior, pois a falta poderá colocar em risco vidas humanas.
O setor farmacêutico atual caracteriza-se por ser extremamente complexo, devido à
quantidade de atores envolvidos e seus diferentes papéis, que vão desde a pesquisa e
desenvolvimento, passando pela produção e comercialização, até o consumo e pós-consumo
dos medicamentos (SANTOS, 2001).
Segundo Novaes (2001), o Council of Logistics Management (CLM) define logística, como o
processo de planejar, implementar e controlar de maneira eficiente o fluxo e a armazenagem
de produtos, bem como os serviços e informações associados, cobrindo desde o ponto de
origem até o ponto de consumo, com o objetivo de atender aos requisitos do consumidor.
“A logística empresarial trata de todas as atividades de movimentação
e armazenagem, que facilitam o fluxo de produtos deste o ponto de
aquisição da matéria-prima até o ponto de consumo final, assim como
dos fluxos de informação que colocam os produtos em movimento,
com o propósito de providenciar níveis de serviço adequados aos
clientes a um custo razoável”(BALLOU, 1993).
A cadeia produtiva farmacêutica inicia-se com os fornecedores de matérias-primas até o
consumidor final, passando pelos fabricantes, representados pelos laboratórios farmacêuticos,
que podem entregar os medicamentos diretamente as farmácias ou de forma indireta através
de distribuidoras, o meio mais utilizado. O segmento institucional, composto por hospitais,
centros de saúde, secretarias públicas estaduais e municipais de saúde, ao lado das farmácias
constitui importante mercado.
O Brasil dispõe de uma ampla e moderna rede de distribuição de medicamentos, permitindo
que as farmácias realizem as entregas dos pedidos em menos de seis horas (SAMPAIO;
CSILLAG, 2010).
Entretanto é importante destacar os efeitos negativos desta agilidade e do aumento da
aquisição de medicamento, tendo em vista que nem todo medicamento adquirido é usado.
A RDC nº 80, de 11 de maio de 2006, autoriza farmácias e drogarias a fracionar medicamento
desde que estejam em embalagens adequadas que assegure a qualidade do produto original,
permitindo que os medicamentos possam ser dispensados em quantidades individuais a fim de
atender a necessidade do consumidor.
É importante salientar que o fracionamento não se aplica aos medicamentos de controle
especial de que trata a Portaria nº 344, de 12 de maio de 1998, e suas posteriores atualizações,
não podem ser fracionados (ANVISA, 2006a).
De acordo com artigo 15 do Cap. V da RDC nº 80, de 11 de maio de 2006, os medicamentos
fracionáveis são:
Art. 15. Apenas pode ser fracionada a apresentação do medicamento,
a partir de sua embalagem original para fracionáveis, para possibilitar
um atendimento exato da prescrição ou das necessidades terapêuticas
dos consumidores e usuários de medicamentos no caso dos
medicamentos isentos de prescrição..., sem rompimento da
embalagem primária.
O objetivo do fracionamento é fazer com que o consumidor adquira apenas a quantidade
necessária de medicamento para o seu tratamento, gerando uma economia financeira e
evitando sobras de medicamentos após o tratamento, evitando o uso posterior sem nova
consulta médica, e a transferência das sobras para terceiros sem orientação médica.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (1985), entende-se que há uso racional de
medicamentos quando pacientes recebem medicamentos apropriados para suas condições
clínicas, em doses adequadas às suas necessidades individuais, por um período adequado e ao
menor custo para si e para a comunidade.
O fracionamento do medicamento no SUS e nas drogarias é importante, pois dissemina o uso
racional e acarreta na redução e geração de resíduos químicos. Entretanto o que acontece no
Brasil se contrapõe à proposta da OMS, pois segundo Barros, pelo menos 35% dos
medicamentos adquiridos no Brasil é realizado através de automedicação. (BARROS, 1995).
A precariedade dos serviços de saúde contrasta com a facilidade de se obter medicamentos,
sem pagamento de consulta e sem receita médica em qualquer farmácia, onde, não raro, se
encontra o estímulo do balconista. Por outro lado o crescente uso da Internet para disseminar
propaganda estimula o uso de medicamentos, onde os mesmos são comercializados pela
internet sem qualquer prescrição ou orientação médica (BARROS, 2004).
De acordo com a NBR n. 10.004, da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT),
resíduos sólidos são definidos pelos estados sólido e semissólido, resultante de atividades da
comunidade de origem: industrial, doméstica, hospitalar, comercial, agrícola, de serviços e de
varrição, bem como determinados líquidos cujas particularidades tornem inviável seu
lançamento na rede pública de esgotos ou corpos d'água, ou exijam para isso soluções
técnicas e economicamente inviáveis, em face à melhor tecnologia disponível. Já a Política
Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) surgiu com uma versão incluindo os gases contidos em
recipientes.
Os conflitos existentes na definição dos resíduos sólidos convergem com os conflitos e
dificuldades enfrentados pela sociedade moderna para o seu gerenciamento e destinação final
(DE SOUZA, 2014), pois com o crescimento populacional, o incentivo ao consumismo e a
redução do ciclo de vida dos produtos, faz com que a geração de resíduos aumente, e deixa de
ser um tema anteriormente de interesse apenas órgãos e instituições públicas e privadas, mas
também da sociedade.
Até a década de 80, os resíduos considerados perigosos incluíam aqueles provenientes de
hospitais. A denominação "lixo hospitalar" tornou-se comumente utilizada, mesmo quando os
resíduos não eram gerados em unidades hospitalares. Atualmente, esse termo foi substituído
por resíduos sólidos de serviços de saúde (RSS)
Segundo a Resolução CONAMA 358/05
“...os RSS são todos aquelas resultantes de atividade exercidas nos
serviços de saúde que, por suas características, necessitam de
processos diferenciados em seu manejo, exigindo ou não tratamento
prévio à sua disposição final”. Assim, os RSS englobam os resíduos
gerados no atendimento à saúde humana e animal, incluindo os
serviços de assistência domiciliar e .... (CONAMA, 2005).
Devido às condições precárias do sistema de gerenciamento de resíduos sólidos no Brasil, não
há estatísticas precisas a respeito do número de geradores, nem da quantidade de RSS gerados
diariamente (GARCIA; ZANETTI-RAMOS, 2004). Entretanto a Associação Brasileira de
Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (ABRELPE) afirma que 4.567
municípios prestaram os serviços de coleta, tratamento e disposição final de 260.063
toneladas de RSS, o equivalente a 1,27kg por habitante/ano, o que ocasionou a redução de
1,8% em relação ao total gerado em 2014 e de 2,6% no valor per capita como mostra a tabela
1 (ABRELPE, 2015).

Tabela 1. Quantidade de resíduos coletados por regiões do Brasil em 2012

Regiões População Urbana RSS Coletado (t/ano) Índice (Kg/hab/ano)

Norte 12.010.233 8.968 0,747

Nordeste 39.477.754 35.667 0,903

Centro-Oeste 12.829.644 18.172 1,416

Sul 23.583.048 12.989 0,551

Sudeste 75.812.738 169.178 2,232

Rio de Janeiro 15.694.169 30.195 1,924

BRASIL 163.713.417 244.974 1,496

Fontes: Adaptado de Pesquisa ABRELPE e IBGE 2011/2012


Apesar da existência de legislações que classificam e estabeleçam tratamento prévio
específico à disposição final de acordo com o resíduo, cerca 29,9% dos municípios brasileiros
realizam a destinação final dos seus RSS sem declarar o tratamento prévio, contrariando as
normas vigentes, e expondo a riscos seus trabalhadores, à saúde pública e o meio ambiente
(ABRELPE, 2015).
São geradas diariamente 149.000 toneladas de resíduos residenciais e comerciais, apenas uma
fração inferior a 2% é composta por RSS, destes apenas 10 a 25% necessitam de cuidados
especiais, tornando a etapa da segregação do gerenciamento de resíduos de serviços de saúde
de extrema importância sem excluir as demais, pois com a perfeita realização de segregação,
ocorre a diminuição da quantidade de resíduos a serem tratados (comuns, perigosos e
especiais), reduzindo os custos de tratamento ou disposição final (ANVISA, 2006b).
“A segregação de RSS costuma ser um ponto crítico do processo da
minimização de resíduos potencialmente infectantes, podendo trazer
resultados insatisfatórios na gestão desses. Sem uma segregação
adequada, cerca de 70 a 80% dos resíduos gerados em serviços de
saúde que não apresentam risco acabam potencialmente
contaminados. É fundamental coibir a prática de misturar resíduos de
áreas com riscos distintos e passar a considerá-los "resíduos
infectantes". Essa conduta de misturar resíduos pode ser explicada por
razões culturais, operacionais, econômicas, tecnológicas e de recursos
humanos” (ANVISA, 2006b).
A RDC 358, “Art. 3o Cabe aos geradores de resíduos de serviço de saúde e ao responsável
legal, referidos no art. 1o desta Resolução, o gerenciamento dos resíduos desde a geração até
a disposição final, de forma a atender aos requisitos ambientais e de saúde pública e saúde
ocupacional, sem prejuízo de responsabilização solidária de todos aqueles, pessoas físicas e
jurídicas que, direta ou indiretamente, causem ou possam causar degradação ambiental, em
especial os transportadores e operadores das instalações de tratamento e disposição final, nos
termos da Lei no 6.938, de 31 de agosto de 1981” (CONAMA, 2005).
Ferreira (1995), citado por Garcia e Zanetti-Ramos (2004), salienta que a classificação dos
resíduos do serviço de saúde é complexa e em muitos casos ainda indefinida mesmo nos
países desenvolvidos. Quanto mais perigoso for considerado o resíduo, maiores os cuidados
necessários e, consequentemente, maiores os custos envolvidos.
De acordo com a RDC ANVISA no 222/18 e Resolução CONAMA no 358/05, os RSS são
classificados em cinco grupos: A, B, C, D e E. Essa classificação indica o grau de toxidade e
o tratamento específico a ser adotado em cada resíduo, logo uma classificação adequada dos
resíduos gerados em estabelecimentos de saúde permite que seu manuseio seja eficiente,
econômico e seguro.
A constante mudança tecnológica faz com que a indústria se molde a cada dia desenvolvendo
novos medicamentos, os quais podem conter resíduos com comportamento desconhecido
podendo enriquecer o meio ambiente com bactérias resistente (DE SOUZA; FALQUETO,
2015).
Os resíduos sólidos apresentam caráter antropogênico, pois são os únicos exclusivamente
gerados pelo homem em suas atividades diárias em sociedade. Além disso, apresentam caráter
inesgotável, uma vez que é ilimitada a capacidade do ser humano de crescer numericamente
ou em conhecimentos e inventividade, gerando cada dia novos produtos, promovendo sempre
novas transformações nas matérias-primas e criando cada vez mais necessidades de conforto e
bem-estar e, consequentemente, maior quantidade de resíduos (SCHNEIDER et al., 2001).
Apesar dos resíduos sólidos urbanos serem o maior volume de resíduos gerados. Os resíduos
de serviços de saúde são parte importante do total de resíduos sólidos urbanos, não
necessariamente pela quantidade gerada (cerca de 1% a 3% do total), mas pelo potencial de
risco que representam à saúde e ao meio ambiente (ANVISA, 2006b).
A Política Nacional do Meio Ambiente tem como objetivo tornar compatível o
desenvolvimento econômico e social através da preservação da qualidade do meio ambiente e
do equilíbrio ecológico, definindo áreas prioritárias de ação governamental, estabelecendo
critérios e padrões de qualidade ambiental e de normas relativas ao uso e manejo de recursos
ambientais para o desenvolvimento de pesquisas e de tecnologias nacionais orientadas para o
uso racional de recursos ambientais que visam à difusão de tecnologias de manejo ao meio
ambiente e a divulgação de dados e informações ambientais para a formação de uma
consciência pública sobre a importância de preservação da qualidade ambiental e do
equilíbrio ecológico, sendo responsável pela preservação e restauração dos recursos
ambientais utilizando-o de forma racional e consciente, para que haja uma disponibilidade
permanente para a manutenção do equilíbrio ecológico propício à vida. O poluidor e o
depredador tem a obrigação de recuperar e/ou indenizar os danos causados aos recursos
ambientais (BRASIL, 1981).
Através do Ministério do Interior (MINTER) foi publicada, no final da década de 70, a
Portaria Minter nº 53 que objetivou orientar o controle de resíduos sólidos no país, de
natureza industrial, domiciliar, de serviços de saúde e demais resíduos gerados pelas diversas
atividades humanas. Porém, foi a partir da Lei nº 6.938/81 que a Política Nacional de Meio
Ambiente se tornou pública e criou-se o sistema Nacional de Meio Ambiente. Que defini em
seu Art. 3º, inciso I o meio ambiente como um o conjunto de condições, leis, influências e
interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as
suas formas (BRASIL, 1981).
A legislação tem uma ampla abrangência no que se refere à orientação para a proteção do
meio ambiente a ser propagada pelo Estado, como consta nos sete incisos do parágrafo 1º do
Art. 225 da Constituição uma série de determinações referentes à proteção ambiental por parte
do Estado.
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), juntamente com o Conselho Nacional
de Meio Ambiente (CONAMA) publicou a RDC n° 306 de 2004, a qual estabelece que todos
os serviços de saúde devem realizar o gerenciamento de resíduos de serviços de saúde, a partir
da elaboração do Plano de Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde (PGRSS)
atendendo as bases normativas e legislações específicas.
O gerenciamento dos RSS constitui-se em um conjunto de procedimentos de gestão,
planejados e implementados a partir de bases científicas e técnicas, normativas e legais, com o
objetivo de minimizar a produção de resíduos e proporcionar aos resíduos gerados, um
encaminhamento seguro, de forma eficiente, visando à proteção dos trabalhadores, a
preservação da saúde pública, dos recursos naturais e do meio ambiente. Este gerenciamento
deve abranger todas as etapas de planejamento dos recursos físicos, dos recursos materiais e
da capacitação dos recursos humanos envolvidos no manejo dos RSS (BRASIL, 2018)
Nos últimos 30 anos a preocupação com os resíduos sólidos e sua disposição se tornou um
fator importante, para a preservação do meio ambiente que tem padecido com a poluição dos
corpos hídricos e do solo, um evento que tem gerado preocupações em proporções cada vez
maiores (RIBEIRO DE OLIVEIRA; POLETTO TESSER, 2015). A fim de preservar a saúde
pública e o meio ambiente a PNRS mantém esforços para zerar, reduzir e tratar a quantidade
de resíduos gerados e para isto foram elaboradas legislações e documentos específicos.
Em 2 de agosto de 2010 foi sancionada a Lei nº 12.305, que institui a Polícia Nacional de
Resíduos Sólidos (PNRS) determinando diretrizes políticas para a gestão de resíduos sólidos
no território Nacional, prevenindo a geração de resíduos. Sendo está a função do gestor
municipal que agi especialmente na reciclagem, no tratamento e na disposição final
ambientalmente adequada. Em relação a não geração, redução e reutilização, o gestor deve
fomentar a educação ambiental e incentivar a indústria a praticá-las, bem como alinhar tais
ações com o plano municipal de gestão integrada de resíduos sólidos (PWCIL, 2014).
A PNRS tem como base dois tipos de classificação de resíduos quanto a natureza ou origem e
quanto a periculosidade, sendo esta a mais comum, pois leva em consideração os riscos de
contaminação do meio ambiente, já a NBR classifica os resíduos em três classes: classe I –
perigosos; classe II – não-inertes; classe III – inertes, obtendo como base a presença de certas
substâncias perigosas descritas na norma, e em testes laboratoriais, onde os parâmetros
químicos são avaliados.(ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2004;
BRASIL, 2010).
A PNRS inova com o conceito de responsabilidade compartilhada, acordo setorial, coleta
seletiva, plano de resíduos sólidos, o incentivo de cooperativas, inclusão social e a logística
reversa. Sendo a responsabilidade compartilhada um dos desafios encontrados para
implementação da PNRS, pois ela envolve todos os interessados e participantes do ciclo de
vida de um produto, como os fabricantes, importadores, distribuidores, comerciante, Poder
Público e consumidores nas várias cadeias de produção e consumo.
Logística reversa é um termo bastante genérico, que só agora começa a ser olhado mais
atentamente pelas empresas. Enquanto a logística tradicional trata do fluxo de saída dos
produtos, a logística reversa tem que se preocupar com o retorno de produtos, materiais e
peças ao processo de produção da empresa. (DAHER; SILVA; FONSECA, 2006).
A PNRS traz a logística reversa como uma ferramenta principal a ser utilizada para a coleta
de resíduos sólidos gerados. A Lei Federal 12.305/2010 define a logística reversa em seu
Artigo 3º, parágrafo XII, como:
Art. 3º Para os efeitos desta Lei entende-se por XII - logística reversa:
instrumento de desenvolvimento econômico e social caracterizado por um
conjunto de ações, procedimentos e meios destinados a viabilizar a coleta e a
restituição dos resíduos sólidos ao setor empresarial, para reaproveitamento,
em seu ciclo ou em outros ciclos produtivos, ou outra destinação final
ambientalmente adequada;
Devido às rígidas legislações ambientais e maior consciência dos consumidores, as empresas
estão utilizando maiores quantidades de materiais recicláveis preocupando-se com o descarte
ecologicamente correto de seus produtos ao final de seu ciclo de vida e após o uso ou desuso.
(DAHER; SILVA; FONSECA, 2006).
A LR no Brasil vem sendo considerada um elemento importante no planejamento estratégico
das organizações pelos especialistas a fim de adequá-las à legislação do meio ambiente atual
(DAHER; SILVA; FONSECA, 2006).
A lei 12.305/2010 diz que a LR, Logística Reversa deve ser implantada independente do
serviço público de limpeza urbana, logo os fabricantes, importadores, distribuidores e
comerciantes são responsáveis por organizar o retorno de seus resíduos para a cadeia
produtiva, utilizando a logística reversa. Conforme a PNRS são obrigados a implementação
do sistema logístico reverso os produtores de resíduos sólidos de pilhas e baterias, óleos
lubrificantes, pneus, lâmpadas, contendo mercúrio, eletroeletrônicos e agrotóxicos e seus
resíduos e embalagens, assim como outros produtos cuja embalagem, após o uso, constitua
resíduo perigoso, entretanto a mesma sinaliza que os resíduos plásticos, metais e vidro
também são sujeitos a logística reversa, ou seja mesmo não havendo obrigatoriedade de
implantação (BRASIL, 2010).
Um estudo desenvolvido pela LCA realizou uma análise detalhada do ciclo de vida do
produto, desde obtenção da matéria prima, até a produção, distribuição, uso, reuso ou
reciclagem e sua disposição final. Permitindo calcular a quantidade de matéria prima e a
quantidade de resíduos sólidos, líquidos e gasosos que será gerada em cada estágio do ciclo de
vida do produto (“Life cycle analysis and assessment”, 2017).
Segundo Robert Bruner o medicamento possui dois ciclos de vida distintos: O ciclo do
desenvolvimento e o ciclo do produto.
Segundo Filho (2016) no desenvolvimento temos as três subetapas: Definição do produto;
Estudos não clínicos e Estudos clínicos que envolvem até quatro fases.
No ciclo do produto temos quatro etapas. 1. o desenvolvimento tecnológico; 2. transferência
de tecnologia; 3. fabricação para fins comerciais e 4. Descontinuação da fabricação do
medicamento
Segundo Suely Rozenfeld, A vida útil do medicamento inicia durante a sua comercialização.
A Logística Reversa se divide em duas áreas: pós-venda e pós-consumo. A| pós-venda tem o
objetivo estratégico de agregar valor a produtos que são devolvidos por questões comerciais
como erros no processamento dos pedidos, a garantia dada pelo fabricante, avarias no
transporte, defeitos ou falhas no funcionamento do produto (recall) entre outros motivos que o
fazem retornar para a cadeia de distribuição direta.
A pós-consumo tem o objetivo estratégico de agregar valor a um produto descartado pelo
consumidor que o considera inservível. Este produto retorna para o canal reverso de reuso,
desmanche, reciclagem ou destinação final. Constituem bens pós-consumo os resíduos
industriais em geral, produtos em término de vida útil, ou que podem ser reutilizados (LEITE,
2002).
Apesar de muitas empresas conhecerem a importância do fluxo reverso, a maioria delas tem
dificuldades ou desinteresse em implementá-la, sendo os motivos, a falta de sistemas
informatizados que se integrem ao sistema existente de logística tradicional (CALDWELL,
1999), a dificuldade em medir o impacto dos retornos de produtos e materiais com o
consequente desconhecimento da necessidade de controlá-lo (ROGERS; TIBBEN-LEMBKE,
1998), e o fato do fluxo reverso não representar receitas, mas custos e como tal recebem
pouca ou nenhuma prioridade nas empresas (QUINN, 2001).
Segundo o Reverse Logistics Executive Council (2004) citado por Oliveira (2011), os custos
da Logística Reversa podem exceder US$35 bilhões por ano, em manipulação, transporte e
estocagem de bens devolvidos por clientes, informa ainda que estes valores não incluem o
processo de transformação para converter os bens inutilizáveis em bens utilizáveis para
consumo.
Em 2014, a indústria farmacêutica alcançou no Brasil um valor de mercado recorde de US$
29,4 bilhões, e a expectativa é que, até 2020, amplie o faturamento para cerca de US$ 47,9
bilhões/ano, um crescimento de 8,5% ao ano. O Brasil situa-se entre os dez maiores mercados
consumidores de produtos farmacêuticos do mundo, com forte perspectiva de ocupar o quarto
lugar já em 2017 (BERMUDEZ et al., [s.d.]; GLOBALDATA, 2015).
A fim de monitorar o andamento e comprimento das normas estabelecidas na PNRS foi
publicado o Decreto Federal Nº 7404/2010 que regulamenta a PNRS no que se refere a
procedimentos administrativos para implantação da LR.
Em 05 de setembro de 2016 a Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT lançou a
NBR 16.457/2016 que especifica a aplicação da LR para medicamentos descartados pelo
consumidor. Estabelecendo requisitos para a proteção e prevenção dos riscos ambientais,
segurança ocupacional e saúde pública no processo de descarte, armazenamento temporário,
coleta e transporte de medicamentos oriundos de residências descartados pelos consumidores
(pessoa física) (ABNT, 2016).
A partir do ano de 1992, a LRRM começou a ser implantada em alguns países como Portugal,
França, Espanha, Estados Unidos e Austrália, em sua maioria operam como uma sociedade
sem fins lucrativos, onde foram criados a fim de cumprir uma exigência legal. Os mesmos são
financiados por empresas responsáveis pela disponibilização do produto no mercado, com o
pagamento da taxa chamada Valor de Contrapartida de Responsabilidade (VRC). Esta taxa é
gerada através da declaração anual de embalagens respeitando o princípio do “poluidor-
pagador”, um conceito nuclear da responsabilidade ambiental no âmbito do Direito Europeu.
O sistema de Portugal arrecadou em 2016 um montante de € 1.778.208,88, que convertido em
21/08/2018 a uma taxa de R$ 4,5975, corresponde a R$ 8.175.315,33.
Na maioria dos programas o consumidor deposita/entrega o medicamento (resíduo) nos
contentores localizados nas farmácias participantes do programa, após os resíduos são
transportados para um Centro de Triagem por um operador de gestão de resíduos, onde eles
são separados e classificados e finalmente, são entregues a gestores de resíduos autorizados
responsáveis pelo seu tratamento.
No Brasil o programa começou a ser implantado em 2006 através de parcerias entre
universidades, prefeituras e rede de farmácia privada. Um programa de destaque e de
abrangência nacional é o Descarte Consciente, que até dezembro de 2011 contava com 170
pontos de coleta, em 60 cidades. Atualmente o programa está presente em 17 Estados. (ABDI,
2013; BHS, 2017). De acordo com estudo da Anvisa (2011), os resultados preliminares do
Programa mostram que foram recolhidos mais de quatro toneladas de medicamentos, seis
toneladas de material reciclável (bulas e embalagens) e mais de sete toneladas de vidros e
aerossóis num período de 11 meses, como já mencionado anteriormente.
As iniciativas existentes deixam clara a preocupação dos elos da cadeia com o descarte
correto (ABDI, 2013).
De acordo com indicadores econômicos da SINDUSFARMA o valor de vendas de
medicamentos no mercado brasileiro em 2016 foi de R$50,36 bilhões um acréscimo de
12,60% em relação ao ano anterior. Em dólares, as vendas alcançam U$$14,6 bilhões, o que
corresponde a um acréscimo de 7,5% em relação a 2015 (SINDUSFARMA, 2016).
Em relação à quantidade de caixas de medicamentos, em 2016 foi vendido 3,55 bilhões, o que
representa um acréscimo de 4,44% sobre o ano de 2015, dados do levantamento da Quintiles
IMS, segundo a SINDUSFARMA.
O número das vendas de unidades (caixas de medicamentos) vendidas no mesmo período
anterior estudado. O mercado nacional em 2012 representavam 55,09% das vendas em
unidades de caixas de medicamentos, passando para 62,51% em 2016, já os laboratórios de
origem estrangeira representava 44,91% em 2012, passando para 37,49% em 2016
(SINDUSFARMA, 2016).
Analisando as empresas farmacêuticas instaladas no Brasil entre o ano de 2012 e 2016,
segmentadas pela origem do capital (nacional e estrangeiro), a distribuição das vendas em
reais, para os laboratórios nacionais representam 42,99% no mercado total farmacêutico em
2012, passando para 46,34% em 2016. Já os laboratórios de origem estrangeiras em 2012
representavam 57,01% das vendas em reais, passando para 53,66% no ano de 2016
(SINDUSFARMA, 2016).
Apesar de o Brasil estar entre os 10 países com recordes de vendas, o mesmo não possui um
sistema ou programa de LRRM semelhante ao ranking, pois Portugal tem um sistema que
possui avanços favoráveis e adesão da população, apensar de não está entre os 20 países que
mais vendem medicamentos.
Os procedimentos utilizados para a realização da pesquisa e consequentemente o alcance do
objetivo do trabalho de identificar ferramentas que colaborem junto com a logística reversa
para a redução do descarte incorreto de medicamentos.
O planejamento se deu com a delimitação do tema e dos objetivos que direcionou o tipo de
pesquisa a ser realizado. Sendo a mesma de carácter exploratório e qualitativo, através de
pesquisa bibliográfica secundária utilizando livros, artigos, textos publicados em revistas
científicas e regulamentações no período de 1981 a 2018 de estudos que relatem a logística
reversa dos fármacos; o descarte adequado e as consequências geradas na ausência das
observações anteriores. Para Gil a pesquisa de carácter exploratório tem como objetivo
proporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo mais explícito ou a
constituir hipóteses. Sendo esta baseada no aprimoramento de ideias ou a descoberta de
intuições.
De acordo com Fiuz e Barros (2011) a pesquisa qualitativa não lida com números, mas sim
com palavras e falas, e isso não a destitui de mensuração. Pois sua mensuração está em buscar
o porquê dos fatos. “Dessa forma, a pesquisa qualitativa desenvolve as percepções e
interpretações subjetivas, que surgem da experiência; dos comportamentos objetivos que
surgem das ações; e o contexto que envolve os aspectos sociais, culturais, políticos e físicos
que rodeiam os sujeitos da pesquisa”(FIUZ; BARROS, 2011).
A técnica de coleta dados utilizada neste trabalho foi através de dados secundários. Ao
descrever coletado de dados Santos diz que são:
“Procedimentos de coleta são os métodos práticos utilizados para juntar as
informações, necessárias a construção de raciocínios em torno de um
fato/fenômeno/problema. Na verdade, a coleta de dados de cada pesquisa terá
peculiaridades adequadas àquilo que se quer descobrir..”(SANTOS, 2002).

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
A partir dos resultados obtidos com o material selecionado para esta pesquisa destaco alguns
itens que merecem ser discutidos. Como a questão dos medicamentos na vida da sociedade, o
que fazer quando o mesmo não está mais sendo utilizado ou está fora da validade; a
importância dos pontos de coleta e o que as leis brasileiras relatam sobre o processo de
descarte através do uso da logística reversa; as consequências geradas ao meio ambiente
quando há o descarte inadequado.
Os medicamentos no Brasil nunca estiveram tão presentes nas agendas do setor de saúde das
três esferas de governo que compõem o SUS e nas mídias. Na vida do cidadão não é
diferente, pois o mesmo busca no medicamento uma forma de amenizar dores, combater
enfermidades e proporcionar o prolongamento da vida, o que gera um aumento na aquisição e
consumo de medicamento, e aumento dos gastos familiares, obrigando-os escolher entre
determinados medicamentos ou entre a alimentação, dada a sua importância. (CASTRO,
2000).
"O desejo de tomar medicamentos talvez represente o maior aspecto de distinção entre o
homem e os animais". A frase de Sir William Osier citada por Fabricant e Hirschhorn (1987),
demonstra o quão desenfreado se tornou o uso do medicamento, ultrapassando barreiras
culturais, econômicas e sociais. Para combater esse uso desenfreado de medicamento é
importante estabelecer uma necessidade de uso, e para isso é necessária uma prescrição
adequada, na sua forma farmacêutica, doses e períodos de duração do tratamento.
Para proporcionar o uso racional do medicamento é importante contar com a participação de
diversos agentes sociais: paciente, profissionais de saúde, legisladores, formuladores de
políticas públicas, indústria, comércio e governo (CASTRO, 2000).
Observamos que “lixo” não é tudo igual, entretanto o meio ambiente o absorve de maneiras
diferentes e as consequências geradas são extremamente perigosas para a vida, seja ela
humana ou animal.
O fato dos medicamentos conterem substâncias que podem ser prejudiciais à saúde é
importante distinguir os tipos de resíduos e as fontes de geradoras, porque isso facilitará os
critérios a serem adotados na segregação dando o destino final adequado, impedindo a
contaminação do ar, solo, lençóis freáticos, lagos, rios e represas. Os responsáveis por este
descarte são os agentes jurídicos (industrias, hospitais, drogarias...) e físicos (consumidores),
entretanto devemos tratar os agentes de maneira distinta, pois o montante gerado pela esfera
jurídica é substancialmente maior.
As substâncias decorrentes do descarte inadequado podem criar bactérias resistentes que se
tornam difíceis de serem combatidas com os medicamentos e tratamentos existentes;
contaminam a água que apesar de tratada não tem a eliminação total destes resíduos, que
consequentemente contaminam as pessoas que a utilizam seja para consumo próprio, para
tratar de animais, irrigar vegetais, criando um ciclo de contaminação.
Entre as classificações existentes sobre resíduos a PNRS, apesar de não deixar clara a questão
dos medicamentos, os classifica como resíduos perigosos, que tem em sua característica
toxicidade e que apresenta risco significativo à saúde pública e a qualidade ambiental, o que
podemos entender como medicamentos, entretanto isso abre margem para o não cumprimento
da norma, que exige a segregação, reciclagem e destinação final adequada.
Diante da bibliografia analisada existe ferramentas para implementação da logística reversa
dos medicamentos no Brasil, mas a mesma ainda é incipiente e em caráter teórico, pois elas
tratam apenas dos agentes referentes à sua origem e periculosidade. Faltam medidas para a
implantação, operacionalização e penalidades para quem descumprir ou não disponibilizar
meios para o recolhimento. O impasse existente para o início do processo logístico reverso no
Brasil está na sua complexidade enquanto processo, devido ao alto custo para implantação e
operacionalização, pois são necessárias pessoas capacitadas para manusear os medicamentos
descartados, um espaço para armazenamento dos resíduos e frota de transporte especial para
direcionar ao descarte final. Um meio para diluir os custos gerados pelo processo reverso é a
utilização dos modelos de projetos internacionais que fazem uso do Valor de Contrapartida de
Responsabilidade (VCR), que é uma taxa calculada em função do número de embalagens de
medicamento colocadas no mercado, seguindo o princípio “poluidor pagador” um conceito de
responsabilidade ambiental também existente no Brasil segundo a PNRS Art. 6, inciso II.
A PNRS trata das questões educacionais, sendo inegável que com a conscientização da
população sobre o uso racional de medicamentos, a quantidade de resíduos descartados de
forma inadequada pode reduzir substancialmente. Este é um trabalho que deve ser realizado
de forma conjunta, com a participação de todos os setores principalmente saúde, meio
ambiente, educação e sociedade.
A promoção de campanhas corpo-a-corpo, televisas e virtuais realiza um trabalho de
conscientização mais rápido, preciso e de curto prazo, abrangendo de forma eficiente grande
parte da população que teria o seu primeiro contato com o tema. Devemos salientar que o
consumidor é corresponsável pela destinação correta dos resíduos de medicamentos,
entretanto, a maior parte da população desconhece o assunto, e os que conhecem encontram
empecilhos para realizar o descarte adequado, uma vez que os pontos de coleta existentes não
estão acessíveis a grande parte da população, ou as quantidades existentes são insuficientes
para atender a demanda da população.
As legislações Municipais existentes tratam de forma teórica e muito superficial a questão do
descarte de resíduos de medicamentos. Uma das fragilidades que pode ser apontada é a
inclusão de todos os agentes geradores, uma vez que a mesma deveria ser direcionada para os
resíduos de medicamentos gerados por domiciliares, uma vez que a PNRS atribui a
responsabilidade ao município quanto a implementação e gestão deste processo. Esta
legislação deveria abordar a educação ambiental e a capacitação continuada como instrumento
de ação, visando à capacitação dos profissionais de saúde e da área da educação das redes
públicas e privadas, a criação de uma disciplina escolar obrigatória visando à educação
ambiental e o consumo consciente para combater o problema em longo prazo. Uma disciplina
lecionada em todos os níveis da educação (infantil, fundamental, médio, técnico, superior e
demais) é um meio eficiente de conscientizar sobre a preservação do meio ambiente e a
importância do descarte adequado de medicamentos.
Como o medicamento é um produto presente em todas as fases da vida de uma pessoa é
necessário estimular a população a procurar um profissional de saúde para obter orientações
sobre o uso racional dos medicamentos e seu descarte correto quando este vencer, sobrar ou
não for mais utilizado; isso pode estimular a mudança de habito, gerando frutos concretos
com resultados visíveis além de formar melhores cidadãos para o mundo. Sabe-se que este é
um trabalho árduo e que precisa de dedicação e tempo, para que o assunto seja realmente
absorvido pela população.

4. CONCLUSÃO
Este trabalho evidenciou a importância da logística reversa na área dos resíduos
medicamentos domiciliares vencidos ou fora de uso.
Os impactos ambientais gerados pelo descarte incorreto dos resíduos de medicamentos têm
motivado o governo a debater meios de realizar a destinação final adequada utilizando o
processo logístico reverso, entretanto para este trabalho ser operacionalizado de maneira
eficiente é necessário à participação de todos os agentes geradores e do governo quanto à
saúde pública.
Destaca- se que a destinação final inadequada ocorre por falta de informação e divulgação dos
danos causados à saúde pública e ao meio ambiente e pela fata de pontos de coleta acessíveis
à população. Medidas devem ser realizadas para conscientização da população para o descarte
correto e para o consumo consciente através do uso racional de medicamentos. É
extremamente importante o engajamento das indústrias farmacêuticas na elaboração de
embalagens fracionáveis de medicamentos; Que os médicos receitem a quantidade exata de
medicamento para o período do tratamento; Que as farmácias do SUS e drogarias privadas
realize a dispensação fracionada para que o consumidor utilize o medicamento no tempo
determinado sem sobra, sendo este um meio de minimizar as “farmácias” domiciliares, um
dos grandes geradores de resíduos.
Para que a população tenha meio de realizar o descarte correto dos resíduos de medicamentos
é importante à elaboração de um programa de logística reversa de resíduos de medicamentos
domiciliares sob a visão da responsabilidade compartilhada e a disponibilização de pontos de
coleta distribuídos de forma uniforme. Apesar da publicação da NBR 16.457:2016 que orienta
a criação de pontos de coletas de resíduos destinados ao consumidor (pessoa física), onde são
estabelecidos os requisitos mínimos para proteção e prevenção dos riscos ao meio ambiente,
segurança ocupacional, saúde pública no processo de descarte, todavia a mesma não possui
força de lei, então a implementação depende da adesão espontânea dos gestores municipais.
Neste contexto fica claro que a conscientização ambiental da população é o ponto chave, e
somente acontecerão a partir do momento em que o Estado/Munícipio disponha pontos de
coleta acessíveis, ações integradas que estimulem a participação da população e uma gestão
de estoque gerenciada por profissional qualificado sendo essencial e de suma importância,
pois reduzirá os desperdícios, a geração e o descarte incorreto dos resíduos de medicamentos
domiciliares.

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